OS DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRICS DIANTE DO CENÁRIO MUNDIAL – UMA REFLEXÃO ATRAVÉS DO LIVRO “O PERIGO DE UMA HISTÓRIA ÚNICA”, DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7986890


Sabrina Ferreira da Silva1
Lea Paz da Silva2


RESUMO

Quando o grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foi criado, em 2001, sua intenção era que os países participantes cooperassem entre si durante seus respectivos processos de desenvolvimento, contudo, existem alguns desafios que o acrônimo precisa reconhecer para um avanço significativo. Tendo em vista essa conjuntura, buscou-se identificar os fatores que impedem uma maior ação do grupo no cenário global e como esses aspectos influenciam na performance dos membros atualmente, analisando principalmente o impacto da ordem mundial e como países desenvolvidos têm poder nessa conjuntura através da análise do livro “O perigo de uma história única”, de Chimamanda Ngozi Adichie. O trabalho foi baseado em pesquisas bibliográficas e o resultado foi a constatação de que, além da configuração das relações internacionais, também há outras adversidades no encalço do BRICS. É válido afirmar que o atual mundo volátil dificulta a situação do BRICS, contudo, a configuração de cada país está vulnerável a fatores como: tendências da economia mundial, aspectos sociais de cada país, avanços tecnológicos, interação entre os participantes do grupo e a configuração das ralações internacionais. Observa-se que apesar dos obstáculos, é possível que o BRICS atinja bons resultados, melhorando sua interação e reformando alguns aspectos políticos e econômicos.

PALAVRAS-CHAVE: BRICS. Cenário mundial. Relações internacionais.

ABSTRACT

When the BRICS group (Brazil, Russia, India, China, and South Africa) was created in 2001, its intention was for the participating countries to cooperate during their respective development processes; however, there are some challenges that the acronym needs to recognize for a significant advance. Because of this conjuncture, we sought to identify the factors that prevent a greater action of the group in the global scenario and how these aspects influence the performance of the members today, analyzing mainly the impact of the world order and how developed countries have power in this conjuncture through the analysis of the book “The danger of a single history”, by Chimamanda Ngozi Adichie. The work was based on bibliographic research and the result was the verification that, besides the configuration of international relations, there are also other adversities in the BRICS’ path. It is valid to state that the current volatile world hinders the BRICS situation, however, the configuration of each country is vulnerable to factors such as trends in the world economy, social aspects of each country, technological advances, interaction among the group’s participants, and the configuration of international relations. It is observed that despite the obstacles, the BRICS can achieve good results by improving its interaction and reforming some political and economic aspects.

Keywords: BRICS. World scenario. International relations.

  1. INTRODUÇÃO

Em meados de 2001, nasce a sigla BRIC, que intitulava um grupo de países com volumosa população e um grande potencial para o crescimento de suas economias em longo prazo. Os países que integravam o grupo, até então, eram: Brasil, Rússia, Índia e China. O fortalecimento da globalização como resultado do avanço da tecnologia, passava a moldar, também, as relações internacionais. Nos anos que se seguiram, o acrônimo passou a ser BRICS, com a entrada de um novo membro, a África do Sul. O grupo foi ganhando cada vez mais atenção, tanto nas mídias de comunicação, quanto entre os investidores. Essa relevância pode ser relacionada aos enormes números que o conjunto apresenta, uma vez que, somados, os países representam aproximadamente 26,46% da área total da Terra, 42,58% da população mundial e 22,53% do PIB global.

A formação do BRICS passou, então, a aflorar a necessidade de investigar os frutos que esse agrupamento traria para a economia e, além disso, os desafios que enfrentaria para que as potências emergentes que o formavam fossem capazes de ascenderem ainda mais na ordem que países desenvolvidos determinaram para o globo. Além dos desafios empregados pela nova ordem mundial e como ela funciona, há de se levar em consideração um fator que dificulta superar esses obstáculos com mais força: a heterogeneidade entre os componentes do grupo.

Essas diferenças comerciais e políticas, podem ser avaliadas como um grande impasse para o BRICS, pois seus desempenhos estão abaixo do recomendado. Apesar da força do grupo se concentrar na capacidade individual de cada país, é muito importante que haja mais interação, promovendo assim uma agenda política mais alinhada e planos econômicos que sejam favoráveis ao crescimento conjunto, aumentando a cooperação para o fortalecimento dessas potências emergentes. Essa conjuntura, somada ao fato de que ao países desenvolvidos costumam ditar e controlar os acontecimentos em esfera global, impossibilitam que no cenário mundial atual o grupo possa tomar espaço para liderar e ter voz mais ativa como outros blocos que, na contemporaneidade, possuem grande influência em todos os âmbitos, principalmente econômico.

A presente pesquisa visa identificar os principais desafios que levam o BRICS a crescer no atual cenário mundial. Durante o desenvolvimento será dissertado sobre as tendências da economia mundial, a interação entre os países e a importância de seguir uma agenda de demandas do mundo contemporâneo. Ademais, busca refletir, através do livro “O perigo de uma história única”, sobre como a narrativa contada pelos países desenvolvidos tem peso no rumo das decisões internacionais e podem afetar os menos desenvolvidos. Todos os aspectos são importantes para se compreender a situação que o acrônimo se encontra e quais atitudes travam um melhor desempenho no que se refere a influência mundial.

Para a realização do artigo serão realizadas pesquisas de natureza bibliográfica. O objetivo, por sua vez, se encaixa na pesquisa exploratória, buscando familiaridade com os problemas levantados.

  1. EMBASAMENTO TEÓRICO

2. 1 Grupo BRICS

Há países que vem ganhando destaque no cenário mundial, participando cada vez mais na economia internacional e mostrando que são potências emergentes. Nesse contexto, o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, economias relevantes e em crescimento, fizeram uma união chamada BRICS, grupo de cooperação (BAUMANN et al., 2010).

A sigla, que representa países com grande extensão territorial e volumosas populações, passou a representar também países que estão desempenhando funções mais importantes e sendo mais ativos na conjuntura internacional. Os mercados internos e externos dos participantes do BRICS ganham ênfase e, consequentemente, suas relações com o resto do mundo são modificadas (BAUMANN et al., 2010).

Nota-se, dessa forma, que para participar de grupos que tomam decisões internacionais e possuem impacto em suas escolhas, um país deve ter uma boa produtividade (em âmbito agrícola, industrial e serviços), uma economia relativamente estável e uma boa representação no que tange os assuntos internacionais (BAUMANN et al., 2010).

Em teoria, em um futuro não muito distante, o BRICS pode passar a representar um quinto da economia mundial, no caminho para ultrapassar outros grupos de cooperação. Juntando a força que cada país apresenta, o impacto pode ser visto principalmente nas relações políticas. No setor de desenvolvimento econômico, será um grande desafio que os países indiquem tendências no curto prazo, uma vez que essas são definidas por mudanças tecnológicas, fluxo de capitais e informações científicas e de estratégia (ALMEIDA, 2009).

Pela sua significativa demografia, e com a ascensão da propagação de tecnologia e investimentos, é possível apostar que os países terão mais participação em exportações e o PIB dos mesmos tende a aumentar. O impacto dos BRICS, apesar disso, não necessariamente moldará o sistema global (ALMEIDA, 2009).

É possível dizer que a China e a Índia focam sua cooperação para desenvolvimento em ter mais acesso a diversos mercados e recursos naturais que possam ampliar suas economias. Já o Brasil, África do Sul e Rússia focam sua cooperação para desenvolvimento em propósitos mais políticos (ESTEVES et al., 2012).

Dos cinco componentes do BRICS, dois já passaram por ideais socialistas e hoje apresentam administração mais autoritária pela herança de terem tido regimes ditatoriais. Os outros três traçaram caminhos democráticos, mesmo que com defeitos de desempenho e de justiça social, e são economias que mais se aproximam do arquétipo capitalista. O Brasil, entre os outros países, é o que tem o capitalismo mais forte em seu sistema e princípios. Em comparação com os demais, tem uma sociedade mais integrada, o que contribui para uma melhor administração política e um ambiente mais favorável para se modernizar (ALMEIDA, 2009).

2. 2 A Nova Ordem Mundial 

Foi no século XX que a globalização alcançou níveis nunca vistos, fazendo com que as relações internacionais se expandissem e ganhassem novas faces. Assim, percebeu-se que era importante que houvesse uma clara divisão e ordem capaz de organizar esse contexto (MAIOR, 2003).

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo passou a se reorganizar tanto no âmbito político, quanto no âmbito econômico. Os países europeus estavam fragilizados e a América do Norte, mais especificamente os Estados Unidos, prosperava cada vez mais. As potências europeias tinham perdido sua força, buscando apenas uma recuperação após um período desastroso para sua história, e o começo para a regeneração viria de um auxílio americano.

Nesse período, o mundo viu a polarização do mundo com o início da Guerra Fria e, principalmente na Europa, muitos países sentiam uma ameaça por parte da União Soviética, tanto em relação à tomada de territórios como em relação à ideologia que a mesma queria disseminar. Já a Ásia e a África, por sua vez, tinham diversos países que ainda buscavam sua independência, lutando contra os efeitos do colonialismo e imperialismo.

Essa bipolaridade durou quatro décadas e resultou nos Estados Unidos como a nova potência mundial, com grande poder político, militar e econômico. O capitalismo passou a ser o sistema que a maior parte do mundo aplicaria em seus princípios e relações externas.

Então, com o avanço da tecnologia, foi possível que a globalização se expandisse, dando a impressão que o mundo havia diminuído. A informática e a revolução nos meios de transportes e nos veículos de comunicação abriram portas para um novo mundo, logo, dando espaço para que as potências mundiais também organizassem uma nova ordem mundial. Se iniciou uma padronização de comportamentos e a determinação de um papel para cada país do globo, onde os países em desenvolvimento eram principalmente fornecedores de matéria-prima (LUCCI, 2011).  

Uma multipolaridade começou a ser vista na geopolítica, instigando a criação de blocos econômicos regionais, como a União Europeia e o NAFTA. Com a mundialização do capitalismo, nota-se a uma maior competitividade entre os países e essa nova ordem está ligada, principalmente, ao poder econômico, transformando as relações econômicas mais intensas ao redor do mundo. Os comportamentos e as narrativas são construídos entre os países que possuem maior influência, política e econômica (GOMES, 2009).

Nesse contexto, o BRICS pode ser visto como uma estrutura política diplomática nesse período de transição de poder no século XXI. Todavia, ainda não é possível dizer que há possibilidades de serem concorrentes na nova ordem mundial. Além da forte economia da China, do poder bélico e militar da Rússia, os demais países do grupo são apenas potências emergentes (AGUIAR, 2014).

2. 3 Globalização 

A disseminação da expressão globalização ganhou destaque através da imprensa financeira internacional, por volta da década de 1980. Em seguida, muitos estudiosos passaram a dedicar ao assunto, ligando o tema a propagação de  novas tecnologias, como satélites artificiais, redes de fibra óptica capazes de permitir a comunicação entre pessoas por meio de ferramentas como o computador, ou outras que fossem capazes de circular informações e fluxos financeiros. Assim, a globalização passou a estar muito ligada a finanças e investimentos ao redor do mundo. Há quem defina, também, como um sistema de cultura que procura homogeneizar o comportamento dos indivíduos (RIBEIRO, 2002).

É possível dizer que, na verdade, há mais de uma globalização acontecendo. A globalização econômica pode ser notada pelo processo de acumulação e internacionalização de capitais. Essa globalização permite o domínio e autonomia de muitos estados (ARMADA, 2013 apud GÓMEZ, s.d., p. 146).

Há a globalização cultural, que tem intenção de padronizar todas as sociedades. Além dessa, a globalização da produção, onde as grandes empresas multinacionais constroem suas filiais em países onde os recursos e mão de obra apresentam mais vantagens, ou seja, são mais baratos. Essas organizações escolhem o lugar de acordo com incentivos fiscais, isenção de impostos e empréstimos (ARMADA, 2013).

Ademais, existem outras globalizações não tão óbvias, mas que têm sua importância e impacto: a globalização excludente e a globalização como ideologia. A globalização como ideologia defende que a glória da economia está baseada na aplicação de uma única política econômica, como o neoliberalismo e o foco no mercado. A globalização excludente promove o desemprego e também a redução de salário, transformando essa condição em uma situação difundida, generalizada e global (ARMADA, 2013).

Por fim, é possível reconhecer também a globalização política, que apesar de estar vinculada a internacionalização da política e direito internacional, não permite novos atores nas tomadas de decisões globais (ARMADA, 2013).

As ações simultâneas dessas globalizações têm tido forte impacto ao redor do mundo, em vários aspectos. É por conta delas, inclusive, que o mundo tem passado por tantas mudanças e, também, diversas crises (ARMADA, 2013).

A influência do BRICS e de outras economias emergentes vêm crescendo e, apesar de não serem protagonistas, a globalização pôde contribuir para isso. As novas modificações em escala internacional, são resultado da globalização e do desenvolvimento e avanço da internet e da tecnologia. Por outro lado, há um esforço através dessa mesma globalização que limita e define países em desenvolvimento a condições que não os permitam expansões significativas. Assim, caminha-se para um futuro que possui muitas incertezas, riscos e desafios, justamente por esse aumento da interdependência e interação dos países (NIETO, 2012).

2. 4 Desafios no desenvolvimento do BRICS

O grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é formado por países com experiências muito diferentes, o que torna suas culturas e aspectos sociais muito distantes e heterogêneos. A Índia, por exemplo, foi uma colônia britânica por um longo período, conquistando sua independência apenas em 1947. A China passou por diversas guerras internas e ocupações estrangeiras até a metade do século XX. Já o Brasil e a África do Sul, tiveram suas descobertas na era das grandes navegações e mais tarde foram colonizados por países europeus, ganhando a independência tardiamente. A Rússia, por sua vez, abandonou o comunismo após o fim da Guerra Fria, em 1989 e, desde então, ainda não se adaptou totalmente a um sistema capitalista ou democrático (BRANCO, 2015). 

É importante destacar que a China e a Rússia passaram uma grande parte do século XX sob ideias comunistas. Essa escolha acabou por resultar em um isolamento na economia mundial por um bom tempo, pois o neoliberalismo era a ideologia que ao países desenvolvidos estimulavam e disseminavam. Enquanto Brasil, Índia e África do Sul aderiram ao Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) em 1947, acordo que visava a redução de obstáculos para facilitar o comércio internacional, a China  aderiu apenas em 2001, quando o acordo foi substituído pela Organização Mundial do Comércio (OMC); a Rússia apenas em 2012.

A China ainda permanece sob o regime comunista, mas tem cedido espaço para o crescimento do mercado e possui, ainda, setores privados. Brasil, Índia e África do Sul lidaram com regimes capitalistas desde suas independências, contudo, sempre tiveram forte protecionismo e intervenção estatal em suas economias. A situação da Rússia, como já mencionado, não é de solidez e carrega resquícios de seu regime comunista, impedindo maior interação com outros países, instituições mais autoritárias e um mercado livre frágil. Com o início da guerra em 2022, esse cenário apenas exacerbou os pontos citados.

Tendo em vista a história de cada país do BRICS, passa a ser compreensível o porquê de tantas diferenças sociais e culturais, uma vez que cada país foi moldado de uma forma e com experiências distintas. Após a definição na nova ordem mundial, o capitalismo se tornou o sistema econômico adotado por grande parte do mundo, mas isso não uniformizou o comportamento de todos os países do globo. Apesar dos esforços dos países desenvolvidos para ocidentalizarem e homogeneizarem o mundo, isso se restringe ao âmbito cultural. Em outros âmbitos, ao contrário, a ascensão do capitalismo e a expansão da globalização definiram países em desenvolvimento, com tendência a exportar commodities, e países desenvolvidos que focaram sua produção em tecnologia. 

Tendo em vista os tópicos anteriores e os fatos levantados, fica evidente que há uma clara vantagem dos países industrializados, fator que lhes conferem poder para definir a dinâmica das relações internacionais e criar narrativas capazes de moldar como cada país e sua população são vistos. Com a concentração de renda nesses países, o comércio segue a se organizar de uma maneira em que as elites econômicas sejam contempladas plenamente, uma vez que foram responsáveis pelas mudanças advindas da revolução industrial. Para que essas demandas sejam supridas, os países periféricos passam a ser explorados para o fornecimento de recursos, sendo enfraquecidos e incapacitados de acompanhar os padrões produtivos da minoria privilegiada que possui as rédeas das cadeias globais de valor (CARDOSO; REIS, 2018).

Historicamente, então, há uma grande disparidade de comportamento entre os países e para que o grupo consiga destaque, é necessário que investimentos e planejamentos sejam feitos. Reforçando que poder de capital e mercado retroalimenta a força política dos países na dinâmica global, o BRICS possui uma longa jornada de modernização, até mesmo para conseguir se desapropriarem dos estereótipos em que foram enquadrados (CARDOSO; REIS, 2018).

Adentrando o quesito tecnologia, já ficou claro para o BRICS que esse é um ponto que merece foco de investimentos para estar de acordo com as novas tendências e demandas de um mundo conectado. Ao negligenciar essa pauta, mais desafios podem surgir a longo prazo. Em um seminário entre os países, foi discutido sobre comércio, cooperação para a ciência, tecnologia e inovação, pilares para a modernização do agrupamento. Ademais, os palestrantes presentes reconheceram a importância de aprofundar as relações, mesmo que a cooperação não tenha foco no comércio, o BRICS tem um grande compromisso entre si e um papel que se torna cada vez mais significativo (IPEA, 2018).

Em 2014, os participantes enfatizaram a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), como um acontecimento muito importante não só para a cooperação entre os países, mas para a contribuição do bloco na governança mundial. Dessa forma, os especialistas destacam a relevância de se atentar às novas tecnologias de informação, a sociedade na internet, o aumento das fake news, o comércio intra-BRICS e outros desafios em que a agenda do banco deve contribuir para superar e investir em soluções (IPEA, 2018).

Para além do que já foi mencionado, é necessário conciliar a visão de uma economia interligada e globalizada com o equilíbrio do meio ambiente. Não é segredo que o capitalismo utiliza muitos recursos naturais sem grande preocupação com a preservação. Em tempos onde o aquecimento global ameaça civilizações futuras é preciso que, governos e a sociedade do BRICS, se empenhem em novas medidas que abracem as exigências de atitudes mais sustentáveis (GOMES; SILVA, 2017).

Ademais, todo esse desenvolvimento sustentável não se limita ao meio ambiente, mas abrange outros elementos que merecem a mesma atenção. Nesse caso, é necessário que o BRICS foque na superação da pobreza, que é bem notória e, ao diminuir esse fator, os resultados serão refletidos diretamente no crescimento econômico e em uma sociedade mais inclusiva. Além disso, pensar em ações que ajudariam a elevar um consumo consciente, elevando a qualidade de vida da população.

A Agenda 2030, formulada pelos líderes mundiais, prevê que todos os países diminuam a desigualdade. A Índia, por exemplo, vem ganhando força no âmbito tecnológico, mas de maneira desigual, e nem todas as pessoas possuem acesso à informação e entretenimento que os meios de comunicação oferecem. A melhor distribuição de renda, a melhora de indicadores sociais e a inclusão na sociedade de grupos marginalizados, podem fazer do BRICS um grupo com maior vantagem no que se refere a aspectos sociais (GOMES; SILVA, 2017).

Ao passo que os países do BRICS melhoram sua interação e renovam suas políticas, visões e a maneira de administrar suas economias, elas podem se posicionar de outra maneira diante do mundo, aumentando a chance de, futuramente, alterar o modo como se dão as relações internacionais. Os desafios estão em todas as áreas, uma vez que os países, por diversas vezes, foram prejudicados na história. 

É válido afirmar que o atual mundo volátil dificulta a situação do BRICS, contudo a configuração de cada país está vulnerável a fatores como: tendências da economia mundial, aspectos sociais de cada país, avanços tecnológicos, interação entre os participantes do grupo e os demais países do globo.

  1. DESENVOLVIMENTO DA TEMÁTICA

O artigo tem como base uma revisão bibliográfica, pois tem como pretensão agrupar e levantar as informações já existentes de materiais já elaborados sobre o tema através da metodologia qualitativa, realizada por meio de publicações periódicas, trabalhos acadêmicos e artigos científicos recentes. Todavia, para conceituação de temas como “A Nova Ordem Mundial” e “Globalização”, e para delinear contextos históricos, materiais mais antigos foram consultados. Conforme as classificações de Gil (2010), esta pesquisa tem objetivo exploratório, uma vez que visa se familiarizar e destacar determinado problema.

Ressaltando ser uma pesquisa bibliográfica, de acordo com Gil (2010), foi necessário seguir um processo, sendo ele: escolha do tema, levantamento das fontes bibliográficas, identificação do problema, planejamento para elaboração do artigo, busca de fontes específicas e organização de elaboração dos textos.

Por fim, vale salientar que para analisar o assunto e focar no caráter subjetivo do tema escolhido, o livro “O perigo de uma história única” de Chimamanda Ngozi Adichie auxiliou a realçar a problemática vista na construção de narrativas dos países desenvolvidos.

3. 1 Livro “O perigo de uma história única”, de Chimamanda Ngozi Adichie

O livro de Chimamanda intitulado “O perigo de uma história única”, na verdade é um compilado da palestra da autora no programa TED Talk, em 2009. Mesmo após muito tempo, o vídeo continua sendo um dos mais acessados e, não à toa, as palavras ganharam um formato escrito para aqueles que gostariam de revisitá-las.

No livro, a pensadora contemporânea, nascida na Nigéria, conta como sua visão e a visão de bilhões de pessoas são influenciadas por quem possui o poder de contar a história e, consequentemente, as situações internacionais são vistas pela ótica dos países desenvolvidos do ocidente. O livro tem como objetivo evidenciar que narrativas criam estereótipos, e estereótipos podem limitar um povo e um país.

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com objetivo inicial, de traçar os desafios do grupo BRICS identificando tendências do mundo globalizado e o funcionamento das relações internacionais, ficou evidente que existem muitos obstáculos a curto e a longo prazo para que os países em desenvolvimento passem a ter notoriedade. Para que seja possível um início nas mudanças de comportamento, é necessário uma reformulação em suas economias através de fortes investimentos em modernização.

Todavia, a tendência de crescimento se mostra um caminho longo, uma vez que o arranjo global não permite brechas para se desfazer, ao contrário, alimenta um ciclo nos papéis da divisão internacional do trabalho e na cadeia produtiva global.

Em seu livro, Adichie (2019) disserta, de maneira subjetiva e pessoal, sobre como as populações são passíveis de acreditar nos que lhes contam e, durante muito tempo, desde a época das colonizações, os países são delimitados em funções e consequentemente, enxerga-se a história destes como algo único, ou seja, através da literatura ocidental. Essas narrativas foram capazes de enfraquecê-los, mas, além disso, o saqueamento e a exploração de riquezas nos países emergentes denotaram que é necessário poder aquisitivo para que existam possibilidades de autonomia nas relações internacionais.

Quando ouvimos as histórias desses países, a pobreza é o maior destaque, além de uma pena condescendente dos que não vivem nos territórios mencionados. Contudo, a história única se espalha para todos, inclusive entre a população, que se sente negligenciada e limitada a agir, aceitando as condições como um dogma. Isso porque, segundo Adichie (2019), quanto mais se conta uma história a um povo, sem parar, é isso que aquele povo se torna. No mundo político e econômico também funciona dessa maneira, com o adicional de que medidas físicas, tal como a invasão de uma território, podem acontecer.

Esta relevância foi constada pela autora africana Adichie (2019, p. 13), que faz a seguinte afirmação:

A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única história.
É claro que a África é um continente repleto de catástrofes. Existem algumas enormes, como os estupros aterradores no Congo […] o fato de que 5 mil pessoas se candidatam a uma vaga de emprego na Nigéria. Mas existem outras histórias que não são catástrofes, e é muito importante, igualmente importante, falar sobre elas.

Sendo assim, um dos desafios mais importantes para o BRICS, nesse cenário, é combater a história única e engajar a introspecção em sua população, como medida para fortalecer e reconhecer seus pontos fortes. É importante salientar que o apoio popular é importante na mudança de qualquer país.

E para além dos fatos mencionados, nota-se que com a globalização e os avanços tecnológicos, os países do acrônimo podem continuar sendo vitimas dessa história única, principalmente com a facilidade da propagação de notícias, ou podem começar a criar novas histórias e preparar o terreno para um futuro próspero, de desenvolvimento e sustentabilidade.

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme elaborado na literatura, foram mencionados e analisados os desafios que o grupo BRICS tem para que seus países participantes alcancem o feito de serem considerados potências desenvolvidas e terem seus papéis mais ativos frente ao cenário global. Durante as pesquisas, nota-se que os fatores que impedem o avanço do grupo, foram identificados.

O acrônimo tem muita força econômica e poder de consumo, levando em consideração a soma das populações dos países envolvidos. Todavia, o grupo não possui força em si. As forças são individuais e limitadas, revelando um elo que precisa ser fortalecido entre os integrantes, para que o grau de interação aumente, dando ênfase para uma possível ascensão de sua influência nas relações internacionais.

Além da interação necessitar de estímulos, as diferenças dos países do BRICS são evidentes, o que impede comportamentos uniformes. Tendo em vista que, historicamente, os países possuem experiências distintas, é comum que a cultura, os valores e aspectos sociais também sejam divergentes entre eles, evidenciando a importância de um melhor planejamento de como a união funcionará, para colher bons resultados, sem conflitos e com respeito entres os participantes.

Outro fator reconhecido que precisa ser trabalhado no grupo, são os esforços para acompanhar as mudanças tecnológicas e a consequência que elas trazem para a economia. Não é possível desassociar os avanços tecnológicos das novas tendências na economia mundial e, dessa forma, os investimentos devem ser voltados para a inovação e a ciência. Embora a China e a Índia já tenham começado a perceber a propensão de um mundo cada vez mais conectado, os outros, com destaque ao Brasil, precisam remanejar a forma como vêm cuidando dessas áreas, para que se encaixem nas tendências atuais e futuras.

Ademais, de acordo com o segundo objetivo, de refletir através do livro “O perigo de uma história única”, fica evidente que os esforços dos países desenvolvidos para que a ordem mundial permaneça a mesma e com poucas alterações, para que não haja manutenção de seus privilégios, ainda são obstáculos para o BRICS.

Através dos aspectos observados e analisados, repara-se que a hipótese de que a organização do globo e as mudanças constantes de um mundo volátil tornam mais difícil para os países do grupo BRICS se tornarem potências desenvolvidas, é válida. Contudo, a administração e a configuração de cada país estão vulneráveis no que diz respeito aos desafios mencionados anteriormente, impossibilitando que o grupo tenha atitudes expressivas. É importante salientar, como apresentado no artigo, que sã países historicamente prejudicados em diversos âmbitos.

Conclui-se que apesar dos obstáculos, é possível que o BRICS atinja bons resultados, melhorando sua interação e reformando alguns aspectos políticos e econômicos, mas para almejar um protagonismo, são necessárias diversas ações para longo prazo.

REFERÊNCIAS

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 64 p.

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1Sabrina Ferreira da Silva (FATEC Zona Leste) sabrina.silva49@fatec.sp.gov.br
2Lea Paz da Silva (Faculdade de Tecnologia da Zona Leste) lea.silva3@fatec.sp.gov.br