DOMESTIC VIOLENCE: STUDY ABOUT THE PERMANENCE OF WOMEN IN VIOLENT MARITAL RELATIONSHIPS.
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7250849
Fernanda Camila Ferreira Do Nascimento1
Jhenifer Gonçalves Bhering2
Ana Carolina Gomes Teixeira3
RESUMO
O artigo tem como objetivo compreender a razão pela qual a mulher se assujeita a relação abusiva e violenta. A violência contra a mulher acontece desde os primórdios e é um ciclo que permanece na contemporaneidade. A pesquisa ocorreu de forma descritiva e exploratória em uma abordagem qualitativa, utilizando artigos e livros que são referências sobre a permanência da mulher na relação conjugal violenta. Pode-se inferir que a dependência se dar pelos filhos, financeiro, crenças, dentre outros fatores. Esta realidade afeta a percepção da mulher sobre si mesma, influenciando o campo emocional mantendo-as prisioneiras de si mesma. O estudo tem o intuito de dar visibilidade a realidade dessa mulher vítima de violência doméstica.
Palavras-chave: Violência Doméstica. Violência Contra a Mulher. Permanência. Psicologia.
ABSTRACT
The article aims to understand the reason why women subject themselves to abusive and violent relationships. Violence against women has been happening since the beginning and is a cycle that remains in contemporary times. The research took place in a descriptive and exploratory way in a qualitative approach, using articles and books that are references about the permanence of women in a violent marital relationship. It can be inferred that the dependence is given by the children, financial, beliefs, among other factors. This reality affects women’s perception of themselves, influencing the emotional field, keeping them prisoners of themselves. The study aims to give visibility to the reality of this woman victim of domestic violence.
Keywords: Violence Domestic. Violence Against Women. permanence. Psychology.
1. INTRODUÇÃO
A violência contra a mulher acontece desde os primórdios e é um ciclo que ainda permanece na contemporaneidade, sendo um problema mundial da saúde pública. No Brasil segundo SANTOS E NASCIMENTO (2021) os índices de violência são expressos pelo histórico patriarcal, racista, colonial e capitalista, em que as mulheres são sexualizadas pelo gênero masculino, sofrendo violações e vistas como objeto sexuais, exploradas, oprimidas, violadas, sem poder de escolha e determinação sobre si. De acordo com Martins (2021), a mulher tem funções dadas pelo fato de ser mulher, como: fazer as refeições; cuidar da casa; educação dos filhos e satisfazer os desejos do seu companheiro.
A violência doméstica é um ciclo que pode ser determinado na vida da mulher antes de seu nascimento, com papel social determinado pela sociedade patriarcal, sem o direito de impor-se, restringida de realizar seus próprios desejos. Segundo Faur (2012, p.164), “para mulheres que cresceram em famílias disfuncionais, parece uma tarefa complicada, pois o desejo próprio sempre se confunde com o desejo do outro”, as suas necessidades são descartadas, concretizando que tudo que precisa fazer é em relação à aprovação do outro e não de si mesma, (2012, p.164) “sentem uma culpa desproporcional quando introduzem um desejo diferente daqueles dos seus parceiros”, ao fazer seu próprio abandono temem que sejam abandonadas por seu parceiro afetivo, tentando suprir as necessidades do seu agressor, acreditando que a forma de ser amada é através da submissão.
No entanto, na violência também pode ocorrer a dependência emocional das mulheres, pois, de forma esperançosa, tentam salvar o relacionamento, vivenciando a violência como fonte de amor, transformando a violência em ato prazeroso, pois após a punição há uma recompensa, sendo gerado um ciclo de: construção de tensão, explosão da violência e lua de mel (SOUZA, 2017). De acordo com Coelho (2022, p.11) “a frequente repetição desse ciclo de violência doméstica contra a mulher, leva a vítima a uma constante insegurança, instabilidade emocional, perda de autoestima e sentimento de incapacidade”, a autora refere-se que (2017, p.15) “certamente existem uma série de fatores culturais, sociais, cognitivos, emocionais, psicológicos envolvidos nesse comportamento de manutenção do status do ciclo da violência”, sendo assim “o agressor utiliza-se do momento de fragilidade da vítima para que a faça se sentir culpada e pressionada a acreditar que foi a responsável pela ação do companheiro” (2022, p.11), é necessário buscar compreender a realidade das vítimas e não as julgar por suas atitudes, na maioria das vezes os fatores psicológicos e emocionais as mantem prisioneiras de si mesma.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa deu-se de forma descritiva e exploratória em uma abordagem qualitativa, utilizando citações de artigos e livros que são referentes ao tema, além de evidências científicas coletadas de trabalhos publicados. Na base de dados para a coleta de informações referente ao assunto abordado, foi realizado por meio do levantamento bibliográfico que auxiliou a identificar a problemática desenvolvida neste estudo. O artigo apresentado foi realizado no método dedutivo e dialético, pois é um tema que utiliza a construção de fatores e hipóteses, através dos conteúdos sobre a violência doméstica e a permanência em uma relação abusiva dentre outros, que serão descritos na discussão.
3. O FEMININO DE ACORDO COM A PSICANÁLISE
A relação mãe e filha determinará seu futuro como mulher e a forma como as relações com seus parceiros (as) amorosos futuros se darão. Olhando por uma perspectiva psicanalítica, podemos enxergar com um pouco mais de clareza, mas nunca de forma generalizada, um dos principais fatores estruturantes que reverberam no comportamento e na organização psíquica das mulheres da nossa sociedade. (SILVA et al, 2021, p.83).
De acordo com Kupper (2012), a menina passa pela fase pré-edipiana, que é sua paixão pela mãe, em algum momento ela deve ser castrada, onde voltará o seu amor para o pai, em busca de algo que a mãe não pode lhe dar. Porém algumas mulheres em seu processo de castração não houve sucesso, ocorrendo a permanência do amor pelo materno e isso pode definir futuramente suas escolhas objetais e sua identidade se tornar incompleta, pois não ocorreu uma significação. A sua significação como uma mulher será um processo de busca por algo que lhe falta, pois em sua concepção o eu feminino é inexistente. A busca por algo que a identifique se resulta em ser preenchido com o amor, através dele pretende-se reparar o que lhe falta, o amor se torna um suplemento do gozo, mesmo que isso seja enganoso para si, consiste em continuar mantendo esse amor relacionado ao Outro, o medo de perder o suposto objeto que lhe dá a identificação, é valido mesmo que isso cause seu aniquilamento.
O desejo do Outro será marcado pela barra significante e é aqui, diante da castração da mãe, que tanto o homem quanto a mulher poderão se constituir enquanto sujeitos de desejo, determinando sua estrutura subjetiva. Nesse momento, o sujeito aceita ou não essa privação, ele escolhe “ser ou não ser o falo materno” no plano imaginário. (CARLA CALDEIRA DURZI; LUIZ FLÁVIO SILVA COUTO, 2021, p.4).
Segundo (KEHL E FORTES,2021), o gozo tenta insubordinar a lei que opera a falta, pois é do excesso desta falta que permite que se goze. No entanto, isso ocorre através da pulsão Real, ela nega a castração, gerando um objeto “não perdido” e nem faltoso de gozo, mas é assim que a falta é negada.
Mas a mulher pode ter a expectativa de uma dupla compensa para a sua falta-a-ser enquanto identificada sujeito feminino, não renunciando a sua demanda direcionada a mãe e isso mostra a sua tentativa de significar e dar consistência ao seu ser, tornando indistinto a distancia entre desejo e demanda, dificultando a separação do seu desejo do Outro materno (KÜPPER, 2012). Continuará buscando oque lhe falta, geralmente é levado para futuros relacionamentos, pois se submeterá aos desejos do Outro, para tentar suprir o seu gozo. Ocasionando um ciclo na vida dessa mulher.
4. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A violência doméstica (VD) é um ato prejudicial contra à vítima, na maioria das vezes pode ser um membro da família, conjunges, amigos, entre outros, ocorrendo neste ambiente familiar e se tornando difícil a denúncia por questões afetivas (DINIZ e ANGELIM, 2003). Conforme a Lei Maria da Penha (2006), há alguns tipos de violências, as principais são:
a) Violência física: é qualquer conduta dominada á maus tratos físicos. São referentes a atos violentos nomeadas com a força física.
b) Violência psicológica: é considerada qualquer conduta que obtém ato de humilha-ção e desvalorização, aonde mexe com o desequilíbrio emocional da vítima, que pode desencadear transtornos psicológicos.
c) Violência sexual: Trata-se de qualquer ação sexual indesejada.
d) Violência patrimonial: entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus bens materiais, utensílios de trabalho, documentos pessoais, valores e direitos, destinados a satisfazer suas necessidades.
e) Violência moral: é considerada qualquer conduta que idealiza a calúnia, difamação ou injúria.
Para o autor De Ávila (2018, p.143) “há diversos fatores de risco que podem prender uma mulher numa relação violenta, em nível societário, comunitário, interrelacional e individual”.
Dificilmente as mulheres procuram ajuda externa, elas tendem a aceitar e justificar as atitudes do agressor. Protelam a revelação até que ocorra uma situação de ameaça à vida ou tentativa de homicídio, ocasiões em que precisam procurar os serviços hospitalares. Todavia, a busca por ajuda nas instituições de saúde é recurso não só para a resolução dos agravos físicos, mas também para os psicológicos, geralmente mais sentidos pelas vítimas. O elemento “dor”, evocado prontamente, revela um conteúdo avaliativo afetivo na representação da violência doméstica contra a mulher, pois pode referir-se tanto as consequências dos ferimentos quanto ao sofrimento desencadeado quando agredida por alguém com quem tem um laço íntimo. (ACOSTA et al, 2018, P.5).
No entanto, a violência além de ser vivenciada, ela tira o direito de fala, aliena e anula essa mulher, sendo assim, necessário um olhar sem julgamentos para o papel dela diante desta situação, pois, pode haver simbolizações para a vítima de VD (XAVIER e FERRANTE, 2019).
Há um ditado que em briga de marido e mulher, não se mete a colher, mas é preciso que a sociedade se intrometa e desmitifique os conceitos diante do olhar patriarcal (VIEIRA, GARCIA E MACIEL, 2020).
Walker (1979 apud SILVA, AMORIM, SANTOS, p. 97) observou a existência do “ciclo da violência”, identificadas três fases da violência doméstica, representado por ações repetitivas: a fase da tensão, da agressão e da lua de mel.
I. Construção das tensões: ocorrem o controle do comportamento, o isolamento da mulher, ofensas verbais e humilhações II. Explosão da violência: há agressão física, violência patrimonial, violência moral, violência sexual ou violência psicológica III. Lua de mel: o homem pede perdão, enche a mulher de promessas de mudança, há reconciliação e reconstrução do vínculo. (POLATO, 2022)
Coelho (2021, p.12) “conclui que quando a mulher consegue reagir e enfrentar o medo para enfrentar a violência doméstica, é chantageada, ocorrendo uma suposta mudança de comportamento temporário, ou seja, a fase de lua de mel e, logo em seguida, recomeça-se o ciclo”. De acordo com Sampaio (2021, p.7) “constitui-se ato atentatório à dignidade da pessoa humana, impossibilitando sua concretização de forma plena, sendo não mais que um objeto, ferido na sua integridade física, social, sexual, psicológica, moral, política, etc.”.
A lei n 11.340/2006 nomeada como Maria da Penha (LMP), surge como uma oportunidade no âmbito jurídico para defender os direitos das mulheres, principalmente no contexto da violência doméstica, esta lei trouxe a esperança e o amparo para estas vítimas. Segundo Calazans e Cortes (2011) o surgimento desta lei retrata o movimento e a força feminina brasileira de ter voz na sociedade, principalmente um grito de socorro pedindo proteção. A LMP em questão é certificada como uma referência histórica para os direitos das mulheres. Tem o reconhecimento pela Organizações das Nações Unidas (ONU), como a lei mais avançada referente ao combate de violência contra as mulheres no mundo. (PITANGUY, 2011)
5. PORQUE AINDA PERMANEÇO
Segundo Marques (2005) quando uma pessoa passa por um tipo de intimidação, a reação do indivíduo é normalmente ter a fuga e evitar novamente um conflito, entretanto em uma circunstância conjugal é perceptível um ciclo repetitivo se tornando uma dependência e assim impedindo vítimas dessas situações a saírem do relacionamento vicioso.
Muitas mulheres ficam presas nas falsas pronuncias de amor, sendo submetidas ao contexto da violência e depois do ato ocorre os pedidos de desculpas e perdão por parte do agressor, criando-se sentimentos de esperança e perseverança na vítima de que o outro mudará suas atitudes. De acordo com Pereira (2020, p.12) “antes do soco e da pancada, muitas outras formas de violência já dão indícios de uma relação abusiva, estar em um relacionamento abusivo não quer dizer, necessariamente, apanhar”.
Encontra-se também como um fator importante, o apoio, principalmente para vítimas que tem filhos de outro relacionamento, a aceitação dos filhos e a proteção ofertada a eles, acontece com essa mulher humilhações, desmoralização, espancamento, entre outras coisas. Porém para muitas está tudo bem, porque se alguém de fora fizer isso ele a defende, então somente ele pode ter essas atitudes (SOUZA e SABINI, 2015).
Em muitos casos a violência na relação afetivo-conjugal faz parte do contexto de comunicação no ambiente familiar, ou seja, uma relação que oscila entre amor e dor. Sendo difícil para algumas vítimas a denúncia por questões familiares, proteção dos filhos, pressão da família, questões financeiras, perda da sua autonomia, entre outros, tendo vários fatores que a culpam sua decisão de realizar a denúncia, algumas frases utilizadas por familiares, se está ruim com ele, vai ser pior sem ele; homem é tudo igual, só muda endereço; quero ver como vai se sustentar e cuidar das crianças; entre outros (DE SOUZA e DA ROS, 2006). Se manter dentro de um relacionamento abusivo, o sujeito muita das vezes não consegue se desvencilhar, pois as crenças podem justificar os comportamentos do agressor e acaba sustentando os pensamentos de que este possa mudar, na ideia de que é uma fase momentânea (BALDISSERA, et al, 2021).
Portanto, o poder de controle que o homem tem sobre a mulher, é representado pela sociedade de forma romantizada, tornando difícil o reconhecimento que a violência, o ciúme, controle, abusos, domínios, entre outros, não são formas de amor, então entra a importância da narrativa sobre igualdade e respeito nos relacionamentos. Sendo de grande importância o olhar subjetivo diante do contexto da vítima de violência doméstica (FERREIRA; DE OLIVEIRA e MOREIRA, 2021).
6. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A mulher que vivencia ou já vivenciou a violência, normalmente, tem um envolvimento psicológico muito grande, visto que “a pessoa sob jugo não é mais senhora de seus pensamentos, está literalmente invadida pelo psiquismo do parceiro e não tem mais um espaço mental próprio”. Monteiro (2006, apud HIRIGOYEN, SOARES, p.182), por esta razão a procura de um acolhimento acaba se tornando necessário, para obter um auxilio e gerar métodos para superar o trauma vivido. De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP) “ao profissional da Psicologia cabe entender que a violência contra a mulher se caracteriza principalmente como uma violação de direitos humanos, e que a questão de gênero é balizadora para sua compreensão” (2012, p.77).
Outro objetivo do atendimento psicológico às vítimas é fazer com que elas resgatem sua condição de sujeito, bem como sua autoestima, seus desejos e vontades, que ficaram encobertos e anulados durante todo o período em que conviveram em uma relação marcada pela violência. Desta forma, elas poderão ter coragem para sair da relação que, durante muito tempo, tirou delas a condição de ser humano, tornando-as alienadas de si mesmas. Este é um processo que continua ativo durante um longo período no psiquismo da mulher, mesmo que ela já tenha colocado um ponto final na relação. Pois, no período em que sofreu as violências, o parceiro a desqualificava de todas as formas, através da violência psicológica e moral. Monteiro (2006, 2005 apud HIRIGOYEN, SOARES, p.21).
A procura da estabilidade emocional das mulheres que são vítimas de violência, tem-se se revelado na busca por um atendimento psicológico, na tentativa de tornar-se seguras e então é uma forma de obter a compreensão do entendimento das experiências vividas naquele relacionamento (Santos e Oliveira, 2018), “portanto, a atuação do profissional nessa área deve ter embasamento teórico tanto da psicologia social como também da psicologia clínica” (MON-
TEIRO, 2022, p.20). “A (o) psicóloga (o), em seu trabalho, deverá ter clareza acerca das referências teóricas, técnicas e metodológicas, as quais, para nortear a sua atuação profissional, devem ser cientificamente válidas (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2012, p.78).
Segundo a autora (2012, p.21) “para se obter sucesso no atendimento às vítimas e autores de violência doméstica, é necessário articular o conhecimento e a atuação da Psicologia com outros campos do conhecimento e outras instituições envolvidas nesse processo”. No entanto, para o CFP “todas as possibilidades de atuação devem se orientar pelo fortalecimento do protagonismo das mulheres e pelo entendimento multidimensional da violência, como produto das relações desiguais legitimadas e produzidas nas diferentes sociedades” (2012, p.77). É importante o terapeuta realizar um planejamento de intervenções para ser realizada com o paciente, é necessário ter alguma noção do que deve ser atingido, para ser realizado algo. O planejamento não irá solucionar o problema, mas evoluir conforme o caso, assim os objetivos serão alcançados (EIZIRIK, AGUIAR E SCHESTATSKY, 2015).
No acompanhamento psicológico com a mulher, vítima de violência doméstica, o psicólogo deve ajudá-la a transformar sua autoimagem e a resgatar sua autoestima, que durante a relação violenta pode ter sido minada com sentimentos de menos valia, impotência, incapacidade, culpa e insegurança. Outra questão importante que o psicólogo deve trabalhar com a vítima é a ampliação da consciência, para que ela perceba os motivos que a fazem continuar na relação, que a fazem permanecer fixada no algoz. O profissional deve ajudá-la a identificar quais são as perdas e os ganhos que ela tem ao continuar fixada na relação. Outro aspecto importante a ser trabalhado é auxiliar a vítima a mobilizar energia, para sair da situação de submissão e do papel de dominada no qual se encontra. Para isso a vítima precisa mudar sua postura diante do agressor ou reconstruir sua vida longe dele. Monteiro (2012 apud TENÓRIO, p.26).
Há outros fatores que estão associados com o resultado da psicoterapia, alguns são: motivação; curiosidade psíquica; nível de sofrimento inicial e nível de organização da personalidade; capacidade de pensar psicologicamente. Sendo assim, a qualidade da aliança terapêutica, depende de outros fatores para solidificá-la (HAUCK, et al 2007). O profissional deve contribuir para esta a aliança, através de suas qualidades, técnicas, conhecimento, adaptação e limitações diante as expectativas do paciente (EIZIRIK, AGUIAR E SCHESTATSKY, 2015).
7. DISCUSSÃO
A sociedade destinou o papel de submissão para a mulher a tornando passiva, criando um espaço para a dominação e o controle masculino. (MONTEIRO E SOUZA, 2007). Segundo Borin “a construção social da posição submissa da mulher feminina fez com que o homem desfrutasse de uma posição de poder em relação à mesma, exacerbando, com isso, a violência de gênero” (2007, p.45).
Essa naturalização da violência contra a mulher pode ser encontrada em pesquisas realizadas em países emergentes, mostrando que as mulheres, em sua maioria, compactuam com a ideia da disciplina exercida pelo homem, concordando, inclusive, com o uso da força física caso seja necessário aplicá-la. Isto se traduz na obediência e submissão da mulher e na legitimação do direito do homem sobre esta. (MONTEIRO E SOUZA, 2007, 27).
De acordo autores Porto e Bucher-Maluschke “há uma pressão familiar e instituições patriarcais que se manifestam de forma a promover a manutenção do casamento principalmente por conta dos filhos/as, pois esse seria o papel das mulheres, as tornando socialmente um objeto do patriarcalismo”. (2007 apud CUNHA, p.270). Para Borin (2007, p.45) “o enigma das relações abusivas e o porquê as mulheres permanecem nelas começa com a longa jornada do aprendizado do que é ser mulher na nossa cultura, que ocorre com o processo de socialização”.
Surge com maior frequência, o sentimento de temor que paralisa e impede a mulher de buscar ajuda, bem como a atitude de diminuição do abuso na qual a mulher tende a minimizar a situação de violência em função de fatores como medo, falta de informação e de consciência sobre o que constitui realmente violência, e ainda pelo desejo de crer que o parceiro não é tão mau (MONTEIRO E SOUZA, 2007, 27).
No entanto “essa cultura machista é muitas vezes interiorizada pelas próprias vítimas, que normalizam a violência doméstica e têm dificuldades em romper uma relação por ela marcada” (DE ÁVILA, 2018, p.143). As mulheres que são vítimas de violência doméstica, acabam se adaptando ao contexto como um mecanismo de defesa e estratégia para a sua sobrevivência. Se as sujeitando ao sofrimento, que contribui a sua permanência a longo prazo nesta situação de violência (ZACAN, WASSERMAN E LIMA, 2013).
Segundo Zacan, Wasserman e Lima (2013) o aprisionamento é correlacionado a perda da liberdade e de controle pelo outro, a vítima nega os sentimentos de submissões, em consequência a fragilidade e baixa estima fazer parte do contexto, o medo de ficar sozinha pode ser um pretexto ao seu aprisionamento. “As consequências dos agravos na vida da mulher são marcadas pela baixa da autoestima, pelo medo, pelo isolamento social e até pela incorporação do sentimento de culpa” (MONTEIRO E SOUZA, 2007, 27).
A violência ocorre com uma frequência ao mesmo indivíduo pela ausência da igualdade, dando ao agressor um domínio diante das ameaças e alusão à morte, caracterizando a passividade e o silêncio da vítima (MONTEIRO E SOUZA, 2007).
De acordo Sampaio (2021 p.7) “a violência em todas as maneiras em que se exterioriza, interpreta-se como uma conduta desprezível, uma vez que viola prerrogativas fundamentais inerentes aos seres humanos, quer seja a sua integridade física e psíquica, bem como é conduta que viola aquilo que é de direito do homem”. “Essa intervenção parte da premissa de que a estrutura patriarcal de poder associa masculinidade a comportamentos agressivos e dominadores e feminilidade a comportamentos submissos, o que normaliza um conjunto de violências contra a mulher” (DE ÁVILA, 2018, p.143).
A construção de estereótipos sobre o gênero feminino constrói a mulher como um ser sensível, impondo o que devem e não devem fazer, de modo político, cultural, ente outros. Elas são destinadas a ter a devoção pelo particular: família, casa, filhos, amor (VIEIRA, GARCIA E MACIEL, 2020).
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo apresentou alguns fatores para as mulheres permanecerem no relacionamento conjugal violento como por exemplo a violência psicológica que é conhecida como a violência silenciosa, ocasionando traumas, baixa autoestima, desamor, isolamento social, e entre outros. Assim, foi possível compreender como a cultura patriarcal influencia neste contexto, sendo impostos os estereótipos relacionando ao feminino.
A violência doméstica é um problema desde os primórdios, esta realidade afeta a percepção da vítima sobre si mesma, sendo há muito tempo colocada em um papel de submissão, que acarreta sentimento de insegurança, medo, tristeza, impotência, fragilização, dentre outros. No entanto, esta pesquisa bibliográfica, teve o intuito de dar visibilidade as mulheres vítimas de violência doméstica e os motivos pelos quais permanecem dentro desta relação conjugal.
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3Professora Orientadora. Professora de Psicologia.