A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA VIDA DAS CRIANÇAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11237624


Maria Daluz Ribeiro Boian1


RESUMO

A literatura está presente no planejamento do professor. Porém, diversas vezes, essa ação tem sido utilizada em apenas um momento: no encerramento do dia ou quando dá tempo, sem atribuir um valor de ensino-aprendizado ao aluno. Portanto, faz-se necessário discutir sobre essa prática que contribui de fato para o processo de ensino-aprendizado dos alunos, considerando a intensa busca do professor em se organizar e priorizar esse momento. Nesse artigo, serão indicadas algumas posturas que o professor deve assumir no momento da história com seus alunos, para torná-lo de fato um elemento de importância no ambiente escolar.

Palavras-chave: Literatura. Planejamento. Docente. Ensino- aprendizado. Prática pedagógica.

1.   INTRODUÇÃO

Este presente trabalho visa analisar a importância da prática da literatura na Educação Infantil promovendo assim ao professor, ferramentas que o auxiliem nesse processo. Sabemos que as crianças não começam lendo decodificando as letras escritas, mas fazendo a leitura através de figuras, analisando objetos e progressivamente a junção de letras formando as palavras.

Ao serem inseridas no ambiente escolar, percebe-se que as crianças não demonstram interesse por livros, isso ocorre, pois, o Brasil é um país de poucos leitores, onde as pessoas não têm o hábito de ler com muita frequência.

Tornar a sala de aula um espaço atrativo para que a criança desperte interesse pela leitura e sinta prazer é um desafio para os educadores, essa prática deve ser exercida diariamente e planejada com antecedência assim como qualquer outra atividade. Muitas vezes, o momento da história é deixado para o final da aula ou contada quando dá tempo, passando despercebida aos olhos do professor.

A literatura, portanto, tem sido caracterizada e executada como sendo um momento “se der eu faço”. O livro deve ser para o professor como uma ferramenta que contribui para o desenvolvimento da criança. Afinal, são através das histórias e conteúdo apresentados que o professor irá promover discussões, reflexões e questionamentos com seu grupo de alunos.

É possível compreender que a prática da leitura assume, portanto, novas funções pedagógicas, obtendo resultados, diagnósticos e proporcionando um novo direcionamento de atividades a serem realizadas. Fortalecendo essa ideia, será possível avançar em conhecimento e construir um processo que considere de fato o que é necessário.

Nesse artigo, portanto, serão indicadas algumas posturas que o professor deve assumir para proporcionar um momento literário prazeroso aos seus alunos e torná-lo de fato um elemento importante tanto quanto qualquer outro.

2.   BREVE RELATO SOBRE A ORIGEM DA LITERATURA INFANTIL

Nos dias atuais, a definição de infância não é a mesma da dos séculos passados, visto que, ao decorrer da história esse conceito e desenho da criança sofreu por muitas interpretações a partir da evolução social, cultural e histórica. Surgiram mudanças na sociedade, no conceito familiar burguês e na organização escolar.

O padrão familiar passou a ser visto com as figuras de pai, mãe e filhos, onde a criança era vista como um ser diferente pela sociedade que ao mesmo tempo passou a gerar inquietações em relação à educação.

Olhou-se para a criança a partir do momento em que ela passou a ser observada por essa sociedade como um ser que possui características e necessidades próprias, pois até meados do século XVIII essa mesma criança era considerada um adulto em miniatura, onde participava e acompanhava a vida social do adulto ao seu redor e nada a diferenciava dos demais.

Batista e Moreno (2005, p. 08) apontam que:

Nos séculos XVII e XVIII, movimentos culturais e religiosos como o Iluminismo e os movimentos protestantes foram substituídos por descobertas infantis, consideradas uma fase diferente da idade adulta e tratadas de forma diferente. Com o desaparecimento do fatalismo e da predestinação da vida, as pessoas se sentem protagonistas de sua própria existência e passam a atribuir papéis importantes à educação dos filhos.

Com o surgimento dessa definição e com um novo olhar, a criança passou a ganhar o seu espaço e junto com ela os primeiros livros voltados para a literatura infantil foram sendo escritos na Europa por alguns escritores como Charles Perrault e La Fontaine, suas obras focaram especialmente nos contos de fadas.

À medida que ocupava seu lugar, a literatura infantil foi retratando sua relevância e outros autores como os Irmãos Grimm, Lewis Carrol e Andersen foram surgindo e trazendo mais obras voltadas para a criança. E a escola passou a ser vista como algo fundamental na vida social, tendo a função de civilizar a criança para que ela pudesse enfrentar o mundo que a cercava.

[…] Após a descoberta da criança, o enfoque na literatura permitirá que ela leia, ou seja, informações sobre seus mais diversos saberes e a formação de seu pensamento e personalidade. (De acordo com os objetivos de ensino atuais). (COELHO, 1991, p. 139).

Como se pode ver a literatura infantil já fazia parte da vida da criança europeia, mas no Brasil pouco se falava sobre o assunto, sendo algo bem isolado e recente até os dias atuais. Ou como diz Lajolo e Zilberman (2003, p. 23) “registrada daqui e ali, a notícia do aparecimento de um ou de outra obra destinada a crianças”.

Um grande autor que trouxe para a literatura infantil brasileira renovação e prazer foi Monteiro Lobato, suas obras podiam e podem ser lidas dentro e fora da escola. Muitos outros autores cresceram e aperfeiçoaram um novo caminho através dos livros escritos por ele. Pois até então ler para crianças é a tradução de livros estrangeiros, neste caso, Cunha (1999, p. 23) nos diz: “No Brasil, a literatura infantil deve partir do ensino de obras e, o mais importante, é adaptada do português. Produção, que comprova a dependência típica da colônia”.

Toda essa evolução e crescimento dentro desse contexto aconteceram decorrentes a modernização e transformação que o país passou em meados da Proclamação da República em (1822). Consolidando a junção entre ensino e literatura e ligação que se faz presente até os dias atuais.

2.1. A LITERATURA NA VIDA DAS CRIANÇAS

Literatura é uma palavra que vem do latim “litteris” e que traz consigo o significado de letras. Uma instrução, conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem. A literatura é a arte da palavra escrita, de criar e compor textos, e existem diversos tipos de produções literárias como, por exemplo: literatura de ficção, prosa, literatura de cordel, poesia, literatura de romance etc. Cada uma delas cativam diferentes gostos e são direcionadas a públicos variados.

Muitas têm sido as tentativas de se definir Literatura. É possível, por exemplo, defini-la como a escrita imaginativa, sentido de ficção-escrita esta que não é literalmente, verídica. Mas se refletimos, ainda que brevemente sobre aquilo que comumente se considera literatura. Tal definição não procede (EAGLETON, 1994, p. 01).

A literatura infantil é um ramo da literatura, dedicada especialmente às crianças. Nisto estão incluídas histórias fictícias, biografias, novelas, poemas, obras folclóricas e/ou culturais, ou simplesmente obra contendo/explicando fatos da vida real. Ressalta-se que essa literatura surgiu em meados do século XVIII no continente europeu por Charles Perrault, suas primeiras obras foram publicadas tendo como objetivo o público infantil. O que diferencia a literatura infantil das demais literaturas é: o olhar e o enfoque que a criança tem, é a maneira como ela pensa e vê o mundo.

Ao nascer, o cérebro da criança pode fazer muitas coisas, mas ainda não está totalmente desenvolvido, quanto mais os sentidos forem estimulados, mais rápido será o desenvolvimento.  A leitura e o contato com os livros são formas de estímulo ao desenvolvimento da criança, por isso, recomenda-se apresentar a leitura e ler para a criança. Esse papel é da família, pois é muito comum ver as famílias passando essa responsabilidade para a escola.

Conforme Silva (1992, p. 57), “bons livros poderão ser presentes e grandes fontes de prazer e conhecimento. Descobrir estes sentimentos desde bebezinhos, poderá ser uma excelente conquista para toda a vida.”

Na maioria dos lares, a literatura não é uma forma de entretenimento e prazer, muitas vezes, a criança chega casa e não vê seus familiares com um livro em mãos se deleitando em seu momento de descanso. Nota-se que o livro não está na vida das crianças como forma de presente (nascimento, aniversário ou em alguma outra data comemorativa). Isso acontece, porque, muitos pais colocam a escola como a principal mediadora, sendo que o leitor se forma em casa desde o nascimento, partindo dos pais, mães, e avós e só depois entra o papel da escola com os professores mediando às leituras.

Muitos alunos talvez não tenham muitas oportunidades fora da escola, de familiarizar-se com a leitura; talvez não vejam muitos adultos lendo; talvez ninguém lhes leia livros com frequência. A escola não pode compensar as injustiças e as desigualdades sociais que nos assolam, mas pode fazer muito para evitar que sejam acirradas em seu interior. Ajudar os alunos a ler, a fazer com que se interessem pela leitura, é dotá-los de um instrumento de aculturação e de tomada de consciência cuja funcionalidade escapa dos limites da instituição (SOLÉ, 1998, p. 51).

Vivemos em um mundo onde a tecnologia e as informações chegam até nós de forma muito rápida, e o interesse pelos livros estão cada vez mais escassos. Se a criança não tiver a oportunidade de vivenciar um tempo que a proporcione, um momento de leitura e reflexão quer seja em casa ou na escola, ela crescerá como alguém sem criatividade e insensível em compreender a sua própria realidade.

Desde muito pequena a criança deve estar inserida em um ambiente que proporcione o hábito pela leitura e o adulto é modelo fundamental durante esse processo. Ao colocar a criança em contato com os livros ela passará a despertar em si o prazer em fazer novas descobertas. As histórias tanto lidas quanto ouvidas ampliarão a imaginação e capacidade de criar, além de desenvolver o vocabulário, visão de mundo, pensamento crítico, raciocínio lógico, melhorar a escrita e muitos outros benefícios.

O grande desafio do professor é fazer com que a criança leve a leitura/literatura como um dos maiores prazeres que podemos ter, pois tudo ao nosso redor é literatura. O professor deve oferecer aos seus alunos variedades de livros, recorrendo aos livros da escola, biblioteca, ou até mesmo ao seu acervo pessoal, trazendo diferentes gêneros e tipos literários, mostrando-os de maneira lúdica e despertando na criança o prazer pela literatura, até que a criança identifique qual seu estilo literário.

Muitas vezes ela poderá não gostar de um ou outro livro, mas se o professor estiver mediando, estimulando e oferecendo variedades, essa criança estará em uma busca constante e descobrirá qual seu estilo.

2.2. PROFESSOR E A PRÁTICA DA LITERATURA

Através da literatura pode-se trabalhar e explorar diversas habilidades na criança, como cognição, imaginação, criatividade, artes, valores, repertório, raciocínio lógico, conhecimento geral etc. Mas para que isso aconteça, o professor deve se planejar e colocar essa prática como algo de extrema importância em seu planejamento diário. Criar o hábito de ler para os alunos com uma intencionalidade pedagógica e com um olhar no ensino-aprendizado que a criança terá ao realizar essa ação.

Cabe ao professor apresentar aos seus alunos desde muito pequenos os diferentes gêneros textuais para que eles possam desenvolver e ter a capacidade crítica de argumentar e reorganizar seus pensamentos. De acordo com Soares (2008, p. 33),

É função e obrigação da escola dar amplo e irrestrito acesso ao mundo da leitura, e isto inclui a leitura informativa, mas também a leitura literária; a leitura para fins pragmáticos, mas também a leitura de fruição; a leitura que situações da vida real exigem, mas também a leitura que nos permita escapar por alguns momentos da vida real.

Como se pode perceber, cabe ao professor dentro do contexto escolar trazer materiais diversificados, como, gibis, revistas, jornais, receitas, bulas e os tradicionais livros infantis, além daqueles que falam de valores e são ricos em conteúdo. Não apenas textos didáticos com exercícios de análises ou histórias sem o conhecimento prévio para preencher o tempo restante do dia.

A escola deveria dispor de livros em bom estado, atuais e de um espaço adequado como uma biblioteca funcional, isso ajudaria o professor a ampliar seu repertório de estratégias, pois uma vez por semana seus alunos teriam a oportunidade de ir a esse local e escolher um livro de sua preferência, podendo levá-lo para casa e junto com a família ter um momento de leitura. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 36):

Não se formam bons leitores oferecendo materiais empobrecidos, justamente quando as crianças são iniciadas no mundo da escrita. As pessoas aprendem a gostar de ler quando, de alguma forma a qualidade de suas vidas melhora com a leitura.

A sala de aula é o local onde a criança passa a maior parte do tempo, ela deve ser um espaço agradável e prazeroso para que através da mediação do professor o aluno desenvolva e construa um aprendizado significativo.

Nesse sentido,

A sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo importante para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito menos desmentida sua utilidade. Revela-se imprescindível e vital um redimensionamento de tais relações (ZILBERMAN, 2003, p.16).

O professor deve se organizar com seu planejamento semanal e separar com antecedência os livros, textos ou conteúdo a serem passados aos seus alunos. É importante que ele se atente para a faixa etária das suas crianças e que nem todas têm o mesmo tempo de concentração.

3.   CONCLUSÃO

A leitura sempre foi e é o meio mais efetivo para o aprendizado e construção de conhecimentos. O contato com os livros não deve ser apenas no momento da alfabetização, é importante que ele esteja presente de forma lúdica, como por exemplo, com figuras e de maneira divertida na vida da criança. É fundamental tanto para a família quanto para o professor que a criança sempre que possível, veja essas figuras com um livro em mãos, isso influenciará no desenvolvimento e gosto pela leitura.

A literatura na Educação Infantil amplia o vocabulário e leva à criança a despertar o ato de ler. Nos anos iniciais, a criança desenvolve o gosto pela leitura e como resultado, melhora sua escrita e outras habilidades como já mencionado anteriormente. Com isso, a prática da literatura na Educação Infantil auxiliará e facilitará o aprendizado contínuo da criança.

Portanto, a literatura infantil deve ser uma prática feita pelo professor diariamente, pois através desse hábito a criança estará em contato com o mundo que a cerca e ela terá um desenvolvimento integral, além de possibilitar um desenvolvimento de um sujeito crítico.

4.   REFERÊNCIAS

BATISTA, Cleide Vitor Mussini; MORENO, Gilmara Lupion. Visão histórico-filosófica de infância, perspectiva de infância na contemporaneidade. In: ZAMBERLAN, Maria Aparecida Trevisan (Org.). Educação Infantil: subsídios teóricos e práticas investigativas. Londrina: CDI, 2005. p. 7-18.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília/ DF: MEC, SEF, 1998.

COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil: das origens indo- europeias ao Brasil Contemporâneo. 4. ed. São Paulo: Ática, 1991.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: teoria e prática. 18. ed. São Paulo: Ática, 1999.

EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: Uma Introdução 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: histórias e histórias. 6. ed. São Paulo: Ática, 2003.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Ed. Brasiliense. 1990.

PAIM, Jame Mari. Da sedução do professor pela literatura à sedução do aluno. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2000.

ROCHA, Ruth. Para não vacinar a criança contra a leitura. Leitura: teoria & prática, v. 2, p. 3- 10, out. 1983.

SILVA, Ana Araújo. Literatura para Bebês. Pátio, São Paulo, n.25, p. 57-59, fev./abr.2003.

SOARES, Magda. Introdução – Ler, verbo transitivo. In. PAIVA, Aparecida; MARTINS, Aracy; PAULINO, Graça; VERSIANI, Zélia (Orgs.) Leituras Literárias: discursos transitivos. Belo Horizonte: Ceale; autêntica, 2008.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura; trad. Cláudia Schilling. 6 ed. Porto Alegre: ARTMED, 1998.

ZILBERMAN, Regina. A literatura Infantil na escola – 1, ed. rev., atual., e ampl. São Paulo: Global, 2003.


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