SÉCULO XXI: DESAFIOS EDUCACIONAIS E GERACIONAIS NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11645196


Fernando Luis Cazarotto Berlezzi¹;
João Pedro Piragibe².


Resumo

Neste capítulo de natureza teórica-ensaística, com base nos autores MIZUKAMI (2002), FREIRE (1998), MORAES (1997), MASSETO (2012), SANTAELLA (2015) E KNOWLES (2005), e em tempos de mudanças e novos desafios educacionais, propomos uma discussão para contribuir aos professores uma visão de novas perspectivas para o ensino superior. O distanciamento das gerações e a necessidade de capacitação continuada são fatores abordados no texto. Consequentemente, se antes a literacia se referia mais à capacidade de leitura e compreensão de informações textuais, a geração atual de alunos e professores, de consumo de linguagens líquidas, tende a desenvolver habilidades para interagir e selecionar, de forma multimidiática, conteúdo produzido e consumido nas telas de TV, games, computador com acesso à Internet e, principalmente, celulares inteligentes, que atendem às suas demandas de interação não-linear. Portanto, para atender as competências para o século XXI propostas pela UNESCO (2015), faz-se necessário uma aproximação do aluno ao seu professor, reforçar a importância do professor no processo educacional e entender como a tecnologia colabora com o docente como ferramenta complementar e favorece educacionalmente no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: gerações; tecnologia; ensino-aprendizagem.

Introdução

Com o passar dos dias, vemos cada vez mais a tecnologia influenciando novas formas de ensino dentro e fora das salas de aulas. A presença tecnológica deixa de ser só mais um dos recursos de impacto social. As tecnologias estão cada vez mais “inteligentes” e autônomas, temos espaços de aprendizagem sem fronteiras, sem início e fim, livres e “sem cuidados” algumas vezes. Dessa forma, entendemos que buscamos um olhar para ferramentas como complemento educacional das atividades junto a base teórica que professor adquiriu e significou.

Existe um processo de adaptação aos recursos tecnológicos, capacitação inclusiva e letramento digital. O processo difere entre diferentes gerações e há inclusive uma confusão entre nativos digitais quanto ao uso instruído das tecnologias para ensino para que não ocorra o entretenimento de novos meios, mas ainda faltam bases teóricas na utilização desses novos meios para extrair dados que possam comprovar a qualidade da aplicação de teóricos para construção do ensino para as novas gerações. Entendemos que temos uma grande oportunidade de realizar uma ponte entre eles, unir uma geração de professores pré-internet a geração nascida nela.

Um destaque sobre as transformações ocorridas nas últimas duas décadas, especialmente após anos 2000. Muitas das empresas disruptivas que fazem parte de nosso cotidiano, nasceram nos idos dos anos 2000 e chegaram ao Brasil após o ano de 2005, como Netflix (EUA, 1997; Brasil, 2011), Google (EUA, 1998; Brasil 2005), Facebook (EUA, 2004; Brasil, 2007), Youtube (EUA, 2005; Brasil, 2007), Spotify (Suécia, 2008; Brasil, 2014), WhatsApp (EUA, 2009; Brasil, 2009), Uber (EUA, 2009; Brasil, 2014), Instagram (EUA, 2010; Brasil, 2012) e Nubank (fundada no Brasil, 2013).

Tanto o Instagram (em 2012) como o WhatsApp (em 2014) foram adquiridos pelo Facebook. As três marcas fazem parte do cotidiano pessoal e escolar da atual geração e cada uma soma mais de 100 milhões de usuários brasileiros e bilhões de usuários mundialmente. As redes sociais, aplicativos de mensagens instantâneas e ainda os serviços de streaming permitem uma interação e compartilhamento com o mundo numa velocidade jamais vivenciada antes.  O Instagram já tem um lugar especial no cotidiano do brasileiro e é uma das redes sociais mais utilizadas atualmente, tanto para se conectar com pessoas, quanto para se conectar a empresas. Segundo a Social Media Trends 2018, a rede social que mais apresentou crescimento esse ano foi o Instagram, passando de 63,3% de adoção para 80,2% e se consolidando como a segunda colocada em preferência no Brasil.

A tecnologia é concebida em função de novas demandas e exigências sociais e acaba modificando todo um conjunto de costumes e valores e, por fim, agrega-se à cultura. Nesse sentido, faz-se necessário não reduzir a tecnologia a nenhuma visão limitante, visto que a mesma não é um ator autônomo, separado da sociedade e da cultura. Tanto as técnicas como as tecnologias abrangem de maneira indissolúvel, interações entre pessoas vivas e pensantes, entre entidades materiais e artificiais e, ainda, entre ideias e representações(Levy,1999).

Essa realidade tecnológica virtual afeta a maneira como essa geração lida com o aprendizado, o trabalho e a forma de se relacionar socialmente. Como Santaella (2003) aponta, quaisquer meios de comunicação ou mídia são inseparáveis das formas de socialização e cultura que são capazes de criar, de modo que o advento de cada novo meio de comunicação traz consigo um ciclo cultural que lhe é próprio.

1. Tecnologias e Linguagens: formas de se comunicar, ensinar e aprender

Presencialmente, observamos que muitos professores acreditam estar desenvolvendo aulas com o uso de Tecnologias Digitais de Ensino e Comunicação – TDIC, mas somente a adoção de novos recursos (Google Classroom e Kahoot, por exemplo) não garante a digitalização, é necessário o entendimento de ambiência digital, tanto para o aluno como para o professor, para que seja uma ponte de construção de conhecimento. Logo, pensar novos recursos como TICS ou TDICS, e a utilização de aparatos tecnológicos não garantem os processos de ensino e aprendizagem, aplicar aulas em computadores ou aulas virtuais, utilizando-se de modelos e métodos convencionais, seria somente uma forma de colocar a antiga lousa de giz dentro da casa de cada aluno, seria ainda somente uma aula que o professor se coloca em uma posição acima do aluno, onde não ocorreria o processo de troca entre eles, ainda assim seria pouco explorado inclusive a troca entre os próprios alunos, a de se explorar de fato as possibilidades que a internet permite em construção de dados para entendimento e melhora dos processos educacionais.

Quando refletimos sobre o aspecto de aparatos tecnológicos nômades (smartphones, câmeras, tablets e notebooks), redes sociais que nos cercam, é inevitável ignorar a presença da linguagem audiovisual. O audiovisual que faz parte do cotidiano de consumo midiático, quando transportado para a esfera acadêmica significa principalmente uma nova opção educativa de inserir a o ambiente educacional no mundo, trazendo novos espaços e novas perspectivas ainda não integralmente explorados. O audiovisual no mundo contemporâneo, principalmente com a nova forma de distribuição via tecnologia streaming traz o mundo para dentro da escola por meio dos múltiplas plataformas e também introduz a escola em um novo espaço e nova perspectiva com enfoque global.

1.1 Internet: Um movimento de rede

A popularização da internet, a partir de meados dos anos 1990, fez com que a cultura contemporânea se tornasse uma e-cultura, uma grande quantidade de dados a ser estruturada por códigos. “Na comunicação cultural, um código raramente é simplesmente um mecanismo de transporte neutro; geralmente afeta as mensagens transmitidas com sua interferência” (MANOVICH, 2000, p. 64, tradução nossa). Dessa forma, os códigos que estruturam e distribuem os dados culturais contemporâneos estão também influenciando a criação e produção desses dados. A internet – aqui considerada igualmente como um gigante banco de dados – possui os principais códigos da cultura contemporânea. Portanto, ela é o principal meio de distribuição e influência na criação dos dados culturais atuais.

E esse grande banco de dados e sua consequente cultura de banco de dados estão também influenciando a educação no mundo todo. Assim, a escola, no contexto da sociedade contemporânea não pode mais ser avaliada como um ambiente independente, mas sim um lugar dentro de outros espaços de dados, interagindo-se mutuamente.

O grande desafio com o qual o processo de ensino e aprendizagem se depara é o de integrar consciente e criticamente toda a comunidade escolar, no mundo da sociedade globalizada. Dessa forma, torna-se indispensável o letramento digital e a alfabetização audiovisual desses alunos e professores que se encontram inseridos na sociedade cujo bem maior tornam-se os dados e suas constituições audiovisuais.

1.2 O que é Ensinar e o Aprender?

O que é o “ensinar” e o “aprender”? Estamos vivenciando a era de metodologias ágeis, processos que entregam resultados rápidos, como isso chega na educação?

Para que ocorra de fato um processo de ensino-aprendizagem efetivo,  cabe ao professor conhecer e saber lidar com os quatro estilos de aprendizagens, a saber: Divergente, Convergente, Assimilador, e Acomodador (KOLB,1981). Em seus estudos, Kolb (1984) definiu quatro estilos de aprendizagem: acomodador – o estilo que se destaca pela execução e pela experimentação; divergente – é o que focaliza a imaginação e o confrontamento das situações, a partir de várias perspectivas; assimilador – é o que valoriza a criação de modelos teóricos e a indução; convergente – é aquele que enfatiza a aplicação prática das idéias.

Figura 1: Combinação entre os estilos de aprendizagem de Kolb (1984)

Fonte: Palacios et al.(2006)                            

Manuel Castells (2001) alerta para a necessidade de haver uma mudança nos espaços e nos processos de educação, na concepção e no desenvolvimento de novas abordagens para a realização de aprendizagens on-line. Por isso a pertinência de se compreender empiricamente se aqueles que têm a oportunidade de interagir com suas interfaces têm estilos de aprendizagem diferenciados. Não que estejamos procurando um estilo específico, mas quais os estilos de aprendizagem.                 

Trazendo o conceito de “Escola Expandida” (HARDAGH, 2009), defende redes disponíveis e abertas para que o aluno possa acessar de acordo com seu projeto de vida, mostrando a importância de desterritorializar a escola, ou seja a educação continua além do ambiente escolar, em meios digitais como grupos de WhatsApp e ambientes virtuais de aprendizagem de forma assíncrona graças a ubiquidade proporcionada pelos meios.          

Temos a possibilidade hoje, como professores, de explorarmos através da tecnologia somada a uma boa base teórica, a extração de dados em tempo real no processo de ensinar e aprender na utilização de TDICS, podemos mergulhar a fundo na deficiência de algum aluno da sala de forma individual e propor novos métodos para aplicações de exercícios, trabalhos e avaliações, que sejam mais efetivos e em cenário individual por aluno. As avaliações, por parte do docente, são construções de versões para evitar a cola e massificar a avaliação a toda a turma em questões. A avaliação a ser entendida como forma de verificação, pode ser não só ditada no antigo modelo, mas podemos entender ela através de recursos tecnológicos no acompanhamento diário e avaliando a todo instante, que seja acompanhado e possamos como professores durante o processo, incentivá-los a mudança de direções, a de se buscar na vela do barco onde o vento está soprando, a de se conseguir com que esse aluno se desenvolva mais e mais rápido ao entendermos o aluno como parte desse processo. Para isso, cabe repensar a atuação do professor nesse processo de aprendizagem e seu processo de influenciador.

2. O professor como influenciador

O docente como influenciador do processo de ensinar e aprender do aluno, se coloca como mediador, e fonte teórica para aplicação e ensino. A geração Z e Alpha, nativos digitais, entendem o professor como parte de todo o processo, mas ainda assim, entendem a si mesmos como protagonistas das suas decisões, erros e acertos. Inserir o aluno nos processos de ensino, na troca, não substituirá a função essencial do professor no processo de formação. Na verdade nossos olhos são para eles, professores, que inventam e reinventam a todo instante, é o olhar de formação de qualidade desse professor, do amor a profissão de ensinar, que favorecerá o processo de aprendizado dos alunos, existe um distanciamento tecnológicos que não pode ser uma barreira entre os dois. Há uma necessidade de capacitação contínua na educação enquanto pensarmos novos recursos para ensino, novas ambiências, novos cenários, a de se pensar que o professor nunca deixará de ser aluno, pelo contrário, ele se coloca como aluno em todo momento que elabora um conteúdo para suas turmas, a de se entender que somos parte líquida dessa troca, rápida, ágil, sem fronteiras.

Letramentos digitais (LDs) são conjuntos de letramentos (práticas sociais) que se apóiam, entrelaçam e apropriam mútua e continuamente por meio de dispositivos digitais para finalidades específicas, tanto em contextos socioculturais geograficamente e temporalmente limitados, quanto naqueles construídos pela interação mediada eletronicamente. (BUZATO, 2006, p. 16)

Onde o homem jamais superará as máquinas nas questões de velocidade de ações repetitivas, massivas e tecnológicas, mas cabe a nós instruir e capacitar as pessoas quanto a inovação dos processos a de se extrair o melhor potencial dos recursos tecnológicos para que novas gerações em relação a antigas sejam ligadas, ou melhor conectadas. A Internet é isso, conexão de múltiplos computadores ligados a uma rede de internet, onde ocorre a troca de bits, milhões de bits por segundo, entre diferentes devices. Nós professores, somos a ponte, somos parte dessa rede, de troca, do enviar e receber informações entre os alunos e também outros professores, a de se experimentar na prática novas facilidades de armazenamento, e envio desses ensaios.

A possibilidade de pesquisar, ler e conhecer sobre os mais variados assuntos navegando na internet confere ao aluno um novo perfil de estudante, que exige também novo perfil de professor. Cabe ao professor estar atento a essa nova fonte de informações para transformá-las, junto com os alunos, em conhecimento. Essa é uma das características do letramento digital: associar informações, ter uma perspectiva crítica diante delas, transformando-as em conhecimento. O professor é parte inerente e necessária a todo esse processo, em seu lugar insubstituível de mediador e problematizador do conhecimento, um professor que também aprende com o aluno (FREITAS, p.348, 2010)

Essa é uma das principais questões entre o homem e a máquina, o arquivamento e lembrança instantânea de milhões de dados de informação, a de ver no passado tanto as pessoas como os aparatos com funções muito específicas, a evolução industrial desde o fordismo, e a grande crítica no firma de Chaplin na revolução das máquinas e o exagero e cansaço, daquele trabalhador em replicar constantemente as mesmas coisas, que seria apertar os parafusos de forma brilhante, mas isso seria aprender? Aprender sem pensar.  Mas será aprender? Qual será o papel do professor? Já nesse ponto entendemos que o professor é parte fundamental desse processo educacional, as novas gerações de professores não são a exclusão dos antigos, mas a soma e o entendimento do docente como um “eterno” aluno, aberto ao novo, as pesquisas e descobertas, do investigador, nas frequentes dúvidas e questões para melhoria do ensino e de grande responsabilidade de manter o propósito de ensinar, há uma troca emocional.

A nova geração, não deve ser formada por replicadores, deve ser orientada ao pensamento crítico com base curricular, a de se utilizar das ferramentas com novos significados, a de se criar alunos cientistas ( pesquisadores), a de serem formados a pensarem os processos e as formações a reinventar processos, a ressignificar, a olhar para trás com pensamento a frente e inclusive a se conceber novas tecnologias, não só individual, que assim ainda poderia ser, mas a de se pensar comunidades colaborativas, sendo presenciais, virtuais e digitais.

“É nestes recônditos da sociedade, seja em redes electrónicas alternativas, seja em redes populares de resistência comunitária, que tenho notado a presença dos embriões de uma nova sociedade, lavrados nos campos da história pelo poder da identidade.” (Castells, 2003: 444)

Mas será que a sociedade sabe se apropriar das tecnologias de forma correta? Essa é uma pergunta comum entre nós professores.

Certo caso, de um aluno, fez preocupar com uma outra grande discussão. Ao passar para os alunos as tarefas e sinalizar durante a pandemia que os exercícios seriam avaliados durante a colaboração simultânea online, eis que um deles disse: mas professor, eu não tenho computador nem celular. Na mesma hora fiquei realmente sem condições, fiquei chocado com a situação, mas de imediato disse que analisaria junto com ele qual seria a melhor forma. A discussão é muito maior, e a socialização, e o processo de integração dos outros colegas no processo de colaboração? Estava bem distante da realidade desse aluno, e são esses desafios que provocamos nesse ensaio, novos paradigmas, novos desafios para o professor.

2.1 Novos Mapas no processo de ensinar: Unilateral versus Novas Mídias

Gil Giardelli em uma das sua frases disse: “Não podemos usar velhos mapas para descobrir novas terras.” O pensamento crítico e sólida formação teórica permite ao discente sair das trilhas convencionais, e desbravar novas pesquisas, novos caminhos, como nós estamos fazendo aqui nesse ensaio, desbravando e pesquisando sobre novos métodos para novas gerações com novos recursos, não se eximindo do antigo, não fechando os olhos a formação crítica, a base.

Segundo Linda Darling-Hammond (2018), professora de Educação na Universidade de Stanford, “é muito difícil ensinar de maneira diferente daquela que se foi ensinado.” por isso ela defende a ideia de que “a formação inicial dos professores precisa se utilizar dos mesmos recursos que deseja que os professores pratiquem. Isto é, estar atenta às habilidades do século XXI e necessidades dos alunos”.

O professor não é mais apenas aquele que ensina, mas aquele que aprende ao dialogar com os alunos que, por sua vez, também ensinam enquanto aprendem. Eles se tornam corresponsáveis por um processo em que todos crescem.

De acordo com o professor Português António Nóvoa,

Ser professor implica um “renascimento”, uma reflexão sobre si mesmo e sobre o trabalho pedagógico. A pessoalidade cruza-se com a profissionalidade. Uma é inseparável da outra. Ele conhece, porque o ensino é sempre um processo cultural, que tem como referência o conhecimento do mundo. Não há educação no vazio. A educação é cultura, arte, ciência. Sem conhecimento não há educação. Ele tem piedade, no sentido filosófico, porque a educação implica altruísmo e generosidade. Não há educação sem o gesto humano da dádiva e do compromisso perante o outro. Enfim, pode ensinar… porque nada substitui um bom professor (NÓVOA, 2013, p. 209-210).

Temos uma grande tarefa quanto ao paralelo da educação a distância na contribuição à inclusão, quando referenciamos que o processo de ensinar-aprender como método de troca entre os alunos. Estamos falando de uma possível ressocialização destes alunos e desfavorecidos, vemos não só como uma modalidade de ensino, mas como instrumento educacional e de inclusão.

Sob o ponto de vista da Educação, aborda Mauro Sala (2010), “Temos definido a escola como uma instituição cujo papel central é a socialização do conhecimento historicamente elaborado e acumulado pela humanidade”, e define como sendo seu objetivo principal, “[…] a transmissão-assimilação do saber sistematizado, o que significa definir como atividade nuclear da escola o ensino e a aprendizagem dos conteúdos escolares, historicamente construídos e definidos” (SALA, 2010, p. 84).

Mas para pensarmos essa socialização do conhecimento (SALA, 2010), vamos voltar alguns anos no tempo. Você se lembra do Telecurso 2000? Aulas gravadas e ministradas por professores a capacitar e instruir quanto a disciplinas básicas, matemática, português, geografia, biologia e história.

O ambiente virtual e inteligente, mostra-se pouco explorado ainda pelas instituições de ensino superior, acabam utilizando os ambientes de aprendizado como repositório e não explorando o real potencial que a plataforma online oferece. O trabalho da ciência de dados poderá fornecer ao professor indicadores educacionais dos seus alunos, em tempo real, a de se tomar decisões específicas por turma ou melhor por aluno. Estamos carentes de “intérpretes” desses dados. Santaella, fala sobre a fluidez da informação, a comunicação está mais ágil, sem fronteiras, existe uma imensidão de dados que precisam ser interpretados pelo docente para que se tome ações específicas que estimulem o aluno a pensar, a construir seu próprio conhecimento.

Mesmo sem levar em conta as formações culturais que vieram antes da revolução industrial no século 19, a classificação que desenvolvi é mais ampla e mais específica. Ela toma como ponto de partida a emergência histórica de tecnologias de linguagem e de comunicação que marcam o advento de mídias até então inexistentes e criam novas formas e processos sócio-culturais, reprojetando toda a ecologia midiática precedente. (Santaella, 2007, 468p.)

Ao pensarmos esse processo por parte do docente e a formação de formadores, a capacitação e o letramento digital, são partes importantes, principalmente, para aqueles que pensam no processo de ensino na modalidade a distância. Temos recursos e ferramentas novas que auxiliam o professor nesse processo de aprendizado, mas continuamos com velhos hábitos, e não usufruímos do real potencial das ferramentas atuais. Mas o que seria possível extrair de um ambiente virtual de aprendizado? Qual seria a trajetória dentro do ambiente? Dados podem contribuir para formação educacional? Que professor seria esse?

2.2 O Professor 180° e 360°

O professor 180 graus é uma alusão ao professor que está focando mais no que ele vê, mas o que ele vê? Vamos contextualizar esse cenário em algo real, o que ele em sala de aula é justamente o que o alunos está fazendo, as tarefas concluídas e a avaliação.

Ele também consegue ver parte administrativas do processo educacional, como presença, frequência e participação. Ele se envolve também no processo de casa, nas metas e objetivos, no cumprimento de atividades complementares a aula a se ocupar o tempo do aluno no momento que ele não está vendo.

Digamos que este professor é reflexo de escolas de processo tradicionais de controle, presença e desempenho. Ele reflete grande parte do desafio da cobrança, em nosso cenário brasileiro, da disputa da grande quantidade de informação, que o aluno precisa absorver por uma questão legalista de acompanhamento e cobrança, que será verificado no mercado, na fixação posterior a um case prático.

O professor 360°, não nasce assim, acreditamos que isso ocorre quando há uma junção da base curricular e da formação junto ao entendimento e da capacitação dele para ver as ferramentas tecnológicas como parte do processo de construção do saber.

Ele deve ter “olhos” nos campos escuros de visão, onde ele não consegue ver normalmente, é a soma, é amplitude da visão não só frontal, mas de cima. Ver o processo completo, se colocando dentro e fora dele. A entender o aluno como parte exclusiva e única do processo, a cooperar com o aluno a se explorar de forma individual os melhor métodos para que ele se desenvolva. Ocorre um processo de troca, muito rico.

A ferramenta, dará ao professor dados e muitos dados, quanto ao comportamento do aluno. A tecnologia pode auxiliar o professor a metrificar parte do processo educacional dessa turma/aluno, a dar informações que somente o professor com base curricular para analisar conseguirá enxergar nessas ferramentas gaps de oportunidade a se criar uma aula direcionada a pontos específicos de atenção, como por exemplo: verificar a assiduidade dos alunos na plataforma online, quantos concluíram, como concluíram, quais foram os alunos integradores(tutores), quais foram as formas que eles propuseram a solucionar trabalhos, ações colaborativas, leituras de artigos e muito mais.

Isso se propõe que o professor, como parte essencial, veja novos recursos para auxiliar nas aulas, quando achar necessário.

Figura 2: Espiral do conhecimento.

Fonte: adaptado de Nonaka (1994).

Ao olhar condicionado do professor com conteúdo específico da cultura de dados, temos registros pertinentes e recortes como: Quanto tempo o aluno passa na plataforma? Ele interagiu com outros alunos online naquela disciplina? Do material de apoio, quantos ele baixou? Ele fez uma busca cruzada? Acessou o banco de dados de repositórios acadêmicos? Não é do nosso intuito neste capítulo abrir a extração de dados no detalhe para tomada de decisão, mas de conscientizar o docente ao olhar de possibilidades quando juntamos de forma multidisciplinar a cultura de dados (bigdata) a formação de formadores e do processo de ensino-aprendizagem.

Considerações Finais

Por fim desse capítulo ensaístico uma provocação quanto ao EAD como forma de inclusão, após discorrermos sobre a formação de formadores, letramento digital e capacitação contínua, o entendimento desses fatores a se propiciar ambientes de troca e inclusão, a de se valorizar o olhar para desfavorecidos e pessoas com deficiência. A que não tiveram oportunidade por questões sociais e de saúde a de continuar seus estudos. Da leitura com certeza incentivará outros pesquisadores e leitores a discutirem, gerando debates em concordância e discordância desse ensaio, a gerar novas olhares e novos problemas, a de se estimular novas publicações

O EAD é mais do que uma modalidade de educação, mas uma possibilidade real de inclusão. E quando falamos de inclusão não nos referimos apenas a inclusão do deficiente físico que por diversas razões é dificultoso cursar um curso superior presencialmente (seja pela questão de mobilidade ou acessibilidade, seja por uma questão de estima, entre outras possibilidades), mas também a pessoas que não são deficientes físicas, mas são restritas de alguma maneira como por exemplo uma mãe que não dispõe de tempo em sua rotina, uma pessoa que mora numa região em que é dificultoso o acesso à uma Instituição de Ensino Superior, ou até mesmo alguém que está privado de liberdade como, por exemplo, uma pessoa cumprindo pena criminal em regime semi aberto, entre outros motivos.

A opção por poder estudar sem estar fisicamente em uma escola ou universidade é uma tendência também para muitas pessoas que teriam tempo ou meios de locomoção, mas que são impossibilitadas financeiramente.

Figura 3: EAD como ferramenta de inclusão

Fonte: Proposta elaborada pelos autores (2020)

O principal indício que estamos chamando atenção é a possibilidade da inclusão do discente na plataforma digital ou no ambiente virtual, a dele experimentar o ambiente como processo de ensino-aprendizagem, acompanhada do tutor, professor e alunos de turma, a de simular o ambiente de sala de aula como troca e na utilização das ferramentas atuais tecnológicas, a de se criar um sentido no processo de aprendizagem na troca com outros alunos no ambiente, com conteúdo sólido e metrificação de dados para análise por parte do docente.

As aulas são acompanhadas remotamente, muitas vezes estão gravadas em vídeo e outras tecnologias também podem ser utilizadas como aplicativos. O aluno pode acompanhar via internet por computadores, celulares ou tablets. São oferecidos cursos de graduação, pós-graduação e cursos livres (sem a necessidade de regulamentação pelo MEC).

Referências Bibliográficas

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Universidade Presbiteriana Mackenzie
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