PITAYA: ANÁLISE SWOT PARA CULTIVO NO SISTEMA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL (SPS)

PITAYA: SWOT ANALYSIS FOR CULTIVATION IN THE SUSTAINABLE PRODUCTION SYSTEM (SPS)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202506291951


Daiana Franco Nakajima
Alexandre Mafra de Oliveira
Graziela de Cassia Ribeiro
Orientadora: PROF.ª Areta Lúcia da Silva


RESUMO

A pitaya, conhecida como fruta-dragão e classificada como Selenicereus undatus, é um fruto originário da América Central que tem ganhado popularidade no Brasil desde a década de 1990. Seu cultivo é favorecido por climas quentes, necessitando de cerca de 8 horas diárias de luz solar direta, solos areno-argilosos e fertilização agroecológica, especialmente com esterco. A planta cresce melhor em temperaturas entre 18°C e 26°C e com uma média anual de chuvas de aproximadamente 1200 milímetros. Inicialmente difundida no Sudeste, a pitaya passou a ser cultivada em outras regiões brasileiras. As variedades frutíferas mais conhecidas pertencem ao grupo Platypuntia, caracterizado por caules planos adaptados para minimizar a perda de água, com crescimento lento e capacidade de retenção hídrica em seus tecidos.

Palavras-chave: Agricultura agroecológica, Cactáceas, Frutas exóticas, Produção sustentável, Mercado brasileiro.

ABSTRACT

Pitaya, known as dragon fruit and classified as Selenicereus undatus, is a fruit native to Central America that has gained popularity in Brazil since the 1990s. Its cultivation is favored by warm climates, requiring about 8 hours of direct sunlight per day, sandy-clay soils, and agroecological fertilization, especially with manure. The plant grows best in temperatures between 18°C and 26°C, with an average annual rainfall of approximately 1200 millimeters. Initially introduced in the Southeast, pitaya has come to be cultivated in other regions of Brazil. The most well-known fruit-bearing varieties belong to the Platypuntia group, characterized by flat stems adapted to minimize water loss, with slow growth and the ability to retain water in their tissues.

Keywords:  agroecology agriculture, Cactaceae, Exotic fruits, Sustainable production, Brazilian market.

1.  INTRODUÇÃO

Ao falarmos sobre o mercado de produtos relacionados ao agronegócio, o consumo e  a procura por alimentos voltados a um nicho agroecológico e orgânicos, vem a cada dia conquistando uma fatia de mercado maior.

Podemos citar os dados mercadológicos do setor relacionado ao ano de 2017, destacando o setor europeu relacionado a esses produtos, tal setor movimentou a quantia de € 37,3 bilhões. Os produtos mais populares entre os consumidores incluem frutas, vegetais e ovos orgânicos (Sahota, 2018). No Brasil, o cenário não é diferente, com uma crescente demanda para o consumo interno e para a  exportação desses alimentos e com o intuito de facilitar a comercialização de produtos sustentáveis,  citamos um acordo de equivalência  estabelecido em setembro de 2018 entre o Brasil e o Chile como um exemplo desta expansão comercial (Brasil, 2019).

Além do contexto externo favorável aos produtos oriundos de cultivos voltados para a  tríade da sustentabilidade, também há uma tendência positiva no mercado brasileiro de consumo, que é o maior da América Latina, impulsionada pela classe média que procura opções alimentares mais saudáveis. A pitaya (Selenicereus undatus), é conhecida como um fruto nativo da América Central, apresenta a cada ano um aumento de mercado nos últimos anos do Brasil devido à sua excentricidade. Sua aparência se destaca por ser um cacto com uma tonalidade vibrante, frequentemente em rosa. Este fruto é doce ao paladar e pode ser incorporado em diversas receitas,  essa diversidade permite que o fruto seja comercializado como sobremesas, bebidas e sorvetes, além de oferecer vários benefícios à saúde, que englobam desde a  regulação intestinal ao suporte na perda de peso, entre outros. A pitaya também desperta grande interesse no setor cosmético,  fatores estes que demonstram seu potencial em várias cadeias produtivas  (Pitaya do Brasil, 2021).

No Brasil, os produtos agroecológicos frescos, como verduras, legumes e frutas, são os que têm maior consumo. Conforme Willer e Lernoud (2019), o varejo de produtos alcançou vendas de € 778 milhões, enquanto as exportações desses produtos totalizaram € 126 milhões em 2016.

O crescimento da cultura está em crescimento no mercado nacional e internacional. Os  países que mais importam pitaya são Estados Unidos, Alemanha, França, Holanda, Rússia, Reino Unido e Canadá. Para suprir tanto o mercado interno quanto o externo, acredita-se que a produção de pitayas continuará a se expandir no Brasil nos anos vindouros. Atualmente, já existem casos de sucesso no cultivo de pitayas em quase todas as regiões e unidades federativas do país.

 Segundo a Embrapa, em 2017 o Brasil produziu cerca de 1,5 mil toneladas anualmente em uma área ligeiramente superior a 500 hectares. A beleza, o sabor e as propriedades funcionais das pitayas estão conquistando consumidores do Brasil e do mundo.

Fatores como uma maior  preocupação com a saúde e a busca por uma dieta mais balanceada aumenta a procura pela fruta, fazendo com que as pitayas ganhem destaque, levando em conta as diversas propriedades funcionais.

Outra mudança esperada para os próximos anos é a melhoria do sistema de cultivo de pitayas no Brasil. A colaboração entre a Embrapa, instituições de ensino superior, organizações estaduais de pesquisa e extensão rural, e agentes públicos e privados alinhados ao setor produtivo é um caminho crucial para criar soluções tecnológicas que aprimorem e solidifiquem a cadeia produtiva de pitayas nas várias regiões do Brasil.

Ao elencarmos dados mercadológicos do Estado de  São Paulo, a  Embrapa, (2025),  relata que o Estado é o maior  produtor. O cultivo da fruta ainda é um desafio para os agricultores, que precisam superar a falta de informações técnicas e científicas.  A produção está atualmente concentrada na região Sudeste, com cerca de 54,42%; a região Sul responde por 33,62% e a região Norte por 10,52% da produção nacional. A boa adaptação da planta às condições edafoclimáticas do Sudeste do Brasil tornou essa região a principal produtora de pitaya do país (Pio et al., 2020).

O estado de São Paulo foi o maior produtor nacional de pitaya com 586 t em 2017, seguido por Santa Catarina (350 t), Minas Gerais (181 t) e Pará (152 t). Na região Centro- Oeste, destaca-se o estado de Goiás com 23 t produzidas em 135 ha, seguido por Mato Grosso do Sul com apenas 5t produzidas em 5 ha. Mato Grosso não apareceu nas estatísticas de produção de pitaya no Censo Agropecuário realizado pelo IBGE em 2017. Entretanto, a produção de pitayas é crescente no estado, havendo áreas com produção nos municípios de Arenápolis, Canarana, Gaúcha do Norte, Curvelândia, Figueirópolis d’Oeste, Guarantã do Norte, Juína, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Nova Ubiratã, Pontes e Lacerda, São José do Rio Claro, Sinop e Tangará da Serra (Empaer-MT, 2021).

A maior parte da produção no estado é comercializada in natura, diretamente nos supermercados ou em feiras municipais. De forma geral, não há dificuldades para comercialização da pitaya no Mato Grosso, e esse parece ser um mercado crescente. Entre os problemas relatados pelos produtores em relação ao cultivo de pitaya, destacam-se a indisponibilidade de mudas de cultivares melhoradas e a falta de linhas de crédito para a implantação e custeio da atividade (Empaer-MT, 2021).

Houve grande evolução no volume de pitayas comercializado na Central Estadual de Abastecimento (Ceasa) do Brasil, passando de 116.598 kg em 2009 para 1.186.484 kg em 2019, o que indica um mercado em pleno crescimento no país. O preço da pitaya é variável conforme as regiões e épocas do ano. Em 2020, na Ceasa de Goiânia, o preço para o quilo de pitaya vermelha variou de aproximadamente R$ 30,00 (março) a R$ 85,00 (meses de entressafra). Na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), o preço foi de aproximadamente R$ 7,00/kg (janeiro a maio) e R$ 20,00 a R$ 30,00 (entressafra).

O interesse pelo fruto vem crescendo, especialmente no mercado gastronômico, que tem descoberto novas formas de aproveitamento. Além disso, os benefícios nutricionais da pitaya agregam valor ao produto, impulsionando sua demanda no mercado brasileiro.

Este trabalho tem como objetivo descrever a cultura da pitaya e demonstrar a sua produção de acordo com o método Sistema de Produção Sustentável (SPS). O artigo foi elaborado utilizando a metodologia de Revisão literária e se delimita a abordar variáveis como o mercado, o meio de produção sustentável.  

2.  DESENVOLVIMENTO DO ASSUNTO

2.1  ORIGEM E CARACTERÍSTICAS DA PITAYA

A palavra “pitaya”, que se traduz como “fruta escamosa”, tem origem na língua Taíno, falada nas Ilhas Antilhas durante a conquista espanhola no século XV (Nunes, 2024). Globalmente, essa espécie é conhecida por diversos nomes, como Pitaya, Pitajaja, Night blooming, Flor de Cáliz, Tasojo, Vine Cacti e, mais frequentemente, Dragon Fruit (Le Bellec, 2006, p. 96). Essa cactácea, nativa das Américas (Garcia-Rubio, 2015), especialmente da América Central, é comumente cultivada em agricultura familiar, principalmente em sistemas agroecológicos, além de ser utilizada na medicina popular e servir como uma importante fonte de alimento (Cruz, 2015). Há algumas décadas, essa fruta ainda era pouco conhecida, mas atualmente desempenha um papel significativo no mercado global de frutas exóticas, especialmente devido às suas particularidades.

A pitaya é resistente à secagem e não é exigente em relação à qualidade do solo. Com suas espinhosas características, ela consegue sobreviver em ambientes naturais adversos e possui uma ampla variedade de adaptações anatômicas e fisiológicas para a conservação de água. Do ponto de vista botânico, ela pertence às epífitas e à subfamília Cereoideae, que abrange o gênero Cereus. Dentro desse gênero, suas origens são das espécies Cereus undatus, Cereus polyrhizus e Cereus megalanthus, esta última também conhecida pelo sinônimo Hylocereus (Canto, 1993).

No contexto da agricultura comercial, destacam-se quatro espécies distintas que oferecem uma oportunidade de diversificação no cultivo agrícola: Hylocereus undatus, com casca vermelha e polpa branca; Hylocereus costaricensis, de casca vermelha e polpa roxa; Hylocereus polyrhizus, de casca vermelha e polpa vermelha; e Selenicereus megalanthus, de casca amarela e polpa branca (Junqueira, 2002).

Atualmente, a pitaya é cultivada em vários países de diferentes partes do mundo, incluindo: Austrália, Camboja, Colômbia, Equador, Guatemala, Indonésia, Israel, Nova Zelândia, Nicarágua, México, Peru, Filipinas, Taiwan, Tailândia, Estados Unidos, Vietnã e Brasil (Mizrahi, 1997). Sendo um cacto epífito, a pitaya necessita de um suporte para seu desenvolvimento, que pode ser formado por árvores, estacas de madeira, postes de concreto, cercas, muros ou outras estruturas.

A pitaya é uma espécie que faz parte da família dos cactos, marcada pela “existência de aréolas contendo pelos e espinhos, um caule suculento (cladódio — que é um tipo de caule), uma casca verde e a ausência de folhas apropriadas” (Buxbaum, 2008). Diversas variedades de cactáceas produzem frutos que podem ser consumidos. Contudo, as variedades frutíferas mais conhecidas dessa família estão incluídas no grupo Platyopuntia (um subgênero dentro do gênero Opuntia), que é caracterizado por segmentos de caule planos.

Marques (2008) detalha que as cactáceas são plantas que passaram por um desenvolvimento fisiológico significativo. Elas ajustaram sua capacidade de respiração para minimizar a perda de água durante o dia, essas plantas têm um crescimento lento e, na maior parte do tempo, retêm água em seus tecidos. Quatro grupos abrangem os diferentes tipos de pitaya: Stenocereus, Cereus, Selenicereus e Hylocereus. Esses grupos se distinguem pelo tipo de fruto que produzem. Entre os frutos mais famosos, destacam- se a pitaya amarela (Selenicereus megalanthus), que possui casca amarela e polpa branca, e a pitaya vermelha (Hylocereus), que apresenta casca vermelha e polpa que pode ser branca ou vermelha, dependendo da variedade.

Moreira et al. (2012) comentam sobre a ampla diversidade que existe entre as espécies, tanto no que se diz respeito ao tamanho quanto à coloração e ao sabor das frutas.

Figura 1 – Pitaya vermelha com polpa vermelha

Fonte: Embrapa

Figura 1: Pertence à espécie Hylocereus Constaricensis, é doce e possui textura suave. Gosto semelhante ao Kiwi com nota de beterraba.

Figura 2 – Pitaya vermelha com poupa branca

Fonte: Embrapa

Figura 2: Pertence à espécie Hylocereus Undatus, apresenta uma casca vermelha e uma polpa branca. A única diferença para pitaya vermelha é a tonalidade.

Figura 3 – Pitaya do cerrado

Fonte: Embrapa

Figura 3: A Selenicereus Setaceus, conhecida como pitaya do cerrado, diferente da branca no tamanho (ela é menor) porém mais doce e possui espinhos.

Figura 4 – Pitaya do cerrado

Fonte: Embrapa

Figura 4: A pitaya amarela, também conhecida como fruta do dragão amarelo, é uma fruta exótica, nativa de diversos países da América, principalmente, da América Central e do Sul. Ela cresce em uma espécie de cacto, a Hylocereus spp., por isso, seu cultivo é bem resistente ao calor e ao frio. Seu sabor é mais doce que a pitaya vermelha.

2.2  SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DA PITAYA

Um dos pontos importantes no cultivo da pitaya é a adoção do método de plantio direto de hortaliças em pomares de pitaya. A abordagem utiliza plantas de cobertura para aprimorar as características físicas, químicas e biológicas do solo, protegendo-o da compactação, da erosão e das temperaturas elevadas, além de proporcionar diversas outras vantagens para a lavoura.

O plantio direto na pitaya, particularmente com a utilização de amendoim forrageiro, tem trazido adições notáveis de nitrogênio para o sistema, uma vez que essa forrageira é uma leguminosa que adiciona aproximadamente 100 a 150 kg de nitrogênio por hectare anualmente (Epagri, 2022).

A produção sustentável de pitaya em consórcio com a pecuária bovina é uma estratégia promissora para diversificar a renda do produtor rural, otimizar o uso da terra e promover práticas agroecológicas. Embora a Embrapa não tenha um sistema específico que integre pitaya e gado, diversas tecnologias e recomendações desenvolvidas pela instituição podem ser adaptadas para viabilizar esse modelo de produção.

O Sistema de Produção Sustentável (SPS) da pitaya tem se destacado entre as práticas agroecológicas, especialmente pela significativa produção de biomassa vegetal oriunda de plantas de cobertura perenes e anuais. Estima-se que cada hectare de pitaya cultivado nesse sistema gere mais de 50 toneladas de matéria seca por ano.

Essa biomassa desempenha um papel essencial na proteção do solo, no conforto térmico das plantas e na nutrição da microbiota, contribuindo para o aumento do teor de matéria orgânica e para a construção da fertilidade do solo. A melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo tem permitido aos agricultores reduzir significativamente os custos de produção, tornando o cultivo da pitaya ainda mais viável e fortalecendo a resiliência do agroecossistema.

Além disso, a adoção do SPS tem proporcionado benefícios como:

2.2.1 Produção de frutas de alta qualidade, atendendo às exigências do mercado.

2.2.2 Redução dos custos de produção, tornando a atividade mais rentável.

2.2.3 Incremento da biodiversidade, favorecendo o equilíbrio ecológico.

2.2.4 Aumento da produtividade dos pomares, garantindo maior retorno ao produtor.

Esse modelo sustentável não apenas melhora a eficiência produtiva, mas também reforça a importância da agroecologia na construção de sistemas agrícolas mais equilibrados e resilientes (Epagri).

Nativa de florestas tropicais e subtropicais da América Central, a pitaya vem ganhando espaço no território brasileiro. Em Santa Catarina, estima-se que existam 200 ha com o cultivo da fruta, envolvendo cerca de 150 famílias na atividade. Na safra 2019- 20, foram comercializadas em torno de 1.000 toneladas da fruta, com crescimento de 60% em relação à safra passada na região do sul catarinense.

O cultivo comercial da pitaya em Santa Catarina teve início em 2010 com a família Feltrin, de Turvo/SC. O principal objetivo foi substituir áreas de cultivo de tabaco e diversificar as atividades da pequena propriedade rural, agregando renda e qualidade de vida ao agricultor. Um dos grandes fatores do sucesso de seu cultivo foi o fácil manuseio, a rusticidade da planta, o considerável valor comercial e, principalmente, a organização dos produtores e das cooperativas.

Somado a isso, a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) tem promovido entre os agricultores a adoção e a difusão de técnicas agroecológicas para o cultivo da fruta, principalmente focadas no manejo conservacionista do solo, da água e do ambiente.

Por meio de visitas técnicas, capacitações contínuas, uso de tecnologias digitais e utilizando o modelo sustentável de produção baseado no SPDH (Sistema de Plantio Direto de Hortaliças), os produtores têm conseguido excelentes resultados na cultura, principalmente nas vertentes ecológica e ambiental. Estima-se que mais de 90% dos pomares do Sul catarinense utilizam práticas agroecológicas, como cobertura do solo permanente, adubação verde de inverno, adubação orgânica e uso de quebra-ventos.

A utilização de leguminosas como o amendoim forrageiro (Arachis pintoi) tem gerado uma grande economia no uso de fertilizantes nitrogenados, visto que têm a habilidade de fixar nitrogênio atmosférico. As plantas de cobertura também têm promovido diversos benefícios ao solo, como ciclagem de nutrientes, controle de erosão, manutenção de umidade e, principalmente, conforto térmico ao pomar.

Há também na região algumas iniciativas de integração de pitaya e pecuária, com o uso de bovinos de leite nos pomares, auxiliando na adubação orgânica e reduzindo despesas com roçadas das plantas de cobertura. Aliado a isso, o cultivo sustentável tem permitido viabilizar a produção agroecológica e orgânica de pitaya de forma crescente na região. Inclusive, no ano de 2020, a Epagri publicou o primeiro Boletim Técnico, nº 196, contendo diversas informações técnicas sobre o cultivo da fruta, incluindo tabela de adubação, inédita no meio científico do país.

Dentre as diversas práticas agroecológicas citadas, o sistema de produção sustentável (SPS) da pitaya tem apresentado dados interessantes em relação à produção de biomassa vegetal proveniente das plantas de cobertura perenes e anuais. Estima-se que cada hectare de pitaya conduzido em sistema sustentável gera produção de matéria seca maior que 50 toneladas/ano.

Essa biomassa vegetal, além de proteger o solo e promover conforto à planta, propicia alimento para a microbiota do solo, refletindo no aumento do teor de matéria orgânica e na construção da fertilidade do solo. A melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo tem permitido ao agricultor reduzir significativamente os custos de produção, viabilizando ainda mais o sistema de produção da fruta e aumentando a resiliência do agroecossistema.

3.  ANÁLISE SWOT DA PITAYA

Forças (F)

3.2 Nutrição: A pitaya é rica em nutrientes, como vitaminas, minerais e antioxidantes.

3.3 Sabor único: A pitaya tem um sabor doce e ligeiramente ácido, atraente para muitos consumidores.

3.4 Cultivo fácil: A pitaya é uma planta relativamente fácil de cultivar, reduzindo os custos de produção.

3.5 Demanda crescente: A demanda por frutas exóticas, como a pitaya, está crescendo em muitos mercados.

3.6 A pitaya pode ser utilizada em inúmeras cadeias produtivas, desde a alimentar até a de cosméticos.

3.7 A cultura pode ser implantada em pequenas e médias propriedades rurais.

3.8  O Brasil em sua maioria extensão rural, apresenta clima favorável para a produção da fruta.

Fraquezas (W)

1.   Preço alto: A pitaya pode ser mais cara do que outras frutas, limitando sua acessibilidade para alguns consumidores.

2.   Disponibilidade limitada: A pitaya pode não estar disponível em todos os mercados ou regiões.

3.   Período de colheita curto: A pitaya tem um período de colheita relativamente curto, afetando a disponibilidade e o preço.

4.       Sensibilidade à temperatura: A pitaya é sensível à temperatura, o que pode afetar sua qualidade e durabilidade.

5.       A logística,  como a pitaya é uma fruta sazonal, muitas regiões na época da colheita ficam com um grande volume de frutos e por conta disso, acabam tendo que declinar o preço (oferta x demanda), maior oferta requer declínio no preço.

6.       Com a sazonalidade trás a questão do “tempo de prateleira” reduzido.   

Oportunidades (O)

1. Expansão para novos mercados: A pitaya pode ser introduzida em novos mercados, especialmente em regiões com clima tropical ou subtropical.

2.  Desenvolvimento de produtos derivados: A pitaya pode ser usada para desenvolver produtos derivados, como sucos, geleias e suplementos nutricionais.

3.  Parcerias com produtores locais: A pitaya pode ser cultivada em parceria com produtores locais, ajudando a reduzir os custos de produção e aumentar a disponibilidade.

4.  Marketing e promoção: A pitaya pode ser promovida através de campanhas de marketing, aumentando a demanda e a conscientização sobre a fruta.

5. Considerar o mini processamento da polpa da fruta e a sua distribuição mais ampla para algumas regiões, evitando assim, a concentração de pitaya em um mesmo território comercial.  

Ameaças (T)

1. Concorrência de outras frutas: A pitaya pode enfrentar concorrência de outras frutas exóticas ou tradicionais, afetando sua demanda e preço.

2. Doenças e pragas: A pitaya pode ser afetada por doenças e pragas, impactando sua qualidade e disponibilidade.

3. Mudanças climáticas: As mudanças climáticas podem afetar a produção e a disponibilidade da pitaya, especialmente em regiões com clima tropical ou subtropical.

4. Regulamentações e restrições: A pitaya pode estar sujeita a regulamentações e restrições, especialmente em relação à importação e exportação, afetando sua disponibilidade e preço.

4.  CONCLUSÃO

A pitaya destaca-se como uma fruta exótica promissora no cenário nacional e internacional, tanto pelo seu valor nutricional quanto pelas possibilidades de cultivo sustentável. Ao longo deste trabalho, foram analisados aspectos agronômicos, produtivos e comerciais que evidenciam o potencial de expansão da fruta no Brasil, especialmente em sistemas agroecológicos e de integração com a pecuária.

Observou-se que, apesar das vantagens, como fácil adaptação climática, boa aceitação de mercado e propriedades funcionais, o cultivo da pitaya ainda enfrenta desafios, como a escassez de mudas melhoradas, ausência de assistência técnica e altos custos de implantação. No entanto, práticas sustentáveis como o Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) e o consórcio com espécies de cobertura têm apresentado resultados positivos, contribuindo para o aumento da produtividade, redução de custos e melhoria da qualidade do solo.

A análise SWOT realizada indicou que a pitaya possui forças estratégicas, como alto valor agregado, versatilidade e apelo nutricional, além de boas oportunidades de inserção em novos mercados, desenvolvimento de produtos derivados e fortalecimento de cadeias curtas de comercialização. Contudo, é necessário considerar ameaças como mudanças climáticas, oscilações de mercado e falta de políticas públicas específicas para a cultura.

Conclui-se, portanto, que o investimento em tecnologias apropriadas, políticas de incentivo e capacitação de produtores pode consolidar a pitaya como uma alternativa viável e sustentável para o agronegócio brasileiro, contribuindo para a diversificação da produção, geração de renda e promoção da agricultura de baixo impacto ambiental.

REFERÊNCIAS

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