REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502101761
Patricia Aparecida da SILVA¹
Eva Sandra Monteiro CIPOLA²
RESUMO
Culturalmente a inteligência é associada à erudição, brilhantismo, desempenho acadêmico impecável e genialidade. Pessoas inteligentes são vistas como mais bem sucedidas, influenciadoras e felizes.
As crianças superdotadas possuem uma inteligência superior, grande criatividade e imaginação, e uma curiosidade insaciável que a leva a desenvolver um aprendizado autônomo. São crianças especiais, com necessidade e exigências diferentes as das outras crianças com a sua mesma idade.
Não é fácil ser uma criança superdotada, antes do diagnóstico, pais e professores podem tratá- la de forma equivocada, confundindo sua rapidez com hiperatividade.
Depois de comprovada a alta habilidade, é preciso um processo longo de acompanhamento para que ela possa desenvolver suas capacidades sem comprometer a convivência e o desenvolvimento normal em todas as fases da vida, da infância até a vida adulta. Do contrário ela pode ser incompreendida, acabar se isolando e até fracassar profissionalmente no futuro.
PALAVRAS-CHAVE: Inteligência. Superdotadas. Crianças.
ABSTRACT
Culturally intelligence is associated with erudition, brilliance, flawless academic performance and genius. Smart people are seen as more successful, influential and happy.
Gifted children possess superior intelligence, great creativity and imagination, and an insatiable curiosity that leads them to develop an autonomous learning. They are special children, with different needs and requirements from other children of their own age.
It is not easy to be a gifted child, before diagnosis, parents and teachers can treat it in the wrong way, confusing its speed with hyperactivity.
Once high ability is proven, a long follow-up process is required so that it can develop its capabilities without compromising normal coexistence and development at all stages of life, from childhood to adulthood. Otherwise it can be misunderstood, end up isolating itself and even failing professionally in the future.
KEYWORDS: Intelligence. Gifted. Children.
INTRODUÇÃO
A psicologia das diferenças individuais busca compreender o que nos torna singulares e distintos uns dos outros, a personalidade e a inteligência são duas linhas de investigação. Na área da inteligência, muito se debate sobre o quanto essa capacidade seria inata ou adquirida de acordo com as experiências.
Sabe-se hoje que tanto o fator genético quanto o ambiental exercem influências, porém a pessoa superdotada é naturalmente mais inteligente do que a maioria da população. Ela não precisa de ambientes hiperestimulantes para que de fato seja superdotada.
De acordo com psicólogo inglês Charles Spearman, inteligência é uma habilidade compreendida das seguintes maneiras.
- Em função de um único fator geral, que permeia o desempenho em todos os testes de capacidade mental (conhecido como fator G).
- Em função de um conjunto de fatores específicos que estão em ação nas operações mentais.
Já David Wechsler, psicólogo norte-americano, define como “uma capacidade global do indivíduo para agir intencionalmente, pensar racionalmente e relacionar-se de maneira eficaz com seu ambiente”.
Ótimo, mas como podemos então confirmar se a criança é superdotada?
A avaliação psicológica por meio de testes de quoeficiente intelectual possibilita a identificação do resultado de uma pessoa em relação a amostras da população (grupos da mesma faixa etária e/ou nível de escolaridade).
Quanto maior é o desempenho do avaliado em comparação com a média de seu grupo, mais inteligente ela é considerada.
Neste critério os psicólogos utilizam a abordagem psicométrica para quantificar os resultados e garantir objetividade na análise de características psicológicas.
Na definição brasileira presente na Política Nacional de Educação Especial de 1994, os superdotados são aqueles com desempenho muito acima da média em quesitos como rapidez
de pensamento, memória excelente, pensamento abstrato, atenção, concentração, rapidez de aprendizagem, originalidade de pensamento, imaginação, resolução de problemas de forma diferente e inovadora, liderança com atitude cooperativa, poder de persuasão e de forte influência no grupo. Apresentam também talentos especiais para Artes e uma ampla capacidade psicomotora (agilidade, força, controle e coordenação).
Alguns comportamentos das crianças com altas habilidades têm a mesma trajetória das crianças com dificuldades de aprendizagem. Por isso, é importante procurar um profissional especializado para evitar que a criança carregue um título, por vezes por anos, que lhe é inadequado”, explica Mari Angela Calderari Oliveira, professora e mestra da Clínica de Psicologia da PUCPR.
O elemento comum nas crianças com altas habilidades é a precocidade, a capacidade de alcançar resultados acima dos previstos para a sua idade. Isso pode ser percebido mais claramente no campo linguístico, mas também em outras áreas. “A experiência mostra que tudo o que se espera no desenvolvimento infantil ocorre nessas crianças 30% antes”, diz Maria Lúcia Prado Sabatella, do Instituto para Otimização da Aprendizagem (Inodap).
A rapidez na aprendizagem faz com que essas crianças fiquem desmotivadas com facilidade, sem compreender por que os outros colegas demoram tanto para chegar às mesmas conclusões. “Copiar e reproduzir, por exemplo, são tarefas entediantes para um superdotado porque, como tem boa memória, escrever para ele é perda de tempo. Estudar em casa os mesmo assuntos também, porque já entendeu tudo na escola”, exemplifica Denise Maria Matos Pereira Lima, técnica pedagógica responsável pela área de altas habilidades da Secretaria de Estado de Educação do Paraná.
CARACTERÍSTICAS DE CRIANÇAS SUPERDOTADAS
O psicólogo Joseph Renzulli dedicou-se a avaliar dimensões de comportamento que conjuntamente estão presentes na criança superdotada. Em sua teoria dos três anéis, a superdotação é composta por: habilidade acima da média + motivação (alto nível de produtividade) + criatividade (originalidade de conexões e ideias). Além de resultados elevados em testes de inteligência, a criança superdotada geralmente.
- Dorme pouco.
- Aprende a ler em um curto espaço de tempo.
- Fala sua primeira palavra com seis meses.
- Diz sua primeira frase com 12 meses.
- Mantém uma conversação entre 18 e 24 meses. Vocabulário impróprio para sua idade.
- Aprende o abecedário e conta até 10 aos dois anos e meio.
- Resolve mentalmente problemas de soma e subtração até 10 com três anos.
- Pergunta por palavras que não conhece desde os três anos.
- Faz perguntas exploratórias com pouca idade.
- Alta capacidade criativa
- Possui uma alta sensibilidade do mundo que o rodeia.
- Preocupação por assuntos de moralidade e justiça.
- Enérgico e confiante em suas possibilidades.
- Muito observador e aberto a situações não usuais.
- Muito crítico consigo mesmo e com os demais.
- Grande capacidade de atenção e concentração.
- Gosta de relacionar-se com as crianças de maior idade.
- Baixa auto-estima, tendência à depressão.
- Se aborrece na sala de aula porque suas capacidades superam os programas de estudos convencionais.
- São, aparentemente, muito distraídos.
- Seu pensamento é produtivo mais que reprodutivo.
- Tem muito pouca motivação para com o professor.
- Chegam a sentir-se incompreendidos, estranhos.
- São independentes e introvertidos.
DIFICULDADES ENCONTRADAS PELOS SUPERDOTADOS
A incompreensão permeia muitos dos obstáculos encontrados pelos superdotados:
- Como aprendem mais rapidamente, ficam desmotivados caso a escola não lhes dê desafios adequados (por exemplo, se o professor manda ele cruzar os braços e esperar os outros alunos terminarem uma determinada tarefa). Isso os leva a ter um nível de tolerância baixo, tanto em relação ao professor quanto aos colegas, o que pode terminar no isolamento e no desânimo.
- Na família, muitas vezes os superdotados são incompreendidos pela sua postura crítica, de “sabe tudo”, de achar que tudo é “óbvio”. O problema é que essas crianças ainda não têm recursos emocionais para lidar consigo mesmas e com o ambiente.
- Em geral, como não encontram ressonância de ideias e sentimentos nas crianças da sua idade, passam a ter amigos mais velhos.
- Como o desenvolvimento emocional é diferenciado, ele percebe tudo mais rápido, transmite isso de forma atabalhoada e, às vezes, é confundido com uma criança com um grau de maturidade menor do que o esperado para a sua idade. Não considerados esses sentimentos, ele pode fechar-se e manifestar suas emoções de outra forma, inclusive com repercussões físicas.
NA ESCOLA
Em sala de aula um aluno com altas habilidades, não identificado pelo professor, traz problemas para o andamento das disciplinas, com consequências para os outros estudantes.
Pelo comportamento o professor pode entender como má vontade ou falta de educação a irritabilidade extrema diante de exercícios simples. Ao mesmo tempo outros alunos podem queixar-se do colega agitado, deixando-o de lado nas brincadeiras e na convivência.
A recomendação é que, nesses casos as escolas procurem a ajuda de um profissional para saber lidar com a situação e orientem os pais. “As escolas deveriam ter a capacidade de levantar hipóteses, serem investigativas, perceberem as características das crianças e, assim que detectadas as altas habilidades, procurar ajuda técnica para não errar”, diz Mari Angela Calderari, da PUCPR.
CONCLUSÃO
As crianças superdotadas enxergam o mundo com olhos diferentes o mais importante para entender e interagir com essas crianças é não esquecer a idade que elas apresentam, só assim o tratamento consegue ser correto.
O desconhecimento da superdotação gera indivíduos insatisfeitos, inseguros, desestimulados com a escola, ou que desistem dessa parte acadêmica, além de outros problemas, pois crianças superdotadas que não possuem as informações necessárias para entender o seu lado diferente se transformam em crianças frustradas por não encontrarem desafios compatíveis com sua inteligência e podem ser vistas como desatentas, dispersivas, desmotivadas e principalmente nos dias de hoje, como portadores de transtornos.
Identificar isso no seu filho não é algo para se gabar ou contar para toda a vizinhança e parentes não, e sim para ajudá-lo.
REFERÊNCIAS
Gazeta do Povo. As crianças superdotadas e os riscos de fracassar no futuro. Disponível em:< https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/as-criancas-superdotadas-e-os-riscos-de- fracassar-no-futuro-3v1inqnww2y5hxcmh5xpbmk7h>. Acesso em: 15 jul. 2018.
Virtude. Criança superdotada: Como reconhecer inteligência e a altas habilidades. Disponível em:<https://www.vittude.com/blog/crianca-superdotada/>. Acesso em: 17 jul. 2018.
G1. Crianças superdotadas desafiam escolas na busca por mais estímulos. Disponível em:<http://g1.globo.com/dia-das-criancas/2013/noticia/2013/10/criancas-superdotadas- desafiam-escolas-na-busca-por-mais-estimulos.html>. Acesso em: 17 jul. 2018.
Guia Infantil. Perfil de uma criança superdotada. Disponível em:<https://br.guiainfantil.com/aprendizagem/69-como-posso-saber-se-meu-filho-e-uma- crianca-superdotada.html>. Acesso em: 18 jul. 2018.
FUNDAÇÃO MARIA CECILIA SOUTO DIGITAL. Qual criança é superdotada. Disponível em:<http://desenvolvimento-infantil.blog.br/qual-crianca-e-superdotada/>. Acesso em: 18 jul. 2018.
² Coordenadora e orientadora dos cursos de Pós Graduação e MBA do UNAR . e-mail: eva.cipola@unar.edu.br.