OS PEQUENOS NEGÓCIOS E SEUS RISCOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11155810


Rosemeire Ferreira Bicalho De Vette,
Orientador: Profa. Me. Ilma Rodrigues de Souza Fausto


RESUMO

Os pequenos negócios são um importante motor da economia brasileira, representando cerca de 99% das empresas do país. No entanto, eles também estão expostos a uma série de riscos, que podem levar à sua falência. Este trabalho tem como objetivo analisar os principais riscos aos quais os pequenos negócios estão expostos, bem como as medidas que podem ser tomadas para mitigá-los. A partir de uma revisão bibliográfica, foram identificados riscos financeiros, operacionais, de mercado, legais, ambientais. Para mitigar esses riscos, os pequenos negócios podem adotar uma série de medidas, como planejamento financeiro, gestão de riscos, assistência técnica, networking e proteção legal. O trabalho conclui que a gestão de riscos é essencial para a sobrevivência dos pequenos negócios. As empresas que adotam medidas para diminuir os riscos estão mais preparadas para enfrentar as adversidades e prosperar no mercado.

Palavras-chave: Os pequenos negócios; Riscos; Medida; Mitigar.

ABSTRACT

Small businesses are an important driver of the Brazilian economy, representing around 99% of the country’s companies. However, they are also exposed to a series of risks, which can lead to their bankruptcy. This work aims to analyze the main risks to which small businesses are exposed, as well as the measures that can be taken to mitigate them. From a literature review, financial, operational, market, legal and environmental risks were identified. To mitigate these risks, small businesses can adopt a series of measures, such as financial planning, risk management, technical assistance, networking and legal protection. The work concludes that risk management is essential for the survival of small businesses. Companies that adopt measures to reduce risks are more prepared to face adversity and prosper in the market.

Keywords: Small businesses; Scratchs; Measure; Mitigate.

1 INTRODUÇÃO

As micro e pequenas empresas (MPEs) constituem um pilar fundamental na estrutura econômica do Brasil, representando aproximadamente 99% do total de empresas no país (SEBRAE, 2020). Além disso, essas entidades são responsáveis por cerca de 50% dos empregos formais e contribuem com aproximadamente 27% do Produto Interno Bruto (PIB) (IBGE, 2020).

No entanto, as MPEs estão sujeitas a uma variedade de riscos que podem comprometer sua viabilidade. Esses riscos podem ser categorizados como internos e externos. Os riscos internos estão associados às operações da empresa, como falhas na produção, logística ou atendimento ao cliente (Porter, 1985). Por exemplo, a ineficiência na gestão da cadeia de suprimentos pode resultar em atrasos na entrega, afetando a satisfação do cliente e, consequentemente, a reputação da empresa (Chopra e Meindl, 2016).

Os riscos externos, por outro lado, estão relacionados ao ambiente externo da empresa, como mudanças na demanda, nos preços ou na concorrência (Kotler e Keller, 2012). Por exemplo, uma mudança abrupta na demanda do mercado pode afetar a rentabilidade da empresa, enquanto a entrada de novos concorrentes pode erodir sua participação de mercado. Portanto, é crucial que as MPEs implementem estratégias eficazes de gestão de riscos para mitigar esses desafios e garantir sua sustentabilidade a longo prazo (AIRMIC, ALARM, IRM, 2002).

No ambiente profissional atual, caracterizado por sua dinamicidade e competitividade, as empresas estão constantemente em busca de se destacar entre seus concorrentes. Da mesma forma, os profissionais competem entre si por posições melhores nas empresas, investindo em educação, aprimoramento e acumulação de experiência. De acordo com Murad (2017), tanto as empresas quanto os colaboradores devem estar preparados para enfrentar desafios diários de maneira criativa e inovadora para prosperar nesse contexto.

Nesse contexto, há um aumento significativo no número de indivíduos interessados em iniciar seus próprios negócios, como observado por Pilz (2018). Pessoas com mentalidade inovadora, ideias criativas e coragem para enfrentar o desconhecido optam pelo caminho do empreendedorismo em busca do sonho de ter seu próprio negócio, em vez de se sujeitar à instabilidade do mercado de trabalho como empregados de outras organizações.

Negócios podem surgir de várias maneiras, porém é raro que uma empresa comece sua jornada já sendo grande e sólida. Na maioria das vezes, os novos empreendimentos têm um porte pequeno, muitas vezes liderados por apenas um empreendedor, conforme explicado por Pilz (2018). Desta forma, a presente pesquisa traz como temática de discussão os pequenos negócios e seus riscos, revisando os principais aspectos de riscos conforme os estudos têm sido realizados para identificar quais são esses riscos que os pequenos negócios estão expostos e para avaliar as medidas que podem ser tomadas para mitigá-los.

A principal motivação para a condução deste estudo reside, portanto, na busca por uma compreensão mais aprofundada nos riscos dos pequenos negócios no cenário brasileiro. Compreender essa situação é importante tanto do ponto de vista acadêmico e administrativo quanto do ponto de vista social, pois envolve a discussão de uma abordagem cada vez mais desejada e adotada pelos profissionais em nosso país. Consequentemente, um número crescente de brasileiros está optando por iniciar seus próprios empreendimentos, tornando-se crucial compreender as razões por trás desse fenômeno, que envolvem aspectos econômicos, políticos e sociais. Isso é importante considerando as implicações desse contexto no mercado de trabalho e no desenvolvimento econômico do país.

Além disso, gerenciar um pequeno empreendimento exige que o microempreendedor esteja preparado e consciente de que ele será responsável por todas as áreas de seu negócio, desde as vendas até o marketing, do estoque à contabilidade. Isso representa, sem dúvida, um desafio significativo para a maioria das pessoas que desejam iniciar um empreendimento. Dessa forma, este estudo contribui para uma compreensão mais aprofundada dos aspectos administrativos do dia a dia das microempresas, incluindo também os principais aspectos legais a serem considerados.

O propósito deste estudo é demonstrar aos empresários que atuam em micro e pequenas empresas a viabilidade de implementar práticas eficazes de gestão de riscos para tomar providência dos seus recursos financeiros, ativos e reputação/imagem. Ao iniciar suas operações, muitos proprietários de pequenas empresas acreditam que têm controle total sobre suas atividades e podem negligenciar a gestão de riscos, o que é um equívoco inicial em relação aos riscos inerentes ao negócio.

Refletir e administrar os riscos é fundamental para prevenir e evitar situações que possam resultar em perdas financeiras, de clientes, fornecedores e colaboradores, sem que a empresa tenha antecipadamente conhecimento dessas possíveis adversidades e disponha de tempo e recursos adequados para tomar medidas corretivas antes que as perdas se materializem.

2 TIPOS DE RISCOS EM PEQUENOS NEGÓCIOS

Empreender pode apresentar desafios em várias ocasiões e, para as Pequenas e Médias Empresas (PME), isso não é exceção. Um planejamento eficiente pode ajudar a resolver imprevistos, evitando impactos negativos significativos em suas operações. Os riscos comerciais são uma realidade independentemente do tamanho da empresa, sendo que a diferença pode residir na capacidade de lidar com essas situações. Embora nem todos os obstáculos possam ser previstos, ao reconhecer os riscos mais comuns dentro da categoria, o empresário pode reduzir e até mesmo eliminar esses cenários.

Segundo Padoveze e Bertolucci (2005), é fundamental que uma empresa identifique os diversos tipos de riscos aos quais está sujeita para estabelecer um modelo eficaz de gerenciamento. Nesse sentido, a classificação dos riscos assume uma importância primordial, permitindo uma abordagem mais precisa e abrangente.

O risco de mercado está relacionado a mudanças nas tendências do mercado, concorrência intensificada, volatilidade de preços e demanda imprevisível, cada segmento enfrenta desafios específicos e únicos, destacando a importância do reconhecimento do setor e da análise das influências externas e internas. Por exemplo, se a empresa está envolvida com câmbio, a valorização do dólar pode afetar diretamente a aquisição de insumos, exportações e importações. Estabelecer acordos, buscar fornecedores alternativos e locais, e comparar propostas pode contribuir para a sustentabilidade do negócio.

Os riscos financeiros, que englobam desafios como insuficiência de capital de giro, flutuações cambiais, gestão financeira inadequada e inadimplência de clientes, representam uma ameaça significativa para pequenas e médias empresas (PMEs), seja para empresários individuais ou em parceria (Gitman, 2009). Uma estratégia crucial, embora aparentemente simples, é a separação das finanças pessoais das empresariais, permitindo uma análise detalhada de despesas, lucros e custos e facilitando a implementação de medidas precisas para melhorar a gestão (Brigham & Ehrhardt, 2013).

Os riscos operacionais, que incluem atrasos dos fornecedores, problemas logísticos, questões de gestão de estoque, dificuldades com a equipe, falta de suporte contábil adequado, entre outros, podem impactar negativamente o funcionamento da empresa (Slack, Chambers & Johnston, 2010). A existência de um plano alternativo para cada uma dessas eventualidades pode ajudar a minimizar os impactos causados por imprevistos.

Os riscos legais referem-se às ameaças que as PMEs enfrentam devido a mudanças nas leis, regulamentos ou requisitos legais (Bagley, 2010). Essas mudanças podem ocorrer em níveis local, estadual, nacional ou internacional e podem afetar várias áreas do negócio, desde questões trabalhistas até regulamentações fiscais e ambientais. A não conformidade com as leis e regulamentos pode resultar em penalidades financeiras significativas, litígios, danos à reputação e até mesmo a suspensão das operações comerciais.

Os riscos ambientais referem-se às ameaças que os negócios enfrentam devido a eventos ou condições ambientais adversas, como desastres naturais, poluição e mudanças climáticas (Kolk & Pinkse, 2008). Desastres naturais podem causar danos físicos às instalações, interrupções nas operações e perdas de estoque, equipamentos e propriedade. Além disso, a poluição e outros impactos ambientais podem resultar em responsabilidade legal, danos à reputação e custos de remediação significativos. Para mitigar os riscos ambientais, as PMEs devem implementar medidas de preparação e resposta a desastres, como planos de contingência, seguros contra danos ambientais e práticas de sustentabilidade ambiental.

Desastres naturais, como terremotos, inundações, incêndios florestais e furacões, podem causar danos físicos às instalações, interrupções nas operações e perdas de estoque, equipamentos e propriedade. Além disso, a poluição e outros impactos ambientais podem resultar em responsabilidade legal, danos à reputação e custos de remediação significativos.

Para mitigar os riscos ambientais, os pequenos negócios devem implementar medidas de preparação e resposta a desastres, como planos de contingência, seguros contra danos ambientais e práticas de sustentabilidade ambiental. Além disso, a conformidade com regulamentações ambientais e a adoção de práticas de negócios responsáveis podem ajudar a reduzir a exposição a riscos ambientais e promover a resiliência empresarial a longo prazo

2.1  CAUSAS E IMPACTOS DOS RISCOS 

A compreensão das causas e impactos dos riscos enfrentados pelos pequenos negócios é fundamental para desenvolver estratégias de gerenciamento eficazes. Nesta seção, exploraremos mais profundamente as principais causas e os potenciais impactos desses riscos.

2.1.1  CAUSA DOS RISCOS EM PEQUENOS NEGÓCIOS  

A ausência de experiência gerencial é uma ocorrência comum quando muitos empreendedores iniciam seus negócios com paixão e habilidades específicas, mas podem não possuir a experiência gerencial necessária para enfrentar os desafios complexos do mundo dos negócios (Hisrich et al., 2005). A falta de conhecimento em áreas como gestão financeira, marketing e recursos humanos pode resultar em decisões inadequadas e estratégias ineficazes (Kotler et al., 2012).

Os recursos limitados, sejam eles financeiros, humanos ou tecnológicos, são uma realidade comum para pequenos negócios (Churchill & Lewis, 1983). A falta de capital pode limitar a capacidade de investir em inovação, expansão e tecnologias essenciais (Cassar, 2004). A escassez de recursos humanos pode sobrecarregar os funcionários e afetar a qualidade dos produtos ou serviços (Barney, 1991). Pequenos negócios são particularmente sensíveis às flutuações econômicas. Mudanças nas taxas de juros, inflação, desemprego e outros indicadores econômicos podem impactar a demanda do consumidor, os custos de operação e a capacidade de acessar financiamento (Mishkin, 2007).

Outra causa de risco é as mudanças no ambiente dos negócios. A dinâmica do mercado está constantemente evoluindo, impulsionada por avanços tecnológicos, mudanças nas preferências dos consumidores e a entrada de novos concorrentes (Porter, 1980). Os pequenos negócios podem enfrentar dificuldades para se adaptar a essas mudanças rápidas, especialmente se não estiverem ágeis e preparados para a inovação (Teece, 2007).

2.1.2  IMPACTOS DOS RISCOS EM PEQUENOS NEGÓCIO

A falência do negócio é um dos impactos mais grave dos riscos. Se os riscos não forem gerenciados adequadamente, a empresa pode enfrentar dificuldades financeiras insuperáveis, levando ao encerramento das operações. A perda de investimentos sejam eles de proprietários individuais, parceiros comerciais ou financiadores externos, podem sofrer perdas significativas se os riscos não forem mitigados. A confiança dos investidores pode ser abalada, dificultando futuros esforços de captação de recursos.

Os danos a reputação, a reputação de uma empresa é um ativo valioso. Riscos como má gestão, produtos defeituosos ou problemas éticos podem prejudicar seriamente a reputação da empresa. Isso pode levar à perda de clientes, dificuldades na atração de talentos e uma diminuição da confiança do mercado.

Compreender essas causas e impactos é crucial para implementar estratégias de gerenciamento de riscos eficazes. O sucesso a longo prazo dos pequenos negócios depende da capacidade de identificar, avaliar e responder proativamente aos riscos inerentes ao ambiente empresarial.

3  METODOLOGIA DE PESQUISA 

Esta pesquisa é caracterizada como exploratória, investigando um domínio relativamente inexplorado: a gestão de riscos em Micro e Pequenas Empresas (MPEs). A escolha deste foco é justificada pela falta de estudos extensivos sobre o assunto, conforme indicado por Hair et al. (2005). A pesquisa exploratória permite iluminar este campo pouco compreendido, mapeando os desafios e oportunidades que permeiam a gestão de riscos neste contexto.

O método de coleta de dados empregado foi uma pesquisa ou enquete. Conforme Kidder (1987) destaca, a enquete é uma ferramenta poderosa na busca por respostas precisas. Seja para analisar fatos de maneira clara ou desvendar as complexas relações entre variáveis, incluindo as de causa e efeito, esta metodologia oferece um caminho seguro para o conhecimento. Este estudo utilizou dois instrumentos de pesquisa para coletar os dados: questionários e entrevistas semiestruturadas. As entrevistas semiestruturadas permitiram um diálogo mais profundo com 10 MPEs, explorando suas experiências e perspectivas com maior detalhamento no município de Ji-Paraná – RO. As entrevistas foram realizadas pessoalmente em um ambiente pessoal em fevereiro de 2024, permitindo uma conexão mais profunda com os participantes e a coleta de dados mais ricos e confiáveis.

A formalização do questionário foi baseada na estrutura fornecida por Richardson (1999). O instrumento de pesquisa consiste em um questionário com 10 perguntas, elaborado com base nos objetivos deste trabalho e dividido em quatro seções distintas. A primeira seção é destinada à identificação das MPEs incluídas na amostra; a segunda visa conhecer o perfil dos participantes da pesquisa; a terceira se concentra nos recursos de controle interno disponíveis em cada empresa; enquanto a última seção busca entender como a gestão de riscos é realizada nas MPEs. Os resultados específicos desta última parte serão destacados neste estudo, servindo como base para a elaboração dos requisitos para a gestão de riscos nessas empresas.

Inicialmente, as entrevistas foram conduzidas pessoalmente e, posteriormente, os questionários foram distribuídos para serem preenchidos pelos responsáveis de cada empresa. Essas atividades ocorreram durante o mês de fevereiro de 2024. O conjunto de requisitos para a gestão de riscos em MPEs considerou variáveis como controles internos (não abordados neste estudo), experiências de perdas, processo de gestão de risco e tipos de risco. Todas as informações coletadas nas entrevistas e nos questionários foram utilizadas como base para o desenvolvimento desses requisitos.

4  ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Neste contexto, são expostos e examinados os resultados, de acordo com o propósito da investigação. São detalhadas todas as fases realizadas durante a elaboração do conjunto de requisitos para a administração de riscos para micro e pequenas empresas, bem como os resultados alcançados com a validação em mais dez organizações localizadas no município de Ji-Paraná- RO.

4.1  REQUISITOS PARA A GESTÃO DE RISCOS EM PEQUENAS EMPRESAS

Existem vários modelos de plano de negócios disponíveis na literatura, como o de Cantelli (2006), que se concentra na discussão sobre o risco para MPEs incubadas. O autor constatou que os planos de negócios existentes abrangem muitas informações, porém, muitos empresários não os utilizam devido a restrições de tempo ou foco nos aspectos operacionais do negócio. Guerreiro (1989) define um modelo como uma representação simplificada da realidade, facilitando a compreensão de estruturas complexas. O conjunto de requisitos proposto nesta pesquisa é considerado um modelo representativo da gestão de riscos em MPEs. O Quadro 1 apresenta as variáveis utilizadas para construção desses requisitos.

Quadro 1 – Variáveis para construção de requisitos para a gestão de riscos

VariáveisDetalhamentoBase Adotada
  Experiências de perdasCom base nas experiências de perdas anteriores enfrentadas pelas micro e pequenas empresas incluídas na amostra da pesquisa   Dados da pesquisa
  Tipos de riscosEstratégico; Operacional; Financeiro; Gestão do Conhecimento                         e Conformidade/Legal  FERMA (2003
  Processo de Gestão de RiscoIdentificação;     Avaliação       e TratamentoFERMA (2003); AS/NZS 4360 (2004); COSO II (2004); ISO 31.000 (2010)
Fonte: Do autor

As experiências de perdas sofridas pelas pequenas empresas da amostra são uma das principais variáveis consideradas como requisitos, uma vez que os empresários muitas vezes só se conscientizam dos riscos após cometerem erros ou falhas. Os tipos de riscos, conforme classificados pela FERMA (2003), também são considerados variáveis essenciais para a construção deles.

O processo de gestão de riscos é dividido em três etapas: Identificação, Avaliação e Tratamento, conforme descrito por diferentes referências (FERMA, AS/NZS 4360, COSO II, ISO 31.000). Essas etapas são consideradas fundamentais para as MPEs mitigarem os riscos que ameaçam suas atividades.

4.2 CARACTERÍSTICAS DE REQUISITOS PARA A GESTÃO DE RISCOS EM PEQUENAS EMPRESAS

O conjunto de requisitos possui características como simplicidade, objetividade, orientação por tipos de riscos e aplicabilidade por meio de checklist, sendo adequado para qualquer MPE. É importante que o modelo seja de fácil manuseio, considerando que muitos empreendedores têm restrições de tempo e conhecimento gerencial. A orientação por tipos de riscos, seguindo a classificação da FERMA (2003), é sugerida para abordar satisfatoriamente os riscos enfrentados pelas MPEs.

Os resultados da pesquisa indicam que muitas empresas identificam os riscos, mas não tomam as medidas necessárias para gerenciá-los. A maioria das empresas entrevistadas realiza a identificação dos riscos de forma intuitiva, sem seguir um modelo específico. Isso está alinhado com a ideia de Sparrow e Bentley (2000) de que as práticas de gestão de risco nas pequenas empresas estão relacionadas às crenças e atitudes de seus proprietários, que geralmente não usam técnicas especializadas.

4.3 ESTRUTURA DE REQUISITOS PARA A GESTÃO DE RISCOS NAS PEQUENAS EMPRESAS 

A estrutura do conjunto de requisitos é composta por três etapas: Identificação, Avaliação e Tratamento do Risco. O processo de identificação é baseado nos modelos AS/NZS 4360 (2004) e ISO 31.000 (2010), que enfatizam a utilização de listas de verificação para identificar os riscos. Na avaliação do risco, é utilizada a escala de alta, média e baixa necessidade de tratamento, conforme a AS/NZS 4360 (2004). Para o tratamento dos riscos, são consideradas opções de controle e redução baseadas em modelos como AS/NZS 4360 (2004) e COSO (2004).

O requisito é aplicado por meio de checklist, facilitando seu uso pelos empreendedores. Cada etapa do processo é detalhada, permitindo uma abordagem sistemática para identificar, avaliar e tratar os riscos. Os resultados da pesquisa indicam que os riscos mais preocupantes para as MPEs são relacionados ao cumprimento de normas trabalhistas, taxas de juros e regulamentações governamentais, enquanto os menos preocupantes incluem falhas no sistema de tecnologia e alterações jurídicas e regulamentares.

Quadro 2 – Etapas do processo de gestão de riscos

Etapas de requisitosOrientações
  1ª Etapa Identificação do RiscoO empreendedor deve identificar, em cada um dos tipos de riscos existentes nesta etapa, em quais situações a empresa pode estar sujeita à possibilidade de perda.
    2ª Etapa Avaliação do RiscoO empreendedor deve atender a três requisitoschave em cada uma das situações em que identificou a possibilidade de perda. Ao registrar quantos requisitos foram atendidos com “Sim” e “Não” para cada situação, o empreendedor deve consultar a tabela de avaliação dos resultados para determinar se o risco que a empresa enfrenta precisa ser tratado ou não.  
  3ª Etapa Tratamento do RiscoNesta etapa, o empreendedor deve realizar o gerenciamento do risco, utilizando uma série de diretrizes para prevenir, reduzir ou controlar o risco.
Fonte: Do autor  
4.4 VALIDAÇÃO DE REQUISITOS PARA A GESTÃO DE RISCOS EM PEQUENAS EMPRESAS

Foi realizado um teste de validação em mais 05 empresas no município de JiParaná para verificar a eficácia dos requisitos. Os resultados mostraram que todas as MPEs validaram os mesmos. Os pontos positivos destacados incluem uma visão ampliada dos riscos, orientação clara sobre como conduzir as atividades e identificação das principais causas de mortalidade das MPEs. No entanto, alguns pontos negativos foram levantados, como a repetição das etapas do modelo e a dificuldade de implementação para empresas com controles internos precários.

Os resultados sugerem que os requisitos são válidos e úteis para a gestão de riscos em pequenos negócios, mas podem ser necessários ajustes para melhorar sua aplicabilidade em diferentes contextos empresariais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo sobre a gestão de riscos em pequenos negócios apresentou uma análise abrangente dos desafios enfrentados por essas empresas no cenário econômico brasileiro. Ao longo deste trabalho, foi possível compreender a grande importância de uma abordagem proativa na identificação, avaliação e tratamento dos riscos que ameaçam a sustentabilidade e o sucesso desses empreendimentos.

Observou-se que, embora os pequenos negócios representem uma parcela significativa da economia brasileira, estão expostos a uma série de riscos que podem comprometer sua continuidade. Esses riscos podem variar desde questões operacionais, financeiras e legais até eventos ambientais adversos. A falta de experiência gerencial, recursos limitados e mudanças no ambiente de negócios foram identificados como algumas das principais causas dos riscos enfrentados por essas empresas. Uma das principais contribuições deste estudo foi a proposição de um conjunto de requisitos para a gestão de riscos em pequenos negócios. Esses requisitos, baseados em uma análise detalhada das experiências de perdas, tipos de riscos e processos de gestão de riscos, fornecem uma estrutura sólida para os empresários enfrentarem os desafios de forma sistemática e eficaz. A validação desses requisitos em diversas empresas demonstrou sua relevância e utilidade na prática.

É importante ressaltar que a gestão de riscos não é uma tarefa fácil e requer um compromisso contínuo por parte dos empresários. No entanto, os benefícios de uma abordagem estruturada para a gestão de riscos são inegáveis. Além de mitigar perdas financeiras e proteger a reputação da empresa, uma gestão eficaz de riscos pode promover a resiliência e o crescimento sustentável dos pequenos negócios.

Por fim, este estudo destaca a importância da conscientização e da capacitação dos empresários em relação à gestão de riscos. Através da disseminação de conhecimento e da adoção de boas práticas, é possível fortalecer o ambiente empreendedor no Brasil e contribuir para o desenvolvimento econômico e social do país.

REFERÊNCIAS

AIRMIC; ALARM; IRM. (2002). A structured approach to Enterprise Risk Management (ERM) and the requirements of ISO 31000. London: AIRMIC, ALARM, IRM.

AS/NZS 4360. (2004). Gestão de Riscos. Disponível em: https://www.bibliotecadeseguranca.com.br/fr/livros/gestao-de-riscos-a-norma-asnzs43602004/. Acesso em: 15 fev. 2024.

BAGLEY, C. E. (2010). Managers and the Legal Environment: Strategies for the 21st Century. 6. ed. Mason: South-Western Cengage Learning.

BARNEY, J. (1991). Firm Resources and Sustained Competitive Advantage. Journal of Management, 17(1), 99-120.

BASTOS, A. (2009). ISO 31.000: a nova era da gestão de riscos começa em outubro. Disponível em: https://www.baguete.com.br/artigos/570/albertobastos/16/02/2009/iso-31000-a-nova-era-da-gestao-de-riscos-comeca-em-outubro. Acesso em: 01 fev. 2024.

BRIGHAM, E. F.; EHRHARDT, M. C. (2013). Financial Management: Theory & Practice. 14. ed. Mason: South-Western Cengage Learning.

CANTELLI, W. (2006). A percepção de riscos no processo de empreender – Estudo das empresas incubadas e graduadas de Curitiba-PR. 162 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba.

CASSAR, G. (2004). The Financing of Business Start-ups. Journal of Business Venturing, 19(2), 261-283.

CHOPRA, S.; MEINDL, P. (2016). Supply Chain Management: Strategy, Planning, and Operation. 6. ed. Upper Saddle River: Pearson Prentice Hall.

CHURCHILL, N. C.; LEWIS, V. L. (1983). The Five Stages of Small Business Growth. Harvard Business Review, 61(3), 30-50.

COMMITTEE OF SPONSORING ORGANIZATIONS OF THE TREADWAY

COMMISSION – COSO. (2004). Enterprise risk management: integrated framework. Executive Summary. Jersey City, NJ: AICPA.

FAMÁ, R.; CARDOSO, R. L.; MENDONÇA, O. (2002). Riscos Financeiros e não Financeiros: Uma Proposta de Modelo para Finanças. Cadernos da FACECA, v. 11, n. 1, p. 33-50.

FEDERATION OF EUROPEAN RISK MANAGEMENT ASSOCIATIONS – FERMA. (2003). Norma de Gestão de Riscos. Disponível em: http://www.ferma-asso.org. Acesso em: 10 fev. 2024.

GITMAN, L. J. (2009). Principles of Managerial Finance. 12. ed. Boston: Pearson.

GUERREIRO, R. (1989). Modelo conceitual de sistema de informação de gestão econômica: uma contribuição à teoria da comunicação da Contabilidade. São Paulo. Tese (Doutorado em Contabilidade) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

HISRICH, R. D. et al. (2005). Empreendedorismo. 5. ed. Porto Alegre: Bookman.

IBGE. (2020). Estatísticas do Cadastro Central de Empresas 2020. Rio de Janeiro: IBGE.

KATZ, J. A.; GREEN, R. P. (2014). Pequenas Empresas Empreendedoras. 4. ed. Educação McGraw-Hill.

KOLK, A.; PINKSE, J. (2008). A perspective on multinational enterprises and climate change: Learning from ‘an inconvenient truth’?. Journal of International Business Studies, 39(8), 1359-1378.

KOTLER, P. et al. (2012). Administração de Marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall.

KOTLER, P.; KELLER, K. L. (2012). Administração de Marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall.

MISHKIN, F. S. (2007). The Economics of Money, Banking, and Financial Markets. 8. ed. Boston: Pearson Addison Wesley.

PORTER, M. E. (1980). Competitive Strategy: Techniques for Analyzing Industries and Competitors. New York: Free Press.

PORTER, M. E. (1985). Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance. New York: Free Press.

REISS, C. L. (2004). Risk Management for Small Business. EUA: Public Entity Risk Institute.

SEBRAE. (2020). Anuário do Trabalho nos Pequenos Negócios 2020. Brasília: SEBRAE.

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS – SEBRAE. (2007). Fatores condicionantes e taxas de sobrevivência e mortalidade das micro e pequenas empresas no Brasil – 2003/2005. Brasília.

SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. (2010). Operations Management. 6. ed. Harlow: Pearson Education.

TEECE, D. J. (2007). Explicating Dynamic Capabilities: The Nature and Microfoundations of (Sustainable) Enterprise Performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350.