RESPONSABILIDADE SOCIAL NO ÂMBITO DE GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL: O CASO DA COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS – CEMIG

SOCIAL RESPONSABILITY IN THE SPHERE OF CORPORATE ENVIRONMENTAL MANAGEMENT: THE CASE OF THE ENERGETIC COMPANY OF MINAS GERAIS – CEMIG

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7547038


Mathuz Philipe C.P. Araújo¹
Vinícius Teles da Silva¹
Cláudia M.C.B. Rech²


Resumo

A Gestão Ambiental ganha no mundo contemporâneo espaço nas estratégias organizacionais, principalmente em iniciativas voltadas à responsabilidade social. Nesse campo, o artigo, aqui proposto, tem como propósito avaliar o papel da responsabilidade social definida pela Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, na forma de levantar as ações desenvolvidas e apresentar as potencialidades no discurso da Gestão Ambiental. Assim, a pesquisa estruturou-se com abordagem qualitativa, através de um estudo de caso, coletando dados através da pesquisa bibliográfica e documental, destacando os dados públicos divulgados pelo relatório anual e de sustentabilidade 2011, no que diz respeito à dimensão social. Os resultados mostraram que a articulação das iniciativas sociais, do público envolvido e das práticas executadas elenca o diferencial da CEMIG na pauta de instrumentos de política ambiental e diretrizes gerenciais de responsabilidade social. Conclui-se que as práticas de gestão ambiental no cotidiano organizacional colocam a empresa no cenário competitivo, trazendo destaque até mesmo no cenário internacional. 

Palavras-chave: Gestão ambiental empresarial. Responsabilidade social, Balanço social. Marketing social.

Abstract

The Environment Management is getting space in organizational strategies in the contemporary world, especially in initiatives focused on social responsibility. In this field, this study aims to evaluate the role of social responsibility defined by the Energetic Company of Minas Gerais – CEMIG, in order to raise the developed actions and present the potentialities in the discourse of the Environment Management. Thus, this research was structured with a qualitative approach, through a case study, collecting data from bibliographical and documental research, highlighting public data disclosed in the annual report of sustainability – 2011, regarding the social dimension. Results showed that the articulation between social initiatives, the audience involved and the implemented practices is able to list the differential of CEMIG on the agenda of environmental policy instruments and management guidelines for social responsibility. We conclude that environmental management practices in the organizational routine set the enterprise in the competitive landscape, bringing highlights, even in the international scene.

Keywords: Corporate Environmental Management, Social responsibility, social balance, social Marketing

1 INTRODUÇÃO

A responsabilidade social se mostra como um tema particularmente importante, abrangendo todos os agentes da administração. O mundo contemporâneo requer um olhar diferenciado quanto à dimensão socioambiental e implementação de uma gestão pautada em ações articuladas em contribuição à qualidade ambiental. 

Para Goldschimidt (2005) faz-se importante diferenciar a responsabilidade social de filantropia, para a primeira não interessam somente ao bem estar social, mas também envolvem melhor desempenho nos negócios e, consequentemente, maior lucratividade. É caracterizada pela pluralidade das satisfações tanto aos seus acionistas quanto aos demais stakeholders[1]; pela distribuição uma vez que se aplica em toda a cadeia produtiva; pela sustentabilidade, esta não se refere apenas ao ambiente, mas por via do fortalecimento de parcerias duráveis, promove a imagem da empresa como um todo e por fim leva ao crescimento orientado pela transparência.

Assim, “praticar a responsabilidade social empresarial requer atenção a múltiplas exigências nas relações de parceria entre clientes e fornecedores, na produção de qualidade, contribuições para o desenvolvimento da comunidade […].”(AMORIM, 2009, p. 130).

O objeto de estudo, aqui proposto, corresponde a responsabilidade social empresarial, especialmente em uma análise de sua relevância para a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG). 

Segundo o Relatório Anual e de Sustentabilidade (2008, p. 09) a Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG foi fundada em 1952 por Juscelino Kubitschek de Oliveira, nessa época governador de Minas Gerais, e atua no setor brasileiro de energia, com destaque para a energia elétrica. Atualmente, atende mais de 6,5 milhões de consumidores, o que a torna a maior concessionária de distribuição de energia elétrica do Brasil. A CEMIG é hoje considerada líder mundial em sustentabilidade, tendo sido selecionada, pela nona vez consecutiva, para compor o Dow Jones Sustainability World Index (DJSI World) e, pelo quarto ano consecutivo, para compor o grupo de empresas listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo (ISE/Bovespa). 

O tema abordado no artigo se direciona ao entendimento do cotidiano de uma empresa com cidadania empresarial e com atividades participativas com a comunidade. Desta forma, a investigação questiona: qual a importância da responsabilidade social no ambiente organizacional? 

Para Portella (2003)as principais características de uma empresa com cidadania empresarial são o alto comprometimento com a comunidade; a atuação em programas e projetos sociais com parcerias; o aumento dos investimentos nas áreas sociais; a irrelevância dos benefícios fiscais para viabilização dos projetos; a importância do marketing social em segundo plano; a participação dos funcionários e incorporação de valores e princípios que defendem responsabilidades diversas.

Diante desse contexto, o artigo estruturou-se com abordagem qualitativa e quantitativa, através de um estudo de caso. Segundo Gil (2002) este tipo de método pretende investigar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos.

Através da pesquisa descritiva buscou-se elencar as ações desenvolvidas pela CEMIG, bem como os programas existentes. E desta forma, perceber se as proporções de tais ações são maiores, principalmente nos últimos anos, trazendo benefícios para a empresa que as praticam e para a sociedade. 

Nesse campo, o propósito do estudo é avaliar o papel da responsabilidade social definida pela CEMIG, na forma de levantar as ações desenvolvidas no discurso da Gestão Ambiental.

Diante das intensas mudanças no mundo globalizado às questões relativas ao papel da empresa diante da sociedade, a relevância do tema investigado se evidencia, principalmente no que diz respeito aos indicadores relacionados à avaliação da gestão ambiental junto ao papel de responsabilidade social. 

Pode-se alegar que para a CEMIG a realização deste estudo representa uma possibilidade de feedback aos resultados sociais e sua representatividade no mercado. 

2 GESTÃO AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL: UMA VISÃO CONCEITUAL

O processo de Gestão Ambiental está ganhando força no mundo empresarial, onde gestores já inserem no planejamento estratégico abordagens preventivas e prospectivas socioambientais, principalmente no contexto de perspectivas de mercado.

Segundo Barbieri (2011, p.19) a Gestão Ambiental é compreendida como “diretrizes e as atividades administrativas e operacionais, tais como planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio ambiente […].” Percebe-se que as organizações em seu modelo de gestão ambiental elencam atividades que proporcionam uma participação integrada entre empresa e comunidade, com iniciativas eloquentes, dentre elas a responsabilidade social.

A partir da década de 1980 a responsabilidade social tornou uma discussão imprescindível nas organizações. Para Amorim (2009, p. 130). “não é mais suficiente apenas produzir bens e serviços que sejam consumidos. É preciso ter eficácia organizacional e uma relação saudável com o meio em que se está inserido.”

De acordo com Melo Neto e Fróes (2001) A responsabilidade social surgiu como resposta das empresas à globalização, à maior competitividade, às desigualdades sociais e à conscientização do consumidor, com o objetivo de potencializar o lucro e o desenvolvimento, além de condizer com princípios éticos cada vez mais exigidos. 

A norma brasileira NBR 16001 (2004) conceitua responsabilidade social “como uma relação ética e transparente da organização com todas as suas partes interessadas, visando o desenvolvimento sustentável.”

Nota-se que a prática de responsabilidade social tem sido um tema cada vez mais relevante no comportamento organizacional, impactando nas estratégias, objetivos e na própria definição de empresa. 

Melo Neto e Fróes (2001) identificam a responsabilidade social como decorrência da globalização, que resultou no aumento do poder dos grupos privados transnacionais e multinacionais e em forte concentração social da renda, além de elevados custos ecológicos e sociais. Outros efeitos desta nova globalização seriam o aumento dos conflitos, o controle de setores estratégicos por grupos privados, queda da ideologia do bem estar coletivo, uso maciço de tecnologias intensivas em capital com consequente aumento do desemprego e enfraquecimento dos sindicatos. E o efeito indireto de todos estes fatos se torna o aumento da criminalidade, a desunião das comunidades e a perda da soberania dos Estados. 

Ainda de acordo com os estudos de Melo Neto e Fróes (2001) afirmam que desta forma, cria-se uma nova racionalidade social com o objetivo de atenuar/balancear os efeitos da nova racionalidade econômica. Como os problemas sociais tendem a atingir limites intoleráveis, as empresas, para reduzir estes riscos, adotaram a lógica da racionalidade social com foco na comunidade e na solidariedade empresarial via investimentos sociais. 

Para Oliveira (2004) as empresas influenciam na coletividade afetando a vida particular das pessoas que as cercam; atuando de forma direta na realidade destas através das atividades que exercem, pelas relações de aceitação, pelas normas a cumprirem ou por sua adaptação ao meio.

Ainda para Oliveira (2004) essa inserção social iniciou-se com a filantropia, partir para doações e apoio a programas do governo, até chegar ao estágio atual de projetos inovadores de fomento ao desenvolvimento socioeducativo, artístico e cultural com o aumento dos gastos sociais. As empresas passaram então a comunicar tais feitos ao mercado, resultando no marketing social, através do qual elas obtêm retorno de seus investimentos na comunidade.

Portella (2003) alega que as empresas têm se preocupado em participar de ações sociais, agregando novos valores, fazendo que elas adquiram novas estratégias e necessitem da iniciativa e da colaboração de um cidadão apto e capaz de atuar em seu contexto social, mediando ganhos e benefícios.

Nota-se que a adoção de práticas de responsabilidade social proporciona para a empresa uma maior credibilidade perante a sociedade, além de funcionários mais comprometidos com as metas e objetivos da organização.

Conforme Oliveira (2004) as organizações devem incluir em suas responsabilidades sociais atividades educacionais como, por exemplo, escolaridade, formação para o trabalho, investimento no conhecimento com a utilização das tecnologias da modernidade, utilizada e solicitada em várias áreas na sociedade. Através da ação socialmente responsável pode-se incluir a sociedade, sem restrições ou discriminações, para usufruir os valores em seu próprio benefício, gerando resultados positivos tanto para a empresa quanto para a sociedade. 

Em geral, as organizações tem buscado entender o conceito de responsabilidade social e adequá-la à sua realidade, procurando conectar as ações desempenhadas com sua missão, visão, planejamento estratégico e posicionamento da empresa. 

Portella (2003) afirma que o cidadão que esteja preparado e que exerce suas funções com cidadania, tem a possibilidade minimizada com relação à marginalidade, a ignorância, entre outros problemas. Assim, os bens sociais bem como o desenvolvimento intelectual e profissional do indivíduo se forma através de atitudes formadas por uma educação transformadora capaz de ampliar sua visão de mundo e sua responsabilidade cultural.

Na visão de Melo Neto e Fróes (2001, p. 29) “o exercício da responsabilidade social tem dois focos distintos: os projetos sociais e as ações comunitárias”. Os projetos sociais são voltados para a solução direta de problemas sociais urgentes e dão maior retorno em termos de imagem e faturamento para as empresas, explorando o marketing social; enquanto as ações comunitárias abrangem apoio indireto a programas e campanhas governamentais, através de doações e trabalho voluntário.

Para Melo Neto e Froes (2001) atualmente, as empresas e a sociedade em geral enfrentam as seguintes tendências e desafios para a responsabilidade social nos negócios: alcançar resultados a nível ambiental, econômico e social; descentralizar a responsabilidade social das empresas para os indivíduos e organizações; criação de empresas padrões conforme a realidade, que se diferem dos outros países e a sociedade e as instituições responsáveis deve cobrar a alteração da conduta ética das empresas.

Ashley (2002) apresenta uma proposta de orientação para a empresa quanto à sua responsabilidade social com seus stakeholders. A figura 1 relata o contexto.

Figura 1 : Responsabilidade social e stakeholders

Fonte: Adaptado de Ashley (2002).

Conforme Orchis et al. apud Levek et al. (2002) a prática da responsabilidade social de forma correta pode melhorar o desempenho e a sustentabilidade da empresa a médio e longo prazos, proporcionando vários benefícios, entre estes: valor agregado à imagem corporativa; motivação do público interno; posição influente nas decisões de compras; vantagem competitiva; influência positiva na cadeia produtiva; reconhecimento dos dirigentes como líderes empresariais e melhoria do clima organizacional.

No entanto, caso a empresa deixe de cumprir as suas obrigações sociais em relação aos seus empregados, comunidade, fornecedores, acionistas, clientes e parceiros, ela, provavelmente, perde a sua credibilidade, prejudicando a sua imagem e ameaça a sua reputação.

Mais precisamente, Moreira (2002) estabelece que a responsabilidade social refere-se à ética como base das ações com todos os públicos com os quais a organização pode interagir, ou seja, os seus stakeholders.

As atividades empresariais socialmente responsáveis devem ser norteadas e limitadas pelos princípios e valores éticos, morais e culturais. A ética define a responsabilidade como um conjunto de práticas, comportamentos e políticas padronizados e esperados pela sociedade e demais relacionados à empresa de acordo com seus valores morais (ASHLEY, 2002).

O tema responsabilidade social tem sido um assunto recorrente no âmbito empresarial. Existe uma crescente busca das empresas brasileiras em entender seu conceito e dimensões e adequá-la à sua realidade. Apesar do esforço, tempo e dinheiro investidos, os resultados alcançados representam na maior parte das vezes, ações desconectadas da missão, visão, planejamento estratégico e posicionamento da empresa, por conseguinte, não geram um compromisso eficaz para o desenvolvimento sustentável.

2.1 MARKETING SOCIAL

Em alguns casos a responsabilidade social é adotada pela empresa para a promoção de sua imagem corporativa, prática denominada marketing social e que não faz qualquer referência a um processo político, de transformação social, de construção de valores.

Kotler (1978, p. 288) define marketing social como:

[…] o projeto, a implementação e o controle de programas que procuram aumentar a aceitação de uma idéia social num grupo-alvo. Utiliza conceitos de segmentação de mercado, de pesquisa de consumidores, de configuração de idéias, de comunicações, de facilitação de incentivos e a teoria da troca, a fim de maximizar a reação do grupo-alvo.

Para Cobra apud Levek et al. (2002) o marketing social pode representar um intercambio de valores não necessariamente físicos nem econômicos, mas que podem ser sociais, morais ou políticos, sendo utilizado para vender idéias ou propósitos que proporcionem bem-estar à comunidade.

No geral pode-se inferir que o marketing social é uma consequência da responsabilidade social. A empresa deve se utilizar das estratégias de marketing social, observando o modo de como fazer, por que fazer e quando fazer. Muitas empresas utilizam o marketing para divulgar suas ações relacionadas ao social, principalmente se ela é responsável socialmente. (MELO NETO E FROES;2001).

Desta forma, o marketing pode representar mudanças do comportamento e das atitudes que podem ser utilizadas em qualquer tipo de organização deste que tenha uma meta final.

2.2 BALANÇO SOCIAL    

Como instrumento estratégico, o balanço social de uma organização reúne informações de projetos e ações sociais que subsidiam gestores a tomadas de decisão. 

O Balanço Social é um documento que apresenta os principais dados quantitativos do domínio social de uma empresa, de forma a permitir conclusões sobre sua cidadania corporativa. Este focaliza o apoio interno e externo da empresa através da disponibilização das despesas desta, exigidas ou não por lei, as quais afetam positivamente a qualidade de vida de seus stakeholders. Por ser um instrumento avaliativo não permanente e, portanto, sujeito a mudanças, progressos e regressos, o Balanço Social também permite uma análise comparativa e histórica do envolvimento social da empresa abordada. (LEVEK et al., 2002).

Segundo Levek et al. (2002) as empresas encontraram no Balanço Social uma forma de divulgar as suas ações com relação a seus funcionários, comunidade e meio ambiente. Esse balanço é divulgado anualmente pela empresa, como uma forma de comprovar sua atuação no campo social.

Muitas empresas começaram a divulgar o Balanço Social principalmente para tornar público o que elas têm feito na área social, pois diante dos clientes isto se torna um fator importante na decisão de compra de seus produtos ou serviços, e também pode ser um diferencial perante seus concorrentes, acionistas, investidores e funcionários. Dessa maneira, a empresa que cumpre seu papel social aumenta a capacidade atrair maior quantidade de consumidores (LEVEK et al., 2002).

Para Kroetz (2000) o Balanço Social pode também ser utilizado como uma fonte de marketing para a empresa, pois a sua divulgação funciona como um instrumento de publicidade, constando a política da empresa, a forma como é administrada e quais os fatores que ela preza. Podendo funcionar como uma publicidade da empresa, sendo um aspecto de extrema relevância que pode seduzir empresários e o público em geral.

Esse instrumento mostra que o balanço social de maneira geral, supre as necessidades da realidade das empresas brasileiras, sendo um instrumento importante de divulgação das ações sociais das empresas, ratificando que a parceria entre elas, o governo e a comunidade, é essencial para atenuar a injustiça social, promovendo o desenvolvimento humano e social. 

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) foi criado no ano de 1981, como uma instituição de utilidade pública federal, sem fins lucrativos. Possui como missão à construção da democracia, combatendo as desigualdades e estimulando a participação cidadã. (IBASE, 2005). 

Nesse parâmetro, o Ibase “sugere que as instituições públicas exijam das empresas a publicação de seus balanços sociais, como demonstrativo de responsabilidade social e ambiental, constituindo item obrigatório para compras, concorrências e concessões de créditos.” (ALBUQUERQUE, 2009, p. 169).

Frente ao contexto, esse argumento mostra que atualmente várias iniciativas têm sido feitas para promover a ideia e a prática da realização do balanço social e estimular a responsabilidade social das empresas. Essas iniciativas devem ser contínuas e ampliadas para que, de fato, essa ideia possa gerar resultados sólidos para toda sociedade. 

2.3 RELATÓRIOS AMBIENTAIS 

Uma forma de divulgar as informações dos instrumentos de gestão ambiental empresarial é através dos relatórios ambientais.

Conforme a Constituição Federal (1988) no artigo 5°, inciso XXXIII “todos têm direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo.” (BRASIL, 1988). Assim, percebe-se que os relatórios surgiram com o objetivo de informar as partes interessadas, comunicando as intervenções das empresas de uma forma contínua e os efeitos da sustentabilidade.

Partindo da divulgação voluntária do desempenho ambiental “a responsabilidade social empresarial deve-se ao fato de que a sociedade tem certas expectativas quanto ao comportamento empresarial e aos resultados de suas atividades.”(BARBIERI, 2011, p. 270). 

Conforme Wood (1991 apud BARBIERI, 2011) as expectativas da sociedade se dão através de três princípios: o de legitimidade, que concede o poder às empresas com foco em obrigações e sanções (nível institucional); o de responsabilidade pública abordando que as empresas são responsáveis pelos resultados de atividades e interesses (nível organizacional), com foco no comportamento organizacional; o de arbítrio administrativo através de escolhas, oportunidades (nível individual) com execução de atividades de responsabilidade social ao alcance de resultados sustentáveis.

Um dos relatórios de sustentabilidade com ênfase ao estudo investigado se refere a Global Reporting Initiative (GRI), que tem como objetivo “promover e disseminar nas organizações a prática de medir o seu desempenho em termos ambientais, sociais e econômicos, e divulgar os resultados como forma de prestação de conta à sociedade” (BARBIERI, 2011, p. 282).

Nota-se que os princípios do GRI oferecem uma estrutura para descrever a atuação da empresa no cenário econômico, ambiental e social. 

3 PRÁTICAS E RESULTADOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL: O CASO DA COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS – CEMIG            

A transparência das atividades executadas nas organizações, compreendendo que a responsabilidade social faz parte da implementação de ações pautada em uma gestão que busca a sustentabilidade, permeia que a sociedade visualize os resultados através de relatórios que englobem a dimensão econômica, ambiental e social.

A metodologia aplicada para apontar a importância da responsabilidade social no ambiente organizacional da CEMIG foi a utilização da pesquisa bibliográfica e documental, destacando os dados públicos divulgados pelo relatório anual e de sustentabilidade 2011. 

Estrategicamente a CEMIG evidencia as suas atividades sociais envolvendo as partes interessadas com projetos eloquentes. Assim, no âmbito de relatórios de sustentabilidade, o estudo destacado no artigo se baseou em analisar apenas os resultados da dimensão social.

A dimensão social é aplicada pela CEMIG através da interação entre a empresa e a sociedade por meio de práticas de engajamento. Estão envolvidos no processo instituições sem fins lucrativos (desconto financeiro nas notas fiscais, contas de energia elétrica para instituições filantrópicas de assistência social); comunidades locais através de uma interação contínua; atores governamentais e órgãos reguladores do setor elétrico para o cumprimento da legislação; acionistas e investidores; comunidade científica através de criação de projetos; fornecedores e prestadores de serviços; prefeituras da área de concessão da CEMIG; agentes internos com gestão participativa e clientes. (RELATÓRIO ANUAL E DE SUSTENTABILIDADE, 2011).

Segundo o Relatório Anual e de Sustentabilidade (2011, p. 101) “junto à sociedade, a Companhia está construindo um modelo sustentável de negócio visando contribuir para o desenvolvimento da comunidade por meio de acesso à cultura, aos esportes e às ações sociais estruturadoras e promotoras da cidadania.” A figura 2 exemplifica os investimentos sociais externos em 2011.

Figura 2 : Investimentos sociais externos

Fonte: Relatório Anual e de Sustentabilidade da CEMIG (2011).

No que se refere aos investimentos sociais, o gráfico mostra a presença da CEMIG em diversos setores. Nota-se que a CEMIG busca estreitar o relacionamento com as comunidades, apoiando projetos de desenvolvimento social, projetos culturais e patrocinando programas relacionados ao esporte e educação. Conforme o gráfico, 73% das iniciativas possuem relação direta com o estágio de desenvolvimento social, através de programas como Luz para Todos, Campos de Luz, Projeto Conviver, AI 6%, etc. Compondo os 26% de apoio restante, estão os programas voltados à educação, esporte e cultura, como projetos de fomento à leitura (Sempre um Papo), festivais literários de Ouro Preto e São João Del Rey, filmes em Minas, patrocínios esportivos, eventos musicais, manutenção de museus e centros de cultura permanente. 

No que tange as principais ações direcionadas pela CEMIG quanto às estratégias sociais a figura 3 apresenta as iniciativas sociais, o público envolvido e as práticas executadas.   

Figura 3 : Estratégias Sociais aplicadas pela CEMIG 

INICIATIVAS SOCIAISPÚBLICO ENVOLVIDOPRÁTICAS EXECUTADAS
Iniciativas culturais e esportivasPatrocínios filmes em Minas, museus, música, esporte. O CEMIG Cultural e o Filme em Minas, apoiaram 144 projetos em 21 municípios, atendendo a meta de regionalização da produção da Secretaria de Estado da Cultura. Investimento em cultura, entre patrocínios incentivados por leis federais e por meio de doações de recurso próprio. Patrocínio de manutenção a museus, centros de cultura permanentes (como Palácio das Artes – BH/MG), projetos de fomento à leitura. Diversos patrocínios nos esportes e parceria com o SERVAS     (Serviço     Voluntário     de Assistência Social)
Projeto Luz para todosFamílias situadas nas zonas rurais.Levar energia elétrica a propriedades localizadas nas zonas rurais
Projeto clarearÁreas urbanas de concessão da CEMIG.Extensão, modificação e reforço de redes de distribuição de média e baixa tensão para atendimento a consumidores, tendo como objetivo atender, sem ônus para o solicitante, aos pedidos de novas ligações, em todas as áreas urbanas da concessão CEMIG.
Programa Energia InteligenteComunidades de baixa renda, unidades do setor hospitalar, instituições públicas e instituições educacionais que não possuam fins lucrativos, promovendo a cultura de eficiência no uso da energia elétrica.O programa é voltado para a disseminação de informações que promovam uma mudança de hábitos das pessoas, ao utilizar corretamente a energia elétrica, o que, consequentemente, preserva o meio ambiente e reduz o consumo de energia.
Cartilha da Tarifa SocialConsumidores inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, que possuam o Número de Identificação Social (NIS) e renda familiar per capta de até meio salário mínimo. Consumidores que tenham o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC), indígenas e quilombolas também podem usufruir da Tarifa Social.Uma cartilha explicativa com o objetivo de esclarecer aos consumidores sobre os descontos da Tarifa Social de Energia Elétrica.
Programa AI6%Projetos sociais que congregam como o Projeto Social Pedra Azul, que oferece aulas de teatro e bale para cerca de 75 jovens de 3 a 17 anos na cidade de Pedra Azul e a criação de uma Brinquedoteca na Associação Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) da cidade de Três Pontas, em Minas Gerais. Em 2011, houve a entrada de 7 novos conselhos e de 13 novas instituições.  Tem como finalidade incentivar empregados e aposentados a repassarem 6% de seu imposto de renda devido aos Fundos da Infância e da Adolescência (FIA). O montante é recolhido e destinado aos vários projetos sociais que congregam o Programa.
Comunicação ExternaPartes interessadas da CEMIGEstabelecer diretrizes e critérios para as decisões empresariais que envolvam divulgação de iniciativas implementadas nas comunidades onde a Empresa atua e assegurar a compreensão assertiva pelos públicos com os quais se relaciona.
Programa Reputação DigitalPartes interessadas da CEMIGEste programa tem como objetivo direcionar e promover a reputação da CEMIG na internet e em mídias sociais por meio do direcionamento e da promoção de informações oficiais. O processo consiste em informar, ouvir e dialogar com suas partes interessadas. Para criar esse relacionamento com confiança e credibilidade, a CEMIG utiliza da transparência, da agilidade e do saber ouvir para fortalecer o relacionamento com seus públicos.

Fonte: Relatório Anual e de Sustentabilidade da CEMIG (2011).

Uma breve análise da figura mostra que as práticas executadas pela CEMIG estão alinhadas com os objetivos da organização. O papel da empresa em relação à sociedade engloba tanto o desenvolvimento econômico e ambiental, quanto à participação no contexto social, buscando melhorias nas condições de vida da população. 

A partir dessas considerações os resultados da forma de prestação de conta à sociedade são mostrados através da Global Reporting Iniciative (GRI). A figura 4 relata os investimentos sociais quanto a classificação da contribuição, formas de contribuição e áreas de investimento no período de 2009 a 2011.

Figura 4 : Investimentos sociais (CEMIG)

Fonte: Relatório Anual e de Sustentabilidade da CEMIG (2011).

A figura 4 subdivide-se em três itens: classificação da contribuição, forma de contribuição e áreas de investimento.  O Balanço reúne informações de projetos e utiliza o marketing para divulgar suas ações relacionadas ao social. 

Os recursos aplicados durante o ano de 2011 em educação, cultura, esportes e projetos de desenvolvimento social somaram R$112,12 milhões.  Entre os projetos contemplados podem-se citar os programas CEMIG Cultural e o Filme em Minas que apoiaram 144 projetos em 21 municípios.  Manutenção a museus, Centros de Cultura Permanente como o Palácio das Artes, parceria com o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), patrocinando o projeto Vita Vida que é voltado para o combate a fome, fornecendo refeições balanceadas a 3.200 crianças/mês e patrocínio ao projeto Valores de Minas que é voltado para o fortalecimento da autoestima e crescimento pessoal de milhares de estudantes da rede pública estadual, por meio de atividades ligadas a cultura. 

4 IMPORTÂNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL: AÇÕES E POTENCIALIDADES             

 Apesar de ser uma referência nova na empresa, a responsabilidade social apresenta um diferencial substancial nas estratégias organizacionais, principalmente no que diz respeito à Gestão Ambiental.

De acordo com Zarpelon, (2006, p.5), a responsabilidade Social corresponde a atitude assumida diante da sociedade, em relação à geração de empregos, a pagamento de salários dignos, à arrecadação correta da carga tributária, ao aumento da qualidade de vida, à assimilação e transferência de tecnologia, ou qualquer outro fator que possa agregar benefício para a gestão e para a sociedade. 

Ainda de acordo com Zarpelon (2006), diante desta realidade, percebe-se a crescente preocupação com a responsabilidade social, que ultrapassou os portões da empresa e chegou aos gestores, através de cobranças da sociedade ou de outros fatores que levaram as organizações a refletirem sobre o impacto que tinham suas ações além de suas dependências.    Portanto, o papel da empresa em relação à sociedade deve englobar tanto o desenvolvimento econômico quanto a participação no contexto social e ambiental, buscando melhorias nas condições de vida da população. 

Na forma como é vista pelos consumidores e fornecedores, os resultados da CEMIG superam os resultados das empresas que não possuem práticas sociais e sustentáveis. Atualmente os investidores preferem investir em empresas com bons antecedentes sociais e ambientais.  Tal constatação mostra a importância da responsabilidade social no ambiente organizacional, uma empresa para ser bem conceituada não é aquela que é apenas lucrativa mas sim aquela que possui políticas sociais e ambientais.

5 CONCLUSÃO

Entrelaçado à esfera econômica e ambiental, a dimensão social se destacou no quadrante do estudo de investigação como estratégia de conhecer a realidade vivenciada pela Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, principalmente na dinâmica de responsabilidade social e gestão ambiental, ou seja, como as questões se aplicam no dia a dia de uma empresa.

Observou-se no relatório anual e de sustentabilidade de 2011 que o relacionamento da CEMIG com as comunidades não se restringe ao estágio de desenvolvimento econômico, mas também possui relação direta com o estágio de desenvolvimento social. 

Tal linha de percepção mostrou que a Gestão Ambiental Empresarial quando executada com instrumentos e direcionamentos operacionais eficazes elenca diversos aspectos positivos à imagem da empresa, ganhando o respeito das partes interessadas, tornando-se uma empresa conceituada no mercado.

Dentro do contexto apresentado, pode-se observar a necessidade da adequação das empresas ao programa sustentável, mediante a realidade social, ambiental e econômica atual em que estão inseridas. As ações de responsabilidade social desenvolvidas pela CEMIG mostrou a compatibilização harmônica entre a economia e os aspectos socioambientais. E isso só foi possível pela gestão participativa articulada entre a dimensão espacial, temática e institucional.

Na atualidade, o mercado exige algumas certificações e novas ferramentas para se adequar, como por exemplo, o ISO 14000 e marketing verde. Estas ferramentas podem ser utilizadas para enfatizar o destaque da empresa no cenário competitivo. 

Assim, é nessa perspectiva buscando enfatizar o destaque da empresa no cenário competitivo e respeitando o tripé da sustentabilidade, que a concessionária de energia elétrica apresentada (CEMIG), vem se destacando até mesmo no cenário internacional.

A pesquisa contribuiu para verificar a relevância que a CEMIG dá ao tema Responsabilidade Social e mostrar o grande diferencial perante as empresas do setor. Como resultado disso, a CEMIG tornou-se a maior concessionária de distribuição de energia elétrica do Brasil, ganhando reconhecimento até mesmo no cenário internacional, sendo líder em sustentabilidade pelo índice Dow Jones Sustainability World Index (DJSI World). 

REFERÊNCIAS

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RELATÓRIO ANUAL E DE SUSTENTABILIDADE. Belo Horizonte: CEMIG, 2011.

RELATÓRIO ANUAL E DE SUSTENTABILIDADE. Belo Horizonte: CEMIG, 2008, p. 09.


[1] Conforme Goldschimidt (2005) o termo “stakeholders” foi criado para designar todas as pessoas ou empresas que, de alguma maneira, são influenciadas pelas ações de uma organização.


¹Faculdade de Minas, Faminas-BH, Acadêmicos do Curso de Administração 
²Faculdade de Minas, Faminas-BH, Orientadora de Trabalho de Curso, Programa de Graduação e Pós-Graduação