TRI E N-ILS PARA FORMULAÇÃO DE NOVA AVALIAÇÃO SOMATIVA

TRI AND N-ILS FOR THE FORMULATION OF A NEW SUMMATIVE ASSESSMENT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7994095


Jônatas Sena Ferreira
Claudia Maria Soares Rossi


Resumo

Este artigo descreve uma pesquisa de natureza bibliográfica que se baseia em duas teorias sobre a temática de avaliação do ensino e na experiência dos autores para propor um método alternativo para avaliações somativas na educação básica pública. O método sugere duas fases distintas: na primeira fase, é utilizado o questionário N-ILS para identificar os estilos de aprendizagem presentes na sala de aula, conforme a Teoria de Felder e Silverman. Na segunda fase, são elaborados itens no formato da Teoria de Resposta ao Item (TRI) para cada estilo de aprendizagem identificado na fase anterior. A elaboração dos itens é personalizada de acordo com o estilo de aprendizagem de cada aluno. Embora a atividade possa exigir um esforço adicional por parte dos professores, observa-se benefícios significativos para a avaliação somativa. É importante ressaltar que a tarefa de avaliar não é simples, especialmente em salas de aula com diversos estilos de aprendizagem diferentes, o que torna a atividade complexa. No entanto, o método sugerido pelos autores pode contribuir para aprimorar a efetividade e a validade das avaliações somativas, levando em consideração a realidade dos alunos.

Palavras-chave: Teoria de Resposta ao Item. Estilos de aprendizagem. Avaliação somativa. Educação básica pública.

Abstract

This article describes a bibliographic research based on two theories about the theme of teaching evaluation and the authors’ experience to propose an alternative method for summative assessments in public basic education. The method suggests two distinct phases: in the first phase, the N-ILS questionnaire is used to identify the learning styles present in the classroom, according to Felder and Silverman’s Theory. In the second phase, items are developed in the format of Item Response Theory (IRT) for each identified learning style from the previous phase. The item development is personalized according to each student’s learning style. Although the activity may require additional effort from teachers, significant benefits for summative assessment are observed. It is important to emphasize that the task of assessment is not simple, especially in classrooms with diverse learning styles, which makes the activity complex. However, the method suggested by the authors can contribute to improving the effectiveness and validity of summative assessments, considering the students’ reality.

Keywords: Item Response Theory. Learning styles. Summative assessment. Public basic education.

Introdução

A avaliação é uma etapa fundamental no processo educacional, pois permite verificar se os objetivos de aprendizagem foram alcançados e se os alunos estão aptos a progredir em seus estudos. Entretanto, muitas vezes, a avaliação é feita de maneira mecânica e sem muito critério, com os professores se preocupando apenas com o conteúdo cobrado, sem se atentar a outros aspectos importantes como as habilidades desenvolvidas pelos alunos ou a forma como o conhecimento foi aplicado na resolução de problemas.

De acordo com Santos (2017), a avaliação não deve ser vista como um fim em si mesma, mas como um meio para o aprimoramento do processo educativo. Nesse sentido, é importante que os professores levem em consideração não apenas o conteúdo abordado, mas também as habilidades desenvolvidas pelos alunos e a forma como o conhecimento foi aplicado na resolução de problemas.

Além disso, é preciso considerar que a avaliação pode ter um impacto significativo na autoestima dos alunos e em sua motivação para aprender. Segundo Araújo (2013), a avaliação deve ser vista como uma oportunidade de aprendizado e não como um momento de medo e ansiedade para os alunos.

Diante desse contexto, torna-se evidente a importância de uma avaliação criteriosa e que considere diferentes aspectos do processo educativo. Nesse sentido, é fundamental que os professores estejam capacitados para avaliar de forma adequada e que utilizem diferentes estratégias de avaliação, como trabalhos em grupo, projetos e portfólios, que permitam uma avaliação mais abrangente das habilidades e conhecimentos dos alunos.

Diante da importância da avaliação na educação, é fundamental que sejam utilizadas estratégias que permitam uma avaliação mais criteriosa e abrangente dos alunos. Nesse sentido, uma possibilidade é mesclar duas teorias importantes sobre o assunto: a Teoria de Resposta ao Item (TRI) e a Teoria de Felder e Silverman sobre os estilos de aprendizagem.

A TRI é uma abordagem matemática utilizada na avaliação educacional que permite analisar as respostas dos alunos em questões específicas e determinar não apenas o conhecimento do aluno, mas também o nível de dificuldade da questão. Segundo De Ayala (2013), a TRI é uma forma eficiente de avaliar habilidades e conhecimentos de alunos de diferentes níveis de aprendizagem, pois leva em conta tanto o desempenho do aluno quanto a dificuldade da questão.

Por sua vez, a Teoria de Felder e Silverman (1988) é uma abordagem que identifica diferentes estilos de aprendizagem dos alunos. Segundo os autores, existem quatro estilos principais de aprendizagem: ativo, reflexivo, sensível e intuitivo. Cada estilo tem características específicas e, ao levar em conta o estilo de aprendizagem dos alunos, o professor pode adaptar a metodologia de ensino e avaliação para melhor atender às necessidades de cada aluno.

O objetivo deste artigo é propor um método de avaliação que combine a TRI e a Teoria de Felder e Silverman, permitindo que os professores façam avaliações mais precisas e considerem diferentes aspectos do processo de aprendizagem dos alunos, a partir de uma pesquisa bibliográfica sobre a temática ponderada com a realidade docente vivida pelos autores. Dessa forma, acreditamos que este método possa contribuir para a melhoria do processo de avaliação na educação básica.

A avaliação é uma das partes mais importantes do processo educacional, pois permite que os professores acompanhem o progresso dos alunos e identifiquem suas dificuldades. No entanto, a avaliação do tipo somativa realizada pelos professores muitas vezes não leva em conta aspectos importantes do processo de aprendizagem dos alunos, como seus estilos de aprendizagem, o que pode prejudicar a precisão da avaliação e, consequentemente, o processo de ensino-aprendizagem como um todo.

Nesse sentido, a presente pesquisa se torna interessante, pois busca mesclar duas teorias importantes sobre avaliação – a Teoria de Resposta ao Item e a Teoria de Felder e Silverman – com o objetivo de desenvolver um método mais preciso e abrangente para avaliar o processo de aprendizagem dos alunos. Como destaca Shepard (2000), “os professores precisam de avaliações precisas e significativas para orientar a tomada de decisões sobre o ensino e para medir o progresso do aluno ao longo do tempo”. Ao levar em conta não apenas o conteúdo cobrado, mas também o estilo de aprendizagem dos alunos, é possível obter uma avaliação mais precisa e significativa.

Ademais, a pesquisa pode contribuir para a melhoria da educação básica como um todo, conforme ressalta Camargo e Santos (2016), “a avaliação educacional pode ser considerada uma importante ferramenta para a promoção da equidade e qualidade educacional”. Ao desenvolver um método mais preciso e abrangente de avaliação, é possível reduzir as desigualdades e garantir que todos os alunos tenham a mesma oportunidade de aprendizado.

Portanto, a presente pesquisa é expressiva não apenas para a academia, mas também para a sociedade como um todo, pois pode contribuir para a melhoria da educação e, consequentemente, para o desenvolvimento humano e social.

Desenvolvimento

Com a finalidade de propor um novo método de desenvolvimento de avaliações somativas, torna-se lógico discutir e entender duas principais teorias que desenvolvem o tema: Teoria de Resposta ao Item (TRI) e a Teoria desenvolvida por Felder e Silverman (1988).

Teoria de Resposta ao Item

 A Teoria de Resposta ao Item (TRI) é um conjunto de modelos matemáticos que visa medir habilidades e conhecimentos de uma pessoa através de testes. Essa teoria teve origem na década de 1940 e se desenvolveu ao longo dos anos até se tornar um dos métodos mais utilizados para avaliação educacional atualmente. De acordo com Embretson e Reise (2013), “a TRI surgiu como uma alternativa à Teoria Clássica de Testes, que não considerava a variação nos itens de teste e as habilidades dos respondentes”.

O processo de desenvolvimento de um item de teste é complexo e envolve várias etapas, desde a elaboração da questão até a análise estatística dos resultados. De acordo com Pasquali (2013), “o objetivo da elaboração do item é que ele meça o construto que se deseja medir, e não outras variáveis que não estejam relacionadas ao construto”. Nesse sentido, é importante que o item seja claro, objetivo e não gere ambiguidades.

O primeiro passo para o desenvolvimento de um item é a definição do construto que se deseja medir. Em seguida, é necessário elaborar a questão de forma clara e objetiva, utilizando linguagem acessível e evitando palavras que possam gerar dúvidas ou confusão. Conforme ressalta Valença e Lopes (2013), “os itens devem ser claros, precisos, diretos e sem dupla interpretação para que os respondentes possam responder corretamente”.

Após a elaboração do item, é necessário testá-lo em um grupo piloto para verificar sua validade e confiabilidade. De acordo com Figueiredo et al. (2015), “os itens devem ser testados em um grupo de pessoas semelhante à população a ser avaliada, a fim de verificar se eles medem adequadamente o construto desejado e se são precisos e confiáveis”.

Uma vez que o item é validado, é possível aplicá-lo em uma amostra representativa da população a ser avaliada. Os resultados devem ser analisados estatisticamente, levando em conta a dificuldade do item, a discriminação entre os respondentes e a possibilidade de acerto ao acaso. Conforme destaca Pasquali (2013), “a análise estatística dos itens é fundamental para verificar sua validade e confiabilidade e para garantir que eles meçam adequadamente o construto desejado”.

Em resumo, o processo de desenvolvimento de um item de teste é complexo e envolve várias etapas, desde a definição do construto até a análise estatística dos resultados. É importante que o item seja claro, objetivo e que meça adequadamente o construto desejado. A Teoria de Resposta ao Item é uma das principais ferramentas para avaliação educacional e pode ser utilizada para garantir a qualidade dos itens desenvolvidos.

Teoria de Felder e Silverman

A Teoria dos Estilos de Aprendizagem de Felder e Silverman se baseia na ideia de que as pessoas possuem diferentes maneiras de aprender, e que estas podem ser agrupadas em quatro dimensões: percepção, processamento, entrada e compreensão. Segundo essa teoria, as pessoas que têm características semelhantes em cada dimensão tendem a ter estilos de aprendizagem semelhantes (FELDER; SILVERMAN, 1988).

A dimensão de percepção é dividida em dois tipos: sensação (S) e intuição (N). Pessoas que possuem um estilo de percepção sensório tendem a aprender melhor com informações concretas e práticas, enquanto pessoas com estilo de percepção intuitivo tendem a aprender melhor com informações abstratas e teóricas. A dimensão de processamento é dividida em duas categorias: ativo (A) e reflexivo (R). Pessoas que possuem um estilo de processamento ativo tendem a aprender melhor fazendo coisas, enquanto pessoas com estilo de processamento reflexivo tendem a aprender melhor refletindo sobre as informações. A dimensão de entrada é dividida em duas categorias: visual (V) e verbal (K). Pessoas que possuem um estilo de entrada visual tendem a aprender melhor com imagens e gráficos, enquanto pessoas com estilo de entrada verbal tendem a aprender melhor com palavras escritas e faladas. Finalmente, a dimensão de compreensão é dividida em duas categorias: sequencial (S) e global (G). Pessoas que possuem um estilo de compreensão sequencial tendem a aprender melhor passo a passo, enquanto pessoas com estilo de compreensão global tendem a aprender melhor entendendo o contexto geral (FELDER; SILVERMAN, 1988).

Uma das aplicações dessa teoria é a elaboração do Inventário de Estilos de Aprendizagem de Felder e Silverman (N-ILS), que consiste em um questionário que avalia as quatro dimensões da teoria. Esse instrumento tem sido utilizado em diversas áreas, como engenharia, medicina, administração e psicologia, para identificar o estilo de aprendizagem de estudantes e profissionais (SANTOS et al., 2019).

Em relação à educação, a Teoria dos Estilos de Aprendizagem de Felder e Silverman pode ser aplicada para adaptar o ensino às características individuais dos alunos, tornando a aprendizagem mais eficaz. Por exemplo, um aluno com estilo de aprendizagem sensório pode se beneficiar de aulas práticas, enquanto um aluno com estilo de aprendizagem intuitivo pode se beneficiar de aulas teóricas e abstratas. Além disso, a identificação do estilo de aprendizagem dos alunos pode ajudar os professores a desenvolver avaliações que sejam mais adequadas para cada indivíduo (LIMA; SANTOS; MENEZES, 2019).

Resultados e discussões

O objetivo deste artigo é apresentar um método de avaliação que combine a Teoria de Resposta ao Item (TRI) e a Teoria dos Estilos de Aprendizagem de Felder e Silverman (N-ILS), visando uma avaliação mais precisa e personalizada para os alunos da educação básica e pública dos estados de Alagoas e Minas Gerais, regiões onde atuam os autores deste artigo.

O método desenvolvido é uma mescla entre as teorias apresentadas, de modo a respeitar a realidade das salas de aula dos professores que atuam nesses estados. Ele consiste em duas fases, sendo que a fase 1 consiste na aplicação do questionário N-ILS, a fim de observar os estilos de aprendizagem presentes em cada sala de aula. Essa fase é fundamental, pois a partir dela será possível identificar os estilos de aprendizagem predominantes e, consequentemente, desenvolver itens personalizados de acordo com cada estilo.

Já a fase 2 do método proposto é o desenvolvimento de itens no formato da TRI para cada estilo de aprendizagem averiguado na fase anterior. Para o desenvolvimento desses itens, é importante levar em consideração alguns elementos fundamentais da TRI, tais como o grau de dificuldade, o poder discriminatório e a probabilidade de acerto casual. De acordo com Pasquali (2013), “um item é considerado bom quando mede o construto que se deseja medir, e não outras variáveis que não estejam relacionadas ao construto”. Nesse sentido, os itens desenvolvidos devem estar alinhados com os objetivos de aprendizagem da disciplina e com as habilidades e competências esperadas dos alunos.

É importante ressaltar que, como cada estilo de aprendizagem tem suas particularidades, o desenvolvimento dos itens será personalizado, a fim de adequar o item ao estilo de aprendizagem identificado na fase 1. Por exemplo, para um aluno com estilo de aprendizagem visual, pode-se elaborar um item com figuras ou gráficos para facilitar a compreensão do conteúdo, enquanto para um aluno com estilo de aprendizagem auditivo, pode-se elaborar um item com áudios ou trechos de vídeos para estimular a audição.

Em suma, a combinação das teorias TRI e N-ILS no desenvolvimento de um método de avaliação personalizado pode trazer inúmeros benefícios para os alunos da educação básica e pública dos estados de Alagoas e Minas Gerais. Com um método de avaliação mais preciso e adaptado às características individuais de cada aluno, espera-se um aumento na eficácia do ensino e na aprendizagem dos estudantes.

Como discutido anteriormente, a identificação dos estilos de aprendizagem dos alunos pode ser uma tarefa desafiadora, principalmente em salas de aula com muitos alunos e estilos diferentes. No entanto, é importante ressaltar que a atividade de avaliação não é uma tarefa trivial e que deve ser realizada com cuidado e dedicação (LUCKESI, 2005).

Além disso, é importante destacar que uma sala de aula pode apresentar diversos estilos de aprendizagem diferentes, o que pode tornar a atividade de desenvolver itens personalizados para cada estilo ainda mais complexa. Segundo Valença e Lopes (2013), existem diferentes modelos de estilos de aprendizagem, e cada aluno pode apresentar uma combinação única deles, o que pode dificultar a identificação e adaptação do ensino e da avaliação.

Apesar dos desafios envolvidos, a aplicação do método proposto pode trazer benefícios significativos para a avaliação somativa. Ao desenvolver itens personalizados para cada estilo de aprendizagem, é possível garantir que a avaliação esteja realmente mensurando o construto desejado, além de tornar o processo de avaliação mais justo e adequado às necessidades individuais dos alunos.

Além disso, a identificação dos estilos de aprendizagem dos alunos pode contribuir para uma melhor adaptação do ensino e, consequentemente, para uma aprendizagem mais eficaz. Como ressaltado por Lima, Santos e Menezes (2019), “a adaptação do ensino e da avaliação aos estilos de aprendizagem dos estudantes pode contribuir para melhorar a qualidade do ensino e promover uma educação mais inclusiva”.

Dessa forma, o método proposto, apesar dos desafios envolvidos, pode trazer benefícios significativos para a avaliação somativa e para a aprendizagem dos alunos, garantindo uma educação mais adequada e inclusiva.

Conclusão

A análise das teorias TRI e N-ILS permitiu a elaboração, mesmo que ainda restrito ao mundo das ideias, de um método personalizado de avaliação somativa, que considera os estilos de aprendizagem dos alunos e, consequentemente, promove uma avaliação mais justa e precisa. A utilização do questionário N-ILS para identificar os estilos de aprendizagem presentes na sala de aula possibilita a elaboração de itens de avaliação TRI que respeitam as particularidades de cada aluno.

Embora a aplicação deste método possa ser desafiadora para os docentes, que precisam dedicar tempo e esforço na elaboração de itens específicos para cada estilo de aprendizagem, os benefícios são inúmeros. Uma avaliação somativa personalizada e justa pode contribuir para a melhoria do desempenho dos alunos, além de proporcionar aos docentes uma compreensão mais aprofundada do processo de aprendizagem de cada aluno.

No entanto, é fundamental ressaltar que esse novo método precisa ser continuamente pesquisado e testado para verificar sua eficácia e impacto real. É necessário dar continuidade à investigação sobre a temática da avaliação somativa, aprimorando e aprofundando as bases teóricas e práticas envolvidas.

Como afirmou Luckesi (2011), “a avaliação é uma tarefa muito séria que deve estar a serviço da qualidade do ensino, e não simplesmente como um processo burocrático que visa classificar os alunos”. Ao utilizar um método personalizado de avaliação somativa, os docentes podem cumprir o objetivo da avaliação de forma mais efetiva, contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem de seus alunos.

Ao continuar a pesquisa nessa área, poderemos desenvolver ainda mais o entendimento e as práticas relacionadas à avaliação somativa, contribuindo para aprimorar o sistema educacional como um todo. Assim, a investigação contínua e a experimentação do método proposto são passos cruciais para fortalecer a educação, fornecendo evidências sólidas que embasem sua aplicação em sala de aula e auxiliem os educadores a tomarem decisões mais informadas em relação à avaliação dos alunos.

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