UMA JORNADA PELA LITERATURA: BIOESTIMULADORES DE COLÁGENO-SUAS CARACTERÍSTICAS E MECANISMOS DE AÇÃO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11237679


Andrea Salles Ribeiro1
Maria Cristina Lima Hassato1
orientadora : Danielle Sire2


RESUMO

INTRODUÇÃO:  Atualmente,  diversos  bioestimuladores  de  colágeno são amplamente utilizados no campo estético, oferecendo resultados específicos. Entre  eles,  destacam-se  o  Ácido  Poli-L-Láctico  (PLLA), a Hidroxiapatita de Cálcio (CaHA) e a Policaprolactona (PCL). Esses bioestimuladores agem de maneira semelhante, estimulando os fibroblastos a produzirem colágeno. Eles criam um ambiente propício para a regeneração do colágeno natural da pele, resultando em uma aparência mais jovem e firme. Esses procedimentos são seguros e eficazes, sendo uma opção popular para quem  busca  melhorar  a  qualidade  da  pele  e  combater  os sinais de envelhecimento.MÉTODOFoi pesquisado nas bases Google Acadêmico, PubMed e SciELO, e artigos publicados de 2011 até 2021, nos idiomas inglês e português. Os critérios de inclusão para seleção dos artigos foram: responder aos objetivos do estudo, disponíveis em textos completos. Foram excluídos artigos que não apresentavam relevância para o estudo e artigos incompletos. Foram escolhidos o total de 28 artigos considerados elegíveis para esta revisão de literatura.RESULTADOS E DISCUSSÃONo mercado estético existem três preenchedores cutâneos (Ácido Poli-L-Láctico, Hidroxiapatita de Cálcio e Policaprolactona) considerados seguros e efetivos a estimular a neocolagênese a partir de uma resposta inflamatória subclínica localizada por parte anatômica do paciente. Cada produto possui suas particularidades quanto a composição, características e o mecanismo de ação. De acordo com a literatura, todos os preenchedores cutâneos são considerados eficazes e seguros, podendo ser utilizados por profissionais devidamente capacitados. CONCLUSÃO: Os bioestimuladores de colágeno são excelentes materiais com capacidade de prevenir e/ou reverter os efeitos do processo de envelhecimento facial, devido à capacidade de corrigir os contornos faciais e bioestimular de novo colágeno a partir de reações autólogas. Além de serem considerados produtos seguros e efetivos para volumização de face e tratamentos voltados para rejuvenescimento facial e de outras partes anatômicas com resultados bastante promissores.

Palavras – Chave: Bioestimuladores de Colágeno Rejuvenescimento Facial. Estimulação de colágeno. Firmeza da pele. Hidroxiapatita de cálcio. Ácido L – Poli – Láctico. Policaprolactona.

Abstract

Introduction: Collagen biostimulators are increasingly used in the aesthetic market. Among them, poly-l-lactic acid (PLLA), calcium hydroxyapatite (CaHA) and polycaprolactone (PCL) act at the application site, promoting an increase in the production of endogenous collagen and promising long-lasting rejuvenating effects. This work aims to describe the characteristics and mechanism of action of these collagen biostimulators, in addition to approaching their properties with an emphasis on facial rejuvenation. Method: It was searched in Google Academic, PubMed and SciELO databases, and articles published from 2011 to 2021, in English and Portuguese. The inclusion criteria for selecting the articles were: responding to the study objectives, available in full texts. Articles that were not relevant to the study and incomplete articles were excluded. A total of 28 articles considered eligible for this literature review were chosen. Results and Discussion: In the aesthetic market there are three skin fillers (poly-L-lactic acid, calcium hydroxyapatite and polycaprolactone) considered safe and effective to stimulate neocollagenesis from a subclinical inflammatory response located in the anatomical part of the patient. Each product has its particularities in terms of composition, characteristics and mechanism of action. According to the literature, all skin fillers are considered effective and safe, and can be used by properly trained professionals. Conclusion: Collagen biostimulators are excellent materials capable of preventing and/or reversing the effects of the facial aging process, due to their ability to correct facial contours and biostimulate new collagen from autologous reactions. In addition to being considered safe and effective products for face volumization and treatments aimed at rejuvenating the face and other anatomical parts, with very promising results.

Keywords: Collagen Biostimulators. Facial Rejuvenation. Calcium hydroxyapatite. Acid L – Poly Lactic. Polycaprolactone.

Introdução

O envelhecimento é um processo que ocorre de forma natural no organismo, decorrente de fatores intrínsecos e extrínsecos. Com o avanço da idade, a pele sofre as alterações provocadas pelo declínio de suas funções, a síntese de colágeno diminui gradativamente e as fibras elásticas tornam-se deformadas e menos flexíveis caracterizando o envelhecimento cutâneo. O arcabouço estrutural determinado pela derme vai reduzindo, resultando na perda da elasticidade, adelgaçamento da pele e menos resistência às alterações mecânicas (Borges, 2016; Oliveira et al, 2014). Desta forma, o envelhecimento é um processo de deterioração progressiva, tempo-dependente, que se dá por fatores cronológicos, causados pelo desgaste natural do organismo e características genéticas, bem como por fatores comportamentais desencadeados por exposição excessiva às influências do meio ambiente como poluição, alimentação indevida, radiação solar, estresse, tabagismo, entre outros (Borges, 2016; Oliveira et al., 2014).

Nos últimos anos, houve um aumento significativo nas pesquisas e propostas terapêuticas para o envelhecimento facial, devido ao aumento da busca pela beleza, bem-estar e saúde em diversas faixas etárias, principalmente por influência da sociedade e da mídia. Dentre as terapias utilizadas para rejuvenescimento facial, encontra-se as técnicas de intradermoterapia, inseridas no mundo dos procedimentos minimamente invasivos, que revolucionaram o mercado estético e dermatológico para além do tratamento de linhas finas e rugas, sendo capazes de corrigir a perda de volume facial, tal como promover o aumento da face que apresenta sinais de envelhecimento (Lima & Soares, 2020).

Dentre os preenchedores dérmicos que atuam na restauração de volumes e contornos perdidos no processo de senescência tecidual, o que resulta na diminuição gradativa da síntese de colágeno, pode-se citar o uso de bioestimuladores de colágeno (Martins et al., 2021). Neste contexto, o presente estudo teve por objetivo realizar uma revisão de literatura a fim de descrever as características e o mecanismo de ação dos bioestimuladores de colágeno, além de abordar suas propriedades com ênfase no rejuvenescimento facial.

Revisão de Literatura

A pele é o maior órgão do corpo e funciona como uma cobertura protetora elástica, que desempenha funções antimicrobiana, quimioprotetora e de barreira física corporal (Carvalho, 2019; Small et al., 2014). Representa o órgão de maior peso corporal, situada acima do tecido gorduroso, das fáscias, dos músculos e dos ossos (Borges et al., 2016; Carvalho, 2019; Harris, 2016).

Estruturalmente, a pele é composta por quatro tecidos fundamentais: o epitelial, o muscular, o conjuntivo e o nervoso. Do ponto de vista morfológico, a pele é dividida em epiderme – tecido epitelial pavimentoso estratificado queratinizado; derme – tecido conjuntivo propriamente dito; e hipoderme – tecido conjuntivo frouxo (Borges et al., 2016; Carvalho, 2019).

A epiderme possui espessura variando entre 1,3 mm (palma das mãos) e 0,06 mm (face), sendo a camada mais externa da pele. Trata-se de um tecido avascular, constituído de células epiteliais achatadas sobrepostas, sendo subdividido em cinco camadas ou estratos: estrato germinativo ou basal, espinhoso, granuloso, lúcido e córneo. Por não possuir suprimento sanguíneo recebe nutrientes da derme através de capilaridade. Sua principal função é atuar como uma barreira protetora, bloqueando a entrada de substâncias estanhas ao organismo, bem como promovendo a homeostase da água, nutrientes e eletrólitos em seu interior (Domansky; Borges et al., 2014; Borges et al., 2016; Harris, 2016).

As células que constituem a epiderme são os queratinócitos que atuam na síntese da queratina, sendo também responsáveis pela renovação cutânea; os melanócitos são responsáveis pela produção da melanina, pigmento que garante a proteção do DNA celular, bem como a pigmentação da pele; as células de Merkel, tem papel sensorial cutâneo atuando como identificadoras do tato, da pressão e do estiramento da pele; e as células de Langerhans, com função imunológica adicional a pele (Borges et al., 2016; Carvalho, 2019; Harris, 2016; Small et al., 2014).

A interface entre a epiderme e a derme é denominada junção dermoepidérmica ou zona da membrana basal. Esta mede aproximadamente de 60 a 140 μm de espessura, com função adesiva, promovendo alta aderência entre as camadas e trocas metabólicas entre os queratinócitos e fibroblastos dérmicos. A epiderme penetra na derme através de cristas epidérmicas, enquanto a derme se projeta na epiderme por meio das papilas dérmicas, garantindo maior adesão entre as camadas (Barbosa, 2011; Borges et al., 2016; Harris, 2016).

A derme é constituída por vasos sanguíneos e linfáticos, unidades pilossebáceas, glândulas sudoríparas, nervos, fibras nervosas, receptores sensoriais, e substâncias como o ácido hialurônico, que confere turgor à derme por apresentar propriedades hidratantes, além de outros GAG’s que são os glicosaminoglicanos de suporte (Carvalho, 2019; Farage et al., 2013). Majoritariamente apresenta em sua composição os fibroblastos, cuja função é a produção de fibras de colágeno e elastina. As fibras de colágeno são responsáveis pela resistência à tração, enquanto que as fibras de elastina garantem elasticidade e resiliência da pele (Borges et al., 2016; Farage et al., 2013; Pujol, 2011).

Para além dos componentes supracitados, a camada dérmica é composta de células como macrófagos, linfócitos e os mastócitos que desempenham o papel imunológico (Barbosa, 2011; Borges et al., 2016; Carvalho, 2019; Harris, 2016; Small et al., 2014). Sua espessura varia de 0,5 mm a 3 mm, sendo mais espessa no dorso que na parte anterior do corpo, e é mais grossa em homens do que em mulheres (Harris, 2016).

A derme se encontra dividida em duas camadas: a camada superficial, ou papilar, constituída por tecido conjuntivo propriamente dito do tipo frouxo e localizada logo abaixo à epiderme; e a camada reticular, ou profunda, formada por tecido conjuntivo propriamente dito do tipo denso não modelado, situada profundamente em relação à camada papilar (Borges et al., 2016; Carvalho, 2019; Harris, 2016). A derme papilar é a camada mais delgada e vascularizada apresentando um número maior de fibroblastos e fibrócitos, onde o colágeno III é predominante, enquanto a derme reticular é mais espessa, com predomínio de feixes de colágeno do tipo I. As fibras de colágeno são compostas principalmente pela proteína colágeno compondo 70% do peso da pele, sendo uma das mais frequentes no tecido conjuntivo (Ferreira, 2017; Harris, 2016).

Denomina-se colágeno, uma família de proteínas estruturais que se formam através de vários aminoácidos, estruturadas fisiologicamente e bem organizadas, sendo sintetizadas por fibroblastos e miofibroblastos (Borges et al., 2016), e são consideradas as proteínas mais abundantes no organismo dos vertebrados. Este termo é utilizado para fazer referência a mais de 20 tipos destas longas cadeias proteicas, sendo identificadas por algarismos romanos (Carvalho, 2019). A classe dos colágenos constitui um importante grupo de moléculas com função estrutural. Na pele, o colágeno existe principalmente como nos tipos apresentados na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1: Tipos e características do colágeno (Carvalho, 2019; Harris, 2016)

Com o avanço da idade, a pele sofre as alterações provocadas pelo declínio de suas funções, a síntese de colágeno diminui gradativamente e as fibras elásticas tornam-se deformadas e menos flexíveis caracterizando o envelhecimento cutâneo. O arcabouço estrutural determinado pela derme vai reduzindo, resultando na perda da elasticidade, adelgaçamento da pele e menos resistência às alterações mecânicas. Desta forma, o envelhecimento é um

processo de deterioração progressiva, tempo-dependente, que se dá por fatores cronológicos, causados pelo desgaste natural do organismo e características genéticas, bem como por fatores comportamentais desencadeados por exposição excessiva às influências do meio ambiente como poluição, alimentação indevida, radiação solar, estresse, tabagismo, entre outros (Borges, 2016; Oliveira et al., 2014).

Com o aumento da expectativa de vida, o estudo do processo de envelhecimento cronológico tem sido bastante difundido. À medida que a expectativa de vida aumenta, o interesse pelo retardamento dos danos causados pelo envelhecimento tem se tornando cada vez mais robusto. Atualmente a busca por uma pele jovem, natural, livre de manchas e rugas, tem sido o conceito contemporâneo de beleza (Borges et al., 2016).

Existem dois tipos de envelhecimento: o intrínseco e o extrínseco. A primeira definição defende que o processo de envelhecimento se dá pela genética, caracterizado pelo declínio das funções vitais do organismo, índice reduzido de renovação celular, acometimento das respostas imunológicas e demais alterações do funcionamento fisiológico e fototipo cutâneo, enquanto que o envelhecimento extrínseco é causado por exposições repetitivas aos raios ultravioletas, ação de radicais livres, temperatura, tabaco, poluição (Borges et al., 2016; Harris, 2016).

Inúmeras teorias foram propostas para melhor compreender o mecanismo de senescência da pele. Várias destas teorias são descritas na literatura sendo a principal e mais aceita a Teoria dos Radicais Livres. Os radicais livres são definidos como moléculas instáveis, que perdem um elétron nas interações com outras moléculas que estão ao seu redor, que promovem alterações celulares, muitas vezes acima da normalidade, resultando em morte celular ou até mesmo doenças degenerativas (Carvalho, 2019). A produção contínua e incessante de radicais livres durante os processos metabólicos, resulta na soma de fatores que promovem alteração em nível dérmico, onde perdas significativas de colágeno, elastina e fibras reticulares são observadas, considerando que estas estruturas são responsáveis pela sustentação, elasticidade e firmeza da pele (Oliveira et al., 2013; Ruivo, 2014).

Ortolan et al. (2013) ao avaliar a influência da faixa etária na qualidade da pele, por meio de uma análise histológica e morfométrica, pode concluir que o processo de envelhecimento promoveu alterações qualitativas e degenerativas na derme, a redução do colágeno, degradação e fragmentação das fibras, e também ao aumento da densidade de material elástico com modificação da qualidade e da organização das fibras elásticas. No mesmo estudo, não foi observado alterações significativas no número de vasos sanguíneos da derme.

Na juventude, a face apresenta o formato de um triângulo invertido, com o ápice voltado para baixo, o que se expressa em um terço médio bem definido. Com o envelhecimento, a modificação estrutural da face faz com que os contornos e o volume sejam perdidos, invertendo-se o triângulo da juventude, o que resulta na “quadralização facial”, quando a face se torna quadrada, pela ptose e perda da sustentação os tecidos cutâneos, diminuição volumétrica dos compartimentos de gordura e perda da sustentação profunda devido ao remodelamento ósseo. (Coimbra & Oliveira, 2014).

Com o intuito de retardar os resultados do processo do envelhecimento, os procedimentos minimamente invasivos revolucionaram o mercado estético e dermatológico para além do tratamento de linhas finas e rugas, sendo capazes de corrigir a perda de volume facial, tal como promover o aumento da face que apresenta sinais de envelhecimento. Dentre os preenchedores dérmicos que atuam na restauração de volumes e contornos perdidos no processo de senescência tecidual, pode-se citar o uso de bioestimuladores de colágeno (Martins et al., 2021; Oliveira et al., 2013).

Os bioestimuladores de colágeno atuam ativamente na derme estimulando a produção do colágeno no local de aplicação, com o objetivo de promover uma ação rejuvenescedora na pele, atenuando as rugas e linhas de expressão, melhorando a aparência, hidratação, elasticidade e promovendo uma recuperação do volume da face (Christen & Vercesi, 2020; Miranda, 2015; Lima & Soares, 2020). Estas substâncias são polímeros injetáveis com a proposta de que induzir uma resposta inflamatória controlada, com reposição tecidual de colágeno e aumento da espessura dérmica (Costa & Esteves, 2020; Lima & Soares, 2020; Magalhães, 2021).

Entre os bioestimuladores com ação mais significativa para o rejuvenescimento facial de aplicação injetável, se destacam o Ácido-L-Poli Lático, a Hidroxiapatita de Cálcio e a Policaprolactona. São classificados de acordo com a sua durabilidade e absorção no organismo, que, por serem biodegradáveis são absorvidos através de mecanismos fagocitários, cuja duração é em torno de dezoito meses a cinco anos (Avelar & Cazerta, 2018; Magalhães, 2021; Costa & Esteves, 2020 Miranda, 2015; Lima & Soares, 2020).

O Ácido – L – Poli Lático (PLLA) ou Sculptra® apresenta-se na forma de pó liofilizado cujas micropartículas medem entre 40 a 63 micrômetros de diâmetro. Trata-se de um polímero sintético com propriedade de auto- organização e formação de micelas coloidais em meio aquoso, derivado do ácido lático, biodegradável, imunologicamente inerte e biocompatível pertencente à família dos alfa-hidroxiácidos. É naturalmente produzido pela contração muscular (Haddad et al, 2017; Lima & Soares, 2020), e sua forma sintética provem da fermentação do milho (Fabi & Goldman, 2012). O PLLA foi descoberto pelo Centre National De La Recherche Scientifique (CNRS) em Lyon, na França no ano de 1954, sendo liberado como preenchedor em toda a Europa em 1999. Em 2004, os EUA deram início o uso do PLLA para tratar pacientes portadores do vírus HIV que sofriam de lipoatrofia facial e cinco anos depois foi direcionado também para tratamento para fins estéticos em pacientes imunocompetentes (Haddad et al, 2017).

Chegou ao Brasil por volta de 2005 para tratamento de lipoatrofia associadas ao vírus HIV, bem como para finalidade estética, sendo considerado uma inovadora e eficaz alternativa para o tratamento de pacientes que buscam resultados de ação progressiva e aspecto natural e carecem de uma bioestimulação tridimensional, já que o produto atua nos três planos de aplicação: subdérmico, subcutâneo e supraperiostal (Coser e Alcântara, 2020; Haddad et al, 2017).

O mecanismo de ação do PLLA atua no estímulo da neocolagênese a partir de uma resposta inflamatória subclínica localizada logo após ser injetado no tecido. Uma vez injetado, ocorre uma lenta degradação do material que resulta na deposição de colágeno no local da aplicação. A resposta inflamatória local subclínica, promove o recrutamento células de defesa como os monócitos, macrófagos e fibroblastos. O PLLA é então hidrolisado em monômeros de ácido lático que por sua vez é convertido em ácido pirúvico. Na presença da acetil- coenzima A, ocorre liberação de CO2 e, consequentemente, ocorre a decomposição em citrato, que entra no Ciclo de Krebs resultando na formação de CO2 e H2O, seguindo de eliminação via urinária, pelas fezes ou através da respiração (Bauer & Graivier, 2011).

Ao final do processo metabólico não há evidências de formação de fibrose, e as partículas de PLLA desaparecem. Segundo Rendon (2012) não ocorre quantidade significativa de resíduos da degradação em órgãos vitais, e com uma meia vida estimada em trinta e um dias, o produto é completamente eliminado em cerca de dezoito meses (Rendon, 2012; Bauer & Graivier, 2011). O resultado deste processo é o aumento da espessura dérmica proveniente da ação dos fibroblastos que foram estimulados. A produção de colágeno do tipo I se dá em cerca de dez dias após a aplicação e perdura entre oito a vinte e quatro meses, enquanto o produto é degradado e a resposta inflamatória subclínica é reduzida. Ao ser injetado no tecido, o produto provoca um volume transitório devido à distensão mecânica dos tecidos, e que desaparece em poucas semanas (Bauer & Graivier, 2011; Haddad et al, 2017; Miranda, 2015).

O Ácido L – Poli – Láctico é indicado para a melhoria da flacidez cutânea resultante do processo de envelhecimento, correção volumétrica de áreas deprimidas, como sulcos, rugas, depressões cutâneas, cicatrizes atróficas e alterações decorrentes de lipoatrofia ou remodelação óssea da área tratada. Na práxis, contribui para a melhoria da qualidade, do tônus e do contorno facial. Como PLLA é usado para tratar alterações decorrentes da perda volumétrica, secundária a reabsorção óssea, lipoatrofia e do envelhecimento da pele, as recomendações recentes são para aplicação do produto em diferentes planos, como o subcutâneo, subdérmico e supraperiostal.

Vale salientar que a aplicação não é feita diretamente em rugas, linhas e sulcos, mas em áreas flácidas e atróficas da face cujo objetivo é tratar a perda de volume subjacente. Além das indicações para tratamentos faciais, com diversos relatos na literatura, o PLLA pode ser utilizado em outras regiões anatômicas como face medial dos braços, pescoço, região peitoral, abdômen e nádegas (Cunha et al., 2016; Haddad et al, 2017, Machado Filho, 2013).

Outro bioestimulador muito utilizado com o intuito de estabelecer simetria, e restabelecer o tônus e o volume da pele, é a Hidroxiapatita de Cálcio (CaHA), também conhecida pelos nomes comerciais (Radiesse®) e (Rennova® Diamond Lido). Trata – se de um produto injetável sintético, com ampla expansão no mercado da estética no Brasil, sendo as duas marcas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por ser sintetizada naturalmente pelo organismo, a CaHA é encontrada de forma endógena em dentes e ossos, sendo considerada uma substância biocompatível, com alto grau de segurança, devido baixa incidência de alergenicidade e resposta inflamatória (Anvisa, 2019; Costa & Esteves, 2020).

A Hidroxiapatita de Cálcio vem sendo utilizada como implante injetável por mais de duas décadas, sendo sua apresentação farmacêutica em forma de gel aquoso de glicerina e carboximetilcelulose de sódio onde estão suspensas as microesferas do ativo bioestimulador. Em relação a sua composição química, é composto principalmente pela CaHA, tendo 30% de microesferas sintéticas de hidroxiapatita de cálcio, que são esféricas e uniformes, variando entre 25 e 45 μm de diâmetro, e 70% do gel transportador aquoso, composto por carboximetilcelulose de sódio, água estéril e glicerina (Miranda, 2015).

O gel carreador promove o efeito de preenchimento imediato logo após a injeção e começa a ser dissipado de forma gradual cerca de dois a três meses após a aplicação, deixando apenas as microesferas, as quais induzem uma resposta fibroblástica. A longa duração do efeito da CaHA, normalmente de um a dois anos, pode ser atribuída ao lento metabolismo enzimático e fagocitose das microesferas do composto, pois atuam como um arcabouço de sustentação para os novos tecidos formados. As microesferas são completamente degradadas e eliminadas na forma de íons cálcio e fosfato diluídos na urina (Miranda, 2015; Liu et al., 2019).

No que tange a escolha do plano de aplicação, o produto deve ser injetado na derme média ou profunda, ou no plano supraperiosteal, a fim de promover o estímulo do colágeno. Consequentemente, injeções epidérmicas, intradérmicas ou superficiais não são recomendadas, devido grande risco de causarem nódulos visíveis na derme superficial (Miranda, 2015). Salienta-se que os resultados são alcançados de forma gradual ao longo de várias sessões se for o caso, sendo desaconselhável a injeção excessiva do material de uma só vez, cujas principais indicações clínicas são correção de sulcos moderados a graves na área da face, comissura labial, rugas peribucais, região malar/ zigomático, contorno mandibular, região temporal, terço médio da face, prega mentoniana, mento e mãos, além de trazer resultados satisfatórios em sequelas de acne (Costa & Esteves, 2020; Miranda, 2015).

Assim como o PLLA e a CaHA que possui capacidade de repor colágeno e corrigir os contornos faciais, a Policaprolactona (PCL) de nome comercial Ellansé®, é mais novo bioestimulador de colágeno biodegradável, que vem sendo difundido no mercado estético desde em 2009. Refere-se a um composto de microesferas de PCL (30%) suspensas em um gel carreador aquoso de carboximetilcelulose (70%), que fornece um efeito de volume imediato, porém de caráter provisório. As microesferas de PCL contribuem para o volume de longo prazo, estimulando a produção de novo colágeno.

Enquanto o gel de carboximetilcelulose é absorvido nas primeiras seis e oito semanas, a perda de volume do gel carreador é progressivamente substituída pelo colágeno recém-sintetizado induzido pela neocolagênese. As microesferas de PCL apresentam de 25 a 50 μm de tamanho o que impede de serem fagocitadas pelas células imunológicas. Consequentemente estas microesferas irão sofrer degradação, originando produtos não tóxicos e bioreabsorvíveis que são metabolizados em CO2 e H2O e excretados pelas vias normais do metabolismo (Magalhães, 2020; De Melo et al., 2017).

Os implantes à base de PCL performam de modo importante, com ampla capacidade de reparar áreas que necessitam de volume, tais como rugas e dobras e também na correção de pregas nasolabiais, além de apresentar resultados satisfatórios no rejuvenescimento das mãos, sem relato de alguma complicação grave. Desta forma, a PCL é mais um produto injetável usado no mercado voltado à Estética, pertencente a uma nova geração de bioestimuladores de colágeno que oferece correção imediata e sustentada por volumização através de bioestimulação, com efeitos prolongados de diferentes durações que variam entre um a quatro anos, com excelente aceitação da população consumidora (Christen, 2020).

Eventualmente os bioestimuladores podem provocar efeitos adversos leves como hematomas, edema, eritema e dor, os quais são resolvidos espontaneamente nos primeiros cinco dias. Reações como formação de nódulos, infecção (relativa às condições de assepsia), necrose, inflamação não específica, alergia, eritema, pigmentação, granuloma são considerados efeitos raros, no entanto grande parte desses eventos adversos podem ser evitados com planejamento e técnica adequada (Christen, 2020; Magalhães 2021).

Método

Foi pesquisado nas bases Google Acadêmico, PubMed e SciELO, artigos publicados de 2011 até 2021, nos idiomas inglês e português. Os critérios de inclusão para seleção dos artigos foram: responder aos objetivos do estudo, além de estarem disponíveis em textos completos. Foram excluídos artigos que não apresentavam relevância para o estudo e artigos incompletos. Foram escolhidos o total de 28 artigos considerados elegíveis para esta revisão de literatura.

Resultados e Discussão

Segundo Borges et al (2016) o uso de bioestimuladores de colágeno revolucionaram o mercado da Estética considerando que promover o rejuvenescimento da pele não se limita apenas ao tratamento de manchas e rugas superficiais. Martins et al (2021) e Oliveira et al (2013) corroboram afirmando que estas substâncias atuam de forma tridimensional, agindo em tecidos de sustentação como derme média e profunda. Estudos realizados por Avelar & Cazerta (2018); Costa & Esteves (2020); Lima & Soares (2020), Magalhães (2021) e Miranda (2015) mostram que a sua capacidade de estimular a formação de um novo colágeno se dá através de processo inflamatório local subclínico.

Em relação as características acerca da apresentação farmacêutica dos produtos, a maioria dos produtos são comercializados em seringas prontas para uso, sendo necessário apenas fazer uma correta homogeneização. No entanto, o PLLA é o único produto que precisa de uma reconstituição por se apresentar como um pó liofilizado (Haddad et al, 2017; Lima & Soares, 2020). Lima e Soares (2020) afirmam que existe diferença acerca do efeito volumizador, dos bioestimuladores em estudo. Enquanto o PLLA não possui um efeito imediato, essa característica é observada na CaHA e na PCL, considerando que ao momento que são injetados provocam uma correção imediata, tendo a dispersão do seu gel carreador de forma mais lenta que no PLLA, contudo, todos têm seu efeito alcançado de forma progressiva e gradual (Machado Filho, 2013).

Liu et al (2019) e Miranda (2015) afirmam que os bioestimuladores tem apresentado excelente resposta fisiológica nos tratamentos de rejuvenescimento cutâneo sendo o Ácido L – Poli – Láctico (PLLA), a Hidroxiapatita de Cálcio (CaHA) e a Policaprolactona (PCL) classificados como preenchedores semipermanentes, biocompatíveis e biodegradáveis cujo mecanismo de ação ocorre quando as microesferas que compõem o produto, estimulam a neocolagênese a partir de uma resposta inflamatória subclínica, resultando no aumento das fibras colágenas pelos fibroblastos, servindo também como arcabouço para novos tecidos.

Segundo Costa & Esteves (2020) e demais colaboradores, a principal indicação dos produtos busca melhorar o aspecto da pele, agindo nas camadas mais profundas, além de devolver os volumes e contornos faciais que foram perdidos, de forma sutil e com aspecto natural, através da bioestimulação de um colágeno novo. Desta forma, estes produtos não são aplicados diretamente nas rugas, sulcos ou linhas, e sim nas áreas côncavas que perderam gordura, buscando um tratamento tridimensional. Todos os três produtos estudados apresentam relatos de resultados favoráveis nos tratamentos de rejuvenescimento facial.

Lima & Soares (2020) concluíram que assim como os preenchedores dérmicos, todos os produtos bioestimuladores de colágeno são bem tolerados, no entanto, é comum após a aplicação, sinais de desconforto, surgimento de hematomas, eritema ou edemas locais, leves e transitórios, com resolução espontânea. No entanto, Christen (2020) e Magalhães (2021) ressaltam que adversos mais raros como granuloma, necrose e infecções podem ser evitados com planejamento e técnica adequada.

Considerações Finais

O presente estudo torna-se relevante por oportunizar a abordagem de um assunto que ganha cada vez mais espaço no campo das ciências de saúde – o envelhecimento cutâneo. Os bioestimuladores de colágeno consistem na estratégia mais atual e inovadora contra o envelhecimento por induzirem a neocolagênese a partir de técnicas minimamente invasivas e seguras como alternativa à cirurgia estética.

As substâncias que foram discutidas no presente trabalho promovem um novo volume por meio de uma reação metabólica natural, de caráter subclínico e modulada. Fatores como a escolha correta do tratamento, uso correto da substância associado ao treinamento prático da aplicação, resultará em uma boa correção da flacidez facial e promoção do estímulo da produção de colágeno da área tratada. Deve-se considerar elementos como a individualidade de cada paciente alinhada à sua expectativa para a obtenção de bons resultados, salientando que os resultados se apresentam de forma gradativa e sutil.

Contudo, acredita-se que bioestimuladores são excelentes materiais com capacidade de prevenir e/ou reverter os efeitos do processo de envelhecimento facial, devido à capacidade de corrigir os contornos faciais e bioestimular de novo colágeno a partir de reações autólogas. Além disso, é notável que todos os bioestimuladores descritos são considerados produtos seguros e efetivos para volumização de face e tratamentos voltados para rejuvenescimento facial e de outras partes anatômicas com resultados bastante promissores.

Referências

AVELAR L.E.; CAZERTA C.E. The improvement of the skin quality with the use of PLLA. J Dermat Cosmetol. 2018;2(2):101-2. doi: 10.15406/jdc.2018.

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18 semestre – Biomedicina
Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU

2 Orientadora,Docente , Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU