TRATAMENTO E ABANDONO DO TRATAMENTO DE HIV: FATORES E DESAFIOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE SAÚDE NA CIDADE DE MANAUS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11167979


Micilene Inácio Feitosa,
Tarcísio Da Mota Farias,
Orientador: Prof. Dra. Pauline de Faria Soldera


RESUMO

A pesquisa trata da descrição dos registros   científicos   brasileiros   acerca da    adesão    à    terapia    antirretroviral (TARV) por pessoas que vivem com HIV/AIDS.   Tratou-se   de   um   estudo descritivo, de   revisão   integrativa   de literatura, realizado na base SCIELO, PUBMED, Science Direct e Revista Eletrônica Acervo Saúde. O objetivo geral da pesquisa é analisar os motivos pelos quais alguns portadores de HIV abandonam ou interrompem seus tratamentos. Os objetivos específicos são: apresentar revisão de literatura acerca da temática; elencar as possíveis causas e fatores de abandono do tratamento de portadores de HIV; descrever os desafios da Saúde Pública para a garantia do acesso, permanência e sucesso de pacientes portadores de HIV. Como resultados, obtiveram-se as categorias: conceitos de adesão ao   tratamento antirretroviral, condições de adesão/não adesão/abandono à terapia antirretroviral, a influência da terapia, antirretroviral na vida de alguns dos diversos grupos populacionais e ações de   enfermagem   para   a   promoção   da adesão à terapia antirretroviral. Concluiu-se   que   as   dificuldades   de adesão à TARV mostram-se oriundas sobretudo ao baixo nível educacional, ao déficit de suporte familiar e social, consumo de bebida alcoólica e drogas ilícitas e efeitos colaterais proporcionados por tais medicamentos. Assim, a enfermagem brasileira deve ser capaz de assistir aos sujeitos que necessitam da TARV em seus fatores psicossociais e demandas de saúde, instrumentalizada, sobretudo, pela sistematização da assistência

Palavras-chave: HIV; Tratamento; Abandono.

INTRODUÇÃO

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, AIDS, é a condição do indivíduo que apresenta manifestações clínicas características, causadas pelo Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV), a qual é definida por um transtorno que ocorre na imunidade adaptativa, no tipo celular, que leva o indivíduo a mais suscetibilidade a processos patológicos, infecções e neoplasias em geral (Coutinho et al., 2018).

 Os sinais e sintomas podem variar de acordo com o período e estágio da infecção. Apesar das pessoas que apresentam a infecção pelo vírus tenham a tendência para apresentarem – se mais infecciosas nos primeiros meses após adquirirem, muitas desconhecem o status da soropositividade. As primeiras semanas pós infecção inicial, os indivíduos podem não apresentar qualquer sintoma ou patologias, sinais ou sintomas, como dor de garganta, febre, entre outros.

Porém, ao curso que a infecção vai evoluindo e, enfraquecendo o sistema imunológico, os sinais e sintomas podem se apresentar, como linfonodos inchados, perda de peso, febre entre outros, que sem tratamento podem desenvolver doenças como tuberculose, infecções bacterianas graves entre outras manifestações (Who, 2022).

O vírus HIV pode ser transmitido por trocas de diversos fluidos do corpo do indivíduo infectado, como o sangue, leite materno, sêmen e secreções vaginais, podendo também ser transmitido de mãe para filho (transmissão vertical) durante a gravidez e o parto. Não se transmite o vírus por meio do contato diário, como abraços, apertos de mãos, compartilhamento de objetos pessoais, entre outros (Who, 2022). Diz-se isso em função do imaginário que existe em relação à transmissão do referido vírus.

Assim, este Trabalho de Conclusão de Curso trata de questões referentes ao tratamento, diagnóstico, abandono e, sobretudo, os desafios postos à Saúde Pública como política, aos profissionais de Saúde, à sociedade em geral e, principalmente, à pessoa infectada que, ao receber o diagnóstico, passa por um processo de negação, dentre tantas outras demandas pessoais oriundas de suas condições orgânica, física, mental e espiritual.

A pesquisa se justifica pelas relevâncias social e científica visto que contribui para a reflexão de futuros pesquisadores e para o conhecimento de diferentes realidades. Nesse sentido, esta pesquisa científica se justifica por proporcionar o redimensionamento de outros estudos, visando a compreensão sobre o tema e a melhoria de uma minoria (pacientes portadores) social que enfrenta e reflete sua condição na sociedade.

O objetivo geral da pesquisa é analisar os motivos pelos quais alguns portadores de HIV abandonam ou interrompem seus tratamentos. Os objetivos específicos são: apresentar revisão de literatura acerca da temática; elencar as possíveis causas e fatores de abandono do tratamento de portadores de HIV; descrever os desafios da Saúde Pública para a garantia do acesso, permanência e sucesso de pacientes portadores de HIV.

Para tanto, perseguiram-se as seguintes questões norteadoras: quais os principais motivos pelos quais os pacientes portadores de HIV, na cidade de Manaus, interrompem ou abandonam seus tratamentos? Quais os desafios propostos. Desse modo, foi realizado um levantamento das principais causas do abandono do tratamento do HIV em bibliografia especializada quais sejam: artigos em revistas científicas e periódicos.

Dessa forma, a pesquisa se constitui como oportunidade de ampliação de conhecimento, debates e discussões de uma temática presente no cotidiano de enfermeiros e enfermeiras que em seus ofícios precisam da formação e da práxis, para além da operacionalização da Enfermagem. Na verdade, teorização e prática (práxis) devem pressupor um compromisso ético, no afã de cumprir as demandas postas no referido campo epistemológico.

2 OBJETIVOS
2.1 Geral:

Apresentar as principais causas de abandono do tratamento de HIV na cidade de Manaus.

2.2 Específicos:

Investigar a principal dificuldade encontrada pelo enfermeiro na adesão do indivíduo portador de HIV na cidade de Manaus;

Identificar quais as estratégias utilizadas pelo enfermeiro para garantir o tratamento contínuo do paciente;

Discutir as consequências do abandono.

3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Diagnóstico, tratamento, abandono e desafios

A revisão de literatura foi empregada nesta pesquisa com intuito de ter acesso às produções científicas para a constructo teórico do estudo. Assim, foi necessário se apropriar de conceitos, conhecimentos e saberes no afã de encontrar os caminhos metodológicos da pesquisa.

O levantamento realizado em sites especializados trouxe embasamento de uma proposta de estudo descritivo à luz de (Mello, 2020); (Kerbauy et al., 2022); (Carvalho, 2018); (Monteiro, 2019); (Santos et al., 2023); Seidl e Remor, 2020); (Monteiro et al., 2019) dentre outros autores.

A revisão integrativa de literatura foi realizada na base SCIELO, PUBMED, Science Direct e Revista Eletrônica Acervo Saúde. Como resultados, obtiveram-se as categorias: conceitos de adesão ao   tratamento antirretroviral, condições de adesão/não adesão/abandono à terapia antirretroviral, a influência da terapia, antirretroviral na vida de alguns dos diversos grupos populacionais e ações de   enfermagem   para   a   promoção   da adesão à terapia antirretroviral.

As abordagens encontradas na pesquisa foram acerca do “abandono/interrupção do tratamento do HIV”; das “causas e manifestações do HIV”; dos “tratamentos utilizados” bem como as “vias de administração”; dos motivos do abandono do tratamento do HIV”, na cidade de Manaus.

Para melhor compreensão e entendimento, os estudos e resultados foram apresentados pelo método de descrição de algumas características, como: autores, ano e país de publicação, periódico, objetivos, interpretação do estudo e resultados.

3.2 Diagnóstico

O diagnóstico pode ser realizado por testes de diagnóstico rápido, onde o resultado é liberado no mesmo dia, facilitando o diagnóstico e o início do tratamento. Os testes utilizados para o diagnóstico mais utilizados detectam anticorpos produzidos pelo indivíduo, como parte da resposta imunológica para combater o vírus, podendo o indivíduo desenvolvê-lo dentro de 28 dias pós infecção.

Entretanto, dentre esses dias, tem-se a chamada janela imunológica, período em que os anticorpos contra o vírus não foram produzidos em nível suficiente para ser detectado por testes padrões, não detectando a presença do vírus, porém pode haver a transmissão do mesmo a outros (Who, 2022).

Uma vez definido o diagnóstico positivo, o indivíduo deve ser inserido no tratamento e cuidado para descartar qualquer teste potencial ou erro. Vale ressaltar que uma vez a pessoa diagnosticada com HIV e já iniciado o tratamento, não se deve ser realizado testes (Who, 2022).

3.3 Tratamento

O tratamento utiliza a combinação de três ou mais medicamentos antirretroviais (ARV). Segundo Brito e Fleury (2015) e Who (2022), a terapia antirretroviral (TARV) não realiza a cura pela infecção do HIV, tem a capacidade de suprimir a replicação do vírus dentro do organismo do hospedeiro e permite a recuperação do sistema imunológico, fazendo – o recuperar a capacidade de combater infecções oportunistas e tipos de cânceres.

 Desse modo, recomenda-se que as pessoas que vivem com HIV recebam TARV, sejam criança, adolescente, adulto, grávidas/lactantes, independentemente do estado clínico ou contagem de células CD4, linfócitos T helper, alvo do HIV.

Silva et al. (2015) destaca que o uso da TARV e seu êxito para controle do HIV é um consenso na literatura científica, porém, para a redução da replicação do vírus HIV presente no sangue que circula pelo indivíduo portador do vírus, são necessários níveis elevados de adesão aos medicamentos antirretrovirais, ou seja, é definido na literatura que indivíduos que vivem com AIDs alcancem supressão viral, a porcentagem de adesão ao esquema terapêutico deve chegar em torno de 85%.

Em 2021, segundo Who, 187 países já tinham adotado a cobertura de TARV aos indivíduos portadores de HIV, cobrindo 99% destes. Em todo o mundo, 28,2 milhões de pessoas vivendo com HIV apresentam – se recebendo TARV, nos anos de 2021. Nesse mesmo ano, a cobertura foi de 73%, porém, é preciso mais esforços para ampliar o tratamento, especialmente em crianças e adolescentes.

Nas últimas décadas, apesar do tratamento da AIDS no Brasil ter apresentado mudanças bem significativas, como por exemplo a oferta da mediação antirretroviral e de exames sofisticados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), assim como benefícios e direitos sociais, não é algum incomum paciente, em algum momento do processo terapêutico, façam o “abandono de tratamento” (Rodrigues e Maksud, 2017).

3.4 Abandono

O Ministério da Saúde sugere, como critério para definir o abandono de tratamento, casos em que o paciente não compareça ao local para retirar a medicação por três meses, não compareça às consultas por mais de seis meses. Para melhor prognóstico do tratamento é preciso adesão rigorosa à medicação antirretroviral, isso porque irregularidades no uso ou abandono aumentam a probabilidade de replicação do HIV e disseminação de vírus multirresistente (Rodrigues e Maksud, 2017).

Cardoso e Arruda (2005), descrevem que o diagnóstico em si repercute de diversas formas na trajetória do paciente, e que a decisão do paciente sobre o abandono ou não do tratamento, estão ligadas a fatores como o esquema terapêutico, momento da evolução da doença, grau do apoio familiar e a exposição social que a soropositividade tem para esses sujeitos. O período inicial tende a ser a fase mais suscetível para o abandono, por conta dos efeitos colaterais do antirretrovial, vínculo frágil com profissionais de saúde ou desorganização do sistema, que contribuem com baixa adesão.

À proporção que o indivíduo portador do HIV abandona TARV ou o faz de forma incorreta, contribui para aparecimento de doenças oportunistas, e assim a adesão ao tratamento ganha proporções sociais e políticas, seja pelo investimento feito pelo governo brasileiro quanto pelo controle da doença (Coutinho et al., 2018).

Silva (2015), reforça a importância da implementação de estratégias que possam facilitar o diálogo entre profissionais de saúde, e profissionais de saúde e o paciente, com a finalidade de gerar um vínculo de confiança entre esses atores, o que é um aspecto essencial na adesão ao tratamento de HIV/Aids.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa é de abordagem qualitativa e de cunho bibliográfico, procurando analisar as produções científicas que tratam das causas do abandono do tratamento de HIV. Este estudo se debruça sobre um campo epistemológico na área da Saúde que exige um olhar sob a ótica da diferença e da alteridade. Assim, para Minayo (2007) a abordagem qualitativa não busca mensurar dados quantitativamente, mas compreende os aspectos subjetivos (p. 28).

Empregou-se a revisão de literatura não só, a fim de possibilitar a formulação de hipóteses mediante o problema mencionado, mas também por subsidiar o referencial teórico da pesquisa. A busca, realizada em periódicos e revistas eletrônicas possibilitaram leituras aprofundadas e conhecimentos a partir dos campos pesquisados, na cidade de Manaus.

A abordagem metodológica utilizada foi por meio da revisão sistemática, onde foram incluídos estudos com diferentes métodos de pesquisas, organizados sobre o assunto abordado, ajudando a aprofundar e obter conclusões sobre o assunto.

O presente estudo seguiu as seguintes etapas: 1) estabelecer a questão de pesquisa; 2) definir critérios de inclusão e exclusão na literatura; 3) classificar os estudos; 4) avaliar os estudos incluídos na revisão; 5) interpretar os resultados; 6) sintetizar o conhecimento (Mendes, Silveira e Galvão, 2008).

A coleta de dados foi realizada entre os meses de outubro de 2022 a maio de 2023, utilizando as bases de dados SCIELO, PUBMED, Science Direct e Revista Eletrônica Acervo Saúde. Como critérios de inclusão, foram utilizados: artigos originais disponíveis, publicados no período de 2015 a 2023, nos idiomas inglês e português.

Foi empregada para a elaboração da questão que embasa o estudo a técnica PVO, P referente ao problema e contexto; V as variáveis do estudo; O desfecho ou resultado esperado, organizando, assim os elementos da pesquisa para estruturar as perguntas. Sendo assim, foi elaborada, também, uma questão específica: quais os principais fatores levam portadores de HIV a abandonarem o tratamento?

Os artigos foram organizados seguindo variáveis e bases de dados, como problema (P) o descritor “Tratamento HIV”, como variável (V) utilizou-se “Vírus da Imunodeficiência Humana” “Métodos de tratamento HIV”, e no Outcome (O) foi utilizado “Abandono de tratamento do HIV”, “Abandono tratamento HIV Manaus”.

Após realização da busca em cada base de dados citadas, foram encontrados 835 artigos científicos, sendo 220 no SCIELO; 525 na PUBMED; 88 na Science Direct e 2 na Revista Eletrônica Acervo Saúde. Destes, foi feita análise de duplicatas e adequação aos critérios de inclusão, obtendo-se após exclusão 34 artigos para avaliação de conteúdo, que após esta avaliação, se enquadraram com o objetivo da pesquisa 7 artigos, os quais compuseram a pesquisa.

As fontes bibliográficas sugeriram reflexões e discussões sobre o tratamento e abandono de pacientes portadores de HIV e, elucidaram, também, a importância de se ter uma ótica mais humanizada para uma minoria que sofre com o preconceito da própria síndrome.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os artigos pesquisados abordaram questões sobre a o abandono/interrupção do tratamento do HIV, informando: 1) causas e manifestações do HIV; 2) tratamentos utilizados e suas vias de administração 3) motivos do abandono do tratamento do HIV; 4) principais motivos de abandono/interrupção de tratamento em pacientes portadores de HIV em Manaus. Logo foi feiro um fluxograma para ajudar na aplicação dos critérios de inclusão e exclusão na seleção dos artigos para a construção do trabalho.

Figura 1. Fluxograma da elegibilidade dos artigos.

Para melhor elucidação, o quadro abaixo mostra os estudos e resultados apresentados pelo método de descrição, considerando algumas características tais como: autores, ano e país de publicação, periódico, objetivos, interpretação do estudo e resultados,

Quadro 1: Caracterização de artigos incluídos na pesquisa. Manaus, 2023.

Autor/ Ano/ PaísPeriódicoTipo de estudoObjetivoInterpretação do Estudo
MELLO et al 2020 BrasilRevista Eletrônica Acervo SaúdeDescritivoIdentificar causas de abandono a Terapia Antirretroviral (TARV) em pessoas vivendo com HIV/AIDS no estado do Amapá.Identificar as causas de abandono possibilita elaborar planos de intervenção e construção de uma rede de cuidados com vistas a buscar alternativas para diminuir o abandono na sua gênese.
KERBAUY et al 2022 BrasilScience DirectDescritivoPromover o tratamento de Pessoas Vivendo com HIV em abandono do tratamento mediante uso de tecnologia de educação em saúde.Resultados indicaram que existem dificuldades em realizar contato com casos de abandono, e que mesmo os motivos da descontinuidade do tratamento sendo variados, os participantes se sentiram motivados a resgatar o tratamento, indicando que educação em saúde pode ser uma ferramenta de conscientização ao tratamento de pessoas vivendo com HIV.
CARVALHO et al 2018 BrasilScience DirectDescritivoDemonstrar a importância da colaboração da equipe de saúde na busca pelos pacientes em abandonoConcluiu‐se que 50 pacientes estavam em abandono e 12 desses foram resgatados. O índice de sucesso foi de 24%. Considerou‐se a mobilização da equipe uma importante estratégia de prevenção combinada.
MONTEIRO et al 2019 BrasilPUBMEDRevisão sistemáticaCaracterizar os princípios e justificativas que sustentam o TasP e discute os desafios de implementaçãoTasP não abordam fatores associados à vulnerabilidade ao HIV. Argumentamos que, para garantir a implementação efetiva do TasP no Brasil, é necessário discutir questões como proteção dos direitos humanos e problemas estruturais do sistema público de saúde brasileiro.
SANTOS et al 2023 BrasilPUBMEDRevisão qualitativaCompilar os instrumentos validados no Brasil para avaliação da adesão de pessoas vivendo com HIV à terapia antirretroviralInstrumentos para avaliar a adesão de pessoas vivendo com HIV à terapia antirretroviral são estratégias validadas para o contexto brasileiro. No entanto, sua (re)utilização em diferentes cenários e contextos deve ser ampliada. A utilização desses instrumentos pelos profissionais de saúde pode melhorar a compreensão dos fatores que atuam negativa e positivamente na adesão à terapia antirretroviral e a proposição de estratégias que visem consolidar a boa adesão e intervir no tratamento de pessoas com baixo engajamento terapêutico
SEIDL e REMOR 2020 BrasilSCIELODescritivoInvestigar variáveis preditoras da adesão ao tratamento antirretroviral entre aspectos sociodemográficos, clínicos e psicológicos em pessoas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV)O estudo tem implicações para a prática de psicólogos e de equipes de saúde que atuam na área, com base na implementação de intervenções visando à adesão e ao autocuidado, bem como à adaptação e à resiliência em pessoas que vivem com HIV.
MONTEIRO et al 2019 BrasilSCIELORevisão sistemáticaCaracterizar os princípios e justificativas do TcP e discutir os desafios da sua implementaçãoArgumentamos que a efetividades da TcP no Brasil requer uma discussão sobre a garantia dos direitos humanos e problemas estruturais e programáticos do sistema público de saúde

Como pode ser analisado no Quadro 1, no que se refere ao ano de publicação, os anos de 2019 e 2020 concentrou o maior número de publicações, quatro no total. Os anos de 2008, 2021, 2022 e 2023 tiveram uma publicação respectivamente. Quanto ao local do estudo, foi possível identificar que os estudos apresentaram – se todos realizados no Brasil.

Com relação ao tipo de estudo, todos os artigos são oriundos de pesquisas originais, realizadas diretamente com pacientes ou bancos de informações, são estudos de experimentais, retrospectivos e descritivos. Os periódicos de origem dos artigos, grande parte são da área da medicina, com artigos nacionais, reafirmando mais uma vez, a relevância da temática em estudo, e do rigor metodológico que os artigos se encontram.

O HIV é um tipo de microrganismo que apresenta uma condição muito específica ao invadir um hospedeiro humano, gerando quadro da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), levando o acometido apresentar uma profunda imunossupressão que gera quadros patológicos das mais diversas naturezas (Coutinho et al., 2018).

No Brasil, de acordo com Queiroz (2017), o ano de 1996 representou um marco devido a proposta de tratamento com associação de drogas ARV, capazes de inibir duas enzimas essenciais para a replicação do vírus HIV, a transcriptase reversa e a protease. Com isso, a indução da terapia antirretroviral (Highly Active Antirretroviral Therapy – HAART) foi capaz de reorganizara a caracterização da AIDS em patologia crônica, com prolongamento da sobrevida, melhoria da qualidade de vida, diminuição de óbito e internações, em adesão perfeita.

No Brasil existe uma Lei que garante a distribuição gratuita do antirretroviral pelo Sistema Único de Saúde (SUS), definida como Lei n. 9.313 de 1996. O acesso a essa medicação promove redução de acometimentos por doenças oportunistas e internações em unidades hospitalares, reduzindo as taxas de morbidade e mortalidade de pessoas que vivem com essa condição (Goulard et al., 2018).

De acordo com Rodrigues e Marksud (2017), o Ministério da Saúde caracteriza como abandono de tratamento de HIV/AIDS quando o indivíduo diagnosticado com a condição deixa de comparecer ao atendimento ambulatorial, perdendo consultas com médico infectologista, não realiza exames de carga viral e não retira a medicação, a terapia antirretroviral (TARV) por mais de três meses.

Gonçalves (2020), afirma que na literatura existem muitos fatores que podem influenciar o portador de HIV a abandonar o tratamento, e que os motivos vão muito além da questão biológica, já que o fato do portador conviver com HIV/AIDS gera impacto em outras áreas da vida, principalmente no aspecto social, convívios dentro da sociedade e no aspecto emocional, as chamadas demandas subjetivas.

Relatos na literatura descrevem que entre os principais motivos do abandono do tratamento de HIV/AIDS tem-se a dificuldade em marcar consultas com médico específico, realizar exames para definição e quantificação de carga viral e até mesmo acesso a medicação, entretanto, o acesso a medicação, segundo Gonçalves et al. (2020) seja um problema de gestão da unidade de tratamento). Atrelado a esses motivos, tem-se ainda os efeitos da medicação antirretroviral, como efeitos prolongados, a via de administração da medicação, a grande quantidade de comprimidos que devem ser ingeridos.

Goulard et al. (2018) afirmam ainda que outro fator que contribui, e até mesmo interfere na adesão do tratamento é o uso de álcool e droga ilícitas, pois os indivíduos passam a se abster do tratamento para se sentir incluso em grupos sociais em festas e bares.

Menezes et al. (2018) por sua vez, relata que a baixa escolaridade interfere de formas quantitativamente e qualidade do tratamento, pois segundo os autores, indivíduos portadores do HIV que possuem um maior nível de escolaridade têm a possibilidade de aderir com maior precisão e afinco o tratamento, devido a instrução dentro da academiaser relavtiamente maior, estes demonstram ter maior compreensão das informações a ele transmitidas, em relação ao tratamento.

Em relação a interrupção do tratamento em crianças, esta está ligada diretamente a dificuldades encontradas pelos cuidados, como falta de medicamentos, esquecer o horário que o medicamento deve ser administrado, bem com falta de compromisso com as consultas e acompanhamento, causada principalmente, segundo Santos et al. (2016) pelo perfil dos cuidadores que são de baixa renda e escolaridade e de idade avançada.

Outro fator muito citado dentro da literatura como um dos motivos para abandono do tratamento é a falta de apoio familiar, uma vez que a doença faz com que ocorram mudanças de hábitos e comprometimentos de todos, muito familiares não auxiliam ou estimulam portadores de HIV a continuar o tratamento. O cuidado da família com um HIV positivo é essencial para promover a autoconfiança desse paciente, bem-estar e animo para seus cuidados e motivação para se manter no tratamento, tornando – se uma rede de apoio social e psicológica (Primeira et al., 2018).

Além do que já foi relatado, também são responsáveis pelo abandono ou interrupção do tratamento características demográficas, indivíduos que moram em cidades mais afastadas das capitais, cidades com poucos insumos ou recursos dificultam a captação de medicamentos antirretrovirais. Em locais como cidades distantes da capital dos estados, o paciente, em muitos casos, precisa se deslocar para realização de consultas, exames e captação de medicamentos (Mello et al., 2020).

Os motivos relatados anteriormente são os de maior incidência para abandono e interrupção de tratamento de indivíduos acometidos pelo HIV no Brasil, que n]ao é diferente dos pouquíssimos dados relatados de forma exclusiva para a cidade de Manaus. Em nossas buscas na literatura, não foram encontrados relatos de motivos específicos ou diferentes para o abandono ou interrupção da TARV na cidade de Manaus que se diferencie dos motivos relatados.

A grande maioria dos casos pesquisados abandonou o tratamento devido a distância entre o local de atendimento e a residência do paciente, baixa renda por parte do paciente e a escolaridade baixa, além de relatos do abandono por uso de drogas ilícitas, alcoolismos e tabagismo. Segundo Ueleres et al. (2012), todos esses fatores contribuem para a interrupção do tratamento são desafios para as políticas públicas em Saúde, para profissionais de Saúde e para o próprio paciente que enfrenta, além da carga emocional, depara-se muitas vezes com mínimas condições pessoais de continuar seu tratamento.

5.1 O outro: alteridade como um desafio

Com um olhar alteritário, fez-se uma análise a respeito do abandono do tratamento descritas no levantamento bibliográfico da pesquisa. Ora, é sabido que o “abandono/interrupção” envolve questões de todas as ordens tais como: questões biológicas, citadas por Gonçalves (2020), questões sociais, familiares, psicológicas.

Uma outra questão latente diz respeito ao acesso ao medicamento e administração de tratamento. Tais questões são, de fato, um problema de política pública que em seus programas governamentais devem garantir as condições necessárias para além das supracitadas. Esse conjunto de ações deve estar em consonância com as prerrogativas legais constitucionais no que diz respeito à garantia de saúde.

Leia-se, aqui, “garantia de saúde” as saúdes físicas, psicológica. Para tanto, são necessários os cuidados para além do local de tratamento. A Lei Orgânica de Saúde 8.880/90 cobre os serviços de saúde, porém, a efetivação da ação depende da luta contínua de uma minoria acometida pelo vírus HIV.

Tudo isso, para dizer que é preciso pensar no acompanhamento e controle das políticas voltadas ao tratamento de pacientes portadores de HIV, portanto, faz-se necessário pensar na representatividade dessa minoria no Congresso, nas Associações, nas Gestões, ou seja, a partir das diferenças tem-se um olhar mais voltado à sensibilidade da causa. Do contrário, “os problemas de gestão” citados por Gonçalves (2020), tomam uma proporção e comprometem um tratamento eficaz.

Quanto à administração dos medicamentos, é preciso enfatizar a importância da família na adesão do tratamento. O apoio familiar deve ter o incentivo das políticas públicas de sensibilidade quanto ao apoio psicológico, com campanhas e cartilhas de orientação sobre a quebra de paradigmas e preconceitos no trato da pessoa portadora de HIV. Em uma sociedade excludente, o uso demasiado de álcool e outras drogas, configura-se como “fuga” ocasionando o abandono do tratamento, foi o que se constatou através desta pesquisa.

É nesse sentido que o acompanhamento psicológico é primordial para que o “paciente” compreenda sua realidade e aprenda a lidar com suas emoções, por isso, a importância efetiva de um atendimento psicológico gratuito que esteja acessível a paciente. A gratuidade no serviço público existe, ainda que, de forma ínfima, mas é preciso pensar na logística e no acesso contínuo dessas importantes terapias.

À família deve ser proporcionada informação, objetividade e clareza pois, é ela a aliada no que se refere ao tratamento. Ora, se o perfil dos “cuidadores”, segundo Santos et al. (2016), em sua grande maioria é de “idade avançada” e “baixa escolaridade”, preciso é um cuidado por parte das políticas públicas em esclarecer do que se trata a síndrome, como se trata, como se cuida do paciente (em uma visão holística) enfim, de como é possível oferecer um tratamento humanizado a partir do impacto que família e paciente têm, ao receber o diagnóstico. Mais importante, ainda, é a linguagem de acesso às informações à referente categoria (idade avançada, baixa escolaridade) bem como ao portador, função esta da Gestão, dos médicos, enfermeiros e comunidade hospitalar.

Dessa forma, a falta de apoio familiar, citada na literatura como causa do abandono, é suprida por hábitos e atitudes que humanizam o tratamento através de cuidados e compreensão da condição do portador, o que Primeira et al. (2018) denomina de “rede de apoio”.

Todo esse arrazoado mostra a necessidade de se compreender a política pública como um direito, entretanto, ela não acontece a partir dos gabinetes e do Ministério da Saúde. Não. A política acontece a partir de luta na esfera da sociedade, dos Movimentos Sociais, das representatividades de pacientes portadores de HIV, das Comunidades enfim, de inúmeras instâncias.

Nessa ótica, o Ministério da Saúde como órgão sistematizador das efetivações das políticas públicas deve deliberar, regular e controlar e assegurar direitos, juntamente com os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) as prerrogativas legais e metodológicas para o acompanhamento do tratamento da pessoa infectada que, ao receber o diagnóstico, passa por um processo de negação, dentre tantas outras demandas pessoais oriundas de suas condições orgânica, física, mental e espiritual.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa tratou de uma temática recorrente na área da Saúde, significando dizer que o que parece ser uma questão superada com relação ao diagnóstico e tratamento do paciente portador do HIV, ainda, há muito o que se discutir e pesquisar, isso porque nesta pesquisa, apresentaram-se, apenas, algumas das tantas variáveis que se referem ao abandono do tratamento.

As questões norteadoras foram respondidas, na certeza de esta pesquisa não se encerra aqui, pois abre possibilidades para outros estudos. Desse modo, a pesquisa bibliográfica foi de grande importância e corroborou para a ampliação de campo epistemológico tão denso e preocupante no setor público.

Dessa forma, entende-se que as políticas públicas existem e estão resguardadas. Entretanto, a responsabilidade de seu cumprimento está na sociedade civil que colabora através da “vigilância” do cumprimento de seus direitos, acessos e permanência do seu bem-estar.

A experiência da pesquisa trouxe episteme e amadurecimento, compreendendo a importância da produção de conhecimento na universidade. Portanto, os resultados obtidos enriqueceram as discussões e debates, apoiados no referencial específico sobre a temática, por isso, recomenda-se esta pesquisa à sociedade, aos futuros enfermeiros, aos acadêmicos e pesquisadores a fim de redimensionar e fortalecer o debate, aqui, proposto.

REFERÊNCIAS

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