REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202507251026
Alcleci Almeida Melo Pacheco1
Sandra Karina Mendes do Vale2
RESUMO
Este artigo tem como objetivo reunir e discutir os principais achados da literatura recente sobre a interação entre alunos com TEA e o ambiente escolar, aprofundar o conhecimento sobre o tema; identificar as lacunas; contribuir para o conhecimento do referencial teórico. Com abordagem qualitativa e descritiva, focada em sintetizar estudos publicados sobre o tema. Para a escolha dos trabalhos, foram estabelecidos critérios de inclusão como, publicação nos últimos cinco anos, redação em português disponibilidade integral e gratuita, e relevância para o tema em questão, as buscas para essa pesquisa foram feitas nas bases de dados BDTD e SCIELO. A busca foi conduzida utilizando as palavras-chaves, “Inclusão” AND “Transtorno do Espectro Autista” AND “Ambiente escolar”. Os dados analisados durante a pesquisa revelam que embora haja um reconhecimento crescente da importância da inclusão de alunos com TEA no ambiente escolar, a implementação prática ainda enfrenta obstáculos significativos. Destacam a falta de preparo dos professores, a carência de recursos pedagógicos adaptados e a infraestrutura inadequada como barreiras principais, além de políticas públicas muitas vezes não são efetivamente aplicadas. Conclui-se que a inclusão escolar de alunos com TEA é um direito fundamental, mas que exige transformações profundas no sistema educacional. A combinação de formação docente especializada, adaptações ambientais e currículos flexíveis é essencial para criar um ambiente verdadeiramente acolhedor.
Palavras-chaves: inclusão escolar; TEA; ambiente escolar.
ABSTRACT
This article aims to gather and discuss the main findings of recent literature on the interaction between students with ASD (Autism Spectrum Disorder) and the school environment, deepen the knowledge on the subject, identify gaps, and contribute to the theoretical framework. With a qualitative and descriptive approach, it focuses on synthesizing published studies on the topic. For the selection of works, inclusion criteria were established, such as publication within the last five years, full-text availability in Portuguese, free access, and relevance to the subject. The searches for this research were conducted in the BDTD and SCIELO databases. The search was performed using the keywords ‘Inclusion’ AND ‘Autism Spectrum Disorder’ AND ‘School environment. The data analyzed during the research reveal that although there is growing recognition of the importance of including students with ASD in the school environment, practical implementation still faces significant obstacles. Key barriers include the lack of teacher preparedness, insufficient adapted teaching resources, inadequate infrastructure, and the often-ineffective application of public policies. It is concluded that the school inclusion of students with ASD is a fundamental right but requires profound transformations in the educational system. A combination of specialized teacher training, environmental adaptations, and flexible curricula is essential to creating a truly welcoming environment.
Keywords: Inclusion school; ASD, school environment.
1 INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), é caracterizado Associação Americana de Psiquiatria (2013), como uma condição neurodesenvolvimental que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento, apresentando um espectro amplo de manifestações e severidades. Araújo et al. (2023), acrescenta que o TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta principalmente as áreas da interação social, linguagem e comportamento. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5, da Associação Americana de Psiquiatria (2014), que caracteriza o TEA a partir de dois aspectos: (a) déficits na comunicação e na interação sociais; e (b) comportamentos e interesses estereotipados ou repetitivos.
A pessoa com dentro do espectro terá ao longo da vida barreiras que terá que enfrentar para exercer seus direitos de forma plena, uma dessas barreira e a inclusão no ambiente escolar, que se tornou um tema crescente e relevante, uma vez que a escola desempenha um papel fundamental no desenvolvimento social, emocional e cognitivo dessas crianças. Leopoldino et al. (2021), aborda que a criança com autismo precisa de ações estruturadas para desenvolver suas habilidades, de forma que o método de aprendizagem esteja centrado nela e não em sua neurodivergência.
Camargo et al. (2020), destaca que a educação inclusiva surgiu mediante uma demanda social que visava atender a todos os excluídos do sistema de ensino. No entanto, a inclusão efetiva desses alunos enfrenta diversos desafios, que vão desde a formação inadequada de professores até a falta de recursos e adaptações curriculares necessárias para atender às suas necessidades específicas.
Sanches et al (2024), discutem a importância de um ambiente escolar que propicie o desenvolvimento de crianças autistas, enfatizando a necessidade de uma abordagem baseada nos princípios da educação inclusiva. É fundamental abolir preconceitos e reconhecer que essas crianças têm uma perspectiva única sobre o mundo. Cada uma delas, respeitando suas particularidades, é capaz de aprender e conviver harmoniosamente com crianças em desenvolvimento típico.
Os dados apresentados por Volkmar e Wiesner (2019), revelam informações positivas e esclarecedoras sobre a contribuição do ambiente escolar no progresso social e intelectual de crianças autistas. Historicamente, estudos indicavam que aproximadamente metade das crianças diagnosticadas dentro do espectro não desenvolviam a fala ao ingressar na educação formal. Contudo, avanços no diagnóstico precoce e em estratégias de intervenção reduziram essa proporção para cerca de 30%. A pesquisa também destaca que habilidades linguísticas mais desenvolvidas estão diretamente vinculadas a competências interpessoais aprimoradas e a uma maior capacidade de autonomia nas atividades cotidianas.
A inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) vai além da simples presença na escola; trata-se de garantir que elas se sintam realmente integradas ao ambiente escolar. Isso envolve sua participação em atividades de classe, atribuição de responsabilidades, envolvimento em jogos e brincadeiras, além de serem acolhidas por colegas e professores. Para que isso aconteça, é fundamental compreender suas limitações e desafios, evitando retrocessos ou traumas. Também é importante identificar os interesses do aluno, para que possamos valorizar suas habilidades e ajudá-lo a superar as barreiras que suas particularidades possam apresentar.
A realização de uma revisão literária sobre alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e seu contexto escolar é vital para entender como essas crianças vivenciam a inclusão, quais obstáculos enfrentam e quais práticas pedagógicas têm se mostrado eficazes na promoção de um ambiente educacional inclusivo e acolhedor. Além disso, uma análise abrangente pode fornecer informações valiosas para a formação de professores, o desenvolvimento de políticas educacionais e a implementação de intervenções que favoreçam a aprendizagem e o desenvolvimento integral dos alunos com TEA. Assim, este artigo tem como objetivo reunir e discutir os principais achados da literatura recente sobre a interação entre alunos com TEA e o ambiente escolar, enfatizando a importância dessa pesquisa para a construção de um sistema educacional mais inclusivo e justo, de forma mais específica, aprofundar o conhecimento sobre o tema; identificar as lacunas; contribuir para o conhecimento do referencial teórico.
2 METODOLOGIA
Este artigo adotou uma revisão da literatura, com abordagem qualitativa e descritiva, focada em sintetizar estudos publicados sobre o tema. A revisão integrativa permite analisar criticamente as evidências existentes, identificar padrões, contradições e lacunas no conhecimento, além de propor novas perspectivas teóricas ou práticas. Bento (2012 p.1), destaca que “envolve localizar, analisar, sintetizar e interpretar a investigação prévia, relacionada com a sua área de estudo; é, então, uma análise bibliográfica pormenorizada, referente aos trabalhos já publicados sobre o tema”.
Bento (2012), ainda apresenta a importância da revisão da literatura que não é somente para definir bem a questão investigada, mas também para obter um panorama geral sobre o estado recente dos conhecimentos sobre um dado tema, as suas lacunas e a contribuição da investigação para o desenvolvimento do conhecimento.
As buscas para essa pesquisa foram feitas nas bases de dados BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações) e SCIELO. Os descritores utilizados, em português e inglês, foram combinados com operadores booleanos “OR” e “AND”. A busca foi conduzida utilizando as palavras-chaves, “Inclusão” AND “Transtorno do Espectro Autista” AND “Ambiente escolar”.
Para a escolha dos artigos, foram estabelecidos critérios de inclusão como, publicação nos últimos cinco anos, redação em português disponibilidade integral e gratuita, e relevância para o tema em questão. Foram descartados trabalhos em idiomas estrangeiros, aqueles que estavam incompletos ou que tinham mais de cinco anos de publicação, artigos fora do contexto educacional, estudos com outras deficiências ou transtornos não relacionados ao TEA. Essa abordagem resultou na formação de uma base de dados inicial e primária, que fundamentou o desenvolvimento desta pesquisa.
Depois de uma triagem inicial por título e resumo, removendo duplicatas e estudos irrelevantes. Houve a leitura integral dos textos selecionados, aplicando os critérios de inclusão/exclusão. Chegando ao resultado final, que foram analisados e os dados compilados em um quadro que apresenta o título da obra, o ano e local da obra, identifica os subtemas, primeiros estudos sobre o tema, as teorias e autores, as metodologias utilizadas, os resultados e lacunas encontradas no trabalho.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Usando filtros como, palavras-chaves, trabalhos apenas em português, está periódico voltado para a área e que estejam no intervalo de tem nos últimos 5 anos, foram encontrados um total de 201 trabalhos que atenderiam ao menos um destes critérios. Na BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações) foram encontrados 56 trabalhos e selecionados 9 para uma análise mais profunda, já na SCIELO foram detectados 145 artigos e apenas 12 selecionados, totalizando 21 trabalhos selecionados para a leitura e análise integral. Finalizando com 6 obras que apresentavam os critérios propostos anteriormente para a inclusão.
O Quadro 2 apresenta os resultados da primeira parte de um levantamento sobre estudos relacionados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e à educação inclusiva. Organizado em três colunas principais, locais da pesquisa, primeiros estudos e subtemas.
Quadro 2 – Resultados do levantamento – parte 1
Locais da pesquisa | Primeiros estudos | Subtemas |
BDTD | Leo Kanner (1943) e Hans Asperger (1944), que descreveram características comportamentais e sociais. Lorna Wing (1981) consolidou o conceito de “espectro autista”. | A pesquisa aborda dimensões da educação inclusiva, práticas pedagógicas, gestão escolar, participação familiar, parcerias intersetoriais e políticas públicas, com foco na construção de indicadores qualitativos para a escolarização de estudantes com TEA. |
BDTD | Leo Kanner (1943), que descreveu o “autismo infantil precoce”, e Hans Asperger (1944), que identificou perfis cognitivos distintos | legislação educacional inclusiva, características do TEA, arquitetura escolar adaptada, práticas pedagógicas baseadas em evidências e desafios na implementação de políticas públicas. |
SCIELO | Em 1970 o conceito de educação inclusiva começou a ganhar destaque, por pioneiros como Wolfensberger e Stainback e Stainback | Desafios como a preparação inadequada de professores, a necessidade de políticas públicas efetivas, o papel da família e da escola no desenvolvimento desses alunos, e a importância de recursos pedagógicos adaptados. |
BDTD | Kanner (1949) e Asperger, que destacaram características biológicas do autismo. Bettelheim (1967) introduziu a controversa teoria da “mãe geladeira” | Etiologia e classificação do TEA, práticas pedagógicas inclusivas, movimentos sociais relacionados ao TEA. |
SCIELO | Os primeiros estudos sobre inclusão escolar ganharam força com teóricos como Comenius e Pestalozzi. | A dissertação aborda o papel da escola e da família no processo educacional, a aplicação da Gestaltpedagogia como abordagem teórico-prática. |
BDTD | Leo Kanner (1943) e Hans Asperger (1944), que descreveram características como dificuldades de interação social. | A inclusão escolar de alunos com TEA no Ensino Fundamental, comparando políticas públicas, práticas educacionais e desafios em Foz do Iguaçu (Brasil) e Puerto Iguazú (Argentina). |
Fonte: elaborado pelas autoras
O Quadro 3 apresenta os resultados de um levantamento sobre educação inclusiva, organizado em três eixos: teorias/autores, metodologias e resultados/lacunas. A diversidade de abordagens teóricas e metodológicas reflete a complexidade do tema. Os dados destacam avanços e desafios na inclusão, especialmente para pessoas com TEA. As lacunas identificadas apontam para a necessidade de mais pesquisas e políticas integradas.
Quadro 3 – Resultados do levantamento – parte 2
Teorias/autores | Metodologias | Resultados e lacunas |
A tese baseia-se na abordagem multidimensional da educação inclusiva, referenciando autores como Booth e Ainscow (2002). | Análise quanti-qualitativa, questionários, utilização de escalas Likert e análise de dados em ambiente R. | Foram identificados 74 indicadores qualitativos, organizados em seis dimensões. As lacunas incluem a necessidade de estudos contínuos para avaliação desses indicadores, maior integração entre políticas públicas setoriais e a escassa abordagem sobre a formação docente específica para TEA. |
As teorias incluem a ABA, TEACCH, PECS. Também são citadas a integração sensorial e o desenho universal como bases para adaptações arquitetônicas. | Abordagem qualitativa, com análise temática de Bardin; Revisão bibliográfica multidisciplinar, entrevista. | Os resultados apontam a necessidade de espaços escolares flexíveis, seguros e sensoriais adaptados, além da formação docente especializada. Lacunas incluem a escassez de diretrizes arquitetônicas específicas para TEA, a falta de padronização de instrumentos diagnósticos no Brasil e a carência de pesquisas interdisciplinares. |
Teorias neurodesenvolvimento, intervenção precoce de Dawson et al., (2012) e inclusão escolar. | Abordagem quali-quantitativa, questionário, análise de dados. | Os resultados indicam críticas a falta de preparo das escolas e recursos adequados. Lacunas incluem dados a longo prazo, que sejam longitudinais. |
A pesquisa baseia-se no método dialético-crítico para análise da realidade educacional, além do modelo biopsicossocial. | Abordagem qualitativa, dialético-crítico, entrevistas, análise documental. | Os resultados indicam o enfrentamento de desafios como falta de formação especializada, recursos limitados e rotatividade de professores de apoio. Lacunas incluem a carência de práticas baseadas em evidências. |
Gestaltpedagogia, integrando conceitos da Psicologia da Gestalt e da Gestalt-terapia. Também referências, teorias humanistas e sistêmicas, enfatizando a relação sujeito-meio. | Abordagem qualitativa e descritiva; Pesquisa de campo. | A escola ribeirinha mostrou-se mais precária, sem professores de apoio. Lacunas incluem a necessidade de pesquisas sobre a efetividade da Gestaltpedagogia na prática, maior integração entre profissionais da saúde e educação. |
Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky, que enfatiza o papel da mediação pedagógica e do ambiente sociocultural no desenvolvimento de crianças com deficiência. | Abordagem qualitativa, com análise descritiva, entrevistas, análise de conteúdo dos dados. | O estudo revelou que ambos os países avançaram na legislação inclusiva, mas enfrentam lacunas como falta de formação docente especializada. As lacunas se apresentam na quantidade pequena de amostras, levando em conta os dois países. |
Fonte: elaborado pelos(as) autores(as)
4.1 Primeiros estudos, locais onde o tema é mais pesquisado e os subtemas associados
O Quadro 2 apresenta um levantamento de pesquisas sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e educação inclusiva, organizado em três categorias principais: locais da pesquisa, primeiros estudos e subtemas. Os trabalhos citados destacam contribuições fundamentais de autores como Leo Kanner e Hans Asperger, que descreveram as características comportamentais e sociais do autismo, além de Lorna Wing, responsável por consolidar o conceito de “espectro autista”. As fontes predominantes são a BDTD e a SCIELO, indicando uma base de dados diversificada para a análise. Os subtemas abordados incluem desde práticas pedagógicas até políticas públicas, revelando a multidimensionalidade do tema.
Os primeiros estudos sobre autismo foram conduzidos por Leo Kanner (1943) e Hans Asperger (1944), que descreveram características comportamentais e sociais. Posteriormente, Loma Wing (1981) consolidou o conceito de “espectro autista”, enfatizando a diversidade de manifestações. Bettelheim (1967) introduziu a controversa teoria da “mãe-geladeira”, enquanto pesquisas de Dawson et al. (2012) e Mantean (2015) avançaram em intervenções precoces e inclusão escolar. Os estudos ainda destacam o papel de teóricos da educação inclusiva, como Comenius e Pestalozzi, vinculando-os a práticas pedagógicas atuais. Essas referências mostram como o diálogo entre passado e presente é essencial para compreender o TEA.
Por fim, os subtemas revelam desafios persistentes na inclusão escolar, como a formação docente inadequada e a necessidade de políticas públicas eficazes. O quadro também aborda a importância da participação familiar e de recursos pedagógicos adaptados, além de comparar realidades educacionais em diferentes contextos, como Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú. Esses elementos destacam a complexidade da inclusão e a importância de abordagens intersetoriais.
4.2 Principais teorias, metodologias, resultados e lacunas
A diversidade de abordagens teóricas, como a multidimensionalidade de Booth e Ainscow (2002), a ABA, o desenho universal e a teoria histórico-cultural de Vygotsky, demonstra a complexidade do tema. As metodologias empregadas variam entre análises quanti-qualitativas, revisões bibliográficas e pesquisas de campo, questionários e análises temáticas, evidenciando a importância de métodos mistos para compreender a complexidade do tema, refletindo a necessidade de múltiplas perspectivas para compreender a inclusão.
Os resultados apontam a identificação de indicadores qualitativos, necessidade de espaços adaptados, formação docente especializada e políticas intersetoriais. Já as lacunas incluem falta de recursos pedagógicos, infraestrutura inadequada, escassez de pesquisas sobre efetividade de metodologias, rotatividade de professores de apoio e carência de participação ativa de pessoas com TEA na construção de políticas. Destaca-se também a necessidade de integração entre saúde, educação e arquitetura, além de investimentos em capacitação contínua e práticas baseadas em evidências.
Um ponto crítico evidenciado no quadro é a fragilidade na formação de professores, citada em quase todos os estudos como um obstáculo central. Além disso, a escassez de pesquisas longitudinais e interdisciplinares limita a compreensão dos impactos das práticas inclusivas a longo prazo. Outro desafio recorrente é a falta de padronização, seja em instrumentos diagnósticos, diretrizes arquitetônicas para TEA ou políticas públicas integradas, o que gera inconsistências na implementação. Essas lacunas sugerem a necessidade de maior articulação entre teoria, prática e políticas educacionais.
O quadro aponta para a importância de contextos adaptados, como espaços escolares sensoriais e estratégias pedagógicas baseadas em evidências. No entanto, realidades como as escolas ribeirinhas mostram disparidades gritantes, com falta de recursos e apoio especializado. Apesar dos avanços legislativos, a efetividade da inclusão ainda esbarra em problemas estruturais. O quadro reforça, assim, a urgência de investimentos em pesquisa, formação docente e políticas públicas coerentes para que a educação inclusiva deixe de ser uma proposta e se torne uma realidade equitativa.
A carência de diretrizes arquitetônicas específicas e a falta de padronização de instrumentos diagnósticos no Brasil são desafios estruturais. Além disso, a pouca interdisciplinaridade nas pesquisas limita a visão holística necessária para abordar a inclusão.
Por fim, os estudos destacam avanços legislativos, mas apontam falhas na implementação, como a rotatividade de professores de apoio e a precariedade de recursos em contextos ribeirinhos. A Gestaltpedagogia e outras teorias humanistas mostram potencial, mas carecem de pesquisas sobre sua efetividade prática. A mediação pedagógica, baseada em Vygotsky, é valorizada, porém a pequena amostragem em estudos comparativos limita a generalização dos resultados.
A análise dos dados coletados indica que a educação inclusiva para estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma prática reconhecida, mas enfrenta desafios significativos. As práticas pedagógicas baseadas em evidências, como ABA (Análise do Comportamento Aplicada), TEACCH e PECS, são mencionadas como fundamentais, como no trabalho de Mozetti (2022), mas a implementação dessas estratégias muitas vezes é dificultada pela falta de formação adequada dos professores e recursos limitados nas escolas.
É evidente que a formação docente específica é uma lacuna crítica. Dos Santos (2022), destaca que embora 90% dos profissionais envolvidos tenham experiência com alunos com TEA, 60% não possuem formação específica para lidar com essas necessidades. Isso resulta em uma crítica à falta de preparo das escolas, que não têm recursos adequados para promover uma educação inclusiva efetiva.
Os trabalhos destacam que as políticas públicas são essenciais para a efetivação da inclusão. A necessidade de uma articulação mais eficaz entre escolas, famílias e profissionais de saúde. Além disso, sugerem que a participação ativa de pessoas com TEA na construção de políticas educacionais é crucial para atender suas necessidades de forma mais eficaz.
Dias (2021), apresenta em seu trabalho indicadores de inclusão, foram identificados 74 indicadores qualitativos organizados em seis dimensões: Estratégias Pedagógicas, Gestão Escolar, Família, Ambiente, Parcerias Intersetoriais e Políticas Públicas. Estes indicadores são fundamentais para mapear o progresso da inclusão e identificar áreas que ainda necessitam de atenção e investimento.
Os desafios estruturais dos ambientes escolares para a inclusão de alunos com TEA são abordados por Bezerra (2022), e incluem a falta de infraestrutura adequada nas escolas, ausência de Planos Educacionais Individualizados (PEI) e a rotatividade de professores de apoio. Esses fatores contribuem para a dificuldade de implementar uma educação inclusiva efetiva, especialmente em áreas menos favorecidas. Os trabalhos analisados nesta pesquisa enfatizam a importância de estudos contínuos para a avaliação dos indicadores de inclusão, bem como para a formação docente e a criação de um ambiente escolar adaptado.
A comunicação entre família e escola é destacada pelos trabalhos analisados, como um fator crucial para a adaptação do aluno com TEA ao ambiente educacional. A colaboração entre professores, gestores e familiares é essencial para criar um ambiente inclusivo e acolhedor.
De uma forma geral, os documentos abordam a inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ambiente educacional, destacando desafios como formação inadequada de professores, falta de recursos pedagógicos adaptados e lacunas nas políticas públicas. Além de aspectos arquitetônicos e interação entre família e escola.
5 CONCLUSÃO
Embora haja um reconhecimento crescente da importância da inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ambiente escolar, a implementação prática ainda enfrenta obstáculos significativos. Os estudos analisados destacam a falta de preparo dos professores, a carência de recursos pedagógicos adaptados e a infraestrutura inadequada como barreiras principais. Além disso, políticas públicas muitas vezes não são efetivamente aplicadas, deixando lacunas entre o discurso inclusivo e a realidade vivida nas escolas. Esses desafios refletem a necessidade de uma abordagem mais integrada, que envolva formação docente, adaptações curriculares e suporte multidisciplinar.
Os resultados também apontam para a importância de práticas pedagógicas baseadas em evidências, como ABA, TEACCH e PECS, que demonstram eficácia no apoio ao desenvolvimento de alunos com TEA. A participação ativa das famílias e a colaboração entre escola, saúde e comunidade são fatores cruciais para a efetividade da inclusão. A revisão ainda revela a necessidade de maior envolvimento das pessoas com TEA na construção de políticas educacionais, garantindo que suas vozes sejam ouvidas. Esses aspectos destacam a complexidade do tema e a urgência de ações coordenadas.
A inclusão escolar de alunos com TEA é um direito fundamental, mas que exige transformações profundas no sistema educacional. A combinação de formação docente especializada, adaptações ambientais e currículos flexíveis é essencial para criar um ambiente verdadeiramente acolhedor. A literatura reforça que a inclusão beneficia não apenas os alunos com TEA, mas toda a comunidade escolar, promovendo empatia e diversidade.
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1Discente do Curso de Mestrado em Ciências da Educação, pela Facultad Interamericana de Ciências Sociales interamericana/FICS, e-mail: alcleci.pacheco@docente.semec.belem.pa.gov.br.
2Doutora em Educação, e-mail: karinamendes2232@gmail.com