REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202510311455
Raimundo Nonato Duarte Corrêa1
Fagner Gomes do Nascimento2
RESUMO: Essa pesquisa buscou-se o estudo da resolução de problemas de leitura e escrita no processo de ensino aprendizagem, aos alunos do ensino fundamental maior em escolas quilombolas. O presente artigo, tem o propósito de saber como os professores de língua portuguesa, das escolas quilombolas do ensino fundamental dos anos finais, conseguem resolver os problemas de leitura e escrita por meio de sequências didáticas interativa colaborativa que valorizem a língua, identidade e memória dos quilombos, como instrumento eficaz para a motivação na aprendizagem dos alunos. Para isso, realizou-se uma pesquisa de tipo bibliográfica, de cunho qualitativo e descritiva que valorizasse a axiologia dos quilombolas. Assim, esta pesquisa mostrou que uma educação voltada para os saberes de sua cultura local que respeite seus valores, fortalece o interesse dos alunos em participar nas atividades de leitura e escritas e que é possível aos profissionais de língua portuguesa.
Palavras-chave: Educação Quilombola. Literatura Oral. Sequência Didática Interativa. Leitura Colaborativa.
1 INTRODUÇÃO
A educação brasileira é um processo que vem sendo debatido por várias décadas, principalmente no que se diz a respeito à educação quilombola. Muitas escolas quilombolas ainda não estabelecem o papel da escola como espaço educativo da cultura, identidade e memória dos quilombolas. Portanto, esse artigo trata das dificuldades enfrentadas tanto pelos professores de Língua Portuguesa como pelos alunos, no que diz respeito a leitura e escrita trabalhada em sala de aula.
Boa parte dos alunos em escolas quilombolas não conseguem ler e escrever adequadamente por falta de motivações para a aprendizagem em sala de aula, muito em função de utilização de metodologias que acentuam um conteúdo apartado da realidade vivida por eles. Por tanto essa pesquisa teve como objetivo a utilização de sequências didáticas interativas de leitura e escrita que valorizem a língua, a identidade e a memória dos quilombos, como instrumento eficaz para a motivação na aprendizagem dos alunos do ensino fundamental II. Para concretizar esse objetivo, tivemos que refletir sobre a importância da valorização da identidade, memória e língua dos quilombolas e investigamos as manifestações linguístico-culturais próprias de quilombo.
Para isso, buscou-se uma pesquisa do tipo bibliográfica, de cunho qualitativo e descritivo, buscando autores pertinentes ao uso de resoluções de problema de leitura e escrita, com metodologia voltada para a realidade dos alunos, bem como, o arcabouço jurídico que regra a educação básica. A metodologia utilizada foi a sequência didática interativa de leitura e escrita colaborativa que aproximasse mais a leitura e escrita de sala de aula com a leitura e escrita do cotidiano dos alunos. Essa inovação metodológica foi pertinente na medida que esta prática despertou nos alunos o interesse necessário ao processo de ensino aprendizagem de leitura e escrita que valorizasse sua axiologia enquanto morador de quilombo.
A importância dessa pesquisa está justamente em estudar e valorizar a cultura, identidade e memória dos quilombolas, por meio da Sequência Didática Interativa de leitura e escrita colaborativa, e principalmente, motivar os alunos no processo de ensino e aprendizagem de leitura e escrita. Assim, aproximou-se cada vez mais, a sala de aula da realidade vivida pelos alunos, em especial, com relação a disciplina de Língua Portuguesa voltada para a leitura e escrita, com o foco na literatura oral local utilizada em sua comunidade dando uma nova ressignificação para o Quilombo na contemporaneidade.
2. FUNDAMENTAÇÃO BÁSICA
A educação é o processo contínuo das vivências histórico-social que são transferidos de uma geração a outra geração. Esse processo deve ser observado e respaldado conforme os argumentos construídos nas leis, diretrizes, normas e documentos que rege sobre a educação básica do nosso país, em especial, a educação quilombola no ensino fundamenta maior. Conforme a Nova LDB, Lei nº 9.394, em seu Art. 1º “A educação é um processo formativo que se desenvolve na vida familiar, nos movimentos sociais e nas manifestações culturais” (BRASIL, 1996). Por isso, essa lei é fundamentada para afirmar que o alicerce básico no processo formativo da educação brasileira é desenvolvido, principalmente, na família e nas manifestações sociocultural.
Para se ter uma educação básica de qualidade, principalmente no ensino fundamental, os PCNs indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de: “conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, […]” (BRASIL, 1998, p. 7). Com esse objetivo, espera-se que os alunos de escolas quilombolas conheçam mais sobre outras culturas e valorize, muito mais, as tradições do passado, posicionando-se de forma efetiva sobre a valorização de sua identidade, memória e cultura enquanto morador de Quilombo.
Uma educação básica de qualidade não é construída momentaneamente. Para isso, a escola quilombola deve pensar em elaborar um projeto de autonomia identitária da escola. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombolas, no que diz respeito ao Projeto Político Pedagógico é definido que: “[…] o PPP deverá expressar as especificidades históricas, sociais, culturais, econômicas e étnico-raciais da comunidade quilombola na qual a escola se insere ou é atendida por ela” (BRASIL, 2012, p. 47). Com essas especificidades, faz com que a escola tenha respaldo concreto das ações estabelecidas pela comunidade escolar durante o ano letivo. Por outro lado, quando houver problemas de discriminações sociais na comunidade, o PPP determina que: “[…] deverá ainda tematizar, de forma profunda e conceitualmente competente, as questões do racismo, os conflitos em relação à terra, a importância do território, a cultura, o trabalho, a memória e a oralidade” (BRASIL, 2012, p. 47). Essas tematizações servirão de base para propor soluções educativas que estabeleçam um respeito e valorização da cultura afro-brasileira.
As temáticas voltadas para a cultura afro-brasileira servem de base para uma educação quilombola eficaz, pois, compreende-se que valorizar sua a cultura raiz “afro-brasileira” faz com que esse tripé (escola, comunidade e sociedade) criem forças para alcançar respeito às diversidades raciais educativa. Essas temáticas educativas estão voltadas para os costumes, tradições locais, crenças e religiosidades, pois atrelado a essas temáticas estão também os conteúdos desenvolvidos na escola.
3. EDUCAÇÃO QUILOMBOLA
A educação quilombola é um programa criado pelo Governo Federal com o objetivo de preservar as raízes histórico-cultural dos quilombos brasileiros. Por tanto, essa educação quilombola veio para mudar essa realidade, valorizando a axiologia dos negros por meio de métodos e materiais adequados que aprecie o patrimônio histórico-cultural e linguístico dos quilombolas. Com esse entendimento, Rocha, corrobora dizendo: “[…]os próprios livros didáticos discriminam os negros, sem contar a falta de material de apoio para auxiliar aquele professor que tem a intenção de mudar essa realidade, […]” (2018, p.25). Essa valorização histórico-cultural e linguístico precisa ser evidenciada em sala de aula, para que os problemas de transmissão e assimilação dos conteúdos tenha efetividade no processo de ensino-aprendizagem de leitura e escrita, principalmente, nas escolas quilombolas rurais que são mais carentes de materiais didáticos e paradidáticos.
As escolas quilombolas precisam inovar no desenvolvimento de capacidades básicas de aprender a ler e a escrever com a utilização de suportes literários da vivência sociocultural local dos alunos. Por isso, A Nova LDB, Lei nº 9.394, determina que: “o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; […]” (BRASIL, 1996, Art. 32, inciso I). Com esse entendimento, é importante salientar que, o processo de ensino-aprendizagem de leitura e escrita é base fundamental para o desenvolvimento da capacidade de aprender os conteúdos trabalhados em sala de aula.
A educação escolar quilombola é uma modalidade de ensino de educação inclusiva que valorizar os quilombos por meio da apreciação das manifestações populares, crenças, valores, dança, músicas, brincadeiras, mitos, lendas, rezas, ladainhas e principalmente, do respeito à cultura, identidade e memória local. Assim, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica, no que diz respeito da definição de educação escolar quilombola em sua Resolução nº 8. Define que: “A Educação Escolar Quilombola compreende: I – Escolas quilombolas; II – escolas que atendem estudantes oriundos de territórios quilombolas. Parágrafo Único Entende-se por escola quilombola aquela localizada em território quilombola” (BRASIL, 2012, Art. 9º). Com essa definição, compreende-se que essa modalidade de ensino deve respeitar tanto os alunos das escolas quilombolas quanto os alunos oriundos de território quilombolas, e, as especificidade ético-cultura local com formação especializada do quadro docente e materiais apropriados que respeite sua terra, cultura para fortalece o interesse dos alunos em participar nas atividades desenvolvidas em sala de aula. Isso faz com que esses alunos estabeleçam uma relação social comunicativa com a comunidade local e com a sociedade de forma geral.
Portanto, deve-se trabalhar com materiais didáticos apropriados (livros da literatura negra, história da cultura afro-brasileira, tradições, mitos, lendas, religiosidade e costumes locais etc.) para esse público que necessita de uma educação inclusiva de qualidade. Desse modo, segundo o Parecer CNE/CEB nº 16 referente a Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola, no que diz respeito Materiais didáticos e de apoio pedagógico:
As comunidades quilombolas e suas lideranças têm reivindicado, historicamente, o direito à participação na produção do material didático e de apoio pedagógico específico, produzido pelo MEC e pelo sistema de ensino e voltado para a realidade quilombola (BRASIL, 2012, p. 38).
Essa reivindicação à participação na produção de materiais didáticos ainda é um sonho a ser alcançado para todas as escolas quilombolas. Por isso, faz-se necessário que os professores de Língua Portuguesa das escolas quilombolas inovem na utilização de metodologias utilizando SDI de leitura e escrita que valorizem as literaturas orais, as manifestações populares, as brincadeiras e as crenças que marcam a identitária do quilombo a ser pesquisado, como um instrumento eficaz para a motivação na aprendizagem dos alunos.
Desse modo, o docente de Língua Portuguesa firmará parceria com a comunidade escolar (gestores, professores, pais, alunos, participantes de manifestações cultural, social, religiosas, associação de moradores ou que estejam, de alguma forma, envolvidos com a comunidade quilombola) para resgatar as axiologias específicas do quilombo, tais como: (linguagens, manifestações populares, culinária, crenças, brincadeira, mitos, lendas, símbolos, ladainhas, rezas, cantigas, religiosidade, etc.) e inserir em sua metodologia de leitura e escrita com o intuito de promover uma leitura e escrita de ressignificação para a educação quilombola. Portanto, de acordo com o Parecer CNE/CP nº 3 sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Éticos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, na Educação das relações ético-raciais é estabelecido que:
A escola tem papel preponderante para eliminação das discriminações e para emancipação dos grupos discriminados, ao proporcionar acesso aos conhecimentos científico a registros culturais diferenciados, à conquista de racionalidade que rege as relações sociais e raciais, a conhecimentos avançados, indispensáveis para consolidação e concerto das nações como espaços democráticos e igualitários (BRASIL, 2004, p. 6).
Sendo assim, para suprimir as discriminações raciais, foi preciso estabelecer um diálogo compartilhado sobre as relações sociais e raciais utilizados na construção de um conhecimento democrático e igualitário, por meio da literatura histórica oral dos quilombos, utilizando uma metodologia (sequência didática interativa de leitura e escrita colaborativa) que valorizem a sua cultura, identidade e memória específica. Isso, propiciou aos alunos mais interesse em aprender a ler e a escrever com efetividade, e, aproxima o ensino escolarizado de Língua Portuguesa com a literatura oral vivenciada nos quilombos do Brasil.
A Literatura é uma arte produzida com palavras escritas ou faladas. Alcoforado em seu artigo “Literatura oral e Popular”, corrobora dizendo que: “[…] o entendimento do fenômeno literário, como uma criação estética da linguagem, não significa que essa criação só se possa concretizar-se através da modalidade escrita, […]” (2008, p. 1). Ou seja, a literatura oral também faz parte da arte da palavra. Ela é complexa e envolve variáveis múltiplas que podem ser reunidas em perspectivas culturais e social. Com esse aparato, busca-se colher as literaturas orais usadas no quilombo a ser trabalhado para ser compreendida e analisada, e mais adiante, ser contextualizada em diferentes conteúdos selecionados pelo professor atuante.
O fenômeno da literatura oral é tão importante quanto o da escrita, pois a literatura ora expressa um sentimento individualizado. Por isso, Alcoforado afirma que não devemos excluir a literatura oral, “[…] as tradições orais medievais de comunidades europeias, cuja produção literária era a expressão de indivíduos iletrados que numericamente predominavam naquela época” (2008, p. 1). Com esse entendimento, deve-se valorizar a literatura oral por meio da sequência didática interativa e tentar estabelecer um diálogo contextualizado de novas significações dessa literatura para o quilombo a ser trabalhado.
Por tanto, é importante salientar que os textos literários devem estar atrelados ao aprendizado de leitura e escrita colaborativa incorporado no cotidiano dos discentes. Com esse intuito, o PCN de Língua Portuguesa confirma que:
[…] o texto literário não está limitado a critérios de observação fatual (ao que ocorre e ao que se testemunha), […]. Ele os ultrapassa e transgride para constituir outra mediação de sentidos entre o sujeito e o mundo, entre a
imagem e o objeto, mediação que autoriza a ficção e a reinterpretação do mundo atual e dos mundos possíveis. (BRASIL, 1998, p.26).
Esse conhecimento literário é passado de geração a geração por meio de textos literários utilizados na comunidade quilombola local, tais com: ladainhas, lendas, mitos, cantigas, rezas etc. Com esses textos, o profissional de Língua Portuguesa elabora uma sequência didática interativa para trabalhar a literatura oral e escrita de forma mais significativa para os alunos de escolas quilombolas.
A sequência didática interativa (SDI) é o processo interativo entre professor e aluno no ensino-aprendizagem que visa à construção e sistematização de um novo conhecimento. Esse processo interativo é relevante e deve ser utilizar em metodologia de resolução de problemas de leitura e escrita colaborativa que valorizem a cultura, identidade e memória do quilombo a ser trabalhado, como forma de ensinar a Língua Portuguesa na educação básica, em especial o ensino fundamental maior. Por isso, Oliveira, afirma que a sequência didática “[…] é um procedimento para sistematização do processo ensino-aprendizagem, sendo de fundamental importância a efetiva participação dos alunos” (2019, p.54). Assim, a aplicação de tais sequência didática interativa de leitura e escrita colaborativa em sala de aula, busca-se a motivação dos alunos, ao acionar elementos de sua cultura, identidade e memória vivenciada por eles, para proporcionar sua efetiva interação nos conteúdos trabalhados em sala de aula.
Por tanto, a leitura e a escrita estão atreladas ao conhecimento acumulado pela sua vivência sociocultural que estabelece conceitos isolados. Segundo Oliveira, “[…] quando o sujeito emite uma resposta existe uma relação com suas experiências, com o contexto em que vive, visto que o conceito não existe isolado em uma determinada situação, ele implica a vivência de várias situações” (2019, p. 88). Sendo assim, cabe ao professor de Língua Portuguesa junto com os alunos quilombolas estabelecerem uma leitura colaborativa para debaterem assuntos de forma contextualizada atrelados às formulações de cada conceito para determinada situação social.
O processo de leitura são etapas a serem vencidas para a compreensão e interpretação global de um texto, a partir do seu conhecimento adquirido em cada etapa. Por outro lado, a leitura colaborativa em escolas quilombolas fortalecer, ainda mais, a compreensão e interpretação dos textos lidos em sala de aula. Essas leituras são feitas em coletividade de alunos e professor que debatem sobre os temas exposto no texto de forma contextualizada. Portanto, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – (PCNs) de Língua Portuguesa, “A leitura colaborativa é uma atividade em que o professor lê um texto com a classe e, durante a leitura, questiona os alunos sobre os índices linguísticos que dão sustentação aos sentidos atribuídos” (BRASIL, 1998, p. 72). Essa leitura colaborativa desperta nos alunos o interesse em socializar seus conhecimentos construídos na família e na comunidade. Isso faz com que o alunado perceba a importância da valorização da língua, identidade e memória de um povo.
Essa leitura colaborativa serve para fortalecer tanto a escrita quanto a leitura oral e, também, valoriza esse tripé (cultura, identidade e memória), despertando o entusiasmo dos alunos em compartilhar seus entendimentos sobre o assunto explorado no texto de forma significativa para a sua comunidade quilombola.
Cabe ressaltar que, a maioria das escolas indígenas e quilombolas sofrem no processo de ensino-aprendizagem de leitura e escrita a falta da valorização da sua cultura, identidade e memória. Pois, boa parte dos alunos moram e convivem com pessoas que preservam a cultura local nas manifestações quilombolas, fonte histórica viva, e isso, faz com que seu patrimônio histórico-cultural estejam presente em sua vivência. Portanto, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC de Língua Portuguesa determina que:
Ainda em relação à diversidade cultural, cabe dizer que se estima que mais de 250 línguas são faladas no país – indígenas, de imigração, de sinais, crioulas e afro-brasileiras, além do português e de suas variedades. Esse patrimônio cultural e linguístico é desconhecido por grande parte da população brasileira (BRASIL, 2017, p. 70).
Percebe-se assim que, esse desconhecimento de grande parte da população brasileira de não conhecer o patrimônio cultural linguístico dos quilombolas é devido ao uso de um padrão linguístico que exclui referências como a cultura afro-brasileira e indígena, isso é percebido na maioria dos livros didático e paradidático trabalhado nas escolas públicas do Brasil. Por isso, a escola deve colocar em prática as literaturas orais locais e estudar as linguagens utilizadas nesses textos de forma contextualizada para colocar em práticas no ensino aprendizagem de leitura e escrita aos alunos de escolas quilombolas.
Por tanto, a resolução de problemas de leitura e escrita no ensino de língua portuguesa é devido ao mal uso de metodologia que não acentuam a realidade aos alunos das escolas quilombolas. Essa metodologia deve, primeiramente, conhecer e estudar a cultura da comunidade escolar e depois fazer o uso dessa cultura em suas metodologias no processo de ensino-aprendizagem, valorizando a cultura, identidade e memória desses alunos.
4. METODOLOGIA
Essa pesquisa utilizou-se de metodologia de pesquisa do tipo bibliográfica de cunho qualitativo e descritiva. Nesse entendimento, Gil confirma que “[…] a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de materiais já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (2008, p. 50). Dessa forma, as pesquisas bibliográficas crescem e se desenvolvem por meio de materiais já pesquisados e publicado no universo científico e/ou acadêmico.
Para a sustentação epistemológica baseou-se nos estudos da Educação Quilombola (Rocha, 2018), Literatura Oral (Alcoforado, 2008), Sequência Didática Interativa (Oliveira, 2019), Leitura Colaborativa (Bräkling, 2004), PCN de Língua Portuguesa (BRASIL, 1998), BNCC (Brasil, 2017) e também, a partir de materiais já publicados, constituído de livros, leis, diretrizes, teses, dissertações, ensaios e artigos para a obtenção de informações sobre diversos aspectos relacionados às comunidades quilombolas no seu aspecto literário, cultural e formação social.
A bibliografia foi fichada e resenhada para uma rápida e precisa buscar. Para Marconi e Lakatos “[…] as fichas permitem: identificar a obra; conhecer seu conteúdo; fazer citações; analisar o material e elaborar críticas” (2008, p. 50). Dessa forma, o fichamento e a resenha, permitem maior precisão e agilidade para o pesquisador, assim temos que, o fichamento é de grande valia para o pesquisador.
O método que possibilitou chegar ao objetivo geral da pesquisa foi o fenomenológico. Esse método, Gil afirma que: “a pesquisa fenomenológica parte do cotidiano, da compreensão do modo de viver das pessoas, e não de definição e conceitos, […]”. (2008, p. 15). Por isso, percebemos que o método não vive só de conceitos e definições, foi preciso afinar o arcabouço teórico de cunho literário e didático que se baseou nos estudos de ensino aprendizagem de leitura e escrita voltada para o cotidiano dos alunos em escolas quilombolas do Brasil.
5. PROPOSIÇÕES DE AÇÕES PARA SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS LEVANTADOS COM A PESQUISA
Por meio do arcabouço teórico, foi possível listar alguns problemas em relação ao processo de ensino-aprendizagem de leitura e escrita para a educação quilombola. Um dos problemas foi percebido o uso inadequado de metodologia apartado da realidade dos alunos. As metodologias tradicionais fazem com que os alunos não evoluem e não se sentem motivados para o aprendizado no processo de leitura e escrita.
As metodologias utilizadas em sala de aula devem ser pensadas, estudadas e analisadas para só depois serem colocadas em prática. Nessa perspectiva, a Resolução nº 8 – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola, no que diz respeito aos currículos da educação básica na educação escolar quilombola em seu Art. 38 estabelece que: “[…] V – a adequação das metodologias didático-pedagógicas às características dos educandos, em atenção aos modos próprios de socialização dos conhecimentos produzidos e construídos pelas comunidades quilombolas ao longo da história; […]” (BRASIL, 2012, p. 14). Com essa definição, o profissional de língua portuguesa escolhe a metodologia SDI de leitura e escrita colaborativa que seja compatível com a realidade trabalhada em sala de aula para chegar ao seu objetivo principal. Com o uso dessa metodologia é possível abordar temas que mais prejudicam a formação do leitor no processo de ensino. Para Carreira; Souza, “As metodologias visam a construção de um ambiente escolar favorável, à promoção da corresponsabilidade e a definição de um conjunto de ações planejadas coletivamente que possam contribuir de forma mais sistemática […]” (2013, p. 21).
As escolas quilombolas possuem vários problemas que devem ser investigados para tentar solucioná-los. Um desses problemas é a falta do respeito da história, identidade e cultura local. Por esse motivo, o PPP das escolas quilombolas em seu Art. 32 da Resolução nº 8 – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola define que: “[…] a Educação Escolar Quilombola deverá estar intrinsecamente relacionada com a realidade histórica, regional, política, sociocultural e econômica das comunidades quilombolas” (BRASIL, 2012, p. 12). Com essa definição, os problemas de respeito social serão minimizados nos debates das SDI de leitura e escrita colaborativa que abordará o respeito da história e da cultura da comunidade quilombola local fazendo uma ressignificação para a contemporaneidade.
Outro problema a ser enfrentado é o preconceito racial, pois, o professor de língua portuguesa deve combater esse preconceito com estratégias pedagógicas que abordem a leitura e a escrita para o racismo. Para o Parecer CNE/CP nº 3 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Ético-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no que diz respeito a educação das relações ético-raciais, comenta que: “[…] a construção de estratégias educacionais que visem ao combate ao racismo é uma tarefa de todos os educadores, independentemente de seu pertencimento étnico-racial” (BRASIL, 2004, p. 7). Sendo assim, essa estratégia educacional servirá para combater o racismo educacional para que os quilombolas se reconheçam e sejam reconhecidos. Carreira; Souza, ressalva “o racismo prejudica o desenvolvimento da autoconfiança e autoestima
de milhões de pessoas negras, indígenas e de outros grupos sociais discriminados” (2013, p. 13). Essa descriminação prejudica o ensino aprendizado desses alunos. por isso, a SDI reconhece e constrói debates por meio de leituras colaborativas contextualizadas em sala de aula e, também, com a apresentação de cartazes para combater a discriminação na escola.
Assim, os professores de língua portuguesa das escolas quilombolas do Brasil dos anos finais do ensino fundamental conseguem resolver os problemas de leitura e escrita por meio de SDI que valorize a língua, identidade e memória dos quilombolas. Por isso, deve-se primeiramente conhecer o problema, pesquisar, estudar e analisá-lo, para só depois colocá-lo em prática. Essa prática, deve estar respaldada com as vivências e costumes dos educandos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos verificar que essa pesquisa fez uso de alguns procedimentos epistemológico e metodológicos que alcançou o objetivo geral da pesquisa. Esses procedimentos foram fundamentais para a valorização da cultura, identidade e memória em escolas quilombolas. As sequências didáticas interativas procuraram desenvolver capacidades cognitivas pertinentes à escolarização como, por exemplo, leitura, escrita, compreensão, interpretação, coerência, coesão, a importância dos conceitos e ressignificações de novos conceitos locais.
Percebe-se com essa pesquisa que, para tal proposta de trabalho didático-pedagógico e, a partir dela, suscitar em alunos quilombolas de outras regiões a compreensão e valorização da cultura e literatura oral, e, para a constituição de sua identidade linguístico-cultural. Assim também, podemos concluir que a estratégica metodológica de resolução de problema de leitura e escrita colaborativa é eficaz para combater a desmotivação dos alunos e tornar as aulas de língua portuguesa mais atrativas.
Temos que, essa pesquisa contribuirá para novas pesquisas que irão verificar novos métodos que motive o aluno em escolas quilombolas a aprender a ler e a escrever de forma significativa, utilizando sua cultura, identidade e memória no ensino aprendizagem na leitura e escrita. Com a valorização da cultura local, no processo de ensino-aprendizado, desperta o entusiasmo dos alunos em sala de aula em aprender a ler e escrever melhor. Além de fortalecer sua identidade como morador de quilombo rural.
Com essa pesquisa, podemos concluir que muitas comunidades quilombolas contemporâneas, rurais e urbanas, estão perdendo sua cultura, identidade e memória, porque boa parte das escolas nessas comunidades não estão valorizando a cultura local utilizada nos quilombos.
REFERÊNCIAS
ALCOFORADO, Doralice Fernandes Xavier. Literatura oral e popular. Revista Boitatá, Número especial – ago-dez de 2008. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/boitata/article/view/30952/21774. Acesso em: 17 jan. 2021.
BRASIL [Constituição (1988)]. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República (2019). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 1 out. 2020.
BRASIL. Base nacional curricular comum. BNCC. 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Acesso em: 20 jul. 2020.
BRASIL. Documento final de referência da CONAE. 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/conae/documento_referencia.pdf. Acesso em: 20 jun. 2020.
BRASIL. CNE/CEB. Parecer CNE/CEB nº 16, de 5 de junho de 2012. Do parecer no tocante a Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola. Relatora: Nilma Lino Gomes. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=11091-pceb016-12&categoryslug=junho-2012-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 10 nov. 2020.
BRASIL. CNE/CP. Parecer CNE/CP nº 3, de 10 de março de 2004. Do parecer no tocante que Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Éticos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, na Educação das relações ético-raciais. Relatora: Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cnecp_003.pdf. Acesso em: 10 nov. 2020.
BRASIL. MEC. RESOLUÇÃO Nº 8, de 20 de novembro de 2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=11963-rceb008-12-pdf&categoryslug=novembro-2012-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 10 mar. 2021.
BRAKLING, Kátia Lomba. Sobre leitura e a formação de leitores: qual é a chave que se espera? São Paulo: SEE: Fundação Vanzolini, 2004. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/912/040720121ELeituraFormacaodeLeitores.pdf. Acesso em: 10 ago. 2020.
CARREIRA, Denise; SOUZA, Ana Lúcia Silva. Indicadores da qualidade na educação: relações raciais na Escola/Ação Educação. São Paulo: Unicef, SEPPIR, MEC, 2013.
LORENZI, G.; DE PÁDUA, T. Blog nos anos iniciais do fundamental I: a reconstrução de um clássico infantil. In: ROJO, R.; MOURA, E. (org.). Multiletramentos na escola: anos finais do ensino fundamental regular língua portuguesa. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Sequência didática interativa no processo de formação de professores. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.
ROCHA, Niel. A educação quilombola e a reprodução cultural afrodescendente. Maringá: Viseu, 2018.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
1 Doutorando em Letras – Estudos Literários – pela Universidade Federal de Santa Maria – RS. Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – PR.com bolsa da CAPES. Docente da rede municipal de ensino de Santa Rita – MA. E-mail: duarte1312@gmail.com. ORCID: 0000-0002-6205-3023.
2 Doutorando em Letras – Estudos da Linguagem – pela Universidade Federal do Rio Grande – RS. Mestre em Letras pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Docente da rede municipal de Sant Inês – MA, e professor do Departamento de Letras e Pedagogia – UEMA/Campus Santa Inês. E-mail: fagnernascimento01@yahoo.com.br. ORCID: 0000-0002-8554-4191.
