PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE DENGUE NO TOCANTINS DURANTE OS ANOS DE 2014-2023

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF DENGUE CASES IN TOCANTINS DURING THE YEARS 2014-2023

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11161986


Marcus César Leandro da Silva Leal1; Pablo Teixeira Lino Carneiro1; Raquel Rodrigues da Silva1; Marcus Vinicius Moreira Barbosa2


RESUMO

Introdução: A dengue é classificada como uma arbovirose, a qual é responsável pela maior quantidade de casos no território americano. Seu agente etiológico é o arbovírus da família Flaviviridae, em que este é transmitido através da picada do mosquito Aedes aegypti. Trata-se de uma doença endêmica no Brasil, sendo ocasionada por quatro sorotipos virais principais: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Em análise nacional, observa-se aumento da incidência de epidemias em períodos quentes e úmidos. Entre os anos de 2017 e 2022 foram confirmados 28.355 casos no Tocantins, sendo que 6% desses casos necessitaram de hospitalização, confirmando sua elevada prevalência na região. O seguinte trabalho tem como objetivo principal apresentar e analisar o perfil epidemiológico dos casos notificados de dengue no Tocantins entre os anos de 2014-2023. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, observacional e quantificativo, em que foi realizado pela coleta de dados disponibilizados DATASUS e SINAN. Considerações finais: Verifica-se a necessidade da implementação de estratégias de prevenção que combatem o mosquito vetor de maneira eficiente, além da ampla disponibilização de testes sorológicos que auxiliem o diagnóstico precoce da doença.

Palavras-chave: Dengue. Epidemiologia. Tocantins. Aedes aegypti.

ABSTRACT

Introduction: Dengue is classified as an arbovirus, which is responsible for the largest number of cases in the United States. Its etiological agent is the arbovirus of the Flaviviridae family, which is transmitted through the bite of the Aedes aegypti mosquito. It is an endemic disease in Brazil, caused by four main viral serotypes: DEN-1, DEN-2, DEN-3 and DEN-4. In a national analysis, an increase in the incidence of epidemics is observed in hot and humid periods. Between 2017 and 2022, 28,355 cases were confirmed in Tocantins, with 6% of these cases requiring hospitalization, confirming their high prevalence in the region. The following work’s main objective is to present and analyze the epidemiological profile of reported cases of dengue in Tocantins between the years 2014-2023. Methodology: This is a descriptive, observational and quantitative epidemiological study, which was carried out by collecting data made available by DATASUS and SINAN. Final considerations: There is a need to implement prevention strategies that combat the mosquito vector efficiently, in addition to the wide availability of serological tests that help in the early diagnosis of the disease.

Keywords: Dengue. Epidemiology. Tocantins. Aedes aegypti.

1. INTRODUÇÃO

A dengue é uma patologia da classe das arboviroses, acometendo uma maior quantidade indivíduos em todo o território americano quando comparada às demais doenças da mesma classe. Seu agente etiológico é o arbovírus da família Flaviviridae, em que este é transmitido através da picada do mosquito Aedes aegypti. É definida como um quadro infeccioso febril agudo de evolução benigna, em que apresenta duas formas evolutivas distintas, as quais são a dengue clássica e a febre hemorrágica da dengue (BIASSOTI; ORTIZ, 2017).

Segundo o Ministério da Saúde, o mosquito vetor é típico de ambientes de clima quente e úmido, o qual apresenta um padrão comportamental sazonal, o que indica a presença de casos durante todo o ano (BRASIL, 2024). O A. aegypti necessita de sangue para realizar suas atividades reprodutivas, em que seu ciclo de vida inicia no paciente infectado com o vírus da dengue, onde o mosquito se alimenta de seu sangue e consequentemente se infecta, adotando o potencial de infectar outros indivíduos os quais venha a se alimentar futuramente (BARRETO; TEIXEIRA, 2008).

Trata-se de uma doença endêmica no Brasil, sendo ocasionada por quatro sorotipos virais principais: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Em análise nacional, observa-se aumento da incidência de epidemias em períodos quentes e úmidos ou chuvosos (BRASIL, 2024). Segundo um estudo elaborado por Teixeira, Barreto e Guerra (1999), são evidenciadas epidemias de dengue no Brasil desde o ano de 1846, localizadas inicialmente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No entanto, por mais que a doença tenha seus primeiros acontecimentos no passado, ainda hoje apresenta grande prevalência no Brasil, sendo notificados 544.460 casos no ano de 2021 (COLA et al, 2023).

Mesmo que tenha sido considerada uma doença erradicada no século XX, na atualidade é configurada como um importante problema de saúde pública, sendo decorrente principalmente de seu potencial em desencadear epidemias e, consequentemente, aumento do número de internações de acordo com a evolução para suas formas graves. O estado do Tocantins é considerado como endêmico à dengue, fator consequente as suas características ambientais e socioeconômicas. Entre os anos de 2017 e 2022 foram confirmados 28.355 casos no Tocantins, sendo que 6% desses casos necessitaram de hospitalização, confirmando sua elevada prevalência na região (DE OLIVEIRA et al, 2023).

Geralmente, encontra-se pacientes portadores de dengue que possuem a forma sintomática da doença, causando acometimento sistêmico e dinâmico. Pode-se encontrar formas oligoassintomáticas até quadros de maior gravidade, que ocasionalmente evoluem para óbito. Existem três estágios clínicos, os quais são: fases febril, crítica e de recuperação. A primeira fase é demarcada por febre alta de início abrupto, associada a outros sintomas, como exemplo cefaleia, dor retro orbitária e mialgias. A segunda fase, por sua vez, é caracterizada pelo surgimento de sinais de alarme associado a episódios de maior relevância da febre. Por fim, como sugestivo, a fase de recuperação é a melhora clínica do paciente (DA FONSECA et al, 2021).

O diagnóstico da dengue associa o diagnóstico clínico, epidemiológico e sorológico. Os aspectos clínicos e epidemiológicos consideram as manifestações que o doente refere, além da visita a regiões endêmicas nos últimos 14 dias. Entre os métodos sorológicos, o principal a ser utilizado é o ELISA, em que pode ser solicitado a partir do sexto dia de sintomas. No entanto, se o objetivo é detectar a presença de antígenos virais, o mesmo deve ser realizado até o quinto dia de sintomas. Caso os testes sejam negativos, indica-se realizar a pesquisa da sorologia por IgM, visto que é de grande relevância a confirmação diagnóstica para um melhor prognóstico do paciente (DE OLIVEIRA et al, 2023).

Para um melhor controle de períodos endêmicos, o controle vetorial é um importante método de prevenção disseminado há algum tempo. Nesse contexto, em 2002 foi instaurado o Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD), o qual determina a necessidade da mobilização social para auxiliar no controle de potenciais criadouros do mosquito vetor (DIAS et al, 2022). Nessa análise, a atuação da vigilância epidemiológica em conjunto com órgãos de saúde pública evidencia resultados positivos na prevenção de grandes epidemias, de modo que correlacione a monitorização de sorotipos circulantes com o combate ao vetor infectado (TAUIL, 2002).

Diante das informações dispostas, considerando a gravidade clínica da dengue e suas repercussões no sistema de saúde pública, nota-se a importância que deve ser dado ao tema, principalmente pelo estado do Tocantins se encontrar em uma região endêmica à patologia. Posto isso, esse estudo tem como problemática motivadora para sua elaboração: “Qual as características epidemiológicas da dengue nos dias atuais no estado do Tocantins?”. 

Dessarte, o seguinte trabalho tem como objetivo principal apresentar e analisar o perfil epidemiológico dos casos notificados de dengue no Tocantins entre os anos de 2014-2023, de modo que possa contribuir para a conscientização da população e para a implementação de políticas públicas de prevenção eficientes.

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, observacional e de abordagem quantificativa, o qual foi realizado pela coleta de dados disponibilizados pelo Departamento de Informação e Informática do SUS (DATASUS), associado ao Sistema de Agravos de Notificação (SINAN). A seguinte pesquisa examinou os casos notificados de Dengue no estado do Tocantins referente aos anos de 2014 a 2023. Para a elaboração e fundamentação bibliográfica, foram consultados artigos expostos nas plataformas eletrônicas Google Acadêmico, Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e PubMed. 

 Os critérios de inclusão definidos englobavam todos os casos de pacientes notificados e suspeitos de dengue no Tocantins, entre os anos de 2014 a 2023; além de artigos científicos que ofertassem informações fidedignas ao tema. Foram excluídos da pesquisa artigos que não estivessem alinhados ao tema proposto e casos notificados de pacientes que não residissem no estado analisado. As palavras-chave pesquisadas foram: “dengue”, “arboviroses”, “epidemiologia”, “Tocantins” e “região norte”. As variáveis utilizadas foram: distribuição total de casos no Tocantins entre o período estabelecido, abrangência por municípios, sexo, faixa etária, evolução e hospitalizações.

3. RESULTADOS

Em primeira análise, verifica-se a distribuição dos casos registrados como dengue no estado do Tocantins entre os anos de 2014-2023. Inicialmente, constata-se uma falha na coleta e registro dos dados, visto que ao ser consultado o período a ser analisado, o ano de 2013 foi incluído pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), com taxas de incidência desproporcionais aos outros anos. Por conseguinte, verifica-se que o ano de 2022 obteve a maior concentração de casos registrados, sendo equivalente a 26,99% dos casos totais, situação possivelmente decorrente de uma epidemia, dados esses registrados na tabela 1. 

Tabela 1. Distribuição de casos de Dengue no estado do Tocantins entre os anos de 2014-2023.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Ao serem analisados alguns municípios de grande, médio e pequeno porte do estado tocantinense, nota-se a maior prevalência de casos na capital do estado, Palmas, equivalente a 58,35%. Em segundo lugar, encontra-se o município de Araguaína com maior concentração de casos, abrangendo um total de 16,87% (tabela 2).

Tabela 2. Disposição dos casos de dengue entre alguns municípios tocantinenses, entre os anos de 2014-2023.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

De acordo com os dados evidenciados na tabela 3, nota-se que a faixa etária mais acometida pelo vírus da dengue são os adultos jovens de 20 a 39 anos de idade, os quais correspondem a um total de 39,24% de casos. Em contrapartida, a faixa etária com menor incidência foi a de idosos com mais de 80 anos de idade, equivalente a 0,68% (tabela 3). 

Tabela 3. Incidência da dengue segundo a faixa etária.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Ao se averiguar a prevalência da dengue quanto à variável sexo, compreende-se que o sexo feminino obteve maior concentração de casos em todos os anos analisados, ou seja, superou o sexo masculino com uma diferença de 4.598 casos como exposto na tabela 4. 

Tabela 4. Casos notificados de dengue no estado do Tocantins durante 2014-2023 segundo o sexo.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Por fim, ao se observar os indicadores de gravidade da doença, como exemplo taxas de hospitalização e evolução, dados ofertados nas tabelas 5 e 6 respectivamente, nota-se que a maioria dos casos obteve evolução benigna, não sendo necessário internação. Sendo assim, apenas 5,04% dos casos necessitaram de intervenção por hospitalização, e 68.099 casos evoluíram para cura da doença.

Tabela 5: Índice de hospitalização dos casos de dengue no Tocantins durante 2014-2023.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Tabela 6: Casos notificados de dengue segundo a sua evolução.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

4. DISCUSSÃO

De acordo com uma pesquisa realizada por Gonçalves et al (2020), o estado do Tocantins apresenta aspectos que são propícios ao desenvolvimento do mosquito A. aegypti, os quais resultam na apresentação de notificações endêmicas da doença no estado. Tal fato mencionado entra em concordância com as informações dispostas na pesquisa realizada, que evidenciou um total de 76.859 casos notificados de dengue no Tocantins entre nos anos de 2014 a 2023. A partir desse princípio, torna-se fundamental a execução de estratégias de combate ao mosquito vetor mais eficientes, de forma que possibilite uma redução na transmissibilidade da patologia no estado (GONÇALVES et al, 2020).

Por outro lado, observa-se a capacidade da doença em ocasionar complicações clínicas e levar ao óbito. No entanto, tais ocorrências são menos frequentes, visto que a patologia apresenta um curso clínico benigno na maioria das vezes, desde que alinhada ao diagnóstico precoce e terapêutica correta (BRASIL, 2024). Tais circunstâncias são evidenciadas no levantamento de dados realizado, o qual comprovou que 50.128 casos não necessitaram de hospitalização e 68.099 evoluíram para a cura, não acarretando em óbito. 

Em relação às demais variáveis epidemiológicas analisadas, como exemplo a maior ocorrência da dengue em pacientes do sexo feminino e que se encontram faixa etária de 20 a 39 anos, torna-se necessário o controle da dengue através da cadeia epidemiológica como meio de prevenção, de forma que objetive a redução de sua prevalência. Sendo assim, medidas como eliminação dos criadouros do mosquito como reservatórios de água parada; uso de inseticidas e aplicação de larvicidas em depósitos de água destinada ao consumo são necessárias, principalmente durante os períodos de maior transmissão da doença (TAUIL, 2001).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 A partir das informações dispostas, verifica-se a necessidade da implementação de estratégias de prevenção que combatem o mosquito vetor de maneira eficiente durante todo o ano, e não apenas nos períodos de maior transmissibilidade da doença. A atuação de órgãos da saúde alinhados aos da educação é imprescindível, de maneira que objetive a conscientização da população acerca das formas de transmissão e prevenção, diminuindo assim a incidência da doença.

Além disso, a disponibilização ampla de testes sorológicos no atendimento à saúde é de extrema importância, de modo que possibilite o diagnóstico precoce e acompanhamento médico durante todas as fases da doença, visando diminuir o risco de complicações e hospitalizações. 

REFERÊNCIAS

BARRETO, Maurício L.; TEIXEIRA, Maria Glória. Dengue no Brasil: situação epidemiológica e contribuições para uma agenda de pesquisa. Estudos avançados, v. 22, p. 53-72, 2008.

BIASSOTI, Amabile Visioti; ORTIZ, Mariana Aparecida Lopes. Diagnóstico laboratorial da dengue. Revista Uningá, v. 1, 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Dengue: diagnóstico e manejo clínico no adulto e criança. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Brasília, 2024. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/de ngue/denguediagnostico-e-manejo-clinico-adulto-e-crianca>. Acesso em: 18 fev, 2024.

COLA, João Paulo et al. Fatores associados à infeção pelo vírus da dengue: estudo transversal de dados de vigilância em saúde do município de São Mateus (ES), entre os anos de 2016 e 2020. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, v. 18, n. 45, p. 33473347, 2023.

DA FONSECA, Ada Letícia Gomes Pires et al. Análise epidemiológica dos fatores associados à ocorrência de Dengue grave no período de 2017-2019 no estado do Tocantins. JNT- FACIT Business and Technology Journal, v. 1, p. 3-10, 2021.

DE OLIVEIRA, Ana Claudia Rocha et al. Análise da prevalência de internações por dengue no estado do Tocantins entre 2017 e 2022. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, v. 27, n. 6, 2023.

DIAS, Ítala Keane Rodrigues et al. Ações educativas de enfrentamento ao Aedes Aegypti: revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, p. 231-242, 2022.

GONÇALVES, Caio Willer Brito et al. Estudo Epidemiológico da Dengue em um Estado do Norte do Brasil. Amazônia: Science & Health, v. 8, n. 3, p. 83-90, 2020.

TAUIL, Pedro Luiz. Aspectos críticos do controle do dengue no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 18, p. 867-871, 2002.

TAUIL, Pedro Luiz. Urbanização e ecologia do dengue. Cadernos de Saúde Pública, v. 17, p. S99-S102, 2001.

TEIXEIRA, Maria da Glória; BARRETO, Maurício Lima; GUERRA, Zouraide. Epidemiologia e medidas de prevenção do dengue. Informe epidemiológico do SUS, v. 8, n. 4, p. 5-33, 1999.


1Acadêmicos do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos.

2Graduado em Ciências Biológicas, Pós-graduado Latu Sensu em Felicidade, Saúde e Bem-estar (FASA-Itabuna), Mestre em Biodiversidade, Doutor em Biotecnologia (UFAM/UFT). Docente do curso de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos.