STORYTELLING E LEITURA LITERÁRIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA BIBLIOTECA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11212459


Rosa Maria Braga Lopes de Moura1
Matheus Juliano Franz2
Rômulo Costa3


RESUMO

Storytelling é uma metodologia ativa baseada na narração de histórias potencializando um recurso eficaz para o ensino de ciências, afinal, a compreensão de histórias compartilha áreas implicadas no processamento da empatia que corresponde a uma combinação de atos conscientes e inconscientes devido a ação dos neurônios-espelho encontrados nas áreas do córtex frontal pré-motor e parietal inferior, associadas ao movimento e percepção bem como no lobo parietal posterior, no sulco temporal superior e na ínsula, regiões associadas à capacidade de compreender o sentimento de outra pessoa, entender a intenção e usar a linguagem. Tendo em vista essas considerações, a definição do problema de investigação suscita várias questões, as quais objetivam nortear a compreensão da proposta de pesquisa, dentre elas: Como o Storytelling e a leitura literária podem contribuir no ensino de ciências e efetivar o protagonismo discente? Diante dessa problemática, o presente estudo analisou a importância do Storytelling bem como da leitura literária no ensino de ciências na biblioteca da E.M.E.F Marília Rodrigues Santos na cidade do Rio Grande. Para tanto, foi realizado uma revisão narrativa da literatura através de levantamento bibliográfico com os descritores Storytelling e  leitura literária. Por fim, foi desenvolvida a modalidade de pesquisa participante do tipo “pesquisa-formação” com o escopo de promover a autonomia e o protagonismo discente.

Palavras- chave: Biomarcadores, Empatia, Leitura, Literária, mediação, oxitocina, Storytelling.

INTRODUÇÃO

Independente do componente curricular, a metodologia ativa Storytelling caracteriza-se como um fator potencial para que o indivíduo compreenda o mundo que o cerca e também absorva e reflita sobre o conhecimento apreendido na escola.

O desinteresse pela leitura é uma realidade que persiste em todo o território nacional e o gosto pelos livros ou por textos literários tem perdido espaço para outras mídias ou para outras fontes de informação, como a imagética e a sonora (FAILLA, 2016).

Nessa perspectiva, uma das ferramentas que consideramos como forma de suscitar o interesse no ensino de ciências é o uso da biblioteca escolar, tendo como ponto de partida a leitura de textos literários bem como o Storytelling, principal objetivo do presente estudo.

Pensar as oficinas como o momento do encontro, possibilita ressignificar esse  espaço como oportunidade dos alunos serem protagonistas na dinâmica do contexto escolar. Nessa perspectiva, as oficinas correspondem a um lugar privilegiado que possibilita a compreensão das formas de produção e do funcionamento discursivo, de acordo com a perspectiva do dialogismo, uma vez que nesse espaço circulam diversas linguagens. Ademais, nelas a dialógica é sustentada pelo caráter responsivo do discurso entre os sujeitos (BATTLES, 2003).

Desta forma, considerando que a pesquisa é desenvolvida a partir das necessidades de mediação, a investigação foi construída a partir de oficinas com o objetivo de aprofundar e refletir acerca de novas formas de aprender.

Diante do exposto, a articulação que fundamenta o objetivo dessa pesquisa a partir de uma experiência de utilização da biblioteca, pode-se apresentar como uma prática que auxilie para motivar os alunos a aprender, estimulando a formação de um pensamento mais consciente, abrindo possibilidades para uma crítica e uma perspectiva mais contextualizada do mundo.  Sob essa ótica, apresentamos na sequência,   o delineamento da pesquisa que contemplam a descrição e análise dos dados.  

METODOLOGIA

Esta pesquisa se caracteriza como pesquisa Participante, do tipo “pesquisa-formação”, com maior relevância dos aspectos subjetivos da experiência e do comportamento humano.

No caso dos alunos que frequentaram a biblioteca no contra turno, havia 5 (cinco) que retornavam com mais regularidade às sextas-feiras para realizar atividades diversas estando acompanhados pelos pesquisadores, entre essas atividades tem-se as de leitura.

Para garantir a autenticidade na coleta dos dados, essas descrições foram feitas durante ou imediatamente após as intervenções na biblioteca, por meio de notas descritivas e analíticas registradas, em alguns momentos com fotos do período da observação.

A primeira etapa contou com a criação das categorias relacionadas ao objetivo da pesquisa. A etapa seguinte contou com a narração e a seleção de trechos para relacioná-los e organizá-los em categorias a fim de procedermos à análise de conteúdo e relacionarmos os dados aos referenciais teóricos. Nessa fase utilizamos a análise de conteúdo de Bardin (2009).

STORYTELLING: NEURÔNIOS-ESPELHO E EMPATIA

Storytelling é uma técnica que utiliza a estrutura narrativa de uma história para transmitir uma mensagem. Embora já conhecido no marketing e na indústria cinematográfica, ao longo do tempo também foi utilizado em outros contextos como a educação.

Estudos científicos apontam que contar histórias e a leitura literária ativa diversas áreas do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal, responsável pelo pensamento analítico e pela tomada de decisões, e o sistema límbico, que está associado às emoções e à memória.

Zak (2007) demonstrou que quando os participantes ouviam uma história emocionalmente envolvente, ocorria o aumento do neurotransmissor oxitocina associada à empatia e à confiança. Essa liberação de oxitocina promove uma conexão entre o narrador e o público, tornando a mensagem mais convincente.

Hasson (2010) descobriu que contar histórias pode levar a um fenômeno chamado ligação neural. Essa sincronização ocorre quando os modelos cerebrais do narrador e do ouvinte estão alinhados, permitindo uma compreensão mais profunda da mensagem transmitida. Além disso, a presença de metáforas e elementos visuais na narrativa pode aumentar ainda mais o seu impacto.

Os biomarcadores oxitocina e cortisol, foram coletados antes e depois da narração de histórias e de uma intervenção de controle ativo com resolução de enigmas que envolviam interação social sem o aspecto narrativo imersivo. Em comparação com o grupo controle, as crianças do grupo de contação de histórias apresentaram um aumento acentuado na ocitocina combinado com uma diminuição no cortisol na saliva após a intervenção de 30 minutos. Nos resultados deste experimento, os marcadores lexicais positivos ao descrever o tempo que passaram no hospital (BROCKINGTON, 2021).

As evidências das alterações dos biomarcadores e dos efeitos benéficos da narração de histórias leva a um aumento de oxitocina, a uma redução no cortisol e na dor, e a mudanças emocionais positivas durante uma tarefa de associação livre. Estas descobertas multimodais apoiam as teorias evolucionistas da narração de histórias e demonstram os seus efeitos fisiológicos e psicológicos. Essas importantes implicações clínicas afirmam a contação de histórias como uma intervenção humanizada e de baixo custo que pode melhorar o bem-estar de crianças hospitalizadas. O ato de contar histórias tem se mostrado um elemento central para estabelecendo conexões humanas e influenciando emoções subjetivas tanto no contador de histórias quanto no público (BROCKINGTON, 2021; BROWN, 1991; BRUNER, 1987,  WIESSNER, 2014).

Oatley (2016) afirma que as narrativas oferecem modelos ou simulações do mundo social por meio de abstração, simplificação e compressão, que então permite a aprendizagem vicária das realidades sociais através da experiência de personagens fictícios. Essas narrativas transportes e simulações mentais podem ajudar a reformular experiências, ampliar perspectivas, aprofundar o processamento emocional habilidades, aumentar a empatia e regular os modelos próprios e emocionais experiências (BAL, 2013; TAMIR, 2016).

Evidências convergentes implicam fortemente a oxitocina nos processos empáticos de estabelecimento e manutenção de emoções positivas modulando a confiança nas interações sociais e redução o estresse (MEYER-LINDENBERG, 2011).

Segundo Rizzolatti (2004), a área de Broca não está somente envolvida com o processamento da linguagem oral e do significado de gestos linguísticos. A homologia proposta entre a área de Broca e a área F5 dos macacos, junto com a comprovação recente da participação da área de Broca no SNE sugere que os neurônios-espelho podem ter contribuído para a gênese da linguagem humana.

Em estudo posterior,  Rizzolatti (2006) demonstrou que os neurônios-espelho estão fortemente relacionados com a capacidade de aprender. Além de responder as ações dos outros – daí o nome espelho -, eles podem ser a chave para descobrir como o ser humano começa a sorrir, andar e falar. Os neurônios-espelho são a redefinição do processo de ensino-aprendizagem e nos permite compreender o que o outro está sentindo e, consequentemente, entrar em empatia, evidenciando a capacidade que temos de estabelecer ressonâncias com as outras pessoas e de construir uma aprendizagem eficaz.

Na análise do autor, os neurônios-espelho estão associados a imitação, teoria da mente e aprendizado de novas habilidades. Desse modo,  emoções podem ser espelhadas pois, as células refletem a expressão do sentimento que pode estar por trás das lágrimas e trazem de volta a lembrança de momentos que já vivenciamos. Sendo assim, dá-se o nome de empatia, uma das capacidades para decifrar o comportamento e a socialização do ser humano (RIZZOLATTI, 2006). Portanto, os neurônios-espelho representam parte do processo de empatia, podendo ser vistos como uma espécie de indicador biológico da competência social do indivíduo. Dentro dessa rede, os neurônios espelhos fornecem, através da ínsula, simulação de expressões faciais e gestos observados. Dessa forma, fornece-se um sistema alternado de emoções ao indivíduo, baseado na simulação que a cognição social permite parcialmente. Essa teoria é chamada de “teoria da simulação”.

O conhecimento  neurocientífico sobre a fisiologia da aprendizagem acontece por meio dos neurônios-espelho, portanto,  por imitação. Esse conhecimento, auxilia na relação com os discentes sobre o viés das comunicações, emoções e comportamentos tais como compaixão e confiança no constructo de autoeficácia. De acordo com Petrovic (2008), existe uma ligação direta entre neurônios-espelho, oxitocina e empatia e a capacidade de inferir os estados emocionais de outras pessoas.  

Estudos recentes utilizando aplicação intranasal revelam que um aumento na ocitocina resultou em uma atenuação da resposta ao estresse psicossocial, causando uma diminuição da ansiedade e uma sensação crescente de calma bem como um aumento de confiança comportamento durante a interação social (BAUMGARTNER, 2008; KIDD, 2013).

Kurby (2013) sugere que histórias com simulações auditivas ou motoras ativavam o córtex sensório-motor de forma congruente. Dessa forma, narrativas que descrevem sons ativam o córtex auditivo, giro temporal superior esquerdo e sulco temporal superior bilateral, além do giro temporal superior posterior esquerdo no junção temporoparietal e giro frontal inferior esquerdo – regiões associado ao processamento de eventos auditivos e de nível superior linguagem e pensamento conceitual. 

Da mesma forma, narrativas que consideram eventos motores, como o movimento corporal, ativam regiões do córtex pré-motor esquerdo e sensório-motor secundário esquerdo (NIJHOF, 2015).

A imersão nas narrativas envolvem as regiões cerebrais como o córtex dorsomedial e pré-frontal, precuneus, lóbulo parietal superior e posterior sulco temporal superior, apoiando a visão de que as narrativas estão associado a fazer inferências sobre os estados mentais de outros (JACOBS, 2018).

Outros resultados indicam que as narrativas ativam a rede de modo padrão, incluindo o córtex pré-frontal medial, córtex cingulado posterior, sulco temporal superior posterior, junção parietal temporal, giro temporal medial anterior e lobos temporais mediais, todos envolvidos nos processos de simulação mental e teoria da mente (HSU, 2014; YUAN, 2018).

Esses processos parecem relevantes para explorações clínicas de imagens visuais como ferramentas terapêuticas fornecidas a sobreposição de áreas corticais envolvidas por narrativas, imagens mentais e conteúdo emocional (PEARSON, 2015).

A narração de histórias e a ficção narrativa vão muito além do simples valor de entretenimento. Até o momento, relativamente pouco a pesquisa científica examinou possíveis mecanismos psicológicos por trás da narrativa. Ainda há muito que entender sobre o papel de histórias e como as características e estruturas da história produzem vários efeitos psicológicos e fisiológicos (HSU, 2014).

Os resultados fornecem informações sobre como variáveis ​​fisiológicas, biológicas e culturais estão intimamente interligadas. Além disso, sugerem um local promissor para o desenvolvimento de  intervenções comportamentais seguras, inovadoras e econômicas (HOLMES, 2018).

A sobrevivência dos seres humanos é o fato de sermos capazes de nos organizar socialmente, e isso só é possível porque entendemos a ação de outras pessoas. Além disso, também somos capazes de aprender através da imitação e essa faculdade é a base da cultura humana.

MEDIAÇÃO:  ALGUMAS PREMISSAS

A linguagem utilizada na leitura literária não é apenas um instrumento de comunicação, mas uma forma de expandir a criatividade por meio do imaginário. O termo “mediação” refere-se ao ato ou efeito de mediar; ato de situar-se entre duas coisas.

Em Vigotsky (1999)  nenhum objeto de estudo desponta como produto concluído, como verdade que pode ser generalizada; ao contrário, revela-se como algo provisório, em constante transformação, que representa determinado contexto.

A proposta de introduzir a metodologia ativa intitulada Storytelling bem como leitura literária no ensino de ciências é uma forma de “[…] apropriar-se dos conhecimentos por meio do estudo da história, das ciências da vida, da astronomia, é um modo de participar do mundo, de compreendê-lo melhor, de encontrar um espaço nele” (PETIT, 2009, p. 75) e relacionar com outras formas de manifestações artísticas. Por conseguinte, a imaginação para as questões científicas despertada por essas manifestações “[…] permite que a ciência faça sentido não apenas para os que dela se ocupam, mas por todos, pela formação geral que a escola se propõe a proporcionar” (PIASSI, 2007, p. 404).

Para Cortella (2016), a  leitura literária pode permitir aos leitores a assimilação não só dos códigos da escrita, mas também a cultura letrada, além de auxiliar na apropriação dessa cultura. Tal alcance se dará por meio da mediação do encantamento pela leitura, a qual envolve situar, levantar o conhecimento prévio acerca do assunto a ser lido, contextualizar, motivar, ajudar no percurso e conhecer as preocupações do aluno para, enfim, sugerir caminhos na literatura para que ele caminhe por si só e se torne autônomo.

Conforme Pinto (2017), a utilização da literatura no ensino de ciências é uma técnica para além dos conteúdos científicos sendo que a prática de leitura carrega uma potencialidade que parece não ser valorizada. Ademais, tampouco houve trabalhos que discutiram o espaço da biblioteca, enquanto local para promover atividades relacionadas à literatura e ao ensino de ciências. Tendencialmente, o ensino de ciências é visto como uma atividade própria para a sala de aula, para os laboratórios e para os museus, em detrimento da biblioteca, espaço próprio para as obras literárias.

A leitura é um veículo de comunicação universal e de informações, podendo propiciar ao aluno o alcance da compreensão sociocultural da ciência na contemporaneidade e de informações científicas, tecnológicas e literárias (PALCHA, 2014; SILOCHI, 2014).

Nesse ínterim, a literatura é um mundo de descoberta, que instiga a curiosidade e pode servir à educação para motivar o gosto pela leitura, projetando o leitor em outras direções e possibilitando o compartilhamento de descobertas e experiências, inclusive as científicas e as tecnológicas, as quais “[…] ocuparam um lugar na literatura e nas outras artes para louvar suas conquistas, seja para alertar sobre seus perigos, seja para pura e simples admiração das possibilidades que elas trazem”, conforme afirma Piassi (2007).

O uso de obras literárias ou trechos delas são poderosas ferramentas no processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, a literatura pode ser um instrumento que auxilia na compreensão e apreensão dos conteúdos científicos (CABRAL, 2014; GIRALDELLI, 2008; GROTO, 2015; SANTOS, 2013).

O mediador propõe um ambiente cheio de estímulos atribuindo significado ao que se ensina para efetivar o processo de aprendizagem. Logo, a função do mediador é sensibilizar os alunos para que possa relacionar o que foi internalizado (input) com o que ainda tem a ser aprendido. Para Cardoso (2019), “o ambiente favorecedor de aprendizagem e rico em estímulos é essencial em todos os níveis de ensino, uma vez que o cérebro responde ao ambiente”.

Uma narrativa hábil ajuda os ouvintes a compreender a essência de conceitos e ideias complexos de maneira significativa estimulando as redes cerebrais envolvidas na narração e audição de histórias  a ser utilizada muito além do domínio da comunicação para acrescentar uma dimensão mais profunda à comunicação (WENDY, 2018).

Do ponto de vista de uma perspectiva prática, é de grande interesse compreender como a narração de histórias pode ser usada para nos ajudar a melhorar a forma como nos envolvemos na ciência e a expandir quem se envolve na ciência. Há muito mais que precisamos aprender sobre como nós, como cientistas, podemos incorporar a narrativa de histórias em nossas vidas profissionais, à medida que nos esforçamos para tornar a ciência mais compreensível, mais inclusiva e, em última análise, mais benéfica para o mundo ( YESHURUN, 2017).

Esses fatos evidenciam que a biblioteca é o local da linguagem compartilhada, em que o uso da palavra como exercício da liberdade de expressão é permitido, o que pode ser reforçado pela promoção de debates sobre temas sociais capazes de promover a prática de um desejo de expressão civil e política, atestando-se o exercício da real cidadania de acordo com os moldes da alfabetização libertária de Freire (1989).

Foi a biblioteca que impulsionou o interesse dos discentes pelos conteúdos científicos, mostrando-se, assim, um local de articulação e mediação do conhecimento científico. Portanto, quando nos referimos ao ensino sob um viés crítico, abrimos a possibilidade de trabalhar os conteúdos não só científicos, mas sociais, políticos e ambientais, os quais não podem ser caracterizados como meros recipientes de “conhecimentos empacotados”, ao contrário, devem estar voltados “[…] para a concretização de valores como a solidariedade, a responsabilidade social, a criatividade, a disciplina a serviço do interesse comum, a vigilância, o espírito crítico” (FREIRE, 1978, p. 46).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não há possibilidade de pensar numa formação crítica sem questionar e debater sobre a ciência e suas aplicações materializadas, por isso, procuramos, por meio dessa experiência, demonstrar que podemos fazer uso desses recursos – a leitura e a biblioteca –  em suas mediações com o ensino de ciências tornando as atividades mais atrativas e participativas.

A proposta de introduzir a metodologia ativa intitulada Storytelling bem como leitura literária no ensino de ciências é uma forma de “[…] apropriar-se dos conhecimentos por meio do estudo da história, das ciências da vida, da astronomia, é um modo de participar do mundo, de compreendê-lo melhor, de encontrar um espaço nele” (PETIT, 2009, p. 75).

Nessa perspectiva, a relação entre a biblioteca e o ensino de ciências é mais que uma relação simbiótica, pois é potência criativa, como forma de produção do indivíduo conferindo uma possibilidade de transcender a leitura funcional e pragmática para uma leitura constitutiva de um ser em transformação que permite a apropriação do mundo.

Neste estudo analisamos a relação do Storytelling  e da leitura literária no ensino de ciências na biblioteca apresentando-se como uma possibilidade de transcender a educação funcional e pragmática para atingir uma educação de transformação do ser para libertar-se.

Por fim, a manutenção da biblioteca como um local de excelência pode não só servir para uma educação comprometida com a realidade dos discentes bem como impulsionar o seu interesse pelas aulas e pelos conteúdos científicos, potencializando, dessa maneira, a sua autonomia e protagonismo.

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