ROMPENDO BARREIRAS LIGADAS À INDISCIPLINA NOS CONTEXTOS ESCOLARES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7268346


Elizabeth Kelly Azevedo Rosario1
Josete Pereira Peres Soares2


RESUMO

Este trabalho tem por objetivo geral  investigar  possíveis meios de os docentes amenizarem os quadros de indisciplina nos contextos escolares. Tendo como justificativa, os argumentos de Aquino (2016) que menciona a saída para a compreensão e o manejo da indisciplina associada  a relação professor aluno e a maneira que se posiciona  perante o discente – aluno.  Sendo assim, ter-se-á o intento explanar o assunto dentro da  seguinte problemática: o que o profissional docente pode fazer para  possivelmente amenizar os quadros de indisciplina inerente nos contextos da escola? Em vista disso, torna-se imprescindível um aprofundamento teórico do assunto, tornando-o possível   averiguar que medidas da parte dos docentes, podem possivelmente reverter os quadros indisciplinares. Em suma, será explanado, no desenrolar da pesquisa, se os tipos de modelos de autoridade empregados pelo educador, como destacados por Parrat – Dayan (2008) do tipo (democrático, autoritário ou laissez faire), interfere possivelmente na questão da redução da indisciplina. Também ver-se-á se a possibilidade tal redução, na construção de uma boa relação professor – aluno, na tentativa de amenizar o referido fenômeno. Compreende- se que a temática, não pode ser entendida exclusivamente dentro de apenas um contexto. Por isso faremos um esforço para perscrutarmos nas teorias de autores como: Giancanterino (2007) Antunes (2003) Dayan (2008),  Oliveira (2011), Vasconcellos (2009); dentre outros, na tentativa de esclarecer a assunto, por elaborar  uma pesquisa bibliográfica utilizando a revisão de literatura  a fim de que, se torne possível a explanação do tema proposto.

Palavras-chave: indisciplina; amenizar; professor; aluno, escola.

SUMMARY

This work aims to investigate possible ways for teachers to mitigate indiscipline in school contexts. Having as justification, aquino’s arguments (2016) mention the way out of understanding and managing the indiscipline associated with the student teacher relationship and the way it is positioned before the student – student.  Therefore, the intention will be to explain the subject within the following problem: what can the teaching professional do to possibly alleviate the indiscipline inherent in school contexts? In view of this, it is essential to deepen the subject theoretically, making it possible to ascertain that measures on the part of teachers can possibly reverse the indisciplinary frameworks. In short, it will be explained, in the course of the research, whether the types of models of authority employed by the educator, as highlighted by Parrat – Dayan (2008) of the type (democratic, authoritarian or laissez faire), possibly interferes in the issue of reducing indiscipline. It will also be seen the possibility of such a reduction, in the construction of a good relationship teacher – student, in an attempt to mitigate this phenomenon. It is understood that the theme cannot be understood exclusively within only one context. That is why we will make an effort to look into the theories of authors such as: Giancanterino (2007) Antunes (2003) Dayan (2008), Oliveira (2011), Vasconcellos (2009); among others, in an attempt to clarify the subject, by elaborating a bibliographic research using the literature review so that it becomes possible to explain the proposed theme.

Keywords: indiscipline; Ease; teacher; pupil, school.

1. INTRODUÇÃO   

A indisciplina está cada vez mais presente nos espaços escolares conforme delineado por Oliveira (2011), sendo tal fenômeno, objeto de preocupação crescente entre alguns educadores, tendo alguns destes, dificuldade para lidar com esta realidade inerente a escola. Sendo assim, esta pesquisa tem por objetivo geral,  investigar  possíveis meios de os docentes amenizarem os quadros de indisciplina nos contextos escolares. 

O tema proposto, torna-se relevante e justificado, pois, acordo com Aquino (2016) não se pode compreender a temática ou mesmo encontrar uma saída para a redução ou o manejo da indisciplina, sem nos atermos a questões ligadas as formas de:  o docente exercer a autoridade e a forma com que este se relaciona com seus aluno, isto é , a relação professor /aluno, onde através do posicionamento democrático e relacionamento baseado num vínculo afetivo, o profissional docente pode , através destes mecanismos superar ou romper  possivelmente barreiras referentes a redução de indisciplina em contextos inerente a escola.

Sendo assim, levantar-se-á a seguinte problemática: o que o profissional docente pode fazer para  possivelmente amenizar os quadros de indisciplina inerente nos contextos da escola? Neste trabalho, se levantará a hipótese de que, o modelo de autoridade docente manifestada pelo educador, poderá possivelmente interferir na conduta do aluno. Outra hipótese está ligada a  construção de vínculo da parte do docente, no que se refere ao relacionamento que o educador, deve desenvolver com seu aluno, tendo em vista que, o vínculo afetuoso possa possivelmente auxiliar na redução da indisciplina na escola.

No desenrolar da pesquisa, ressaltar-se-á  algumas conceptualizações e significações direcionadas a temática. Também, será identificado os possíveis meios de se reduzir a indisciplina escolar, levando em conta, a liderança manifestada pelo docente, sejam estas do tipo: autoritária, democrática e laissez faire3, demostrando que a autoridade autoritária, atua como elementos influenciador ´para a criação de resistência aos comandos do docente, ao passo que o laissez faire, permite um certa passividade e concede autorização demasiada a quaisquer condutas por parte do educando, atuando negativamente na questão da redução de indisciplina escolar. Sendo assim presente artigo, apontou para formas de se exercer a autoridade democrática, que realmente funciona, e que angaria a colaboração voluntária e espontânea dos educandos, levando-os a se sentirem responsáveis, e úteis na questão de se cria regras e segui-las.

E por extensão, ainda no corpo da pesquisa destacar-se-á a relevância de se construir um relacionamento mais afetivo entre professores e alunos, a saber que a iniciativa deve-se partir do profissional docente, que compreendendo a relevância disso, desenvolver intimidade e proximidade sadia com os educandos, que por sua vez, desenvolve afeto ao docente, e por isso sente-se mais motivado a lhes dar atenção, e a notar que se comportar em suas aulas é algo satisfatório, e realmente vale a pena, por que ele passa a ser notado a cada segundo pelo seu professor.

Para identificarmos alguns meios de amenizá-la, obtivemos como suporte teórico, as teorias de alguns  autores  como: Giancanterino (2007) Antunes (2003) Dayan (2008),  Oliveira (2011), Vasconcellos (2009)  fazendo um apanhado bibliográfico do assunto, no intento de vir a trazer embasamento à temática escolhida. Desse modo, tal investigação torna-se possível,  através  metodologia bibliográfica  de revisão de literatura, em livros revistas, artigos dentre outras fontes explanando assim, o  assunto em questão.

2. CONCEPÇÕES ACERCA DA INDISCIPLINA 

2.1 Indisciplina Escolar: consideração acerca do tema

De acordo com Giancanterino (2007) o problema relacionado à indisciplina não pode ser visto como algo novo, pois ele se arrasta por diversas gerações onde alunos e professores estão engajados nesse cenário indisciplinar nos espaços escolares, passando a ser algo comum inerente a escola. Para que se possa obter a definição do denominado fenômeno, sem adoção de concepções que partam do senso comum, o referido autor destaca a necessidade da correta apropriação de fontes que expliquem o assunto, afirmando que:

a melhor forma de conhecer determinado assunto é defini-lo de diversas formas, conforme autores, a própria experiência vivida e a observação permitem acompanhar, analisar e julgar qualquer tipo  de fenômeno, principalmente quando este se refere ao comportamento do ser humano, como é o caso da indisciplina (GIANCANTERINO, 2007,  p. 89-90).

O autor supracitado entende que, para que haja uma correta busca de  definições  que  possam esclarecer o assunto, o pesquisador deve ter a  disposição de averiguar o tema,  fazendo um apanhado  teórico dele, contatando a opinião de  autores familiarizados com o assunto, ou seja é dentre  uma variedade de as concepções teóricas preexistentes que torna-se possível que, haja a possibilidade de aclaramento aprofundado  da temática em questão.

Em vista disso, ao estabelecer um contraste entre a disciplina e indisciplina,  partindo da  definição  do termo- disciplina escolar, de acordo com dicionário Ferreira (1986) transmite a ideia de regras disciplinares que envolvem o docente e discente onde, dentro dessa relação há o respeito ao cumprimento dessas regras. Ferreira (1986, p. 595) destaca que, a disciplina pode ser entendida como: “Regime de ordem imposta ou livremente consentida; Relações de subordinação do aluno ou mestre ao instrutor; Observância de preceitos ou normas; Submissão”. Sendo assim, fica claro que o referido autor enxerga a disciplina escolar como aquela que parte da ideia de se ter um disciplinador que pode adotar uma postura autoritária impositiva ou mesmo consentir em se administrar a disciplina de forma democrática. O aluno assume uma postura subordinativa ao seu mestre em observância dos preceitos e normas.

Em consonância com isso,  Ferreira (1999) definindo o termo- indisciplina, exprime seu significado por afirmar que o fenômeno nada mais é que: rebelião, demonstração de falta de disciplina, desobediência, ou seja, a indisciplina transmite a ideia de afronto, de rebeldia, e a não disposição de se submeter a ordens, por insistir em desobedecê-las. 

Antunes (2003), demonstrado a dimensão do fenômeno indisciplinar, entende que,  a indisciplina escolar parte de vários focos pois, não se pode compreendê-la sem olhar para a escola em seu contexto estrutural, sem olhar para os professores em termos de conduta, e para o aluno. Para a autora à  indisciplina é como um incêndio na mata. 

A escola pode ser um foco de indisciplina devido a sua organização interna, seus sistemas de sanções, a não integração e união entre as equipes docentes e administrativas, pelo estilo de autoridade exercida, pela ausência de clareza como encara a questão disciplinar. O professor será o foco de indisciplina devido a existência de profissionais apáticos, desinteressados e desanimados. Esses muitas vezes, não dão conta de que a disciplina se apoia em aspectos como: assiduidade e pontualidade do mestre, estruturação da sala, clareza de limites e organização da classe. Aspectos esses que não são considerados por estes professores. O aluno é o foco da indisciplina quando está desestimulado e desmotivado dentro do ambiente escolar (ANTUNES, 2003, p. 33).

 De acordo com Antunes (2003) à indisciplina escolar não pode ser apenas compreendida como algo que têm como principal foco o aluno que, é encarado como elemento central do assunto, pois, o profissional docente e seu padrão de conduta pode sim produzir o que é chamado  de “ comportamento indisciplinar”, sem falar que, a escola dependendo do como conduz  seu funcionamento e dependendo de como está a  sua estrutura podem  também adotar uma postura indisciplinada, ou seja, se em certa escola há desordem, equipes que não se entendem e não colaboram entre si, salas desleixadas, mal limpas, desse modo, a escola deixaria de ser exemplo, demonstrando atitudes  que beiram a conduta indisciplinar.

A indisciplina também, não pode ser entendida como algo afastado do contexto cultural do educando. Para Moura e Prosdócimo (2011apud Lourencetti e Palma 2019), a indisciplina é vista como algo que acontece dentro de um enfoque cultural e que varia de uma geração para outra ou de pessoa para pessoas. 

Um ponto a ser refletido é a relação sociedade, cultura e a indisciplina. Como expressa Parrat- Dayan (2009), ‘a indisciplina relaciona-se com um conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história entre culturas diferentes, nas diferentes classes sociais’ Os tempos passam, as pessoas mudam, a cultura muda, os valores são modificados e assim também é a indisciplina, o que para os mais velhos era indisciplina, hoje pode não ser mais e ainda muitos outros fatos podem ter sidos incorporados ao conjunto denominado de indisciplina. Para cada cultura temos significados diferentes para a indisciplina (MOURA &PRODÓCIMO, 2011, p.739- 740, apud LOURENCETTI E PALMA, 2019).

Para Moura e Prosdócimo (2011 apud Lourencetti e Palma 2019), a maneira em que se percebe a indisciplina escolar pode assumir diversas formas, dependendo das relações e do modo como o sujeito vê a o mundo, partindo de um contexto histórico-cultural, associado a geração vigente,  a  história de vida de cada pessoa, suas experiências, seus valores.

E se tratando do fenômeno dentro das  relações humanas , Amado (2000) compreende que, a indisciplina assume um aspecto relacional, onde os alunos na sua interação com os professores manifestam a indisciplina, tendo um convívio fragilizado com os mesmos e entre os próprios colegas, por isso o autor menciona que se trata de: 

um fenômeno relacional interativo que concretiza no incumprimento das regras que presidem, orientam e estabelecem as condições das tarefas na aula e, ainda, no desrespeito de normas e valores que fundamentam o são convívio entre os pares e a relação com o professor, enquanto pessoa e autoridade (AMADO, 2000, p. 6).

Para Amado (2000) à indisciplina está ligada a fatores existentes no âmbito das relações, que acontecem no ínterim delas, onde há da parte do indivíduo uma ruptura das regras e um quadro de desrespeito aos valores que fundamentam as normas, prejudicando assim, os vínculos construídos nos espaços escolares, seja entre o aluno e professor, seja entre os pares.

 Por isso de acordo com a  Resolução CNE/ CEB nº 7 de 14 de dezembro de 2010 – onde fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, e se tratando dos efeitos da indisciplina, salienta que na medida em que, ocorre  o crescimento do fenômeno – a indisciplina,  alguns dos  protagonistas inseridos neste cenário como  alunos/professores sofrem, pois, os alunos encontram dificuldade na aprendizagem e os educadores por sua vez, entram num quadro clínico de  desgaste. Portanto ao escrutinar-se o tema proposto observa-se que o  entendimento do fenômeno não se esgota, sendo este, compreendido dentro de várias significações  angariando assim, enriquecimento ao assunto exposto.

2.1.2 Maneiras de os docentes exercerem a autoridade e o manejo da indisciplina: autoritária, democrática ou laissez faire? Qual desses funciona?

Em se tratando da manifestação de autoridade, de acordo com Oliveira (2011, p.75)“… Não há dúvida de que a disciplina está vinculada à autoridade e que esta autoridade, é fundamental na vida das pessoas. Não existe nenhum grupo social que sobreviva sem o hábito de respeitar regras sociais…”. A autora compreende que, não têm como desvincular o fator – autoridade, de disciplina escolar, pois, esta,  representada por alguém ou por um grupo, passa a ser o elemento fundamental no  quesito disciplina afetando  a vida das pessoas. Por isso , pra a autora, sem o hábito de respeitar as regras existentes nos espaços sociais, o que está incluído os espaços escolares, certamente nenhum grupo sobreviveria em meio a uma desordem que beira a  indisciplina.

Sendo assim, de acordo com Dayan (2008), pode-se dizer que dentro do âmbito escolar, existem 3 grupos de manifestação docente na questão ligada a autoridade: autoritário, democrático e laissez faire. O autor ao destacar estes grupos, aponta para o tipo de atuação do líder de cada grupo, e os efeitos dessa liderança sobre o indivíduo que pode estar suscetível a manifestação de indisciplina. 

No grupo autoritário existem muitas tensões, uma grande frustração e uma porcentagem elevada de agressão. Os participantes não se mostram satisfeitos e oscilam entre a apatia e a rebelião. A violência aparece na degradação do material produzido. No grupo democrático existem menos tensões, a agressividade não é grande e pode se expressar sem degradação e a satisfação é elevada. No grupo laissez faire, onde o professor deixa as crianças à vontade para agir como puderem, a tensão e a agressividade são elevadas e os participantes ficam frustrados e insatisfeitos pela ineficiência do grupo (PARRAT- DAYAN, 2008 p. s//n).

Para Parrat (2008), o tipo de líder autoritário, concentra todo o poder em si mesmo. Este líder, tem a tendência a ser ditador e controlador, no que se refere as atividades e a tomada de decisões. Este líder autoritário e tradicional não justifica nada que ele faz.  Sua função é dar ordens, e os critérios de avaliação do mesmo modo, são totalmente desconhecidos, aos seus alunos. Em vista disso, alunos e professores estarão engajados num ambiente de conflitos e tensões, onde os alunos irão manifestar um comportamento indisciplinado que revele frustração, agressão, apatia e rebelião, resultando numa condição de difícil redução do proceder indisciplinar.

Para Parrat (2008), no grupo onde existe um líder democrático ou participativo, há o que chamamos de reduções de tensões, onde os níveis de agressividade caem, os alunos se expressam, ou seja, há uma certa satisfação que advém de se ter um clima democrático em sala de aula, onde todos participam e colaboram entre si. Este tipo de líder entende que, o poder e a tomada de decisões estão centrados entre os seus subordinados, não no líder. Sendo assim ele sugere as alternativas, que levem os seus alunos a escolher, colaborando para tomada de decisões do grupo. Este tipo de líder, também usa a possibilidade de premiar (recompensar), e em outros casos esse líder usa poder coercitivo como último recurso. Neste caso a indisciplina na escola, se encontrará em condições de ser  possivelmente amenizada. 

Em contrapartida,  Dayan (2008), entende que, o tipo de líder laissez faire, pretende deixar os alunos bem à vontade, quando diz que: “[…] esse líder não julga nem avalia, sua presença é amistosa […]”. Além do mais, na prática, esse tipo de líder abdica das suas responsabilidades. É por isso que produz resultados inferiores aos dos outros estilos […]” O autor reconhece que se houvesse uma classe madura de alunos responsáveis esse modelo funcionaria. Entretanto, a realidade vigente é outra. Por isso debaixo da atuação deste líder os alunos ficariam frustrados, dificultando a manutenção da disciplina, bem como sua redução.

Para Oliveira (2011) um líder autoritário traria algumas complicações no quesito relacionado à redução do quadro indisciplinar, pois, seria motivo de tensão, e em resultado disso os indivíduos em contato com esse tipo de liderança, criariam   determinada  resistência em relação  a autoridade alvo. 

A autoridade, dependendo de como é empregada, pode causar atitudes de resistência nos indivíduos. Alguns pensadores que se preocupam em estudar a reprodução social e cultural no interior das escolas têm constatado que a resistência é uma forma de manifestação da inconformidade ao poder e à autoridade instaurados nas relações sociais (OLIVEIRA, 2011, p. 75).

Conforme descrito por Oliveira (2011), a existência de determinado tipo de autoridade, num espaço social – escola, onde se manifesta da parte do educador uma atitude autoritária, os discentes, numa tentativa de demonstrar inconformidade ao poder ali exercido nas relações sociais entre professor/ aluno, mostrarão uma atitude de resistência, ou seja, não haverá reação cooperativa da parte dos educandos em relação a  autoridade vigente.

Oliveira (2011) em consonância com Parrat (2008) ainda aponta que, a problemática relacionada à indisciplina escolar pode ser amenizada, introduzindo um tipo de liderança de ordem democrática, onde há a devida cooperação dos demais protagonistas inseridos em sala de aula – os alunos. Para isso a autora menciona:

para evitar uma possível crise de valores entre professor e alunos, é preciso que o educador trabalhe em função do aluno real e não do aluno ideal. Para tanto, é necessário que ele conheça o meio em que a criança vive para depois elaborar, com a participação dela as normas de comportamento a serem seguidas. As regras devem estar de acordo com a opinião, senão de todos, pelo menos da maioria dos alunos, pois esse deve ser um processo democrático e, somente se reconhecendo como responsável pela elaboração das normas, o educando as respeitará (OLIVEIRA, 2011, p. 59).

Oliveira (2011) destaca os resultados positivos de se convidar os discentes a participação, pois, os alunos convidados estarão mais inclinados a respeitar as regras que por eles, juntamente com o docente foram construídas ou elaboradas. Em vista disso, tal resultado torna-se possível, porque as normas de comportamento estabelecidas num clima democrático, foram constituídas através de votação, ou por todos ou pela maioria. Nesse sentido um líder democrático, construiria num denominado espaço escolar, um modelo de autoridade rumada para a democracia.

Desse modo, partindo da ideia de manifestação de autoridade,  modos de se gerir subordinados e de lidar com cooperadores na escola, a Constituição de 1988 -(CF) em seus muitos princípios alista que a gestão democrática ou gerir democraticamente deve estar entre os preceitos de uma escola, e apesar de tais princípios se aplicarem mais precisamente na administração  de uma escola , seus efeitos estende-se também aos espaços internos dela a sala de aula , e os modos do docente lidar com seu  aluno (CARIA & SANTOS, 2011).

Desse modo,  ainda Parrat (2008), ao averiguar os tipos de líderes existentes e os modos de se fazer educação, declara que: “[… ]Nem a educação autoritária nem aquela em que tudo vale são a solução[…]”. Portanto, para se obter a redução da indisciplina escolar, o profissional docente deve buscar equacionar a questão, nos ideários que rumam para a democracia, demonstrando ser um tipo de líder democrático.

2.1.3 Pode a relação professor/ aluno amenizar a questão indisciplinar nas escolas?

De acordo com Vasconcellos (2009 p. 159) dentro das instituições escolares, há relações que passam a ser inevitáveis na construção de parâmetros disciplinares. Sendo assim, o autor aborda que: “[…] a preocupação inicial do educador em constituir justamente este coletivo, criar vínculos que possibilitem a construção da disciplina”. Por isso o autor entende que, dentro das relações travadas entre professores/ alunos, há a possibilidade sim, de haver a construção de um coletivo, ou seja, de um grupo mais uníssono, tornando possível manter o quadro disciplinar.

Partindo desse enfoque, Aquino (2016, p. 49) enfatizando sobre a problemática disciplinar, levanta a seguinte pergunta: “[…] Por que tomar, a partir de agora, a relação professor/ aluno como foco conceitual no que se refere aos encaminhamentos da problemática disciplinar? ”.De acordo com o autor a relação existente empregada entre professores/ alunos, constitui em elemento, ou foco conceitual para tratar da problemática relacionada a indisciplina escolar.

Em vista disso,  Oliveira (2011) aborda a necessidade de encarar o assunto com a devida seriedade, pois, acredita que, deve haver um esforço da parte do docente em se desenvolver uma relação mais afetiva com a turma, ressaltando que, se esta relação não existir incorrerá em desvantagens para a ordem disciplinar e o trabalho pedagógico. 

Ciente desse fato, o professor poderia proporcionar uma relação mais afetiva com a turma, demonstrando seu interesse pelos alunos, tratando-os como pessoa, chamando – os pelo nome mostrando-lhes que estão sendo notados em cada momento. Não devemos tratar nossos alunos como se fossem um amontoado de crianças sem particularidades. O vínculo em sala de aula é fundamental para que o trabalho flua (OLIVEIRA, 2011, p. 57).

Conforme definido por Oliveira (2011) se, dá parte do educador não houver iniciativa e interesse, levando em conta as individualidades de cada aluno, suas particularidades, seus modos e jeitos, bem como o uso de seus nomes, isso certamente levaria ao professor a desconsiderar a presença de cada aluno, enxergando-os como um amontoado de crianças em sala de aula, sem particularidades, o que levaria ao docente a ter o seu trabalho desenvolvido em aula de certo modo comprometido. Desse modo, de cordo com autora, esse vínculo   constituí elemento fundamental para que, o trabalho docente possa fluir livremente em aula, proporcionando um ambiente escolar mais propício a aprendizagem e ao bom comportamento do educando.

Em conformidade com isso, Vasconcellos (2009) também  destaca que, quando não se cria um determinado vínculo com o aluno, consequentemente, desenvolve-se a crise dos limites comportamentais. Visto que, para autora  alguns alunos, não terão interesse algum na questão comportamental, não havendo da parte dos educandos, a devida cooperação ou o esforço em ter comportamentos adequados para a boa convivência com o seu professor.

Nesse sentido, demonstrando o alcance do estrago, advindos da falta de iniciativa docente na formação de vínculos, Vasconcellos (2009, p. 68) aborda que: “[…]a ausência de vínculos já seria o suficiente para provocar grande estrago na sala de aula e na escola; afinal de contas: ‘para que me comportar se não gosto do meu professor […]”. Pode -se dizer que, consistiria num  verdadeiro dano se, o profissional docente não levasse em consideração que, a sua falta de interesse em  travar uma relação de qualidade com os seus alunos na construção de vínculos, pode  os induzir a ter comportamentos inadequados, o que poderia envolver atos de desrespeito, violência, e desprezo da parte do discente.

 Portanto, ainda para Vasconcellos (2009)  no que se refere a relação professor/aluno, está por sua vez, como expressamente defendido pelo autor , interfere em muito, diretamente na conduta do educando, servindo como elemento motivador para um possível bom comportamento, cooperação voluntária do educando, levando-o a arrazoar que de fato, vale apena se comportar durante as aulas daquele educador.

CONCLUSÃO

No que se refere à práxis sobre a discussão levantada referente ao tema, dedicar-se a hipótese, de que, deve-se haver o interesse ativo, por parte do profissional docente na adoção de mecanismos como a adoção de um tipo de liderança democrática, juntamente com uma boa relação professor/aluno. Por isso, o profissional docente, deve  refletir que se, a iniciativa não partir dele para a melhoria das condições do clima disciplinar em aula, os discentes, por sua vez, não estarão propensos a alcançar o pleno desenvolvimento em termos comportamentais enquanto educandos. Em vista disso, o educador deve rumar para o reformismo ousado, buscando aceitação do papel docente, que cada educador possui frente à indisciplina escolar. Desse modo, o educador deve atuar como o impulsionador na busca de um clima disciplinar, buscando alguns meios que já fora citado que, o auxiliam nisso.  Por esta razão, o papel docente assume um novo significado, por isso, deve-se haver comprometimento da parte do profissional, rumo a escolarização e ao processo de formação do seu aluno como um todo, o que inclui a conduta que se espera do educando.

Em se tratando da temática supracitada  relacionada ao rompimento de barreiras a indisciplina escolar , o tema proposto torna-se relevante, em vista das necessidades emergentes dos indivíduos inseridos na escola. Os protagonistas pertencentes a escola alunos/professores, precisam estar diante de uma estrutura disciplinar, estável, ou pelo menos o mais próximo disso, para que os envolvidos no processo de escolarização não sejam sobrepujados, pelos efeitos danosos que à indisciplina escolar os impõe.

Nesta pesquisa foi investigado alguns meios de possivelmente amenizar  os  quadros que indisciplina escolar os impõe. Por isso, averiguou-se alguns meios ou mecanismos que possibilitasse isso, a redução da indisciplina. Não nos atemos, as causas da indisciplina pois, sabe-se que existem muitos fatores intraescolares e extraescolares, que comumente estão presentes nos espaços sociais e familiares, que influenciam ou colaboram para que o indivíduo esteja mais suscetível a manifestação do fenômeno. Mas houve um esforço, num intento de se buscar estratégicas para que fosse possível a redução de condutas indisciplinares, sendo reservados, cerca de um capítulo para isso. Por isso, buscou-se averiguar mais profundamente, os meios de se solucionar a problematização proposta em questão, tendo em vista, o papel docente em suas multiplicidades ao manifestar a sua autoridade e se relacionar com seu aluno auxiliando-o nas dificuldades comportamentais.

Foi constatado através de linha teórica, que o tipo de autoridade escolhida pelo docente, seja esta de cunho autoritário, democrático ou laissez faire, influencia diretamente no comportamento do educando, levando-o a ser um tipo de aluno, ou colaborador, nos contextos que envolvem uma autoridade democrática, ou um aluno do tipo resistente, uma vez que se submete, aos desmandos autoritários do docente que tinha o intento de estar levando-os a obediência sob pressão e coerção, ou mesmo permitindo ao educando satisfazer todas as suas vontades, como aluno, como se vê na manifestação de autoridade que um profissional do perfil laissez faire comumente mostra ter.

Os argumentos levantados pelos autores ressaltaram que, ter o interesse enquanto educador, em se tomara iniciativa na construção de um bom relaciona- mento entre alunos/ professores na tentativa de manter um clímax de disciplina, pode vir a ser um aliado para que o  profissional docente possa manter a disciplina, sem recorrer  a estratégicas coercitivas, que  por vezes, desgastam os professores, causando um clima de tensão entre os alunos e professores. Mas ao invés disso, tal relação, terá o intuito de levar ambos a serem parceiros em termos educacionais.

Enfim, não se pode desperceber a relevância que um educador, pode ter no que se refere à vida escolar de seus alunos. Por isso, que o educador deve adotar uma postura, que perpasse por uma espécie de reformulação ousada, que parta de alguns mecanismos: autoridade democrática e um bom relacionamento professor/ aluno já explanados no corpo da pesquisa, Para isso o educador não pode deixar de lançar mão, do que é chamado de práxis, reflexão- ação-reflexão, pra modificar a prática, e esta atitude voltada a reflexão, deve ser respaldada, de apoio teórico sobre a temática, ao invés de recorrer apenas as trocas que acontecem quando o educador está diante de outros profissionais que como ele trabalham, e diariamente lidam com barreiras interligadas a indisciplina nos contextos da escola.

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1Graduada em Licenciatura em pedagogia pelo Instituto superior professor Aldo Muylaert – (ISEPAM), Especialista em Pós-graduação em Educação Especial e Inclusiva e Neurpsicopedagogia, cursando pós-graduação em gestão Escolar.

2Doutora em Políticas sociais – UENF; Mestre em Políticas Sociais- UENF; Coordenadora Institucional PIBID/ ISEPAM; Docente do Curso de pedagogia; Pedagoga/smece- Acessoria Técnica CME.