REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11110606
Joyce Catarina Lopes De Morais
Janaina Mendes Diniz
Orientador: Leopoldo Nelson Fernandes Barbosa
HIGHLIGHTS
1. O efeito da utilização de metodologias ativas por docentes na graduação de enfermagem. |
2. A formação dos docentes sem a utilização de metodologias ativas. |
3. O primeiro contato do aluno com Metodologias Ativas na graduação em enfermagem. |
RESUMO
Objetivo: Analisar a utilização das Metodologias Ativas de aprendizagem na graduação de enfermagem. Método: Estudo qualitativo e exploratório, com 11 professores do curso de enfermagem de uma faculdade Pernambucana. A coleta de dados ocorreu por meio da entrevista semiestruturada, sendo transcritas e analisadas seguindo a proposta de Minayo. O estudo foi aprovado via parecer 4.766.858 do CEP/FPS. Resultados: O conteúdo das falas foi dividido em três categorias: a não utilização de Metodologias Ativas na formação dos docentes, Metodologias Ativas como potencial motivador no processo ensino-aprendizagem e o primeiro contato do aluno com Metodologias Ativas na graduação em enfermagem. Verificou-se que nenhum dos participantes teve contato com as Metodologias Ativas durante a graduação, sendo este contato iniciado apenas nas pós-graduações. Conclusão: Os entrevistados compreendem o potencial transformador da Metodologias Ativas, porém, ressaltam que o ensino ativo exige dedicação dos profissionais que irão utilizá-las.
DESCRITORES: Educação em Enfermagem; Aprendizagem; Docentes; Ensino.
ABSTRACT
Objective: To analyze the use of Active Learning Methodologies in undergraduate nursing. Method: Qualitative and exploratory study, with 11 professors from the nursing course at a college in Pernambuco. Data collection occurred through semi-structured interviews, which were transcribed and analyzed following Minayo’s proposal. The study was approved via opinion 4,766,858 from CEP/FPS. Results: The content of the statements was divided into three categories: the non-use of Active Methodologies in teacher training, Active Methodologies as a motivating potential in the teaching-learning process and the student’s first contact with Active Methodologies in nursing graduation. It was found that none of the participants had contact with Active Methodologies during their undergraduate studies, with this contact only beginning during postgraduate studies. Conclusion: The interviewees understand the transformative potential of Active Methodologies, however, they emphasize that active teaching requires dedication from the professionals who will use them.
DESCRIPTORS: Nursing Education; Learning; Teachers; Teaching.
1. INTRODUÇÃO
Entende-se por práticas pedagógicas as atividades elaboradas pelo docente durante o processo ensino-aprendizagem, e não apenas um movimento repetitivo de repasse de conteúdo, mas sim ações as quais o professor necessita ter conhecimento e que seja fluida a realização e partilha. Essas práticas devem ser pautadas em um cenário social, político e cultural envolvendo mudanças sociais, garantindo a compreensão, pluralidade e qualidade da instrução aos discentes, estimulando o pensamento crítico reflexivo na atuação nos mais diversos campos da enfermagem, sejam eles ensino, pesquisa, extensão ou assistência e necessita estar fundamentada em um eixo temático teórico e metodológico1.
Faz-se necessário o uso de alguns recursos fundamentais para garantir que este processo seja dinâmico, tais como: pertencimento do assunto, associação entre a prática e a teoria, delineamento da metodologia usando instrumentos não convencionais, além de uma boa relação entre docente e discentes, incentivo a práticas holísticas, como também a produção científica2.
No intuito de proporcionar a construção de um profissional de enfermagem crítico-reflexivo para tomada de decisão, é necessário que as instituições de ensino ofereçam metodologias que possibilitem o desenvolvimento de habilidades operacionais e cognitivas de forma autônoma e dinâmica, tornando o estudante ator do seu aprendizado e estimulando suas habilidades técnicas, intelectuais, cognitivas e seus relacionamentos interpessoais3.
Para isso é necessário ao docente desenvolver uma postura pedagógica a qual permita um diálogo com os discentes instigando-os a construir o seu próprio conhecimento de modo que este oportunize mudanças de ações, condutas e pensamentos, considerando que o papel do professor constitui como igualmente importante facilitando o processo de ensino-aprendizagem4.
As metodologias ativas têm sua abordagem pautada em sete aspectos: O posicionamento do discente enquanto centro do processo ensino aprendizagem, colocando de lado a centralidade do docente, passando a ter uma postura ativa frente ao seu aprendizado, exigindo o desenvolvimento do hábito de leitura, pesquisa, questionamento e aplicação do conteúdo aprendido. Outro aspecto é a autonomia do discente, visto que na escola tradicional o ele é considerado um receptor de informações, não exercendo seu pensamento crítico, porém com a disseminação dos métodos ativos, a educação passa a ser dinâmica, permitindo que ele exerça sua autonomia5.
Permitir o desenvolvimento dessas características, a problematização da realidade e reflexão, integrando e articulando os assuntos, de modo que reflitam a realidade do estudante, possibilitando o pertencimento da situação para melhor associar a teoria à prática. Na atualidade, percebe-se a importância de novas metodologias serem vistas e adquiridas pelos docentes, uma vez que o protagonista da sala de aula deve ser o discente, este deve estar motivado a aprender e ter autonomia para encontrar este aprendizado através da orientação, supervisão e do docente, favorecendo assim, um ambiente de sala de aula oportuno6.
As metodologias ativas voltam-se a perspectiva que favorece a possibilidade do estudante ser o sujeito principal de seu aprendizado, através da motivação, que é ofertada pelo docente, criando assim um ambiente colaborativo ao aprendizado7.
Entendendo que o docente é parte fundamental para a implantação dessas metodologias, a formação desses profissionais vem sendo objeto de discussão, uma vez que há a concepção equivocada de que para ser docente o conhecimento clínico e prático seja o suficiente sobrepondo a competência pedagógica. Soma-se a isso o fato de que esse profissional docente, comumente é fruto de um bacharelado pautado em ensino próprio para a área da enfermagem e não para o uso de ferramentas pedagógicas8.
Enquanto a grande maioria das instituições de ensino de enfermagem voltam-se para a formação de bacharéis, visando aplicabilidade de seus conhecimentos em áreas inerentes à saúde, tais como atenção primária, hospitalar ou saúde coletiva, a graduação em licenciatura vem como complementação dos conhecimentos, afim de preparar os profissionais da área para a docência em cursos técnicos e profissionalizantes, ganhando grande notoriedade devido ao aumento de instituições de ensino técnico, além da grande necessidade dos serviços de saúde por profissionais qualificados na área técnica9.
Desse modo, o presente estudo teve como objetivo analisar a utilização de metodologias ativas por docentes na graduação de enfermagem.
2. MÉTODO
O método utilizado para desenvolver este estudo foi através de pesquisa qualitativa e exploratória. A população de estudo foi constituída por docentes do curso de graduação em enfermagem na Faculdade dos Palmares (FAP).
A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas individuais realizadas por via remota por meio de um roteiro de entrevista semi-estruturada elaborado pelos pesquisadores. Esse formato se justifica pela situação de pandemia neste momento. Inicialmente foi realizado um contato por telefone, onde foi solicitado e-mail para encaminhamento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) onde foi entendido como consentido a resposta ao e-mail com TCLE.
A entrevista foi realizada através da plataforma Google Meet, após agendamento de horário estabelecido previamente pelo entrevistador e entrevistado e disponibilizado o link via e-mail. Para realização da entrevista o entrevistado precisou utilizar conexão via internet e um notebook. Foram incluídos no estudo professores de ambos os sexos e com pelo menos 6 meses de atividades ininterruptas na instituição e que utilizem metodologias ativas na sua prática de ensino, conforme orientações dadas na figura1.
Figura 1: Fluxograma de captação dos participantes.
Foram excluídos do estudo os docentes que se desvincule da instituição durante a coleta de dados. Professores que estejam afastados das suas atividades profissionais por licença médica ou algum outro motivo que impeça a realização da coleta de dados nainstituição.
Este estudo seguiu as normas delimitadas pela resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde que dispõem acerca dos preceitos éticos e legais para pesquisa com seres humanos. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Faculdade Pernambucana de Saúde e aprovado sob o número de CAAE:47536021.0.0000.5569. Todos os integrantes foram devidamente informados e esclarecidos da finalidade da pesquisa e a importância da participação deste estudo por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O anonimato é garantido mediante o uso de códigos alfanuméricos iniciando com P (Participante) e 1 (ordem da entrevista).
3. RESULTADOS
Participaram do estudo 11 docentes, de ambos os gêneros com predominância maior para o feminino (n=6), com idades entre 20 e 50 anos, com tempo médio de prática profissional entre cinco e 20 anos. Após transcrição e análise do corpus, emergiram três categorias: a não utilização de metodologia ativa na formação dos docentes; metodologia ativa como potencial motivador no processo ensino-aprendizagem e o primeiro contato do aluno com Metodologias Ativas na graduação em enfermagem, das quais destacamos as seguintes falas:
3.1 Categoria 1: A não utilização de metodologia ativa na formação dos docentes
“Olhe, como eu disse a você na minha formação eu não tive nenhuma metodologia ativa, né? E aí, o primeiro contato que eu tive com a metodologia ativa foi já no curso de especialização que eu fiz de pedagogia para saúde, no curso de enfermagem. Nessa especialização eu me encantei, depois na pós eu fiz uma especialização pela Fiocruz de Epidemiologia e Análise de Dados e essa especialização foi totalmente com metodologia ativa, então assim, influenciou eu digo que em 100% na minha prática hoje. Hoje eu não consigo ministrar uma aula sem introduzir uma metodologia ativa, a princípio os alunos eles acham ruim, né? Estão acostumados com a figura do professor como aquele ser que sabe de tudo, e aí a partir do momento que você começa a estigar o aluno com que ele fale, participe, que ele seja o ator principal do cenário, aí eles ficam meio receosos e uma certa rejeição e quando eles vão vendo que estão aprendendo, aí eles cedem mais. Então a metodologia ativa na minha graduação não, mas nas minhas pós-graduações ela influencia em 100% no meu processo de trabalho hoje” (Participante 1)
“Influenciou dessa minha formação profissional porque eu vi a diferença do ensino tradicional e da metodologia ativa que a metodologia ativa é muito mais fácil chegar ao objetivo ali que a gente tá trabalhando em sala de aula então por isso que hoje eu também utilizo a metodologia ativa”. (Participante 2)
“Como eu disse para você na minha formação de graduação eu não tive o contato com metodologia ativa, eu vim conhecer as metodologias ativas, o uso delas no ensino quando eu fui aluno de mestrado, tive uma professora que utilizava muito na disciplina dela, uma disciplina de didática do ensino superior e ela trabalhava muito com essas metodologias. E aí eu tive 2 exemplos, o exemplo do que não fazer enquanto apenas só transmitiu somente o conhecimento para aluno, achar que o aluno é uma caixa vazia e sair disparando tudo que é informação para ele que foi o que foi feito em grande parte da minha graduação e também aprender com essa professora durante a formação do mestrado que a gente pode utilizar de outras estratégias para poder fazer o aluno pensar. Na verdade, a metodologia ativa ela estimula nesse caso o aluno a refletir o que é que ele está estudando de uma maneira como o próprio nome diz ativa não passiva em relação a tudo”. (Participante 3)
“É um estímulo para adoção de novas estratégias que possam contribuir para a formação do estudante principalmente na área de enfermagem, uma vez que a gente está lidando com vidas, então a gente precisa trazer esse aprendizado de forma contínua lúdica e também leve para facilitar essa instrumentalização na profissão”. (Participante 4)
“Eu acredito que é importante viver isso na minha formação como estudante também porque me dá um olhar também, como esse aluno, então para a partir disso eu criar estratégias como docente, então acredito que enriquece a experiência”. (Participante 5)
3.2 Categoria 2: Metodologia ativa como potencial motivador no processo ensino-aprendizagem.
“O próprio método já diz, são métodos que eu costumo dizer que são bem inovadores e é o oposto do método tradicional a qual eu fui formada, né? E desde o ensino médio até a graduação, e aí, eu me encantei pelas metodologias ativas após minha graduação com cursos de qualificação que eu comecei a fazer em cima da metodologia problematizadora. Então pra mim, metodologias ativas são métodos de ensino aonde o ator principal não é o professor e sim o estudante. São métodos que ele faz com que as aulas sejam mais motivadoras, sejam mais dinâmicas, que busca daquele estudante ele opinar, ele realmente instiga para que ele seja um sujeito critico reflexivo. E assim, o que mais me encanta na metodologia ativa é porque você parte diante de uma realidade, contextualiza com a realidade e literatura e a gente ver que os estudantes terminam modificando aquela realidade, né? Então assim, eles são sujeitos participativos do processo de ensino e aprendizagem”. (Participante 1)
“Metodologias ativas é aquela metodologia que a gente utiliza falando assim bem claro, né? Direto, que é diferente do ensino tradicional onde a gente vai botar o aluno ali como protagonista utilizar dessas ferramentas para facilitar o ensino dele”. (Participante 2)
“ Ó, entendo por metodologia ativa como o próprio nome diz, qualquer método que estimule o aluno a executar algo, alguma atividade de pensamento. Então quando eu penso no seguinte, metodologias ativas eu penso naquelas em que o estudante vai lá mobilizar atitudes, conhecimentos, habilidades em forma de trabalhar para aprender algo ou para conhecer algo. A gente entende que na metodologia ativa é importante conhecer o aluno, conhecer os estudantes que a gente vai fazer atividade para propor uma estratégia de metodologia que ele realmente vai utilizar essas condições para poder realmente colocar em prática a atividade que vai ser proposta e adquirir o conhecimento como resultado”. (Participante 3)
“Elas são um recurso metodológico para facilitar o ensino e também a aprendizagem dos alunos então de modo que esse aluno ele tenha um protagonismo, tenha incentivo e possa alcançar os resultados esperados de acordo com o plano que foi elaborado para aquela disciplina, para aquela”. (Participante 4)
“Eu entendo que as metodologias ativas elas propiciam uma participação maior do estudante no processo de ensino aprendizagem”. (Participante 5)
3.3 Categoria 3: O primeiro contato do aluno com Metodologias Ativas na graduação em enfermagem
“Olhe, as dificuldades da metodologia tradicional é exatamente o oposto da ativa por que na metodologia tradicional é mais difícil você fazer reter a atenção do estudante, você não consegue com facilidade, tornar a aula prazerosa, a aula motivadora, de difícil motivação, difícil prender a atenção do aluno, por que como eu falei, são pessoas adultas, boa parte delas já vem de uma jornada de trabalho exaustiva durante o dia, se a aula for a noite, ou se a aula for a tarde e eles trabalham a noite e ou pela manhã, um turno, enfim. Mas, eles já vêm de alguma jornada de trabalho, é mais difícil você prender o aluno aonde o professor é ao ator principal daquele cenário. Outra dificuldade é a questão de instigar o aluno a despertar o aluno pela pesquisa, pelas leituras, né? Que é o oposto da metodologia ativa. Já na metodologia ativa a dificuldade muitas vezes que eu particularmente eu tenho é a questão de que você tem que sempre tá tendo alguma criatividade mesmo você conhecendo os métodos mas as vezes você vai preparar uma aula e por exemplo, a gameficação, “esse Kahoot aqui eu já utilizei dessa forma, ai deixa eu pensa aqui uma outra forma” ou eles vão fazer apresentação de seminários e aí eu vou indicar pra eles algo que não seja apresentação de slides, uma palestra expositiva. Então a dificuldade que eu particularmente tenho mais na metodologia ativa é de manter, eu me manter em constante criatividade, em constante atenção pra que desperte mais atenção deles ainda, entende? É a dificuldade maior que eu tenho”. (Participante 1)
“No uso da metodologia ativa, dificuldades é realmente essa resistência que tem por parte de alguns. Na metodologia tradicional a dificuldade é a gente tentar trazer o gosto de estudar para esse aluno, porque a metodologia tradicional muitas vezes a gente afasta esse contato aluno-professor”. (Participante 2)
“Dificuldades no ensino tradicional: eu acho que a questão da falta de criticidade do estudante, a gente não consegue fazer que aquela pessoa se torne muito crítica, ou não crítica realmente, até porque ela está aprendendo conteúdo para passar na prova eu, estou dando uma aula para uma pessoa passar na prova, ela teve a aula, estudou e na véspera da prova ela vai lá, decora todo o conteúdo da prova, as questões, o professor colocou de acordo com que ele decorou, nota 10. Na metodologia ativa a avaliação ela é um processo de construção, ela é uma avaliação que é formativa, somativa, comportamental atitudinal, de habilidade, então tudo isso vai envolvendo a construção do método, é o método ativo ele permite isso na verdade, da gente não enxergar o aluno só como uma avaliação escrita que ele fez, é todo um conjunto de interações, de comportamentos que a gente avalia junto”. (Participante 4)
“Na metodologia tradicional as dificuldades que a gente enfrenta hoje é que os estudantes, o perfil do estudante mudou, então é aquele que são mais quais questionadores, eles querem respostas, então eles estão sempre buscando outras alternativas então, isso é uma grande dificuldade em ainda utilizar esse tipo de metodologia tradicional. Já a metodologia ativa ela exige um pouco mais do professor, então você precisa se debruçar sobre aquele conteúdo, você precisa ter conhecimento sobre aquele conteúdo, e facilitar essas estratégias de aprendizagem. Então uma vez que a metodologia tradicional já causa uma certa estranheza por parte desses estudantes a metodologia ativa ela traz um desafio em particular para o professor”. (Participante 4)
“Às vezes é a implicação do aluno naquilo, é o aluno se implicar naquela atividade que está sendo proposta, ele se implicar na própria formação dele, ele entender que é um processo dele, que por mais que o professor estimule, mas é um processo de formação dele e que precisa de fato desse engajamento por parte dele. Que não é só um conteúdo, é puramente teórico, que ele vai aprender sozinho, mas que a construção precisa de uma disponibilidade, de um investimento por parte dele, é algo que apresenta dificuldade por parte dos alunos e acaba interferindo também no docente, no professor”. (Participante 5)
4. DISCUSSÃO
Os participantes relataram que durante o período de graduação não tiveram contato com as metodologias ativas, sendo o ensino tradicional predominante durante a formação profissional. Entretanto, informaram que o contato ocorreu, se sua maioria, durante a especialização, principalmente o mestrado. Esse contato, mesmo que tardio, reflete na forma como os docentes estruturam e realizam suas atividades em sala de aula, conforme mostra os relatos.
Além disso, os participantes também relataram a importância de inserir essas MA’s na sua prática profissional enquanto docente da graduação, com o intuito de deixar a didática mais fluída, de fácil aprendizagem e corresponsabilizando o aluno pelo seu aprendizado. É importante que as universidades desenvolvam estratégias voltadas para o investimento na formação do corpo docente para que possam obter resultado transformador na produção de ensino e pesquisa, promovendo no docente uma consciência crítica quanto as concepções de ensino10.
Segundo Freire, ensinar requer rigorosidade metódica cuja tríade ensinar/aprender/pesquisar são elementos indicotomizáveis e uma das condições indispensáveis à valorização do conhecimento pedagógico. Conforme os relatos do docentes, pode-se perceber que há pouco sendo feito em relação formação de professores, às condições adequadas de trabalho e a salário justo, observa-se ainda em todos os níveis de formação a baixa informação cultural, assim, identificamos a criação de programas compensatórios de supletivos quando estes deveriam ter sido de fato investido na educação básica11.
É necessário que os educadores se conscientizem da responsabilidade que possuem e modifiquem o dia a dia escolar com aprimoramento e a percepção da prática escolar, pois sua postura pode contribuir e reforçar a importância de aprender, que o aprendizado está diretamente relacionado a evolução do indivíduo. Que este ser a partir do conhecimento pode ser mais transformador, provocando uma sociedade culta e independente12.
A atividade educativa está presente em todas as esferas da vida social, é um sistema instrucional diferenciado que tem propósitos e práticas com o objetivo de estabelecer o grau de conhecimento organizado no indivíduo. O conhecimento oferta a possibilidade de pensar de maneira crítica, assim o professor através da didática de ensino deverá estabelecer uma formação profissional teórica e prática, dessa forma as metodologias ativas promovem a inclusão do estudante no sistema de ensino e aprendizagem, o aluno sai de um agente passivo e torna-se um ser ativo na construção do saber através de incentivos sobre o conhecimento e análise de problemas13.
Segundo Berbel (2011) as metodologias ativas embasam-se em formas de compreensão o processo de aprendizagem, aplicando experiências reais ou simuladas, contendo às situações de resolver com sucesso, os obstáculos decorrentes das atividades essenciais da realidade social, em contextos diferentes. A interação dos alunos, sua coletividade, buscam uma aprendizagem que desenvolva um aluno com criticidade, pois essa compreensão lhe proporciona a assimilação da cultura local da qual ele está inserido, assim serão capazes de tomar suas próprias decisões. As metodologias ativas causam efeito de interacionabilidade que são definidas para a necessidade do processo de assimilação e atuação profissional14.
Através desse tipo de metodologia percebe-se a necessidade de conhecer atuação prática do indivíduo de modo que a atuação do estudante atenda as necessidades práticas e teóricas dele, pois quando se tem aprendizado compartilhando experiências, é possível expandir o raciocínio crítico e democrático, daí a importância de a instituição de ensino promover momentos de interação em conjunto15.
O processo de estimular o aluno a agir é pertinente na educação, uma vez que essa ação leva o aluno a interferir nas suas próprias concepções habilitando-o a se tornar mais crítico reflexivo. A MA deve ser trabalhada de maneira consciente, planejada e preparada promovendo ao docente mais alegria no ato de ensinar e ao aluno mais autonomia e confiança16.
A MA está diretamente relacionada a aprender fazendo, ela atua fortemente no ensino baseado em projeto e ações desenvolvidos pelos alunos, favorecendo aos estudantes condições de aprendizado a partir de teorias e práticas transformadoras compreendendo o mundo de maneira mais responsável e condizente com a realidade. O processo de ensino aprendizagem na graduação de Enfermagem está pautado nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s), estas conduzem uma formação dinâmica e contextualizada na perfeita relação entre ensino e pesquisa, provocando a formação de um profissional com aptidão para executar suas atividades em qualquer área de atuação17.
Os Cursos de graduação em Enfermagem necessitam de um Projeto Pedagógico que deve ser construído a partir das determinações contidas na Resolução CNE/CES Nº 1123, que norteia as Diretrizes Curriculares desta área de atuação, estes instrumentos orientam o professor quanto a mediação do processo de ensino aprendizagem, fortalecendo a necessidade de utilização de uma metodologia de ensino que estimule o aluno a pensar e agir baseados na ética profissional da categoria com rigor teórico e científico18.
Assim percebe-se a importância de novas metodologias serem vistas e adquiridas pelos docentes, uma vez que o protagonista da sala de aula deve ser o aluno, motivado a aprender e ter autonomia para encontrar o aprendizado através da orientação do professor, criando da sala de aula um ambiente oportuno. A MA favorece a possibilidade do estudante ser o sujeito principal do aprendizado, através da motivação que é proporcionada pelo docente, uma vez que o ambiente é colaborativo ao aprendizado 19.
5. CONCLUSÃO
Ao refletir sobre educação e seu vínculo com o processo de trabalho, é relevante considerar a utilização de novas práticas de ensino no processo de formação profissional de enfermagem. Ainda hoje, embora seja de conhecimento livre o impacto da utilização dessas metodologias a formação de estudantes, ainda há a necessidade de enxergar o efeito de transição entre o ensino tradicional para ativo e a falta de investimento na formação profissional.
De um lado, esses efeitos de transição, situados na educação em enfermagem impõem aos educadores um ritmo novo no processo de trabalho, marcado ainda pela dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Por outro lado, esses efeitos de transição, mostram as implicações ao reconhecimento dos próprios docentes da graduação de enfermagem, uma vez que eles estão determinados a conhecerem sobre as metodologias ativas de aprendizagem e poder observar resultados positivos no processo de trabalho em sala de aula.
As narrativas demonstraram o interesse dos docentes no resgate a necessidade de uma educação sustentada em “novos” pilares da educação que não vislumbrem apenas a aprendizagem das disciplinas, mas, sim um ganho de conhecimento geral além do que é visto na sala de aula. Diante disto é possível identificar a necessidade de reavaliar e integrar os saberes teóricos e práticos além de aproximar o ensino/serviço, compreendendo que tal mudança exige esforços intensos a fim de romper com os métodos tradicionais de ensino além de pensar em novas formas de incorporar a realidade na sala de aula, estimulando uma assistência efetiva, humanizada e de qualidade.
É responsabilidade dos autores as informações e autorizações relativas aos itens mencionados acima. A pesquisa está vinculada ao Parecer de nº: 4.766.858. Em virtude da Portaria CAPES 206, de 4 de setembro de 2018, que dispõe sobre a obrigatoriedade de citação da CAPES, solicitamos a todos os autores que informem o recebimento de auxílio à pesquisa em todos os manuscritos submetidos. A partir desta data, os autores devem fazer referência ao apoio recebido que decorram de atividades financiadas pela CAPES, integral ou parcialmente.
REFERÊNCIAS
1. Prado, Ernande Valentin, et al. “A Compreensão Da História Da Enfermagem a Partir Dos Métodos Ativos de Ensino/Aprendizagem Da Faculdade AGES.” Revista de Educação Popular 11.2 (2012): Accessed 3 Mar. 2024.
2. Magnago C, Pierantoni CR. A formação de enfermeiros e sua aproximação com os pressupostos das Diretrizes Curriculares Nacionais e da Atenção Básica. Cienc Amp Saude Coletiva [Internet]. Jan 2020 [citado 3 mar 2024];25(1):15-24. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232020251.28372019.
3. Bellaguarda ML dos R, Padilha MI, Pereira Neto A de F, Pires D, Peres MA de A. Reflexão sobre a legitimidade da autonomia da enfermagem no campo das profissões de saúde à luz das ideias de Eliot Freidson. Esc Anna Nery [Internet]. 2013 Apr;17(2):https:// doi.org/10.1590/S1414-81452013000200023
4. Bock LF, Vaghetti HH, Bellaguarda MLR, Padilha MI, Borenstein MS. A organização da enfermagem e da saúde no contexto da idade contemporânea (1930-1960). In: Maria Itayra Padilha, Miriam S. Borenstein, Iraci dos Santos. Enfermagem história de uma profissão. São Caetano do Sul: Difusão Editora; 2011. p. 253-94.
5. Paim Jair Nilson Silva. A Constituição Cidadã e os 25 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). Cad. Saúde Pública [Internet]. 2013 Oct 29; (10):1927-1936. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00099513.
6. Brasil. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal; 1988.
7. Brasil. Lei 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a Regulamentação do Exercício da Enfermagem e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde; 1986. [citado 2018 jun 04]. Disponível em: http://www2.camara.gov.br/internet/legislacao/legin.htm.
8. Vieira SL, Silva GTR, Silva RMO, Amestoy SC. Diálogo e ensino aprendizagem na formação técnica em saúde. Trabalho, Educação e Saúde. 2020;18(Suppl. 1):e0025385. Epub March 16, 2020. https://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol00253.
9. Medeiros AL, Santos SR, Cabral RWL. Sistematização da assistência de enfermagem na perspectiva dos enfermeiros: uma abordagem metodológica na teoria fundamentada. Rev. Gaúcha Enferm. [Internet]. 2012 Sep 33(3):174-181. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/10499/11366.
10. Gomes ARM, Vasconcelos HCA de, Silva O. Creativity: students and teacher’s opinion about the use of such skill in nurses training. J Nurs UFPE on line [Internet]. 2017 Apr [cited 2017 Sept 03];9(Supl. 3):7599-608. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/10499/11366.
11. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. 2002.
12. Ferreira JB, Andrade MCM. Formação continuada de professores universitários: A experiência da primeira turma de pós-graduação em Docência Universitária do UNIARAXÁ. Evidência, Araxá [Internet]. 2015 11(11):69-80. Available from: http://www.uniaraxa.edu.br/ojs/index.php/evidencia/article/view/470/449.
13. Mota A, Werner RC. Ensaio sobre metodologias ativas: reflexões e propostas. Revista Espaço Pedagógico [Internet]. 2018 May 28;25(2):261-276.
14. Berbel N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia dos estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011.
15. Menezes KR, Novaes MRCG. Formação pedagógica de professores de graduação em enfermagem: revisão integrativa da literatura, Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS, Com. Ciências Saúde. 2018;29(4):243-254 [link] http://www.escs.edu.br/revistaccs/index.php/comunicacaoemcienciasdasaude /article/view/336/238).
16. Ferreira JM. Os reflexos da formação inicial na atuação dos professores enfermeiros. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2008 Dec [cited 2020 Aug 26];61(6):866-871. Available from: http://www.uniaraxa.edu.br/ojs/index.php/evidencia/article/view/470/449.
17. Ribeiro JF, Costa JML, Silva MAC, Luz VLES, Veloso MV, Ribeiro AL Ibiapina, CDMM. Prática pedagógica do enfermeiro na docência do ensino superior. Rev enferm UFPE on line. 2018 Feb;12(2):291-302. Available from: link. https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/25129.
18. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem. Resolução CNE/CES nº 3/2001. Brasília: Ministério da Educação e Cultura. 2001.
19. Sobral FR, Campos CJG. Utilização de metodologia ativa no ensino e assistência de enfermagem na produção nacional: revisão integrativa. Rev. esc. enferm. USP [Internet]. 2012 Feb [cited 2020 July 03];46(1):208-218. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-2342012000100028&lng