THE EFFECTS OF SCHOOL BULLYING ON STUDENTS WITH AUTISTIC SPECTRUM DISORDER (ASD)
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8050986
Francisco Wenner Mendes de Sousa¹
Gislene Mariana Pereira Castelo Branco²
Ruth Raquel Soares de Farias3
Resumo: O autismo ou Transtorno do Espectro Autismo (TEA) se caracteriza pelo comprometimento da vida social, motora e cognitiva, além de apresentarem comportamentos estereotipados e repetitivos, esse desenvolvimento atípico faz com que os alunos com TEA matriculados em instituições educacionais sofram mais atos de bullying do que alunos com desenvolvimento típico, uma vez que o é bullying é todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo. Com base nisso, o estudo objetivou se identificar e descrever as principais causas do bullying em alunos com TEA. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura de cunho qualitativo e natureza exploratória. Identificou-se como resultado 10 estudos, utilizando as bases de dados da Scielo, Lilacs e Medline, que demostram os principais efeitos do bullying no desenvolvimento biopsicossocial dos alunos com TEA. Conclui-se que o bullying causa diversos prejuízos no desenvolvimento dos alunos, além de potencializar suas emoções negativas e ser um ato preditor para comportamentos agressivos e ideações suicidas.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista; Educação; Bullying.
Abstract: Autism or Autism Spectrum Disorder (ASD) is characterized by impairment of social, motor and cognitive life, presenting stereotyped and repetitive behaviors, this atypical development causes students with ASD enrolled in educational institutions to suffer more acts in addition to bullying than students with typical development, since bullying is every act of physical or psychological, intentional and repetitive violence that occurs without evident motivation, inspired by an individual or group. Based on this, the study aimed to identify and describe the main causes of bullying in students with ASD. This is an integrative literature review of a qualitative and exploratory nature. As a result, 10 studies were identified, using the Scielo, Lilacs and Medline databases, which demonstrate the main effects of bullying on the biopsychosocial development of students with ASD. It is concluded that bullying causes some damage to the development of students, in addition to enhancing their negative emotions and being a predictor of aggressive behavior and suicidal ideation.
Keywords: Autistic Spectrum Disorder; Education; Bullying.
Conforme, o DSM-5-TR (2023), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de interação social, comunicação e comportamentos repetitivos e restritivos, deste modo, o autismo persiste por toda a vida, não existindo uma cura, nem causas específicas que sejam claramente conhecidas. Ainda assim, entende-se que é possível a existência de alterações nos padrões e níveis de suporte do autismo, descrito basicamente como manifestações cognitivas e comportamentais, ou seja, passíveis de serem moduladas através da interação organismo-ambiente (DUARTE; FARIA, 2021; NASCIMENTO; LIMA; MORAES, 2021).
Assim, a escola é um dos principais ambientes sociais que proporcionam à criança estímulos e espaços que servirão de referência para as suas condutas e possibilitam desencadear processos evolutivos humanos, como relações interpessoais, inserção cultural e a construção do conhecimento. No entanto, a escola pode ser um local aterrorizante e causar diversos prejuízos no desenvolvimento físico e psicológico da pessoa devido as práticas de bullying, que ocorrem nesse ambiente (ALBUQUERQUE; AQUINO, 2021).
Desta forma, os indivíduos com deficiência têm mais chance de sofrerem algum tipo de violência, o que podemos mencionar os alunos com TEA, que são um grupo de pessoas com condições atípicas que pode ser exposto mais facilmente a serem vítimas de bullying. Assim, o bullying é materializado por atos de violência física e verbal, ocorrendo repetidamente e de forma intencional, sendo preocupante devido aos efeitos nocivos que são produzidos, repercutindo na vida do sujeito que é colocado como vítima de tal ato (TREVISOL; UBERT, 2015).
Nesse contexto, os alunos com TEA são mais propensos a sofrer bullying em escolas regulares do que em escolas especiais, e crianças com autismo são frequentemente marginalizadas e excluídas de seus meios sociais, tornando-as um grupo em risco de vitimização. Alunos com autismo têm dificuldade de participar da vida social da escola, o que reduz ou elimina suas interações sociais, além de reduzir as suas chances de manter relações positivas com os colegas de turma, o que dificulta que as crianças consigam fazer e manter amigos ao longo da escola (PARK et al., 2020).
Deste modo, estudar a temática do bullyinge como esse ato afeta pessoas com TEA é importante, visto que, esse assunto não é muito discutido no Brasil e existe uma quantidade reduzida de artigos publicados. Outrossim, torna-se necessário a estimulação dos alunos sobre a prática do bullyingnão ser uma brincadeira que deve- se realizar, mas sim uma prática que pode prejudicar a integridade física e moral do companheiro de escola. Além do grande número de adolescentes que sofrem bullyingno ambiente escolar, sendo esse um ambiente primordial para o desenvolvimento da pessoa, inclusive no que diz respeito a sua interseção com o meio. Além disso, enfatiza-se que a discussão desse tema é de extrema relevância social, como forma da sociedade e professores que trabalham com essas crianças, e a comunidade em geral compreender os efeitos causados por esse fenômeno e buscar estratégias para enfrentar a problemática.
No caso específico do autismo, os professores e demais agentes escolares devem ter um conhecimento sobre o TEA. Assim como, os assistentes de ensino devem ser capazes de ensinar assertividade e outras estratégias para alunos com autismo e ajudá-los a identificar o bullyingpor meio de dramatizações e atenção extra. Todas as escolas também devem ter pelo menos uma sala especial, supervisionada por um coordenador, onde alunos com autismo possam ser acomodados quando não conseguem lidar com a situação (COSTA, 2022).
Diante do exposto, surgiu à necessidade de responder ao seguinte questionamento: Como as práticas do bullying afetam o desenvolvimento de alunos com Transtorno do Espectro Autista? Ao levantar esta pergunta pretendeu-se verificar os efeitos do bullying no desenvolvimento psicossocial do aluno com TEA. Para tanto buscou-se identificar e descrever as principais causas do bullying em pessoas com autismo.
MÉTODO
O artigo trata-se de uma revisão integrativa, segundo Paiva et al. (2016), a revisão integrativa da literatura é um procedimento de pesquisa que fornece uma síntese de conhecimento e a incorporação de resultados e estudos já realizados, fornecendo um agrupamento de materiais selecionados. A pesquisa e de cunho qualitativo e abordagem explorativa, cujo a temática refere-se: aos efeitos do bullying em alunos com TEA
Os estudos foram selecionados por meio de busca eletrônica nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PEPSIC), Literatura Latino-Americana em Ciências da saúde (LILACS via BVS), MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), U. S. National Library of Medicine (PUBMED via NCBI), Portal de Periódicos CAPES/MEC no período dos anos de 2015 a 2023, anos vigentes disponíveis nas plataformas de dados, além de artigos publicados em todas as regiões do Brasil na língua portuguesa (brasileira) e inglesa.
No que diz respeito sobre as estratégias de busca, os artigos foram pesquisados através dos termos indexados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Transtorno do Espectro Autista; Psicossocial; Bullying e Instituições escolares. E combinados entre si pelo operador booleano “AND”.
Como critério de inclusão, os estudos publicados nos últimos 08 anos, filtrados entre os anos de 2015 a março de 2023 que tratam sobre a temática deste estudo e seus objetivos. Assim como, foram excluídos da pesquisa, os artigos publicados que não formaram a tríade de estudo no âmbito abordado do bullying, TEA e Escolas, assim como teses e dissertações, Trabalhos de Conclusão de Curso, trabalhos incompletos, resumos publicados, estudos que tenham um público alvo distinto.
A busca foi realizada obedecendo às seis etapas do processo de elaboração da revisão integrativa: elaboração da pergunta norteadora, busca na literatura, coleta de dados, análise dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa (SANTOS; KUMADA, 2021).
Inicialmente foi elaborado uma Tabela (Tabela 01) na qual contém informações sobre os artigos que foram selecionados, com os seguintes dados: ano, nome dos autores, título, objetivo, tipo de pesquisa, local e principais resultados. Além disso, os artigos foram agrupados dentro da temática escolhida para realização dos resultados e discussão.
RESULTADOS
O processo de seleção dos estudos e as etapas de aplicação dos critérios de inclusão e exclusão nas bases de dados selecionadas estão descritas no fluxograma 1.
Fluxograma 1– Processo de inclusão e exclusão dos artigos selecionados.
Fonte: Autoria própria, 2023.
Os dados do quadro 1 apresentam informações dos dez estudos selecionados na pesquisa, entre elas: autores, ano de publicação título do estudo, objetivo do estudo e método utilizados.
Quadro 1. Descrição das bibliografias encontradas, especificando autor (ano), título, objetivos e métodos utilizados.
Autor (ano) | Título | Objetivo do estudo | Método do estudo |
Adams et al. (2016) | Peer Victimization and Educational Outcomes in Mainstreamed Adolescents with Autism Spectrum Disorder (ASD). | Examinar se tipos específicos de vitimização entre pares estavam associados a uma variedade de resultados educacionais. | Estudo longitudinal |
Maiano et al. (2016) | Prevalence of School Bullying Among Youth with Autism Spectrum Disorders: A Systematic Review and Meta-Analysis. | Avaliar a proporção de jovens em idade escolar com TEA envolvidos em bullying escolar como perpetradores, vítimas ou ambos. | Revisão sistemática |
Hwang et al. (2018) | Autism Spectrum Disorder and School Bullying: Who is the Victim? Who is the Perpetrator? | Investigar as experiências de crianças com TEA como vítimas e/ou perpetradoras de bullying. | Estudo transversal |
Hoover e Kaufman, (2018) | Adverse Childhood Experiences in Children with Autism Spectrum Disorder. | Avaliar o bullying e outras experiências adversas na infância em crianças com transtorno do espectro do autismo. | Revisão sistemática |
Alba, Gonzalez e Olmo (2019) | Bullying in people with autism spectrum disorder in the province of Malaga. | Explorar, entre outras variáveis, a prevalência do bullying escolar em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na província de Málaga, conhecendo a idade de início, duração e suportes socioeducativos. | Estudo transversal |
Novin, Broekhof, Rieffe (2019) | Bidirectional relationships between bullying, victimization and emotion experience in boys with and without autism. | Examina as associações longitudinais de raiva, medo, culpa e vergonha com ser vitimizado e intimidar outras pessoas em meninos adolescentes com e sem autismo. | Estudo longitudinal |
Park et al. (2020) | Prevalence of and Factors Associated with School Bullying in Students with Autism Spectrum Disorder: A Cross-Cultural Meta-Analysis. | Examinar a prevalência, os riscos e os fatores associados ao envolvimento com bullying (vitimização, perpetração, perpetração-vitimização) entre alunos com transtorno do espectro autista (TEA). | Revisão sistemática |
Matthias et al. (2021) | Exploring Predictors of Bullying and Victimization of Students with Autism Spectrum Disorder (ASD) | Examinar as características que servem como preditores de bullying e vitimização. | Estudo longitudinal |
Rodriguez, Drastal e Hartley, (2021) | Cross-lagged Model of Bullying Victimization and Mental Health Problems in Children with Autism in Middle to Older Childhood. | Identificar fatores associados ao aumento do risco de vitimização por bullying em jovens com autismo durante a infância até o início da adolescência (5 a 12 anos). | Estudo longitudinal |
Hsiao et al. (2022). | Psychopathologies mediate the link between autism spectrum disorder and bullying involvement: A follow-up study. | Investigar se psicopatologias comórbidas. mediavam a ligação entre TEA e envolvimento com bullying. | Estudo longitudinal. |
Fonte: Autoria própria, 2023.
No que tange, os métodos de publicação dos estudos selecionados, sete são pesquisas originais, ou seja, os autores das pesquisas descreveram suas hipóteses e finalidade do estudo, detalhando seus métodos e resultados de forma interpretativa e discutindo as possíveis implicações e três estudos de revisão de literatura. Assim, nota-se que o estudo longitudinal foi o método mais encontrado com cinco pesquisas. Ademais, dois estudos transversais, e três revisão sistemática.
Os dados acerca dos objetivos dos dez estudos selecionados para a síntese dessa revisão integrativa, todos abordam os efeitos do bullying escolar em alunos com Transtorno do Espectro Autista, assim como as consequências que esse ato gera para o desenvolvimento biopsicossocial da pessoa.
Os dados dos estudos selecionados acerca da casualidade do bullying e os países que os estudos foram realizados estão presentes no quadro 2.
Quadro 2. Descrição dos objetivos de treinos parentais e tipos de treinos utilizados em cada estudo
Fonte: Autoria própria, 2023.
Em relação aos dez estudos selecionados, cinco pesquisas foram realizadas nos Estados Unidos da América, destacando o envolvimento dos autores americanos em aprofundar o conhecimento sobre os efeitos do bullying no ensino educacional em pessoas com TEA, dois estudos formam realizados na Espanha e um, na Coreia do Sul, enquanto os estudos de revisão de literatura, os dados foram coletados globalmente. No entanto, não foram encontrados estudos realizados no Brasil, demonstrando uma escassez de pesquisas de pessoas com TEA nas escolas brasileiras.
Tais constatações sugerem que, apesar de se tratar de uma temática importante que necessita de maior domínio por parte de profissionais de diversas áreas do conhecimento e da sociedade de modo geral, ainda representa um contexto que necessita de maior atenção da comunidade científica brasileira, com novas e pertinentes investigações. Desta forma, mais pesquisas sobre o tema poderiam trazer novos dados e reflexões acerca dos efeitos do bullying em Alunos com TEA no Brasil.
Os efeitos do bullying nos alunos: os dez estudos enfatizam que os alunos com autismo sofrem mais bullying do que alunos com desenvolvimento típico, dois estudos apresentaram que os alunos desenvolveram comportamento de agressão após sofrerem o ato, outros dois estudos informaram que o bullying pode gerar comportamentos suicidas entre as vítimas. Além disso, outras consequências do bullying são: evasão escolar, dificuldade no desenvolvimento de habilidades de comunicação social, assim como o surgimento de anuidade e depressão.
DISCUSSÃO
O objetivo desta revisão integrativa foi identificar e descrever os principais efeitos do bullying em pessoas com autismo. Os resultados mostram que alunos com desenvolvimento atípico são os que mais sofrem com bullying no ambiente educacional, sendo explicado esse ato por suas dificuldades generalizadas na comunicação e interação social.
Entende-se que os alunos com TEA passam mais de 80% de seu tempo no ambiente educacional. Deste modo, os alunos com autismo têm o direito de serem incluídos nos ambientes educacionais, visto que, essa inserção proporciona uma interação a alunos com desenvolvimento típico e acesso a uma gama completa de experiências sociais normativas, especialmente, para alunos com TEA com habilidades cognitivas e de linguagem subdesenvolvidas ou acima da média, a integração na educação regular é importante para garantir que eles sejam estimulados academicamente (HEBRON; OLDFIELD; HUMPHREY, 2017). No entanto, essas características do ambiente educacional geral oferecem oportunidades importantes para o desenvolvimento de habilidades sociais em indivíduos com autismo, elas também aumentam a probabilidade de interações e experiências negativas (ADAMS et al., 2016).
Neste ínterim, os dados dos estudos Schroeder et al. (2014), analisaram que alunos com autismo em idade escolar ensinados em ambientes regulares ou mistos eram mais propensos a serem vítimas de bullying do que aqueles ensinados em ambientes de educação especial, e, portanto, são mais propensos a serem rejeitados simplesmente porque são “diferentes” ou vitimizados. Além disso, a característica cognitiva do TEA de interpretar piadas e expressões pelo valor de face pode ser uma causa de má interpretação entre os grupos (WEISS et al., 2015).
Corroborando com os resultados, os estudos de Saggers et al. (2017), mostraram que cada tipo de bullying apresentou diferentes padrões de associação com os resultados educacionais. No geral, a associação mais forte e consistente com medidas de desempenho escolar foi o abuso verbal, seguida pelo relacionamento abusivo, incluindo negligência. O abuso físico teve a associação menos consistente e fraca com os resultados educacionais. Ou seja, O bullying verbal é particularmente relevante a ser considerado porque mais da metade dos alunos com TEA relataram ter sofrido essa forma específica de bullying. Em outro estudo, a violência física foi mais comum entre alunos com autismo (27%), seguida pela violência verbal (26%) e violência no relacionamento (12%). Considerando os déficits significativos na comunicação social, não surpreende que as formas físicas e verbais de comportamento sejam mais frequentes do que as relacionais em alunos com autismo.
Conforme o estudo de Mayes et al. (2016), foi demonstrado que a vitimização de crianças com TEA pelos colegas tem sérios impactos negativos no funcionamento acadêmico e social, assim como, descobriram que pessoas com TEA que foram provocados eram três vezes mais propensos do que jovens com TEA não provocados a relatar ideação suicida ou fazer uma tentativa de suicídio. Outro estudo relata que a relação aos sentimentos e sensações, verificamos que 54% (14) dos sujeitos com TEA apresentaram atitudes de nervosismo, inquietação e ansiedade ao ir para a escola, dos quais 8 (30%) não entenderam a situação que estavam vivenciando, aparece como dado preocupante uma pessoa (3%) que considerou o suicídio durante todo o período em que sofreu bullying (HWANG, 2018).
Compreende-se que, as dificuldades sociais em alunos com autismo estão positivamente correlacionadas com experiências de bullying. A dificuldade em desenvolver relacionamentos positivos com os colegas, bem como a falta de habilidades para lidar com conflitos entre pares, podem aumentar o risco de bullying (HUMPHREY; HEBRON, 2015). Outro autor relatou aumento da ansiedade em pessoas com autismo que sofreram bullying, dito isso, existe um círculo vicioso entre o bullying escolar e os problemas psicossociais (BUSCH et al., 2015).
Por conseguinte, entende-se que os Indivíduos com autismo são conhecidos por níveis elevados de raiva e medo e dificuldades em regular essas emoções, esses indivíduos tendem a reagir fortemente, ou seja, de forma agressiva e chorosa quando são intimidados (BITSIKA; SHARPLEY, 2014). Por tanto, não há razão para sugerir essas pessoas com TEA sejam menos vulneráveis ao bullying. Um estudo relatou que 45% dos adultos com autismo tiveram sequelas de longo prazo de experiências anteriores de bullying (FORREST; KROEGER; STROOPE, 2020). Outra pesquisa também relatou níveis aumentados de ansiedade em indivíduos com TEA e experiência de vitimização por bullying (WEISS et al., 2015). Uma terceira pesquisa relatou que alunos com TEA podem ter níveis aumentados de comportamentos agressivos, especialmente se as rotinas forem interrompidas ou forem expostos a estímulos sensoriais irritantes, assim, aqueles com TEA com níveis aumentados de agressão podem ser rotulados como agressores, mesmo na ausência de intenção social (OCHI et al., 2020).
CONCLUSÃO
Esse trabalho trouxe reflexões acerca dos efeitos do bullying em alunos com TEA. Os resultados alcançados mostram que esses indivíduos sofrem bullying com mais frequência do que os alunos com desenvolvimento típico. Ademais, os alunos que são vítimas desse ato, têm o seu desenvolvimento educacional e saúde mental prejudicadas.
Com base nos estudos avaliados, pode-se dizer que esses alunos enfrentam muita dificuldade no ambiente educacional, visto que, muitas vezes, os alunos com TEA não entendem quando estão sendo vítimas do bullying ou não sabem como relatar para os professores ou pais. Assim como, algumas vítimas desenvolvem um comportamento agressivo devido ao bullying.
Compreende-se que essa temática merece maior atenção da comunidade acadêmica, principalmente no que diz respeito as práticas de bullying em alunos com desenvolvimento atípico. Faz-se fundamental um maior investimento em estudos, tanto quáli-quantitativo, de modo que, além de conhecimentos e desenvolvimentos na procura de melhores intervenções, sejam realizadas pesquisas a níveis nacionais. Dado que, contribuirá para o auxílio e suporte psicológico para esses alunos que sofrem com o bullying nas instituições educacionais.
Portanto, espera-se que os resultados obtidos, possam contribuir para a futura produção de novas pesquisas científicas que possuem o mesmo objetivo em levar conhecimentos e informações atualizadas, seja para o meio da saúde mental, como a psicologia ou para o meio educacional e pedagógico. Espera-se também que tais resultados forneçam maiores esclarecimentos, ampliando a visão do senso comum enraizada na sociedade e das instituições educacionais, pois esta pesquisa os auxiliará para maior entendimento acerca dos efeitos do bullying em alunos com TEA.
REFERÊNCIAS
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¹Graduando em Psicologia pela Faculdade FATEPI/FAESPI, Email: wennermendes@gmail.com
²Professora Orientadora, Email: gi.marianna@hotmail.com
3Professora Orientadora, Email: ruthraquelsf@gmail.com