REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7625775
Julianne Milenna Padilha Rolim
Orientadora: Profª. Dra. Edna Mirtes dos Santos Granja
RESUMO
Essa dissertação teve como objetivo analisar os desafios para garantia de direitos das mulheres, mães, trabalhadoras e docentes de um centro Universitário de Pernambuco, desde o acompanhamento da gravidez até o retorno após a licença maternidade, considerando os possíveis desafios identificados por elas, propondo um protocolo de acolhimento. As discussões trazidas ao longo da dissertação estão pautadas em uma perspectiva feminista de gênero, regulada na psicologia social e na produção de sentido no cotidiano. As aproximações iniciais sobre a temática partem de uma revisão bibliográfica extensa, que buscou evidências em plataformas de dados, revisando e selecionando os estudos de forma criteriosa e em sequência apresentando os resultados encontrados. Abordamos temáticas sobre a configuração histórica e cultural da maternidade e do trabalho, bem como a conceitualização da gravidez, licença maternidade, pós-parto e as legislações trabalhistas acerca do ciclo gravídico puerperal. O estudo foi realizado em um Centro Universitário de Pernambuco, tendo em vista a sua dimensão estrutural e social para a implementação da proposta de acolhimento. O exercício da produção da análise pautou-se nas falas das participantes da pesquisa e de suas configurações acerca do acolhimento e procedimentos realizados quanto aos períodos: gestação, licença maternidade e retorno ao ambiente de trabalho. Os eixos temáticos para discussão foram: 1) Estou grávida: o meu trabalho me acolhe? 2)Preciso pausar para o cuidado: sentidos do processo; 3) Retornando ao trabalho: produzir é preciso; 4) Algo a mais que precisa ser dito: gravidez, licença maternidade e retorno ao ambiente de trabalho. Finalizando o processo dissertativo, redigimos a proposta de um protocolo de acolhimento a mulheres/mães, assegurando os cuidados necessários a essa trabalhadora, implementando a funcionalidade do mesmo às organizações de trabalho.
Palavras-chave: Mulher. Trabalho. Maternidade. Garantia de direitos.
ABSTRACT
This dissertation aimed to analyze the challenges for guaranteeing the rights of women, mothers, workers and teachers of a University center in Pernambuco, from the monitoring of the pregnancy until the return after maternity leave, considering the possible challenges identified by them, and proposing a welcoming protocol. The discussions brought throughout the dissertation are based on a feminist gender perspective, regulated in social psychology and in the production of meaning in everyday life. The initial approximations about the theme start from an extensive bibliographic review, which searched for evidence in data platforms, reviewing and selecting studies carefully and in sequence presenting the results found. We approach themes on the historical and cultural configuration of motherhood and work, as well as the conceptualization of pregnancy, maternity leave, postpartum and labor laws around the puerperal pregnancy cycle. The study was carried out at a University Center of Pernambuco, in view of its structural and social dimension for the implementation of the welcoming proposal. The exercise of producing the analysis was based on the speeches of the research participants and their configurations about the reception and procedures performed regarding the periods: pregnancy, maternity leave and return to the work environment. The thematic axes for discussion were: 1) I am pregnant: does my work welcome me? 2) I need to pause for care: meanings of the process; 3) Returning to work: producing is necessary; 4) Something more that needs to be said: pregnancy, maternity leave and return to the work environment. At the end of the dissertation process, we drafted a proposal of a welcoming protocol for women/mothers, ensuring the necessary care for this worker, implementing its functionality to work organizations.
Keywords: Woman. Work. Maternity. Guarantee of rights.
1. INTRODUÇÃO
“O trabalho da mulher começava ao nascer do sol e continuava sob a luz da fogueira, pelo tempo que ela conseguisse manter os olhos abertos. Por dois séculos, quase tudo o que a família usava ou comia era produzido em casa sob sua orientação. Ela ficava e tingia o fio com que tecia o pano, que ela cortava e costurava para fazer as roupas. Ela cultivava grande parte dos alimentos que sua família comia e reservava o suficiente para os meses de inverno. Ela fazia a manteiga, o queijo, o pão, as velas, o sabão e tricotavam as meias da família”. (p.228)
Trecho do livro de Angela Davis, ‘Mulheres, raça e classe’ (2016) em que a autora cita uma parte de um enredo sobre a noção que a burguesia americana carregava de que a mulher seria uma eterna serva do homem e dos filhos. Iniciamos então, as discussões aqui perpetradas a partir do discurso social que produz o trabalho feminino, que reverbera reflexões dessas, dentro dos ambientes organizacionais.
As mulheres da época colonial não eram “donas de casa” ou “secretarias de seus lares”, eram trabalhadoras que realizam a sua ocupação diária sendo inserida na perspectiva econômica social, pois contribuem mesmo que dentro do interior de seus lares para a economia. Segundo Davis (2016), as mulheres podiam exercer suas funções também fora do lar, inclusive sendo a mão de obra feminina a pioneira no período de industrialização, pois foram as mulheres que por possuírem habilidades em tecelagem foram as primeiras recrutadas para trabalhar nas fábricas têxteis.
Com a crescente do capitalismo e da industrialização, o trabalho no lar passou a não ter mais valor comercial, pois as indústrias passaram a prover as casas, e o espaço feminino fora do ambiente do lar, passou a ser visto como o grande “culpado” da desvalorização da vida doméstica, cuidado dos filhos e da família. Passando então, com o advento massivo do capitalismo, a delimitação de espaços sociais estipulados para homens e mulheres, Segundo Zanello (2018) para mulheres foram delimitados o dispositivo1 amoroso e materno, para os homens dispositivo laboral e de eficácia.
Para Saffioti (2004) as questões relacionadas a gênero2, estão longe de serem apreciações neutras, pois “carrega uma dose apreciável de ideologia” (p. 136), esse conceito perpassa as discussões patriarcais que emanam poder e desigualdade entre homens e mulheres. Existe uma marginalização feminina no entorno ao trabalho pela separação do lugar público e privado.
Em pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE de 20163 o número de mulheres com escolaridade superior e frequência escolar é maior do que homens da mesma idade e sua inserção em ambientes de trabalho e cargos gerenciais é menor do que homens da mesma idade. Desse modo, fica evidente que precisamos falar mais sobre o lugar da mulher nos ambientes de trabalho e refletir sobre o que as empresas têm feito para que esse espaço continue a ser “sentido” na vida das mulheres.
Pensando então nas mulheres que abarcam o mundo do trabalho, destacamos as mulheres/mães como locus de pesquisa, desse modo, começamos a explorar os conteúdos que surgiam através das leituras sobre o tema, iniciamos então a escrita da dissertação que foi divida em quatro capítulos, o primeiro emerge a partir de uma revisão bibliográfica extensa, que caracteriza os últimos estudos feitos em relação à temática, os anos de publicação e os estados onde as pesquisas foram feitas.
O trabalho sempre esteve fincado na história de vida das mulheres mães das camadas mais populares, sendo ele realizado no contexto privado ou público. Sobre esse aspecto, Almeida (2007) aponta que a partir dos anos 60 a valorização do trabalho feminino pelas camadas de classes médias passou a ser vislumbrado, e essas mães precisaram então adequar se a mais uma forma de identidade social, coisa que mães de classes mais baixas já o faziam para sobrevivência familiar. Sabendo que o estereótipo social da mulher/mãe é no cuidado dos filhos dentro do lar e que a função demandada pelo trabalho promove um afastamento, muitas mulheres encontram mais dificuldades em retornar ao trabalho após a experiência materna.
Promover uma reflexão sobre esse processo e suas implicações psicológicas, sociais e capitalistas, é também pensar, sobre as alternativas de promoção de saúde realizadas pelas empresas e a seguridade legislativa em relação a maternidade. Diante disso, a Consolidação das leis do trabalho (CLT), atualizada em 2017 pelo Senado Federal no artigo 10, II, “b” do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal/884, confere à empregada gestante a estabilidade provisória, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto e nesse período fica vedada à empresa a sua demissão.
É também assegurado, segundo o artigo 3925 do decreto lei nº 5.452 de 1° de maio de 1943, que toda gestante ou mãe adotante tem direito à licença-maternidade de pelo menos 120 dias nas organizações privadas e de 180 dias no serviço público federal. Em 2008 o Programa Empresa Cidadã que entrou em vigor, permite às empresas particulares aumentarem o tempo de licença maternidade para mais 60 dias, equiparando-se às empresas públicas, situação pouco observada em empresas privadas brasileiras.
Por último, o que nos chama a atenção são as poucas ou nenhuma estratégia utilizada pelas empresas para diminuir as dificuldades que podem existir na gravidez, saída na licença maternidade e volta da mulher ao ambiente de trabalho. Mendes(2016) contextualiza a estrutura histórica da regulação do trabalho feminino em um aparelho político masculino, os debates em torno das diferenças sociais e trabalhistas elaboradas nos últimos 80 anos demarcam as diferenças de gênero nas relações de trabalho e contribuem para um olhar voltado ao aparato capitalista que esquece das entrelinhas da mão de obra usada no trabalho.
Hirata (1994) constrói uma reflexão acerca das referências utilizadas para construir a política e a forma de pensar o trabalho, insere que a forma de refletir a política é a partir das configurações existentes enquanto família, maternidade e mulher e não uma política preexistente. Política essa que não acopla os lugares de fala que servem como referência para o pensar, pois a divisão sexual do trabalho delimita espaços e contribui para uma maior procura de empresas por mão de obra masculina.
O segundo capítulo contextualiza os teorias que abrangem a gravidez, parto e pós-parto, que segundo Maldonado (1985) são fases do desenvolvimento psicológico importantes no processo da maternidade, que antes de contextualizados como um ciclo, precisam ser refletidos em seu conteúdo histórico. Sendo esse um fator extremamente importante para entender as angústias, ansiedades e medos que podem surgir em todo o processo gravídico puerperal, nesse contexto situacional que se insere a perspectiva da volta ao trabalho após a experiência da maternidade.
O terceiro capítulo foi construído destacando os caminhos metodológicos desenvolvidos na pesquisa, caminhos estes não lineares, que surgem a partir de epistemologias, teorias, conduções e sentidos que foram utilizados para a análise da pesquisa. Utilizo de Spink e Frezza (2013) para contextualizar a produção de sentido através da apreciação das práticas discursivas, que para essa dissertação, formam um conjunto de saberes que surgem enquanto escuta e prática social no ambiente laboral.
No quarto capítulo, destacamos as linhas de análise que surgiram após a contextualização dos dados: Estou grávida: o meu trabalho me acolhe? Preciso pausar para o cuidado: sentidos do processo; Chorei quarenta dias e quarenta noites: puerpério; Retornando ao trabalho: produzir é preciso. Tais reflexões surgiram a partir da coleta de dados que, em suma, possuíam algumas características em comum e que foram organizadas enquanto temáticas principais.
E, por fim, apresentamos o protocolo de acolhimento como proposta institucional para implementação de melhores práticas de cuidado a mulheres/mães em ambientes organizacionais. Pretendemos através desta dissertação, expandir os olhares das organizações de trabalho para esse processo de acolhida à mulher/mãe, viabilizando a implementação do mesmo nos ambientes organizacionais, orientando estratégias de melhor enfrentamento e acolhimento dessa trabalhadora.
1.1. Da autora e seu campo de pesquisa
Ao descrever os processos maternos diante da volta ao ambiente de trabalho, compreendo a dificuldade para iniciar tais escritos, pois os mesmos falam e tocam em minha história e percurso enquanto mulher, mãe e trabalhadora. Para legitimar minha fala, em primeira pessoa, na introdução desse projeto, caminho junto aos escritos de Djamila Ribeiro (2017) sobre o que tange e concerne o lugar de fala. Este surge a partir de uma ideia ou ponto de vista, que pode ser próprio do sujeito enquanto pertencente a temática, ou na proposta epistemológica de historiador sobre um tema.
Como o caminho percorrido por tais escritos delimita o lugar de fala como aporte principal para descrever conhecimentos sobre uma temática, é importante que a pesquisadora que vos fala, apresente-se ao público que a lê. Portanto, destaco que sou mulher, mãe, cis gênero, docente, branca, classe média, e que por mais que trabalhemos a escrita diversificada e plurifacetada, trago mesmo assim, o lugar social de privilégio em minha fala. Desse modo, percorremos a avenida da reflexão sobre lugares e formas de produzir sentido, acreditando que a produção acadêmica esmiuçada que destaca gênero, classe e raça é o caminho para diminuir as diferenças sociais, ainda trazidas nos trabalhos acadêmicos.
É possível falar de lugar de fala sobre vários modos, pois todos temos um lugar para expor nossas reflexões, e no que pertence a esse estudo, ele se configura como o meu lugar de fala, de todas as mulheres que participaram dela e todos os outros sujeitos que decidam deleitar se ao projeto enquanto leitura e produção de conhecimento. Desse modo, como proposta de investigação dentro de um programa de Mestrado profissional, voltado para a Gestão Empresarial, alinhamo-nos a uma sugestão é olhar diferenciado ao público estudado, como meio de inserção para um protocolo voltado ao acolhimento das mulheres/mães docentes que retornam aos ambientes de trabalho após a experiência da maternidade.
Ainda discutindo importâncias sobre os conteúdos destacados nessa pesquisa, é tarefa relevante informar que as discussões trazidas ao longo do projeto estão pautadas em uma perspectiva feminista de gênero, que é cerne central de todas as pesquisas realizadas até hoje pela pesquisadora aqui destacada, que no período de graduação afunilou seus projetos e leituras a cerca de mulheres/mães no período do parto, que em um primeiro momento foi participante do projeto de extensão “Parto humanizado” e posteriormente monitora. Dessas leituras e participações inloco6 dos partos, surgiram muitos trabalhos, inclusive hoje, no exercício da função docente, coordeno7 um projeto de extensão que abrange o pré-natal psicológico e a contribuição da psicologia no parto, pós parto e puerpério8.
Diante das escutas realizadas nos contextos de imersão sobre as demandas dos conteúdos gravídicos puerperais9, a reflexão do retorno ao ambiente de trabalho após a experiência da maternidade surge como indicação própria e compartilhada com outras mulheres em rodas de escuta direcionadas e conversas informais.
Desse modo, destaco em poucas palavras, os sentidos que me trouxeram até aqui e o conhecimento reflexivo que será introduzido na escrita através de uma epistemologia social que engendra os caminhos do trabalho da mulher/mãe e os processos e sentidos que caminham juntos no modo operante das empresas.
2. PRODUZINDO CONHECIMENTO SOBRE MATERNIDADE E TRABALHO
Esta sessão é o trabalho de uma revisão cautelosa da literatura que contribui para um apanhado completo dos trabalhos produzidos com a semelhança do tema abordado neste projeto. Luna (1997) discorre que a revisão de literatura é o resultado de uma melhor localização da questão de pesquisa ou ajustamentos necessários para focar melhor o objeto pesquisado. A revisão de literatura encontra diante das pesquisas que mostram o estado atual da área pesquisada, as lacunas que podem surgir quanto às teorias e formas de pesquisas.
2.1. Pesquisa, revisão e resultados
Para uma descrição cuidadosa e uma compreensão sobre o passo a passo realizado na revisão bibliográfica, utilizei-me de uma base teórica com produções realizadas que contextualizam as formas corretas de obter o processo de revisão. Desse modo, os estudos de Ribeiro, Martins e Lima (2014) e estudos de Sampaio e Mancini (2007) serviram como aporte sobre o processo de sistematização.
Ribeiro, Martins e Lima (2014) apontam que a revisão bibliográfica é uma fonte de informações que se utiliza da literatura escrita sobre determinada temática como forma de pesquisa mais cuidadosa e intensiva. Esse processo é útil para acoplar todas as análises feitas com o tema proposto, identificando nesse processo falhas ou melhorias que podem ser realizadas em pesquisas futuras. “Ao viabilizarem, de forma clara e explícita, um resumo de todos os estudos sobre determinada intervenção, as revisões sistemáticas nos permitem incorporar um espectro maior de resultados relevantes”. (SAMPAIO; MANCINI; 2007 p.84)
Sampaio e Mancini (2007) descrevem os passos a serem seguidos como etapas que formam o método de revisão sistemática, são eles: passo1) Definição dos termos de pesquisa; asso 2) Buscando as evidências em plataformas de dados; passo 3) Revisão e seleção dos estudos de forma criteriosa; passo 4) Medir a quantidade metodológica dos estudos encontrados e passo 5) Breve apresentação dos resultados encontrados.
Para definir os termos que foram utilizados como “descritores10”, utilizei a base de dados do sistema de descritores em Ciências da saúde (DeCs) que fica localizada na plataforma virtual da Biblioteca de saúde (BVS). A escolha pela busca de tais descritores deu-se pelo fato de a plataforma ser a única a apresentar um Thesaurus11, que é organizado e apresenta uma resolução que auxilia a busca com termos mais secos e precisos.
A partir das buscas realizadas, encontrei os seguintes termos de pesquisa:
Quadro 1: Definição a partir do Thesaurus da BVS
Descritores | Sentido |
MATERNIDADE | Ato de fazer o papel de pai ou mãe ao dar cuidado, alimento e proteção ao filho, realizado pelos pais biológicos ou substitutos. Os pais apoiam as crianças através do exercício da autoridade e através da resposta comportamental, constante, enfática e apropriada, às necessidades da criança. Difere de EDUCAÇÃO INFANTIL pelo fato de que na educação infantil a ênfase está no ato de treinar e formar a criança e na interação entre pais e criança, enquanto em PODER FAMILIAR, a ênfase está na responsabilidade dos pais e no fato do seu comportamento servir de exemplo para a criança. |
TRABALHO | 1) Ocupação em serviço público ou privado, com remuneração. 2) Força de trabalho: Conjunto da população ocupada – pessoas com trabalho, empregadas ou autônomas e aquelas que trabalham sem remuneração em ajuda a membros da família – mais população desocupada – pessoas com disponibilidade para assumir trabalho (IBGE). |
É importante destacar que ao buscar trabalhos com os termos Maternidade e Trabalho na plataforma de dados SPELL, não surgiram trabalhos publicados, desse modo, modifiquei o primeiro descritor e acrescentei o termo “Feminino” somado ao descritor já existente (Trabalho + Feminino) para que assim os dados referentes a essa plataforma pudessem surgir. Em sequência acrescentei o termo destacado na tabela de descritores retirados da BVS.
Quadro 2: Definição a partir do Thesaurus da BVS com o acréscimo do terceiro termo de pesquisa
Descritores | Sentido |
MATERNIDADE | Ato de fazer o papel de pai ou mãe ao dar cuidado, alimento e proteção ao filho, realizado pelos pais biológicos ou substitutos. Os pais apoiam as crianças através do exercício da autoridade e através da resposta comportamental, constante, enfática e apropriada, às necessidades da criança. Difere de EDUCAÇÃO INFANTIL pelo fato de que na educação infantil a ênfase está no ato de treinar e formar a criança e na interação entre pais e criança, enquanto em PODER FAMILIAR, a ênfase está na responsabilidade dos pais e no fato do seu comportamento servir de exemplo para a criança. |
TRABALHO | 1) Ocupação em serviço púbico ou privado, com remuneração. 2) Força de trabalho: Conjunto da população ocupada – pessoas com trabalho, empregadas ou autônomas e aquelas que trabalham sem remuneração em ajuda a membros da família – mais população desocupada – pessoas com disponibilidade para assumir trabalho (IBGE). |
FEMININO | 1) Mulheres que estão envolvidas em atividades lucrativas geralmente fora de casa. 2) Trabalho feminino: refere-se ao trabalho remunerado exercido por mulheres. |
Para a escolha das plataformas a serem usadas, utilizei a opção através das contribuições que cada base de dados poderia fornecer a pesquisa enquanto funcionalidade. No que tange a essa pesquisa, foram utilizadas a Base de dados Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), SciELO (Scientific Electronic Library Online) e SPELL –
Scientific Periodicals Electronic Library a partir de critérios como:
1) SciELO – Scientific Electronic Library Online: por apresentar uma grande variedade de trabalhos brasileiros, sendo primordial para a busca intensiva que essa pesquisa se propõe.
2) SPELL – Scientific Periodicals Electronic Library: por ser uma plataforma específica de publicações particularmente da área da administração pública e de empresas, contabilidade e turismo. As pesquisas realizadas na plataforma mostram o alcance da temática trabalhada em projetos científicos especificamente nas áreas citadas.
3) CAPES – Base de dados Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior: a plataforma trata-se de um apanhado geral de dissertações e teses defendidas nos programas de pós-graduação brasileiros que servem como base teórica para a temática proposta.
Utilizei como descritores os termos (maternidade e trabalho; trabalho feminino), adotando as seguintes direções: 1) Período: considerei o período de 1981 a 2019 tendo em vista a importância do primeiro trabalho publicado com a temática explorada; 2) Idioma: fiz um levantamento de dados dos trabalhos brasileiros publicados e em seguida considerei as citações feitas nos mesmos para assim inserir os trabalhos em outros idiomas; 3) Número de publicações realizadas por ano encontrado e 4) Número de publicações por estado brasileiro.
Ao realizar a pesquisa com os indexadores (maternidade e trabalho) percebi que o termo “trabalho” obteve diversos significados, inclusive sua alusão a temática parto, associada ao termo “trabalho de parto”, dessa forma, dos 412 resultados encontrados na plataforma SciELO apenas alguns estavam associados a temática voltada às organizações de trabalho. Com as demarcações de publicações brasileiras, encontrei 240 trabalhos e ao procurar de forma mais intensiva as publicações que surgiram mediante as temáticas mais aproximadas ao tema proposto, encontrei 37 artigos em português.
Na base de dados SPELL não foram encontrados resultados com os indexadores (maternidade e trabalho), encontrando-se apenas 7 artigos relacionados aos termos (trabalho feminino), desses, apenas 4 se encaixam na temática proposta.
Pesquisando a plataforma CAPES, com a realização da pesquisa (maternidade e trabalho) encontrei uma quantidade de 932 trabalhos publicados em português, desses trabalhos muitos contextualizaram o trabalho também no âmbito do parto, trazendo contextos da área da saúde e enfermagem, desses trabalhos apenas 83 se encaixavam na perspectiva do tema proposto.
Seguem abaixo os quadros para melhor definição dos dados encontrados.
Quadro 3: Revisão e seleção dos estudos através dos temas
Tipo de produção | Maternidade e Trabalho | Trabalho Feminino |
Artigos via SciELO | 37 | – |
Artigos via SPELL | – | 4 |
Dissertações via CAPES | 28 | – |
Teses via CAPES | 9 | – |
Quadro 4: Revisão e seleção dos estudos através dos anos de publicação
Ano de produção | Quantidade (Artigos – SciELO e SPELL) | Quantidade (Dissertações – CAPES) | Quantidade (testes – CAPES) |
1981 | 1 | 1 | – |
1992 | 1 | 1 | – |
1997 | 2 | 1 | – |
2003 | 1 | 2 | 1 |
2004 | 1 | 1 | – |
2006 | 2 | 2 | 1 |
2007 | 3 | 2 | – |
2010 | 3 | 2 | 1 |
2011 | 4 | 2 | 2 |
2012 | 4 | 3 | – |
2014 | 3 | 2 | 1 |
2015 | 4 | 3 | – |
2016 | 8 | 3 | 1 |
2018 | 4 | 3 | 2 |
Total | 41 | 28 | 9 |
Quadro 5: Revisão e seleção dos estudos através dos Estados por publicação
Estado | Quantidade (Artigos – SciELO e SPELL) | Quantidade (Dissertações – CAPES) | Quantidade (testes – CAPES0 |
SP | 12 | 9 | 3 |
RJ | 8 | 6 | 2 |
MG | 2 | 1 | – |
PE | 4 | 2 | 1 |
BH | 5 | 1 | 1 |
PR | 3 | 2 | 1 |
SC | 2 | 2 | 1 |
RS | 1 | 1 | – |
BA | 1 | 1 | – |
ES | 1 | – | – |
PA | 1 | 2 | – |
CE | 1 | 1 | – |
Total | 41 | 28 | 9 |
No quadro 5 é evidente a concentração de trabalhos realizados nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro que acumulam os maiores números de publicações. Outro fator interessante é que não encontrei dissertações e teses com a temática maternidade e trabalho em programas de Mestrado e Doutorado da área da administração pública e de empresas, contabilidade e turismo, deixando mais claro a importância do estudo dessa temática em programas de Mestrado em Gestão Empresarial.
Após todas as análises sobre quantidade, tipo, produção, anos de publicação e estados, busquei analisar de forma qualitativa quais os indicadores de maternidade e trabalho foram utilizados nas produções, para tal atividade, pensei na resposta de uma pergunta disparadora: “o pensar sobre maternidade e trabalho, busca alternativas para um olhar diferenciado para a mulher/mãe no ambiente de trabalho?”.
Diante do questionamento, é percebido que os trabalhos acadêmicos realizados buscam trazer o conteúdo vivencial das dificuldades encontradas pela mulher na volta ao trabalho após a experiência da maternidade, impactos gerados por essa volta, considerações teóricas e históricas sobre a construção materna e a inserção da mulher no ambiente de trabalho público e não mais privado, políticas públicas, legislações associadas a temática e outros, mas nenhum trabalho encontrado nas publicações articulou-se enquanto estratégia ou protocolo prático que pudesse ser usado por empresas para auxiliar o processo de volta dessa mulher/mãe ao ambiente de trabalho.
Tiburi (2018) aponta que o trabalho é uma necessidade humana e foi imposta como tal, seria o oposto de tudo o que nos remete aos deleites, e não é fácil obtê-la em uma sociedade arraigada no capitalismo. As mulheres trabalham desde muito cedo, estão destinadas as atribuições de cunho privado (cuidado do lar e dos filhos) e mesmo quando subjugam seu destino e empoderam-se nos lugares públicos acabam trabalhando muito mais do que homens, que de um modo geral, não fazem tarefas de casa e, ao cuidado dos filhos, demandam a função de “ajudantes”.
Desse modo, as mulheres quando inseridas no ambiente de trabalho, em sua grande maioria acabam acumulando várias funções, infelizmente associadas a uma divisão sexual de trabalho. A maternidade enquanto construção social, além de produzir também acúmulo de funções, acaba por agregar o fator “culpa” em todo o processo vivencial da maternagem. Zanello (2018) discute que o conceito de maternidade mudou ao longo dos anos, chegando as configurações de mãe “endeusada” e filho “rei”, que fere de forma categórica o valor que é dado ao homem em um ambiente de trabalho e o mesmo valor atribuído a uma mulher.
Ao trazer a luz os conceitos primordiais que estão associados às entrelinhas do cuidado materno e o ambiente de trabalho, discutindo gênero e contextualizações sociais, fica mais claro entendermos as mais diversas dificuldades que as mulheres podem sentir ao retornar ao trabalho, tendo em vista mudanças expressamente claras que acontecem após a chegada de um filho. Desse modo, pensar em alternativas para que esse retorno aconteça da forma mais adequada e menos impactante possível é de suma importância.
Para delimitar o espaço dessa mulher que volta ao ambiente de trabalho após a experiência da maternidade, precisamos pensar a partir do lugar de fala que essa volta suscita nela enquanto feminino e no ambiente ao qual ela retorna, Ribeiro (2017) reflete sobre esse lugar de voz e fala e a importância de inseri-lo nas discussões e aprimoramentos sobre o pensar, agir e produzir mudanças. Pensar diante de um lugar de fala é atribuir sentido a algo não discutido, é romper com o silêncio de quem foi se adequando às pequenas possibilidades que foram dadas.
Portanto, em geral, os trabalhos produzidos nos últimos 38 anos foram somando conhecimentos sobre a inserção dessa mulher nos ambientes de trabalho após a experiência da maternidade e trazendo à luz discussões extremamente pertinentes sobre as dificuldades envolvidas nesse processo, mostrando a fragilidade que os espaços de trabalho possuem quando o assunto é receber de volta a mulher agora mãe no ambiente de trabalho e todas as nuances da maternagem, como: amamentação, vínculo mãe-bebe, dupla jornada de trabalho, puerpério, entre outras.
3. CONFIGURAÇÕES DA MATERNIDADE
Aqui, farei uma explanação sobre conceitos importantes para a trajetória teórica dessa pesquisa, explorando pontos de vistas diversos sobre as dimensões complexas do mundo materno e suas implicações na vida das mulheres mães e trabalhadoras, bem como, caminhos legais e proposta norteadora para efetivação de um maior cuidado e acolhimento nos ambientes de trabalho. É importante destacar que a teoria utilizada como aporte para alguns nortes reflexivos não será tida como a única e verdadeira forma de vivenciar e visualizar a maternidade, pois acredito que a mesma não possui fórmula pronta e nem caminho ideal.
3.1. Processo histórico e cultural sobre maternidade e trabalho
A inserção da mulher no ambiente de trabalho mudou o curso da história. Antes atividades realizadas fora do lar eram atribuições quase que exclusivamente masculinas, circunstância vista como natural e inquestionável atrelada a uma condição irregular de coação e poderio, em que as mulheres ocupavam posições secundárias, o que segundo Beauvoir (1970) induziu a sociedade a pensar na mulher como coadjuvante, levando-as a expressão conhecida até hoje como “o segundo sexo”.
O código civil Brasileiro de 1916 que foi revogado pela lei nº 10.406, de 2002, apontava em seu capítulo I Das pessoas naturais, o artigo 6º que trazia a premissa sobre “os incapazes” que se relaciona a certos atos ou a maneira de exercê-los. Em seu segundo inciso, aponta a mulher casada como um desses ‘sujeitos incapazes’ de exercer plenamente seus atos. Após o casamento, a mulher perdia a autorização para o trabalho e autonomia nas transações econômicas, pois pertencia a seu cônjuge, legitimando o seu lugar desprivilegiado mediante ao poderio masculino.
Outra condição para o estabelecimento de lugares sociais, foi delimitada pela divisão sexual dos papéis, que estipulava o caminho do labor e do trabalho aos homens, e as mulheres os afazeres da maternidade e do amor. Segundo Zanello (2018) o amor romântico tomou proporções maiores no século XII com a os trovadores que implementaram em seus versos as versões das mulheres amadas e idealizadas e com o advindo da união dos casais através da igreja e do sacramento. Que surge também na mesma época, como constantes em relação ao controle da sexualidade e dos prazeres femininos, instituindo por via da maternidade uma forma de controle também de sua condição de alteridade e de tomada de decisão. Falar de divisão sexual do trabalho é discutir aquilo que vem sendo ao longo dos anos um caminho estipulado para mulheres, sobre o que devem ou não fazer e onde devem ser vistas. “A divisão sexual do trabalho incide sobre mulheres e homens em conjunto com sua posição de classe e com o racismo estrutural. Não é possível assim, pressupor que os privilégios estão sempre entre homens”. (BIROLI, 2018 p.22)
As diferenças sociais precisam ser vistas não apenas pela ótica do gênero e sim pelo caminho que percorremos diante da classe e da raça das mulheres, que se impõem diferenças sociais ainda mais gritantes quando analisadas. Saffioti (2013) aponta que as mulheres de classes mais altas, não conseguem dominar os homens de sua mesma classe nos aspectos de inserção no mercado de trabalho, já quando analisamos pelo caminho de raça e classe, identificamos que essa mulher domina homens e mulheres de classes mais baixas.
A participação cada vez maior da mulher no mercado de trabalho é uma constante desde os anos 70 em todos os países ocidentais. Segundo Bassanezi (1997) a mulher passou a compor a população economicamente ativa e na ocupação assalariada do país, cada vez mais viva e diversificada, não demonstrando nenhuma disposição ao anacronismo, apesar dos colapsos que assolaram o país e o fato das desigualdades salariais entre os gêneros.
A inclusão feminina no mercado de trabalho promoveu possíveis alterações expressivas na vida de algumas mulheres, conforme aponta Spíndola (2000, p.595)
Esse processo social adquiriu dimensão estrutural no mundo contemporâneo, sendo, junto ao aparecimento de métodos anticoncepcionais mais seguros, um dos fatores que mais radicalmente contribuíram para a redefinição do lugar social da mulher,com consequências decisivas nas relações familiares que, gradativamente, foram modificadas em sua organização, na divisão de tarefas domésticas, na educação dos filhos.
As posições sociais dos membros da família moderna alteraram-se a partir do lugar conquistado pelas mulheres e atrelado a essa modificação o seu posicionamento no mercado de trabalho possui um fluxo contínuo desde então. A vida das mulheres no ambiente do trabalho está longe de ser um grande paraíso, pois segundo Probst e Ramos (2013) às pesquisas demonstram que existe persistência de alguns preconceitos que causam dificuldade as mulheres na ascensão de suas carreiras, um dos exemplos é o salário mais baixo, mulheres recebem 61% do salário pago aos homens pelas mesmas atividades. Essa tendência acontece relativamente com as profissões que possuem uma remuneração mais baixa, pois ao longo do crescimento na carreira, as mulheres tendem a ter seus talentos mais bem remunerados, e chegando ao topo de suas carreiras, igualam-se aos homens.
O aumento do trabalho feminino é um dos fatores que emergem enquanto mudança nas condições sociais da mulher, que possuem um grande impulso relacionado a uma maior procura de escolarização e pela transformação de sua identidade cultural e pessoal. Diante dos desafios que a mulher encontra na inserção ao ambiente de trabalho é ter que direcionar as outras atividades que também exerce além dessa fora do lar, como uma dupla ou tripla jornada de trabalho quando refletimos sobre as suas atividades dentro do lar. Segundo Furlanetto (2001, p. 36)
A mulher que desenvolve atividade fora do lar enfrenta, muitas vezes, dupla ou até tripla jornada de trabalho. Ocupa-se em desempenhar funções profissionais para ajudar o orçamento doméstico e ainda, no seu dia a dia, preconceitos de toda ordem: ganhar salário menor que o homem que executa a mesma tarefa, discriminação por ser mulher, a obrigação de estar sempre bonita e pronta para vencer as dificuldades de uma sociedade machista.
Apesar dos grandes obstáculos enfrentados pelas mulheres, as demandas de trabalho se abrem cada vez mais para o lugar feminino em grandes lideranças. A mulher passou a considerar o trabalho e a carreira como um fator extremamente importante para alcançar espaços antes impensados e mudanças culturais importantes.
Multiplicidade de papéis é típica do universo feminino e pode ser entendida como algo que pode trazer benefícios, Segundo Jonathan (2005) a jornada exacerbada de trabalho feminino leva ao reconhecimento de um talento para fazer e pensar várias coisas ao mesmo tempo. O mesmo autor aponta que pesquisas realizadas com mulheres que possuem uma dupla jornada de trabalho demonstram índices mais altos de bem-estar e contentamento do que aquelas que não trabalham. O que corrobora com o sentido de que para algumas mulheres a maternidade possui uma significação positiva quando a relacionamos com as atribuições trabalhistas.
Bruschini (2006) destaca que a presença da mulher no ambiente de trabalho, fora do lar, passou a não ter mais apenas a perspectiva de sustentação familiar e sim passou a ter um lugar de bem-estar e satisfação subjetiva e própria, sendo o trabalho uma referência importante e fundamental para a construção social, influenciando de forma categórica a construção da imagem que a mulher possui de si e do mundo ao seu redor. Com isso cabe as reflexões sobre o processo de mudança social do percurso das mulheres no trabalho até hoje, pois mesmo com os avanços e conquistas, as barreiras ainda permanecem, algumas de forma invisível e outras claramente observadas.
A relação da mãe e o engajamento no trabalho vêm sendo discutida por muitos teóricos. É um fenômeno que comporta vários conceitos subjetivos e instigantes que levam as pesquisas a encontrarem cada vez mais indicadores, tais como: dificuldades de conciliar trabalho e filhos, dificuldades do retorno ao trabalho, etc. Martins, Abreu e Figueiredo (2014) apontam que o momento de transição da volta ao trabalho é um momento de reorganização do ciclo maternal e das famílias, em que todos precisam entrar em conciliação para que o planejamento relacionado ao retorno da atividade laboral aconteça de forma tranquila, para a mulher e para o seu filho.
Dejours (1987) reflete sobre o lugar do trabalho na vida dos sujeitos, tendo como ponto de partida, o aspecto do adoecimento que o mesmo pode gerar e o fator prazer que também pode ser vinculado à atividade do labor. Para algumas mulheres o fato de trabalhar fora do lar é um fator positivo, sendo este um dado que gera muito mais satisfação do que adoecimento. Maldonado (1985) aponta enquanto característica do puerpério12 o fato da busca por um sentido fora daquele ambiente materno, pois algumas mulheres encontram-se em busca de sua satisfação pessoal, já que o fator satisfação materno acaba de ser preenchido.
Ao contrário da declaração de que a mulher quando trabalha fora do lar não consegue cuidar bem de seus filhos, D’Affonseca, Cia e Barham (2014) apontam pesquisas que sugerem que as mulheres que trabalham fora de casa satisfazem as necessidades emocionais, físicas e intelectuais delas e de seus filhos. A satisfação com o emprego e um relacionamento satisfatório com o fator maternal é extremamente importante para a saúde mental e física da mulher.
Mesmo com o aumento da participação feminina no mercado de trabalho a sua participação em cargos mais altos ainda é pequena, Rocha (2014) aponta o fenômeno “teto de vidro” como sendo uma barreira importante para a chegada das mulheres ao topo de suas carreiras. Esse fenômeno teria como principal característica a disposição da mulher ao acolhimento, cuidado dos filhos e do lar, tendo em vista que elas possuem uma maior predisposição a largar suas atribuições ao primeiro chamado daqueles que estão em sua lista de prioridades.
Atualmente as mulheres procuram satisfação e não apenas um trabalho só para ter um significado fora de seus lares, com isso cresce o número de especializações, cursos, mestrados e doutorados realizados por mulheres no Brasil. Dados do IBGE em pesquisa realizada de 2016 apontam o fato de mulheres estudarem mais e ganharem menos que os homens, na aba que sintetiza a maior escolarização das mulheres, elas pontuam na margem de 73,5% contra 63,2% dos homens.
Andrade (2013) aponta que o perfil despojado, organizado e multitarefa da mulher vem sendo um aspecto desejado por líderes de grandes empresas, pois conseguem desenvolver suas funções com qualidade e ao mesmo tempo não deixam escapar características importantes e subjetivas de sua atuação. Elas estão conseguindo cada vez mais conciliar o trabalho com a vida profissional justamente por essa característica importante de conseguir realizar várias funções e não perder o foco em nenhuma delas.
Badinter (2011) reflete sobre a questão da culpa que grande parte das mulheres carregam pela ausência nos cuidados dos filhos e os entraves relacionados à volta ao trabalho com a mesma potência de antes. O processo de descoberta materna e o reencontro da mulher com ela mesma é árduo e muitas vezes sofrido e precisa ser visto como uma ação natural, em que toda mulher que passou pela experiência da maternidade terá que vivenciar, umas de forma mais intensa e outras de forma mais tranquila.
A mesma autora também reflete sobre um fenômeno que acontece na França, intitulado como “a criança rei” ou “a criança é o rei”, nessa perspectiva, os desejos maternos são menos importantes, pois a criança é tida como a principal autora da história dessa mulher-mãe.
Nesse processo existem os entraves da escolha da maternidade, pois a mulher na atualidade encontra-se no ápice da maturidade cultural esperada a muito tempo e por esse motivo, encontra-se no dilema sobre ser mãe e ter outras atribuições. Culturalmente a saída da mulher de seu lar para dedicar-se a outras atribuições fora do domicílio, ainda é vista com preconceito e carrega diversas questões atreladas a essa discussão, que somam fatores ao aspecto cultural, os subjetivos e sociais.
No século XX as discussões que giram em torno da insegurança das mulheres mães e trabalhadoras é alvo de preocupação, pois além de trabalhar fora e dentro do lar, a mulher carrega a “culpa”. Biroli (2018) aponta que essa condução social não apenas aprisiona, mas é uma cadeia de um sistema social interminável, pois ao mesmo ponto que liberta a mulher supostamente do trabalho no lar, conduz o imperativo da culpa, posicionando a mulher em um lugar precarizado de bem estar-individual, gerando tensão entre autonomia e cuidado dos filhos.
Zanello (2018) conduz uma reflexão sobre a construção social da maternidade, que sofreu uma grande transformação ao longo dos anos. Antes, os filhos eram cuidados por outras mulheres de camadas mais baixas, as ditas “amas de leite”, posteriormente cuidadas pelas mulheres, independente da camada social ao qual ela pertencia. Criou-se então um ideal de maternidade que até hoje discutimos, a mãe que ama seu filho incondicionalmente, misturando os termos: maternidade, amor e cuidado. “Da afirmação que toda mulher poderia ser mãe, a medicina concluiu que a mulher não poderia ser outra coisa que mãe” (p. 132).
3.2. Reflexões sobre gravidez, licença maternidade e pós-parto
Aqui entrelaçamos os dados existentes de muitas autoras sobre maternidade, inclusive os destaques importantes sobre as fases e os períodos gestacionais. É da minha reflexão na pauta discutida aqui, a flexibilidade do pensamento sobre a gestação, pois acredito que a mesma não é um processo homogêneo e muito menos uma categoria padrão. A maternidade apresenta-se a cada mulher de um modo diferente de sentir, inclusive, diferente não só pelo modo do “ser muher/mãe”, mas pela condição de gênero, raça e classe que perpassa as discussões de maternidade.
Segundo Adrião e Rodrigues (2019) a psicologia, que é modo condutor de pensamento dessa autora que vos escreve e dos caminhos aqui percorridos, possui uma estrutura pautada nos estudos embranquecidos de pensamento, em que em sua maior produção, o conteúdo racial não é implementado em suas discussões, ou seja, são trabalhos em sua maioria escritos por um olhar sobre algo relacionado a universalidade do sentir. Desse modo, como a condução desse trabalho é pautado no engajamento da não homogeneização dos pensamentos sobre a maternidade, os escritos aqui destacados, são apontamentos sobre uma ótica não enviesada de pensamento, conduzido por uma flexibilização de teorias.
Dando seguimento as reflexões dessa pauta, a Biblioteca Nacional de Saúde (BVS)13 pontua que a gravidez é um “Estado durante o qual os mamíferos fêmeas carregam seus filhotes em desenvolvimento (EMBRIÃO ou FETO) no útero (antes de nascer) começando da FERTILIZAÇÃO ao NASCIMENTO”.
Para Maldonado (1985) a gravidez faz parte de um processo de passagem que algumas mulheres vivenciaram após a escolha ou não de gestar uma criança, pela gama de fatores físicos e psicológicos que envolvem modificações e reestruturações. Uma dessas mudanças é o reconhecimento de uma identidade nova, que surge, ao desvelar da maternidade. Essa nova identidade, que carrega sobrepostos históricos, transporta também conteúdos sócioeconômicos.
A gestação possui três grandes marcos constitutivos, que são: o primeiro trimestre, o segundo trimestre e o terceiro trimestre. O primeiro trimestre envolve fatores como hipersonia (sente-se mais necessidade de dormir do que o normal), náuseas e vômitos, mudanças hormonais intensas e aumento da sensibilidade física e afetiva, que segundo Soifer (1980) são características que compõem o trimestre mais delicado da gravidez.
O Segundo trimestre é considerado mais estável do ponto de vista emocional, o bebê começa a realizar os seus primeiros movimentos e passa a crescer muito mais do que nos meses anteriores, o desejo sexual diminui e as alterações no esquema corporal aumentam. Já o terceiro trimestre é carregado de picos de ansiedade diante da chegada do filho e de todos os medos decorrentes desse novo ciclo.
Portanto, a gestação abarca processos delicados que somam um repertório de mudanças físicas e psicológicas na vida de uma mulher, segundo Pedreira e Leal (2015) essas percepções irão variar diante do contexto sociocultural e pessoal. A gravidez precisa ser observada em sua construção histórica e abarcar a completude do espaço privado e público que é fator primordial diante das mudanças ocorridas na sociedade, nesse contexto de mudanças precisamos refletir sobre a mulher/mãe trabalhadora.
A licença maternidade é a configuração da construção de pausa para o cuidado de si e do filho para mulheres que possuem uma inserção nos ambientes de trabalho, mas apenas uma parcela das mulheres (legalmente) possuem o direito à licença maternidade, pois ela vai variar diante das especificidades da Consolidação das leis do trabalho (CLT).
No ano de 1943 foi promulgada a lei que tange o trabalho feminino e a contextualização da licença maternidade, desde então, as mudanças foram acontecendo perante período de afastamento da gestante, que pode variar entre 120 e 180 dias, 120 dias para a iniciativa privada e 180 dias para o setor público, segundo informações da página oficial do Senado Federal14.
Em 06 de abril de 2018 foi votada a proposta que estende a licença maternidade de 180 dias também a trabalhadoras da iniciativa privada, pois segundo a Organização Mundial de saúde (OMS) o período de 6 meses para o aleitamento materno exclusivo é o ideal para um adequado cuidado à saúde do bebê. As empresas da iniciativa privada que decidiram estender seu prazo de licença para 180 dias no programa Empresa Cidadã15, recebem benefícios fiscais.
Andrade (2016) aponta que a problemática no que tange a licença maternidade abarca conteúdos potencialmente causadores de angústias como: ansiedades na quebra do processo de vínculo existente entre mãe e filho que podem ocasionar a diminuição do aleitamento materno antes do prazo pré-estabelecido pela OMS; cotejos diante da responsabilidade materna e trabalhista; questões pontuais e pessoais da história de vida da mulher que surgem após a experiência e vínculo materno perante a dor do “abandono” que surge ao deixar o filho para voltar as atribuições de trabalho e outros contextos que podem surgir ao despertar conteúdos próprios de cada mulher.
Abramo e Valenzuela (2016) refletem sobre uma mudança que ocorreu diante do tempo que as mulheres dedicam ao trabalho fora do lar, esse tempo tem aumentado ao longo dos anos e diminuído momentos no lar, no cuidado aos filhos, descanso e atividades de lazer. Nesse sentido, o impacto gerado tem uma ligação muito forte com o contexto vivenciado pela mulher no retorno ao trabalho após o tempo findado da licença maternidade.
Adentramos então as discussões sobre os conteúdos do pós-parto que abrangem uma grande quantidade de fatores assim como o período de gravidez. Kitzinger (1987) considera o momento de pós-parto como um “quarto trimestre de gravidez”, tendo em vista a sensibilidade, crises, mudanças, confusões, ansiedades e emoções que abarcam esse período. Nesse contexto podem acontecer os processos de depressão pós-parto que transmitem uma sensação de decepção, desilusão e fracasso na mulher.
Donath (2017) aponta que as mulheres não são apenas mães de seus filhos, são também mães de si mesmas, conhecer os inúmeros caminhos que leva a mulher à maternidade é o ponto de partida de nossas discussões. A autora caminha ao ponto da maternidade ser tão forte em nossa construção social, que acabamos por exercê-la com várias faces, incluindo a perspectiva do cuidado aos parceiros, que promulga em grande demasia o cuidado materno. “Esses desejos se devem em parte à necessidade de se adequar a norma de fertilidade, mas também podem refletir uma vontade institucionalizada, uma vontade que é resultado de uma mistura social e pessoal”. (p.43)
Emocionalmente, a maternidade é um momento delicado, pois a mesma suscitará caminhos diferentes para cada mulher, entender os processos maternos é um caminho longo e diversificado. Solnit (2017) reflete sobre o lugar da mulher e do sentir, diante das projeções sociais que marcam o seu modo de ser e que de uma certa forma, abrem caminhos para que ela seja quem deseja ser, obviamente, sendo marcada pelas suas escolhas quando as mesmas não caminham no fluxo social.
O processo de maternagem é interpelado pelos métodos subjetivos da culpa, que é considerado o sintoma do dispositivo materno segundo Zanello (2018). O fator culpa surge de diversas formas no pós-parto desde a sensação de não estar cumprindo o potencial (estereótipo) criado socialmente para a mãe (como abrir mão de um projeto próprio em decorrência dos filhos) a identificarem sentimentos como raiva, desamor, desespero, cansaço que emergem no cuidado aos filhos.
Maldonado (1985) aponta que nesse processo os fatores que estão associados ao ambiente também contribuem para as sensações e sentimentos que a mulher sentirá ao gestar um filho. A amamentação é fator importante que deve ser discutido dentro da perspectiva do pós-parto, pois é considerado também como um marco referencial, que dependendo da forma como a mulher insere-se novamente no ambiente de trabalho, essa interação mãe-bebê realizada pela amamentação e a importância dessa ação para a saúde do bebê podem ser prejudicadas.
Scott (1999) esclarece que as nossas condições de reflexões são em sua maioria pautadas em nossa perspectiva de gênero, ou seja, no nosso modo de conduzir os processos que estão atrelados às nossas vivências sociais e afetivas, portanto, os destaques realizados até aqui, perpassam formas do sentir que estão atreladas a maternidade, mas consideramos que não são as únicas formas de sentir, e que a partir desse ponto não podem ser vistas como algo universal, elas servem como ponte para muitas reflexões importantes para a condução desse trabalho, mas não serão as únicas sentidas e vivenciadas por mulheres.
Galvão e Toneli (2008) refletem sobre os caminhos do modo de condução de um sentido universal, que perpassa a ideia do que entendemos do ser mulher e que precisamos a partir desse modo, remodelar a nossa construção em cima dessa categoria, que sim é diversificada, e não única. São variedades de relações sociais que configuram essa construção, desse modo, os apontamentos aqui feitos, podem ser artigo de reflexão sobre essa construção da maternidade e de seus processos.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: PERCURSOS ENTRE POSSIBILIDADES E REALIDADES APLICADAS
Este capítulo destaca o pensamento teórico e epistemológico refletido a partir do projeto de implementação da pesquisa e o que de fato surgiu como possibilidade para que o mesmo fosse colocado em prática na coleta de dados. A entendendo como uma pesquisa qualitativa, é possível compreender a magnitude de caminhos que a mesma pode seguir, segundo Denzin e Lincoln (2006) a pesquisa qualitativa é uma maneira de investigação que abrange técnicas, conteúdos e espaços, ou seja, uma forma de coletar informações que trabalha com uma variedade de conteúdos empíricos.
“O pesquisador qualitativo pode assumir imagens múltiplas e marcadas pelo gênero: cientista, naturalista, pesquisador de campo, jornalista, crítico social, artista, autor, músico de jazz, produtor de filmes”(p.18). Dessa forma, destaco aqui as nuances do processo de escrita dessa dissertação.
4.1. Condicionantes da pesquisa
Como condicionantes da pesquisa, entendo os caminhos epistemológicos pensados para a metodologia desta dissertação, desse modo, destaco os caminhos teóricos que nos auxiliaram.
De acordo com Godoy (2010), a pesquisa qualitativa tem como objetivo a investigação dos fatos com o foco a ser averiguado, alcançando diversas explicações do que foi estudado, pela conclusão do desenho a partir do pesquisador. A pesquisa qualitativa insere-se como método crucial para encontrar através do que surge diante do contexto social existente, as melhores alternativas para abarcar a completude de dados viventes nesse estudo. (CRESWELL, 2014)
Denzin e Lincoln (2006), continuam pontuando, que o pesquisador de base qualitativa poderá ser como um “bricoleaur”, aquele que faz colchas, ou aquele que seleciona imagens as colocando juntas, como colagens ou montagens. O bricoleur trabalha com a construção de quebra-cabeças que somam sentidos metodológicos ou empíricos sobre um determinado tema ou produto, desse modo, coloco-me enquanto pesquisadora, que se utiliza da “bricolagem” para construir sentido através do lugar de fala feminina, de mãe, trabalhadora e mulher através da pesquisa em questão.
Ao iniciar esse ponto da pesquisa, preciso expor de onde parti e em que tipo de ciência e produção de sentido estou localizada. Desse modo, Donna Haraway (1995) aponta que a pesquisa a partir do contexto social abre mão do enviesamento objetivo e ideológico para abrir se a uma construção de sentido voltada a quem de fato o constrói e o fábrica, explicando assim o leque de possibilidades que irão além do debate geral da temática proposta, vislumbrando aqui o seu espaço “situado, parcial e localizado” (p. 10) enquanto conhecimento produzido.
Utilizamos a proposta de saberes localizados (HARAWAY, 1995), que insere a perspectiva a partir de um olhar feminista, de que os saberes são localizados, específicos, particulares, abordados por um ideal pessoal e privado de cada sujeito, em que cada pessoa vislumbra e deleita-se de forma única e detalhada sobre uma temática, desse modo, é importante destacar que a pesquisa é realizada por um lugar de fala feminino que através da escuta direcionada (de uma mulher para mulheres) ressalta a importância do compromisso ético e social afim de contribuição para melhorias a garantia de direitos das mulheres/mães nos ambientes organizacionais.
Como aporte teórico-metodológico utilizamos o construccionismo social que segundo Spink (1999) trata-se de um caminho teórico que abrange a evolução social caminhando por um assunto em que o próprio sujeito descreve e contextualiza o mundo em que vive, entendendo que conhecimento é algo que fazemos uns com os outros a partir dos diversos olhares sobre o tema abordado. Spink, Medrado e Méllo (2014) pontuam que a perspectiva construcionista está para além de uma única abordagem, pois existem diversas formas de fazer pesquisa e sentido, trata-se de compreender os nossos processos construídos com bases sociais, históricas e culturais, questionando e entendendo que nossa construção enquanto sujeitos, tornam-se fatos por via dos processos sociais instituídos e não por uma cadeia pré-determinada de acontecimentos.
Spink e Medrado (2014) apontam que dar sentido ao mundo é uma força poderosa e que a base da característica de produzir sentido através do cotidiano e das práticas discursivas é entender “três dimensões básicas: linguagem, história e pessoa” (p.23). A primeira diz respeito à forma como cada sujeito e grupo se comporta através da maneira que produz linguagem e conhecimento através da locução, entendendo que essa prática não possui uma teoria pronta, e sim, surge através dos sentidos apresentados. A segunda perpassa os caminhos da história e do tempo, que interpreta a forma como a linguagem modifica-se através dos espaços de temporais que a produziram, reinterpretando as formas e sentidos produzidos. E a última e não menos importante, a pessoa, que é produzida aqui como foco, sem privilegiar a individualidade, entendendo que somos seres sociais e grupais.
Para afunilar as características metodológicas da pesquisa, utilizei a produção de sentido no cotidiano (SPINK, 1999) que emerge de uma proposta dentro dos estudos da Psicologia Social, servindo como base de observação e escuta dos sujeitos pesquisados a partir de práticas discursivas, ou seja, o interesse da pesquisa é voltado a fala e a produção desse discurso dentro do contexto do Centro Universitário em questão, mediante a edificação de mapas dialógicos (SPINK; MENEGON; MEDRADO, 2014).
4.2. Possibilidades de aplicação
Nesta sessão iremos contar os caminhos metodológicos pensados a partir do desenrolar da pesquisa, que se modificaram ao longo da coleta de dados e das dificuldades que emergiram nas impossibilidades. Para iniciarmos destaco que a metodologia pensada foi plástica e flexível, em função das singularidades dos sujeitos de pesquisa, que são mulheres que conciliam maternidade e trabalho, desse modo, é de suma importância compreender que as dificuldades encontradas reverberam muitos sentidos na pesquisa.
Segui com os objetivos da pesquisa, delimitando os espaços e campos que serviriam como base de coleta. Um desses campos seria o próprio Centro Universitário como locus, juntamente ao setor de Recursos humanos como ponto chave de nossa pesquisa. Solicitei então, uma entrevista com o setor, que prontamente me recebeu. Em termos de coleta, destacamos que precisaria dos dados quantitativos de todas as mulheres/mães da instituição de janeiro de 2014 a janeiro de 2019 e do quantitativo geral de trabalhadoras, juntamente com dados quantitativos referente ao número de demissões após licença maternidade.
Sabendo que os dados solicitados são delicados e íntimos, entendi que talvez não teria acesso aos mesmos, mas acreditamos que seria de grande importância para delimitar quais seriam as participantes da pesquisa, tendo em vista que deveriam ser mulheres/mães que estivessem nesse destaque de tempo cronológico. Já que esse recorte de cinco anos se tornou importante por tratar-se de um trabalho que busca explorar mulheres/mães que estejam na mesma geração, considerando as especificidades da vivência materna, dialogando com o tempo histórico. Segundo Robbins (2004, p. 174) existem diferenças conflitantes entre gerações dentro das organizações de trabalho como: comunicação, estrutura e variáveis pessoais que podem influenciar a forma como cada sujeito age, pensa e compartilha conhecimento.
De modo que não obtive a viabilidade dos dados, como previamente havia pensado, nesse caso, pela dificuldade de acesso institucional, pois a central de comando de dados da rede não fica na mesma instituição pesquisada. Além disso, eles não possuíam previamente esses dados, tendo que abrir uma coleta específica para nos entregar os dados. Antes reflexiva, agora mais, pois observei com a negativa da viabilidade dos dados o quanto precisamos refletir sobre o lugar da mulher/mãe nas instituições.
Nesse processo reflexivo, reajustei a condução da pesquisa, para que ela estivesse com o seu processo de coleta de dados garantido. Delimitar então o foco de análise dentro da categoria mulheres/mães para também caracterizar a perspectiva de gênero, raça e classe como sempre foi a proposta da coleta de dados. Então, decidi que o público alvo de pesquisa seriam as docentes, desse modo, iniciei o processo de investigação interna para encontrar as mulheres que poderiam participar.
Destaco aqui, os apontamentos de Granja (2008) quando a mesma perpassa o proceder metodológico como mais uma “dança do que uma marcha”, pois a aproximação com o tema, o local de pesquisa e as discussões aqui apresentadas possuem um viés diverso, buscando através dessa “dança” uma forma compreensiva de entender a metodologia aqui proposta e o próprio caminhar da pesquisa quanto ao sentido não linear.
Delimitar então, que os critérios estabelecidos para a participação na pesquisa seriam mulheres/mães e docentes do Centro Universitário que vivenciaram a gravidez no período de janeiro de 2014 a janeiro de 2019 e que ainda estivessem trabalhando na instituição. Delimitar também que critérios como idade e filhos vivos não seriam inseridos nos critérios de exclusão, tendo em vista a riqueza de informação localizada nos discursos, pois as mesmas, dentro da perspectiva da pesquisa, continuam sendo caracterizadas como mães. Como critérios de exclusão, optamos por não investigar mulheres/mães que já não se encontrassem efetivadas como trabalhadoras no lócus de pesquisa.
Após encontrar as docentes que poderiam participar, iniciei a busca interna pelas mesmas, e o processo de caracterização de como as entrevistas aconteceram, tendo em vista que a coleta, aconteceu em período de pandemia da Covid-1916 e a viabilidade de que as mesmas acontecessem de modo presencial não foi possível, dessa forma, para que as devidas medidas sanitárias fossem preservadas escolhi realizar a coleta na modalidade remota17, Nesta pesquisa utilizei um formulário de plataforma digital com perguntas semi estruturadas que segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 197) o entrevistador pode explorar mais amplamente uma questão e as respostas oferecem espaço para a fala espontânea do entrevistado. Haverá pouca interferência da entrevistada, pois segundo Godoi e Mattos (2010) a entrevista destacada propõe uma abertura das falas das entrevistadas sem perder a ordem das delimitações estabelecidas.
Sobre o destaque da pesquisa ter sido realizada através de um formulário, é importante compreendermos que a condução por via de um formulário não inviabilizou a análise através do modo de pesquisa, pois compreendemos que a plasticidade e a flexibilização da ferramenta usada, tornando-a mais dialógica e passível de análise não modificou a nossa forma de interpretar os caminhos e respostas aqui informadas. Foi uma forma encontrada para conduzir as entrevistas e que poderia viabilizar maior facilidade de respostas para as participantes dessa pesquisa.
O formulário foi flexibilizado ao passo que conseguimos delimitar diante das perguntas feitas, os caminhos necessários para a produção do protocolo preliminar como produto dessa dissertação. As participantes conseguiram explorar o que sentiram mediante o tratamento realizado pela instituição nas fases da gravidez, licença maternidade e volta ao trabalho tanto por questões quantitativas quanto por um modo de condução qualitativa. E que permitiu assim, conduzir a análise através das narrativas realizadas por cada uma das participantes.
As entrevistas narrativas segundo Batista, Bernardes e Menegon (2014) produzem sentido através da fala e discurso do entrevistado e não embasado em algo já pré-estabelecido. A proposta é horizontalizar a pesquisa e a forma de pesquisar, sendo o entrevistador um produtor de conhecimento juntamente com o entrevistado. Para tais observações e coleta de informações, utilizar-se-á de um diário para as devidas anotações que são de suma importância para a análise posterior dos relatos, “eles se constituem em ações que, portanto, produzem efeitos, mobilizam afetos, são atuantes em jogo” (MEDRADO, SPINK, MÉLLO, 2014, p.277).
Desse modo, partimos de um formulário sócio demográfico e de linhas de perguntas que abordavam a gravidez, licença maternidade e pós parto. Por se tratar de uma pesquisa com roteiro prévio, utilizaremos do critério de saturação, pois segundo Minayo (2017) ele interrompe a pesquisa quando o pesquisador percebe que toda a coleta de informações feita, foi suficiente para a edificação da pesquisa. O formulário foi replicado de forma online pelo Google Forms18, ferramenta gratuita usada para criação de formulários disparados por link e acessados de forma remota, que foram enviados de forma individual posteriormente à leitura do TCLE.
Após o contato com cada participante, solicitamos que ela indicasse mais alguém que lembrasse estar dentro dos critérios estabelecidos. Utilizei então o sistema bola de neve para encontrar as participantes da pesquisa, “o tipo de amostragem nomeado como bola de neve é uma forma de amostra não probabilística, que utiliza cadeiras de referência. (VINUTO, 2014 p. 203). É uma forma de busca que é usada quando o pesquisador possui dificuldades em encontrar o público alvo da amostra e grupos difíceis de serem acessados.
E assim, ao fim da coleta, conseguimos um total de cinco docentes participantes. Para um cuidado maior com a ética em pesquisa e a condição do anonimato da participante, modificamos os nomes pessoais das mesmas por alcunhas, caracterizamos então as mulheres com nomes de grandes feministas na história: Simone Beauvoir, Judith Butler, Angela Davis, Donna Haraway e Heleieth Saffioti.
A primeira participante foi Simone, que auxiliou bastante a pesquisa, fazendo alusão às perguntas serem mais claras e mais conectadas com a temática discutida e a condição do formulário ser mais flexível quanto a proposta implementada para a análise dos dados. Desse modo, a partir da pesquisa primária, ajustamos alguns dos modos de condução do formulário e replicamos para as participantes que se encaixam também no modo de condução da dissertação. Lembramos que ela é conduzida a partir de um ponto de vista e um lugar de fala, antes apresentado na introdução da dissertação e mais uma vez destacado aqui no modo de condução da metodologia.
Acreditamos que a não possibilidade de coletarmos mais dados com uma quantidade maior de participantes deu-se pela condução do processo e pela dificuldade de encontrar no tempo determinado as mulheres que se incluiriam nos critérios. Encontradas as dificuldades de acesso aos dados primários solicitados, as dificuldades desencadearam em um modo de condução complexo para encontrarmos uma maior quantidade de participantes. Tendo em vista que a pesquisa se baseia no modo qualitativo a quantidade de participantes não envia os dados aqui coletados.
As entrevistas foram transcritas com a sua totalidade de dados, tendo em vista a importância de toda a coleta de informações feita e a sua qualidade de construtos. Após a transcrição das entrevistas, partimos para as delimitações dos mapas dialógicos propostos como forma de coleta de dados, tais mapas segundo Nascimento, Tavanti e Pereira (2014) aproximam o pesquisador da temática e norteiam os discursos e conteúdos interpretativos, tendo em vista as práticas discursivas que são fatores principais na coleta de dados dessa pesquisa.
Os mapas dialógicos, segundo Spink (2010) são instrumentos que auxiliam o pesquisador quanto a visualização do que está sendo coletado, possibilitam um processo mais sensível de encontro entre o que se pergunta e o que está sendo respondido no caminhar da análise dos dados. “O mapa é uma tabela onde as colunas são definidas tematicamente. Os temas em geral, acabam refletindo o roteiro de entrevista, porque ninguém vai para o campo de pesquisa dizendo: “fala!”. Todo mundo diz: “fale sobre”. (p. 39)
A análise foi realizada, através das práticas discursivas que formam uma variedade de produções e que dão sentido ao mundo e suas disposições sociais, pois segundo Spink e Medrado (1999) é uma abordagem teórico-metodológica que está fincada na ideia do Construtivismo Social, caminhando por 3 pressupostos básicos: “linguagem, história e pessoa” (p. 23).
O primeiro aponta os estágios de linguagem produzidos pelos sujeitos, emanando um destaque a todas as práticas discursivas que fugiram e abriram possibilidades a novos olhares sobre uma temática abordada, modificando e ressignificando de forma diversificada a utilização da linguagem. A história está ligada ao conceito de linguagem pois delimita os tempos percorridos historicamente por uma linha dialógica de discurso e produção de sentido, que pode ser longa ou curta, permanente e diversificada. E por fim, o conceito de pessoa que se entrelaça aos demais julgamentos mediante a forma como os sujeitos se apresentam em termos de linguagem e história, interpretando e produzindo sentido identitários.
Tendo o roteiro de coleta de dados lançado, o quadro a seguir destaca as participantes da pesquisa incluindo as características sócio demográficas coletadas.
Quadro 6 – Informações das participantes
* Entendemos que a classificação gênero/raça/classe é muito importante para a caracterização das mulheres pesquisadas, pois estamos falando de um grupo e não de todas as mulheres/mães docentes.
* Utilizamos o critério do IBGE para definição de classes sociais
Como podemos identificar no quadro 6 que mostra as participantes da pesquisa, é possível encontrar com clareza que o público destacado possui muitas características comuns, isso foi possível por entender que se trata de um grupo específico e também pela dificuldade de coletas de outras participantes. Estamos aqui então discutindo e trazendo à luz um debate que além de ser importante para a implementação da proposta do protocolo de acolhimento, é crucial para entendermos que os protocolos precisam ser ampliados para incluir mulheres/outras que possuem gênero, raça e classe diferentes das pesquisadas nesse contexto.
Portanto segui com a estratégia de lançar as temáticas encontradas a partir do discurso das participantes, que nos contam como elas foram acolhidas em seu espaço de trabalho na descoberta da gravidez e todo o processo até a volta ao ambiente de trabalho. A proposta do protocolo faz parte de uma revisão de literatura em relação aos direitos das mulheres/mães e da análise de dados do formulário.
5. SENTIDOS DE ANÁLISE
Iniciamos as nossas reflexões retomando os caminhos teóricos e metodológicos que nos trouxeram até aqui. Parti de uma epistemologia feminista que segundo Tiburi (2018) nos leva a luta dos direitos de todos, e não apenas de mulheres, “sobre o feminismo, podemos defini lo como o desejo por democracia radical voltada a luta por direitos daqueles que padecem por injustiças que formam armadas sistemáticas”(p.12).
Retomamos o posicionamento de Haraway (1995), que nos aponta através da perspectiva feminista que os estudos partem de um lugar de fala de alguém sobre algo, são específicos e direcionados, portanto reitero que a pesquisa parte do olhar de uma mulher, para mulheres, em busca de melhores condições de trabalho e acolhida no entorno da maternidade.
As quatro temáticas discutidas aqui, como ponto de destaque nas falas das participantes, foram construídas através de reflexões que partem de um ponto comum, que surgem diante da pesquisa, juntamente com os objetivos anteriormente delimitados para a projeção da proposta do protocolo de acolhimento, como produto dessa dissertação. Desse modo, criamos mapas dialógicos que segundo Spink (2010) são tabelas produzidas com esquemas para organização das falas como um mapa conceitual, que segue o fluxo dos discursos e suas semelhanças, bem como a organização do processo de análise.
Spink e Medrado (2014, p.39) dentro dessa mesma perspectiva apontam que o objetivo das práticas discursivas é entender “três dimensões básicas: linguagem, história e pessoa”. Portanto, dentro das temáticas escolhidas buscamos implementar o entendimento dessas três dimensões, apontando características como: a) Aproximações no discurso das participantes; b) Construção dos temas baseados nas histórias descritas; c) Análise das reflexões geradas a partir da perspectiva de cada fala.
Para tanto, delimitamos os eixos tema: 1) Estou grávida: o meu trabalho me acolhe?; 2) Preciso pausar para o cuidado: sentidos do processo; 3) Retornando ao trabalho: produzir é preciso; 4) Algo a mais que precisa ser dito: gravidez, licença maternidade e retorno ao ambiente de trabalho. Todos os eixos partiram da entrevista semiestruturada aplicada, formulada a partir de perguntas abertas e fechadas, que oportunizaram as participantes a se posicionarem quanto aos aspectos da gravidez, licença maternidade e retorno ao ambiente de trabalho, bem como projeções de melhorias a serem realizadas no processo de acolhida.
Diante das dificuldades da coleta de dados, é importante salientar que as mulheres participantes da pesquisa possuem um ritmo de vida exaustivo, por serem docentes e realizarem um papel especialmente importante na formação da sociedade nacional. Portanto, algumas das possíveis participantes não puderam encontrar-se na pesquisa por motivos que envolvem as configurações da profissão e o não acesso de dados destacados nos escritos até aqui.
Iniciando então as reflexões sobre as mulheres participantes, precisamos refletir sobre as projeções que devem ser sempre ponto de discussão. Aqui finalizamos um estudo sobre mulheres em sua maioria brancas, heterosexuais, de classes sociais mais altas, poucos filhos, casadas e que possuem um privilégio social por conseguirem ascendência em suas carreiras, quando em sua maioria são mulheres Doutoras em suas áreas de atuação. Davis (2016) aponta que reflexões como essa, que estamos realizando nesta pesquisa, trazem uma verdadeira proporção dos lugares de fala dos estudos que envolvem feminismo e propostas de melhoria na condução do ser mulher na sociedade.
É importante destacar que a pesquisa tomou as proporções apresentadas, pela impossibilidade de uma melhor investigação específica sobre cada mulher presente no espaço organizacional por duas opções nossas: 1)Não realizar apontamentos únicos através de uma pesquisa que traria sua condição de gênero, raça e classe e replicá-la de forma totalitária como a maioria dos estudos que não carrega os apontamentos próprios e específicos da pesquisa; 2) Acreditamos que ao destacarmos o ponto de vista de cada estudo, estaremos localizando com maior facilidade de que mulher estamos falando, retirando a base totalitarista da maioria das pesquisas sobre mulher, maternidade, feminismos e todos os caminhos que podem surgir como reflexões dessas principais temáticas.
Como aporte teórico-metodológico para descrever melhor o lugar de fala das participantes, reiteramos a utilização do construcionismo social que segundo Spink (1999) não é uma forma única de construção de conhecimento e sim variadas formas de vivenciar um ponto de vista através de como cada um o observa, portanto, os saberes são localizados, e devem ser observados em todas as suas peculiaridades, pois se a proposta é incluir, universalizando os saberes, eu apenas excluo.
Breve reflexão da pesquisadora
“Falar de questões que foram historicamente tidas como inferiores, falar de mulher, população negra, LGBT, é romper com a ilusão de universalidade que exclui. Não nos enganemos quando eles dizem que falam de temas universais e nós não. Estão somente falando de si próprios”. (RIBEIRO, 2018 p.78)
Às minhas irmãs pretas e pardas, reitero que o estudo aqui destacado parte de um lugar de fala de um grupo social determinado, não significando meu desejo de privilegiar estudos que tragam apenas esse viés, pelo contrário, minha luta é para todos, todas e todes. Com a implementação primária de um protocolo de acolhimento teremos condições de estudar e localizar muitos outros espaços sociais e oportunizar à maioria das irmãs uma condição melhor de trabalho. Meu lugar é de luta e sempre será!
5.1. Estou grávida: o meu trabalho me acolhe?
“Se ansiamos pela energia criadora, se temos problemas para alcançar os aspectos férteis, imaginativos, formadores de ideias; se temos dificuldade para nós concentrarmos no nosso sonho pessoal, para agir de acordo ele ou para garantir sua execução, então alguma coisa deu errado no ponto de união das águas das cabeceiras e dos afluentes de um rio. Ou pode ser que as águas criadoras estejam correndo por um meio poluente no qual as formas de vida da imaginação são eliminadas antes que possam atingir a maturidade” (PINKOLA, 2018 p.342).
Iniciei o processo de análise com o intuito de desvelar e oportunizar melhores condições de acolhida a mulheres/mães em ambientes organizacionais, nossa proposta é “despoluir o rio”, pois segundo Pinkola (2018) nós somos invisibilizadas pela condição como os outros nos veem, e em seus processos de inclusão totalitaristas, acabam por conduzir condições inviáveis de trabalho após a maternidade.
Para a resolutividade desse eixo, utilizei um caminho de perguntas que se pautaram em um nível de satisfação, que pode ser sinalizado entre 0 e 10. O modo de condução por parte de perguntas e respostas mais rápidas, teve como pressuposto o pouco tempo disponível das trabalhadoras para a participação da pesquisa e a implementação desse processo de satisfação no protocolo criado.
Diante disso, sinalizamos abaixo as perguntas e respostas realizadas seguindo o caminho da linha cronológica da gravidez.
Quadro 7: Determinantes sobre gestação
*Média de nível de satisfação entre as mulheres sobre a assistência prestada: 62%
*Média quanto ao nível de satisfação de como a gravidez foi recebida pela instituição: 68%
*Média de mulheres que tiveram sua carreira afetada pela gestação: 60%
*Média das mulheres que tiveram intercorrência de afastamento durante a gravidez: 40%
Mesmo sinalizando logo mais a frente insatisfações quanto ao acolhimento prestado, a maioria das participantes, aponta um nível de satisfação com a assistência prestada na média ou acima dela. Isso pode ser explicado, pela hipótese da acolhida ser entendida ao longo do processo de maternagem e não nos momentos que o mesmo aconteceu. Segundo Tiburi (2018) não podemos desassociar o ser do trabalho, mesmo sabendo que ele é o oposto do prazer, engendrando caminhos de sofrimento e ao mesmo tempo de felicidade, inclusive, é importante destacar que o trabalho é realizado por mulheres desde cedo, desse modo, para nós, o labor possui uma importância estrutural, e mesmo que não estejamos completamente satisfeitos com o mesmo, entendemos que o melhor a se fazer é compreender que essas são as condições naturais do trabalho.
Quanto ao item, como a gravidez foi recebida pela instituição, as respostas dadas sinalizaram satisfação na média ou acima dela, direcionando uma condição de acolhida institucional por parte dos superiores imediatos de cada trabalhadora, bem como, seus colegas de trabalho. Segundo Mendes (2007) a dinâmica do ambiente de trabalho caracteriza estratégias importantes para a viabilidade e permanência das mulheres nas esferas organizacionais, como o estabelecimento de uma relação gratificante no seu meio trabalho, criando assim, a viabilidade de uma rede sustentada pelo reconhecimento e acolhimento.
Perguntamos também, se a gestação afetou a carreira dessas mulheres/mães, e as respostas seguiram o caminho importante e único, observado pelo olhar de cada uma sobre seu próprio processo de observação. Dessa forma, foi possível observar que a maioria das respostas foram sim. Urpia (2009) aponta que tornar-se mãe em um contexto adverso como o mundo do trabalho, incluindo a perspectiva da docência não é acolhedor, cobranças sobre produção e continuo conjunto de características que não deveriam mudar pela maternidade, tais mulheres são desafiadas todos os dias, para equilibrar suas demandas acadêmicas e demandas maternas. É nesse contexto que as histórias das mulheres mães se entrelaçam na busca de melhores condições de trabalho e garantia de direitos.
Pesquisa realizada19 em 2020 pelo grupo Parent in Science, sobre o quanto a pandemia do Covid-19 afetou a vida de mulheres/mães acadêmicas, destaca reflexões sobre os efeitos que o gênero, raça e parentalidade podem implicar na produção dessas mulheres. Apenas 4,1% das mulheres com filhos estão conseguindo produzir, em contrapartida, temos 25,6% dos homens sem filhos realizando suas demandas de trabalho. O estudo também aponta aos prazos para submissão de trabalhos, em que 66,6% de mulheres com filhos conseguiram cumprir os prazos, enquanto 79,9% das mulheres sem filhos o fizeram.
A mesma pesquisa destaca que de todos os pedidos para aumento de prazo, os maiores foram de mulheres com filhos, chegando a 43,9%. Sob submissões de artigos acadêmicos, os dados apontam que 47,4% das mulheres com filhos conseguiram produzir, em contrapartida que 76% de homens sem filhos produziram esse ano. Os dados começam a ficar cada vez mais incidentes quando relacionados ao aumento da escolaridade.
Leta (2003) aponta sobre o perfil atual de mulheres em ambientes de trabalho, afirmando que o crescimento de trabalhadoras na ciência é considerável, mas que as dificuldades de acesso continuam sendo difíceis, principalmente para as mulheres de classes sociais mais vulneráveis e mulheres negras. Dessa forma, reafirmamos nesta análise que as dificuldades de acesso ao trabalho estão presentes em todos os espaços sociais quando a pauta destacada é do gênero feminino.
Sobre as possibilidades de intercorrência na gravidez e devido afastamento de seus afazeres, duas participantes sinalizaram que sim, trazendo à luz um olhar reflexivo sobre o cuidado à saúde integral da mulher/mãe em ambientes de trabalho. É de suma importância que práticas integradas sejam realizadas nas instituições para melhor entender e cuidar de suas gestantes.
5.2. Preciso pausar para o cuidado: sentidos do processo
Através dos apontamentos que surgiram diante da maternidade e suas possibilidades no ambiente de trabalho, o destaque quanto a pausa, considerado o momento em que se espera o parto e o puerpério período que inclui o pós parto são cruciais para entendermos os afetos sentidos e os processo de cuidado realizados pela instituição.
A seguir, o quadro aponta as perguntas realizadas e as respostas das participantes:
Quadro 8: Determinantes sobre período de pausa
* Média de nível de satisfação entre as mulheres sobre a assistência prestada: 68%
*Média de mulheres que tiveram repercussões em sua carreira após a maternidade: 60%
*Média das mulheres que tiveram intercorrência de afastamento durante o puerpério: 0%
*Contatos realizados para saber sobre o parto: 40%
*Média de mães que amamentaram ou estão amamentando: 100%
*Suporte da instituição para a amamentação: 0%
Demos início às discussões acerca do nível de satisfação das docentes quanto à assistência prestada durante a gravidez, que reverberam a mesma sequência de análise nesse tema. Descrevemos também sobre a condição que a maternidade trouxe enquanto repercussões na vida das mulheres, que também foram discutidas e analisadas no ponto chave anterior. Portanto, aqui daremos sequência às temáticas que surgiram posteriormente ao inquérito destacado.
No ponto sobre as intercorrências que aconteceram no puerpério, todas as participantes sinalizaram que as mesmas não existiram. Tendo em vista que o puerpério é considerado o período mais difícil de pós parto, falaremos então dele, nesse eixo. O puerpério segundo Costa e Brito (2016) é um período que se inicia logo após o parto e se estende por alguns meses, podendo haver uma variabilidade desse tempo de mulher para mulher. É um período caracterizado por tamanha insegurança, medo e inexperiência sobre o processo. Mesmo diante de uma mãe que já possui filhos, os fatores serão vivenciados por ela.
Segundo Dodou et al. (2017) é bem sabido que todos os caminhos explicativos sobre o processo de puerpério são escassos, tanto no âmbito da assistência de saúde, nos espaços sociais e nos ambiente de trabalho. A psicoeducação sobre o processo é de suma importância para gerar nas mulheres/mães maior condições de enfrentamento sobre as emoções que serão vivenciadas por cada mulher de uma forma diferenciada.
Precisamos refletir sobre a invisibilidade da mulher gestante e puérpera nos ambientes de trabalho, instituindo práticas que viabilizem um cuidado apropriado a cada momento importante que será vivenciado por essa mulher. Lima et al. (2018) aponta que as maiores incidências de desconfortos de mulheres no puerpério dizem respeito às inseguranças de “não poder” cuidar de seus filhos, por possíveis intercorrências ou sintomatologias do pós parto.
Sobre o contato realizado pela instituição para saber sobre o parto, tivemos um quantitativo de respostas abaixo da média, sinalizando aqui, que as perspectivas de cuidado anteriormente destacadas não foram conclusivas quanto a preocupações outras que estivessem para além dos ambientes organizacionais. Biroli (2018, p. 31)) aponta que as mulheres não são mais “barradas nas arenas públicas”, mas são “subordinadas a essas arenas”, pois sua presença cativa ainda não inflamou os olhares sociais para as condições do ser mulher nos ambientes organizacionais.
Os espaços institucionais coletivizar o modo de condução dos sujeitos, observando-os como massa e não de forma individualizada ou pelo menos específica para que assim, de fato, a inclusão aconteça. “No patriarcado público, estado e mercado de trabalho passam a ser as dimensões em que as coerções se organizam e se institucionalizam”. (BIROLI, 2018 p.32).
Entendendo que no mesmo modo que a sociedade e o sistema capitalista e patriarcal nos apaga dos espaços, o mesmo se insere nos ambientes de trabalho quando as proposta de inclusão e de acolhimentos são as legislativas instituídas por outra ordem, que não a observativa e participativa,que seriam de mulheres implementando leis para mulheres.
Beauvoir (1970) destaca em seus escritos que as mulheres sofrem uma série de infortúnios sobre seu modo de ser e agir em sociedade, na condição de comportamentos únicos e esperados, muito pautada em uma visão determinista. A ideia de que mulheres são de forma natural frágeis, que possuem necessidade de serem cuidadas, sensíveis, maternais e muitos outros concretos ideais que nos ferem enquanto subjetividade e demarcam uma estruturação social que nos apaga de atribuições e espaços que não estejam dentro dessa perspectiva, nos distancia do mundo do trabalho.
A mesma autora supracitada, também destaca que precisamos refletir sobre o olhar feminino na ótica do amor e da felicidade, pois precisamos pensar com concretude, na perspectiva de oportunidades reais de melhorias e de ação, na sociedade em que vivemos só conseguimos lançar as práticas de desigualdade e apontar as menores condições de acesso feminino aos ambientes, quando trazemos a concretude das falas e das necessidades apontadas por cada mulher.
Outro aspecto importante são as condições de trabalho em relação a amamentação, tendo em vista que todas as participantes amamentaram seus filhos ou estão os amamentando. O Ministério da Saúde do Brasil20 recomenda que a amamentação tenha início na primeira hora de vida e de forma exclusiva até os seis meses, devendo ser continuada após esse período, pelo menos até os dois anos de idade, com a implementação da alimentação complementar. Dessa forma, as condições para que a mulher mãe em ambiente de trabalho consiga continuar com a amamentação precisam ser observadas, como a implementação de espaços para que de uma forma confortável essa ação consiga acontecer.
A amamentação além de diminuir consideravelmente o número de mortalidade infantil, também causa inúmeros benefícios à saúde mental e física da mulher/mãe21. Estudos de 2016 apontam que a escolha sobre a amamentação implementa um aporte muito mais positivo para a mulher, pois a partir do ponto de vista do desejo, as condições de amamentar serão possivelmente mais positivas.
Monteiro et al (2016) aponta eu seu estudo que a licença maternidade favoreceu para a permanência da amamentação, reforçando assim a necessidade de aumento do tempo de licença para seis meses, como já é preconizado pela legislação em relação a servidoras públicas. É necessário muito mais do que reorganização legislativa, mas um olhar diferenciado a essas mulheres trabalhadoras pela complexidade mediante aos aspectos que influenciam a escolha pela amamentação e continuidade da mesma. Portanto, práticas que sinalizam o cuidado à gestante e o seu processo de aleitamento são cruciais para a tomada de decisão e percurso ideal.
5.3. Retornando ao trabalho: produzir é preciso
Retornar ao trabalho após um período de pausa não é tarefa fácil para qualquer trabalhador, muito menos para mulheres/mães. Nesse processo, destacamos aqui as danças da mulher no retorno aos ambientes de trabalho. Davis (2016) aponta que com a crescente expansão da força de trabalho da mulher no mercado, as tarefas de casa e os cuidados do lar não conseguem mais serem efetivados como papéis de destaque, desse modo, a mulher que sai
Para a licença maternidade deseja retornar para o seu ambiente de destaque, que dentro dos parâmetros capitalistas é o mercado de trabalho.
Biroli (2018) reflete sobre a condução do processo de gênero, associadas à responsabilidade dentro e fora dos âmbitos públicos e privados, como as divisões do trabalho. Ao receber a mulher após o retorno a licença maternidade é importante entender que o olhar antes perpetrado sobre suas vidas, já não é o mesmo, pois mudanças significativas aconteceram em sua vida e que precisam ser observadas também seu ambiente de trabalho como processo de melhor acolhida e cuidado a essa mulher.
Dessa forma, segue quadro com os destaques da pesquisa para esse segmento:
Quadro 9: Determinantes sobre retorno ao ambiente de trabalho
* Média de nível de satisfação entre as mulheres sobre a assistência prestada: 32%
Percebe-se aqui uma queda de satisfação das mulheres quanto a assistência prestada a elas no retorno aos ambientes de trabalho, demonstrando que existem mudanças importantes que devem ser discutidas sobre a mulher agora mãe, nos ambientes organizacionais. “Há dimensões políticas e econômicas na conformação do ambiente, em que as mulheres e os movimentos feministas fizeram suas escolhas, e o acesso desigual das mulheres ao trabalho remunerado remete a questões de poder material”. (BIROLI, 2018 p.33)
Esse percurso de análise trouxe à luz desafios encontrados no retorno da mulher aos ambientes de trabalho. Destacamos os principais temas surgidos: amamentação, readaptação, deixar o filho aos cuidados de outras pessoas e/ou instituições, produção, cobranças e direitos trabalhistas negados. Descrevemos no tópico anterior as facetas e possibilidades encontradas diante do tema amamentação, desse modo, nesse eixo temático afundaremos as reflexões dos temas outros abordados.
Sobre a readaptação das mulheres ao ambiente de trabalho, Garcia e Viecili (2018) destacam que ao retornar ao trabalho, a mulher deixa em seu lar uma criança muito pequena, que esteja em torno de quatro meses, possibilitando assim, um aumento de responsabilidade fora do ambiente de trabalho, modificando sobremaneira a realidade da mulher. Krause (2017) realizou um estudo com 49 servidoras públicas que precisam retornar aos ambientes de trabalho, em que muitas delas apresentavam sentimentos de vulnerabilidade e sentimentos negativos em relação ao trabalho, pois o mesmo não oportuniza condições adequadas para a inclusão dessa mulher/mãe.
Garia e Viecili (2018) apontam que nos estudos que realizaram sobre os sentimentos das mulheres em relação ao retorno e sua readaptação ao ambiente de trabalho, foi possível perceber que tanto o retorno quanto a sua permanência eram motivados por conquistas próprias que o ambiente de trabalho poderia proporcionar e que os ganhos financeiros também são importantes tendo em vista a chegada de um novo membro familiar. Outros sentimentos que as mulheres relatam é a sua condição de se sentir produtiva e de estar sendo valorizada quanto a sua mão de obra.
Outro fator de destaque na fala das participantes foram as angústias relatadas em relação a ter que deixar os filhos aos cuidados de outras pessoas. Zanello (2018) destaca que a maternidade é uma construção social, que como a maioria destas, sofreu modificações ao longo dos anos, uma dessas mudanças é o ideal de maternidade, bem construído e arraigado em uma normativa que nos tolhe e nos causa culpa por não conseguirmos chegar ao padrão estabelecido. Dessa forma, as angústias em relação ao deixar os filhos aos cuidados de outrem, reverbera sentidos em nossa construção social enquanto mulher, completamente pautada no ideal romântico e materno.
Ainda sobre a perspectiva dos filhos cuidados por outras pessoas, precisamos aqui refletir sobre o lugar que outras mulheres ocupam na idéia de cuidado. Davis (2016) lança a discussão sobre os ideais de cuidado serem destaques femininos, dessa forma, mesmo que a mulher esteja inserida nos ambientes organizacionais, existem outras mulheres, em sua grande maioria negras, que foram contratadas para suprir os espaços do lar e cuidar dos que ficam, organizando um sistema em uma espécie de engrenagem que continua processando na mesma cadência.
Biroli (2018) aponta que no Brasil é alta a relação entre crianças cada vez mais novas sendo inseridas em creches para a empregabilidade de suas mães, bem como a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da quantidade de mães que se tornam mães mais tarde. Nas comunidades mais pobres a maternidade é vivida de uma forma menos privativa, pois a rede de apoio das mulheres muitas vezes são os vizinhos e a partilha de espaços para o cuidado dos filhos.
Sobre o aspecto de produção e cobranças é importante destacar que o mesmo está nas raízes do processo organizacional, capitalista e estruturalista do trabalho, portanto, os sujeitos tendem a analisar os aspectos quanto a produção sistemática, controlando, regulando, e não diante de um olhar específico para cada pessoa produzindo. “As formas institucionalizadas de organização da vida definem vantagens ao valorizá-los desigualmente e reconhecê-los seletivamente” (BIROLI, 2018 p.115).
Por último destacamos aqui as condições de direitos negados a algumas mulheres/mães em ambientes de trabalho, e que foi aqui exposto, por uma das participantes da pesquisa.
“As leis brasileiras pecam a cada vez mais ao tentar, sobre o pano de fundo da redução das discriminações, retirar direitos trabalhistas da mulher, exemplo claro da lei 13.467/2017 que fere gravemente o direito à maternidade, ao transferir para a mulher a obrigação de saber qual o grau de insalubridade está exposta e conseguir um médico que ateste a necessidade de afastamento do ambiente insalubre para o bem desenvolvimento do nascituro, além de deixar a mulher completamente nas mãos do empregador, ao deixar a livre negociação o intervalo de amamentação, provando que o legislador brasileiro além de não se preocupar com o trabalho da mulher, ainda não respeitam o preconizado na carta magna que é o direito a vida, a qualidade de vida da mulher e da criança, não se pode retirar direitos basilares em prol da flexibilização”. (MACHADO E SOUZA, 2018 p.14)
Segundo Machado e Souza (2018) os direitos contemplados pela mulher ainda não assumiram o seu caráter de uniformidade como desejamos, pois a mulher continua sendo tratada com descriminação, e tendo cada vez menos os seus direitos assegurados.
5.4. Algo a mais que precisa ser dito: gravidez, licença maternidade e retorno ao ambiente de trabalho
Chegamos ao último eixo temático que afunila as nossas discussões sobre quais os pontos importantes devem ser implementados para uma maior qualidade de vida da mulher/mãe nos ambientes organizacionais e a garantia de seus direitos. O recorte implementado aqui, teve o objetivo de deixar as mulheres participantes livres para lançar estratégias que pudessem auxiliar-nos na construção do protocolo de acolhimento.
Os períodos que as perguntas abrangem vão da gestação, licença maternidade e retorno ao ambiente de trabalho, garantindo assim que as participantes pudessem refletir sobre o que elas esperavam que fosse feito em termos de acolhida, algo a mais que elas quisessem nos contar e dicas de como melhorar esse espaço e ambiente de trabalho. Tiburi (2018) desvela que o lugar da mulher em espaços que não as incluem em suas práticas é território de luta a muitos anos, sob a ótica da ideologia patriarcal, que emana o direcionamento de como somos acolhidas e de como devemos reagir ao processo, estamos aqui, eu, você e elas nessa luta para reescrever essa história.
“Num momento, ela assume uma forma; no instante seguinte, uma outra. Ela é como um espírito deslumbrante que aparece para todas nós, sendo porém difícil de descrever já que não existe acordo do que as pessoas vislumbram no seu clarão cintilante”. (PINKOLA, 2018 p.341). Nesse trecho a autora retrata o que seria a criatividade de uma mulher, trazendo à analogia aos ambientes sociais aos quais estamos inseridos, incluo nessa reflexão os ambientes de trabalho, significa entender que o nosso modo de conduzir a vida é peculiar, pois possui inúmeras formas de serem observadas, e o processo de observação com qualidade nos levará aos lugares que desejamos.
Desse modo, segue quadro indicativo de perguntas e respostas de cada participante:
Quadro 10: Determinantes sobre gravidez, puerpério e volta da licença maternidade
As mulheres/mães necessitam de um olhar diferenciado sobre a ótica das organizações de trabalho. Tiburi (2018) atribui aos feminismos grandes lutas e aberturas para olhares distintos sobre a mulher, com muitas lutas alcançando espaços a partir de reflexão e de mudança de paradigmas que se estendem aos ambientes coletivos de trabalho, antes vistos como espaços plenamente masculinos, hoje espaços sociais comuns, que precisam com toda maestria organizar-se para praticar a igualdade.
Nesse contexto dos “algos a mais” que em todo o processo de análise foram descritos, apresentaremos a instituição a proposta do protocolo de acolhimento a mulheres/mães trabalhadoras de um Centro Universitário em data formalizada juntamente a diretoria responsável para ser possivelmente alinhada conforme as discussões realizadas juntamente a instituição de ensino.
A proposta de protocolo foi criada pensando em quatro caminhos metodológicos: gravidez, licença maternidade, retorno aos ambientes de trabalho e direitos da mulher/mãe. Todas as pautas destacadas caminham mediante um processo de acolhida institucional , bem como, uma catalogação dessas mulheres para criar visibilidade a pauta maternidade nos ambientes de trabalho. Tendo em vista que nossa pesquisa foi realizada com docentes, nosso protocolo foi pensado nesse grupo chave, mas com a intenção de ampliação em decorrências dos próximos grupos e estudos. Desse modo, o produto final desta dissertação encontra-se no apêndice A.
Para as queridas docentes participantes
Que essa proposta modifique não só o olhar organizacional voltado a nós, mulheres/mães, mas que ele faça sentido na vida de cada mulher que encontra-se reflexiva sobre o quanto a sua fala, vez e voz são silenciadas. Que esse protocolo alcance mulheres outras (mulheres Trans, mães adotivas e trabalhadoras de todos os setores), proporcionando caminhos para outras ações de melhoria. Sigamos juntas !
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chego ao fim dessa escrita que apenas finaliza-se como ciclo, mas inicia-se como luta, tão importante e cheia de reflexões. Que perpassam desde os caminhos de dificuldades encontrados na entrega final da proposta de protocolo e as condições destacadas ao longo da pesquisa que reverberam inúmeras outras categorias de observação para mulheres/mães nos ambientes de trabalho.
Como foi destacado desde o início desta dissertação, seu objetivo como pauta principal foi o estudo de como mulheres/mães docentes de um Centro Universitário eram amparadas e acolhidas mediante a três aspectos importantes da maternidade para uma mulher inserida em um ambiente organizacional: gravidez, licença maternidade e volta ao ambiente de trabalho. Dessa forma, a proposta como ponto de finalização desse debate, foi a criação de um modo de condução que auxiliasse instituições na melhor qualidade de acolhimento de mulheres/mães.
Diante do nosso objetivo, sinalizo a felicidade de conseguir chegar a um ponto criterioso de debate e de caminhos positivos até aqui. Encontrei-me diante de um grupo chave que surge como “fôlego” e “respiro” para conduzirmos um início de auxílio organizacional para entendermos todos juntos, os caminhos, dificuldades, sensações e condições específicas da mulher/mãe inserida nos ambientes organizacionais. Como aponto, esse é um caminho inicial, que conduzirá discussões e ampliações para que encontremos, enfim, um caminho que articule-se em um maior acolhimento a maior quantidade de mulheres/mães e quem sabe todas.
Como reflito em algumas falas ao longo do texto, sinalizo que devemos encontrar outros caminhos para inserir outras mulheres em pesquisas como essa, que com uma condição sistemática consiga abranger as discussões sobre quais as especificidades de trabalho que precisam ser melhoradas em cada espaço e a cada grupo de mulheres pesquisada. Ampliar conquistas ou condições de conquistas é o que faz de nossa luta tarefa aplicável.
Percorremos então, um caminho reflexivo à luz de teorias que nos auxiliassem a entender e produzir conhecimento para nos servir de base diante de tantos outros pontos que precisam ser discutidos quando falamos sobre mulheres/mães. Aqui, nessa perspectiva, já encontrei pontos que devem servir como aporte para próximas pesquisas, que é a ampliação das discussões sobre maternidade e ambiente de trabalho com categorias mais específicas. Além de serem sem uniformização e pautadas a partir do discurso do campo de fala, assim estaremos percorrendo caminhos mais justos de produção científica.
Outro ponto importante que deve ser conduzido nas nossas reflexões finais são as dificuldades de acesso quando a pauta em questão é mulher/mãe em ambientes organizacionais. Percebemos pela via da pesquisa que existe uma opressão sinalizada pelo não dito, que nos insere nos espaços sem perceber nossas peculiaridades e mais severamente, nos coloca a partir da pauta capitalista e patriarcal em um lugar vulnerável de trabalho, quando não nos é permitido sermos vistas muito menos acolhidas em nossos próprios campos de saberes e em nossas próprias produções de sentido.
Refletir sobre a limitação quanto a quantidade de mulheres pesquisadas também é ponto importante, pois além de sermos invisibilizadas nos campos de trabalho, acabamos por inviabilizaram também no processo de inserção, pois não é tarefa fácil sermos quem somos em ambientes que não nos acolhem. Os espaços organizacionais, mesmo que em sua quantidade soberana, não sejam espaços masculinos, como a perspectiva do trabalho docente, ainda assim, são espaços pautados na condução de produção massiva e capitalista.
Portanto, a todas as mulheres que por via dessa pesquisa serão beneficiadas, a todas que encontram-se necessitadas de serem observadas com melhor qualidade, as mulheres que nos antecederam nas lutas e que tentaram implementar propostas como essa, as nossas ancestrais que não tiveram a oportunidade de debater temáticas abertamente, as novas gerações de mulheres muito mais abertas às discussões sobre nossos lugares e nossas lutas, enfim, dedico esse trabalho a todas as mulheres que como raízes, independente do tipo de solo, inserem-se e arraigar a sua força da natureza conduzindo a vida.
“Precisamos nos esforçar para erguer-nos enquanto subimos. Em outras palavras, devemos subir de modo a garantir que todas as nossas irmãs, irmãos, subam conosco”. Angela Davis
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1A autora utiliza o termo “dispositivo” como sendo algo que desperta a nossa configuração social a partir do sentido delimitado, e sem esse sentido, não somos aceitos de forma completa pela sociedade.
2As definições de gênero são abrangentes diante das discussões feministas, desse modo, para exemplificar a terminologia, utilizar-se-á da teórica Joan Scott como facilitadora a compreensão da temática. A mesma destaca que gênero é “uma percepção sobre as diferenças sexuais, hierarquizando essas diferenças dentro de uma maneira de pensar engessada e dual”.
3Pesquisa sobre estatística de gênero e indicadores sociais das mulheres no brasil. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf.
4Dados retirados da plataforma online do Senado Federal que reúne todas as normas da CLT em um único arquivo. http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/535468/clt_e_normas_correlatas_1ed.pdf
5http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/535468/clt_e_normas_correlatas_1ed.pdf
6Enquanto participante do projeto e monitora, realizamos os atendimentos no pré-parto, parto e pós-parto atuando com auxílio psicológico às mulheres nas enfermarias do Hospital Jesus Nazareno em Caruaru-PE.
7Os termos sugeridos em primeira pessoa destacam a importância do lugar de fala da pesquisadora e de todos os outros lugares de fala quando contextualizamos gênero em uma perspectiva vivencial. O projeto de extensão Pré natal psicológico: contribuições da psicologia no parto, funciona na cidade de Arcoverde-PE e tem como participantes discentes do curso de Psicologia.
8Kitzinger (1977) considera que o puerpério é o período pós-parto que dura aproximadamente três meses após o parto, mas que pode ter uma duração maior, dependendo das ansiedades geradas nesse período.
9Segundo Maldonado (1985) o ciclo gravídico puerperal envolve os conteúdos da gravidez, parto e puerpério (pós parto no período dos 3 primeiros meses)
10Termos padrões
11Vocabulário de descritores
12Fase que ocorre após o nascimento da criança. Pode acarretar diversas mudanças na mulher como físicas, psicológicas e hormonais.
13http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/
14http://www6g.senado.leg.br/busca/?q=licen%C3%A7a+maternidade
15O Programa Empresa Cidadã, instituído pela Lei nº 11.770/2008 e regulamentado pelo Decreto nº 7.052/2009, destina-se a prorrogar por sessenta dias a duração da licença-maternidade e por quinze dias, além dos cinco já estabelecidos, a duração da licença-paternidade (Lei nº 13.257/2016). Ela estabelece deduções em impostos.
16“Os coronavírus pertencem a uma grande família viral e são conhecidos há 60 anos como causadores de infecções respiratórias em humanos e animais. Em dezembro de 2019, um novo coronavírus foi identificado como causador de síndrome gripal e graves complicações pulmonares, a COVID-19”. (MEDEIROS, 2020. P.1)
17Com a utilização da internet no modo online.
19https://327b604e5cf4492b910be35e2bc67511.filesusr.com/ugd/0b341b_81cd8390d0f94bfd8fcd17ee6f29bc0e.pdf?index=true
20http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/Politica_Nacional_de_Atencao_Integral_a_Saude_da_Crianca_PN AISC.pdf
21http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pesquisa_prevalencia_aleitamento_materno.pdf