O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA: UM RELATO DA CRIAÇÃO¹

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202509102127


Marcelo Jorge dos Santos Buri Cunha²
Orientador: Prof. Me. Manoel Rodrigues Santos³


RESUMO  

Este artigo explora, analisa e faz um comparativo das histórias da criação apresentadas tanto no  cristianismo quanto nas religiões de origem africana. Em especial é dado destaque à semelhança  entre o papel funcional da Trindade cristã e as tríades divinas correspondentes nas narrativas  cosmogônicas Africanas. O artigo investiga o impactante papel da oralidade e da escritura na  preservação dessas cosmologias ao longo dos tempos; refletindo sobre como essas formas de  transmissão influenciaram a permanência e as possíveis variações ao longo dos séculos. Além  disso, o estudo investiga as possíveis interconexões entre a perspectiva apoiada por acadêmicos  e seguidores de tradições africanas que sugere a influência dos elementos culturais Africanos  nas civilizações mencionadas nos textos bíblicos. Discute-se também a importância de um  modelo de propagação religiosa baseado no respeito mútuo e na construção de laços  interpessoais por meio de pequenos grupos e iniciativas sociais motivadas pelo amor e pela  compreensão cultural. Concluindo que estes métodos mostram-se promissores não apenas por  respeitar as diferenças individuais, mas também por construir conexões sólidas para o ensino  da fé cristã que promove mudanças genuínas na vida das pessoas.  

Palavras-chave: Criação. Trindade. Religiões Africanas. Oralidade. Cosmogonia.  Evangelismo relacional.

ABSTRACT 

This article explores, analyzes, and compares creation narratives presented both in Christianity  and in religions of African origin. Special emphasis is placed on the similarity between the  functional role of the Christian Trinity and the corresponding divine triads in African  cosmogonic narratives. The article investigates the significant role of orality and writing in the  preservation of these cosmologies over time, reflecting on how these forms of transmission have  influenced their continuity and possible variations throughout the centuries. Moreover, the  study examines possible interconnections between perspectives supported by academics and  followers of African traditions, suggesting the influence of African cultural elements on the  civilizations mentioned in biblical texts. The importance of a model of religious propagation  based on mutual respect and the building of interpersonal bonds— through small groups and  social initiatives motivated by love and cultural understanding—is also discussed. The study  concludes that these methods are promising because they not only respect individual differences  but also build solid connections for teaching the Christian faith, promoting genuine and  meaningful changes in people’s lives. 

Keywords: Creation. Trinity. African religions. Orality. Cosmogony. Relational evangelism. 

1. INTRODUÇÃO 

As histórias sobre como o universo surgiu e como o planeta Terra e a humanidade foram  criados desempenham um papel fundamental na identidade religiosa das civilizações. O  cristianismo descreve que Deus criou o universo juntamente com Terra e os seres humanos, e  este foi um ato conjunto da Trindade (Deus Pai, Filho e Espírito Santo). De acordo com Barth  (1960), o surgimento do universo, da Terra e da humanidade é considerada uma obra conjunta  entre as três pessoas da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Enquanto, em tradições africanas  como a Iorubá, que atualmente conta com mais conteúdos disponíveis além da oralidade, a  criação do universo é atribuída a Olorum. É descrito também, que uma tríade composta por  Olorum, Obatalá e Oduduwa é responsável pela criação da Terra e da humanidade. Segundo  Abimbola (1976), a criação do universo é atribuída às divindades Africanas, com influência  direta de Olorum, Obatalá e Oduduwa, os quais são responsáveis pela formação da Terra e da  humanidade. 

Há uma diferença bem notória entre a forma de transmissão e preservação das duas  crenças ao longo dos séculos, oralidade e escrita. No cristianismo optou-se por registrar e  preservar seus relatos por escrito para assegurar a precisão doutrinária ao passo que Gilvan  Ventura (2017) observava: ―pois desde os primórdios o cristianismo atribuiu um lugar especial  à escrita, um importante legado do judaísmo, do qual deriva‖. Em contrapartida as religiões de  origem africana se basearam na oralidade o que possibilitava adaptações conforme o tempo  passava. De acordo com Ki-Zerbo (1981), ―Indubitavelmente, a tradição oral é a fonte  histórica mais íntima, mais suculenta e melhor nutrida pela seiva da autenticidade. A boca do  velho cheira mal (diz um provérbio africano), mas ela profere coisas boas e salutares. Por mais  útil que seja, o que é escrito se congela e se disseca‖. Este estudo procura contrastar tais  costumes e indicar estratégias missionárias respeitosas visando fomentar a interação e a  harmonia cultural entre as comunidades adeptas de cada crença.  

1.1 A criação no cristianismo e a atuação da Trindade  

A narrativa bíblica da criação envolve a atuação da Trindade: Deus Pai é o Criador  (Gênesis 1:1), o Filho é o Verbo por meio do qual tudo foi criado (João 1:1-3), e o Espírito  Santo pairava sobre as águas (Gênesis 1:2). A pluralidade da divindade está presente em  Gênesis 1:26: ―Façamos o homem à nossa imagem‖, Gênesis 3:22: ―Eis que o homem se  tornou como um de nós‖, Isaías 6:8: ―A quem enviarei, e quem há de ir por nós?‖. Mateus 3:16- 17: No batismo de Jesus, o Espírito Santo desce como uma pomba, e a voz do Pai é ouvida dos  céus, apresentando as três pessoas da Trindade. Mateus 28:19: A grande comissão instrui a  batizar ―em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo‖. 2 Coríntios 13:14: ―A graça do  Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós‖  demonstra a distinção e atuação conjunta das três pessoas. João 14:16-17: Jesus fala sobre pedir  ao Pai que envie outro Consolador, o Espírito Santo, mostrando a interação entre as três pessoas.  A doutrina da Trindade não é apenas sobre o poder criativo de Deus, mas também sobre como  cada pessoa da Trindade participa no ato de criar. ―Quem foi o Deus Criador? Todos os membros da Divindade se envolveram na obra da criação (Gn 1:2, 26)‖.  (ADVENTIST CHURCH, 2020).  

Essa compreensão trinitária é essencial na teologia cristã e especialmente relevante na  abordagem teológica que interpreta as Escrituras com base na revelação progressiva e harmônica. Nessa perspectiva, a criação é o resultado da unidade de três pessoas divinas iguais  em essência e poder. De acordo com teólogos como Gerhard F. Hasel e Norman R. Gulley, a  criação é vista como o fruto da coordenação perfeita de três Pessoas Divinas, iguais em essência  e poder, sem subordinação interna, mas com plena unidade.  

De acordo com o Centro White, ―a visão (…) sobre a Trindade tem evoluído  continuamente, com uma aceitação plena do papel das três pessoas divinas na criação‖. (Centro  White, 2025). Esta compreensão é essencial para definir o propósito e o papel de cada pessoa  divina, destacando-se na teologia a igualdade e cooperação sem subordinação.  

A doutrina da Trindade ensina que não há subordinação entre as pessoas divinas, mas  uma plena unidade. Essa união pode ser observada também na forma como os orixás cooperam  na criação segundo a mitologia Iorubana, conforme será explorado adiante.  

1.2 A criação nas religiões de matriz Africana e a tríade dos orixás  

A mitologia da criação segundo os Iorubas foi selecionada para este artigo por ser uma  das mais ricas em conteúdo disponível para pesquisa. Além disso, a maioria dos adeptos de  religiões de matriz africana considera a nação Iorubá como a base de muitas religiões que  surgiram ao redor do mundo. 

―A mitologia dos iorubás engloba toda a visão de mundo e as religiões dos  iorubás, tanto na África (principalmente na Nigéria e na República do Benin)  quanto no Novo Mundo, onde influenciou ou deu nascimento várias religiões,  tais como a Santería em Cuba e o Candomblé no Brasil em acréscimo ao  transplante das religiões trazidas da terra natal‖. (GELEDÉS, 2013). 

Na crença dos Iorubás, a criação do mundo é atribuída a Olorum (também chamado de  Olodumare), o ser supremo, que delega a tarefa aos orixás Oxalá (também chamado de Obatalá)  e Oduduwa (também chamada de Odùa). Oxalá molda os seres humanos a partir do barro,  recebendo de Olodumare o sopro da vida, o Axé, que confere existência e energia vital às suas  criaturas. Oduduwa organiza a terra, dando forma ao mundo físico após lançar solo sagrado  sobre as águas do caos primordial e criar a cidade de Ilê-Ifé, considerada berço da humanidade.  ―Olodumare confiou a Obàtálá a missão de criar o mundo físico e os seres humanos, enquanto  Odùduwà recebeu a tarefa de governar e organizar a vida na terra‖. (BENISTE, 1997, p. 41). 

A preservação dessas crenças ocorre principalmente por meio da oralidade, transmitida  entre gerações através dos versos de Ifá, narrativas dos sacerdotes, das yalorixás e dos mitos  regionais. Essa forma de transmissão, embora sujeita a variações, mantém os princípios  essenciais de criação coletiva, equilíbrio cósmico e responsabilidade espiritual. O Centro White  aponta que ―há elementos na tradição oral que indicam uma percepção compartida do divino  que pode ser encontrada em outras culturas religiosas‖. (Centro White, 2025).  

O conhecimento transmitido oralmente, embora distinto da escrita bíblica, cumpre um  papel igualmente sagrado nas comunidades de matriz Africana. O diálogo com lideranças  religiosas dessas comunidades revela a percepção, entre os próprios praticantes, de que há  semelhanças importantes com o relato da criação bíblica.  

2. NARRATIVAS DA CRIAÇÃO: CRISTIANISMO E MITOLOGIA IORUBANA

2.1 A criação segundo a teologia Bíblica 

A narrativa da criação no cristianismo, registrada principalmente nos capítulos 1 e 2 do  livro de Gênesis, é interpretada sob a ótica da ação trinitária de Deus. Para teólogos como  Gerhard F. Hasel, ―a colaboração harmoniosa e integrada das três Pessoas divinas é evidente  em toda a obra da criação e redenção‖. (Hasel, 1981, p. 34). Esse ponto de vista é reforçado pela  necessidade de ver as intervenções divinas como parte de um plano unificado e coerente, onde  ―o sopro do Espírito (Gênesis 1:2) e o Verbo criativo (João 1:3) são expressões do mesmo  poder divino‖. (Wood, 1996, p. 56). Segundo a teologia bíblica e os principais tratados cristãos,  Deus Pai é apresentado como o originador de todas as coisas (Gênesis 1:1), Deus Filho como o  Verbo criador (João 1:1–3; Colossenses 1:16–17), e o Espírito Santo como a presença que  sustenta e vivifica a criação (Gênesis 1:2; Jó 33:4). ―A compreensão bíblica da Trindade revela  uma colaboração harmoniosa e integrada das três Pessoas divinas em toda a obra da criação e  redenção‖. (HASEL, 1981). E Gulley afirma que ―vê na doutrina da Trindade a chave para  entender a unidade e propósito de Deus na história da salvação‖. (GULLEY, 2003).  

A estrutura gramatical do hebraico em Gênesis 1:26 ―Façamos o homem à nossa  imagem‖. Sugere uma pluralidade de pessoas divinas em unidade plena, evidência da Trindade  desde o início da revelação bíblica. A doutrina da Trindade, portanto, está profundamente entrelaçada com a própria origem da existência. ―A estrutura do hebraico bíblico em passagens como Gênesis 1:26 proporciona uma visão clara da unidade e pluralidade na Divindade,  indicando uma ação conjunta e unificada na criação‖. (TROXEL, 2001). ―A formulação  trinitária não é um acréscimo tardio à teologia cristã, mas está presente desde as primeiras  palavras da revelação bíblica, interpretadas à luz da plenitude do testemunho das Escrituras‖.  (WOOD, 1996).  

No capítulo 2, a narrativa é aprofundada. Deus molda o ser humano do pó da terra e  sopra-lhe o fôlego de vida (Gênesis 2:7), indicando um vínculo íntimo e vital com o Criador.  Não há subordinação entre os membros da Trindade; há unidade e cooperação em perfeita  igualdade ontológica, como reforça a doutrina bíblica em passagens como 2 Coríntios 13:13 e  Mateus 28:19. ―No processo criativo divino, como descrito em Gênesis, vemos uma  colaboração íntima e harmoniosa entre as pessoas da Trindade, algo que reflete sua unidade  essencial e propósito conjunto‖. (GULLEY, 2012, p. 216).  

A preservação do relato da criação se dá pela escrita sagrada, conforme ordenado  diretamente por Deus. ―Escreve isto para memória num livro‖ (Êxodo 17:14). ―Moisés acabou de  escrever num livro todas as palavras desta lei‖ (Deuteronômio 31:24). ―A escolha divina de registrar  Sua revelação por escrito assegura a precisão e a continuidade das Suas instruções, destacando se das práticas de transmissão puramente oral de outras culturas antigas‖. (GULLEY, 2011, p.  184). Essa orientação garantiu que os eventos fundamentais fossem transmitidos com fidelidade  e exatidão.  

2.2 A Criação do mundo segundo a mitologia Iorubana 

De acordo com a tradição Iorubá, o universo é dividido em dois domínios principais:  Orun, o mundo espiritual, onde habitam os deuses, orixás e ancestrais; e Aiyê, o mundo físico,  onde vivem os seres humanos. ―O Òrun é o espaço sobrenatural, o outro mundo. É o espaço  imenso, infinito, distante e abstrato […] O Àiyé compreende o universo físico concreto e a vida  de todos os seres naturais que habitam a Terra‖. (BENISTE, 1997. p. 37). No princípio, existia  apenas Orun, e ali residia Olorum (também chamado Olodumare), o ser supremo, fonte de toda  a existência e do Axé que é a energia vital que permeia e sustenta o cosmos. ―Olodumare ou  Olorum é o Deus Supremo, criador do céu (òrun) e da terra (ayé), fonte primordial de onde  emana o axé, força vital que anima e permite a existência‖. (VERGER, 2000. p. 33). 

―Na tradição iorubá, o cosmos é estruturado em dois domínios fundamentais:  o Orun, reino espiritual dos orixás e ancestrais, e o Aiyê, mundo material dos  humanos. Olodumare, no Orun, é a fonte suprema de existência e do Axé, a  força que sustenta o universo‖. (ABIMBOLA, 1977, p. 66).  

Movido pelo desejo de expandir sua criação para além do mundo espiritual, Olodumare  decidiu criar Aiyê. Para isso, designou um de seus orixás mais antigos e respeitados, Oxalá (ou  Obatalá), para realizar essa missão. Oxalá é considerado o orixá da criação, da pureza, da  sabedoria e da paz. ―Olodumare, visando expandir sua criação além do Orun, confiou a tarefa  a Oxalá. Este orixá é venerado como o arquétipo da criação e associado à pureza, sabedoria e  harmonia‖. (VERGER, 1981, p. 45).  

Segundo os relatos preservados pela oralidade ancestral e pela tradição dos sacerdotes  de Ifá, Oxalá recebeu de Orunmilá, o orixá da sabedoria e do destino, os seguintes instrumentos  sagrados da criação: Um punhado de terra sagrada, uma galinha de cinco dedos, algumas  sementes sagrada, uma pomba branca, um caracol gigante, o poder vital do Axé e o saco da  Criação.  

―Nos ensinamentos da tradição oral dos iorubás, Oxalá foi dotado por  Orunmilá com ferramentas sagradas para moldar o mundo físico. Esses recursos  incluíam terra sagrada, uma galinha de cinco dedos, sementes, uma pomba  branca, um caracol, e o Axé, fonte vital de energia e poder de criação‖. (VERGER, 1999, p. 63).  

Usando uma corrente dourada enviada por Olodumare, e carregando o saco da criação  com todos os instrumentos da criação, Oxalá desceu do Orun ao Aiyê, que na época era coberto  apenas por águas caóticas. Lançou então a terra sobre as águas e soltou os animais (a galinha e  a pomba) que, ao ciscar e bater suas asas, espalhou a terra até formar os primeiros continentes,  planícies e montanhas. Assim nasceu a Terra.  

Utilizando o caracol gigante e soltando-o sobre a terra recém-criada, ao caminhar por  ela começaram a surgir os rios, lagos e lagoas. Andando por toda a terra e lançando as sementes  sagradas, foi criada toda a vida vegetal. Como o Aiyê não era a habitação desses três grandes  animais, após a morte deles, de seus restos mortais passaram a existir as três classes de animais,  cada originado conforme suas espécies, da grande pomba, surgiram os diversos animais voadores, da galinha de cinco dedos, surgiram os diversos animais terrestres, do caracol gigante,  surgiram todos os animais subterrâneos e animais aquáticos, tanto de águas doces quanto de  águas salgadas.  

―Na cosmogonia iorubá, Oxalá desceu à Terra usando uma corrente dourada,  trazendo consigo o saco da criação. Ele orquestrou a formação do mundo a partir  do caos aquático, dispersando terra e soltando animais sagrados que ajudaram a  moldar os continentes e ecossistemas. Cada criatura originada simbolicamente  deu origem a diferentes classes de vida na Terra‖. (VERGER, 1981, p. 88).  

Encantado com a paisagem formada, Oxalá modelou os primeiros seres humanos a partir  do barro e os colocou sobre a terra recém-criada. Aguardou então que Olodumare soprasse o  Emì, o sopro da vida, nestas criaturas, conferindo-lhes vitalidade e movimento.  

Entretanto, segundo algumas vertentes na narrativa mitológica Ioruba, durante o  processo de criação, Oxalá cometeu um erro: Embriagou-se com vinho de palma, o que o  impediu de concluir sua obra com a mesma perfeição. Como consequência, algumas de suas  últimas criações nasceram com imperfeições físicas (explicação simbólica para a origem das  deficiências humanas) no pensamento Iorubá.  

Nesse momento, Oduduwa, outro orixá importante tida como irmã ou consorte de Oxalá,  dependendo da tradição regional, assumiu a tarefa de continuar a criação. Ela organizou a  superfície da Terra e fundou Ilê-Ifé, considerada a cidade sagrada e o berço da civilização  Iorubá. ―Obàtálà é o elemento criativo idealizador, Odùdúwà, o elemento gestor de toda a  existência material, física e humana‖. (BIÃO, 2003). ―Òrìsàlá-Obàtálá representa o princípio  masculino e Odùduwà o princípio feminino […] Obàtálá é associado ao elemento criativo, ao  sopro divino, enquanto Odùduwà está ligada à gestação, à terra e à materialização da existência‖.  (SANTOS, 2012. p. 57-58).  

Ao término da criação Olorum, atribuiu em todos os papéis distintos e complementares:  Oxalá recebeu o título de criador da humanidade, e Oduduwa foi instituída como a governante  e a organizadora da Terra.  

―Oxalá, após moldar os primeiros humanos, aguardou o sopro vital de  Olodumare. No processo de criação, sua imperfeição resultante do vinho de  palma simboliza a origem das deficiências humanas. Oduduwa prosseguiu com a obra, fundando Ilê-Ifé, a cidade sagrada dos iorubás. Juntos, Oxalá é  reverenciado como criador da humanidade e Oduduwa como a organizadora da  Terra‖. (ABIMBOLA, 1995, p. 102).  

A tradição foi mantida ao longo dos séculos pela oralidade ritualística, pelos versos de  Ifá e pelos ensinamentos passados entre os sacerdotes e sacerdotisas, pais e mães de santo.  

―A tradição iorubá é preservada através da oralidade ritualística, dos versos  sagrados de Ifá e dos ensinamentos minuciosamente transmitidos entre  sacerdotes e mães de santo, garantindo a continuidade e autenticidade da  cultura‖. (PEEL, 2003, p. 78).  

2.3 Comparações entre as narrativas da criação: Cristianismo e tradição Iorubá 

A muitas semelhanças entre essa narrativa Iorubá e o relato bíblico da criação, acrescenta  credibilidade à análise inter-religiosa e fortalece a proposta de diálogo respeitoso entre as duas  tradições. ―As semelhanças estruturais entre mitos iorubás e narrativas bíblicas não são meras  coincidências, mas expressões de questões fundamentais da condição humana que transcendem  fronteiras culturais‖. (SILVA, 2005. p. 142). ―As semelhanças entre a cosmogonia iorubá e o  relato bíblico da criação ilustram as convergências espirituais entre tradições diversas,  enriquecendo o diálogo inter-religioso e promovendo um respeito mútuo mais profundo‖.  (IDOWU, 1962, p. 160).  

―Por finalidade esclarecer aos leitores com os seus acervos culturais,  psicológicos e religiosos, que ―todos os vasos são de ouro puro‖, como dizem  os mestres budistas. Ou seja, a Verdade é Una, chegou para todos de forma  diferenciada apenas na sua forma, – conforme a sua cultura‖. (BIÃO, 2003). 

Figura 1 – Quadro demonstrativo a comparação entre as narrativas da criação revela  semelhanças estruturais e simbólicas que transcendem diferenças culturais ou teológicas.  Ambas as cosmovisões compreendem:

Essas semelhanças não implicam equivalência, mas sim pontos de contato que  possibilitam o diálogo inter-religioso e missionário. Conforme aponta o Doutor Ivanir dos  Santos, doutor em história comparada da UFRJ (2018) há fortes indícios de que muitos  elementos da teologia judaico-cristã remontam à ancestralidade africana, especialmente no  contexto de Moisés, que foi educado no Egito (Atos 7:22), e de Abraão, oriundo de Ur, região  culturalmente conectada ao norte da África e que as primeiras civilizações bíblicas  compartilhavam raízes com povos africanos.  

Isso sustenta a hipótese de uma origem espiritual comum, divergente ao longo do tempo  por métodos distintos de transmissão (oralidade x escrita). Como expõe Idowu, ―essas  semelhanças indicam a presença de temas universais que ressoam em tradições distintas,  sugerindo um ancestro espiritual comum‖. (Idowu, 1962, p. 160). Também é declarado por  Sanchis ―O reconhecimento de elementos comuns entre diferentes tradições religiosas  constitui base fundamental para o diálogo inter-religioso e a construção de uma sociedade plural  e respeitosa‖. (SANCHIS, 1997, p. 28-43). Isso aponta para uma abordagem missiológica que  favorece o respeito e uma compreensão das tradições espirituais africanas.  

3. EVANGELIZAÇÃO NAS COMUNIDADES DE MATRIZ AFRICANA 

A evangelização no contexto das diversidades religiosas, como as comunidades de  matriz Africana, exige uma abordagem que transcenda a mera transmissão doutrinária,  priorizando o respeito mútuo, a compreensão cultural e a construção de relacionamentos  autênticos. Conforme observado por Finley, ―a amizade afasta o preconceito, derruba barreiras  e estabelece uma ponte entre o desconhecido e o conhecido‖. (FINLEY, 1991). Este princípio fundamental orienta a proposta de um evangelismo relacional, que é desenvolvido por meio do  diálogo e da formação de pequenos grupos, visando promover, ―mudanças genuínas na vida  das pessoas‖. (MISSÃO TRANSFORMADORA, p. 15).  

O centro de qualquer esforço evangelístico bem-sucedido em ambientes culturalmente  diversos é a habilidade de estabelecer uma conexão autêntica com o próximo. Tendo como  exemplo métodos menos eficientes como o ―monólogo manipulador‖ ou a ―simples  transmissão de informações‖, Finley destaca a importância do ―diálogo criativo‖, que se  fundamentam em perguntas pertinentes e de genuíno interesse pelo outro. Esse diálogo  representa a essência do evangelismo relacional cuja estrutura se apoia em três pilares  fundamentais para interações significativas: concordar, responder positivamente e acolher.  Iniciar uma conversa concordando com o que a outra pessoa diz é fundamental para uma boa  comunicação: ―Concordai com as pessoas em todos os pontos em que podeis coerentemente  assim fazer‖ (WHITE, Evangelismo. p. 141).  

Dentro do âmbito das religiões de matriz africana, a análise comparativa das narrativas  da criação pode revelar semelhanças estruturais e simbólicas interessantes, como a atuação da  tríade divina e a origem do ser humano a partir do barro e do sopro divino. Reconhecer e  valorizar esses pontos em comum pode abrir portas para um diálogo mais profundo,  demonstrando assim que as orientações de Manoel Rodrigues dos Santos sobre assemelhar a  forma do discipulado de Jesus estão completamente corretas. ―O discipulado é o processo de  fazer seguidores de Jesus Cristo, que se comprometem a viver de acordo com os Seus  ensinamentos e a compartilhar a Sua mensagem com outros‖ (SANTOS, ULB, 2015), o que  implica uma abordagem sensível às realidades do outro.  

Aprovar significa buscar e elogiar aspectos positivos na vida e nas crenças do outro.  ―Ser um amigo verdadeiro é esforçar-se para encontrar alguma coisa para elogiar, felicitar a  outra pessoa‖. (FINLEY, 1991). Isso não implica em endossar todas as práticas, mas em  reconhecer o valor humano e a busca espiritual inerente, construindo uma base de confiança e  aceitação. 

Por fim, aceitar as pessoas onde elas estão, sem julgamento, é um pilar fundamental da  abordagem relacional. ―Aceitar não significa que você aprova as ações ou posição doutrinária  da pessoa. Significa que você demonstra uma consideração positiva e coerente‖ (FINLEY,  1991). Jesus, ao se relacionar com indivíduos, aceitava-os como os encontrava, identificando-se  com seus interesses e preocupações, o que os cativava para uma nova vida (FINLEY, 1991). A  importância da aceitação completa é essencial para estabelecer a confiança fundamental que  permite a realização de conversas significativas; como afirma Manoel ―A missão da igreja é  fazer discípulos, e isso implica ir além das quatro paredes do templo para alcançar as pessoas  onde elas estão‖. (SANTOS, ULB, 2015), adaptando-se ao ambiente e às necessidades do  próximo.  

3.1 O Evangelismo pela conversação: Construindo pontes e diálogo  

O ―Evangelismo pela conversação‖ é uma metodologia que permite a transição gradual  de temas gerais para discussões espirituais, respeitando o ritmo e a abertura do interlocutor  (FINLEY, 1991). Finley descreve essa abordagem como um ―modelo da cebola‖, onde se  removem camadas de conversa, começando por assuntos superficiais e progredindo para áreas  mais profundas, de modo que ―as palavras certas faladas da maneira certa na hora certa faz  toda a diferença‖. (FINLEY, 1991).  

O processo envolve os seguintes passos: Estabelecimento de laços comuns: Inicia-se  com a identificação de interesses compartilhados, que podem variar desde questões cotidianas,  como o clima e notícias, até tópicos mais específicos, como trabalho, hobbies ou família  (FINLEY, 1991). No contexto das comunidades de matriz africana, isso pode incluir conversas  sobre a comunidade, a ancestralidade, a culinária ou a música. Cox (2000) enfatiza que o  ―evangelismo pela conversação começa onde as pessoas estão‖, seja com ―armas, ou futebol,  ou inflação, ou crianças‖, e ―gradualmente muda para coisas espirituais‖.  

Transição para interesses filosóficos e espirituais: Uma vez estabelecida a conexão  inicial, a conversa pode ser gentilmente direcionada para questões mais existenciais. Perguntas  abertas sobre o propósito da vida, o sofrimento, a busca por paz interior ou o destino do mundo  podem servir como ponte (FINLEY, 1991). A seção anterior do artigo, ao destacar as semelhanças entre as narrativas de criação, oferece um ponto de partida natural para explorar a  visão de mundo do interlocutor sobre a origem da vida e do universo, pois ―o  Espírito Santo está despertando estas perguntas‖. (FINLEY, 1991).  

Pedido de permissão e testemunho pessoal: O momento crucial da transição para o  diálogo espiritual direto é o ‖pedido de permissão‖. Antes de compartilhar crenças pessoais ou  ideias bíblicas, é fundamental perguntar: ―Eu posso partilhar com você o que eu descobri na  Bíblia sobre nos livrar da culpa?‖ ou ―Eu posso lhe contar como consegui superar a perda de  um ente querido?‖ (FINLEY, 1991). Esse ato de respeito valida a autonomia do outro e cria um  ambiente de confiança. O testemunho pessoal, que narra à experiência individual com a fé cristã,  torna a mensagem tangível e relacional, focando na transformação de vida que Jesus proporciona, pois ―se demonstramos genuína preocupação com os outros, eles abrirão  seu coração, quando nós abrirmos o nosso‖ (FINLEY, 1991).  

3.2 O papel dos pequenos grupos no discipulado relacional  

Os pequenos grupos emergem como uma extensão natural e estratégica do evangelismo  relacional, oferecendo um ambiente propício para o aprofundamento da fé e o discipulado. Cox  (2000) afirma que ―existe um potencial quase ilimitado de crescimento da igreja num  ministério de grupos pequenos intencional, bem organizado, dirigido pelo Espírito e centrado  em Cristo‖. Chaves (2014) define os pequenos grupos como ―reuniões de oração, estudo da  Bíblia e testemunho em casas de famílias‖, que funcionam como unidades integrantes da igreja.  

A aplicação dos pequenos grupos nesse contexto se baseia em princípios bíblicos e  práticos: Comunidade e Cuidado Mútuo: Os pequenos grupos promovem um ―ambiente  fraterno, de cuidado mútuo, estudo da Bíblia, oração e testemunhos‖ (CHAVES, 2014, p. 53).  Essa ênfase relacional atua ―dentro do paradigma da criação e se fundamenta no princípio  bíblico da comunidade‖ (CHAVES, 2014, p. 48), suprindo a necessidade humana de  relacionamento e pertencimento. Cox (2000, p. 19) ressalta que ―todas as igrejas precisam de  uma rede abrangente de pequenos grupos que ajudem a construir uma comunidade  verdadeiramente cristã‖, pois ―o mundo moderno anseia mais do que tudo, é seguramente um  sentimento de pertença, um sentimento de comunhão‖. (COX, 2000, p. 17). Além disso, ―a essência do discipulado é o relacionamento pessoal com Jesus e, por extensão, com outros  crentes‖. (SANTOS, ULB, 2015), o que é facilitado em um ambiente de grupo pequeno.  

Capacitação para o Ministério e Descentralização da Liderança: Os pequenos grupos  ―capacitam os membros para o ministério‖ (COX, 2000, p. 17), permitindo a descentralização  de tarefas e o compartilhamento da liderança, um princípio bíblico observado desde Moisés  (CHAVES, 2014, p. 49). Cox argumenta que o ministério de pequenos grupos: ―representa  uma mudança de padrão que pode efetivamente capacitar os membros para o ministério, pois  não reconhece a distinção não bíblica entre clérigos e leigos‖. Cox (2000, p. 23).  

Coleman (1964, p. 16) destaca que Jesus ―não se preocupava com projetos especiais  para alcançar grandes platéias, mas com pessoas a quem as multidões deveriam seguir‖. Os  pequenos grupos, ao focar em um número reduzido de pessoas geralmente entre cinco e quinze,  conforme (CHAVES, 2014, p. 46), permitem um discipulado mais intenso e a formação de  novos líderes que, por sua vez, podem replicar o processo. ―A formação de pequenos grupos  é um método eficaz para o discipulado, pois proporciona um ambiente de cuidado, apoio e  crescimento mútuo‖. (SANTOS, ULB, 2015).  

Reuniões no Lar e Flexibilidade: A prática de reunir-se em casas, como era comum na  Igreja Cristã Primitiva (CHAVES, 2014), oferece um ambiente informal e acolhedor, que pode  ser menos intimidante do que um templo tradicional. Cox (2000, p. 77) afirma que  ―geralmente, o lugar de reunião será uma casa, em vez da igreja‖. Essa flexibilidade facilita a  participação e a interação, permitindo que o estudo da Bíblia e o testemunho ocorram em um  contexto familiar e seguro, e que ―os grupos reúnem-se onde as pessoas vivem‖. (COX, 2000,  p. 38).  

Discipulado Gradual: O pequeno grupo é ―fundamental para a formação de discípulos‖  (CHAVES, 2014, p. 54), pois ―os grupos pequenos fazem discípulos‖ (COX, s.d., p. 27). O  processo de discipulado deve ser gradual, revelando a verdade ―passo a passo‖ (FINLEY,  1991, p. 24). O princípio de ―primeiro apresentar a Jesus‖ (FINLEY, 2000, p. 21) é vital, pois  o relacionamento com Cristo é a base para a aceitação das doutrinas, e ―o maravilhoso amor  de Cristo abrandará e subjugará os corações, quando a simples reiteração de doutrinas nada  conseguiria‖ (WHITE, 2010, p. 826). Dentro do grupo, os princípios de Coleman de “Associação” (estar com eles), “Demonstração” (mostrar como viver), “Supervisão”  (acompanhamento) e “Reprodução” (treinar novos líderes) podem ser aplicados de forma  orgânica (COLEMAN, 1964, Sumário). Isso permite que os participantes cresçam na fé,  abordando questões teológicas e práticas de forma contextualizada e respeitosa, evitando  confrontos e focando na transformação pessoal. ―O discipulado na Igreja Adventista do Sétimo  Dia deve ser intencional, relacional e reprodutivo‖. (SANTOS, ULB, 2015, p. 6).  

3.3 Aplicação e Desenvolvimento  

A aplicação do evangelismo relacional e dos pequenos grupos em comunidades de  matriz Africana pode ser delineada em uma sequência de passos práticos, alinhados com a  ―missão integral da igreja que envolve a proclamação do evangelho, o serviço social e a  transformação cultural‖. (MISSÃO TRANSFORMADORA, p. 12).  

3.3.1 Início da conexão e construção de confiança:  

Ação: Identificar indivíduos ou famílias na comunidade com base em interesses comuns  (escola dos filhos, vizinhança, atividades sociais, etc.). Iniciar conversas sobre temas gerais,  como saúde, família, ou desafios cotidianos, demonstrando ―interesse na pessoa como ser  humano‖ (FINLEY, 1991, p. 9).  

Fundamentação: ―O Evangelismo pela Conversação começa onde as pessoas estão‖  (FINLEY, 1991, p. 9). A amizade genuína é o ponto de partida para ―quebrar preconceitos‖  (FINLEY, 1991, p. 192). Os pequenos grupos ―aproximam as pessoas – cristãos e não cristãos  – o suficiente umas das outras de maneira a formarem-se relacionamentos calorosos e  carinhosos‖ (COX, s.d., p. 3).  

3.3.2 Transição para o diálogo espiritual e identificação de necessidades:  

Ação: Após estabelecer um nível de confiança, introduzir perguntas filosóficas sobre o  sentido da vida, a origem do universo, ou a superação de desafios pessoais. Observar as  ―perguntas que os americanos mais fazem‖ (FINLEY, 1991, p. 13) como guia para temas  universais. 

Fundamentação: O “modelo da cebola” permite “remover camadas” de conversa,  progredindo para o interesse espiritual (FINLEY, 1991, p. 9). A identificação de ―necessidades  íntimas‖ (FINLEY, 1991, p. 99) como solidão, estresse, ou busca por paz, cria uma abertura  para o diálogo sobre a fé, pois ―muitas pessoas ao nosso redor todos os dias estão carregando  fardos pesados e escondidos‖ (FINLEY, s.d., p. 11).  

3.3.3 Compartilhamento de testemunho e convite ao pequeno grupo:  

Ação: Quando houver abertura, pedir permissão para compartilhar um testemunho  pessoal sobre como a fé cristã respondeu a uma necessidade específica. Em seguida, convidar  para um pequeno grupo, apresentando-o como um espaço de acolhimento, aprendizado e apoio  mútuo.  

Fundamentação: O “Eu posso…” é a chave para o compartilhamento da fé (FINLEY,  1991, p. 9). O pequeno grupo oferece um “ambiente de convivência fraterna, marcado por  companheirismo e solidariedade” (CHAVES, 2014, p. 48), ideal para quem busca “compreender  a verdade” (FINLEY, 1991, p. 134). Cox (s.d., p. 38) destaca que a “amizade entre cristãos e  não cristãos também se pode desenvolver naturalmente nos grupos pequenos”, tornando o  testemunho “pessoal” e “informal”.  

3.3.4 Discipulado e crescimento no pequeno grupo:  

Ação: No pequeno grupo, o estudo da Bíblia deve ser conduzido de forma gradual e  contextualizada. Iniciar com temas que ressoem com as experiências e conhecimentos prévios  dos participantes, como as narrativas de criação, explorando as semelhanças e, posteriormente,  as distinções e a plenitude da revelação cristã.  

Fundamentação: “Primeiro apresentar a Jesus” (FINLEY, 1991, p. 21) é essencial, pois  o amor de Cristo “abrandará e subjugará os corações” (WHITE, Ev, p. 826). A verdade deve ser  “revelada gradualmente” (FINLEY, 1991, p. 23), como a luz da aurora (Provérbios 4:18). O  grupo facilita a “associação” e “demonstração” (COLEMAN, 1964, Sumário), onde o líder vive a fé diante dos discípulos. ―O discipulado envolve tanto o ensino da doutrina quanto a  modelagem do caráter cristão‖. (SANTOS, ULB, 2015).  

―estudo relacional da Bíblia tenta não só levar o grupo a uma melhor compreensão da mensagem bíblica, mas procura animar todos os membros do grupo a relacionarem essa passagem com a sua vida pessoal de modo prático e pessoal‖ (COX, 2000, p. 29).  

3.3.5 Aprofundamento e reprodução:  

Ação: À medida que os participantes demonstram crescimento e interesse, incentiválos  a assumir responsabilidades no grupo, como a leitura de textos, a partilha de reflexões ou o  convite a novos amigos. O objetivo é que se tornem “discípulos que reproduzam outros  discípulos” (COLEMAN, 1964, p. 84).  

Fundamentação: A “reprodução” é o teste final do ministério (COLEMAN, 1964, p. 84).  A “supervisão” contínua e o “treinamento no próprio local de trabalho” (COLEMAN, 1964, p.  77) garantem que os novos líderes estejam preparados para “levar avante a obra” (COLEMAN,  1964, p. 92). Cox (s.d., p. 56) destaca que o “sistema de grupos pequenos… deu à igreja a  possibilidade de absorver, nutrir e desenvolver tantos novos discípulos para o ministério, tão  rapidamente”, sendo crucial para a “finalização do trabalho” evangelístico. “O discipulado é um  processo contínuo de aprendizado e transformação, que dura a vida toda” (SANTOS, ULB,  2015). 

Figura 2 – Tabela resumida e explicada: Evangelismo relacional e pequenos grupos em  comunidades de matriz Africana, destacado a importância da interação genuína e da escuta  atenta no dia a dia da fé cristã valorizando os aspectos práticos relevantes em sintonia com as  particularidades culturais de cada contexto social. Cada fase tem como objetivo estabelecer  relações de confiança profundas e oferecer vivências pessoais de mudança e desenvolvimento  de uma comunidade de aprendizado em evolução contínua e expansão constante; esses  elementos garantem uma jornada duradouramente significativa e adaptada ao contexto.  Destaque para a transformação gradual e relacional tanto dos indivíduos quanto da comunidade  é feito com respeito à cultura local e promoção da inclusão autêntica.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

As comparações entre as histórias da criação do Cristianismo e da mitologia Iorubana  revelam notáveis afinidades teológicas e simbólicas que sugerem uma possível origem espiritual  em comum. Enquanto o cristianismo preservou sua narrativa por meio da escrita, a mitologia Africana manteve-se viva pela tradição oral, individualmente cada uma contribuíram para a  singular metodologia da transmissão de suas crenças.  

Com base na análise comparativa feita neste artigo é possível notar que a tríade de  divindades da mitologia Iorubana representadas por Oxalá, Oduduwa e Olorum tem uma  estrutura colaborativa na criação que, assemelham-se em alguns pontos os ensinamentos  cristãos da Trindade (Deus Pai, Filho e Espírito Santo). Esse ponto de convergência não tem o  objetivo de promover sincretismos, mas sim enriquecer o diálogo e fortalecer o entendimento  mútuo valorizando toda diversidade cultural e religiosa presente. Apesar de utilizarem métodos  distintos na conservação doutrinária e de ensino que podem ter causado distorções na  transmissão durante a oralidade em si mesma. Mas é possível reconhecer origens  compartilhadas em comuns.  

Finalmente, uma forma respeitosa e relacional de evangelização, que se baseia em  pequenos grupos e atividades sociais fundamentadas no amor e na empatia cultural, surge como  uma estratégia efetiva. Esse enfoque não apenas valoriza as diversidades, mas também  estabelecem conexões para o discipulado cristão, fomentando assim transformações de vidas de  modo autêntico e significativo. 

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¹Artigo apresentado à disciplina TCC para obtenção de nota parcial pelo Centro Universitário Adventista do  Nordeste, sob orientação do Prof. Me. Manoel Rodrigues dos Santos. manoel.santos@adventista.edu.br

²Graduando do 4º ano do curso Bacharelado em Teologia pela Faculdade Adventista da Bahia.  marcelojorge17@gmail.com  

³Mestre em Teologia da Missão e Ministério pelo Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia – UPeU.  manoel.santos@adventista.edu.br