INCLUSÃO DIGITAL E CIDADANIA. O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS COMO MEIO DE ACESSIBILIDADE AO APRENDIZADO DE EDUCANDOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E/OU MÚLTIPLA NA APAE DE SÃO LUÍS – MA

DIGITAL INCLUSION AND CITIZENSHIP. The use of digital technologies as a means of accessibility to learning for students with intellectual and/or multiple disabilities at APAE of São Luís – MA.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11237541


Vanussa Sampaio Dias da Silva[1]


RESUMO

O desenvolvimento tecnológico provoca mudanças sociais, de paradigmas, revolucionando a educação e a comunicação. A inclusão digital é muito discutida, sobretudo na busca de superação de barreiras, melhorias de modelos e métodos na oferta de ensino e aprendizagem da pessoa com deficiência intelectual e/ou múltipla. Estas questões, dizem respeito à educação, à sociedade à cidadania e sobretudo a atuação das políticas públicas. Com a pandemia da Covid-19 houve a necessidade de se pensar sobre o acesso a tecnologias digitais e a promoção do adequado uso destas na educação. Essa problemática nos coloca diante de questões sobre que políticas públicas e projetos sustentam o trabalho de inclusão digital e se os programas e projetos oferecidos, contribuem para que esses alunos avancem na aprendizagem. Dessa forma, questiona-se se as políticas de Inclusão Digital e seus projetos sustentam a acessibilidade digital, promovem avanços no desenvolvimento da aprendizagem a partir da utilização de ferramentas digitais. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de campo, de método quali-quantitativo, por meio de observação e aplicação de questionários de perguntas fechadas com 14 professoras, apresentando dados e tabelas comparativas, que revelam informações se este trabalho consegue acessar estas políticas de incentivo à inclusão, a capacitação dos professores e qual a atuação dessas tecnologias digitais no período da pandemia. Avalia-se ser fundamental garantir os direitos desses alunos, subsidiados por políticas públicas e programas que promovam acessibilidade e eliminação de barreiras. Concluiu-se que a inclusão digital é capaz de promover avanços na aprendizagem de pessoas com deficiência intelectual e/ou múltiplas.

Palavraschave: Inclusão Digital, Educação Especial, Pandemia da Covid-19.

ABSTRACT

Technological development causes social and paradigm changes, revolutionizing education and communication. Digital inclusion is much discussed, especially in the search to overcome barriers, to improve models and methods in the provision of teaching and learning for people with intellectual and/or multiple disabilities. These issues concern education, society, citizenship, and, above all, the performance of public policies. With the Covid-19 pandemic there was a need to think about access to digital technologies and the promotion of their appropriate use in education. This problem poses questions about what public policies and projects support the work of digital inclusion and whether the programs and projects offered contribute to these students’ progress in learning. In this way, we question whether the Digital Inclusion policies and their projects support digital accessibility and promote advances in the development of learning using digital tools. To do so, a quali-quantitative field research was carried out, through observation and application of closed questionnaires with 14 teachers, presenting comparative data and tables, which reveal information about whether this work can access these policies of inclusion incentive, the training of teachers, and what is the performance of these digital technologies in the pandemic period. It is assessed to be fundamental to guarantee the rights of these students, subsidized by public policies and programs that promote accessibility and the elimination of barriers. It was concluded that digital inclusion can promote advances in the learning of people with intellectual and/or multiple disabilities.

Keywords: Digital Inclusion, Special Education, Covid-19 Pandemic.

1. INTRODUÇÃO

A temática deste estudo surgiu de uma premente necessidade de se buscar respostas a questões recorrentes sobre a dificuldade da promoção da inclusão digital e, ainda, do acesso a ferramentas tecnológicas, de forma adequada ao desenvolvimento da aprendizagem de pessoas com deficiência intelectual e/ou múltipla, na idade escolar.

A pandemia da Covid-19 trouxe, de forma mais urgente, a necessidade de se pensar de modo mais reflexivo sobre como acessar as tecnologias digitais e a promoção do uso adequado destas na educação, sobretudo como os professores estão se preparando diante dessas urgências.

 Existe uma problemática que nos coloca diante de questões sobre, por exemplo, que políticas públicas e projetos sustentam o trabalho de inclusão digital e se, de fato, os programas e projetos oferecidos, com suas metodologias específicas realmente contribuem para que esses alunos avancem na aprendizagem, e tenham assegurada sua cidadania na promoção da acessibilidade digital na escola.

A Escola escolhida foi a Eney Santana, uma escola especial estabelecida há 49 anos, com a missão de educar crianças e jovens com deficiência e incluí-los socialmente, por meio da oferta de ensino especial nos níveis Fundamental, Educação de Jovens e Adultos (EJA), Oficinas Profissionalizantes e Atendimento Pedagógico Especial Funcional. A expectativa é de que a escola, uma vez promotora da acessibilidade à inclusão digital, alcance suporte metodológico e de recursos eficientes neste momento do ensino mundial, a fim de favorecer a continuidade dos estudos deste alunado com deficiência intelectual e/ou múltipla, mantendo a qualidade do ensino e da aprendizagem, de forma garantir o exercício da sua cidadania.

Assim é que esta pesquisa tem por objetivo avaliar o alcance e a importância das políticas de inclusão, na aprendizagem de alunos com deficiência intelectual e/ou múltipla na promoção da inclusão digital, na visão de professoras que utilizam tecnologias digitais no ensino fundamental da Escola Eney Santana da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), busca ainda conhecer as políticas de Inclusão Digital e quais projetos sustentam a acessibilidade tecnológica para educandos especiais; como se dá a capacitação desses professores, verificando as principais tecnologias digitais presentes e o alcance destas aos educandos e suas preferências; visa descrever os avanços no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos a partir da utilização de ferramentas digitais, e como ocorreu no caso das aulas remotas motivadas pela pandemia. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de campo, no método quali-quantitativo, por meio de observação e aplicação de questionários de perguntas fechadas, apresentando dados e tabelas comparativas, que revelam por meio de informações coletadas junto aos professores se este trabalho consegue acessar  estas políticas de incentivo à inclusão digital por meio da educação, quais as ferramentas digitais e programas mais utilizados por este alunado, o nível de capacitação de professores e qual a atuação dessas tecnologias digitais no período da pandemia do Covid-19 quando as aulas tiveram que ser suspensas e à distância. A indagação que se impõe saber é se as políticas de Inclusão Digital e projetos sustentam a acessibilidade digital, capaz de promover avanços no desenvolvimento da aprendizagem a partir da utilização de ferramentas digitais.

Estrutura-se esta pesquisa em capítulos, com títulos temáticos discorridos a partir de uma ampla coleta de materiais bibliográficos que nortearam a organização do primeiro capítulo sobre “As Políticas Públicas e a Educação na Inclusão Digital. No capítulo 2 trata-se sobre “A Escola Eney Santana e a Inclusão Digital”, no capítulo três discute-se “Educação Especial, Inclusão e Tecnologias Digitais em Tempos de Pandemia do Covid 19” avaliando o uso dessas tecnologias em frente aos desafios de continuidade do ano letivo e o isolamento necessário suspendendo as aulas presenciais e, por fim, as Considerações Finais. 

2. POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO NA INCLUSÃO DIGITAL

A chegada das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC’s) nas últimas décadas marcaram e revolucionaram todo nosso modo de trabalhar, de se comunicar, de se interagir e de aprender. Na educação, as tecnologias digitais têm sido adequadas às práticas docentes como meio de estímulo e desenvolvimento de aprendizagens mais significativas, com forma de apoiar os professores na implementação de metodologias de ensino ativas, adequando o ensino-aprendizagem à realidade dos alunos, proporcionando meios de acesso digital em todas as etapas da Educação. Mas os desafios desse alinhamento educação-aprendizagem e tecnologias digitais é cada vez maior na busca de promover diariamente a alfabetização e o letramento digital, dado que muitos dos nossos alunos são desprovidos de condições socioeconômicas.

A questão da cidadania por meio do acesso à inclusão digital é vista como uma vertente mais ampla dessa discussão, diz respeito a um conjunto de diversos fatores sociais com consequências sociais, econômicas e culturais da distribuição desigual dos recursos no Brasil, incluindo os meios de comunicação em massa. Certo é que uma imensa parcela da população vai ficando à margem desse processo de empoderamento digital, que representa tão somente uma das facetas de uma situação que, na realidade, é de exclusão social.

Para Gonçalves (2013, p. 8).

Com o advento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) essas disparidades se tornam mais evidentes; e o acesso fácil e rápido a todo tipo de informação acirra as discussões e a preocupação em torno do assunto. A grande parcela da população que não possui as condições necessárias para ter acesso às novas tecnologias é motivo de inquietação para governos e sociedade civil, mas necessário se faz que se discuta a qualidade deste acesso. Exemplificando, não basta que o indivíduo possa acessar uma Internet de banda larga, mas, principalmente, que ele possua competência para utilizar de maneira satisfatória essa ferramenta. (GONÇALVES, 2013).

A preocupação que se desponta diante da seletividade social decorrente da exclusão digital é pensada frente a diversos grupos que ficam à margem desse acesso por diversos motivos e, dentre essa parcela exclusa, pensa-se a questão da pessoa com deficiência intelectual, que por sua condição pessoal já enfrenta outras limitações e exclusões, onde o comprometimento cognitivo e intelectual para a aprendizagem e compreensão de diversas situações ao seu redor já o coloca em uma desvantagem frente às exigências que o mundo da tecnologia digital faz frente à compreensão de seus sistemas e uso de suas ferramentas. Há, portanto, uma compreensão de que o deficiente intelectual não somente deva ter aceso a estas tecnologias, não se subestimando sua capacidade de utilizá-las, mas acredita-se que elas possam trazer o desenvolvimento de importantes competências e habilidades dentro do processo educacional de preparação para a vida.

A condição maior ao indivíduo livre é poder fazer escolhas e a informação, quando bem acessada e clara, favorece essas escolhas e assegura que a informação chegue ao acesso de todos. As TIC’s têm esse alcance de difusão de conteúdos diversos e que nos trazem inúmeros esclarecimentos. Isso é viver informado e a informação liberta porque esclarece e traz reflexões diante das escolhas.

Complementarmente à defesa do direito à liberdade de informação, o artigo 13º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), em vigor desde 1978, afirma que:

Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Este direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha. […] Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de ideias e opiniões. (OEA, 1969).

O indivíduo informado é um indivíduo com liberdade de escolhas por ter ciência de fatos e pode inclusive buscar formas de crescimento e desenvolvimento como ser social em interação.

Com relação à educação, a inclusão digital tem sido um parâmetro indicador da inclusão social e da própria qualidade de educação ofertada na formação do cidadão, que por sua vez perpassam pelo acesso de importantes direitos garantidos em políticas públicas.

A desigualdade social, política, econômica e cultural entra agora na era digital. Os indivíduos digitalmente excluídos também o são socialmente, pois o acesso à  informação  e  a  capacidade  de  transformá-la em  conhecimento  são fatores  decisivos  da  inclusão  social,  o  que  passa,  necessariamente,  pela educação de qualidade e acessível a todos. (GONÇALVES, 2013. p. 8-9).

Graells, (2007) considera que a finalidade do processo educacional é proporcionar aos estudantes e o conhecimento suficiente para que os mesmos consigam desempenhar seu papel de cidadão na sociedade. E este autor enfatiza a necessidade de se buscar utilizar recursos e metodologias novas que estimulem a interação e a integração social dos alunos, estimule a criticidade, as capacidades de comunicação e colaboração mútua. Dessa forma, o aprendizado do aluno não se restringiria ao espaço da sala e aos recursos únicos e oferecidos pela escola, ele também passa a ser mais protagonista do seu aprendizado.

No país podemos ver, no nosso dia a dia, várias formas de o governo fomentar o acesso à digitalização da população por meio de ações e projetos como: concedendo incentivos  fiscais  que  baixaram  o  custo  dos computadores  e notebooks,  facilitando  o  acesso  à  Internet;  equipando  as escolas  públicas  com  computadores  providos  de  Internet  banda  larga; estabelecendo  padrões  para  melhoria  da  própria  oferta  de  banda  larga  das concessionárias,  dentre  outras  ações e, mesmo diante  de  tantas  ações  de  promoção  da  inclusão digital,  ainda  é enorme o contingente de excluídos em todos os cantos do país, nas grandes e pequenas cidades e também no campo. Segundo Sorj e Guedes (2005, p. 2):

As  políticas  públicas  podem  aproveitar  as  novas  tecnologias  para melhorar as condições de vida da população e dos mais pobres, mas a  luta  contra  a  exclusão  digital  visa  sobretudo  encontrar  caminhos que diminuam seu impacto negativo sobre a distribuição de riqueza e oportunidades.

Os  recursos tecnológico e digitais, sites e serviços da nova geração digital também devem ser favoráveis não somente ao acesso, mas devem ser cada vez mais acessíveis no aprendizado de sua utilização tendo com características seu manuseio simples e fácil.

Este fato leva a discussão também das políticas e todas as instâncias ligadas à problemática, a necessidade de se incluir essa qualificação do professor como uma condição indispensável ao sucesso de qualquer proposta de inclusão digital, porque desta forma o professor também se torna um excluído digital.

Sabe-se que o aluno com deficiência, apresenta vários níveis de comprometimento de suas funções cognitivas e intelectuais, o que dificulta o resultado desse ganho. Assim, as ferramentas digitais proporcionam transformações significativas em maior ou menor escala que outros que apresentam maior comprometimento intelectual. Por isso, uns poderão chegar de forma visível ao aproveitamento desses recursos para viabilizarem as limitações de comunicação, a inserção no mercado de trabalho, como exigência da função, outros irão aprimorar suas habilidades de comunicação e interação social por meio das mídias sociais, enquanto outros, somente atingirão níveis básicos de habilidades de explorar esses recursos, como ligar e desligar, utilizar aplicativos fáceis que não demande leitura escrita, mas de seus desenhos e que tenha ferramentas de áudio-visuais na utilização, facilitando sua utilização. Essas habilidades estão descritas como habilidade de reconhecer e explorar Tecnologias Digitais e Interagir com diferentes mídias (CD01LD01) da BNCC.

Sobre as questões que vem permeando os interesses em promover a inclusão digital, surgem questões sobre o real objetivo em implantar as políticas públicas de inclusão digital, o que representa uma questão básica de cidadania, de oferta de capacitação conteudista como forma de vencer desigualdades e outros questionam o valor que tem a cultura digital e sua articulação educacional entre escola e sociedade, Bonilla (2009, p.09) declara que: “Continua a desarticulação entre escola e supervalorização da perspectiva conteudista da escola”.

Nesta perspectiva, os espaços de acessos às TIC’s devem servir a vários objetivos, uma vez que há uma estreita relação entre educação, escola, cultura e formação para a vida, pois Bonilla (2009,p.186) considera estes “espaços de inserção de jovens na cultura de seu tempo, e o tempo contemporâneo está marcado pelos processos digitais”. Portanto, é frente a esse  quadro, que se elaboram políticas públicas e criam-se programas de formação e qualificação de educadores que, por sua vez, irão ser moderadores dessa aprendizagem, com objetivos sociais, atendendo a reais demandas, impulsionando o acesso à inclusão digital por meio da Educação.

3. A ESCOLA ENEY SANTANA E A INCLUSÃO DIGITAL

A Escola Eney Santana é sustentada pela mantenedora APAE São Luís, desde 1972 quando a escola foi fundada por um grupo de pais preocupados com um espaço onde seus filhos com deficiência pudessem desenvolver-se com plena assistência e cidadania. Sua missão é contribuir para o desenvolvimento da educação e formação ética e cidadã da pessoa com deficiência intelectual e/ ou múltipla, por meio de ações concretas de desenvolvimento de suas habilidades e competências, com autonomia, qualidade de vida e inclusão social.

A Educação Especial deve acontecer com vista ao combate à discriminação e inclusão social e tem se esforçado para promover o direito ao acesso a todas as formas de políticas e projetos que promovam a inclusão digital. Os dispositivos de lei necessárias para isso como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos estudantes currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades.

Segundo a Política Nacional de Educação Especial (PNEE) (BRASIL, 2008, p. 11) a Educação Especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses estudantes no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas.

Nas Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008, p. 13) esta preconiza a responsabilidade de que os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender às necessidades educacionais de todos os estudantes. Dessa forma, é indissociável pensar em inclusão sem as devidas responsabilidades, adequações e investimentos, uma vez que as políticas estão aí e favorecem a implantação de inúmeros projetos e investimentos na área para promoção da acessibilidade, incluindo a de recursos e meios tecnológicos digitais.

Desde o ano 2001 a Escola Eney Santana, por meio do Projeto de Informática na Educação Especial (PROINESP) de estímulo à inclusão digital da pessoa com deficiência, fundou um laboratório de Informática (Antonia Zeile de Melo) e em 2018 o Programa de Inclusão Digital através de Tecnologias Assistivas. Uso do aplicativo LIVOX no tablete marca a oferta da tecnologia assistida por meio do Tablet e do LIVOX. Programa ofertado pelo CMDCA (Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente); A escola ainda oferta informática para os familiares dos alunos nos dois turnos. Assim, ano após ano busca qualificar seus professores e implementar novas ações e programas na inclusão digital.

4 EDUCAÇÃO ESPECIAL, INCLUSÃO E TECNOLOGIAS DIGITAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA DO COVID 19.

Os anos de 2020/2021 sem dúvida foram desafiadores para a Educação Especial, sobretudo neste momento de pandemia da Covid-19, desafiando educadores e sistemas educacionais a darem continuidade à escolarização e a parceria com as famílias/responsáveis, demonstrando a necessidade de se reinventarem, sobretudo ao trabalho que estava sendo desenvolvido, e para atender a esta nova demanda se adequaram sem perderem a qualidade e o foco da proposta educacional, e assim buscaram, através das tecnologias digitais, alcançar seus educandos em suas casas.

Inclusão, em tempos de pandemia da Covid-19, é garantir o direito ao acesso ao ensino, mesmo que remoto ou a distância, é planejar em uma perspectiva inclusiva, promover atividades e metodologias acessíveis, com respeito às necessidades, ao limite e ao contexto de rotina do aluno. E, por se tratar de um momento novo e nunca enfrentado, ainda se encontra em construção essa nova prática educacional, pois o momento é de fortalecimento da rede de auxílio, de tentar novas metodologias e formas de motivar os alunos e envolver as famílias e os profissionais da escola. A Revista Direcional Escola, 2021 nos traz a fala de alguns desses educadores:

É preciso ter o pé no chão e adequar as expectativas, estabelecendo metas reais e avaliações ao longo do ano para definir novos objetivos e possíveis alterações na prática cotidiana. Não existe uma receita pronta, mas conhecer o aluno e ter boas relações com a família, ter metas claras e priorizar os momentos individuais contribuem muito para o sucesso do pedagógico. (Wania Ermerick Burmester, 2021, Consultora Pedagógica do sistema Positivo de Ensino. REVISTA DIRECIONAL ESCOLA, p. 10).

Neste novo contexto desafiador e de superação da educação especial, as metodologias são condições indispensáveis para o processo de ensino aprendizado, sobretudo o fortalecimento das ferramentas digitais e de metodologias ativas, dinâmicas que tragam esse aluno para o protagonismo do processo de ensino, uma vez que ele fará da sua casa, sua sala de aula e seu ambiente de estudo, e seus familiares mediadores, juntamente com o professor, no auxilio dessas tarefas, respeitando as características de cada aluno, adaptações necessárias e um olhar para este como ser único e integral de acordo como preconiza a BNCC. Eles necessitam de protagonismo para desenvolver habilidades, principalmente as tecnológicas e digitais.  Dentro dessa perspectiva, o desafio é pensar ferramentas mais adequadas, atividades mais compatíveis, de construções concretas, promover orientações dessas atividades de forma que favoreça a compreensão do aluno e do familiar que ajuda nas tarefas, adaptação desses comandos, do tempo de realização, de entrega, de como será avaliado em todo processo.  Destaca-se neste momento, que há necessidade da formação de toda uma rede de apoio, união e colaboração com a dedicação de todos os envolvidos, sejam da escola ou da residência.

Na tentativa de promover uma rede de apoio com suporte tecnológico e digital aos alunos e professores, escolas públicas como a Escola Eney Santana estão disponibilizando Tablets com aplicativos de WhatsApp e internet aos professores, para que sejam possíveis adotar novas formas de levar o ensino aos alunos e melhorar a comunicação e integração com eles e a família. Mas também estão contempladas as atividades planejadas quinzenalmente com auxílio da pesquisa à internet, vídeos orientativos e informativos e as atividades impressas entregues quinzenalmente, com o recebimento também das já realizadas na entrega da quinzena anterior aos pais. Paralelamente, ao trabalho de sala, abriu-se um canal de comunicação e breve intervenção on-line e/ou semipresencial com o assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo, também com a utilização de tecnologias digitais e internet, constituindo-se em uma rede indispensável ao suporte dos alunos, professores e familiares. Neste período, o isolamento, a insegurança, os medos e todas as instabilidades advindas da pandemia e do isolamento atingiram os alunos e familiares que tiveram problemas como ansiedade, depressão e diversos tipos de transtornos.

METODOLOGIA

As propostas desta pesquisa se baseiam em estudos sobre a utilização de tecnologias digitais como forma de inclusão social e suporte ao processo de aprendizagem do educando com deficiência intelectual e/ou múltipla da Escola Eney Santana, São Luís -Ma. Esta desenvolveu-se inicialmente a partir de uma revisão bibliográfica, fundamentada em livros, artigos científicos e bibliografia eletrônica, visando um apanhado geral sobre as pesquisas já desenvolvidas, e que pudessem conter dados atuais e relevantes relacionados com o tema. Os métodos utilizados foram voltados para a pesquisa de campo, procurando o aprofundamento de uma realidade específica. Deu-se por meio da observação de fatos, registros e aplicação de questionário com perguntas fechadas com 14 professoras, e cujas análises desses dados foram tabulados e avaliados à luz das bases teóricas de importantes fontes de artigos, periódicos científicos, revistas de referências na área, documentos norteadores como a BNCC e opiniões de autores variados como: Gonçalves (2013), B. Júnior e Rodrigues (2012), Martins, Sorj e Guedes (2005) e Rosa (2013).

As questões foram elaboradas com o intuito de obter informações quali-quantitativas sobre o processo de inclusão digital, recursos tecnológicos, preferências, avanços na aprendizagem, a capacitação dos professores e sobre o suporte das tecnologias digitais em tempos de pandemia, influenciando na aprendizagem e formação cidadã.

5 ANÁLISE DA PESQUISA

A pesquisa, ao todo, apresentou quatro momentos, sendo que o primeiro diz respeito à sua etapa de elaboração do projeto, com fins de configurar de forma mais clara qual a intenção e onde a pesquisa pretendia chegar, que pontos a esclarecer, além de esperar responder a essas questões.

Posteriormente, foram realizados os questionários de 12 perguntas, 11 fechadas e 01 aberta com as 14 professoras, observação e registro do campo. E num quinto momento esses dados foram analisados e descritos em formas de gráficos. Na sequência, foram analisados à luz do que os autores já se posicionam sobre o assunto em questão.

E, por fim, foi feita uma pergunta aberta na 12ª questão sobre: qual a expectativa com relação ao uso de Tecnologias Digitais, tem-se como recurso para o desenvolvimento da aprendizagem dos seus alunos na Escola? Dentre as respostas foram variadas as expectativas da maior oferta de capacitações nessa área, passando por avanços no ensino e na aprendizagem com as Tecnologias Digitais, outras que essas tecnologias trouxessem mais dinamicidade ao processo de ensino-aprendizagem e até expectativas de que a escola continue sendo contemplada em outros programas e projetos.

É importante relembrar, ao término dessas considerações, o que Vagula (2011, p. 31396 – 313997) adverte, e que é perceptível na fala das professoras, que há necessidade de o educador receber capacitação não somente para o uso puro e simplesmente do ensino de conteúdos, mas de forma que essas ferramentas, por intermédio do ensino do professor traga transformações significativas ao seu aluno: “Se a incorporação de inovações pelos educadores não acontece de imediato, enquanto alguns mostram uma rejeição temerosa, outros, cautelosa e refletidamente, se encontram em processo de leitura e reflexão crítica de sua intencionalidade pedagógica. Não devemos jamais deixar de incentivar e promover a formação continuada destes professores.”

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar a inclusão digital e a educação à luz das políticas públicas e da adoção adequada de referenciais é propor discutir a educação, seus avanços em face da nossa realidade social, limitadora e excludente de importantes acessos a direitos que são básicos na Constituinte e em outros dispositivos legais. Frente a essa problemática vemos que o poder público tem buscado junto às entidades, discutir possíveis melhorias no ensino e implementação de planos e projetos educacionais de acessibilidade digital, com fins de propostas ousadas para a inclusão digital em escolas, o que tem provocado alguns avanços em relação há anos atrás. As escolas, parceiras nessa discussão e implementação de programas por meios de recursos destinados pelo governo, tem se aliado a parceiros como o MEC e iniciativas privadas.

Este estudo demonstra a importância de se discutir os avanços provenientes de programas e planos de apoio governamental para implementação do acesso a tecnologias digitais a estudantes com deficiência intelectual e múltipla, como forma de garantia do direito de cidadania, vem trazer uma análise a partir de um estudo de campo de que maneira esses programas chegam à escola, qual a predileção de alunos entre as variadas tecnologias digitais, traz uma visão de que forma é disposto o acesso à internet a alunos, professores e comunidade escolar, traz os incentivos e as dificuldades do professor em se capacitar para essas novas demandas metodológicas e o surgimento de uma variedade de novas ferramentas digitais que, independentemente da escola, já circulam entre a comunidade e os educandos com deficiência intelectual e/ou múltipla, tornando-se também uma demanda cobrada por eles e seus familiares.

Considera-se, finalmente, que discutir sobre exclusão digital e cidadania pode combater a exclusão digital instalada pela desigualdade social e a pouca democratização do acesso aos recursos tecnológicos, ao conhecimento de uso e o acesso à internet, oportunizando reduzir as diferenças de oportunidades, sobretudo ao educando com deficiência intelectual e/ou múltipla. E, a Escola Eney Santana, mantida pela APAE de São Luís tem buscado junto ao poder público viabilizar acessos a inclusão digital como forma de fazer valer o direito social da pessoa com deficiência intelectual e/ou múltipla.

REFERÊNCIAS

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[1]Psicóloga pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Pedagoga pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), especialista em Neuropsicologia pelo Instituto SINAPSE, especialista em Psicopedagogia pelo CAPEM, especialista em Educação Especial e Inclusiva pela UEMA.
Vanussa30@yahoo.com.br