PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR NO ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO MÉDIO.

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11176371


Maria do Perpétuo Socorro Moraes Rocha¹
Diego Rocha Sabino Monteiro²


Resumo

Este artigo se propôs ressaltar sobre o Patrimônio Histórico-Cultural no Contexto da Educação Escolar no Ensino de História nas séries finais do Ensino Médio, realizado na Escola Estadual Engenheiro Artur Soares Amorim no município de Manaus -AM, no ano de 2024, visando investigar sobre a preservação do patrimônio cultural, tanto em nível nacional quanto em nível estadual e local. Nesta pesquisa, observou-se as reflexões do estudo sobre o Patrimônio Histórico-Cultural como contributo nas aulas de história nas séries finais do ensino médio. Para tal, metodologicamente esta pesquisa estruturou-se em realizar a análise das concepções teóricas que norteiam o ensino da história na busca da construção das identidades, memórias coletivas, e de noções que envolvem a cidadania como os direitos humanos, a ética e a solidariedade. Sabe-se que o ensino da história cumpre um papel especial na realização de atividades e na proposição de projetos voltados para a educação patrimonial. O estudo tem como objetivo geral. Interpretar a percepção dos docentes da Escola Estadual Artur Soares Amorim, no ato de educar para preservar os patrimônios públicos da cidade de Manaus- Am. Cabe observar que há algum tempo os estudos históricos vem considerando a importância dos objetos e do espaço como elementos constitutivos da memória da sociedade e na construção da sua historicidade e de sua identidade.

Palavras- chave: Patrimônio cultural, educação, ensino de história, monumento histórico e professor.                                                                   

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta uma análise sobre o Patrimônio Cultural no Ensino da História com valor cultural frente ao interesse da preservação e conservação do patrimônio da cidade de Manaus-Am.

Constatou-se, a partir das observações, a necessidade de aprofundar o estudo na área do patrimônio cultural, vez que no Brasil, principalmente em Manaus quando se refere à conservação e preservação dos patrimônios da cidade. Sabe-se que o ensino de história cumpre um papel especial na realização de atividades e na proposição de projetos voltados para a educação. Como um componente curricular, deve proporcionar situações didáticas que permitam aos alunos conhecer os bens culturais, para que eles possam compreender e valorizar o que é comum a determinado grupo social. Assim, o estímulo ao desejo de conhecer e compreender, o desenvolvimento de ações para valorizar, preservar os bens culturais da sua região ou de outras localidades.

O patrimônio é entendido geralmente como a construção material simbólica relacionada ao passado. Ou como o conjunto de bens oficialmente protegidos, tangíveis e intangíveis, que participam da construção da identidade e da experiência e transformações das nações. A educação patrimonial possibilita o discente perceber que o patrimônio cultural está inserido na sua própria história, proporcionando conhecer e vivenciar os costumes e a cultura local, construindo laços de afetividade com as pessoas e o lugar onde vive.

Nas últimas décadas os estudos desenvolvidos insistem nos fatos de aquilo que ‘’chamamos de patrimônio ‘’ ser um projeto da sociedade presente, de forma a promover sentidos de identidades.

Segundo Lowental (1999, pp 139-144)’’, quer a memória, quer a história derivam de vestígios físicos e ganham ênfase a partir deles’. Portanto, os vestígios tangíveis garantem uma proximidade autêntica que nos leva a assumir que ali existiu concretamente um passado.

A aprendizagem pode ser compreendida como ‘’ um processo de construção interpretativo e recursivo pelos alunos em interação com o mundo físico e social’’. (FOSNOT,1999, p.53), se as situações apresentadas forem importantes para os alunos, estes aprendem algo novo. Aprender a refletir a partir da cultura material, estimula a relação entre sujeito e objeto, é um exercício que deve partir do próprio cotidiano, pois assim se estabelece o diálogo, o conhecimento do novo na experiência vivida. Deste modo, os objetos, expostos no museu ou na cidade, podem tornar-se fontes de educação patrimonial e, nesse sentido, a aprendizagem de história não deve ser realizada somente em sala de aula, como sugere Ramos (2004, p.48), a ‘’pedagogia do objeto’ ’usa-se em muitos territórios.

No entanto, se de fato é confirmado a utilização dos museus e do patrimônio com recursos educativos para grupos de diferentes idades, e os estudos elencados em diversos encontros acadêmicos e alguns profissionais têm aparecido para mostrar a importância da educação patrimonial, vale a pena utilizar desse recurso nas demais áreas do conhecimento.

Admitindo-se como pano de fundo deste estudo a um maior envolvimento da comunidade escolar, não somente aos estudantes e os seus responsáveis na preservação do patrimônio cultural, fica clara a necessidade de contar com a efetiva participação de toda a comunidade externa para identificar esses bens de interesse cultural, que tem significado compartilhado pela soma dos valores atribuídos, pelos diferentes grupos que convivem nessa sociedade, tendo em vista o bem comum. Dessa forma é possível se criar uma teia, que coopera e colabora na construção desse conhecimento, como concluem Gil e Possamai (2014, p.13-26): 

…’’ Educação e patrimônio são um duplo potente que possibilita correlações fecundas. A educação, como um processo de constituição do sujeito, trama fios de vivências e experiências para humanizar. O patrimônio, servindo-se de tudo que possa representar a história, é documento para a educação, seja escolar, seja no museu.

De acordo com Demo (2000), pesquisador do papel do professor como transformador do contexto educacional, ele menciona que o professor é o sujeito da educação que aprende a aprender para assim transmitir o que aprendeu dentro do contexto educacional que atua. Esse autor ressalta que:

A pedra de toque da qualidade educativa é o professor visto como alguém que aprende a aprender, alguém que pensa, forma-se e informa-se na perspectiva da transformação do contexto em que atua profissional da educação. (DEMO,2000, p.36).

Percebe-se que o processo de valorização da memória coletiva, aos monumentos se configuram legitimadores da memorização e valorização do passado. Para Dias (2006, p.73), uma das características mais relevantes do patrimônio é ser tomado como referência para a construção de identidades culturais pelas mais diversas estruturas sociais, pelos cidadãos em nível individual, de forma a converter-se no capital simbólico da sociedade. Esse fator é um elemento social de grande caráter subjetivo, como tal, esteve exposto a importantes manipulações em função de determinados interesses, de fundo político ou ideológico, para justificar fatos históricos, ou reclamar territórios, entre outras.

1.Uma breve história sobre Patrimônio Histórico

Entende-se por patrimônio cultural o conjunto de bens, construções de valor histórico e artístico, manifestações populares, tradições, festas, crenças, tanto materiais quanto imateriais, reconhecidos por sua importância histórica e cultural na vida de um país, região, localidade ou comunidade. O conceito de patrimônio cultural em conformidade com a Constituição Federal (1988) no art. 2º:

1-Para os efeitos da presente lei integram o patrimônio cultural todos os bens que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devam ser objeto de especial proteção e valorização.

2-A língua portuguesa, enquanto fundamento da soberania nacional, é um elemento essencial do patrimônio cultural português

3-O interesse cultural relevante, designadamente histórico, paleontológico, arqueológico, arquitetônico, linguístico, documental, artístico etnográfico, científico, social, industrial ou técnico, dos bens que integram o patrimônio cultural refletirá valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade.

4-Integram, igualmente, o patrimônio cultural aqueles bens imateriais que constituam parcelas estruturantes da identidade e da memória coletivas portuguesas.

5-Constituem, ainda, patrimônio cultural quaisquer outros bens que como tal sejam considerados por força de convenções internacionais que vinculem ao Estado Português, pelo menos para os efeitos nelas previstos.

6-Integram o patrimônio cultural não só o conjunto de bens materiais e imateriais de interesse cultural relevante, mas também, quando for caso disso, os respectivos contextos que, pelo seu valor de testemunho, possuam com aqueles uma relação interpretativa e informativa.

7-O ensino, a valorização e a defesa da língua portuguesa e das suas variedades regionais no território nacional, bem como a sua difusão internacional, constituem objeto de legislação e políticas próprias.

8- A cultura tradicional popular ocupa uma posição de relevo na política do Estado e das Regiões Autônomas sobre a proteção e valorização do patrimônio cultural e constitui objeto de legislação própria,

O patrimônio resulta da atribuição aos objetos de um significativo valor ativo que lhes confere o estatuto de suporte de memória e de identidade. Esses objetos passam a constituir uma herança que a comunidade protege e transmite às gerações vindouras como fator de enriquecimento organizado, justificando a Lei 107/2001 de 08 de setembro que se refere ao patrimônio como esteio da independência e da identidade nacional.

O sentido original do termo vem do latim momentum, que por sua vez deriva de monere ‘’advertir’’, ‘’lembrar’’, aquilo que traz à lembrança alguma coisa. […], não se trata de apresentar, de dar uma informação neutra, mas de tocar, pela emoção, uma memória viva. Nesse sentido primário, chamar-se-á monumento tudo o que for edificado por uma comunidade de indivíduos para rememorar ou fazer que outras gerações de pessoas rememorem […]. A especificidade do monumento deve-se precisamente ao seu modo de atuação sobre a memória […]. Desafio à entropia, à ação dissolvente que o tempo exerce sobre todas as coisas […], ele tenta combater a angústia da morte do aniquilamento. (CHOAY, p.18).

Nessa abordagem, a autora considera o monumento como ‘’lembrança’’ característica de determinada sociedade e que sua essência está na rememoração de um passado mergulhado de encantamento para aqueles que edificaram. A referida proposta, é ligeiramente diferente elencada nos escritos de Jacques Le Goff, em seu livro ‘‘História e memória’’. Para o historiador francês concebe o monumento como vestígio humano vivo de uma memória coletiva, como aquilo que é evocado do passado.

Assim, relacionar história e memória são elementos presentes nesta análise, pois como afirma Goff (1994, p.477) a memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Deve-se trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens. Logo, no processo de análise e valorização dos monumentos, recorre -se às memórias e histórias dos sujeitos locais, para compreender os processos de identificação, significação que são relacionados ao monumento. Para Bittencourt (2004, p.168), a memória é sem dúvida, aspecto relevante na configuração de uma história local para o historiador quanto para o ensino.

2. Política cultural brasileira para o patrimônio

No Brasil, as práticas de patrimônio surgem a partir da iniciativa do Estado em assumir um papel proeminente na formulação de uma concepção oficial de cultura, voltada para a construção de uma ideia de nação. Chagas (2006) aponta que, a partir da Revolução de 1930, o Estado, fortalecido e ampliado, passou a interferir nas relações de trabalho, nos sistemas de educação e saúde e na organização de cultura.

A interferência do Estado na área cultural passou a ser demonstrada a partir da criação do Curso de Museus (1932), com o decreto nª378, de 1937, que criou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-SPHAN e o Museu Nacional de Belas Artes. A proposta do surgimento do SPHAN foi através de forte influência do pensamento modernista brasileiro, resultado da Semana de Arte Moderna de 1922. Essa aproximação entre o SPHAN e o modernismo se deu principalmente com a elaboração do Anteprojeto do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional, em 1936, por Mário de Andrade, a pedido do então ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema (Silva,2002).

De acordo com o Anteprojeto de Mário de Andrade, o SPHAN teria como finalidade determinar, organizar, conservar, defender, propagar o patrimônio artístico. Sendo este um anteprojeto mais amplo e completo do que o decreto que criou o SPHAN, principalmente em relação à diversidade da cultura brasileira contemplada. Falcão (1984) ressalta que Mário de Andrade era muito ousado ao especificar o que seria digno de proteção, tanto das artes eruditas, quanto das artes populares, indo desde as obras premiadas nas belas artes até os instrumentos de música indígena. Propôs preservar os bens móveis e imóveis e mais os usos, hábitos, fazeres, lendas, folclore, música e até as superstições populares. Segundo Ortiz (2012):

Em 1999, foi apresentado um contexto histórico que conta com dois tombamentos como patrimônio histórico pela UNESCO: a cidade de Diamantina (MG), uma cidade colonial, e as reservas da Mata Atlântica do Sudeste, que passou a contemplar principalmente a arquitetura brasileira e a questão da preservação do patrimônio cultural.

3.Classificação do patrimônio cultural.

O Guia de Educação Patrimonial foi lançado em 1999 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, a Educação patrimonial trata-se de ‘’processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural com fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural’’ (GUIA BÁSICO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL,1999, p.7).

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN adotou a classificação de patrimônio cultural definida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNESCO, a qual compreende a divisão em dois grupos: o patrimônio material e o imaterial.

O Patrimônio material- designa-se a um conjunto de bens culturais móveis e imóveis existentes no país, cuja conservação é de interesse do público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, classificados segundo sua natureza: históricos, arqueológicos paisagísticos etnográficos, belas-artes. 

O Patrimônio imaterial compreende práticas, representações, às expressões, aos conhecimentos e às técnicas como instrumentos, objetos, artefatos, e lugares culturais reconhecidos pelas comunidades como parte integrante de seu patrimônio cultural. É caracterizado por sua transmissão de geração a geração e por sua recriação, em função do ambiente, da interação com a natureza e da história.

Chama-se cultura tudo o que é feito pelos homens, ou resultado do trabalho deles e de seus pensamentos, […] uma casa qualquer […] é claramente um produto cultural, porque é feita pelos homens. A mesma coisa se pode dizer de um prato de sopa, de um picolé ou de um diário. Mas estas coisas da cultura material, que se pode ver, medir, pesar. Há também, para complicar, as coisas da cultura imaterial […]. A falta, por exemplo, que revela quando a gente conversa, […] é criação cultural, […]

Sabe-se que além da fala, temos as crenças, as artes, que são criações culturais, porque inventadas pelos homens são transmitidas uns ao outros através das gerações. RIBEIRO, Darcy, Ziraldo. (1995, p.34)

4.Patrimônio cultural na educação

A construção da cidadania é uma tarefa árdua atualmente, exige uma educação que possa dar conta da imensa complexidade da realidade social do país e das responsabilidades e dos direitos de todos os cidadãos brasileiros, no que se refere aos aspectos de vida privada dos indivíduos como as suas relações com a sociedade. Dentro de uma perspectiva socioconstrutivista é necessário pensar uma Educação Patrimonial de mediação para a apropriação do conhecimento, que olha a comunidade como produto do saber, considerando suas vivências e reconhecendo a existência do saber local associado a memória do lugar comum e das pessoas que são detentoras do ‘’bem’’.

Nessa perspectiva, vale ressaltar a importância dos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN- documento tornado público pelo Ministério da Educação (MEC) em 1987-1998, onde incorporam os temas transversais na prática docente cotidiana e, a partir dos temas relacionados ao meio ambiente e à pluralidade cultural dos trabalhos pedagógicos com a educação patrimonial intensificando o seu caráter interdisciplinar.

O trabalho com o respectivo tema por meio da educação patrimonial permitiu aos estudantes valorizar as manifestações culturais de seu entorno e, com isso, passou a construir sua própria identidade pessoal e coletiva, desenvolvendo o sentimento de pertencimento, essencial tanto para a compreensão do conceito de preservação como para a concepção do patrimônio como algo vivo e presente na sua vida.

Para Morin (2001) a educação do futuro; para nós, a educação do desejo está centrada na contextualização e integração dos saberes- que deve se preocupar em criar estratégias que permitam enfrentar o inesperado, o imprevisto. Na concepção de Freire, deve-se buscar uma educação do desejo de conhecer, de informar, de respeitar, de valorizar, de aproximar culturas diferentes, de diminuir discriminações e de acrescentar afetos onde há ódios.

Para muitos, a proposta citada parece utópica e distante da realidade da educação brasileira. Mas, educadores que desejam, trabalham para realizar utopias, porque entendem que educar é caminhar, é seguir em busca das possibilidades, é substituir certezas e teorias determinadas pela dúvida criativa que impulsiona o conhecimento aberto e livre. FREIRE (1996).

Cientes do seu papel de fornecedor de consciências, muitos professores se entristecem ao observar cenas de depredação do patrimônio e situações de desconhecimento dos sentidos das diversas manifestações de nossa cultura material e imaterial. Diante deste cenário, com certeza eles desejam que os alunos desenvolvam atitudes de respeito, valorização e preservação de nossos bens culturais.

A realidade escolar no Brasil é marcada pela diversidade: há abundância ou falta de materiais e suportes didáticos nas instituições de ensino. Isso faz com que o professor tenha de se adaptar com os recursos que dispõe e de criar ambientes de aprendizagem, com a participação dos alunos, funcionários e moradores da comunidade na qual a escola está inserida.

5.Patrimônio histórico e as rugosidades

O desenvolvimento de uma cidade e o decorrente avanço tecnológico surge frequentemente, molda a cada dia uma nova cidade dentro da cidade, ou seja, toda e qualquer cidade nasce de forma simples e que com o passar dos tempos essa cidade começa a ser modificada em todos os seus aspectos.

Entre muitos conceitos dados a monumentos, prédios, praças, comércio, casas, delegacias, igrejas, bancos, fazendas que deram e fizeram parte do início de uma cidade, a rugosidade é um deles. O conceito de rugosidade foi usado pelo geógrafo Milton Santos. ‘’ A rugosidade é o espaço como acúmulo desigual de tempos’’. (SANTOS,1996, p.145), para os estudiosos como os historiadores, esses objetos são chamados de monumentos históricos, os arquitetos os chamam de objetos ultrapassados, o senso comum da população os chama de ‘’coisas antigas ou velhas’’. Todavia, na visão geográfica esses objetos urbanos são na verdade as rugosidades.

Hoje é possível ver rugosidades em quase todas as cidades do mundo, em algumas são poucas e em outras são muitas, como o caso da Europa. Consideradas belezas arquitetônicas, muitas rugosidades do mundo se tornam patrimônio histórico-cultural da humanidade, esse fator é o que preserva hoje em dia as rugosidades, pois, sem título de patrimônio muitas delas poderiam ser demolidas, destruídas e esquecidas pela população com o passar do tempo. A cidade histórica de Ouro Preto, o centro histórico de Olinda, centro histórico de Salvador, as Ruínas jesuítico- guaranis de São Miguel das Missões são exemplos de rugosidades conhecidas no Brasil e que são protegidas pelo patrimônio histórico-cultural.

O conceito de espaço para Santos (1997) se apoia na argumentação de que ele é formado por um conjunto híbrido de sistemas de objetos e sistemas de ações. O sistema de objetos compreende a totalidade das coisas configuradas para o uso humano. Sincronizando com a atualidade, o espaço geográfico é dinamicamente modificado pela sociedade de acordo com seus interesses, desse modo, a sociedade é um reflexo do seu espaço, assim como o espaço é reflexo da sua sociedade. MOREIRA (2011). Portanto, é sob uma visão sistêmica e de totalidade que o espaço deve ser analisado constituindo um elemento fundamental para o conhecimento e análise da realidade presentes no Universo.

A concepção de rugosidade é fruto do estudo de Santos por intermédio de seu orientador no período que estudou na França. O autor aponta que muitos geógrafos já usavam a noção de rugosidade do espaço, ‘’expressão criada por Tricart para a geomorfologia’ ’SANTOS (2009, p.72) surge para reforçar a ideia de resistência da concretude preexistente às forças de superposição. Portanto, as rugosidades como formas, fazem parte do meio ambiente construído, fração do sistema de objetos do espaço que atestam as marcas particulares da cultura, do trabalho, da sociedade, da economia e tecnologia do momento histórico em que foram criadas, mas sobretudo pelas relações que as interconectam ao seu passado histórico.

6. Pontes de diálogo entre a geografia e arqueologia

As pontes que ligam a geografia e a arqueologia são inevitáveis, ambas necessitam de análises interdisciplinares, ambas analisam o patrimônio cultural, segundo Silberman (2007) por possuir uma dimensão espacial que é parte essencial de sua identidade, é um dos focos de estudos da geografia cultural, sendo analisada por especialistas como James Duncan, Denis Cosgrove e Stephen Daniels, além de pensadores atuais como David Harvey. 

A geografia, em especial uma das ramificações, a geografia cultural, aborda o patrimônio sob a perspectiva do espaço, pois toda análise sobre o patrimônio cultural necessita de uma avaliação especial. Nesse sentido, a ideia de rugosidade se associa com o conceito de patrimônio que é intrinsecamente à noção de espaço. A arqueologia enfoca a valoriza as formas especiais que se apresentam, para obter os conteúdos que cercaram sua construção.

Contribuem Carvalho e Funaro (2010) reafirmam a importância do ’’patrimônio no contexto da acessibilidade, os patrimônios materiais e mesmo os imateriais adquirem extrema força simbólica. Escolhidos por determinados grupos sociais, esses patrimônios tornam-se representações de tempos, espaços e acontecimentos específicos’’. (2010, p.11).

Nesse sentido, as marcas impressas no espaço, deixadas por ações ocorridas em tempos pretéritos, as rugosidades produzem conflito entre o novo e o antigo, estabelecendo uma relação de oposição e fricção, fruto dos estudos da história, da arqueologia e geografia.

Assim, a arqueologia tem como foco a compreensão do passado, a preservação da memória material e imaterial e a formação da consciência a respeito das relações sociais anteriores. Com isso, entende-se que as rugosidades, não esgotam em si os fatores passíveis de interpretação, mas vem contribuir para a formação teórica da geografia.

Para isso, é necessário manter os traços antigos e não os descartar, em um cenário em que as pressões exercidas sobre as estruturas espaciais são originadas pela tensão entre a mutação dos processos sociais, a lógica de acumulação do capital e seus reflexos no espaço geográfico.

Entende-se, enfim, que além do olhar para o patrimônio cultural, que une geografia e arqueologia, outras pontes de diálogo serão construídas, possibilitando que essas ciências tenham uma fecunda interdisciplinaridade, pois ambas têm um papel vital na construção do futuro da humanidade.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa se propôs a uma experiência de Educação Patrimonial que surgiu como alternativa e dinamização no ensino de História por meio da educação do olhar. No que se refere aos resultados desta pesquisa, pode-se dizer que são parciais, pois a valorização do bem cultural trouxe uma visão mais ampla da história. Os percursos permitiram uma oportunidade de análise das permanências e ausências nas construções consideradas relevantes ao fortalecimento dos vínculos identitários e patrimoniais dos amazonenses. Em contrapartida , essa prática desenvolvida com os professores da Escola Estadual Engenheiro Artur Soares Amorim em realizar o questionário sobre o Patrimônio Histórico-Cultural no Ensino de História tem o objetivo de discutir questões relacionadas com a possibilidade de se trabalhar com os bens culturais do patrimônio no processo ensino aprendizagem de história, a fim de estimular nos alunos, o senso de preservação da memória social coletiva como condição indispensável à construção de uma nova cidadania e identidade nacional.

Considera-se que o conhecimento só atingirá uma meta quando houver uma ação reflexiva sobre a qualidade do ensino frente à prática, na sua atuação profissional. O conhecimento de experiência não é mais um conhecimento do professor, mas, sim, o resultado da união de todos os conhecimentos refletidos pela sua intervenção, sendo ele, individual e coletivo.

Ao professor cabe o papel fundamental de ser orientador e ao mesmo tempo ter o direito de ensinar e possuir responsabilidade de entender as dificuldades do ato de propagar o conhecimento de modo que o ensino -aprendizagem tenha resultados positivos para ambos.

Com a participação dos pais, da sociedade, juntos podemos criar mais leis e implementar projetos nas escolas como incentivo a preservação e conservação do patrimônio cultural. A tecnologia invadiu os arquivos com o intuito de preservar e assegurar o acesso aos documentos históricos tão caros ao historiador e aos demais educadores, mas a falta de interesse e o forte tradicionalismo nas áreas educacionais ainda persiste. Precisa-se rever a mentalidade e conceitos para assim, mudar essa realidade que seria muito favorável à pesquisa não somente histórica, mas do acesso que todos deveriam ter do conhecimento de modo geral e principalmente da história de seu próprio país.

Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem, por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes e presentes do que nunca no fim do segundo milênio.

O intuito não é encerrar a discussão com frases de efeito falando sobre mudanças, quando na verdade ela precisa ser também social do interesse público e não somente de pesquisadores, precisamos sim, continuar insistindo no tema em questão não esgotando as diversas formas de manifestar a nossa indignação com o pouco acesso à informação.

A importância pela preservação do Patrimônio Histórico é extremamente relevante, é o que se espera com a colaboração dessa investigação na vida de autores que entraram em cena deixando um legado precioso com suas informações para a cultura do Estado de Manaus -Am.

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¹Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Especialização em Gestão e Metodologia do Ensino Superior (UNICEL), Mestranda em Ciências da Educação Faculdade Uni Del Norte -Paraguai -Assunción.
²Licenciatura Plena em Química pela Universidade Uninorte e cursando mestrado na Universidade Uni Del Sol (UNADES) Paraguai -Assunción