RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS E A EDUCAÇÃO INFANTIL: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA (2009 – 2019)

ETHNIC-RACIAL RELATIONS AND EARLY EARLY EDUCATION: BIBLIOGRAPHICAL REVIEW (2009 – 2019)

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10796977


Daniele Aparecida de Azevedo da Silva1
Teresa Kazuko Teruya2


RESUMO: O presente artigo tem por objeto de estudo a seleção das pesquisas empíricas que tratam das relações étnico-raciais na Educação Infantil. Neste sentido, os bancos de dados escolhidos para a identificação das obras existentes com relação a temática foi o Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES) e a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), para as pesquisas realizadas na pós-graduação strictu sensu. Já para a identificação dos artigos, utilizou-se a plataforma Scientific Libraby (sciELO) e também o periódico CAPES. Sendo assim, essa pesquisa mostrou que existem 14 textos empíricos que tratam dos estudos para as relações étnico-raciais na Educação Infantil (2009 a 2019), em que apenas quatro são teses, e 10 são dissertações. Além disso, identificamos quatro das cinco regiões do Brasil: dois trabalhos são da região Centro-oeste, três da região Nordeste, oito da região Sudeste e apenas um da região Sul. Consideramos que a partir dos descritores “identidade”, “Educação Infantil” e “relações étnico-raciais” nos bancos de dados de pesquisas nacionais, é possível identificar e selecionar pesquisas que tratam da temática, de forma a compreender e estabelecer – a partir das análises – um cenário brasileiro no que se refere aos conteúdos das relações étnico-raciais na modalidade da Educação Infantil.

Palavras-chave: Educação Infantil; Identidade; Pesquisas empíricas; Relações étnico-raciais.

ABSTRACT: The object of study of this article is the selection of empirical research that deals with ethnic-racial relations in Early Childhood Education. In this sense, the databases chosen to identify existing works in relation to the theme were the Catalog of Theses and Dissertations of the Coordination for the Improvement of Higher Education Persons (CAPES) and the Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations (BDTD), for research carried out in strictu sensu postgraduate studies. To identify the articles, the Scientific Libraby platform (sciELO) and the journal CAPES were used. Therefore, this research showed that there are 14 empirical texts that deal with studies on ethnic-racial relations in Early Childhood Education (2009 to 2019), of which only four are theses, and 10 are dissertations. Furthermore, we identified four of the five regions of Brazil: two works are from the Central-West region, three from the Northeast region, eight from the Southeast region and only one from the South region. We consider that based on the descriptors “identity”, “Early Childhood Education” and “ethnic-racial relations” in national research databases, it is possible to identify and select research that deals with the topic, in order to understand and establish – based on the analysis – a Brazilian scenario with regard to the contents of ethnic relations -racial issues in Early Childhood Education.

Keywords: Early Childhood Education; Identity; Empirical research; Ethnic-racial relations.

A PESQUISA EM QUESTÃO

Peregrinando pelas perspectivas dos Estudos Culturais, do Pensamento Decolonial e da Sociologia da Infância3 o recorte da temática para o nível da Educação Infantil é uma ação intencional e significativa. Isso ocorre por alguns motivos. O histórico da Educação Infantil enquanto modalidade da educação básica nos indica uma longa trajetória de lutas acerca de sua necessidade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 estabelecia até o ano de 2009 que a Educação Infantil seria gratuita a partir dos seis anos de idade, logo, nos anos finais dessa etapa de ensino, o que, tecnicamente, colocava a obrigatoriedade de ensino público apenas para a primeira fase do ensino fundamental.

Em termos de progresso, a emenda constitucional 59 de 11 de novembro de 2009 passou a estabelecer a obrigatoriedade inicial no ensino a partir dos 4 anos de idade. A emenda sancionada pela ex-presidenta Dilma Vana Rousseff em 5 de abril de 2013 passa a reafirmar, até mesmo por meio do Diário Oficial da União, as alterações na LDB. Esse fato confere um salto qualitativo para a história da Educação Infantil nacional, no entanto, ainda insuficiente, pois a idade que corresponde a primeira infância (0 a 3 anos) não se faz obrigatória.

O interesse pela pesquisa surgiu a partir de leituras realizadas e debatidas no grupo GEPEMEC, porém delimitar a temática não foi fácil, pois pensar a negritude atrelada a educação nos direciona para inúmeras possibilidades, e cabe ao/a pesquisador/a buscar quais as lacunas existentes na amplitude de determinado conteúdo.

Portanto, as inquietações que emergiram de experiências nas instituições escolares, somadas as problematizações discutidas no GEPEMEC orientaram a construção do problema central desta pesquisa: A revisão de literatura aponta textos que trazem conteúdos acerca das relações étnico-raciais e identidade na Educação infantil entre as décadas de 2009 a 2019?

Sendo assim, refletimos as possibilidades da abordagem metodológica na qual iríamos utilizar. Encontramos certa dificuldade para adotar uma metodologia específica, afinal, os “Estudos Culturais fornece uma marca igualmente desconfortável, pois eles, na verdade, não têm nenhuma metodologia distinta, nenhuma análise estatística, etnomenológica ou textual singular que possam reivindicar como sua. (NELSON, C; TREICHLER, A; GRASSBERG, L, 2018, p. 9). Por outro lado, ao mesmo tempo que os Estudos Culturais não compreendem uma metodologia fixada e única, é importante que ela faça sentido para o que se quer expressar na pesquisa. Nessa perspectiva, Nelson, Treichler e Grassberg (2018, p. 8) ainda acrescentam que

[…] nenhuma metodologia pode ser privilegiada ou mesmo temporariamente empregada com total segurança e confiança, embora nenhuma possa tampouco ser eliminada antecipadamente. A análise textual, a semiótica, a desconstrução, a etnografia, entrevistas, a análise fonêmica, a psicanálise, a rizomática, a análise de conteúdo, o survey – todas podem fornecer importantes insights e conhecimentos.

É nesse sentido que esta pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, contou com os métodos de análise de conteúdo e análise cultural das pesquisas. Nos esboços de um projeto para a construção dessas respostas, elencamos como objetivo geral: Selecionar as pesquisas empíricas que tratam da temática étnico-racial na Educação infantil. Como objetivos específicos: a) Selecionar os trabalhos (teses e dissertações) – no período de 2009 a 2019 – que trabalham com os conteúdos “identidade”, “Educação Infantil” e “relações étnico-raciais”; b) Elaborar um panorama geral do “estado de conhecimento” quanto a temática das relações étnico-raciais no nível da Educação Infantil; e c) Propor encaminhamentos/reflexões pedagógicas/metodológicas para a educação das relações étnico-raciais.

A BUSCA PELAS PESQUISAS

O presente tópico trata da trajetória metodológica para a realização das análises dos dados específicos. Expõe em três momentos os procedimentos realizados para buscar as pesquisas. O primeiro, busca no estado da arte, da presente temática, as produções acadêmicas nacionais. O segundo e terceiro momento, apresenta a forma e os critérios de seleção das pesquisas encontradas nas plataformas pesquisadas.

Para responder as inquietações iniciais à formulação do projeto para essa pesquisa, pensávamos, inicialmente, em uma pesquisa empírica, que buscaria compreender as hierarquias das relações raciais a partir da etnografia em determinada instituição escolar. No entanto, ao realizar a revisão de literatura nas plataformas acadêmicas, percebemos que já existem alguns trabalhos que se dedicaram a compreender as relações étnico-raciais na Educação Infantil, e lançaram-se nesse desafio.

Sendo assim, refletimos as possibilidades da abordagem metodológica na qual iríamos utilizar. Encontramos certa dificuldade para adotar uma metodologia específica, afinal, os “Estudos Culturais fornece uma marca igualmente desconfortável, pois eles, na verdade, não têm nenhuma metodologia distinta, nenhuma análise estatística, etnomenológica ou textual singular que possam reivindicar como sua. (NELSON, C; TREICHLER, A; GRASSBERG, L, 2018, p. 9). Por outro lado, ao mesmo tempo que os Estudos Culturais não compreendem uma metodologia fixada e única, é importante que ela faça sentido para o que se quer expressar na pesquisa. Nesse sentido, Nelson, Treichler e Grassberg (2018, p. 8) ainda acrescentam que

[…] nenhuma metodologia pode ser privilegiada ou mesmo temporariamente empregada com total segurança e confiança, embora nenhuma possa tampouco ser eliminada antecipadamente. A análise textual, a semiótica, a desconstrução, a etnografia, entrevistas, a análise fonêmica, a psicanálise, a rizomática, a análise de conteúdo, o survey – todas podem fornecer importantes insights e conhecimentos.

Partindo dos Estudos Culturais como referencial teórico-metodológico, adotamos os métodos de Revisão Bibliográfica e Análise Cultural – para selecionar e analisar o conteúdo de produções acadêmicas já existentes nos bancos de dados, a fim de identificar se as produções acadêmicas encontradas tratam da educação para as relações étnico-raciais. Assim, esta pesquisa é de cunho bibliográfico e qualitativo.

Para prosseguir com a coleta de dados4, elaboramos um “esquema” (figura 1) para compreender a amplitude da temática sem perder de vista os objetivos e os passos necessários para a construção do texto:

A figura acima representa uma síntese deste tópico. Porém, mais do que isso, carrega certos pressupostos teóricos, inspirada na figura “O circuito da cultura”, elaborada por Stuart Hall (p. 18, 2016) em Cultura e Representação. No circuito de Hall (2016), ele discute a cultura em uma grande rede, de modo que os elementos “representação”, “regulação”, “identidade”, “produção” e “consumo” existem em circuito e estão em uma relação de dependência. Em nossa leitura, em circuito, cada elemento representacional tem relação direta com o outro.

Nesse circuito metodológico, não conseguimos estabelecer um olhar hierárquico para as ações as quais realizamos. É evidente que cada etapa da pesquisa antecede ou sucede a outra. No entanto, não é possível progredir no texto sem o contexto, problema de pesquisa, objetivos, metodologia e procedimentos para tal. Ou seja, mesmo que tenhamos hipóteses e objetivos sobre a pesquisa, eles dependem dos procedimentos que iremos realizar para que se materialize.

Assim, a pesquisa é guiada por uma série de etapas. Observamos que a cada passo na metodologia é preciso retomar ao contexto, aos objetivos e ao problema, e vice-versa. Portanto, enxergar este texto como um circuito é, para além de estabelecer relações com os Estudos Culturais, praticar o exercício de olhar para as questões da sociedade e da Educação Infantil escolar desta forma.

Para atender à originalidade da proposta, deparamo-nos com a necessidade de pesquisar trabalhos nesta linha, e, portanto, realizar um refinamento teórico-metodológico. Neste sentido, os bancos de dados escolhidos para a identificação das obras existentes com relação a temática foi o Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES)5 e a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD)6, para as pesquisas realizadas na pós-graduação strictu sensu. Já para a identificação dos artigos, selecionamos a plataforma Scientific Libraby (sciELO7) e também o periódico CAPES.

Nesse contexto, surge a necessidade de averiguar as pesquisas acadêmicas que já existem. No Brasil, os questionamentos que impulsionaram esse processo da pesquisa foram:

a) Quais produções são identificadas se utilizarmos os descritores “educação infantil”, “identidade” e “relações étnico-raciais”?

b) Os bancos de dados selecionados identificam produções acadêmicas sobre as relações étnico-raciais no nível específico da educação infantil?

c) Quais os assuntos de maior predominância nas pesquisas encontradas?

d) É possível identificar como se dão as práticas docentes com relação a educação das relações raciais?

Os descritores utilizados para a seleção dos materiais foram “educação infantil”, “identidade” e “relações étnico-raciais”. No Catálogo de Teses e Dissertações da Capes foi necessário utilizar os termos da seguinte forma: “educação infantil” AND “identidade” AND “relações étnico-raciais”. Na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) a seleção dos dados se configurou por campo, da seguinte maneira: \”educação infantil \” AND \”identidade\”. AND \”relações étnico-raciais\”. Para selecionar os artigos, na plataforma sciELO não inserimos o descritor “identidade”, pois este limitava os resultados a apenas um artigo. Ao descartar este descritor, conseguimos melhores resultados apenas com os dois campos de busca “relações étnico-raciais” e “educação infantil”. Como os resultados da busca ainda foram limitados, em termos de conteúdo, adotamos no processo o periódico CAPES, descartando, mais uma vez o descritor identidade. Porém, como os resultados apareceram em larga escala, para facilitar as análises, delimitamos nos campos de busca os dois descritores específicos no título nas produções. Em seguida acrescentamos as produções encontradas a partir desses primeiros passos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este tópico expõe o resultado dos passos anteriores e é imprescindível para a discussão, uma vez que permite visualizar o corpus de análise da pesquisa. Acrescentamos, já de início, que a seleção das pesquisas exigiu um refinamento bastante específico. Tendo por base os descritores (palavras-chave) os quais destacamos anteriormente, as buscas possibilitaram a elaboração das seguintes tabulações:

Tabela 1 – Resultados das buscas através dos descritores

Fonte: elaborada pelas autoras.

A tabela 2 acima indica os dados quantitativos da pesquisa nas plataformas descritas. Nessa busca, foram encontrados o total de 50 trabalhos envolvendo as palavras-chave, sendo eles 33 dissertações e teses, na CAPES e BDTD e 17 artigos na plataforma SciELO e CAPES. Os trabalhos da pós-graduação foram defendidos e publicados entre os períodos de 2009 a 2019, e os artigos publicados entre os anos de 2010 e 2019.

Após esse momento de buscas quantitativas, foi necessário realizar a leitura dos resumos, da introdução e das referências. Diante das análises, identifiquei duplicações entre as pesquisas, pois foram quatro bancos de dados utilizados. Salientei que as pesquisas duplicadas são os textos que aparecem duas vezes ou mais no resultado geral das pesquisas.

Os dados da tabela 3, acima, indicam que das 50 pesquisas encontradas, oito destas estavam duplicadas nos bancos de dados utilizados. Assim, após excluir essas duplicações, totalizou 42 trabalhos, que resultam em 26 teses e dissertações e 16 artigos.

Posteriormente, analisamos os resumos dessas 42 produções científicas, a fim de identificar aspectos como o nível escolar – educação infantil – a relevância da temática e também as que, de fato, são pesquisas empíricas. No pós-análise, detectamos que algumas pesquisas não são de cunho empírico, o que significa que são documentais, bibliográficas, e entre outras. São pesquisas interessantes, mas que para o recorte específico dos objetivos deste texto, poderia contribuir para outros aspectos, como os referenciais, mas não enquanto material de análise. Concluímos, também, que alguns trabalhos não correspondem ao nível da educação infantil (0 a 5 anos), ou até mesmo a educação formal, ou seja, em instituições escolares. Além disso, encontramos, no meio dessas produções, algumas que se quer relacionam-se a temática.

Neste contexto, essa busca pela seleção dos trabalhos científicos nos levou, neste primeiro momento, a optar pela categorização dessas pesquisas. Utilizamos uma das etapas da análise de conteúdo, que é a categorização, nesta “categorização (passagem de dados em bruto a dados organizados) não introduz desvios (por excesso ou por recusa) no material, mas que dá a conhecer índices invisíveis, no nível dos dados em bruto” (BARDIN, 2010, p. 147). Em conformidade ao método adotado, destacamos 4 categorias, que apresento a seguir.

Dessa forma, elaboramos um gráfico que corresponde as categorias: PESQUISAS EMPÍRICAS, PESQUISAS NÃO EMPÍRICAS, NÃO CORRESPONDEM NO NÍVEL DA EDUCAÇÃO INFANTIL E/OU FORMAL, e as PESQUISAS QUE NÃO TRATAM DA TEMÁTICA.

Pensar as categorias das pesquisas foi uma ação necessária para que pudesse selecionar os textos que, de fato, são empíricos, que correspondem ao nível da Educação Infantil e à temática das relações étnico-raciais. Abaixo, o gráfico 1 “A categorização das Pesquisas”:

Gráfico 1 – A categorização das Pesquisas

Fonte: elaborado pelas autoras.

A categoria 1 “Empíricas”, refere-se às as pesquisas de cunho empírico, ou seja, todas aquelas que se propuseram, a partir de diversas metodologias, compreender o fenônemo estudado, das relações étnico-raciais, partir de dados empíricos, da realidade. Nesta categoria situam-se pesquisas de campo, etnográficas, e entre outras. Aqui, percebemos que as pesquisas empíricas concentram maior quantidade em relação as demais categorias. Estão inseridas nesta categoria 14 dissertações ou teses e 11 artigos.

A partir da realização do gráfico e dos quadros acima, estabelecemos que a categoria 1, das pesquisas empíricas, como foco das análises. No entanto, ao analisar previamente esses textos, observamos que embora sejam todos de base empírica, trazem algumas singularidades. Essas particularidades em cada pesquisa possibilitou realizar uma nova categorização, que evidenciam focos diferentes, como: a voz da criança, a formação/prática do professor, o ambiente escolar, a voz das crianças e docentes e, também, das famílias.

Das 25 pesquisas selecionadas, foi possível uma nova categorização, para que pudésse, de fato, elencar quais os textos base para a análise cultural. Conforme o gráfico abaixo, elaboramos 5 categorias:

Gráfico 2 – Categorização das Pesquisas Empíricas: Teses, Dissertações e Artigos

Fonte: elaborado pelas autoras.

Em síntese, todos os procedimentos metodológicos utilizados até aqui, permitiram uma minuciosa seleção do estado da arte com relação à temática da pesquisa. De acordo com o gráfico acima, existem 25 textos disponíveis nas plataformas pesquisadas. Dentre eles, 14 são teses e dissertações e 11 são artigos, todos discutem, a partir de um foco principal, quais as observações acerca da experiência empírica nas instituições escolares.

No entanto, ao perceber a quantidade destes textos, e, também, da qualidade teórico-metodológica que constitui essas produções, optamos por delimitar ainda mais o acervo analisado. Dessa forma, utilizamos algumas técnicas da análise de conteúdo, como a ‘pré-análise’, primeira fase da análise de conteúdo, ao realizar a ‘leitura flutuante’ a fim de conhecer as temáticas abordadas nesses textos, destacamos muitas características importantes em todos eles (BARDIN, 2010).  Porém, foi preciso realizar a ‘escolha dos documentos’, que é uma das etapas da pré-análise do material. Essa escolha implicou selecionar quais os textos base, aqueles que responderão às hipóteses e aos objetivos propostos no plano inicial.

Diante deste cenário, optamos por analisar apenas as teses e dissertações disponíveis, que totalizam 14. Essa escolha não foi fácil, pois os artigos traziam, também, considerações significativas a respeito da temática, mas as informações presentes nas 14 teses e dissertações foram suficientes para estabelecer uma série de discussões a respeito. Vale destacar, ainda, que os textos dos artigos servirão como base teórica, posteriormente. Dessa maneira, o gráfico das categorizações de pesquisas empíricas precisou ser modificado, conforme a imagem a seguir:

Gráfico 3 – Categorização das pesquisas Empíricas: Teses e Dissertações

Fonte: elaborado pelas autoras (2023)

Estabelecendo um comparativo com o gráfico 2, no gráfico 3, identificamos algumas mudanças. O número de pesquisas reduziu de 25 para 14, pois 11 destas eram os artigos que optei por retirar do corpus da análise. Nesse contexto, a categoria “Formação/prática docente” reduziu de sete para três pesquisas. As categorias “A criança”, e “A criança e as docentes” reduziram de oito para cinco pesquisas. Já a categoria “Análise do ambiente escolar” permaneceu com o total de uma pesquisa. Evidencia-se, também, que a categoria “Criança, família e docentes” foi retirada, pois correspondia ao total de uma pesquisa no formato de artigo.

Este foi um percurso de exaustão dos dados, que obedece aos passos metodológicos presentes na abordagem de análise de conteúdo. Embora este nos pareça um caminho demasiadamente quantitativo, foi, ao mesmo tempo, essencial para que fizéssemos a escolha das obras mais significativas para a análise. Abaixo, elencamos algumas questões analisadas:

a) O/a pesquisador/a autodeclara seu pertencimento racial?

b) Os trabalhos selecionados abrangem todo o território nacional? O que isso nos diz?

c) Há mais teses ou dissertações produzidas sobre a temática?

d) Quais as maiores preocupações dos/das pesquisadores/as de acordo com as categorias que criamos?

e) O que é singular e específico entre as pesquisas?

f) Quais as similaridades entre as experiências vivenciadas nas obras analisadas?

No quadro abaixo, detalhamos alguns elementos das pesquisas analisadas para responder as questões acima elencadas:

Quadro 1 – Detalhamento das Teses e Dissertações em Categorias

Fonte: elaborado pela autora (2023).

O quadro 1 apresenta características a respeito dos trabalhos selecionados. A coluna “Categoria” ressalta, mais uma vez, a quantidade de trabalhos por categorias, constam, também, no gráfico 3. Na coluna “Autora”, justifica a terminologia usada no gênero feminino, uma vez que todas são pesquisadoras mulheres. Chama atenção as duas últimas colunas. Dos 14 trabalhos, apenas quatro são teses, e 10 são dissertações. Elencamos uma coluna referente às regiões as quais esses trabalhos foram feitos. Deste modo, identificamos quatro das cinco regiões do Brasil: dois trabalhos são da região Centro-oeste, três da região Nordeste, oito da região Sudeste e apenas um da região Sul. Acrescentamos que dos textos selecionados, apenas a tese de Silva (2016), no qual está em destaque em negrito, não está disponível na íntegra, na web.  A seguir, apresentamos as pesquisas por regiões:

Figura 2 – As pesquisas por Regiões

Fonte: elaborada pela autora (2023)

Considerarmos os cenários educativos em suas determinadas regiões permite elaborar um panorama geral de como a educação para as relações étnico-raciais são vivenciadas em cada uma delas. Nesse contexto, vale lembrar que nem todas as regiões do Brasil estão representadas por mais de um trabalho. A região Norte, por exemplo, não tem nenhuma produção. A região Sul, como visualizamos acima, tem apenas uma produção a respeito da temática.

CONSIDERAÇÕES

Para a compreensão do cenário bibliográfico a respeito das produções acadêmicas – empíricas – sobre as relações étnico-raciais na Educação Infantil se faz necessário contemplar um cenário amplo e complexo de análises. Sendo assim, essa pesquisa mostrou que existem 14 textos empíricos que tratam dos estudos para as relações étnico-raciais na Educação infantil (2009 a 2019), em que apenas quatro são teses, e 10 são dissertações. Além disso, identificamos quatro das cinco regiões do Brasil: dois trabalhos são da região Centro-oeste, três da região Nordeste, oito da região Sudeste e apenas um da região Sul.

Consideramos que a partir dos descritores “identidade”, “Educação Infantil” e “relações étnico-raciais” nos bancos de dados de pesquisas nacionais, é possível identificar e selecionar pesquisas que tratam da temática, de forma a compreender e estabelecer – a partir das análises – um cenário brasileiro no que se refere aos conteúdos das relações étnico-raciais na modalidade da Educação Infantil.

REFERÊNCIAS

NELSON, C; TREICHLER, P; GRASSBERG, L. Estudos Culturais: uma introdução. In: SILVA, T. T. (Org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 2018. p. 7-37.

HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Apicuri, 2016.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 4. ed. Lisboa: Edições70, 2010.

SILVA, Meire Helen Ferreira.  Leitura literária e protagonismo negro na escola: problematizando os conflitos étnico-raciais. 167 p.  Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2016.


3 O Pensamento Decolonial configura-se em estudos contemporâneos que analisam os períodos colonialismo e modernidade afim de compreender as dimensões: colonialidade do ser, saber e poder. Para além das questões teóricas, decolonizar pressupõe movimento e ação frente as mazelas que o período colonial impôs a sociedade ocidental, sobretudo na América Latina. Já a sociologia da infância é, também, corrente teórica, e situa a criança como produtora/produto da cultura e ser singular nesses contextos.

4 Utilizamos o termo “coleta de dados” por respeitarmos as conceituações e denominações de procedimentos para a realização de pesquisas na área acadêmica.

5 Disponível em: < https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/> Acesso em 02 de Set. de 2019.

6 Disponível em: < http://bdtd.ibict.br> Acesso em 02 de Set. de 2019.

7 Disponível em: < http://www.scielo.br> Acesso em 02 de Set. de 2019.

8 O presente texto não está disponível na íntegra nas plataformas acadêmicas, é possível a visualização apenas do resumo, portanto, não é possível visualizar o número da página.

APÊNDICES

APÊNDICE A – QUADRO 1 – CATEGORIA 1: EMPÍRICAS

Quadro 7 – Categoria 1: Empíricas

A categoria 2 “Não empíricas” refere-se à seleção que realizamos para identificar entre o número geral das pesquisas encontradas, aquelas que não são empíricas. Esta ação é necessária para que pudéssemos descartar, já de antemão, os textos que não são o foco de nossos objetivos neste texto. Estão presentes nesta categoria 3 dissertações ou teses e 3 artigos. Vale ressaltar que embora as obras dessa categoria não serão os objetos de análise, são textos muito bons e que, eventualmente, poderão ser citados como referências aqui. Abaixo, o quadro 2, que expõe quais as obras não empíricas foram encontradas:

APÊNDICE B – QUADRO 2 – CATEGORIA 2: NÃO EMPÍRICAS

Quadro 8 – Categoria 2: Não Empíricas

Fonte: elaborado pela autora.

Em meio a pesquisa, observamos também que entre os dados encontrados, algumas delas não correspondiam ao nível da educação infantil e até mesmo da educação formal, propriamente dita. Portanto, criamos no gráfico a categoria 3, que intitulada “Não corresponde ao nível da Educação Infantil e/ou formal”, apresenta 7 obras entre teses e dissertações e 1 artigo.

APÊNDICE C – CATEGORIA 3: NÃO CORRESPONDE AO NÍVEL DA EDUCAÇÃO INFANTIL E/OU FORMAL

Quadro 9 – Categoria 3: Não corresponde ao nível da educação infantil e/ou formal

Fonte: elaborado pela autora.

A última das categorias do gráfico 1 apresenta as obras que “Não tratam da temática”. Observa-se que nesta seleção, apenas dois (2) trabalhos entre as teses e dissertações foram identificados. Artigos com essa característica não foram encontrados.

APÊNDICE D – QUADRO 4 – CATEGORIA 4: NÃO TRATA DA TEMÁTICA

Quadro 10 – Categoria 4: Não trata da temática

Fonte: elaborado pela autora.


1Pedagoga e Mestre em Educação – UEM
E-mail: danisazevedo@outlook.com

2Doutora em Educação