PERSPECTIVAS DA FORMAÇÃO CONTINUADA EM GAMIFICAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO FUNDAMENTAL

PERSPECTIVES OF CONTINUING EDUCATION IN GAMIFICATION IN PHYSICAL EDUCATION CLASSES IN ELEMENTARY SCHOOL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8122519


Viviani Darolt¹
Carmen Silvia Grubert Campbell²


RESUMO

Em um contexto pós-pandêmico, os alunos retornaram às aulas desestimulados e com grandes dificuldades na conclusão das tarefas escolares. Os docentes, em virtude do longo período afastados das atividades profissionais presenciais, enfrentam as consequências desse período. Na tentativa de melhorar esse cenário, propusemos à secretaria municipal de educação (SME/Cuiabá-MT), um período de formação contínua baseada na gamificação. Após aprovação do comitê de ética em pesquisa, realizamos reuniões com assessoria responsável pela formação, dando o encaminhamento legal para a realização do estudo.

O objetivo foi oferecer uma formação continuada específica baseada na gamificação voltada para a pesquisa formação colaborativa reflexiva, como contribuição na ampliação de conhecimentos docentes e em seguida verificar a efetividade da metodologia na mudança da prática pedagógica.

A amostra da pesquisa foram 50 professores de Educação Física atuantes no Ensino Fundamental. Esse grupo, foi subdividido em A e B. O grupo A, com 25 professores que participaram da formação, implementaram a gamificação na escola, foram entrevistados após experiência e responderam os questionários inicial e final. O grupo B, com outros 25 docentes, participaram somente das formações, responderam os questionários inicial e final.

A metodologia utilizada no estudo, foi uma pesquisa de campo, primeiramente um período de 6 encontros formativos on-line totalizando 3 meses, sobre a gamificação, numa abordagem qualitativa na perspectiva da pesquisa formação colaborativa e reflexiva. Foi dividida em 4 fases respectivamente; Na Fase 1, os docentes responderam um questionário inicial, utilizado como forma de orientação para o desenvolvimento da formação, que por sua vez foi conduzida pelas aberturas dadas aos participantes, relatos, discussões e reflexões sobre a própria prática. Fase 2, realizaram estudos específicos sobre a gamificação. Fase 3, os docentes criaram seus projetos gamificados. Fase 4, os professores implementaram a gamificação na escola, em seguida deram o feedback da realização da experiência, participaram de uma entrevista e responderam ao questionário final.

Dos 50 professores participantes, 25 realizaram a gamificação na prática. Dessa forma, analisamos separadamente as respostas dos dois grupos.

Os instrumentos para coleta de dados foram caderno de campo, matriz analítica de acompanhamento, entrevista semiestruturada, questionário inicial e final. A leitura dos dados foi centralizada na análise de conteúdo.

Percebemos a mudança nos processos de ensino e aprendizagem através das respostas tanto da entrevista, quanto do questionário final do grupo A. Enquanto o grupo B, refletiu sobre a práxis, provocando modificações também nesse grupo, verificadas nas respostas do questionário final. No entanto, do comparativo entre A e B, o primeiro obteve aprendizado prático e comprovação da efetividade positiva da gamificação nas aulas de Educação Física. O segundo, obteve conhecimento teórico sobre o assunto e, possivelmente irá aplicá-lo.

Apesar da diferença de bagagem de conhecimento que cada grupo adquiriu, numa análise mais aprofundada dos dados, a formação resultou no engajamento dos docentes no próprio conhecimento, o que refletiu na mudança da prática pedagógica.

Palavras chave: Formação continuada, gamificação, Educação Física, Ensino Fundamental.

ABSTRACT

In a post-pandemic context, students returned to class discouraged and with great difficulties in completing school tasks. The teachers, due to the long period away from their professional activities, face the consequences of this period. In an attempt to improve this scenario, we proposed to the municipal secretary of education (SME/Cuiabá-MT), a period of continuous training based on gamification. After approval by the Research Ethics Committee, we held meetings with the consultants responsible for the training, providing the legal framework for the study.

The goal was to offer a specific continuing education based on gamification focused on collaborative reflective research training as a contribution to the expansion of teachers’ knowledge, and then to verify the effectiveness of the methodology in changing pedagogical practice.

The research sample consisted of 50 physical education teachers working in elementary school. This group was subdivided into A and B. Group A consisted of 25 teachers who had participated in the training course, implemented gamification at school, were interviewed after the experience, and answered the initial and final questionnaires. Group B, with another 25 teachers, participated only in the training sessions, and answered the initial and final questionnaires.

The methodology used in the study was a field research, first a period of 6 online training meetings totaling 3 months, about gamification, in a qualitative approach from the perspective of collaborative and reflective training research. It was divided into 4 phases respectively; In Phase 1, the teachers answered an initial questionnaire, used as a form of orientation for the development of the training, which in turn was led by the openings given to the participants, reports, discussions and reflections on their own practice. Phase 2, we conducted specific studies on gamification. Phase 3, the teachers created their gamified projects. Phase 4, the teachers implemented gamification at school, then gave feedback on the realization of the experiment, participated in an interview, and answered the final questionnaire.

Of the 50 participating teachers, 25 carried out gamification in practice. Thus, we analyzed the responses of the two groups separately.

The instruments for data collection were a field notebook, an analytical follow-up matrix, a semi-structured interview, and an initial and final questionnaire. The reading of the data was centered on content analysis.

We noticed the change in the teaching and learning processes through the answers of both the interview and the final questionnaire of group A. While group B reflected on the praxis, provoking changes in this group as well, verified in the answers of the final questionnaire. However, comparing A and B, the former obtained practical learning and proof of the positive effectiveness of gamification in Physical Education classes. The latter obtained theoretical knowledge on the subject and will possibly apply it.

Despite the difference in the knowledge baggage each group acquired, a deeper analysis of the data shows that the training resulted in teachers’ engagement in their own knowledge, which was reflected in changes in their pedagogical practice.

Keywords: Continuing education, gamification, Physical Education, Elementary School.

1 INTRODUÇÃO

Partindo da reflexão de Tardif; Lessard (2014, p. 7):

Na maioria dos países, sente-se hoje a necessidade, em todos os campos da vida social, de ir além do quadro nacional e levar em conta a experiência coletiva das outras sociedades. Na educação, essa necessidade é patente e em suma inevitável, pois é verdade que os sistemas educativos da maior parte das sociedades ocidentais sofrem atualmente evoluções comuns ou, pelo menos amplamente convergentes.

Nessa perspectiva, a formação de professores, continuamente, também sofre influência desse contexto e, busca formas de influenciar nos processos de ensino e aprendizagem. No entanto, para Imbernón (2011), a formação docente precisa fazer sentido, partindo dos problemas e necessidades dos professores na prática. Perspectiva pouco usual nas formações oferecidas no sistema público de ensino.

Para Darolt Rabelo; Moreira (2018, p. 24):

[…] a formação contínua é um processo ininterrupto, que compreende toda a vida profissional e envolve tanto professores, alunos, comunidade, estudos realizados pelos docentes quando graduandos, ou mesmo outras formas de pesquisa empreendidas em cursos no decorrer da carreira deste indivíduo.

No entanto, é importante ter base na descoberta e nos problemas encontrados na prática pedagógica. Nesse sentido, refletir a prática, colaborar nas discussões, e interagir com outros companheiros de profissão, são aspectos importantes a serem considerados nos momentos formativos.

Esse texto, vem expor a intenção da pesquisa-formação realizada com 50 professores de Educação Física atuantes no Ensino Fundamental da rede pública de Cuiabá/MT, na intenção de propor soluções formativas para mudar a prática pedagógica.

Após a pandemia da COVID-19, os alunos retornaram às aulas presenciais desestimulados e os docentes com grandes dificuldades para exercer seu trabalho. Esse contexto, vem sendo relatado em várias faixas de atuação docente. Todavia, pouco tem sido feito para mudar essa realidade.

A proposta foi oferecer ao grupo uma formação continuada sobre a metodologia da gamificação, inclusive a orientação do projeto gamificado, a implementação na prática e finalmente a devolutiva dos resultados alcançados.

A gamificação foi considerada pelas pesquisadoras, como a melhor opção para os docentes obterem maior interesse, participação e aprendizagem dos alunos, partindo da premissa que segundo Filatro e Cavalcanti (2018), a metodologia considerada pelas autoras como imersiva, possui base nos elementos dos jogos, e aplicada em momentos de não jogos, como é o caso do momento pedagógico conhecido como “aula”.

Nesse contexto, o estudo propôs uma pesquisa-formação colaborativa reflexiva, na intenção de causar mudança na ação didático-pedagógica docente dos envolvidos.

OBJETIVO

O objetivo desse estudo foi desenvolver uma formação continuada em gamificação, avaliar o uso da metodologia e a efetividade da formação oferecida aos docentes no processo ensino-aprendizagem nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental.

METODOLOGIA

O estudo aqui exposto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), parecer 5860811, nº CAAE 63929922.2.0000.0029.

A pesquisa-formação possui cunho qualitativo, baseada na reflexão ação dos docentes participantes, voltada para a metodologia da gamificação.

O grupo amostral foram 50 professores de Educação Física atuantes no Ensino Fundamental de escolas públicas de Cuiabá/MT, convidados a participarem de uma formação continuada concomitante à pesquisa. Foram 168 inscritos inicialmente, no entanto, somente 50 participaram da pesquisa.

Os docentes interessados em participar da formação realizaram a inscrição de forma on-line através da Coordenadoria de Formação da secretaria de educação do município. No momento da inscrição os docentes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e responderam ao questionário inicial.

Os participantes foram divididos em dois grupos, A e B. O grupo A, foi composto por 25 professores que responderam ao questionário inicial, participaram dos encontros formativos, implementaram a gamificação na escola, responderam ao questionário final e participaram de uma entrevista semiestruturada. O grupo B, formado por 25 professores, responderam ao questionário inicial, participaram da formação continuada e responderam ao questionário final.

COLETA DE DADOS

Os dados da pesquisa foram coletados através dos dois questionários (pré e pós-formação), o caderno de campo, a matriz analítica de acompanhamento e a entrevista semiestruturada.

O questionário pré-formação foi utilizado para fazer os levantamentos iniciais das dificuldades e desafios do grupo, usado para as primeiras interações.

O caderno de campo, foi o diário da pesquisa, local de anotações de acontecimentos, impressões e questionamentos.

A matriz analítica de acompanhamento, trata de um resumo diário das formações. Usada para verificar a evolução dos participantes.

O questionário final, realizado com o grupo A e B, mostrou a diferença comportamental entre o início e o fim da formação desenvolvida e, as reflexões dos dois grupos.

A entrevista semiestruturada, realizada somente com o grupo A, deixou transparecer a importância da prática.

Após tabulação dos dados separadamente, houve a interpretação através da análise de conteúdo.

A FORMAÇÃO CONTINUADA

O período formativo foi realizado em seis encontros com duração de três horas, duas vezes por mês com todos os participantes.

Durante a formação, os docentes interagiram com os demais colegas e com a formadora. Os levantamentos iniciais que foram realizados partindo do questionário pré-formação, deram direcionamento ao processo.

Na sequência, foram realizadas exposições teóricas sobre a metodologia da gamificação. As aberturas para questionamentos eram permitidas a qualquer momento. Nesse período houve estudos sobre BNCC Ensino Fundamental e sua relação com os conteúdos, e metodologias. Materiais de apoio foram encaminhados para os participantes. Um canal 24 horas foi aberto por aplicativo de mensagens, como “tira dúvidas”.

Após introdução da gamificação, fora iniciado o processo reflexivo colaborativo. As discussões dos professores partiram dos aspectos pontuados inicialmente. A partir daí, questionamentos eram constantes nos encontros como forma de provocar a interação. As observações da pesquisa relatadas no caderno de campo, receberam tratamento e foram transcritas na matriz analítica de acompanhamento dos encontros.

Durante a formação houve relatos de experiências exitosas em gamificação, após explanação, aberto para discussão e questionamentos. Nesse período houve a construção os projetos gamificados dos professores que aplicaram a metodologia na escola durante a pesquisa.

Após o tempo formativo, dividimos os participantes em dois grupos, A e B. O grupo A implementou a gamificação na prática. O grupo B participou somente da formação. Os docentes optaram pelos grupos.

A partir daí, os integrantes do B, responderam ao questionário final e participaram do último encontro formativo, marcado para após o período de implementação.

O grupo A, elaborou projeto gamificado apoiado pela pesquisa em momentos específicos de formação e através do canal 24Hs. e, implementou na prática da escola. Concluindo com os relatos de experiências apresentados aos demais professores.

O grupo A, respondeu ao questionário final e participou da entrevista semiestruturada.

DISCUSSÃO E RESULTADOS

Partiu das pesquisadoras a explicação sobre a importância da participação na própria formação. Com a aplicação do questionário pré-formação, as respostas orientaram o início das discussões.

A seguir a discussão e os resultados:

Primeiramente lembramos que nosso grupo amostral foram 50 professores de Educação Física atuantes no Ensino Fundamental, foram divididos em dois grupos, A e B.

DISCUSSÃO QUESTIONÁRIO

Esse questionário foi realizado com todo o grupo amostral pós-formação e, observadas as contribuições desse período para a prática pedagógica dos docentes.

Segundo as respostas no questionamento sobre a importância da formação continuada para a atualização de saberes docentes, todos os participantes acreditam que melhora a prática pedagógica.

Para Darolt Rabelo e Moreira (2018), a formação de professores vem sendo muito debatida, no entanto, há a necessidade de relacionar as dificuldades docentes aos processos formativos oferecidos.

Ferreira (2003), corrobora com os autores afirmando que pequenas formações auxiliam pouco nos problemas encontrados na prática. Para ele, os processos devem ser organizados a longo prazo, necessitam aporte científico e constantes levantamentos entre os professores.

Quando pedimos a opinião dos docentes sobre a formação em gamificação oferecida, responderam em sua totalidade que gostaram da proposta, dividindo as respostas níveis de satisfação. Na análise comparada com as respostas do questionário inicial, é percebido a nítida mudança de opinião sobre a metodologia, na medida que mesmo os docentes do grupo B, que não aplicaram na prática naquele período, pretendem fazê-lo.

Os dois grupos, A e B concordaram que a formação oferecida provocou novas tentativas de planejamento e aulas propriamente ditas, apenas 2 participantes responderam não ocorrer mudanças em suas atividades escolares.

Nos relatos de experiências ao final da pesquisa, os docentes do grupo A, afirmam ter havido muitas mudanças.

Em relação a colaboração entre os pares e a troca de experiências durante o período formativo, os docentes acreditam que houve aprendizado e, que este foi também aplicado em suas aulas. Esses relatos vêm de encontro a intenção desse estudo, refletindo a importância dos levantamentos iniciais das dificuldades desses professores.

Essa troca de experiências, que acontece durante a formação, é muito importante, porque a gente pode ver como que o colega tá realizando as atividades, se deu certo, e a gente implanta dentro da nossa unidade, então ajuda muito e minimiza as dificuldades que a gente tem, com relação a nossa turma, e melhora muito nossa prática pedagógica. (sic) (P5).

Em relação a formação oferecida especificamente sobre a metodologia da gamificação, os docentes mencionam as mudanças positivas ocorridas nos processos de ensino e aprendizagem.

Assis Monteiro; Heringer e Silva (2023), concordam com o sucesso da metodologia nas aulas de educação física, arte e matemática. Relatam o aumento da participação nas atividades e o interesse maior no conteúdo.

Quando questionados sobre se indicariam o uso da gamificação para outros professores, apenas 1 disse que não o faria, mas não explicou porque a resposta.

No encontro final da formação, foram realizadas exposições orais dos docentes participantes, sobre suas experiências com a gamificação. Os envolvidos mencionam a todo momento a satisfação com a realização do projeto gamificado. Esse espaço foi importante para a troca de experiências entre os dois grupos A e B.

Sanches (2023) relata a mudança na atitude dos estudantes, para ele, a coletividade ganhou espaço, as pontuações e recompensas influenciaram o resultado, mostrando que a metodologia tem muito a oferecer aos envolvidos.

Alves (2015), concorda, quando afirma que os games são construídos com estrutura de recompensas, o que promove a motivação inicial do participante. A autora afirma que a gamificação é melhor aplicada quando o objetivo é promover uma mudança de comportamento.

Nesse sentido, a gamificação possui esse diferencial. Promove a socialização de várias formas, aumenta o interesse dos alunos no conteúdo o que sem dúvida, gera aprendizagem.

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

A entrevista semiestruturada foi realizada pós-formação e implementação do projeto gamificado em cinco perguntas, respondidas em grupo. Esse instrumento direcionado para docentes que experimentaram a gamificação na prática, foi aplicado somente com o grupo A.

A seguir faremos a discussão desses resultados:

No questionamento sobre o porquê participar da formação, alguns responderam que pela atualização profissional, outros porque tinham curiosidade em saber mais sobre o assunto.

Bom, optei por participar da formação continuada porque nós professores, eu vejo que nós temos sempre que estar em formação, sempre em aprendizado, sempre uma coisa nova, uma coisa diferente […]. (sic) (P4).

É importante termos formação, principalmente porque ela nos dá uma direção em relação a tudo que nós vamos ensinar, o aluno hoje, ele não pode ser mais um mero reprodutor, e sim, ele é parte do nosso conhecimento […]. (sic) (P3).

Nas falas dos docentes, fica transparente a necessidade de formações que realmente interessem e façam a diferença na prática pedagógica. Esses participantes, passaram por um longo período de inexistência de estudos específicos para o componente curricular. Nesse interim, há a percepção do interesse na gamificação, mas os docentes não sabiam como aplicar a metodologia.

Em relação ao questionamento sobre “se”, as atividades formativas propostas contribuíram para melhorar a prática pedagógica, os participantes mencionam que houve uma provocação, em virtude disso, a reflexão da própria prática ocorreu. Para Moran (2015), a aprendizagem ocorre facilmente quando há significado para o aprendiz. Da mesma forma, os docentes precisam encontrar esse caminho para dar sentido à docência.

É, contribuíram muito, porque a partir é, das atividades que foram apresentadas na formação, a gente pôde ter um olhar diferenciado e melhorá nossa prática pedagógica. (sic) (5).

A fala do professor deixa claro que a mudança ocorreu.

No questionamento seguinte falamos sobre a troca de experiências ocorrida durante a formação, os participantes ressaltaram essa relação como importante para solucionar problemas da práxis. Damiani (2008), corrobora afirmando que a troca de experiências provoca mudança no comportamento dos professores.

É, escutar os relatos dos colegas também é sempre enriquecedor, éé, e sempre tem algo novo que a gente pode tá aplicando em aula, que pode aumentá, ampliá nossos conhecimentos e a forma dos nossos alunos tarem aprendendo. (sic) (P4).

Os docentes mencionaram o interesse em aprender a gamificar, mas não sabiam como iniciar, pois, a metodologia exige planejamento e as dúvidas estavam presentes. Com os relatos de colegas que já haviam realizado a gamificação, ficaram mais seguros para tentarem colocá-la em prática.

Os participantes perceberam mudanças também nos próprios comportamentos e no aumento da participação dos alunos nas aulas.

[…]é bacana perceber o envolvimento dos alunos e dos profissionais né, na aplicação dessa metodologia, então ela ajuda bastante a pensar em formas de como manter os alunos envolvidos nas atividades, e também né, fazer com que eles não percam os estímulos que são dados, sempre pensando no conjunto, tanto na parte física, quanto na parte comportamental, a questão afetiva, a questão cognitiva, então é bem, bem interessante (sic) (p14).

É de suma importância a consciência do professor na sua responsabilidade perante os alunos. A partir daí Gómez (1997), acredita que é fundamental o docente entender os processos de ensino e aprendizagem e, para isso, a formação é parte integrante do processo.

Por fim, foi perguntado aos participantes, se verificaram alterações em suas aulas após a implementação do projeto gamificado:

As respostas em geral afirmam aumento da participação dos alunos, maior interesse no conteúdo, diminuição do número de faltas, melhora na socialização da turma e, maior efetiva aprendizagem.

[…] eu observei sim que teve mudanças a partir da gamificação, é, a minha aula ficou mais atrativa, as crianças ficaram mais engajadas em participar, ficaram eufóricas né, com tudo que tava acontecendo, então, eu percebi sim, alterações na minha aula. (sic) (P5).

Então, eu percebi alteração na minha aula no que diz respeito ao aproveitamento geral dos alunos na aprendizagem deles […]. (sic) (P10).

Partindo dessas reflexões, os docentes verificaram maior interação com os educandos, causado pelos elementos contidos na gamificação, como pontos, recompensas e ranking.

Para concluir a entrevista, a orientação foi que os participantes dessem seu parecer sobre o uso da gamificação nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental.

[…] é uma metodologia que pode ser usada, independente de níveis de ensino e, que soma muito para o profissional. (sic) (P5).

[…] na prática, agregou sentidos e significados no meu fazer pedagógico. Achei excelente esse tipo de aprendizagem […]. (sic) (P12).

Foi bastante proveitosa, também contribuiu de forma dinâmica, e propôs desafio para mim. (sic) (P13).

Bom, é uma metodologia que veio pra ficar né, essa questão de pensar no desenvolvimento completo do aluno, manter ele motivado, manter ele empenhado em realizar as atividades. Pensar nos objetivos… é muito interessante, é, ter uma formação, com pontos chave que norteiam essa atuação, nessa metodologia, acaba ajudando bastante. Então é uma metodologia muito interessante que contribui com a condução das atividades … acredito que é muito proveitoso. (sic) (P14).

Nas falas anteriores, verifica-se as novas perspectivas a partir da implementação da gamificação na prática. As reflexões, colaborações e trocas de experiências tornaram o trabalho melhor e mais efetivo, reconhecido pelos participantes. Nesse sentido, também a gamificação causou mudanças nos comportamentos dos envolvidos, prometendo continuar presente nos processos de ensino e aprendizagem desses professores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o cenário pós-pandêmico e a urgência de implementação de novas práticas, esse estudo propôs primeiramente a formação continuada em gamificação e, na sequência o uso da metodologia nas escolas na busca de minimizar os problemas de participação e interesse nos conteúdos e atividades propostas pelos docentes nas aulas de Educação Física do Ensino Fundamental.

A coleta de dados, concretizada a partir de observações e anotações em caderno de campo, relatadas na matriz analítica de acompanhamento, apontadas nos questionários pré e pós formação e, entrevista semiestruturada, direcionam para as dificuldades enfrentadas pelos participantes na prática pedagógica que, por sua vez, interferem nos processos de ensino-aprendizagem. Além dos problemas físicos, trata de período de desinvestimento no grupo, ocasionando nos impasses na aprendizagem dos educandos.

A verificação dos dados coletados, destaca que a colaboração, a troca de informações entre os participantes proposta pela pesquisa-formação e, a escolha da metodologia gamificada para diminuir as dificuldades, possibilitaram mudanças positivas na prática. Partindo dessa conjuntura, houve investimento na proposta da pesquisa. Os docentes modificaram seus planejamentos e forma de agir com os estudantes, provocando maior interação, participação e aprendizagem.

Podemos entender que o objetivo do estudo foi alcançado com sucesso.

REFERÊNCIAS

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DAMIANI, Magda Floriana. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus benefícios. Curitiba, PR: UFPR, 2008.

FERREIRA, N.S.C. Formação continuada e gestão de educação no contexto da “cultura globalizada”. In: FERREIRA, N.S.C. (Org.). Formação continuada e gestão da educação. São Paulo: Cortez, 2003.

FILATRO, Andrea; CAVALCANTI, Carolina Costa. Metodologias inov-ativas na educação presencial, a distância e corporativa. 1. ed. São Paulo. Saraiva Educação, 2018.

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MORAN, José. Educação Híbrida: um conceito-chave para a educação, hoje. In: BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Melo. (Orgs.) Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

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TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. (Orgs.) O ofício de professor: história, perspectivas e desafios internacionais. 6. ed. Petrópolis. Editora Vozes, 2014.


Viviani Darolt¹
Doutoranda – Universidade Católica de Brasília – UCB
Carmen Silvia Grubert Campbell²
Doutora – Universidade Católica de Brasília – UCB