PROCESS OF CREATING A TECHNOLOGICAL PARK AS NA INDUCER OF REGIONAL DEVELOPMENT : ANALYSIS OF THE CILLA TECH PARK EXPERIENCE
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10987861
Raquel Virmond Rauen Dalla Vecchia 1
Resumo
O debate sobre as políticas de desenvolvimento regional nas últimas décadas foi marcado pela crescente preocupação com a incorporação da inovação como principal motor do desenvolvimento regional. Dessa forma, as regiões buscam desenvolver o seu ecossistema de inovação, a partir de diversas estratégias. Resulta desse contexto, o surgimento de variados tipos de ambientes de inovação dentre os quais se destaca o parque tecnológico. A literatura mostra um consenso de que a principal função de um parque tecnológico é induzir o desenvolvimento econômico e social, por meio da inovação tecnológica, alcançada pela interação entre empresas, universidades e governos. Diante disso, este estudo teve como objetivo mostrar como foi o processo de criação do Ecossistema de Inovação de Guarapuava, utilizando como exemplo o parque tecnológico Cilla Tech Park (CTP), como mecanismo a impulsionar a criação de ambientes inovadores na promoção do desenvolvimento local e regional. Para a análise utilizouse do método descritivo, com a técnica de pesquisa bibliográfica e documental. Os resultados mostraram que o CTP foi constituído em 2020, com a participação de diversos atores. Para promover um ambiente de apoio a inovação, competividade, integração e sinergia dos empreendimentos na região de Guarapuava. O CTP conta com o Celeiro de Inovação e o Coworking, os quais realizaram diversas ações para atingir o seu propósito de fortalecer e disseminar a cultura do empreendedorismo inovador, estimulando o surgimento de startups, a competitividade e o aumento da produtividade de empresas e instituições cujas atividades estejam fundadas na pesquisa, no conhecimento e na inovação tecnológica dinamizando o desenvolvimento local e regional.
Palavras-chave: Inovação. Parque Tecnológico. Desenvolvimento.
1 INTRODUÇÃO
A transformação da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento ocorreu principalmente por conta das inovações tecnológicas e a facilidade do acesso à informação. De tal forma que as mudanças tecnológicas dos últimos anos são os fatores que mais impactam as atividades econômicas. Diante deste cenário, o grande desafio das empresas é interagir com esse universo inovador e utilizá-lo como inspiração, para torná-las competitiva no mercado. Entretanto, o processo de inovação nunca é feito apenas por um único ator, envolve parcerias de diversos setores e apoio de muitos lados, principalmente, quando o tema é tecnologia.
A ideia de difundir o conhecimento na sociedade, fez com que algumas inciativas procurassem reunir um conjunto de atores capazes de intensificar os estudos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para ampliar os avanços científicos e tecnológicos e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento regional.
A iniciativa foi replicada para todo o mundo e hoje há diversos empreendimentos denominados parques tecnológicos. No Brasil teve início na década de 1980 com iniciativa do CNPq (PEREIRA ET ALL, 2016)
Assim, os parques tecnológicos, aceleradoras e incubadoras têm papel fundamental além da construção do ecossistema de inovação brasileiro, o de ampliar e fortalecer nas universidades, a compreensão sobre a necessidade de aproximação entre o conhecimento acadêmico, as empresas e os mercados, o que proporciona um desempenho mais ativo dessas universidades no desenvolvimento econômico de suas regiões.
Diante da relevância deste modelo, atualmente, no Brasil, já existem mecanismos legais para estreitar cada vez mais os laços entre o público e o privado. É necessário fazer com que o conhecimento que é gerado nas universidades e nos institutos de tecnologia e ciência possa ser adquirido por empresas e receber aportes públicos e privados para se desenvolverem.
Porém, esses ambientes inovadores também são capazes de estimular a mudança na cultura empresarial, com a conscientização dos empresários sobre a importância de estarem sempre conectados e de portas abertas à inovação.
Nesta perspectiva, parques tecnológicos, podem ser compreendidos como uma organização intermediária entre universidade, indústria e governo, equilibrando as aspirações das partes interessadase da sociedade para o desenvolvimento sustentável (FARIA et all, 2021).
Serra et all (2021) complementam argumentando que se a inovação contribui para o aumento da produtividade, a geração de empregos e a melhoria nos padrões de vida, as regiões, por sua vez, desempenham um papel decisivo neste processo na medida em que são nelas que a capacidade inovadora é forjada.
Partindo destas premissas, este estuda busca mostrar que este novo paradigma de inovação representado pelos parques tecnológicos já se encontra em desenvolvimento e tem contribuído para a retomada da capacidade de estímulo ao desenvolvimento regional.
No Brasil dados recentes de 2021 foram identificadas e cadastradas no MCTIInovaData-Br, 93 iniciativas de parques tecnológicos, sendo 58 parques tecnológicos em estágio de operação, 13 em estágio de implantação e 22 em estágio de planejamento (FARIA ET ALL, 2021).
No Paraná, nos últimos levantamentos foram identificadas 18 iniciativas de parques tecnológicos, em diversas fases de maturidade, entre eles o Cilla Tech Park (CTP), Parque Tecnológico localizado na Cidade dos Lagos em Guarapuava, (SETI, 2023).
Sabe-se que o planejamento, implantação e operação de um parque tecnológico é complexo e envolve diversos atores, interesses e objetivos distintos. A questão a se responder será investigar como se deu a construção de um ecossistema de inovação, em especial um parque tecnológico, como mecanismo a impulsionar a criação de ambientes inovadores na promoção do desenvolvimento local e regional.
Diante disso, este estudo teve como objetivo mostrar como foi a criação do Ecossistema de Inovação de Guarapuava no estado do Paraná, em especial o parque tecnológico Cilla Park Tech (CTP) bem como, analisar como o conjunto de estratégias e ações do CTP poderão impactar no desenvolvimento regional.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Inovação e Desenvolvimento Econômico
Na concepção de Schumpeter a inovação é o fator chave para o desenvolvimento econômico de um país, é ela que promove o avanço e as transformações estruturais no processo produtivo, sendo o principal mecanismo pelo qual o capitalismo se desenvolve (PAIVA, ET ALL, 2017).
Com intuito de conceituar inovação, remetendo-se a Schumpeter (1997), que para o autor, a inovação pode ocorrer quando há novos produtos; novos mercados; novos processos; diferenciação; novas fontes de fornecimento de matérias-primas; novos mecanismos de distribuição e novos empreendedores. Sendo que, toda inovação parte do princípio de ruptura, ou seja, rompe com o padrão existente até então.
Dessa forma, de acordo com Schumpeter (1997) a inovação quebra ciclos e gera novas tecnologias, que ocasiona em desenvolvimento, causando diversos outros benefícios à população.
Para o autor inovação significa fazer a mesma coisa de forma diferente, criando novas combinações, com o objetivo de alcançar uma solução melhorada, diferenciada, melhor do que as já existentes. Nesse contexto, os novos produtos tornam obsoletas as empresas que insistem em produzir de maneira antiga e não se adaptam as mudanças. Schumpeter denomina esse processo de destruição criadora, é um conceito no qual descrevia uma mudança no perfil econômico, onde os empreendimentos inovadores destruíam empresas e modelos de negócios antigos e ultrapassados (SCHUMPETER, 1997).
Essa dinâmica promove um permanente estado de inovação, substituição de produtos e criação de novos hábitos de consumo, exaltando as empreendedores e firmas inovadoras, ao mesmo tempo em que cria, destrói – produzindo uma contínua mutação industrial “que incessantemente revoluciona a estrutura econômica. (FUCK E VILLHA, 2012)
Amaral (2015) analisa a interrelação dos conceitos de ciência, tecnologia e inovação, ressaltando duas constatações. Em primeiro lugar, o conhecimento científico adquiriu um papel fundamental no processo de desenvolvimento de novas tecnologias: a ciência, então, constituiuse como base para as novas tecnologias. Em segundo lugar, o processo de inovação tecnológica, resultado do avanço do conhecimento científico-tecnológico, inseriu-se no sistema socioeconômico e passou a ser justificado pelo seu valor econômico. Desde então, a importância da articulação entre as esferas científica e tecnológica, de maneira a impulsionar o processo de inovação, passou a ser reconhecida.
Portanto, reforça-se a perspectiva de Schumpeter desta interrelação, em que afirmava que a inovação seria a inserção comercial de um novo produto ou uma nova combinação de algo já existente, criados a partir de uma invenção que por sua vez pertence ao campo da ciência e tecnologia” (SCHUMPETER, 1997).
Buscando uma definição legal para inovação a Lei no 13.243/2016 (Marco de Ciência, Tecnologia e Inovação), destaca em seu em seu Art. 2o, inciso IV
IV – inovação: introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo e social que resulte em novos produtos, serviços ou processos ou que compreenda a agregação de novas funcionalidades ou características a produto, serviço ou processo já existente que possa resultar em melhorias e em efetivo ganho de qualidade ou desempenho. (BRASIL, 2016)
Ao se analisar a definição proposta pelo Marco de Ciência, Tecnologia e Inovação, percebe-se uma preocupação em adotar uma abordagem ampla do tema, o que possibilita entender como inovação um conjunto extenso de políticas, programas, projetos e ações.
Assim, o desenvolvimento da pesquisa científica e da inovação tecnológica é atualmente um dos pilares para assegurar o desenvolvimento econômico dos países. É crescente a preocupação com a qualidade do crescimento econômico das nações diante do intenso processo de inovação por que passam as diversas cadeias produtivas (AMARAL, 2015).
2.2 Ambientes Inovadores como fator de Desenvolvimento Regional
Schumpeter (1997) atribuiu a inovação e ao empresário um papel fundamental no processo do desenvolvimento. Essa questão está caracterizada nos dias de hoje como prioridade nas agendas políticas dos responsáveis pelo desenvolvimento local e regional. Neste sentido, o autor afirma que para que haja inovação é fundamental que haja um ambiente propicio e favorável, que depende da cultura organizacional, liderança, criatividade e leis que regulamentem o mercado.
O debate sobre as políticas de desenvolvimento regional nas últimas décadas foi marcado pela crescente preocupação com a incorporação da inovação como principal motor do desenvolvimento regional.
Neste contexto, as regiões são consideradas locais fundamentais de produção e inovação do conhecimento, onde a vantagem competitiva regional baseia-se na capacidade de atrair oportunidades de desenvolvimento e captar empresas de alta tecnologia e talentos, garantindo uma maior criação de riqueza e empregabilidade (LOPES; FARINHA, 2018).
Se a inovação contribui para o aumento da produtividade, a geração de empregos e a melhoria nos padrões de vida, as regiões, por sua vez, desempenham um papel decisivo neste processo na medida em que são nelas que a capacidade inovadora é forjada. Neste sentido, regiões inovadoras são mais resistentes e flexíveis às turbulências econômicas e, ao mesmo tempo, mais hábeis em promover um crescimento econômico sustentado (SERRA, ET ALL,2021).
Com esta perspectiva, Fochezatto e Tartaruga (2015) ressaltam que os Sistemas de Inovação Regional enfatizam a inovação e a tecnologia como a forma mais adequada para se promover o desenvolvimento regional e local. Na perspectiva de que a criação de ambientes inovadores possibilita o enraizamento e atualização permanente das atividades econômicas na região.
Os autores complementam, que a ênfase na inovação e tecnologia é tornar as regiões mais competitivas buscando autonomia, tornando-as menos vulneráveis a choques externos, como, por exemplo, o de desintegração vertical de grandes cadeias produtivas. A reprodução do ambiente inovador requer que haja competição, cooperação e interação. Por isso, a importância da constituição de redes de cooperação, o estabelecimento de parcerias entre os setores produtivos, governo, os institutos de pesquisas e as universidades.
Portanto, há um crescente entendimento de que as regiões podem para criar trajetórias e caminhos de desenvolvimento econômico a partir de políticas e estratégias para promover um sistema de inovação (NIETH et al., 2018).
A constituição de sistema de inovação, de acordo com Cario et all (2017), pode ser composta por uma rede de instituições dos setores público e privado, cujas atividades voltamse para interação, criação, alteração, importação e difusão de novas tecnologias. Figuram nesta rede: universidades, institutos de pesquisa e centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) agências governamentais de fomento e financiamento; empresas públicas e privadas, associações empresariais, organizações não-governamentais, usuários e clientes no mercado, dentre outros.
Enfim, um sistema inovativo constitui-se de um conjunto de atores que se voltam para a capacitação técnica, que estimula a inovação em seu sentido amplo como produto, processo organizacional, etc, com o objetivo de promover o desenvolvimento local e regional. Dessa forma, as regiões buscam desenvolver o seu ecossistema de inovação, a partir de diversas estratégias.
2.3 Ecossistema de Inovação
A inovação não se faz no vácuo, mas é influenciada por distintos elementos do ambiente em que a organização está imersa, a este ambiente dá-se o nome de ecossistema de inovação.
Ao abordar o conceito de ecossistema de inovação, Hamad et al. (2015) relatam que o mesmo leva a reflexões e comparações com o conceito de ecossistema biológico. Para os autores os ecossistemas biológicos referem-se a conjuntos complexos de relacionamentos entre os recursos vivos de uma área, que objetivam manter um estado de equilíbrio sustentável. Assim, da mesma forma que em um ecossistema biológico, cada elemento, também chamado de indivíduo, tem seu próprio nicho e um papel a ser desempenhado no conjunto do ecossistema de inovação. Os ecossistemas de inovação, por sua vez, são responsáveis por modelar a economia, promovendo a viabilização do desenvolvimento da inovação, com repercussão social.
Os ecossistemas de inovação se constituem num conjunto de indivíduos, comunidades, organizações, recursos materiais, normas e políticas por meio de universidades, governo, institutos de pesquisa, laboratórios, pequenas e grandes empresas e os mercados financeiros numa determinada região, que trabalham de modo coletivo a fim de permitir os fluxos de conhecimento, amparando o desenvolvimento tecnológico e gerando inovação para o mercado (WESSNER, 2007)
O comportamento que se espera de um ecossistema de inovação, de acordo com Spinosa et all (2015) Apud Teixeira et all ( 2017) é o empreendedorismo e o seu resultado deve ser a inovação, sendo que ambos são essenciais para enfrentar a competitividade na economia de conhecimento global. Entendem que os ecossistemas de inovação como ativos de competitividade baseados na economia do conhecimento, total ou parcialmente integrados em espaços urbanos, são capazes de promover cooperação regional e o desenvolvimento socioeconômico.
Os autores ressaltam ainda que, nas regiões que resolveram induzir os ecossistemas de inovação, a atratividade para novos negócios e investimentos tem aumentando de modo significativo. Com isso a criação de um ambiente dinâmico gerador de riqueza e emprego, expande-se a capacidade de atração e retenção de talentos.
Teixeira et all (2017) compreendem que os ecossistemas de inovação estão ganhando cada vez mais relevância, proporcionando a interação entre os atores do governo, da academia, da indústria e da comunidade em geral, a partir do desenvolvimento de tecnologias e novos conhecimentos ou de uma determinada localidade geográfica. Essa interação contribui para que se desenvolvam plataformas de colaboração, prospecção de tecnologias, estabelecimento de alianças estratégicas entre os atores, além de outras ações que buscam a convergência de investimentos para o desenvolvimento de tecnologias, produtos e serviços que elevam o potencial econômico da região.
Portanto, os ecossistemas de inovação resultam em um conjunto dinâmico de organizações que fornecem todo o tipo de apoio e recursos de que empresas de setores tecnológicos necessitam para a criação de seus produtos por meio de processos e manufatura de produtos inovadores que atendam às demandas do mercado, estabelecidos ou emergentes. E ainda o aumento de estratégias voltadas à pesquisa, desenvolvimento, aplicação e transferência do conhecimento gerado, contribuindo para o desenvolvimento econômico regional de modo sustentável. (GIMENEZ, ET ALL, 2015)
Assim, a ideia de ambientes promotores de inovação surgiu no Brasil com o Decreto no 9.283/2018, que regulamenta a Lei no 13.243/2016 (Marco de Ciência, Tecnologia e Inovação), e tem como uma de suas dimensões os Ecossistemas de Inovação conceituado em seu Art. 2o, inciso II como:
ecossistemas de inovação – espaços que agregam infraestrutura e arranjos institucionais e culturais, que atraem empreendedores e recursos financeiros, constituem lugares que potencializam o desenvolvimento da sociedade do conhecimento e compreendem, entre outros, parques científicos e tecnológicos, cidades inteligentes, distritos de inovação e polos tecnológicos (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2018, ART. 2O, INCISO II).
Visando fomentar o surgimento e a consolidação de ecossistemas de inovação e de mecanismos de geração de empreendimentos inovadores no País, responsáveis pela criação, atração, aceleração e pelo desenvolvimento de empreendimentos inovadores em todo o território nacional. Foi instituída a Portaria nº 6.762, de 17 de dezembro de 2019, que estabeleceu o Programa Nacional de Apoio aos Ambientes Inovadores (PNI) (FARIA ET ALL, 2021)
Resulta desse contexto, o surgimento de variados tipos de ambientes de inovação dentre os quais se destaca o parque tecnológico, que têm sido percebidos como instrumentos valiosos principalmente para a promoção do desenvolvimento econômico regional.
2.4 Parques Tecnológicos
Na sociedade do conhecimento como destacam Audy e Piqué (2016) surgiram novos arranjos e ambientes de desenvolvimento como os ecossistemas de inovações, que substituíram os antigos distritos industriais e passaram a protagonizar o processo de desenvolvimento econômico e social e de geração de emprego e renda.
Exemplo dessa transformação foi a criação do primeiro Parque Científico e Tecnológico (PCT), em Stanford, nos Estados Unidos, em 1951. A iniciativa, fruto da relação entre uma grande universidade de pesquisa americana, empresas nascentes de alta de tecnologia – geradas pela proximidade com o ambiente acadêmico – e pessoal altamente qualificado, com novas ideias, espírito empreendedor e capital, dando início ao que hoje se conhece como o Vale do Silício e foi replicada de diferentes formas pelo mundo (AUDY E PIQUÉ, 2016).
Diante disso os Parques Tecnológicos se apresentam no cenário mundial com o propósito de auxiliar as empresas na transferência de tecnologia e a compartilharem cada vez mais os conhecimentos científicos adquiridos (PEREIRA ET ALL, 2016)
Assim, como afirmam Mello e Serra (2022) os parques tecnológicos ganharam reputação internacional, espalharam-se pelos continentes e tornaram-se, em função do seu potencial, instrumentos de política nacional e regional ao redor do mundo.
Faria et all (2021) destacam que apesar de diferentes tipologias, modelos jurídicos e mecanismos de governança há um consenso de que a principal função de um parque tecnológico é induzir o desenvolvimento econômico e social, por meio da inovação tecnológica, alcançada pela interação entre empresas, universidades e governos. Desta forma, os parques tecnológicos são utilizados como instrumentos pelos governos de vários países para promover o desenvolvimento de seus sistemas de inovação.
Neste contexto, com o avanço das iniciativas de parques tecnológicos no mundo, o Brasil também aparece no cenário dos parques tecnológicos a partir da década de 1980, quando o tema passou a ser tratado a partir da criação de um programa do CNPq, em 1984.
A falta de uma cultura voltada para a inovação e o baixo número de empreendimentos inovadores existentes na época fizeram que os primeiros projetos de parques tecnológicos acabassem dando origem às primeiras incubadoras de empresas no Brasil (…) A partir de 2000 os Parques Tecnológicos voltaram a se fortalecer como alternativa para promoção do desenvolvimento tecnológico, econômico e social. (ANPROTEC, 2007, p. 6)
De acordo com Audy e Piqué ( 2016) o conceito mais utilizado para entender os parques é o da Hélice Tripla, cunhado por Henry Etzkowitz, que prevê, para seu funcionamento ideal, a articulação entre três atores: indústria, governo e universidade. Por meio desse modelo, identificam-se as relações entre esses três atores. A primeira hélice tem foco nas relações e interações entre a universidade e os ambientes científicos, a segunda é composta pelo meio empresarial e a terceira representa os diferentes níveis de governo. A ideia central em torno da qual o modelo da hélice tríplice se desenvolve é de que a interação entre universidade empresa e governo é a chave para estimular a inovação na sociedade baseada no conhecimento.
No Brasil a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC) adotou a seguinte definição:
Um parque tecnológico é um complexo produtivo industrial e de serviços de base científico tecnológica, planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros de P&D vinculados ao parque. Trata-se de um empreendimento promotor da cultura da inovação, da competitividade, do aumento da capacitação empresarial, fundamentado na transferência de conhecimento e tecnologia, com o objetivo de incrementar a produção de riqueza de uma região (ANPROTEC, 2015).
A ANPROTEC (2015) ainda destaca, que os parques tecnológicos beneficiam, não só empresas localizadas neles, mas a região como um todo, levando em conta a cooperação entre empresas e instituições de ciência e tecnologia, as empresas recebem um alto valor agregado com o fluxo de conhecimento e tecnologia que possibilitam a criação de oportunidades de empregos e aumento da cultura empreendedora, além de proporcionar a competitividade da região onde estão localizados.
Para Diniz, Santos e Crocco (2006), parque tecnológico é um sistema institucional planejado, que pode ser tanto no âmbito urbano ou interurbano, que concentram empreendimentos intensivos em tecnologia em parceria com universidades, instituições de pesquisa, outras empresas e instituições para gerar um ambiente que os autores chamam de “fertilização cruzada” para o aprofundamento do conhecimento, que podem contribuir para a construção de regiões de aprendizagem.
Gaino e Pamplona (2014) tem a percepção de que os parques tecnológicos são mais do que instrumentos de promoção da inovação e empreendedorismo. Os parques tecnológicos fazem parte de um conjunto de políticas que servem para ampliar o desenvolvimento territorial de atividades econômicas baseadas no conhecimento, constituindo-se em um instrumento do sistema local de inovação.
Neste sentido os Parques Tecnológicos têm como principal objetivo o desenvolvimento tecnológico regional, ou seja, a “dinamização da atividade empresarial caracterizada pela geração e repasse, uso e aplicação intensiva de tecnologias voltadas para o desenvolvimento de municípios e regiões” (ANPROTEC, 2002, p. 44).
1.4.1 Parques Tecnológicos no Brasil
Para compreender o panorama nacional dos Parques Tecnológicos do Brasil por meio de dados e referências do ambiente de inovação e ações de base tecnológica no país foi utilizado o Estudo sobre os sistemas de gestão e governança dos parques tecnológicos do Brasil à luz do modelo da hélice tríplice, elaborado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), com o apoio técnico e metodológico do Núcleo de Tecnologias de Gestão (NTG), grupo de pesquisa e extensão tecnológica da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
De acordo com Farias et all (2021) foram identificados e cadastrados em 2021 no MCTI-InovaData-Br, 93 iniciativas de parques tecnológicos no Brasil.
Sendo 58 parques tecnológicos em estágio de operação, 13 em estágio de implantação e 22 em estágio de planejamento. Desses, 71 parques tecnológicos efetivamente confirmaram as suas Informações Gerais na Plataforma, sendo 55 parques em operação, 8 parques em implantação e 8 parques em planejamento.(Farias et all, 2021 p.18)
Verificou-se que 79% das iniciativas de parques tecnológicos no Brasil, estão localizadas nas regiões sul e sudeste, o que pode ser explicado pelas condições econômicas destas regiões e pela presença de um forte sistema científico e tecnológico, que é o principal fator de sucesso para parques tecnológicos, conforme a literatura.
Foi observado que os parques tecnológicos no Brasil são, em sua maioria parques jovens, apenas 20% dos parques, em média, têm mais de 14 anos de operação, e 65% dos parques têm menos de 10 anos de operação. Os dados do MCTI -InovaData-Br de 2021 apontam que a média de tempo (anos) entre a fase de planejamento e operação do parque tecnológico é de 7 anos. Já a média entre planejamento e implantação é de 2 anos. O longo tempo entre a fase de planejamento e a fase operação do parque pode ser explicado pela necessidade de alto investimento, bem como pelos prazos relacionados a elaboração de projetos, realização de obras e obtenção de licenças e alvarás (FARIAS ETA ALL, 2021).
Os dados revelaram que apenas 3 parques tecnológicos em operação possuíam mais de 100 empresa, os demais possuem, em média, 35 empresas por parque. No início de 2021, verificou-se que 1.993 empresas e organizações estavam vinculadas aos parques tecnológicos em operação. O faturamento estimado em 2021 dos 58 parques em operação foi de R$3.758290.317,41 com 43.070. empregos estimados.
Entre as 20 principais áreas de atuação identificadas pelo estudo, dos parques tecnológicos em operação destaca-se a Tecnologia da Informação, Biotecnologia, Energia, Meio Ambiente, Agronegócio e Saúde Humana indicando que os parques estão se abrindo para novas formas de empreendedorismo de base tecnológica (FARIAS ETA ALL, 2021). De acordo com a pesquisa os parques tecnológicos em operação apresentaram uma diversidade quanto a sua natureza jurídica, com destaque para Fundação (34%), Associação (20%) e Autarquia (16%). Em qualquer um dos modelos jurídicos apresentados, é necessária a presença de conselhos para a tomada de decisão colegiada, ratificando a natureza dos parques como organizações intermediárias do modelo da Hélice tríplice.
Um parque tecnológico como afirmam Farias et all (2021) pode abrigar diferentes tipos de empreendimentos como centros de pesquisa, incubadoras de empresas, aceleradoras, entidades de apoio ao empreendedorismo, instituições de ensino, dentre outros. Além disso os parques tecnológicos em operação no Brasil apresentaram uma diversidade de programas, que incluem: Empresa Residente, Empresa Associada, Pré-Incubação, Incubação de Empresas e Empresa Graduada e Aceleração, que são nomenclaturas usuais no movimento de empreendedorismo inovador no Brasil. Esses programas refletem os esforços dos parques na criação de novas empresas.
Para se compreender as características de cada empreendimento os autores apresentaram as seguintes definições: empresa associada é uma empresa formalmente vinculada ao parque tecnológico e que recebe seus serviços para desenvolver novos negócios e produtos inovadores de base tecnológica, assim como alavancar a sua competitividade. Empresa residente recebe os mesmos serviços de uma empresa associada, porém está instalada em área do parque tecnológico. Uma empresa incubada é um empreendimento que está passando pelo processo de incubação, isto é, que está recebendo suporte de uma incubadora do parque, para o seu desenvolvimento. A empresa pode ser incubada residente (quando ocupa um espaço dentro do prédio do parque) ou incubada não residente (caso em que tem sua própria sede, mas recebe suporte da incubadora). Uma empresa graduada é aquela que passou pelo processo de incubação, ou seja, que recebeu suporte de uma incubadora do parque e já possui competências suficientes para se desenvolver sozinha e não reside no espaço físico do parque. Todas essas empresas, nesse estudo, são consideradas empresas vinculadas ao parque tecnológico. Os parques tecnológicos do Brasil, revelaram que possuem um grande potencial como instrumentos de transformação de conhecimentos em produtos, processos e serviços de alto valor agregado, de interesse da sociedade! É preciso ter consciência de que os parques tecnológicos são empreendimento complexos, com resultados efetivos à longo prazo, e são estratégicos como instrumentos de política pública de tecnologia e inovação para o desenvolvimento regional (FARIAS ET ALL, 2021)
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa se caracteriza como qualitativa, descritiva e exploratória, sendo desenvolvida através de um estudo de caso. A proposta desta pesquisa está fundamentada na coleta de informações diversas que estejam relacionadas com a Teoria da Inovação que englobam assuntos como Inovação e Desenvolvimento Econômico, Ambientes Inovadores como fator de Desenvolvimento Regional, Ecossistemas de Inovação e mais precisamente os Parques Tecnológicos como indutor do desenvolvimento local e regional.
A pesquisa foi realizada em dois momentos: o primeiro, foi a investigação de dados e elementos para a construção textual por meio da revisão bibliográfica utilizando livros, teses e artigos, buscando conceituar inovação e suas relações com o desenvolvimento, ecossistemas de inovação e parques tecnológicos. Utilizou-se outras fontes documentais como: revistas e estudos dos sites do Ministérios de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, MCTIC, da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores, ANPROTEC e Sistema Estadual de Parques Tecnológicos do Paraná, SEPARTEC. Com objetivo de analisar a literatura existente sobre as discussões atuais, teórico e empírico e como os autores analisam a abordagem de ecossistemas regionais de inovação, para servir como uma base para as regiões desenvolverem seus ecossistemas.
O segundo momento foi o estudo de caso do Cilla Tech Park (CTP), Parque Tecnológico localizado no Bairro Cidade dos Lagos em Guarapuava no estado do PR, abordando suaconcepção, planejamento, implantação e operação.
A coleta de dados para a realização do estudo de caso foi baseada em inúmeras fontes. Assim, no presente estudo a pesquisa documental foi fundamentada na análise de documentos e outros textos a respeito de informações sobre o perfil socioeconômico de Guarapuava divulgadas através do material Caderno dos Municípios do IPARDES e dados do IBGE..
Para mostrar a concepção, planejamento e operação do Cilla Tech Park (CTP), foram utilizados o Relatório do Planejamento do Ecossistema de Inovação de Guarapuava elaborado pela Fundação CERTI , que aplicou metodologias e ferramentas desenvolvidos pela instituição para apoiar a estruturação de habitats de inovação e a identificação dos setores estratégicos; radar da inovação para cada setor estratégico e plano de ação.
Buscou-se na legislação, as leis e decretos relacionados às atividades científicas, tecnológicas, de inovação, e instalação de parques tecnológicos do Município de Guarapuava. Documentos públicos oficiais disponibilizado no site do Cilla Tech Park entre eles Ata, Estatuto, Regimento Interno, os Relatórios semestrais do CTP e do Celeiro de Inovação do CTP. Para finalmente analisar como o conjunto de estratégias e ações da CTP poderão impactar no desenvolvimento local e regional de Guarapuava.
Para examinar os dados coletados, segundo procedimentos qualitativos, sistemático e de descrição, foram utilizadas a técnica de análise de conteúdo
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Perfil Socioeconômico de Guarapuava
Guarapuava localizada no centro sul do estado Paraná, faz parte da a região geográfica intermediaria de Guarapuava contendo dezenove municípios: Campina do Simão, Candói, Cantagalo, Espigão Alto do Iguaçu, Foz do Jordão, Goioxim, Guarapuava, Inácio Martins, Laranjeiras do Sul, Marquinho, Nova Laranjeiras, Pinhão, Porto Barreiro, Quedas do Iguaçu, Reserva do Iguaçu, Rio Bonito do Iguaçu, Turvo e Virmond. Ocupa uma área territorial de 13.851,158 km2, ocupando 7,0% do território paranaense. Sendo a maioria dos municípios de pequeno porte e tem na agropecuária a atividade com maior participação na estrutura produtiva (IBGE, 2017)
Por possuir a maior população da região, o município contou com uma população em 2022 de acordo com o IBGE/IPARDES (2024) de 182.093 o equivalente a 53,39% da população da região. Guarapuava se destaca como município polo, com uma economia diversificada com ênfase no segmento agropecuário, madeireiro, produção de grãos e na agroindústria, além de oferecer serviços de saúde de média e alta complexidade é um polo na educação, por haver concentração de muitas universidades e a geração do maior índice de emprego e renda dentre os municípios da região, tornando-se responsável pelo fornecimento de bens e serviços aos mesmos.
Para melhor analisar a dinâmica do crescimento econômico de Guarapuava nos últimos anos, utilizaremos como referência os dados do PIB e PIB per capita do IBGE (2023) conforme a tabela 01 e 02 a seguir.
Tabela 01 Evolução do PIB de Guarapuava e do Paraná anos 2011 a 2020.
Os dados mostraram que no período de 10 anos o PIB do Município cresceu 158% uma evolução superior ao do Estado que no mesmo período foi de 89%. Percebe-se o dinamismo da economia do Município em superar seu desempenho ano a ano e também em relação ao Estado aumentando sua participação.
Quanto ao PIB per capita este seguiu a mesma tendência do PIB, conforme pode ser observado na Tabela 02.
Tabela 02 Evolução do PIB per capita de Guarapuava e do Paraná anos 2011 a 2020.
Os dados do PIB per capita do Município mostrando um crescimento de 139,4% no período de 2011 a 2020 revelando uma evolução maior que o PIB per capita do Estado que foi de 74,6%, embora ainda seja inferior ao do estado em 3,06%. Este resultado é reflexo do crescimento da economia demonstrado pela evolução do PIB. Em relação à média salarial mensal dos trabalhadores formais em 2021 foi de 2,6 salários mínimo em 2020, esta foi de dois e meio salários (IBGE, 2023).
O dinamismo da economia de Guarapuava mostrou ser uma tendência sendo que o PIB a preço corrente no Município em 2021 foi de R$ 8.309.342,32 com um crescimento em torno de 10% em relação ao ano anterior. Sendo R$ 3.818.259,870 do setor de serviços, R$1.708.289,066 da indústria, R$ 770.156,840 da agropecuária, administração pública 872.349,628 e impostos 1.140.286,919. A desagregação do PIB demonstrou que o setor de serviços foi o que apresentou a maior participação na estrutura produtiva do município. Estes dados se confirmam, ao se analisar a participação do setor no total de números de estabelecimentos, que representou 71,32% e no número de empregos com participação de 59,62% do pessoal ocupado neste setor. Em relação a participação de Guarapuava no PIB da região, sua representatividade foi 55,55% (IPARDES/IBGE, 2024).
PIB per capita, de 2021 de acordo com IPARDES/IBGE (2024) foi de R$45.220,00, mostrando que houve também um crescimento em relação a 2020 de 8,5%. Apresentando-se maior que a média da região em 7,03% que foi de R$42.038,00.
As informações apresentadas retratam um Município preparado para se adequar ao paradigma da inovação. Pois possui as condições imprescindíveis a essa transformação como a infraestrutura material e humana necessárias para produzirem sinergia na geração de conhecimento para que este processo de criação de um ambiente de inovação seja exitoso.
Diante deste cenário foi concebido a constituição de Ecossistema de Inovação em Guarapuava, que contribui para a instalação do parque tecnológico que será responsável pelo sistema de integração local de inovação como uma política estratégica para o desenvolvimento regional e local.
4.2 Concepção do Ecossistema de Inovação de Guarapuava[1]
Com o desafio de possibilitar a convergência e interação entre os interesses dos diversos atores do município sejam eles público e privado, as lideranças locais, a academia e o poder público municipal assumem o protagonismo da concepção de um Ecossistema de Inovação Guarapuava, com objetivo de promover a inovação e o desenvolvimento socioeconômico do município e região.
4.2.1 Planejamento
Para a elaboração do planejamento do ecossistema de inovação de Guarapuava, a Prefeitura no ano de 2017 buscou parcerias com o Sebrae e a Fundação CERTI aplicando as metodologias e ferramentas desenvolvidos pela Fundação, para elaboração de um diagnóstico do Município e Região de sua vocação e potencialidade para a implantação de um Ecossistema de Inovação. Na análise foram considerados os 19 municípios que compõem a Região.
O Planejamento do Ecossistema de Inovação compreendeu três etapas sendo elas: identificação dos setores estratégicos e mapa de atores, radar da inovação e plano de ação cada uma destas etapas foi apresentada e debatida nos três Workshops, com a participação das lideranças locais para integrá-las no planejamento.
Na primeira etapa, que foi a identificação dos setores estratégicos para o município e região do entorno, utilizou-se a metodologia “Delta Opportunity”, que relaciona as competências produtivas, as potencialidades científico-tecnológicas e as tendências. A partir do cruzamento das três vertentes (vocações, potencialidades e tendências) são definidos os setores estratégicos prioritários.
4.2.1.1 Identificação dos setores prioritários:
Nesta primeira etapa foi feita uma análise das vocações locais e das potencialidades da região em termos de pesquisa científica e tecnológica, alinhadas às tendências mundiais. Dessa forma, identificaram-se as oportunidades de atuação em termos de setores estratégicos com potencial de inovação. Com a identificação dos setores estratégicos, fez-se um mapa de atores que podem apoiar no fortalecimento do Ecossistema.
Para a identificação da vocação(competências produtivas instaladas), pesquisaram-se as principais aglomerações produtivas, quantificando-as em termos de número de empresas, número de empregos, índices de especialização, quociente locacional e valor adicionado fiscal. Para efeitos desse levantamento, realizou-se a análise dos códigos de atividades econômicas da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).
Os setores econômicos de maior representatividade no município de Guarapuava foram o agronegócio; madeira, papel e celulose; transporte; borracha e plástico e construção civil.
4.2.1.2 Avaliação das potencialidades
O segundo item da metodologia Delta Opportunity se dá pela avaliação das potencialidades de ciência, tecnologia e inovação de uma região, as quais são determinadas pela base científica existente. O potencial de Guarapuava foi avaliado a partir dos cursos de graduação, pós-graduação (mestrado e doutorado), grupos e linhas de pesquisa e pela produtividade dos pesquisadores. Para o levantamento de informações, foram utilizadas as bases de dados do CNPq (2015), CAPES (2015), MEC e INEP (2015) e sites de das sete instituições de ensino superior da Região UNICENTRO, Faculdade Campo Real; a Faculdade Guairacá; Faculdades Guarapuava, a UFFS, a FACEOPAR e a UTFPR
Esse estudo objetiva identificar as áreas que são oportunidades de futuro para o município. Logo, sob essa ótica, priorizou-se a análise das áreas com maior potencial científicotecnológico. Guarapuava apresenta como panorama geral 84 cursos de graduação com mais de 14 mil alunos matriculados e dois mil alunos concluintes. Sendo desses, 35 cursos de graduação em áreas tecnológicas com mais de seis mil alunos matriculados e 954 concluintes (INEP, 2015).
Além disso, o município possui 15 cursos de pós-graduação, sendo 10 cursos de mestrado, dois cursos de mestrado profissional e três cursos de doutorado. Desses cursos, oito são relacionados às áreas tecnológicas e estão distribuídos em seis cursos de mestrado e dois cursos de doutorado.
Por fim, o município possui 189 grupos de pesquisa, 676 linhas de pesquisa e 14 pesquisadores com bolsa de produtividade do CNPq. Em áreas tecnológicas, foram identificados 81 grupos de pesquisa, 367 linhas de pesquisa e 14 pesquisadores com bolsa de produtividade do CNPq.
Algumas das tecnologias e temáticas de atuação das linhas de pesquisa, como por exemplo, produção e qualidade de alimentos, bioquímica, estudos de solos e veterinária, estão diretamente relacionados às vocações econômicas da região. Já outras temáticas que tiveram destaque nas linhas de pesquisa, como por exemplo, atenção à saúde humana, matemática aplicada, biotecnologia e fármacos e medicamentos, não estão relacionadas diretamente às principais vocações econômicas do estado, representando assim, possibilidade de desenvolvimento de novas vocações econômicas.
As áreas de potencial científico-tecnológicas identificadas na região de Guarapuava são: alimentos; ciências agrárias; engenharias; química; ciências farmacêuticas e TIC. Já as áreas de potencial em engenharias e ciências farmacêuticas não estão relacionadas diretamente às principais vocações econômicas identificadas na região, representando dessa forma, uma possibilidade de desenvolvimento de novas vocações econômicas. Dessa forma, a academia está parcialmente alinhada com as necessidades do mercado.
4.2.1.3 Análise das Tendências
O terceiro item da metodologia a variável tendências, a coleta de informações considerou iniciativas identificadas no âmbito local através de entrevistas com empresários, professores universitários e governo. Possui como objetivo identificar os setores e áreas que são tendências para o futuro. Para isso, são analisados os setores que concentram investimentos públicos e privados e que são foco de programas governamentais. Assim, o estudo das tendências, junto do estudo das vocações econômicas e do potencial científico-tecnológico, orienta a identificação das áreas e setores de oportunidades para a região de Guarapuava.
Após a identificação das áreas de tendência estadual, nacional e global foi realizado cruzamento, que permitiu determinar os setores considerados como tendência para a região de Guarapuava. Dessa forma, as áreas que apresentaram ocorrência em pelo menos dois âmbitos (estadual e nacional; estadual e global ou nacional e global) foram classificados como tendência para a região. A partir do cruzamento das tendências estaduais, nacionais e globais resultaram sete setores de tendência, convergentes com a região de Guarapuava, são: agronegócio e alimentos, químico e materiais, saúde, automação e mecatrônica, TIC e computação, elétrico eletrônico e energia.
Esse cruzamento possibilitou a identificação de quatro áreas de oportunidade proeminentes para o empreendedorismo e o desenvolvimento científico e tecnológico na região de Guarapuava, sendo elas: A cadeia do agronegócio engloba os segmentos de agricultura, pecuária e serviços relacionados e de fabricação de produtos alimentícios e bebidas.
A área de químico compreende os segmentos de produtos químicos, produtos de borracha e de material plástico, além da fabricação de celulose, papel e produtos de papel.
A área de instrumentos, equipamentos e sistemas congrega os segmentos de máquinas e equipamentos; equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos; máquinas, aparelhos e materiais elétricos; serviços de TI; serviços de informação e telecomunicações.
A área de fármacos compreende a fabricação de produtos farmoquímicos, a fabricação de medicamentos e de outros produtos farmacêuticos.
Essas quatro áreas identificadas como portadoras de oportunidade, a partir das potencialidades identificadas na região de Guarapuava, podem promover inovações e, dessa forma, ampliar a competitividade de setores tradicionais na região e fomentar o surgimento de novas vocações econômicas.
Para impulsionar a implementação e operação do ecossistema de Inovação de Guarapuava a figura 01 mostra o resultado da identificação dos principais atores relacionados as áreas consideradas como oportunidades para a região de Guarapuava, separando os atores em: ICTIs; Empresas; Mecanismos de Inovação; Governo e Sociedade Organizada.
Figura 01. Atores e Áreas de oportunidades da Região de Guarapuava
Fonte: Fundação CERTI (20127)
A presença destes atores atuantes na região permite visualizar o Ecossistema de Inovação como um todo, facilitando a identificação do sistema de CT&I local, de forma a impulsionar a cooperação entre essas instituições.
Após a conclusão da primeira etapa e da identificação dos atores, realizou-se o primeiro workshop. Este evento teve por finalidade integrar as lideranças locais para definição dos setores estratégicos que poderão nortear o desenvolvimento do município e que requerem prioridade no planejamento do ecossistema de inovação.
4.2.2 Radar da Inovação
A avaliação do nível de maturidade do Ecossistema de Inovação da região de Guarapuava foi projetada a partir do Radar da Inovação, metodologia desenvolvida pela Fundação CERTI, o qual foi estipulado cenários com a nota 4.0 como máxima e a nota 1.0 como a mínima, que permitiu avaliar o grau de maturidade do ecossistema local, que contempla sete vertentes de análise: Talentos, Instituição de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTI), Capital, Inovação, políticas públicas, Cluster e Governança. Considerando às áreas da cadeia do agronegócio; químico; instrumentos, equipamentos e sistemas; e fármacos. A seguir serão demonstrados os parâmetros utilizados para o posicionamento do nível de maturidade.
O estudo mostrou que nas quatro áreas de oportunidades das sete vertentes analisadas a vertente Talentos foi a que registrou maior nível de maturidade nota 3,0, seguida da vertente ICTI (nota 2,5). As vertentes, Capital; Cluster e Governança atingiram nota 2,0. Por fim, a vertente Inovação e Empreendedorismo atingiu nota 1,5 e Políticas Públicas a nota mínima nota 1,0.
A melhor classificação por grau de maturidade das áreas de oportunidades foi a cadeia do agronegócio seguida do químico, instrumentos, equipamentos e sistemas e por último fármaco. Dessa forma, nas quatro áreas de oportunidades, nenhuma vertente do Radar de Inovação, atingiu o nível de maturidade máximo.
Para validar estes cenários foi realizado o segundo workshop, onde foi apresentado aos participantes o Radar da Inovação para cada setor estratégico e a análise das sete vertentes permitindo que a sociedade valide e compartilhe a mesma visão do cenário apresentado e estabeleça uma visão de futuro para a inovação do município. Além disto, neste workshop, foram propostas, pelos participantes, macro ações para o planejamento do ecossistema do município.
4.3 Plano de Ação do Ecossistema de Inovação de Guarapuava
A Fundação CERTI realizou algumas visitas às instituições e empresas de Guarapuava, e foi observado que existem atividades econômicas, atores e entidades fortes no Município, que estão interessados na integração dos atores, mas necessitam de gestão compartilhada para acelerar a consolidação do Ecossistema de Inovação. Como resultado foram relacionadas algumas características com aspectos positivos e críticos do Ecossistema de Inovação de Guarapuava:
- Existe potencial econômico, atores e entidades com boa vontade em Guarapuava, porém, suas iniciativas são incipientes e não estão integradas; • Na cultura local predomina a busca pelo emprego;
- As iniciativas de estímulo ao empreendedorismo estão desconectadas dos mecanismos de geração de empreendimentos e não são perenes;
- Os mecanismos de apoio enfrentam descontinuidade de gestão;
- As universidades possuem dificuldade de relacionamento com a iniciativa privada para desenvolvimento de P&D&I – NIT/Agência voltada pra dentro;
- Não existe uma governança pensando sistemicamente o ecossistema de inovação;
- Existem iniciativas, mas não possuem modelagem de sustentabilidade de longo prazo.
A partir desse cenário, foram traçadas estratégias para construir Plano de Ação do Ecossistema de Inovação de Guarapuava como:
- Fortalecimento dos mecanismos de apoio à estruturação de empresas em seus processos e modelos institucionais;
- Integração dos mecanismos de maneira que um possa gerar demanda qualificada para o outro;
- Estruturar mecanismo/programa permanente de estímulo à cultura empreendedora;
- Criar ambiente propício para integração das empresas com o ecossistema inovador e Política Pública;
- Estruturar modelagem de gestão do ecossistema de inovação que integre os diversos atores;
- Estruturar programa de preparação das universidades para gerar/estimular o surgimento de empreendimentos.
Desta forma o plano de ação compreendeu as estratégias, ações e reponsabilidades de curto, médio e longo prazo para cada vertente do Ecossistema e para cada setor estratégico definido nas etapas anteriores. Assim, Plano de Ação, além de compreender uma proposta de estruturação do ecossistema propõem dois projetos mobilizadores.
Estas propostas foram discutidas pelos participantes do workshop III de maneira a se consolidar um Plano de Ação para o Ecossistema de Inovação
As macro ações de cada setor convergiram para as seguintes estratégias das vertentes do Radar de inovação.
Quadro 01. Quadro das vertentes do Radar de Inovação e as Macro ações
Assim, estas Macro Ações foram direcionadas às prioridades e estratégia específicas de cada Área, pelos grupos que se reuniram para pensar em estratégias setoriais. Dessa forma, trata-se de um plano de ação construído de forma colaborativa entre os atores de Guarapuava e a Fundação CERTI.
4.3.1 Projeto Mobilizadores
Dois projetos mobilizadores foram propostos para o Ecossistema de Guarapuava: um centro de inovação e um programa de preparação das universidades para gerar e estimular o surgimento de empreendimentos.
Um Centro de Inovação (CI) é um espaço diferenciado, planejado para a integração das pessoas. Para atender as necessidades de diversos profissionais, com infraestrutura de apoio aos potenciais empreendedores e empresas. Um local que abrigue os mais diversos mecanismos de apoio à inovação, que promova a conexão entre pessoas, criação e desenvolvimento de novos negócios. É um ambiente voltado a estimular o empreendedorismo e para dar suporte à criação e desenvolvimento de empreendimentos inovadores.
A Trilha Empreendedora é uma proposta de um programa para preparar as universidades para gerar e estimular o surgimento de empreendimentos. Envolve as grandes empresas tradicionais, que apresentam seus problemas, dores e necessidades específicas para alunos de universidades.
Outra frente da Trilha Empreendedora é a preparação de professores empreendedores, para que estes possam despertar o interesse do empreendedorismo nos estudantes, avaliar a potencialidade de atender a demanda das empresas e mentorar os estudantes no desenvolvimento de suas ideias.
4.4 Estruturação da Gestão do Ecossistema
Uma proposta de gestão do Ecossistema de Inovação de Guarapuava foi elaborada, por entenderem a necessidade de uma estratégia de gestão em que os principais atores deste ecossistema pudessem interagir e criar uma sinergia para alcançar a maturidade e capacidade de apoiar a competitividade das empresas instaladas na região, com objetivo de unir as entidades do ecossistema; organizar a implementação do plano de ação; envolver os atores no fortalecimento do ecossistema; desenvolver projetos e captar recursos para o ecossistema; articular ações de estímulo ao empreendedorismo e; apoiar as gestoras de habitats de inovação na melhoria de seus processos.
O modelo escolhido para o curto prazo, foi um Fórum com a participação dos representantes dos setores estratégicos e representantes dos mecanismos de apoio da Tríplice Hélice, Associações e entidades de classe, instituições de ensino e pesquisa e governo. Abaixo do fórum, estariam os grupos representantes de cada setor estratégico TIC, Mecatrônica, Cadeia do Agronegócio e Químico e Materiais e o grupo dos ambientes de inovação.
As principais atividades do fórum são coordenar e organizar a implantação das atividades do Plano, organizar a implantação dos Grupos das Áreas Prioritárias, articular ações para viabilizar recursos financeiros, definir responsáveis por coordenar as estratégias e ações do plano do Ecossistema e definir metas e indicadores trimestrais para acompanhamento das evoluções.
Desta forma, realizou-se a validação e consolidação do planejamento do Ecossistema de Inovação pela sociedade. A partir deste planejamento e das discussões e validações dos atores nos Workshops, a união de esforços entre os empresários, Universidades e o poder municipal, em 2018 houve constituição formal do Ecossistema de Inovação em Guarapuava e posteriormente em 2021 passou a integrar com o Instituto de Pesquisa do Câncer (IPEC) e o CTP o Ecossistema Vale do Genoma, com objetivo se tornar um polo de startups ligadas à pesquisa genômica, além de englobar também as áreas de meio ambiente e agropecuária.
4.5 Implantação do Parque Tecnológico de Guarapuava – Cilla Teck Park
A implantação do Ecossistema de Inovação de Guarapuava somadas as precondições necessárias já existes, possibilitaram a criação de um parque tecnológico no município. Para relatar o processo de implantação do Parque TecnológicoCilla Teck Park (CTP),instituído em 2020, é necessário voltar em 2019, ano em que ocorreram alguns eventos que foram determinantes para a instalação do CTP.
Como a primeira reunião do Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação de Guarapuava, oevento Future Day, promovido pelo Ecossistema de Inovação onde foi criado o Celeiro de Inovação, responsável por interligar as iniciativas do Ecossistema. A visita do Sistema Paranaense de Parques Tecnológicos (Separtec) que tem a missão de elaborar uma política pública para a implantação de parques tecnológicos, para o pre credenciamento do Parque Tecnológico de Guarapuava. E a Lei 108/2019, prevendo incentivos fiscais ao empreendedorismo, às atividades científicas, tecnológicas, de inovação e da economia criativa, em parques tecnológicos do Município de Guarapuava (GUARAPUAVA/PR, 2019).
De acordo com a Ata de Constituição do CTP (2020), em 15 de julho de 2020 foi instituída a Associação Civil Cilla Teck Park, de direito privado, sem fins lucrativos, regida pelo seu Estatuto, Regimento Interno e pela legislação em vigor. Fundado por um grupo de 14 organizações, entre empresas, universidades e entidades de classe de Guarapuava, com o intuito de articular a realidade regional às agendas globais. Está localizado no bairro planejado Cidade dos Lagos.
O CTP é administrado por uma associação de direito privado sem fins lucrativos e faz parte de um distrito tecnológico responsável por absorver as demandas locais, mapear recursos e estruturar ações de inovação para o desenvolvimento e fortalecimento do Ecossistema de Inovação do Vale do Genoma. (CTP, 2024)
Entre as diversas disposição de seu Regimento Interno (CTP, 2023a) o CTP tem como propósito “ser um ambiente empreendedor, promotor de prosperidade e desenvolvimento regional por meio da inovação tecnológica, valorizando o talento humano e as relações de confiança”. Para atingir este propósito tem como objetivos:
- Estimular o surgimento, o desenvolvimento, a competitividade e o aumento da produtividade de empresas, startups e instituições cujas atividades estejam fundadas na pesquisa, no conhecimento e na inovação tecnológica;
- Gerir ambientes promotores de inovação com espaços propícios à inovação e ao empreendedorismo, característicos da economia baseada no conhecimento;
- Contribuir para o desenvolvimento econômico, social, urbano e ambiental do Município de Guarapuava e dos municípios que compõem sua região de atuação;
- Incentivar o empreendedorismo público e/ou privado nas áreas de pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológicos;
- Criar, fortalecer, fomentar a cultura de inovação e empreendedorismo, por meio de eventos e parcerias. (CTP, 2024)
Conforme visto na revisão de literatura, um parque tecnológico se assegura na existência de fortes parcerias. Dentre os parceiros do parque, destaca-se quatro incubadoras tecnológicas, e outros 20 parceiros entre as quais a Prefeitura Municipal de Guarapuava, Turvo e Manoel Ribas empresas, Instituição financeiras e Institutos de pesquisas e Governo do Estado. Além das cinco Instituições de Ensino Superior de Guarapuava, parceiros que oferecem suporte, capacitação, consultoria e acesso as incubadoras para as empresas do Cilla Tech Park. Com a realização de serviços tecnológicos e desenvolvimento de novas tecnologias (CTP, 2024).
Como parte da hélice tríplice o poder municipal fortalece seu apoio com políticas públicas por meio leis e decretos que asseguram a sua parceria com CTP, em gosto de 2022 o CTP foi declarado de Utilidade Pública a nível Municipal pela LEI Nº 3325/2022 (GUARAPUAVA/PR, 2022).
Por meio do Decreto nº 10993/2023 fica criado o Parque Tecnológico Cilla Tech Park no município de Guarapuava, nos limites do Bairro Cidade dos Lagos, com objetivo de promover pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica, além de estimular cooperação entre instituições de pesquisa, universidades e empresas. Tendo como meta principal fomentar a participação dos pesquisadores no desenvolvimento de pesquisas junto ao setor produtivo (GUARAPUAVA/PR, 2023)
Visando Adequar à Lei de Incentivo à Inovação de Guarapuava foi instituído o “Programa Sandbox Guarapuava”, por meio do Decreto Nº 10172/2023 para a instituição de ambientes experimentais de inovação científica, tecnológica e empreendedora. Com a finalidade de fomentar a inovação e o empreendedorismo através da realização e acompanhamento de testes inovadores em áreas setoriais, a serem definidas e especificadas pelo Município e incentivar o desenvolvimento, execução e operação de novas modalidades de produtos e serviços ou de seus processos (GUARAPUAV/PR, 2023)
Para promover um ambiente de apoio a inovação, competividade, integração e sinergia dos empreendimentos, o CTP conta com o Celeiro de Inovação, e o Coworking.
O celeiro de Inovações promove a cultura empreendedora, por meio de ações que fomentam a criatividade, olhar empreendedor, novas ideias, soluções e tecnologias por meio de experimentações inclusivas e colaborativas, e assim fortalecendo o empreendedorismo, educação financeira e inovação. Ele tem como público-alvo estudantes, empreendedores, entusiastas da tecnologia e profissionais das mais diversas áreas que buscam explorar sua criatividade e transformar ideias em realidade.
Coworking visa estimular o crescimento de empreendimentos tecnológicos, criando um ambiente colaborativo entre empreendedores, pesquisadores e investidores. Um Espaço com infraestrutura compartilhada, oportunidades de networking, programas de capacitação e suporte técnico.
Estão vinculadas ao Parque Tecnológico sete empresas parceiras na área do agronegócio, alimentos, saúde, construção civil, educação e tecnologia. Em 2023 contava com 15 empresas residentes (CTP, 2024).
De acordo com o relatório do 1º semestre de 2023 do CTP, no mapeamento realizado através do Sebrae, com suporte do Cilla Tech Park, Guarapuava contava em 2022, com 41 Startups em suas diversas fases de maturidade. Além disso, mais de 45 empresas ligadas a tecnologia e inovação. (CTP 2023b).
O Relatório de projetos do Celeiro de Inovação de 2023, destacou as ações realizadas de janeiro a dezembro de 2022, movimentando mais de 3500 pessoas, dentre alunos e professores da Rede Pública Educação, através de 19 projetos que desenvolvem os eixos de empreendedorismo, inclusão social, sustentabilidade, inovação, cooperativismo e educação empreendedora. Participaram das ações da cultura de inovação além de Guarapuava outras cidades como Francisco Beltrão, Pinhão, Turvo e Inácio Martins(CTP, 2023c).
De Janeiro a Julho de 2023, o Relatório de projetos do Celeiro de Inovação, identificou as ações dos 12 projetos que movimentou mais de 600 pessoas, dentre alunos e professores da Rede Pública Educação, desenvolvendo os mesmos eixos nas mesmas cidades dos projetos do ano de 2022 (CTP, 2023d)
Em novembro de 2023, o CTP foi credenciado pelo SEPARTEC, recebeu os certificados de Parque Tecnológico em Operação e Espaço Maker pelo Celeiro de Inovação (CPT, 2024)
Diante disso, o CTP visa fortalecer o ecossistema de inovação, promovendo a articulação entre as diferentes instâncias para promover e viabilizar o desenvolvimento regional através do empreendedorismo inovador de base científico e tecnológico com isso aproximar a sociedade da cultura de inovação e o Parque Tecnológico como agente fundamental para essa transformação.
Este propósito evidencia-se no Regulamento de Política de Inovação do CTP (CTP, 2023 e), em seus princípios gerais e diretrizes onde se busca a promoção das atividades educacionais, científicas e tecnológicas como estratégias para o desenvolvimento econômico e social; estímulo ao desenvolvimento de inovações que contribuam para a solução de problemas regionais e locais; redução das desigualdades regionais no âmbito estadual e a atuação institucional em interação com o ambiente produtivo local, regional, nacional e internacional, corroborando com seu objetivo de contribuir para o desenvolvimento econômico, social, urbano, ambiental local e regional.
Existem ainda outros benefícios menos tangíveis e que merecem igual destaque. Entre eles, o aumento da competitividade regional e a atração e retenção de profissionais qualificados. Assim, remetendo-se a Schumpeter espera-se que o CTP como um ambiente inovador seja o indutor de um novo ciclo de crescimento e desenvolvimento local e regional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com respaldo na literatura constatou-se que os parques podem contribuir para o fortalecimento dos Ecossistemas de Inovação através de diversas maneiras, tais como a geração de empregos de elevada qualificação, a difusão de uma cultura de empreendedorismo na região e o estabelecimento de redes ativas de todos os tipos e níveis.
Dentro desse contexto, o presente estudo com o objetivo de investigar a criação do Ecossistema de Inovação de Guarapuava e o parque tecnológico Cilla Park Tech (CTP) bem como, analisar como o conjunto de políticas públicas, estratégias e ações do CTP poderão impactar no desenvolvimento regional. Constou que isto foi realizado por meio do desempenho sinérgico dos diferentes atores multi-institucionais e multidisciplinares que atuam nos diversos setores produtivos, de modo a contribuir nas diferentes dimensões do desenvolvimento.
O Cilla Tech Park foi criado recentemente e diante da complexidade do planejamento, implantação e operacionalização de um parque tecnológico, é preciso ter consciência que resultados efetivos se darão mais a médio e longo prazo, entretanto, muitas ações foram realizadas a partir do Celeiro de Inovação e do Coworking, para atingir o seu propósito de ser um ambiente empreendedor com espaços propícios à inovação tecnológica. Buscando o fortalecimento e a disseminação da cultura do empreendedorismo inovador, estimulando o surgimento de startups, a competitividade e o aumento da produtividade de empresas e instituições cujas atividades estejam fundadas na pesquisa, no conhecimento e na inovação tecnológica.
Neste sentido, as políticas estrategicamente desenhadas e direcionadas com a interação dos diversos atores, têm como objetivo a ser perseguido, contribuir para o desenvolvimento econômico, social, urbano e ambiental do Município de Guarapuava e dos municípios que compõem sua região de atuação.
As experiências relatadas pela literatura têm demonstrado como um Parque Tecnológico pode se constituir como um elemento dinamizador de um território. Tornando-se indutor do desenvolvimento e da consolidação do ecossistema de inovação territorial, que espera-se ser o caso do CTP efetivamente, ao longo do tempo, passar a produzir e exportar conhecimento, produtos e serviços de alto valor agregado.
Há muitos desafios a serem superados como sensibilizar a comunidade para os benefícios da cultura da inovação. Promovendo a capacitação em inovação alinhadas às vocações regionais e reter talentos na região. Fortalecer a infraestrutura do Ecossistema de Inovação conectando com incubadoras e aceleradoras. Com isso espera-se atrair novos negócios e investimentos criando um ambiente dinâmico gerador de riqueza e emprego e reverberando o desenvolvimento local para o regional.
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[1] Os dados deste item foram extraídos do Relatório Final do Planejamento do Ecossistema de Inovação de Guarapuava. CERTI, 2017.
1 Docente do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Centro Oeste -UNICENTRO- Campus Santa Cruz, Guarapuava /PR e-mail: raquelvirmond@unicentro.br