REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.6840702
Autores:
Giovanna Manfrin Flausino1
Fernando Zanetti2
RESUMO
Quando se olha para um ser humano, a primeira coisa passível de se ver é o seu corpo. Entende-se que o corpo não possui apenas o seu papel enquanto um funcionamento biológico do ser humano, o corpo vai além. Ele possui a sua importância dentro da sociedade fazendo com que este ganhe uma importância na sociedade e um papel social. A partir do momento em que o corpo é inserido dentro de uma sociedade, são atribuídos significados a ele, tornando-o o modo de diferenciar um ser humano de outro. Dessa forma, o corpo passa por significados diversos de acordo com a época em que ele está inserido. Este estudo foi realizado de modo qualitativo, a partir de uma revisão histórica, que apresenta os padrões de beleza feminino a partir do século XV e como estes foram sendo criados ao longo dos séculos.
Palavras-chave: Padrão de beleza. Feminino. História.
ABSTRACT
When you look for a human being, the first liable thing that you see it’s their bodies. It’s understood that the body hasn’t just your role as a biological functioning of human beings, the bodies go beyond. It has your importance inside of society, making it gain importance in society and social role. From the moment the body is inserted into a society, meanings are assigned to them, making it the way to differentiate one human being from another. In this way, the body passes for diverse meanings according to the season in which it’s inserted. This study was realized in a qualitative mood, based on a historical revision of who presents the female beauty standards from the XV century and who it’s been created over the centuries.
Keywords: Beauty pattern. Feminine. History.
1. INTRODUÇÃO
A imagem da mulher na sociedade está diretamente ligada à concepção de beleza, (Novaes e Vilhena, 2003), fazendo com que muitas mulheres busquem caminhos que possam oferecer o corpo milimetricamente perfeito e padronizado. Segundo as autoras, hoje as redes sociais são a grande responsável por influenciar os padrões de beleza feminina. Jacob (2014), diz que a sociedade passou das capas de revistas e desfiles de moda na televisão, com modelos extremamente magras e sem nenhum tipo de estria, celulite, espinha ou rugas nas fotos, para as redes sociais. Antes, a perfeição estava nas passarelas, revistas e televisão, mas agora a sociedade se baseia nas imagens que são postadas nas redes sociais. Porém a autora diz que os padrões de beleza femininos foram sendo reforçados não só pelos meios de comunicação social, mas também pela moda, fazendo com que hoje as mulheres que consomem o produto realizado pela moda tentem chegar a uma beleza inatingível, ou seja, uma beleza feminina utópica, perfeita e inexistente por conta da construção de estereótipos a partir dos padrões de beleza criados pela sociedade.
A visibilidade que os padrões de beleza femininos obtiveram com o passar dos tempos fez com que áreas diversas da estética se expandissem, segundo Caron, ao se pensar na forma como as mulheres se enxergam e o modo como as elas foram constituindo a sua relação com o seu próprio corpo; pensa-se na possibilidade de afetar não somente “a saúde emocional” mas também “as relações humanas e sociais” (CARON, s/d, p.1). Como a autora diz, o padrão inatingível de beleza feminina no século XXI tem criado cada vez mais estereótipos e isso faz com que um número muito grande de mulheres desejam atingir uma beleza utópica e inexistente através de procedimentos estéticos, sendo possível a aproximação do corpo e beleza feminina perfeita.
Através dessas informações é possível questionar: Como esses ideais de corpo feminino perfeito foram sendo criados e enraizados na sociedade durante os séculos? Deste modo o presente texto objetiva entender, a partir do retorno aos séculos anteriores, como os padrões de beleza feminino foram criados e como se sustentam até os dias de hoje. O trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica, de modo qualitativo.
Em 2017, o Jornal da Universidade de São Paulo (USP), publicou uma reportagem sobre as estatísticas de cirurgias plásticas no mundo, divulgadas – no mesmo ano – pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plásticas. O Estados Unidos ficou em segundo lugar no ranking, com 60 mil cirurgias por ano, perdendo apenas para o Brasil, que bateu o recorde de aproximadamente, 90 mil cirurgias, sendo que, deste número, 4% dos pacientes são adolescentes.
Di Santis, (2017), divulgou no site da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), que encontram-se falhas em 93% das certidões de óbitos de pessoas que morreram após realizarem a cirurgia de lipoaspiração. Sendo 64% dos documentos, com preenchimentos imprecisos e em 29% como indeterminadas. 98% das mortes, são mulheres, 43% eram casadas e 38% solteiras, a faixa etária dessas mulheres estava em 21 a 50 anos. 45% das mortes, ocorreram no mesmo dia do procedimento e 83% na primeira semana, 77% dos médicos responsáveis pelas cirurgias foram consultados: 73% eram cirurgiões plásticos, 23% não tinham registro de especialidade no Conselho Federal de Medicina, 2,3% eram ortopedistas e 1,7% cirurgiões gerais. E cerca de 11,62% dos óbitos foram atestados pelo mesmo médico que realizou o procedimento, ação que contraria a norma legal.
2. DESENVOLVIMENTO
O estudo de Novaes e Vilhena (2003), mostram que o corpo não se limita somente à questão biológica no sentido de seu funcionamento fisiológico, mas sim um corpo que se insere na sociedade enquanto um ator/personagem, com isso, segundo as autoras, é dessa forma que ele se espelha e é construído. As autoras citam Le Breton ao pensar na construção da cultura moderna e a relação com o corpo e, acentuam que, o corpo se transformou em um elemento primordial para diferenciar e identificar uma pessoa de outra e, a partir disso, ele se constitui e novas significações são dadas. Visto que o corpo não se limita somente em seu funcionamento bio/fisiológico e que é construído a partir da sua inserção na sociedade, entende-se que o corpo ganha significações por ser a peça chave para diferenciar um ser humano de outro. Com isso, é importante entender as modificações que os significados atribuídos ao corpo sofreram.
Padrões e estereótipos foram sendo criados ao longo da história. Georges Vigarello (2006), apresenta em seu livro: História da beleza – o corpo e arte de se embelezar do Renascimento aos dias de hoje, as mudanças ocorridas nos estereótipos e padrões de beleza ao longo dos séculos. No século XVI, havia uma valorização maior em determinada parte do corpo da mulher, nesta época a parte mais valorizada era a parte de cima, destacando o busto, o rosto e os ombros. Já o rosto, uma mulher com um rosto perfeito, era aquela mulher que possuía uma pele e rosto sadios, sem manchas e marcas. Foi somente no século XVIII, que houve uma grande mudança.
A beleza deixou de ser comandada pelo inteligível e passou a ser comandada pelo sensível, tendo como critério, o relativo e não o absoluto. Portanto, os sentimentos e sentidos passa a ganhar maior importância, tanto que Vigarello (2006) usa como exemplo, as pinturas da época, já que com elas é trazido o detalhe de cada instante, um momento passageiro, que se caracterizava por movimentos e gestos, tendo como objetivo fazer a pessoa que está vendo ter curiosidade sobre aquilo que se vê. E quanto mais a feição da mulher se mostrava sensível, mais essa imagem era considerada enquanto uma linda fisionomia. Um pouco mais tarde, surgiu a ideia de uma estética padronizada, criando maneiras de justificar uma categorização do belo. O autor diz que dentre esses critérios, destacavam-se a ideia de juventude. Nesta época, cada parte do corpo recebia suas especificações, pois acreditava-se que eram claramente importantes para que a totalidade fosse bela.
Detalhes como a retidão da testa, do queixo, o aprumo do nariz, do maxilar e dos lábios tomavam uma grande importância não só para os anatomistas, mas também para o público, desde indícios de belezas até as diferenças. Tudo isso era explicado por uma determinada lei que dizia sobre equilíbrio e verticalidade a uma lógica de dispositivos esqueléticos e arquiteturais. No entanto, a visão do ângulo facial reforçava as classificações e distinções entre os indivíduos.
Além disso, a forma do corpo feminino e também do masculino passa a ser associada a sua capacidade reprodutora, nesse sentido, declararam que deveriam se enquadrar como um losango e um trapezoidal, respectivamente. Vigarello (2006) cita Moreau de La Sarthe, ao dizer que o busto e os quadris estavam numa razão inversa nos dois sexos. E isso seria a base que resultaria em outras características, como exemplo, “o desenho do quadril seria determinante ao modo de caminhar da mulher, a bacia alargada provocaria um caminhar vacilante” (VIGARELLO, 2006). O autor ainda adiciona Rousseau (1775), ao dizer que “a iniciativa constrangida da mulher a impedia de fugir, facilitando sua dependência e sua submissão; ‘as mulheres não são feitas para correr, quando elas fogem é para serem apanhadas’” (VIGARELLO, G, 2006, p. 80).
Portanto, foi um período em que se reafirmava a lógica do poder masculino e a função da mulher como apenas gerar e criar, e seus traços físicos atraentes seriam mais para assegurar a descendência e a saúde. Ainda nesse período, os padrões de beleza se tornaram mais livres, enfatizando e valorizando as peculiaridades de cada um. Sobre isso o autor declara: “Todos traduzem uma ‘conquista de identidade singular’, todos indicam uma atenção particular. Frustra-se assim, de outra maneira, a certeza de uma beleza absoluta” (VIGARELLO, G. p.85, 2006). Nas pinturas há um abandono daquelas formas pré-construídas do rosto que visava garantir uma fisionomia melhor. Isso, consequentemente, caminhava para retratos mais realistas, mais individualizados, e assim a sensibilidade do observador seria essencial para conseguir captar todas essas peculiaridades.
Em uma declaração para um de seus aprendizes, o autor traz novamente Rousseau, ao dizer que expressa o desejo de que ele deva realçar as linhas e traços das pessoas de maneira natural e acrescenta: “quero que ele se acostume a observar bem os corpos e sua aparência e não fazer imitações falsas e não acontecidas”. (VIGARELLO, G., 2006, p. 87). Os penteados nos cabelos e as maquiagens também deveriam realçar a beleza de cada um; foi por isso que na metade do século XVIII houve uma comercialização mais ativa e variada de cosméticos, visando atender a todos os tipos de indivíduos.
Agora, já no século XIX as características da beleza se flexibilizaram. Portanto, a figura da mulher passa a ser mais reconhecida, mais ativa e mais capaz de habitar o espaço público. Nesse período, as fisionomias pensativas que enchem os olhos de melancolia e passam uma imagem de um olhar sonhador, se tornaram mais sedutoras. Sem contar o sorriso, que mais livre, se tornou outra expressão de pensamento. O autor confirma: “Os olhos, sobretudo, sugerem esse encontro em que se arruinaram as consciências: maneira nova de expressar o extraordinário, janela aberta para o infinito” (VIGARELLO, 2006, p.103). As fisionomias passaram a ser interpretadas de modo diferente, acreditava-se que o externo fosse um grande reflexo do interior da mulher e um grande exemplo disso era o encanto da Madame de Mortsauf, que com sua testa arredondada parecia cheia de ideia subentendidas, de sentimentos contidos. Com isso:
O efeito não é mais o de alguma revelação de Deus, como no século XVI, nem mesmo o de alguma revelação de sensibilidade, como no século XVIII, e sim o de uma revelação de si: consciência de uma interioridade bruscamente ampliada pela beleza” (VIGARELLO, G. 2006, p.104).
Essas eram as características presentes no século XIX que resultam no ser contemporâneo como um indivíduo que passou a investigar melhor seu mundo interior, buscando entender sua consciência. O consumo de cosméticos e maquiagem cresceu com o século; o contorno dos olhos se tornou mais chamativo, mas a maquiagem em um todo visava se aprofundar e destacar as características consideradas belas, de cada indivíduo. É nesse período, também, que se observava uma interminável afinação das expressões que marcavam as posturas. Um exemplo disso era a referência suplementar específica da silhueta feminina: a curvatura, o arco que proporciona a “queda dos rins”, sua forma “magnífica” (VIGARELLO. 2006, p.107).
Essa curvatura se tornou o ponto central da discussão da beleza feminina, pois ela expressaria tanto a excelência como a fragilidade. E é também nesse ponto que o corpo feminino e masculino mais se diferenciariam em sua forma. A curvatura da mulher, principalmente da região dos quadris, mais do que nunca, evidenciaram a conformação da bacia, o que estaria ligado diretamente à capacidade reprodutiva. Mas não foi somente a curvatura, suas descrições e as palavras que mudaram, a silhueta também representava um papel importante quando se falava das transições de características belas com o passar dos séculos. O modelo físico da aristocracia se subverteu e o homem deveria apresentar barriga sem saliência, ombros repuxados para trás, busto reto e cintura comprida. Tudo que caracterizava um corpo com mais vigor, que demonstrasse mais força.
O autor traz que já no século XX, as pessoas se tornaram cada vez mais independentes dos antigos padrões, reconhecendo assim a beleza de um modo individual, como por exemplo: gostos pessoais, mas, evidentemente, não se encontram dissociadas completamente do modo antigo. Vigarello (2006), diz que por volta de 1910 há novamente uma grande mudança no padrão de corpo considerado belo, desta vez referente à silhueta que deveria ser mais alongada, além de aumentar a altura. Essa mudança representaria uma profunda transformação da mulher, em um papel social onde ilustraria mais independência. Sobre isso, o autor relembra o que a revista Anos Loucos disse: “A mulher, animada com o movimento e a atividade, exige uma elegância apropriada, cheia de desenvoltura e de liberdade.” (VIGARELLO, 2006, p.143).
Aqui, o autor diz que essa mulher, que passou a ser mais independente, começou a representar uma vertente mais prática, mais fluida. Um exemplo são os cabelos que deixaram de possuir aquele aspecto pesado e longo, para um cabelo mais curto e com leveza. Isso foi uma mudança muito significativa para a época, o autor vai dizer que a princesa Bibesco até se questionava:
Que ameaça não formulada fez as mulheres de nosso tempo renunciarem, com toda a liberdade, sem condenação, sem qualquer vocação e quase simultaneamente, a essa arma de sedução segura, aprovada desde o início das idades? (VIGARELLO, 2006, p.145).
Ou seja, a mudança dos cabelos foi algo realmente muito revelador que atingiu grandes mudanças nos padrões de beleza.
Ao se pensar no século XXI de acordo com aquilo que é possível observar, é a época em que as mulheres colocam seus corpos a mercê de cremes faciais, dietas malucas, exercícios físicos em excesso e cirurgias plásticas com o intuito de se aproximar o máximo possível dos padrões de beleza criados pela sociedade e estar cada vez mais distante do ser não belo, que a sociedade padronizou, enquanto tipo de regra: ou se encaixa nos padrões ou é considerada feia.
Segundo Silva (2016), Thomas More foi o responsável pela criação da palavra: utopia; a descrição do seu significado se dá por uma sociedade perfeita, contudo, inexistente. “Derivada do grego ou – que tem o sentido de negação – mais a expressão topos (lugar), deu origem ao “não lugar” a “um lugar inexistente.” (SILVA, 2016, p.134). Para Foucault, a utopia é um lugar fora de todos os lugares que torna o corpo incorporal, fora da realidade. Ao se pensar no corpo, é possível entender um corpo sem corpo, ou seja, um corpo lindo, ideal, perfeito, ágil. Tornando o corpo algo incorporal, fora da realidade, um corpo inexistente. No texto “O corpo utópico, as heterotopias”, o autor traz um país mágico para explicar a ideia de utopia.
O pais das fadas, o país dos duendes, dos gênios, dos mágicos, este é o país onde os corpos se transportam tão rápido quanto a luz, o país onde as feridas se curam com um bálsamo maravilhoso na duração de um relâmpago, o país onde se pode cair de uma montanha e reerguer-se vivo, o país onde se é visível quando se quiser, invisível quando se desejar. Se existir um pais feérico, é justamente para que eu seja príncipe encantado e que todos os janotas graciosos tornem-se peludos e vilões como pequenos ursos.” (FOUCAULT,, 2013, p.9).
Esta palavra fez com que outros adjetivos fossem gerados, como por exemplo, utopista, que segundo o autor, é o sujeito que segue o inexistente, um mundo idealizado e fantasioso.
Não obstante, a mídia e indústrias publicam e fabricam todos os dias dicas e imagens de como o corpo, a alimentação, a vestimenta e como uma mulher deve ser. Diante disto, é possível entender que o corpo da mulher é tratado com um contrato a ser consentido e assinado por todos aqueles que não são mulheres. Quando na verdade, o que a mulher veste, usa, o modo como ela se comporta e a forma que ela escolhe viver a sua vida deveria pertencer apenas a ela e mais ninguém.
Se o imaginário cultural engendra gestos, posturas, hábitos, vícios, expressões, enfim, toda uma cartografia corporal que insere e reconhece o sujeito como membro de um grupo social, qual seria, na cultura atual, um dos maiores símbolos de inserção? Ter o corpo da moda. Da moda do corpo ao corpo da moda, o corpo natural desnaturaliza-se ao entrar em cena. O estudo sobre a concepção e codificação do corpo na cultura moderna revela, paralelamente, que um outro olhar e uma atenção diferenciada estão relacionados às mudanças dos códigos sociais (NOVAES; VILHENA, 2003, p.10).
Segundo as autoras Novaes e Vilhena (2003), a subjetividade do sujeito e a forma como ele enxerga o seu corpo são totalmente influenciadas quando a moda tenta normatizar um determinado tipo de corpo, quando as indústrias criam produtos determinados e transformam isso enquanto a essência na vida da mulher para se manter bela, além de o cuidado com o físico ser uma forma de se proteger das opiniões sociais e a perspectiva do outro sobre ele, afinal, não pertencer a um tipo de padrão de beleza necessita-se coragem, aceitação do próprio corpo e força para lutar contra a maré. É como se estivéssemos todos dentro de um rio indo para o mesmo caminho e, de repente, alguém decidisse remar contra a maré. Até aqui é possível entender o processo de desenvolvimento dos padrões de beleza ao longo dos séculos, mas ao se pensar na imagem corporal da mulher, Saikali et al. (2004) trazem a visão de alguns autores sobre o que seria a imagem corporal.
Segundo as autoras, Schilder (1994) diz que a forma como o sujeito se vê nada mais é que uma figura formada pela mente do mesmo, pois é dessa forma que o corpo se apresenta para si. O segundo autor apresentado é Thompson (1996), que divide a imagem corporal em três componentes: Perceptivo, Subjetivo e Comportamental. A primeira diz que o sujeito possui uma percepção do próprio corpo, interligando tamanho corporal e peso, ou seja, como o sujeito se percebe. Na segunda, é discutido o quanto o sujeito se preocupa com a sua aparência e a sua satisfação com a mesma e a terceira que discute os comportamentos de fuga que o sujeito possui após passar por algum tipo de desconforto devido à sua aparência.
Outra forma de se pensar nisso, as autoras citam McNamara (2002) dizendo que as crenças culturais influenciam a relação que os sujeitos possuem com o seu próprio corpo através de normas sociais. “Práticas de embelezamento, manipulação e mutilação, fazem do corpo um terreno de significados simbólicos” (SAIKALI et al., 2004, p.1-2). Não é à toa que as mudanças artificiais como cirurgias plásticas e tratamentos estéticos estão presentes em todo o mundo.
Para Novaes e Vilhena (2003), a imagem da mulher na cultura está diretamente ligada à concepção de beleza, onde ser bela é ser magra, sem estrias e celulites pelo corpo “ideal”, em que ser bela é ter cabelo liso, olhos claros, obedecer o comportamento imposto pela sociedade, ter a pele do rosto inteiramente uniforme. Essa ideia de beleza é imposta e cria raízes por séculos e séculos, porém, as autoras dizem que uma nova ideia é criada: a de você poder ser bela, ou seja, torna- se a beleza estereotipada, acessível. Paula e Cavagnari (s/d) citam em suas pesquisas que empresas responsáveis por produtos de beleza utilizam essa estratégia: tornar a beleza acessível.
Uma “tarde para cuidar de si” é apresentada como uma forma de liberação. Uma consciência libertadora para a mulher que nisso investe. Trata-se, na verdade, de colocar a mulher aprisionada e sempre a serviço de seu próprio corpo, seja para aperfeiçoá-lo, ultrapassá-lo, modificá-lo, e muitas vezes, mutilá-lo, pois não importa o preço a pagar (NOVAES; VILHENA, 2003, p.25).
Essa ideia veio com o intuito de tornar a beleza acessível e prática para quem quiser, ou seja, foi direcionada a responsabilidade para a mulher de ser ou não bonita, ou seja, comprando ou não produtos, pagando ou não cirurgias plásticas. Mas, ao se pensar nas mulheres que não possuem condições financeiras para ter acesso a diferentes formas de conquistar essa beleza, retornamos alguns parágrafos em que se pensa sobre o quanto situações como essas possuem uma influência direta, não somente na subjetividade da mulher, mas a forma como ela se vê e se percebe.
Ainda Menezes (2006, p.1) afirma que todos os dias as pessoas olham para revistas, outdoors, tv e veem esses “corpos esquálidos”, em que são reconhecidos como o ideal de beleza feminina. Todos os dias, estabelecimentos como: academias, centros estéticos, medicamentos, oferecem “novos tratamentos anti envelhecimento, anti estrias, “anti isso”, “anti aquilo […]” (MENEZES, 2006, p.1), para estarem cada vez mais perto deste corpo ideal.
Utilizar do tempo e dinheiro para se aproximar deste corpo ideal, além de significativo e reconfortante, é se sentir parte de um grupo: a sociedade. Padrões de beleza são impostos e não fazer parte dos mesmos é estar fora deste mesmo grupo, sendo alvo de críticas, opiniões alheias e julgamentos. Saikali et al. (2004) citam Adams (1977), dizendo que o comportamento de isolar, traz o sentido de estes indivíduos, não serem atraentes, não correspondendo ao ideal de beleza, influenciando diretamente o desenvolvimento nas habilidades sociais.
Segundo o artigo, os autores dizem ainda que as pessoas que estão dentro de um padrão recebem mais suporte no desenvolvimento cognitivo, desde se fazer sentir atraente até seguro e competente. Aqui, é possível compreender que pelos padrões de beleza serem tão enraizados, eles podem afetar a autoestima e confiança das pessoas no quesito se sentirem seguros, porém, a psicoterapia é uma ótima ferramenta para ensinar os seres humanos a lidarem com as suas inseguranças. O que não deveria ser tão necessário, caso não existisse todos esses tipos de padrões: corpo, cabelo, cor dos olhos, modelo de roupa, a quantidade de peso e etc.
Com isso, a todo momento, propostas e tratamentos mais eficazes são criados e oferecidos ao consumo/prática para chegar no resultado que deseja, mas segundo Menezes, sem o senso crítico, “somos levados a querer experimentar tudo ou, pior ainda, sentimos nossa autoestima despencar” (MENEZES, 2006, p.1).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensa-se no corpo enquanto um identificador de seres humanos. A partir do momento que o corpo ganha significados dentro da sociedade no qual está inserido, estereótipos e padrões são criados. Isso ocorre desde o momento em que o ser humano se reconhece enquanto ser humano. Cada época trouxe consigo um padrão não somente social, mas também uma construção dos padrões de beleza feminino. No século XVI, por exemplo, não se trazia a ideia do que seria uma mulher bela ou não, muito menos a ideia do que poderia ser considerado feio ou bonito. Nesta época, algumas partes da mulher eram mais valorizadas e faziam com que essa valorização ocorresse através das vestimentas utilizadas pelas mulheres. Já no século XVIII uma mudança ocorre e inicia-se a construção de um padrão de beleza. Por mais que nesta época o sentimento fosse levado em consideração, a mulher era comparada com as pinturas da época e quanto mais uma mulher tivesse uma feição sensível, mais bonita ela era considerada – o que hoje podemos compreender como: mulheres com vestimentas, corpos e comportamentos delicados, além de o corpo feminino ter ganhado um significado a mais nessa época: a reprodução.
É possível enxergar a mudança dos padrões de beleza entre o século XVI a XVIII. O que não mudou foi a forma como as mulheres eram tratadas e o papel social que estas deveriam cumprir. As mulheres eram totalmente submissas aos seus maridos, servindo apenas para a reprodução. No século XIX não somente os padrões de beleza se flexibilizaram, mas a figurinha feminina também iniciou o seu posicionamento, ocupando alguns lugares que antes era impossível.
Como também é possível perceber, no século XX, a sociedade se tornou um pouco mais independente dos antigos padrões, o que parece haver uma contradição, já que no século XXI as mulheres deram início nas compras dos cremes hidratantes, cremes anti rugas, etc, o que nos faz entender que a sociedade se tornou mais independente no sentido de esconder os padrões que sustentam para manterem uma beleza utópica e inexistente apenas para ser considerada bela, assim como as modelos de passarela. Porém, com as redes sociais, a beleza que antes se encontrava nas passarelas, hoje encontra-se nas telas de televisão e celular causando uma influência ainda maior na subjetividade das mulheres.
Traz-se a temática da subjetividade na tentativa de discutir tudo aquilo que rodeia o corpo da mulher e a forma como ela se enxerga no espelho. No fim, entende-se que o corpo, apesar de ser a primeira forma visível de se diferenciar os seres humanos uns dos outros, o que diferencia um ser humano do outro é toda a sua complexidade enquanto ser. A forma como cada um vive, anda, respira, dorme, come, ou seja, a forma como cada ser humano vive, também diferencia uns dos outros e é isso que os torna cada vez mais únicos e insubstituíveis, fazendo parte ou não de um padrão de beleza.
Visto que foi possível perceber ao longo desse estudo que os padrões de beleza foram sendo constituídos de acordo com a cultura e os acontecimentos sociais.
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1Psicóloga Clínica, Pós Graduada em Comportamento Alimentar. E-mail: psicologagimanfrin@gmail.com
2Professor e Doutor. Universidade do Estado de Minas Gerais- UEMG. E-mail: fernando.zanetti@uemg.br