REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505311155
Ueudison Alves Guimarães
Fabiana Conceição Castilho De Goes
Carlos Manoel Da Fonseca
Sebastião Alves De Almeida
Rosangela Maria Tortora Furlanetto
Veridiane Miranda De Oliveira
Fernanda Caetano Fernandes
Fábia Da Silva Oliveira.
RESUMO
O presente artigo tem como meta oferecer um panorama abrangente da literatura sobre educação digital, empenhando-se em definir o conceito de educação a distância (EAD) tanto por meio de referências acadêmicas quanto por normas estabelecidas por autoridades governamentais. Desse modo, a análise aqui desenvolvida compreende exemplos concretos de plataformas digitais empregadas como ferramentas no ensino a distância, proporcionando aos leitores uma visão clara das opções disponíveis no cenário atual. Além disso, através da revisão de pesquisas realizadas por diversos autores, o artigo não se mantém preso unicamente à tentativa de iluminar as vantagens associadas ao modelo EAD, mas também se preocupa em desvelar os complexos desafios enfrentados pelos diversos participantes desse processo educativo. Dentro dessa perspectiva, ressalta-se que o objetivo é proporcionar uma compreensão complexa e crítica a respeito da integração da tecnologia na educação, evidenciando tanto os benefícios quanto as dificuldades inerentes à utilização das plataformas digitais no processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-Chave: Aprendizagem. Educação Básica. Plataformas Digitais.
ABSTRACT
This article aims to provide a comprehensive overview of the literature on digital education, striving to define the concept of distance education (DE) through both academic references and standards established by government authorities. Thus, the analysis developed here includes concrete examples of digital platforms used as tools in distance learning, providing readers with a clear view of the options available in the current scenario. Furthermore, through the review of research conducted by several authors, the article is not limited to the attempt to illuminate the advantages associated with the DE model but is also concerned with revealing the complex challenges faced by the various participants in this educational process. From this perspective, it is emphasized that the objective is to provide a complex and critical understanding of the integration of technology in education, highlighting both the benefits and the difficulties inherent in the use of digital platforms in the teaching-learning process.
Keywords: Learning. Basic Education. Digital Platforms.
1. INTRODUÇÃO
O ensino à distância (EAD) tem experimentado uma expansão notável nos últimos anos, com um crescimento acentuado durante a pandemia de covid-19. Apesar de sua crescente popularização, a modalidade EAD muitas vezes é abordada de maneira superficial, sem uma compreensão aprofundada de suas complexidades, vantagens e desvantagens, podendo gerar preconceitos e mal-entendidos entre aqueles que ainda não estão familiarizados com as ferramentas digitais de ensino.
Neste contexto, o presente artigo se propõe a analisar o ensino à distância com uma abordagem abrangente, destacando o papel das plataformas digitais na educação. Serão apresentados exemplos dessas ferramentas e discutidos os benefícios e desafios que professores e alunos enfrentam nesse universo da educação digital. Em vez de desenvolver uma problemática específica, a pesquisa se concentra em mapear e compreender os processos associados ao uso de tecnologias digitais na educação, examinando a literatura existente para oferecer uma visão mais rica e informada sobre o tema.
2. METODOLOGIA
A pesquisa para a elaboração deste artigo foi conduzida por meio de uma revisão aprofundada da literatura, com foco em publicações científicas relevantes para o tema da educação à distância. O objetivo foi reunir um panorama atualizado do estado da arte no campo, priorizando textos publicados nos últimos cinco anos para garantir a contemporaneidade das informações.
No entanto, foram ocasionalmente incorporados também textos mais antigos, desde que estes fornecessem conceitos e dados significativos que contribuíssem de maneira substancial para a construção e enriquecimento da análise. Logo, a estratégia adotada visou não apenas refletir as tendências atuais, mas também integrar perspectivas históricas que continuam a influenciar o entendimento e a prática da educação à distância.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Educação básica
A discussão que se desencadeia em torno da educação à distância deve começar por uma questão que, embora possa parecer intuitivamente simples, requer uma análise mais profunda: o que, de fato, é a educação à distância? É comum que, ao refletir sobre essa questão, muitos associem a educação à distância principalmente à separação física entre alunos e professores. No entanto, essa concepção é apenas uma etapa de um fenômeno mais complexo.
Para uma definição mais formal e abrangente, acha-se útil recorrer à conceituação oferecida pelo Ministério da Educação: Educação a distância é a modalidade educacional na qual alunos e professores se encontram separados, seja fisicamente ou temporalmente, exigindo, portanto, o uso de meios e tecnologias de informação e comunicação para viabilizar o processo educacional.
Essa definição, embora correta, não captura toda a amplitude e a profundidade do fenômeno da educação à distância, que vai além da mera distância física e abrange uma série de dinâmicas e tecnologias que transformam a prática pedagógica.
Essa modalidade é regulamentada por um conjunto legislativo específico e pode ser implementada em diversos segmentos educacionais, incluindo a educação básica (como a educação de jovens e adultos e a educação profissional técnica de nível médio) e a educação superior (BRASIL, 2018).
A definição fornecida pelo Ministério da Educação enfatiza o aspecto fundamental da distância física, ao mesmo tempo em que destaca o uso de tecnologias de informação e comunicação como instrumentos essenciais para a execução do ensino a distância.
Desse modo, acredita-se que essa abordagem permite a aplicação desta modalidade educacional em praticamente todos os níveis de instrução, excetuando-se apenas o ensino fundamental, abrangendo desde a graduação até a pós-graduação. Ademais, a regulamentação reflete a necessidade de distanciamento físico e a complexidade das ferramentas tecnológicas que possibilitam a transformação e adaptação dos processos de ensino-aprendizagem em um ambiente digital.
Segundo Lopes e Gomes (2020), entende-se que apesar de ter experimentado uma expansão notável nos últimos anos, especialmente durante a pandemia de COVID-19, o ensino à distância não é uma inovação recente. Seu surgimento remonta ao século XVIII, com os primórdios dos cursos por correspondência e telecursos. Desde então, essa modalidade evoluiu de maneira progressiva, adaptando-se às tecnologias emergentes e, assim, proporcionando suporte a estudantes e professores que, por diversas razões, não podiam estar fisicamente presentes em salas de aula tradicionais.
A trajetória do ensino à distância é marcada por uma metamorfose incessante e multifacetada, em que cada etapa da sua evolução espelha um progresso na incorporação de novas tecnologias e metodologias para transcender as barreiras geográficas e logísticas.
Moran (2002) corrobora essa visão ao descrever a educação à distância como um processo de ensino-aprendizagem mediado por tecnologias, onde a separação espacial e/ou temporal entre professores e alunos é a norma.
Nesse modelo, a interação não ocorre no mesmo espaço físico, mas é possibilitada por um emaranhado de tecnologias que conectam os participantes, principalmente as telemáticas, como a Internet.
No entanto, essa conectividade pode ser sustentada por uma gama variada de ferramentas, incluindo correio, rádio, televisão, vídeo, CD-ROM, telefone, fax e outras tecnologias análogas. Nesse sentido, percebe-se que a evolução do ensino à distância reflete uma complexa rede de interações e inovações, onde cada avanço tecnológico reconfigura as possibilidades de comunicação e aprendizagem, ajustando-se às necessidades e contextos em constante mudança.
Com o avanço tecnológico e a proliferação da Internet, o campo da educação à distância, ou “EAD”, evoluiu de forma notável, adaptando-se às inovações digitais que redefiniram sua prática. Atualmente, a EAD se vale das sofisticadas plataformas digitais educacionais (PDE), que funcionam como ambientes virtuais integrados para conectar estudantes e professores, possibilitando uma troca dinâmica de saberes e experiências sem a necessidade de presença física compartilhada.
Essas plataformas digitais oferecem um espaço onde a criação, distribuição e consumo de conteúdo online se entrelaçam, facilitando a realização das chamadas “aulas online”.
Dentro desse ecossistema digital, as ofertas educacionais variam amplamente, englobando desde cursos livres com conteúdo gravado, como aqueles voltados para o aprendizado de idiomas ou para formação profissional, até programas estruturados de graduação e pós-graduação.
A transformação contínua das tecnologias de comunicação e a adaptação de novas ferramentas digitais criaram um ambiente educacional altamente flexível e interconectado, promovendo uma nova dimensão de ensino e aprendizagem que transcende as limitações tradicionais do espaço e do tempo.
Nesse contexto, Carvalho (2009) esclarece que a integração das tecnologias no âmbito educacional é considerada importante para expandir o acesso à educação e promover a democratização do conhecimento.
Assim, entende-se que as tecnologias da informação e comunicação estão intimamente vinculadas aos direitos fundamentais de liberdade e expressão, configurando-se como ferramentas essenciais para o progresso social, econômico, cultural e intelectual.
Em consonância com a visão de Lopes e Gomes (2020), as plataformas digitais educativas são sistemas complexos que incorporam uma variedade de ferramentas, cuja função é viabilizar a educação a distância, pois atuam como interfaces eletrônicas que transcendem barreiras geográficas no processo de ensino-aprendizagem, congregando indivíduos de diferentes regiões e até de diferentes partes do planeta em um único ambiente virtual.
Dessa maneira, elas possibilitam uma interconexão global, facilitando a colaboração e a troca de conhecimento em um espaço digital compartilhado, que redefine as fronteiras tradicionais do ensino e amplia as possibilidades educacionais.
Durante a pandemia de Covid-19, que instaurou um cenário global de isolamento social para conter a disseminação do coronavírus, o fechamento das instituições de ensino presenciais impactou diretamente mais de 90% dos estudantes ao redor do mundo (UNESCO, 2020).
Esse cenário provocou uma aceleração abrupta da educação à distância, desafiando educadores e alunos a se adaptarem a uma modalidade de aprendizagem que até então era inexplorada por muitos. Todavia, vale destacar que a adoção de plataformas digitais não substitui o ensino presencial, mas serve como uma extensão que potencializa a democratização do acesso à educação, desde que se respeitem as particularidades de cada usuário.
Nesse novo paradigma, ambientes virtuais de aprendizagem reúnem participantes de diferentes Estados brasileiros e até de diversos países, permitindo uma interconexão global. Esse fenômeno revela uma interatividade inédita, onde professores, tutores e estudantes colaboram e compartilham conhecimento em um espaço digital compartilhado, ultrapassando barreiras físicas e temporais e reinventando as dinâmicas tradicionais do ensino.
3.2 Plataformas digitais utilizadas na educação
No extenso universo das plataformas de educação a distância (EAD), a diversidade de opções disponíveis no mercado é impressionante, com muitas instituições de ensino desenvolvendo suas próprias plataformas. Essa escolha muitas vezes se deve a considerações econômicas ou ao desejo de garantir uma maior confiabilidade e adequação às suas necessidades específicas.
Entretanto, entre as soluções amplamente adotadas por instituições que optaram por não investir no desenvolvimento de suas próprias plataformas, destacam-se três ferramentas multifuncionais que transcendem o âmbito educacional: Google Meet, Zoom e Microsoft Teams.
Essas plataformas, originalmente concebidas para uma multiplicidade de usos corporativos, ganharam relevância no contexto educacional pela sua versatilidade e funcionalidade robusta, permitindo uma integração eficiente para conferências virtuais, reuniões e colaboração em tempo real, refletindo um cenário em que as fronteiras entre educação e outras formas de interação digital estão cada vez mais borradas.
Além das plataformas anteriormente mencionadas, um destaque significativo no panorama das ferramentas educacionais é o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), que se distingue por ser desenvolvido especificamente para fins pedagógicos. O AVA pode assumir uma variedade de formatos, dependendo da visão e das necessidades do desenvolvedor.
Entre os mais notáveis, encontra-se o Moodle, uma plataforma de acesso livre e gratuito, projetada para promover a aprendizagem colaborativa, que oferece inúmeros recursos que facilitam a interação e a realização de atividades, atendendo a uma diversidade de contextos educacionais.
Segundo Vasconcelos et al (2020), outro exemplo é o EProInfo, um ambiente colaborativo desenvolvido em parceria com o Ministério da Educação e diversos Institutos de Ensino Superior (IES). O EProInfo é notável por sua capacidade de oferecer múltiplos perfis de acesso, adaptando-se às prioridades e necessidades específicas de cada usuário, e ilustrando um modelo de personalização e flexibilidade no acesso ao ensino a distância.
O uso dessas tecnologias tem gerado um intenso interesse entre os diversos atores envolvidos, especialmente entre os estudantes, muitos dos quais cresceram imersos em um ambiente digital saturado de computadores, smartphones e redes sociais.
Assim, percebe-se que essa familiaridade com o ambiente digital confere a eles uma notável destreza no manejo das ferramentas digitais de ensino, bem como uma transformação significativa na dinâmica da relação professor-estudante.
Os alunos, sob o regime do EAD, passam a desfrutar de uma autonomia ampliada nos processos de aprendizagem, com as ferramentas computacionais atuando como mediadoras essenciais na interação e comunicação entre docentes e discentes. Sob a perspectiva dos alunos, Dotta et al (2019) sublinha que a incorporação de tecnologias no processo educativo oferece uma série de benefícios substanciais.
Nesse contexto, as tecnologias de informação e comunicação têm a capacidade de elevar a qualidade da aprendizagem, fomentar e estruturar a construção de ideias, facilitar a formulação de hipóteses e promover a aprendizagem colaborativa, possibilitando que os alunos desenvolvam uma aprendizagem mais significativa e integrada, aprimorando sua capacidade de aprender em conjunto e refletir criticamente sobre o conteúdo
Contudo, essa nova dinâmica deve ser abordada com discernimento e considerar o nível de maturidade dos estudantes. Oliveira e Nascimento (2020), ao analisarem estudos prévios, observaram que os cursos de educação a distância (EAD) tendem a ser mais adequados para alunos adultos, que possuem maior maturidade e responsabilidade em relação ao próprio aprendizado. Apesar disso, os autores reconhecem que a modalidade de educação à distância é um fenômeno irreversível, impulsionado pelos avanços tecnológicos contínuos.
Uma pesquisa conduzida por Coppi et al. (2022) com professores e alunos de várias escolas públicas em Portugal revelou informações pertinentes sobre o uso de plataformas digitais.
Quando questionados sobre as plataformas mais frequentemente utilizadas, observou-se que entre os professores, as mais mencionadas foram MS Office, Gmail e Zoom, todas com uma frequência média superior a três. Entre os alunos, além dessas plataformas, também foram identificadas a utilização de blogs e redes sociais como ferramentas significativas no contexto da educação digital.
3.3 Problemas e dificuldades na utilização de tecnologias e plataformas para EAD
Sem dúvida, o caminho para a integração das tecnologias digitais na educação é repleto de desafios. Desde a carência de acesso estável à internet até a insuficiência de treinamento apropriado para os usuários das Plataformas Digitais de Ensino (PTDs), diversos obstáculos surgem ao longo do processo. Nesse contexto, Fialho, Cid e Coppi (2023) conduziram uma pesquisa aprofundada com estudantes, professores e equipe técnica para elucidar tanto as vantagens quanto as dificuldades enfrentadas na prática da educação digital.
A investigação incluiu a aplicação de um pré-teste utilizando quatro questionários, implementados online através da plataforma Google Forms. Essa abordagem permitiu coletar dados de maneira ampla e eficiente, oferecendo uma visão detalhada dos desafios e oportunidades que permeiam a adoção de métodos digitais na educação.
Um dos aspectos críticos abordados na pesquisa foi a dificuldade no uso das PTDs durante o período de quarentena. Embora tanto estudantes quanto professores tenham enfrentado desafios, a discrepância foi notável: enquanto 76,6% dos professores relataram problemas significativos na utilização das plataformas, apenas 21,6% dos alunos experimentaram dificuldades comparáveis.
À medida que a pandemia de COVID-19 começou a diminuir, era previsível que as atividades presenciais retornassem e que o ensino à distância experimentasse uma redução. No entanto, urge-se reconhecer que a educação à distância apareceu como uma realidade consolidada e persistente, não apenas no Brasil, mas globalmente. Desse modo, a integração das PTDs na educação representa uma mudança fundamental, refletindo a evolução contínua das práticas pedagógicas e a adaptação às novas exigências tecnológicas.
Apesar do retorno massivo às aulas presenciais, o número de cursos oferecidos exclusivamente online continua a crescer de forma substancial. Diante deste panorama, surge uma indagação inevitável: qual será o futuro da educação à distância? Será que ela se consolidará ainda mais como uma modalidade de ensino dominante, ou enfrentará um período de estagnação em face da ressurgência do ensino presencial e da preferência de muitos professores e alunos pela experiência física das salas de aula tradicionais? O que é inquestionável é que a educação à distância se estabeleceu como uma ferramenta crucial na democratização do acesso à educação.
Entre as estratégias de expansão e democratização, uma das mais notáveis foi a implementação dos cursos superiores à distância, através da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Esta iniciativa do Ministério da Educação visava promover a inclusão social e educacional ao proporcionar acesso ao ensino superior de forma remota.
O impacto dessa estratégia demonstra como a educação à distância pode servir como um catalisador significativo para a ampliação do acesso à educação superior, alavancando oportunidades para muitos que, de outra forma, estariam excluídos do sistema educacional convencional.
Vidal e Maia (2010) sublinham que o Ministério da Educação (MEC) tem enfrentado consideráveis obstáculos na expansão das vagas para o ensino superior nas instituições públicas. Diante deste cenário desafiador, o MEC identificou na Universidade Aberta do Brasil (UAB) uma oportunidade estratégica para a democratização e ampliação do ensino superior público e gratuito no Brasil.
Essa visão se concretizou através da adoção da educação a distância, que, combinada com a incorporação de novas metodologias pedagógicas e o uso intensivo de tecnologias digitais, representa uma tentativa audaciosa de superar as limitações físicas e estruturais do sistema educacional tradicional. Assim, a UAB desponta não apenas como uma solução para a carência de vagas, mas como elemento importante para a expansão e interiorização do acesso ao ensino superior, rompendo barreiras geográficas e proporcionando novas possibilidades de aprendizado para uma diversidade de estudantes em todo o país.
Nessa ótica, a estratégia delineada pelo Governo Federal e pelo Ministério da Educação com a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) visou a oferta de uma ampla gama de cursos, incluindo graduação, sequenciais, pós-graduação lato sensu e stricto sensu, com um foco particular na formação de professores e servidores da administração pública. A UAB orienta suas ações por cinco eixos fundamentais (UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL, 2010), que refletem a complexidade e a abrangência de sua missão:
- Expansão Pública da Educação Superior: Visa ampliar o acesso à educação superior para camadas da população historicamente excluídas, promovendo uma democratização do ensino e quebrando barreiras de acesso às universidades.
- Aperfeiçoamento dos Processos de Gestão das Instituições de Ensino Superior: Procura otimizar a administração das instituições, alinhando sua expansão com as diretrizes educacionais específicas de estados e municípios, garantindo uma gestão eficiente e adaptativa.
- Avaliação da Educação Superior à Distância: Foca na análise e aprimoramento dos processos de flexibilização e regulação do ensino a distância, conforme as diretrizes em desenvolvimento pelo MEC, para assegurar a qualidade e eficácia da modalidade.
- Contribuições para a Investigação em Educação Superior à Distância: Envolve o estímulo e suporte à pesquisa e desenvolvimento na área de educação a distância, promovendo a inovação e a produção de conhecimento relevante para o setor.
- Financiamento dos Processos de Implantação e Formação de Recursos Humanos: Aborda a necessidade de recursos financeiros para a implementação e manutenção das iniciativas de educação a distância, bem como para a formação e capacitação de pessoal envolvido na modalidade.
Dessa maneira, a UAB se estabelece como um empreendimento amplo, que não só busca expandir o acesso à educação superior, mas também reforçar a qualidade e a sustentabilidade da educação a distância no país.
Sobre a UAB, Oliveira e Santos (2019) destacam que ela serve como um mecanismo de integração entre universidades públicas e polos de apoio presencial situados em diversos municípios do país. Esses polos são organizados em prédios públicos e são equipados pelas secretarias municipais de educação com uma infraestrutura tecnológica essencial, incluindo computadores com acesso à internet, equipamentos de videoconferência, projetores multimídia para encontros presenciais e bibliotecas.
Esse modelo de infraestrutura flexibiliza tanto a interação entre os alunos e as instituições de ensino quanto demonstra a capacidade da educação à distância em assumir um papel central na democratização e expansão do acesso ao conhecimento. Em linha com essa visão, Maia e Mattar (2007) afirmam que a educação a distância está se consolidando como um setor promissor e em crescimento, tanto no Brasil quanto globalmente. Dessa forma, entende-se que a educação a distância contribui para a ampliação do acesso educacional e, ao mesmo tempo, sinaliza uma transformação paradigmática na forma como o ensino é oferecido e recebido, refletindo um potencial disruptivo na paisagem educacional contemporânea.
Os autores sublinham que, nas duas últimas décadas, a modalidade de ensino a distância (EaD) emergiu como um campo de destaque significativo, refletindo um crescimento substancial em várias dimensões. Esse destaque é evidenciado pelo aumento notável de:
a) Instituições que passaram a oferecer cursos a distância, revelando uma expansão notável na oferta institucional; b) Cursos e disciplinas disponibilizados na modalidade EaD, demonstrando uma diversificação e ampliação da gama de opções educacionais; c) Alunos matriculados, indicando uma crescente adesão e aceitação do modelo por parte dos estudantes; d) Professores envolvidos no desenvolvimento e na ministratura de aulas a distância, evidenciando um aumento na capacitação e na adaptação dos docentes para o ambiente virtual; e) Empresas fornecedoras de serviços e insumos para o mercado de EaD, sinalizando uma profissionalização e um fortalecimento da infraestrutura de suporte ao ensino a distância; f) Artigos e publicações científicas sobre EaD, refletindo um aumento significativo na produção e na disseminação de conhecimento acadêmico sobre o tema.
Este fenômeno sublinha a importância crescente da EaD no cenário educacional global, mas também revela uma transformação radical nas práticas educacionais, impulsionada por uma confluência de fatores tecnológicos, sociais e pedagógicos.
4. DISCUSSÕES
A digitalização trouxe mudanças profundas em várias esferas da sociedade, transformando sistemas de informação, serviços e aquisições de bens para se adequar à nova era tecnológica. De acordo com Almeida (2018), a sociedade se rendeu às Tecnologias Digitais (TD), que são predominantemente associadas à melhoria das condições de vida e trabalho. Esse impacto também se refletiu no contexto escolar (Aljenaibi, 2015), revelando novas possibilidades para o processo de ensino e aprendizagem (Almeida, 2018).
Aljenaibi (2015), por outro lado, observa que as tecnologias digitais estão transformando o ambiente de aprendizagem, mediante à oferta de novas ferramentas de ensino e ao atendimento às necessidades de literacia dos alunos. Assim, a escola se configura como um campo propício para a inserção das tecnologias digitais, especialmente aquelas utilizadas no processo de ensino. Pereira Júnior et al. (2017) ressaltam que, na educação, a tecnologia agrega valor ao criar formas didáticas para a transmissão de informações, proporcionando um ensino mais alinhado com a realidade e mudando o papel do educador.
Lopes e Gomes (2020) reforçam essa visão ao afirmar que as plataformas digitais são recursos valiosos para a educação, permitindo a organização e gestão de aulas à distância e apoiando alunos de diferentes níveis de ensino. Moran (2017) destaca que a acessibilidade às tecnologias digitais, muitas vezes integradas em smartphones, possibilita aos professores motivarem os alunos através de jogos e vídeos, inverterem a forma de ensinar ao disponibilizar conteúdos antes das aulas e personalizar o processo de aprendizagem.
De acordo com Dotta, Monteiro e Mouraz (2019), o uso de tecnologias digitais traz benefícios significativos para os alunos, como a melhoria da aprendizagem, a construção de ideias e o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa. Aljenaibi (2015) também corrobora essa visão, indicando que as novas tecnologias aprimoram as habilidades dos alunos e promovem maior autorregulação. Além disso, a utilização de tecnologias digitais oferece benefícios sociais, como maior participação no contexto social através do compartilhamento de informações (Pinto e Leite, 2020).
Pereira Júnior et al. (2017) observam que as plataformas digitais facilitam a formação de grupos para a resolução de problemas e o desenvolvimento de habilidades de comunicação, além de serem úteis para o planejamento e elaboração de materiais didáticos, troca de informações e motivação dos alunos fora da sala de aula.
No entanto, a literatura aponta que a adoção efetiva dessas tecnologias no contexto escolar enfrenta desafios significativos (Dotta, Monteiro e Mouraz, 2019). Obstáculos como equipamentos inadequados, falta de tempo para preparação, suporte técnico insuficiente e atitudes negativas dos professores em relação às tecnologias digitais são alguns dos principais problemas identificados.
Almeida (2018) reforça que as queixas dos professores quanto ao uso das tecnologias digitais frequentemente incluem o excesso de trabalho e a falta de tempo para a preparação das aulas. Ela também menciona como possíveis obstáculos as crenças dos professores, a oferta de formação docente e a qualidade dos recursos educacionais.
Em 2015, um levantamento conduzido pelo governo escocês sobre o impacto da tecnologia digital no ensino revelou que, com acesso adequado a equipamentos e formação, a tecnologia pode ter um impacto positivo nas prioridades educacionais, como competências, inclusão, transições para o emprego, envolvimento dos pais e eficiência do sistema educacional (Scotland, 2016).
A pandemia de COVID-19 intensificou a necessidade de adaptação às tecnologias digitais no ambiente educacional, levando à realização de um estudo para analisar as vantagens e dificuldades no uso de plataformas digitais em escolas de Portugal (Rondini, Pedro e Duarte, 2020).
Neste contexto, surgiu um estudo com a missão de dissecar as vantagens, contribuições, problemas e desafios que permeiam o uso de nove plataformas e tecnologias digitais (PTD) por professores e alunos de cinco agrupamentos escolares em Portugal.
Essas plataformas incluem ambientes virtuais, Microsoft Office, blogs, cadernetas eletrônicas, correio eletrônico, armazenamento em nuvem, páginas das escolas, plataformas escolares e redes sociais, cada uma oferecendo um leque distinto de oportunidades e obstáculos na execução das atividades escolares diárias.
O estudo visa compreender as dinâmicas do uso dessas tecnologias, bem como investigar se a quarentena imposta pela pandemia de COVID-19 exacerbou ou introduziu novas dificuldades nas atividades educacionais.
Dessa forma, a pesquisa busca identificar os impactos adicionais que a pandemia trouxe para o uso dessas plataformas, explorando como as condições excepcionais afetaram a eficiência e a eficácia do ensino e da aprendizagem em um cenário em que a tecnologia se tornou o principal meio de conexão e interação educacional.
5. CONCLUSÃO
Apesar de sua popularização recente, a educação à distância não é um fenômeno inovador, tendo suas raízes em práticas antigas como os cursos por correspondência que moldaram a formação profissional no passado.
Contudo, a revolução tecnológica trouxe um novo patamar para essa modalidade de ensino, entendendo que as plataformas digitais não apenas superam as barreiras físicas que separam educadores e alunos, mas também atuam como facilitadores para a expansão e democratização do acesso educacional.
Em um país com dimensões continentais como o Brasil, a EaD chega como um poderoso equalizador, proporcionando acesso à formação superior para aqueles que, de outra forma, estariam excluídos devido a distâncias geográficas, limitações econômicas ou outras barreiras. Dessa forma, as plataformas digitais se consolidam como um pilar fundamental na estruturação de um sistema educacional mais inclusivo e acessível.
Como evidenciado no presente estudo, a variedade de plataformas educacionais disponíveis é vasta e diversificada, permitindo que instituições de ensino selecionem aquelas que melhor se adequem às necessidades específicas de seus estudantes e professores. Algumas instituições optam por desenvolver plataformas próprias, conferindo maior controle e personalização aos administradores educacionais. No entanto, o caminho para a integração eficaz da educação à distância não é isento de obstáculos significativos.
Desde a adaptação de docentes e discentes às novas metodologias e tecnologias até as dificuldades relacionadas ao acesso a equipamentos adequados e à qualidade da conexão com a internet, esses desafios são complexos e persistentes.
A superação dessas barreiras não se dá de maneira imediata ou simples; requer um compromisso coletivo e ações coordenadas tanto da sociedade quanto do poder público. Para tanto, revela-se necessário um esforço contínuo para garantir que a educação à distância se estabeleça como uma ponte efetiva entre professores e alunos, cumprindo seu papel de facilitar o acesso ao conhecimento sem os traumas associados às limitações tecnológicas e logísticas.
A pandemia de COVID-19, que irrompeu globalmente a partir de 2019, acelerou a democratização da modalidade EAD, forçando uma adoção massiva que, embora inicialmente emergencial, destacou o potencial transformador dessa forma de ensino como um antídoto para os desafios impostos pela crise sanitária.
Nesse cenário, o Ministério da Educação introduziu a Universidade Aberta do Brasil, evidenciando a importância da EAD e sua capacidade de, quando necessário, assumir um papel central na formação de profissionais.
Apesar dos obstáculos significativos, como o acesso desigual a equipamentos eletrônicos e a variabilidade na qualidade da conexão com a internet, o que se vislumbra para o futuro é uma consolidação robusta da educação a distância.
Este avanço não se reflete apenas no aumento do número de estudantes que optam por essa modalidade, mas, crucialmente, na crescente aceitação e reconhecimento da comunidade acadêmica e da sociedade em relação aos benefícios oferecidos pelas plataformas digitais. Assim, a trajetória da EAD sugere um horizonte promissor, onde a modalidade se afirma não apenas como uma alternativa viável, mas como um componente essencial e integrador do ecossistema educacional contemporâneo.
6. REFERÊNCIAS
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