O ADOECIMENTO MENTAL DOS POLICIAIS MILITARES DO CEARÁ

THE MENTAL ILLNESS OF THE MILITARY POLICE OF CEARÁ

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11137005


Rafaella Ferreira Melo Costa1
José Leandro Menezes Costa2
Gilk da Silva Santos3
Lorena Fernandes da Cunha4
Francisco Adriano Carneiro Duarte5
Valdeclebio Farrapo Costa6


Palavras-chave: Saúde Mental. Estresse Ocupacional. Bem-estar. Suporte Psicológico. Prevenção do Suicídio. Fatores de Risco. Intervenções. Ambiente de Trabalho. Policiamento. Ceará.

Introdução

O presente trabalho procura tratar criticamente questões relativas ao sofrimento psíquico dos policiais no Estado do Ceará. A rotina da Polícia é de grande responsabilidade e cheia de pressão da sociedade, de seus superiores, além de assédios, que acentuam ou geram o sofrimento no labor, gerando um sofrimento psíquico, tendo como consequências o baixo rendimento profissional, afastamentos, doenças somáticas e até mesmo ao suicídio.

Uma questão está interligada a outra, devido a isso, analisar detalhadamente todos esses problemas que causam o adoecimento dos agentes, consequentemente o afastamento e implicam a prestação de serviços com eficiência. 

Assim, em termos de procedimento, será utilizada a metodologia de pesquisa documental bibliográfica e método dedutivo, o qual permite estudar as obras desenvolvidas pelos principais autores que tratam das temáticas sob análise. Ademais, também será realizada análise de dados de publicações de artigos, leis, jurisprudências e sites relacionados ao objeto da pesquisa.

Desenvolvimento

1. Principais motivos dos afastamentos dos policiais 

1.1 Estresse

Os policiais em suas rotinas de trabalho são influenciados por diversos fatores prejudiciais que geram estresse que ultrapassam os seus limites.  O cansaço físico, o mental e o estresse podem levar esses policiais a assumirem atitudes irracionais durantes surtos. Assim, tais atitudes podem levar à ineficácia no desempenho do exercício profissional e sofrimento.

Os policiais em suas atividades profissionais precisam tomar decisões rápidas que podem colocar em risco tanto sua vida como a sociedade. O contato direto com situações de violência é algo recorrente e que apresenta potencial estressor e interfere também na qualidade de vida (LEITE et al., 2019).

Os eventos com os quais os policiais necessitam lidar são de vários tipos, devendo intervir em situações de problemas humanos de muito conflito e tensão.  O policial deve saber distinguir o bem do mal, tem que decidir, em emergências, entre o legal e o ilegal, o honesto e o desonesto, no exato momento, mesmo que não tenha todas as informações necessárias para uma decisão correta. Como pano de fundo para sua atuação profissional, muitas vezes encontra-se a incerteza e a angústia.  Adicionalmente, esses profissionais têm de lidar com hierarquia, grande quantidade de burocracia, desequilíbrio entre recursos e exigências, falta de suporte do sistema policial, falta de preparo e hostilidade dos cidadãos ante a imagem pública da polícia.  Outro estressor intrínseco da profissão é o perigo sempre presente, durante e fora do horário de trabalho e as ameaças que são feitas às suas famílias (LIPP, COSTA e NUNES, 2017, P.47).

Para Souza e Minayo (2005), muitos são os casos de agravos à saúde física e mental dos policiais militares. Os policiais são vítimas expostas a estresse na sua rotina de trabalho. Esse estresse gera sofrimento psíquico, consequentemente reduzindo a eficácia profissional.  

A atividade policial passa por diversas ocorrências como assaltos, homicídios, estupros, acidentes de trânsito, cadáveres, isso tudo gera um transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). E esse transtorno precisa ser tratado com acompanhamento psicológico ou com acompanhamento psiquiátrico muitas vezes com o uso de medicamentos.

A terapêutica mais atual do TEPT é dividida em três estágios. O primeiro consiste em intervenções para prevenção do transtorno após a exposição ao trauma; o segundo, ao tratamento quando o transtorno já se desenvolveu; o terceiro está relacionado com a continuidade dos cuidados para manutenção da saúde mental (MACHADO, 2017).

Além disso, tem o burnout que muitas vezes só é percebido quando o estágio já está bastante, pois os próprios policiais por alguns não conhecer o burnout confunde com cansaço ou fadiga e problemas pessoais. E esse diagnóstico tardio pode ter consequências sérias podendo ocorrer o afastamento de suas funções.

Outro fator que também acentua o estresse é o fato de alguns policiais passarem por uma rotina cansativa e desgastante físico/mental e ainda pela necessidade financeira de prestar outros serviços como seguranças para completar a renda familiar.

1.2 Preconceito e humilhação

Para muitos cidadãos, principalmente os mais carentes, os policiais são vistos como profissionais agressivos que causam medo e até mesmo insegurança, isso causa prejuízo para a reputação do agente que muitas vezes saem de suas casas sem a certeza de voltar vivos em defesa da sociedade.

Silva e Leite (2007) chamam atenção para o fato de que, muitas vezes, os policiais são tidos pela população como violentos e imprevisíveis. 

Alguns policiais ainda possuem a cultura de preconceito e vergonha na procura de tratamento psicológico e com isso vão acumulando os problemas causando mais sofrimento. 

Além de muitos policiais se sentirem humilhados por até mesmo por seus superiores pelo simples fato da diferença de patentes ou de diferença de sexo, causando mais uma vez o acúmulo de sofrimento os deixando sem estímulo algum para continuar suas funções com êxito e com o desejo de sair da corporação ou até mesmo chegar ao extremo tirando sua própria vida.

1.3 Consumo de substâncias lícitas e ilícitas

Os agentes muitas vezes na tentativa de fuga dos problemas acontecidos no trabalho fazem o uso de substâncias lícitas e ilícitas, para em alguns instantes se sentirem aliviados, alívio esse que ao retorno de sua consciência, os problemas voltam com um peso maior, devido a ressaca tanto fisiológico como a ressaca moral.  

1.4 Problemas mentais

Todos estes problemas estão interligados e tendo como consequência os problemas mentais que geram afastamentos ou até mesmo o suicídio.

Segundo a audiência pública promovida pelo Ministério Público do Ceará no dia 12 de junho de 2023, 30% dos afastamentos de policiais militares são por problemas de saúde mental. Dado totalmente preocupante diante do fato de que se trata de vidas que estão sofrendo. 

Os agentes estão o tempo inteiro colocando as suas vidas em risco, utilizando arma de fogo contra outras pessoas, esse momento de decisão rápida gera um stress exorbitante.

Há ainda os Transtornos Mentais Comuns (TMC) que se constituem um grave problema de saúde pública devido a sua elevada prevalência e o impacto causado na vida do indivíduo (SILVA; ROCHA; SANTOS; SANTOS et al., 2018).

Considerações finais

A Secretaria de Segurança Pública (SSP), o governo do estado e os comandos das polícias devem juntos observar e ajudar a tropa policial que se encontra adoecida e para prevenir todos os problemas citados na pesquisa sugere-se que sejam feitas políticas de prevenção com acompanhamentos psicológicos e psiquiátricos para todos os policiais, pois a saúde mental é fundamental para que o agente tenha a capacidade necessária de executar suas funções pessoais e profissionais. Assim evitando os afastamentos por motivos doenças psicológicas que muitas vezes tem como consequências a violência e ao extremo que é o suicídio.

A exposição aos riscos ambientais, somados à precarização do trabalho e o baixo controle e prevenção de doenças ocupacionais, resulta em danos à saúde dos policiais, dentre os quais, o alcoolismo, depressão, os transtornos de estresse e o comportamento suicida (Oliveira e Santos, 2010; Silva e Vieira, 2008). 

Além de outras políticas que precisam ser consideradas, como valorização profissional, plano e reestruturação de carreira, para que os policiais tenham perspectivas de crescimento profissional.

Referências bibliográficas

AGUIAR, M. P.; SANTANA, E. F. A polícia militar na segurança pública do estado democrático de direito brasileiro. Revista Criminologia e Políticas Públicas, Salvador, v. 4, n.1. p.82 – 97, jan/jun. 2018. Disponível em: <https://indexlaw.org/index.php/revistacpc/article/view/4294/pdf11>. Acesso em: 12 jul. 2023.

ANCHIETA, V. C. C.;GALINKIN, A. L. Policiais Civis: representando a violência. Psicologia & Sociedade, 17(1), 17-28.. 2005. https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/seguranca/saude-mental-na-seguranca-30-dos-pms-e-11-dos-policiais-civis-afastados-por-problema-psicologico-no-ce-1.3380780

LEITE, M. L. S. et al. Qualidade de Vida dos Policiais Militares de Vitória da Conquista – BA. Rev. Psic., v. 13, n. 48, p. 333-341, dez. 2019. Disponível em: < https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/2182 >. Acesso em: 12 jul. 2023.

LIPP,  M.E.N.,  COSTA,  K.R.D.S.N.,  NUNES,  V.D.O.  Estresse,  qualidade  de  vida  e  estressores ocupacionais  de  policiais:  sintomas  mais  frequentes.  Revista  Psicol Organ  Trab.,17(1),  46-53, 2017.  https://dx.doi.org/10.17652/rpot/2017.1.12490

MACHADO, M. R. Transtorno de estresse pós traumático e tratamento cognitivo comportamental: uma revisão. Diaphora, 15, n. 2, p. 22-26, 2017

OLIVEIRA, K. L.; DOS SANTOS, L. M. Percepção da saúde mental em policiais militares da força tática e de rua. Sociologias, 12(25), 224-250, 2010;  doi: 10.1590/S1517-45222010000300009

SILVA, L. A. M.; LEITE, M. P. Violência, crime e polícia: o que os favelados dizem quando falam desses temas? Sociedade e Estado, v. 22, n. 3, p. 545-591, set./dez. 2007.

SILVA, P. A. D. S. D.; ROCHA, S. V.; SANTOS, L. B.; SANTOS, C. A. D. et al. The prevalence of common mental disorders and associated factors among the elderly in a Brazilian city. Ciencia & Saude Coletiva, 23, n. 2, p. 639-646, 2018

SOUZA, E. R.; MINAYO, M. C. S. Policial risco como profissão: morbimortalidade vinculada ao trabalho. Ciência & Saúde Coletiva, v. 10, n. 4, p. 917-928, out./ dez. 2005.


1Graduada em Pedagoga pela Universidade Vale do Acaraú- UVA, Pós Graduada Instituto de Ensino Superior de Fortaleza- IESF; Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico Universidade do Extremo Sul Catarinense (PPGDS/UNESC), e-mail: inha.melo@hotmail.com
2Graduado em Administração pela Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA; Especialização em Gestão de Pessoas pelas Faculdades INTA; Especialização em Tutoria em Educação a Distância e Docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário INTA – UNINTA; Graduado em Direito pelo Centro Universitário INTA – UNINTA; Mestrando em Educação pela FIED/UNESC.
3Graduado em Direito pela Unimontes-MG, Pós Graduado pelo Instituto Verbo Jurídico; Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico Universidade do Extremo Sul Catarinense (PPGDS/UNESC), e-mail: gilk.silva@fied.edu.br
4Graduada em Direito pela Fiesc-TO, Pós Graduada pela Uniesp; e-mail: lorena.fernandes@fied.edu.br
5Graduado em Direito pelo Centro Universitário Uninta. Pós-graduado em Didática do Ensino Superior e Direito Penal e Processual Penal, ambas pelo Uninta. Mestranda em Desenvolvimento Socioeconômico pela Universidade do Estremo Sul Catarinense- UNESC.
6Graduado em Ciências da Computação pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA e Matemática pela Faculdade de Minas Gerais – FACUMINAS; Pós Graduado em Residência em Segurança Cibernética pela UFC e Ensino a Distância Pela UNOPAR; Mestrando em Sistemas de Informação – UFC, e-mail: clebiofarrapo@gmail.com