REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202512161157
Selma Elaine Valverde
RESUMO
O presente artigo objetiva provocar uma reflexão das ações do homem no próprio homem, utilizando seus pensamentos, ideologias, frustrações, fraquezas. Dentro de um cenário capitalista e egocêntrico, falar do homem e das gerações futuras é expor uma evolução distorcida da mente humana, uma vez que, o ter se torna cada dia mais importante e válido do que o ser. A construção do homem se perde dentro dessa era confusa, onde o agir mudou, o pensar mudou, os desejos mudaram. O que ainda parece prevalecer é a capacidade do ser humano em dividir fronteiras dentro do mesmo processo de vida – a evolução.
Palavras-chave: evolução, capitalismo, homem
ABSTRACT
This article aims to reflect the actions of man in himself, using their thoughts, ideologies, frustrations, weaknesses. Into a capitalism and selfish scenario, talk about mankind and future generations shows a distorted evolution of human mind, since having becomes more important than being. The building of man is lost into this confusing era, where the behave has changed, thinking has changed, the desires have changed. What still seems prevail is the capacity of human to share borders within the same process of life – the evolution.
Keywords: evolution, capitalism, man.
1. INTRODUÇÃO
Uma concretização de danos ao meio social. Materialização de algo ruim, como consequência das escolhas errôneas preconizadas pelo homem. Assim se estabelece as ações protagonizadas pelo capitalismo. Suas marcas não são delimitadas pelo teto máximo de qualquer medidor, elas ultrapassam barreiras, se abrigam e fortalecem-se a cada dia mais dentro do desenvolvimento e aperfeiçoamento, se assim podemos chamar, de seus objetivos. O capitalismo é um influenciador de escolhas, molda o homem de hoje, que, envolto por essa máscara cega que o encobre, acaba por se desenvolver, ou quem sabe, retroceder, em seus valores e preceitos. A perda da identidade social, algo tão primórdio e antigo, que se evolui, dentro do cenário de convívio social, demarca fortes fronteiras e barreiras em que, o capitalismo como agente protagonista, se destaca. Uma educação diferenciada, tecnologia de ponta, acesso ao digital, aproximação do irreal. Tudo isso eleva o homem atual à uma magnitude tamanha que, provar sua incompetência é algo difícil de se fazer. Mas sabemos ao certo o que é ser incompetente? Sabemos se o homem sábio e dotado de características positivas se distancia da incompetência que o condena? Em a Dialética do Esclarecimento Theodor Adorno é enfático em afirmar que: “A transformação da inteligência em estupidez é um aspecto tendencial da evolução histórica.” Está o homem marcando um retrocesso histórico em suas ações movidas por ideologias capitalistas? Quando Adorno afirma que o homem transforma inteligência em estupidez, ele critica a tomada ao poder por Hitler, mesmo diante dos inúmeros argumentos válidos, dados pelos judeus, de que seu governo seria uma tremenda loucura. Ainda assim ele sobe, ele se vale de uma força que a cada dia parece ser maior. Tomados por um poder de escolha, povos dão o ilimitado poder ao further enlouquecedor que põe em prática ações desumanas e descabidas. Estamos ainda durante a segunda guerra? Temos dentro de nossa sociedade campos de concentração que eliminam a escória da sociedade vigente? Parece que os tempos são outros, mas as guerras não, os anos evoluíram, mas a mente não. Nessa concepção de mesmice é que mantenho meus argumentos de que o capitalismo apenas quer maquiar os danos. Não somos judeus, mas, sofremos a cada dia uma condenação em massa da sociedade evoluída que prega valores distorcidos e luta por uma evolução imaginária. Quantas barbáries, quantas disparidades, quantas complicações. O mundo desacelera no quesito ser humano e talvez avance quando se fala de mecanização. Relações mecanizadas, aprendizagem mecanizada, amor mecanizado. Nada profundo, apenas superficial. Tudo instantâneo, tal qual a refeição que eu preparo em minutos pela falta de tempo para fazê-la. Uma reflexão acerca da inserção insana do capitalismo no mundo em que vivemos, inserção enraizada desde a época do senhor feudal, dotada de uma evolução nos nomes, mas, involução no processo. Um raio-x do processo de educação e assimilação de conhecimentos, num molde capitalista onde ter prevalece o ser, onde a identificação do sujeito é feita pelo que se tem e não pelo que se mostra ser. As aparências nunca foram tão valiosas. E todo o exterior ao que o homem é conectado, molda uma formação desvinculada dos valores básicos que são de certa forma, pilares para um futuro promissor.
2. DESENVOLVENDO OU RETROCEDENDO?
Falar sobre um mundo moderno, requer automaticamente ressaltar a palavra tecnologia. Uma era robotizada e diferente dos tempos de antes, mas que carrega ainda que de forma evoluída, as mesmas subdivisões negativas dentro do contexto social. O mundo evoluído se cobre por um branding excessivo, fruto de um capitalismo exacerbado que cultua uma evolução egocêntrica e tenebrosa. Tudo o que se visa é lucro, tudo o que se almeja é o topo do monte. Bem óbvio que, quem contribui, muitas das vezes, nem percebe, mas acaba por se tornar uma vítima, de um sistema capitalista mafioso. A preocupação maior está nos adolescentes e crianças, mentes ainda em formação que, dentro de um mundo extremamente capital, acabam por suprir seus anseios de forma conturbada e danosa. Um ciclo vicioso que se fortalece a cada dia, a cada aquisição, a cada enquadramento. Toda essa procura por complemento ao vazio que se instaura, vem de uma imaturidade e baixo autoestima, existentes por consequência de uma sociedade doente, que grita por cura e salvação.
2.1 MATERIALIZAÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS DO SER PELO TER
Neste consenso, de que o mundo tende a piorar a cada dia, devido a uma deterioração do humano pelo desumano, podemos enxergar danos visíveis sobre a construção de mundo em pleno século XXI. A alteração humana é ponto crucial da obra A revolução dos bichos de George Orwell. Um cenário utópico, idealizado pelo autor, de uma sociedade metaforicamente representada por animais e que, no decorrer da centralização do poder, se vê corrompida por um sistema de benefícios individuais. “Todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros.” (Orwell, 1945). O homem menos homem e mais máquina, se foca em uma construção individualista, em que o membro que compõe o todo, não é mais essencial. Um olhar unilateral focado em uma definição equivocada das razões que, protagonizam a causa de todos os danos. Baseando-se em uma pesquisa informal, e um estudo observador de alguns adolescentes, com faixa etária entre 14 e 15 anos, pudemos confirmar um pressuposto de que a juventude se molda em padrões superficiais ditados pela sociedade capitalista vigente. Inserção social pela moda atual, aceitação no grupo pelo bem aquisitivo. E quando falamos em bens aquisitivos, não estamos medindo quem tem o que, estamos apenas afirmando que, para se fazer parte do contexto, seus bens aquisitivos são pré-requisitos. Um clube X frequentado pela classe A, e que para se fazer parte, se faz necessária a aquisição em cota, cota esta que não mais se vende em mercado, mas sim, só entre os próprios associados – delimitação de mundo. Uma escola Y que custa um valor alto, já talvez estabelecido para atingir o público da classe A. Associações de voluntários e clubes sociais que, para se fazer parte, precisam ser filhos dos já inseridos membros, que, na maioria das vezes, o são pelo status social que ocupam. Uma cultura desenhada pela tinta capitalista e colorida pela falsidade da inclusão. A crítica de Adorno em Industria Cultural é justamente nesse ponto da questão. Um grupinho fechado, delineado pela sombra do capital, que ao ampliar seus membros, os obriga a agir tal qual desejam, esculpindo uma personalidade errônea e distanciando valores primitivos. O que muitas das vezes presenciamos é o endividamento das pessoas para ser aquilo que não são, para manter o tão sonhado status de inserção social. Prêmio para um feitio como este? Não há prêmios a não ser a sucção do próprio membro inserido. Que dentro de uma sociedade capitalista se deixa ludibriar pelo branding excessivo do comércio, e dentro da ação venda-compra, acaba por injetar força nesse cenário desconsolador. As fugas muitas das vezes são sem sucesso. O que leva o membro inserido a um quadro depressivo de pós frustração. Muitas das vezes esse ser consegue se reabilitar e se restabelecer, ao entender que valores financeiros são apenas números e não nomes. Essa mudança, de entender que o nome é mais importante do que o número é fator crucial para um desenvolvimento cognitivo e evolução do ato de pensar. Nessa formatação de reinserção social, realmente social e não ilusória, podemos entender que o excesso de informação e a busca incessante por mais, torna o homem vazio e cheio de si mesmo. O homem transbordando de homem, um ser que não se cabe mais por tanto se querer, por tanto se achar, um achismo que nunca consegue se encontrar. Um achismo que apenas oculta a verdade iluminada que abrilhantaria o ser. Que o homem saiba se encontrar, transformando assim o medo em esperança. Esperança de que o amanhã não seja apenas um objeto a se consumir e a se descartar, tal qual os descartáveis tão presentes nesta era de correria e falta de pensar.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao analisar o grupo adolescente, foi possível perceber as colocações de Adorno dentro do cenário social. Pessoas que se distanciam do ciclo social, e ao mesmo tempo estão inseridos em redes e mais redes de conexão online. Uma conexão sem fim, uma conexão desconectada. Tamanha é a quantidade de informações que esses jovens recebem a cada dia. Descargas e mais descargas de informações inúteis que não agregam valores reais e apenas distanciam os jovens de algo realmente sano a se receber. Quem sou eu para julgar o certo? Não cabe a mim a função de escolher certo ou errado, mas apenas posso entender que a forma como a educação e socialização se propaga, não valoriza, mas sim, destrói. Os resultados são claros, ao observar a mudança na fala, na escrita, no envolvimento social. Uma reformulação mal resolvida da essência de viver. Onde iremos parar? Será que iremos parar? Conseguiremos nos valer de uma força robusta o bastante para distanciar o medo e trazer de volta a capacidade perdida? A geração de hoje é assombrada por uma desconstrução dos paradigmas sociais de tempos atrás. Uma relação que se disfarça de outro nome dentro do contexto burguesia e trabalhador, mas, que traz desde a época do senhor e escravo essa divisão clara e confusa de ser o que se é imposto. Cabe ao escravo entender que para que o senhor seja senhor, é necessário que exista o escravo. Que essa classe entenda seus valores e sobressaia o papel a eles impostos pelo maior. Que os jovens entendam que a mídia e as redes sociais são dotadas de beleza, mas que cegam e tornam os dias confusos, sem valores reais, retirando deles o que de mais belo eles têm, o tempo, a capacidade de escolha, a oportunidade de ser quem sonham ser. Que eles saibam sonhar por si. Que não esqueçam de sua classificação como humanos e não objetos. Em a Dialética do Esclarecimento Adorno e Horkheimer dizem que a humanidade ao invés de entrar em um estado verdadeiramente humano está afundando em uma nova espécie de barbárie. Não é impossível afirmar que o ser humano está a cada dia deixando de ser humano e se transformando em algo que aos olhos parece inconcebível. Uma perda de valores, uma aceitação fácil ao ruim, uma busca enlouquecedora e constante por ser quem não se é. Nessa lama de imundícies, dentro da desconstrução de mundo é que está perdido o homem do futuro – ou homem de hoje, que teceu com belas sedas a teia em que ele mesmo se prendeu. Ainda na Dialética do Esclarecimento Adorno e Horkheimer culpam o locutor de rádio pela mentira pregada que sedimenta o cérebro das pessoas e as impedem do processo de comunicação, a força na propaganda da Pepsi-Cola, os heróis do cinema, a exaltação do adultério nas novelas e livros. Tudo isso muito bem iluminado nos olhos, para cegar quem quer ver e assimilar. Tudo tão natural e valioso a ponto de moldar as pessoas fora de seus valores e ideologias. E nesse mesmo ponto Adorno e Horkheimer ainda afirmam que o progresso separa literalmente as pessoas, e o mais engraçado nisso tudo é que as pessoas não se encontram, não se veem, não se relacionam, mas, que ao se esbarrarem em algo comum, acabam por se agradar em ostentar a mesma busca, a mesma inquietação. E acabam por perceber que apesar de distantes, estão próximas, próximas em valores vazios, próximas em inadequações e rupturas, próximas em ser menos elas e mais o meio. Impossível não criticar o sistema falho. Impossível se cegar diante da involução do homem. Uma pena estarmos todos assentados nos camarotes da vida, em meio a tantas atrocidades, o que acaba por instigar que, todos, todos sem exceção, carregam dentro de si, um pedacinho do tumor capitalista. O que realmente é necessário que se aconteça é uma conscientização do momento, para que o crescimento desse tumor tão maligno não ultrapasse as barreiras da vida, não retire de nós seres humanos a vontade própria de ser quem queremos ser, de estar onde queremos estar, de não se perder dentro dessa corrida compulsiva onde a vida parece apenas um simples detalhe a se viver.
4. REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 70p.
HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor. A Dialética do Esclarecimento, 1947. 120p.
HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massas. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 364p.
ORWELL George. A Revolução dos bichos.Companhia das Letras, 1945, 147p.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo 1904-1905. 87p.
