TECNOLOGIA E AUTISMO: A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NA SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA AUTISTA.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7371628


Mara Priscilla De Oliveira Silva Cavalcante
Patrícia Carolino Corrêa


RESUMO

Introdução: a tecnologia tem se tornado cada vez mais presente em diversas áreas do conhecimento, hoje as Tecnologia da informação e da comunicação (TICs), auxiliam desde o processo de aprendizagem até em intervenções cirúrgicas, a questão norteadora desse projeto é “como as TICs podem auxiliar no desenvolvimento das relações sociais de crianças com autismo?” objetivo geral: Compreender de que forma a tecnologia atua como ferramenta que auxilia na socialização da criança autista. Buscar esclarecer como a criança autista tem evoluído de forma positiva em sua vida social através do uso da tecnologia. Procedimentos metodológicos: usados foi uma pesquisa bibliográfica sistemática, de caráter qualitativo, como critérios de inclusão e exclusão foram utilizados somente periódicos e artigos de 2015 em diante, foi utilizado como base de pesquisa o LILACS, PEPSIC, BVS e SCIELO. Resultados: evidenciou-se a viabilidade do uso de TICs em diversos contextos educacionais, sobretudo, em crianças autistas. Além disso, mostrou-se eficaz como ferramenta educacional de educadores. Conclusão: o psicólogo é o profissional que reúne competências para realizar intervenções junto às TICs. Ampliando sua atuação no âmbito das ações de cuidado que crianças autistas necessitam.

Palavras – Chaves: Autismo; Socialização; TICs; Comunicação; 

1. INTRODUÇÃO

A tecnologia está presente em quase todas as áreas do conhecimento, desde a educação até a área médica. Segundo o IBGE (2020) dos 183,3 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade no Brasil, 143,5 milhões (78,3%) utilizam a internet, isso constata que a maioria dos brasileiros se informam e se comunicam através da tecnologia.

De acordo com Schenkel (2010), na sua tese sobre o Uso das tecnologias de Informação e comunicação na socialização do Idoso, afirma que as TICs influenciam as mudanças culturais e sociais, e ela tem intervindo como as pessoas relacionam-se entre si. Isso traz uma questão norteadora para essa pesquisa, como as TICs auxiliam no desenvolvimento da socialização de crianças autistas?

A hipótese é que a tecnologia contribui para o melhoramento da comunicação entre a criança portadora de TEA, e como ela se relaciona com o mundo. Para confirmar essa hipótese foi traçado um objetivo geral que busca Compreender de que forma a tecnologia atua como ferramenta que auxilia na socialização da criança autista. Buscando esclarecer como a criança autista tem evoluído de forma positiva em sua vida social através do uso da tecnologia.

Contudo, é preciso estabelecer que doenças e transtornos mentais são elementos que mudam definitivamente a vida de pessoas que são diagnosticadas juntamente com todos que fazem parte do seu meio social. Perante esse fato, cada pessoa reage de forma diferente a tal situação. Simplesmente ignoram ou negam o problema postergando ajuda, cuidado e intervenção. Uma das características mais fortes no Transtorno do Espectro Autista (TEA) é o atraso e comprometimento nas áreas de interações sociais.   

As habilidades e interações sociais podem ser ensinadas e aprendidas em vários contextos sociais e ambientais, através de instrumentos e momentos importantes na vida da criança e do adolescente com TEA. Assim, a pesquisa surgiu com a finalidade de contribuir na compreensão de que as novas tecnologias são ferramentas que vão atuar como facilitadores no encontro sujeito – mundo da criança e do adolescente autista, possibilitando que elas encontrem outras formas de se comunicar, se reconhecer e se socializar no meio em que estão inseridas. Já que a tecnologia tem sido uma ferramenta importante paras crianças com TEA, tanto no aprendizado como também em sua formação como cidadão social.

Assim, o objetivo geral desta pesquisa é compreender de que forma a tecnologia atua como ferramenta que auxilia na socialização da criança autista. Buscar esclarecer como a criança autista tem evoluído de forma positiva em sua vida social através do uso da tecnologia. Para atender esse objetivo macro foram estipulados os seguintes objetivos específicos: 1° Descrever a interação do autista com o mundo por meio da tecnologia; 2° Identificar as ferramentas tecnológicas que auxiliam na socialização da criança autista com o mundo; 3° Apresentar a importância da tecnologia junto à psicologia como recurso para aprimorar a inserção do autista na sociedade.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Autismo – Conceito e Contexto.

O Transtorno de Espectro Autista (TEA), é uma condição do neurodesenvolvimento, com crescentes número de casos, caracterizado por déficit persistente na comunicação e interação social e padrões restritivos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (MONTENEGRO; XAVIER; LIMA, 2021.) O transtorno pode ser identificado no início do desenvolvimento da criança ainda na primeira infância, quando já é possível observar déficits que prejudicam o funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional do indivíduo. É de extrema importância a família estar em alerta aos sinais de alerta para a realização de um diagnóstico precoce e encaminhamento para reabilitação precoce e intensiva direcionada para o transtorno do comportamento e da comunicação.

De acordo com Caminha, Huguenin, Assis e Alves (2016), o autismo tornou-se um problema de saúde pública no mundo inteiro, e sua importância se reflete em dois eventos recentes: em 2007, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou o 2 de abril como o dia mundial de conscientização do autismo (UNITED NATIONS, 2008), e a entidade americana Autism Speaks convocou vários monumentos do mundo, através da campanha Light It Up Blue iniciada em 2010, a se iluminarem de azul nesse dia a fim de promover a conscientização do transtorno. No Brasil, sancionou-se em 27/12/2012 a lei nº 12.764, ou Lei Berenice Piana, decretada pelo Congresso Nacional, que institui a política nacional de proteção dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista, considerando a pessoa com tal transtorno um indivíduo com deficiência para todos os efeitos legais.

Conforme o DSM-V (2012), sobre os critérios diagnósticos do TEA pode-se citar: Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos; Déficits na reciprocidade sócio emocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais; Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social; Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. 

Ainda de acordo com o DSM-V Especifica-se a gravidade com base em prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos. Descrevendo-os em três níveis de acordo com APA (2014): 

– Nível 3: “Exigindo apoio substancial”, onde o indivíduo apresenta uma comunicação social com déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal com prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a interações sociais e resposta mínima a abertura social que partem de outros. Possuindo em seu comportamento uma Inflexibilidade, extrema dificuldade em lidar com mudanças ou outros comportamentos restritos / repetitivos que interferem acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Com grande sofrimento / dificuldade para mudar de foco ou as ações.

– Nível 2: “Exigindo apoio substancial”, apresentando déficits graves habilidades de comunicação social verbal e não verbal; prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio; limitação em dar início a interações sociais e resposta reduzida ou anormal a abertura social que partem de outros. No que tange aos comportamentos restritivos e repetitivos, ocorre a inflexibilidade, dificuldade de lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos / repetitivos que aparecem com frequência suficiente para serem óbvio ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variante de contextos. Sofrimento e / ou dificuldade de mudar o foco ou as ações.

– Nível 1: “Exigindo apoio”, em que a ausência de apoio, déficits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a abertura sociais dos outros. Pode parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais. Conseguinte, nos comportamentos restritivos e repetitivos, a inflexibilidade causa interferência significativa no funcionamento e em mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade. Problemas para organização e planejamento são obstáculos à independência.

De acordo com Caminha, Huguenin, Assis e Alves (2016), as crianças autistas têm padrões atípicos de expressão facial e contato visual. Podem evitar olhar nos olhos diretamente, carecem da capacidade de variar de expressão para estabelecer um contato social e não têm habilidade para compreender as sutilezas comunicativas, como decifrar intenções faciais e os sentidos implícitos num gesto ou num modo de olhar. O transtorno da interação social pode se manifestar como isolamento social ou comportamento social impróprio, com incapacidade para desenvolver laços afetivos e relações com seus pares (APA, 2014). 

Alguns pais de autistas declaram que seus filhos demonstram uma atipicidade em seu comportamento desde os primeiros meses de vida: não estendendo os braços para ir com eles, não olham no rosto, não se tornam próximo ao colo da mãe, permanecendo-se calados e quietos na maior parte do tempo, transparecem surdos, porque não reagem quando chamados, mas o fazem em resposta a sons especiais, como por exemplo, o esfregar de um papel de bombom, a música de um desenho, ou um evento digital. Há impossibilidade de ser próprio na “atenção conjunta”, explicando como os comportamentos utilizados são compartilhados nas experiências de objetos e eventos com o outro. Crianças normais apresentam interesse, diversão ou temem a um objeto através do olhar intencional para o objeto ou jogo e, em seguida, para a pessoa ao lado, desse modo indicando que a atenção da outra pessoa é importante e desejável (ALESSANDRI, MUNDY, TUCHMAN, 2005). 

A falta de reciprocidade social ou emocional é observada pela predileção por brincadeiras solitárias e manuseio de objetos não adequados para brincar. De acordo com Caminha et., al., (2016), os autistas demonstram indiferença afetiva ou afetos inadequados e ausência de empatia social ou emocional. Eles apresentam dificuldade em ajuizar a intenção do estado emocional dos outros, não entendendo o pensamento a partir do ambiente social e não inferem o que as outras pessoas possivelmente estão pensando.

Os autores ainda relatam que no que tange ao Padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades a criança autista utiliza os brinquedos de forma diferenciada da sua aplicação habitual por outras crianças. Por exemplo, enfileiram bonequinhos, giram rodas de carrinhos durante longos e monótonos períodos. Algumas crianças apresentam habilidades notáveis para montar quebra-cabeças. Quando envolve, a brincadeira é repetitiva, monótona, sem as particularidades do brincar espontâneo da criança normal, isto é, não se examinam diferenças tênue do verdadeiro jogo imaginativo ou simbólico. A brincadeira imitada com outra criança, o “fazer de conta” (brincar de esconder, fingir a preparação de comida), está muito além das habilidades das crianças autistas, já que estas atividades cobram o entendimento de condutas complexas, sociais ou não sociais. Não existe a simulação própria da infância, e elas demonstram atividades lúdicas fora do contexto. Elas têm a capacidade extraordinária para identificar detalhes insignificantes, ligada à incapacidade para separar e formar conceitos. Percebe-se foco pelos aspectos elementares dos objetos, como por exemplo, seu odor, sabor, textura, ou suas partes. (CAMINHA; HUGUENIN; ASSIS; ALVES, 2016) 

Para corroborar os autores Montenegro, Xavier e Lima (2021) relatam que as crianças diagnosticadas com TEA, comem lentamente e com gosto de objetos não comestíveis, brincam de forma obsessiva com a água, percebem o prazer do fazer barulho com objetos de metal, ficam fascinadas por movimentos como girar de forma repetitiva uma moeda ou roda, ou abrir e fechar portas. Alguns autistas sempre carregam consigo uma corda, saco plástico, ou pano, isto é, apresentam apego aos objetos inusitados. Estereotipias comportamentais variam desde simples estereotipias motoras, como balançar as mãos, até posturas estranhas do corpo ou das mãos e insistência em determinadas rotinas e rituais complexos, não funcionais. Há forte resistência à mudança, observada com frequentes “acessos de fúria” se alguém tentar fazê-los mudar de atividade. Às vezes alguns se autoagridem. 

2.2 As Tecnologias da Informação e Comunicação.

Quando bem utilizadas, as ferramentas virtuais podem trazer inúmeros benefícios para o ensino e a aprendizagem. Entretanto, não basta utilizá-las de forma adequada sem considerar a necessidade de um novo fazer, ensinar e aprender quando tratando das novas gerações. É preciso considerar as novas tecnologias como essenciais no âmbito escolar aos aprendizes dessa nova geração, tornando claro qual papel desempenharão diante do compromisso com a educação e com o futuro da nação, atrelados às transformações sociais cotidianas (ASSIS, 2015).

Kensk (2012), faz uma reflexão a respeito do futuro das relações entre a educação e as tecnologias no Brasil, discutindo questões que envolvem a democratização do acesso às tecnologias digitais como objetos de aprendizagem, bibliotecas virtuais e arquivos temáticos em todas as áreas do conhecimento, para o uso nas mais diferentes situações, incluindo o ensino de crianças com deficiências diversas, como o autismo.

São tecnologias inteligentes como define Levy (1993, p.22.) “como estruturas internalizadas no espaço da memória humana, criadas por humanos para avançar o conhecimento e aprender mais”. Exemplos de tais tecnologias são as linguagens faladas, escritas e digitais. “Tecnologias de informação e comunicação” combinadas com tecnologias inteligentes, por meio de seu suporte, possibilitam a aquisição, disseminação e todas as outras formas de conexões de comunicação ao redor do mundo. Esta tecnologia não mudou apenas a forma como vivemos, mas também a forma como adquirimos conhecimento. “Em geral, a invenção da ciência e da tecnologia, e especialmente a invenção da tecnologia da comunicação, estimulou e ao mesmo tempo provocou uma ampla gama de mudanças na sociedade” (CARDOSO, 1999, p. 218).

Em resumo, a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é uma ferramenta essencial para o processamento da informação, em particular a transformação, armazenamento, proteção, processamento, transmissão e recuperação da informação em qualquer lugar e a qualquer momento, utilizando computadores, equipamentos de comunicação e aplicativos de software.

A importância das Tecnologias da Informação e Comunicação não podem ser determinadas devido à natureza dinâmica dos conceitos, métodos e aplicações abrangidos pelas TICs, que estão em constante evolução. De acordo com Gomes et al. (2021) as TICs afetam quase todos os aspectos da vida quotidiana e tornaram-se uma das prioridades mais importantes na educação formal e não formal. Seu escopo não se limita ao campo da educação, pois elas se tornaram um fator cultural, econômico e político fundamental, com profundo impacto na população mundial, mesmo em regiões remotas e menos desenvolvidas que não utilizam diretamente a tecnologia.

Os autores ainda falam que ao olhar para a nova geração e as TICs, é impossível ignorar o fato de que os jovens atualmente vivem em vários mundos ao mesmo tempo. Muitos jovens desenvolvem suas identidades em seus quartos, conversando em seus PCs. No entanto, devido às mudanças da realidade global, a tecnologia em termos de socialização tornou-se essencial para todos e, desde o início da pandemia, adultos e idosos usaram a tecnologia e desenvolveram intimidade com a tecnologia para construir a socialização humana.

Hoje, as pessoas enfrentam uma cultura de mídia global que representa uma força unificadora, uma pedagogia cultural que as ensina a consumir e agir “o que pensar, sentir, acreditar, temer e desejar”. As culturas influenciadas pelas TIC criaram um ambiente no qual os padrões tradicionais de socialização são alterados ou, pelo menos até certo ponto, substituídos por novos. No mundo de hoje, as TIC são uma poderosa força social. A tecnologia não é uma ferramenta neutra com impacto universal, mas um meio cujas consequências são significativamente influenciadas pelo contexto histórico, social e cultural em que é utilizada (BALLESTEROS GUERRA; PICAZO SÁNCHEZ, 2019).

2.3 Tecnologia Assistiva 

Alguns dos termos utilizados são assistência técnica e tecnologia de suporte. De referir ainda que devido às diferentes necessidades das pessoas com deficiência, a gama de produtos, métodos, serviços e soluções técnicas que compõem a Tecnologia Assistida é muito ampla. Portanto, é impossível determinar que a Tecnologia Assistida envolve principalmente o setor industrial. Não é apenas um campo de conhecimento interdisciplinar, mas um setor econômico que requer uma política industrial horizontal (SARTORETTO; BERSCH, 2022).

Nas últimas décadas, os assistentes de ensino revolucionaram o processo de aprendizagem de alunos com necessidades especiais. Graças a essa tecnologia, a acessibilidade e a inclusão educacional tornaram-se mais fáceis de alcançar do que em qualquer outro momento da história da educação especial. Ao mesmo tempo, muitos alunos com deficiência continuam sem acesso a dispositivos de TA, especialmente em países em desenvolvimento, devido à disponibilidade e acessibilidade. Nesses países, aprender com smartphones e tablets pode fornecer uma solução alternativa como ferramenta de educação especial. As aplicações são relevantes para casos de deficiências físicas e mentais, nomeadamente deficiências auditivas, visuais, autistas e de fala (SARTORETTO; BERSCH, 2022).

Tendo em vista que o autista tem desvios na interação social, dificuldade com o uso da linguagem para a comunicação e certas características repetitivas. A tecnologia se torna uma união perfeita para oportunizar a este indivíduo uma aprendizagem dinâmica e interativa. Despertando um ótimo desempenho em suas funções perceptivas, visuais e espaciais.

De acordo com Guzman, Putrino, Martinez e Quiroz (2017), a disponibilidade de elementos como telefonia móvel, dispositivos digitais táteis, interfaces virtuais pessoas e comunitárias, abre um abrangente campo de interações e respostas a um universo quase ilimitado de possibilidades ao autista.

É importante enfatizar que este material tecnológico deve ser custodiável, bem como inserido ao contexto em que esta criança autista se desenvolve, trazendo a mesma a manipulação no momento certo, sendo capaz de ser inserido no ambiente familiar dessa pessoa.

De acordo com os autores um estudo sobre a eficácia das tecnologias assistivas, 33% retiveram melhor as informações se forem apresentadas por meio de computadores ou tablets, do que sendo instruídos por um professor assistente. Bem como, a implementação de tablets digitais melhorou as habilidades de comunicação e linguagem social em 25% em 614 pacientes com TEA, do que as sem a intervenção desta tecnologia relacionadas.

Desta forma o avanço tecnológico permite um mundo de possibilidades ao facilitar a atenção, antecipação, funções executivas em geral, memória de trabalho, sequências de ações, organização de eventos, bem como incluir, manter ou encerrar comportamentos no contexto do autista. Permitindo o desenvolvimento de habilidades de segurança, imitação vocal, participação em grupo, atenção aos detalhes e generalização, ainda conforme os autores anteriormente citados.

De acordo com Guzman et., al., (2017), outras aplicações tecnológicas têm se ampliado, como robótica e ambientes virtuais, ao TEA com finalidade de serem aplicados em circunstâncias ansiogênicas ou de sobrecarga emocional visando as necessidades dessa pessoa. Robôs que imitam movimentos e brinquedos e bichinhos de pelúcia que respondem através de estímulos positivos permitindo a socialização. Sendo um fator de ligação entre as pessoas com TEA e seus familiares em situações sociais. 

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Caracterização do tipo de pesquisa

Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória, qualitativa, do tipo revisão Integrativa da literatura. A revisão integrativa emerge como uma metodologia que proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (SOUZA & CARVALHO, 2010).

3.2 Coleta de Dados 

As bibliotecas virtuais utilizadas são: PEPSIC (Periódicos Eletrônicos em Psicologia) BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), LILACS (Literatura latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SCIELO (ScientificElectronic Library Online) e Google Acadêmico. Utilizar-se-á as seguintes palavras chave: “Autismo”; “Socialização”; “TICs”; “Comunicação”; de acordo com o portal Descritores em Ciência da Saúde (DECS). 

Os artigos serão elencados de acordo com os seguintes critérios de elegibilidade: artigos em português, disponíveis gratuitamente, completos, publicados nos últimos 10 anos (2010 a 2020). E os critérios de ilegibilidade serão: artigos em formato de resumo, monografias, dissertações de mestrado, tese de doutorado. 

3.3 Avaliação dos dados

Os artigos serão selecionados de acordo com os critérios de elegibilidade e inelegibilidade a partir dos títulos, posteriormente foi realizada a análise de resumos e finalmente os artigos foram lidos na integra, sendo elaborado um instrumento para a coleta de informações direto das bases de dados.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Diante dos constantes avanços de novas tecnologias de trabalho e entretenimento, observa-se a importância dessa evolução da Informação e comunicação no processo de aprendizagem da criança autista, evidenciando o quanto essas tecnologias podem facilitar o aprendizado (OLIVEIRA, 2016).

Neste contexto, é importante discutir sobre viabilidade do uso de Tecnologias da Informação e comunicação para a capacitação de cuidadores de crianças com autismo em um contexto de Intervenção Comportamental Intensiva (Gomes, et., al., 2021). Visto que esse é um seguimento que tem se atualizado de forma muito rápida, demonstrando que os profissionais precisam estar atentos às mudanças dessas tecnologias, fazendo com que seu uso no processo de ensino e aprendizagem seja cada vez mais pleno. 

Silva, Artuso e Tortato (2020), define que o Transtorno do Espectro Autista (TEA), ou apenas autismo, é um distúrbio do desenvolvimento humano associado principalmente ao comprometimento nas habilidades de comunicação e socialização do portador. Assim, discute-se sobre a relação entre estudantes com Transtorno de Espectro Autista e dispositivos móveis, no sentido de compreender formas de fomentar meios de desenvolver suas competências sociais e familiares (SANTARO e CONFORTO, 2015).  

Assim, o emprego de tecnologia assistiva (termo usado para identificar todo o arsenal de Recursos e Serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover Vida Independente e Inclusão), desenvolvida para dispositivo móvel, para ajudar autistas em suas atividades diárias se mostra uma alternativa para crianças autistas (MORESI, et., al., 2018).

Analisa-se a rede virtual de acesso a informações sobre atendimento para Autismo no município do Rio de Janeiro em 2017, através da perspectiva da Análise das Redes Sociais (ROSSI, et., al., 2018). Nesta perspectiva, as redes sociais se mostram um ambiente virtual onde é possível interação social e fluxo de informações. 

Silva et., al., (2020), elaborou um ambiente digital denominado como mTEA para aplicação de programas de ensino por tentativas discretas, fundamentados na perspectiva comportamental, avalia o uso do mTEA, em relação à elaboração e à aplicação das atividades por duas profissionais com estudantes com TEA.

 Monteneg, et., al., (2021), apresenta as contribuições do uso de um sistema de Comunicação Aumentativa e Alternativa de alta tecnologia no desenvolvimento das habilidades comunicacionais de uma criança com Transtorno do Espectro do Autismo. Hoje, discute-se de que modo as TIC impactam o desenvolvimento das crianças na contemporaneidade, no que toca à ocupação dos tempos livres, assim como na educação (PEREIRA, 2019). 

Nunes (2021), investiga a influência das Tecnologias da Informação e Comunicação no processo de socialização de crianças e adolescentes surdos e deficientes auditivos, mostrando-se efetiva a diversos níveis de necessidades de crianças com variáveis graus de deficiências.

Os efeitos do Picture Exchange Communication System (PECS) associado ao Point-of-view Video Modeling (POVM) nas habilidades comunicativas de três crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Necessidades Complexas de Comunicação. A Picture Exchange Communication System (PECS) é um tipo de Comunicação Alternativa e Aumentativa, utilizado para apoio e inclusão de pessoas com deficiência e portadores de síndromes. Já o Point-of-view Video Modeling (POVM), consiste em uma filmagem realizada na perspectiva da primeira pessoa. O vídeo é elaborado como se a filmadora estivesse na altura do ombro e como se estivesse vendo pelos olhos da pessoa o comportamento-alvo a ser realizado (SHUKLA-MEHTA, MILLER E CALLAHAN, 2010). 

Assim, do ponto de vista da atuação do profissional Psicólogo, tais ferramentas mostraram-se efetivos no ensino de habilidades de comunicação para crianças com Transtorno do Espectro Autista e Necessidades Complexas de Comunicação. Para tanto, os participantes tiveram um grande número de respostas independentes, caracterizando a aprendizagem do PECS. Quanto às habilidades de comunicação, houve ganhos nas habilidades previstas pelo PECS e em habilidades não previstas (RODRIGUES E ALMEIDA, 2020). 

Dessa forma, o Psicólogo pode contribuir com o início da escolarização dessas crianças, visto que, é um momento de adaptação da criança a um novo ambiente, o qual exigirá habilidades de comunicação, acadêmicas e sociais que são importantes para a inserção na escola. A primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil, busca assegurar “acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinquedos e instruções para as crianças com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação” (RESOLUÇÃO nº 1, 1999).

Devido à eficácia da Videomodelação no ensino de diversas habilidades, os estudos voltados a sua associação ao PECS mostraram que a aprendizagem torna-se mais rápida, pois, ao observar alguém desempenhando o comportamento-alvo nas fases do PECS, o aluno necessita de menos auxílios, atingindo os acertos necessários para as mudanças de fases em menos tempo (RODRIGUES E ALMEIDA, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Diante dos resultados observou-se a viabilidade do uso de TICs crianças autistas e outros perfis de deficiências. Neste contexto, mostrou-se como importante ferramenta para a capacitação dos cuidadores, em um contexto de Intervenção Comportamental Intensiva, pois os cuidadores foram capazes de realizar as atividades, sob orientação de profissionais especializados, estando profissionais e cuidadores em locais diferentes.

O profissional de Psicologia deve estar atento às mudanças ocorridas com o advento dos avanços tecnológicos, afim de introduzi-los nos mais diferentes contextos, atendendo necessidades de suporte educacional. 

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