MOTIVAÇÃO E APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR: O IMPACTO DA AFETIVIDADE

MOTIVATION AND LEARNING IN HIGHER EDUCATION: THE IMPACT OF AFFECTIVITY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202408120729


Anne Loize Santos de Araújo1; Bárbara de Oliveira Pinheiro2; Rebeca Sales de Lima Marques3; Gabrielle Selleri Bezerra4


Resumo: Para a construção do presente artigo, foi realizada uma revisão sistemática de pesquisas publicadas entre os anos de 2019 e 2023, com o objetivo de analisar e compreender o impacto da afetividade no processo de ensino-aprendizagem no ensino superior. Foram analisados nove artigos, abordando diferentes aspectos desta temática, a partir da perspectiva dos docentes e dos discentes. A aplicação dos referenciais teóricos ancorados aos conceitos do processo cognitivo sobre afetividade e motivação dos trabalhos de Piaget, Wallon e Vygotsky foram primordiais para a compreensão dos dados obtidos. Os resultados destacam a influência da afetividade na esfera da motivação e do desempenho para o sucesso acadêmico, salientando o professor como agente motivador na aprendizagem. Sublinha-se a necessidade do ensino associado ao desenvolvimento de relações interpessoais e o uso de estratégias pedagógicas que promovam um ambiente acolhedor e estimulante.

Palavras-chave: Afetividade; motivação, ensino-aprendizagem; ensino superior. 

Abstract: To construct this article, a systematic review of research published between 2019 and 2023 was carried out, with the aim of analyzing and understanding the impact of affectivity on the teaching-learning process in higher education. Nine articles were analyzed, addressing different aspects of this topic, from the perspective of teachers and students. The application of theoretical references anchored to the concepts of the cognitive process on affectivity and motivation in the works of Piaget, Wallon and Vygotsky were essential for understanding the data obtained. The results highlight the influence of affectivity in the sphere of motivation and performance for academic success, highlighting the teacher as a motivating agent in learning. The need for teaching associated with the development of interpersonal relationships and the use of pedagogical strategies that promote a welcoming and stimulating environment is highlighted.

Key words: Affectivity; motivation, teaching-learning; University education.

Introdução

O processo de ensino e aprendizagem é complexo e inclui diversos elementos, inclusive a afetividade. Considerando o impacto que esta exerce na experiência educacional, é relevante salientar seu conceito. Para Wallon, segundo Soligo5, a afetividade se manifesta através das emoções, portanto, o autor sugere a interpretação de ser afetado ou influenciado por alguém, ocorrendo sempre em contexto interacionista. Através desta reflexão é possível vislumbrar a construção da afetividade como o desenvolvimento de potencialidades do sujeito.

Conforme Piaget, como pontuado por Bock, Furtado e Teixeira6, o intelecto e a cognição se complementam, sendo estes produtos de afetividade e motivação. Ao associar o afeto como um fator indispensável para o desenvolvimento cognitivo, a relação de ensino-aprendizagem ganha lucidez, pois o alicerce dessa perspectiva contribui para as relações afetivas direcionadas entre educadores e educandos que podem ser definidas como apegos funcionais que permeiam o elemento social e a formação das estruturas cognitivas. Segundo Almeida7, “A inteligência não se desenvolve sem afetividade e vice-versa, pois ambas compõem uma unidade de contrários”, assim, adquirem função nas interações com o meio através de suas significações, que transcendem a mera manifestação isolada de emoções, representando uma interdependência integrada, caracterizada por coesão e harmonia. 

Ao falar sobre afetividade e aprendizagem, se faz imperativo abordar a motivação como um componente essencial no desenvolvimento das estruturas cognitivas, responsável por ser desencadeadora de ação. Para Vygotsky8, “O pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção”. Através desta observação, pode-se ressaltar que a motivação é um dos protagonistas na propulsão dos pensamentos. Essa esfera pode ser compreendida como um conjunto de necessidades, norteadas a um processo de satisfação. 

Especificamente no ensino superior, segundo Blando et al.9, as dinâmicas se tornam mais complexas e exigentes, o que ressalta a necessidade de motivação e conhecimento aprofundado da afetividade nesse contexto universitário, visto que, o senso comum classifica o sujeito que ingressa na faculdade como um sujeito autônomo intelectualmente, ausente de dificuldades, desconsiderando um contexto de variáveis que regem o estudante e o curso ao qual está vinculado. 

Entre as dificuldades, pesquisas levantadas por Blando et al. 10 apresentam alguns impedimentos na formação acadêmica, por exemplo, falta de motivação para estudar e comparecer às aulas, base escolar insuficiente, não consideravam ter conhecimento básico para absorver determinados conteúdos, incompatibilidade de crenças e valores com professores e colegas de classe, dificuldade de alinhar os conteúdos teóricos com a prática profissional e insatisfação com professores devido a didática ou qualificação. Todavia, alguns dos resultados obtidos destacam um denominador em comum: a complexidade da significação e ausência de motivação. 

O estudo da motivação, segundo Bock, Furtado e Teixeira11 considera três tipos de variáveis. No âmbito dessa dinâmica, destaca-se a observação a seguir: 

A motivação é, portanto, o processo que mobiliza o organismo para a ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação. Isso significa que, na base da motivação, está sempre um organismo que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse, uma vontade ou uma predisposição para agir. (p.144). 

A relação se divide entre o ambiente, forças internas que dizem respeito às necessidades e, por último, o objeto, que seria o estímulo que atrai a força interna, ou seja, a fonte que incentiva e inicia a busca pela satisfação. Na construção do contexto acadêmico, podemos correlacionar o docente como um dos objetos que elabora a produção da semântica entre a motivação e a afetividade, sendo catalisador do sujeito-objeto. A qualidade dessa mediação impacta positivamente ou negativamente no processo de ensino-aprendizagem. 

Barros12 realizou uma pesquisa com estudantes com o objetivo de analisar as práticas pedagógicas executadas por professores de diferentes disciplinas no ensino superior, avaliando a afetividade como fator primordial para práticas de êxito. Os dados obtidos revelaram questionamento frequente em relação aos recursos de aula expositiva, organização e planejamento de aula, exposição do conteúdo, atividades de ensino e competência dos professores. 

Os estudantes expressaram a percepção de que as dinâmicas são cruciais para o engajamento, absorção do conteúdo e pareamento de afetividade ao professor em sala de aula, conjuntamente com a condução proporcionada pelo professor para que os alunos participassem da aula, dando abertura e voz para que se sentissem à vontade para discutir, perguntar e elaborar sobre o assunto, sem receio de serem repreendidos. Professores são categorizados como protagonistas quando adotam posturas fisicamente acolhedoras e expressivas, como receptivos, atentos ao que o aluno expõe, que expressam a paixão pelo que se ensina, sendo visível a satisfação pelo que compartilha, narrados como se estivessem descobrindo aquilo pela primeira vez, despertando admiração na dimensão afetiva dos alunos. 

Em síntese, a pesquisa de Barros13 destaca a centralidade do docente no papel motivador para o estabelecimento de laços afetivos significativos e ressalta sua influência no processo de aprendizagem como consequência das habilidades profissionais e interpessoais dos educadores que trabalham em conjunto ao emocional. Em virtude disso, a concepção de ensino tradicional contribui para a ausência de motivação e dificuldade de aprendizagem. 

Isto pode ser consequência de que, historicamente, o indivíduo era e é visto como um indivíduo dualista, dividido entre razão e emoção. Em outros termos, esta concepção postula como superior a razão, e a emoção em segundo plano, distante de racionalidade e oriunda de realidades opostas Leite14. Tanto Vygotsky quanto Wallon, como explicado por Leite15, procuraram desenvolver a psicologia fundamentada no materialismo dialético, a partir do contexto ontogênico, filogênico e histórico-cultural, que caracteriza o indivíduo como um ser único, que pensa e igualitariamente sente, desta forma o ser humano é contemplado de forma monista. Considerando os elementos explicitados, o objetivo do presente artigo foi explorar a integração entre afetividade e motivação e avaliar a repercussão nas dinâmicas de ensino-aprendizagem no contexto acadêmico. 

1. Método

O presente artigo foi elaborado a partir de uma revisão sistemática da literatura, a qual envolve uma busca planejada que objetiva responder perguntas específicas, empregando métodos para identificar, avaliar e analisar dados de estudos sobre o tema, a partir de trabalhos originais (Rother)16. Nesse sentido, esta pesquisa consiste em uma revisão de obras acadêmicas quantitativas e qualitativas que exploraram a afetividade ligada ao processo de ensino e aprendizagem.

A busca por artigos foi realizada nas bases de dados indexadas ao Portal de Periódicos da CAPES, usando os termos “afetividade”, “ensino superior” e “aprendizagem”. Os critérios de inclusão estipularam um período temporal de cinco anos (2019 a 2023), priorizando pesquisas de campo e artigos em língua portuguesa que abordassem a afetividade no processo de ensino e aprendizagem no ensino superior. Na Tabela 1 são apresentadas as quantidades de artigos encontrados e selecionados na busca nas bases de dados.

Tabela 1 – Resultados das buscas na base de dados

Termos utilizados na buscaQuantidade de artigos encontradosQuantidade de artigos selecionados
Afetividade e ensino superior35 artigosCinco artigos
Afetividade, ensino superior e aprendizagem31 artigosQuatro artigo
Fonte: dados da pesquisa

A partir da utilização das equações de busca, foram encontrados, no total, 66 trabalhos. Após a leitura dos resumos, foram selecionados nove artigos para uma análise mais detalhada, resultando na escolha destes nove artigos, os quais se mostraram alinhados com o tema proposto. Foram desconsiderados durante a seleção revisões de literatura, teses, dissertações e artigos relacionados a outros níveis de ensino (a exemplo, educação infantil, ensino fundamental e ensino médio).

2. Resultados e Discussões

Os resultados das pesquisas descritas nos artigos analisados, como pressuposto, confirmaram a importância da afetividade para o processo de ensino-aprendizagem. Nove artigos serviram de base para a produção da presente pesquisa. Informações sobre eles encontram-se na Tabela 2.

Tabela 2 – Informações básicas sobre os trabalhos selecionados

TrabalhoTítuloAutoriaAnoTipoInstituiçãoÁrea
1        Afetividade e ensino: Marca de dois professores inesquecíveis da área de matemáticaAna Paula Silva Figueiredo Sérgio Antônio da Silva Leite2019Artigo CientíficoUFMGEducação, Psicologia          
2Afetividade e interatividade na Educação a Distância: análises: sobre sujeitos de duas instituições de ensino superiorMarina Rodrigues Ramos Eucidio Pimenta Arruda2019Artigo CientíficoInstituição EADPedagogia
3Afetividade na educação superior: um estudo de caso  Alessandra Blando Lucas Socoloski Gudolle Et al.  2023Artigo CientíficoNão mencionaEducação
4Percepção dos docentes sobre afetividade no ensino superior em um curso da área da saúdeEliane Caldas da Silva Marcele Pereira da Rosa Zucolotto  2019Artigo CientíficoUFNEducação
5Relação professor-aluno: a afetividade como promoção da saúde mental dos acadêmicosAmanda Lima de Oliveira2019Artigo CientíficoUEMGEducação, Psicologia
6Afetividade nos processos de ensino e aprendizagem: Estudo de caso com professores de Ciências e MatemáticaCassiano Scott Puhl Marcelo Prado Amaral-Rosa Et al.  2021Artigo CientíficoNão mencionaEducação
7A relação da afetividade professor/aluno no processo de ensino-aprendizagem  Laura Helena Osório Veloso Renata Godinho Soares Et al.  2020Artigo CientíficoEscola pública de Uruguaiana/RS  Educação
8Gestão em EAD: A afetividade na visão de tutores e alunos  Claudio Marcio Campos de Mendonça Et al.  2018Artigo CientíficoSENAC/ RNEducação
9As mediações da afetividade em sala de aulaGabriele Castão Rengel2019Artigo CientíficoEscolas públicas de SINOP-MTEducação
Fonte: elaborada pelos autores.

Na maioria dos artigos analisados foi utilizada a abordagem qualitativa, de cunho exploratório, com a utilização de entrevistas semiestruturadas descritivas, oferecendo análises de conteúdos. Nestes artigos foram realizados levantamentos sobre a relação do afeto para a aprendizagem e para o ensino. Os entrevistados foram tanto estudantes, quanto professores, tendo sido explorados os pontos de vista das duas posições. Foram perguntadas questões relacionadas a ferramentas favorecedoras ou dificultadoras para a forma como se dá o processo de ensino-aprendizagem, explorando aspectos como motivação e influência da relação interpessoal entre professor e estudante. 

Os objetivos e as características metodológicas das pesquisas localizam-se na Tabela 3.

Tabela 3 – Objetivos e método dos trabalhos selecionados

TrabalhoObjetivosMétodo
1Comparar a influência de práticas autoritárias utilizadas por alguns professores em detrimento das práticas mais democráticas e humildes tomadas por outros. Pesquisa qualitativa. Entrevista com um professor em uma universidade pública, bem como uma enquete virtual com dois professores realizada na mesma universidade.  
2Investigação sobre como acontecem as relações de interatividade e afetividade no processo ensino-aprendizagem de todo o grupo institucional envolvido neste processo.  Pesquisa qualitativa. Observação on-line, conhecer como as IES organizam o AVA (portal online da instituição) para favorecer a interatividade dos alunos e a promoção da afetividade.  
3Compreender como a afetividade pode influenciar a relação de um universitário com os estudos no ensino superiorPesquisa qualitativa. Realizada com um aluno. Análise de conteúdo dos registros escritos dos atendimentos de orientação à aprendizagem realizados com o aluno
4Verificar quais são as percepções sobre a afetividade que os professores de Terapia Ocupacional têm nas suas práticas docentes.Pesquisa qualitativa. Realizada com seis docentes. Entrevistas semiestruturadas e individuais.  
5Compreender se, na relação professor-aluno, o modo como os estudantes são afetados interfere na saúde mental destes.  Pesquisa qualitativa. Gravação de entrevistas semiestruturadas. Realizada com três acadêmicos do Curso de Pedagogia.   
6Compreender as perspectivas de professores de Ciências e Matemática frente à potencialidade da afetividade nos processos de ensino e de aprendizagem.Pesquisa qualitativa.10 professores de Ciências e Matemática. questionário aberto.  
7Verificar a compreensão de professores e alunos sobre a afetividade e a relação desta com o processo de ensino-aprendizagem.Pesquisa qualitativa. Questionário adaptado. Seis professoras e 40 alunos.
8Descrever na percepção de tutores e alunos as relações de afetividade na educação a distância de um curso de Pós-Graduação Lato Sensu.  Pesquisa qualitativa. Entrevista semiestruturadas. Sete participantes (tutores e alunos).  
9Compreender as mediações de afetividade mobilizadas no processo de Ensino e 
aprendizagem dos alunos e o papel que essa afetividade tem nas 
relações pedagógicas existentes no trabalho docente.  
Pesquisa qualitativa. Entrevistas semiestruturadas com duas professoras.
Fonte: elaborada pelos autores.

No primeiro trabalho, o objetivo foi o de realizar uma comparação da influência das práticas autoritárias utilizadas por alguns professores, e das práticas mais democráticas utilizadas por outros. Com isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa, em forma de enquete virtual, em que os resultados obtidos apontaram maior absorção dos conteúdos e maior aprendizagem com os professores que atuavam com maior sutileza e humildade, sem autoridade. O que confirmou a importância da relação professor-aluno para o processo de ensino-aprendizagem, visto que os alunos se sentiam mais motivados e confortáveis ao se relacionarem com os professores menos rígidos.

No segundo artigo, o alvo principal foi o de investigar como é realizada a organização do portal do aluno, e como acontecem as relações de interatividade entre os profissionais e estudantes da instituição EAD dentro do ambiente virtual fornecido pela faculdade, relacionando como os aspectos afetivos poderiam ser trabalhados na educação à distância. Os resultados obtidos na pesquisa foram gratificantes, demonstrando que o ambiente virtual obtém as ferramentas necessárias para o suporte EAD para os componentes envolvidos, promovendo também a afetividade.

O terceiro texto visou compreender como a afetividade poderia influenciar na relação de um universitário com os estudos no curso superior. Foram realizadas análises dos conteúdos dos registros escritos realizados pelo aluno. Com isso, foram feitas as análises de conteúdos fundamentadas em Bardin. Como resultado, foi percebido que o aluno se encontrava distante dos seus estudos, justamente por não sentir afeto por aquilo que estudava. 

O quarto texto pesquisado buscou verificar quais as percepções que os professores de terapia ocupacional obtinham sobre a afetividade em um curso de ensino superior na área da saúde. Então, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com questões relacionadas à temática com seis professores. De acordo com as análises das entrevistas, o resultado foi de que os docentes estão cientes do seu papel no processo de ensino e que o respeito por estes papéis permite que seja mantida uma relação construtiva entre docente e discente, considerando a afetividade e interatividade como objetos importantes para o aprendizado para esta área.

Já no quinto artigo, foi almejado compreender se a relação professor-aluno pode contribuir para com a saúde mental dos discentes. Para isso, foram realizadas gravações de entrevistas semiestruturadas com três acadêmicos do curso de pedagogia da UEMG. Com as entrevistas foi inferido pelos acadêmicos que o suporte oferecido pelos professores é de grande valia para auxiliar o processo acadêmico. Também, os mesmos acadêmicos relatam que se sentem motivados ao receberem afeto e cuidado por parte da equipe acadêmica, o que consequentemente, acarreta na aproximação de uma saúde mental menos prejudicada.

Nos outros quatro artigos também foram elencados a influência da afetividade para o processo de ensino e aprendizagem, foi concebível compreender a relação intrínseca e significativa do elemento afetivo neste processo, já que nas mesmas pesquisas, e nas outras cinco, de fato, houve a comprovação da influência positiva de ferramentas afetivas como a interatividade, motivação, autorregulação emocional e outros elementos, para um processo de ensino-aprendizagem mais proveitoso e eficaz. Apontando assim que o elemento afetivo não deve ser negligenciado neste processo, mas almejado. 

Com os resultados apontados, foi possível estabelecer uma conexão ao que Piaget, Wallon e Vygotsky apresentaram em suas escritas ao comentarem que a afetividade concebe uma parte fundamental para a obtenção de informações dentro do processo de desenvolvimento e aprendizagem humana, confirmando e estabelecendo uma relação fidedigna ao apontado pelos entrevistados nos artigos. 

Partindo da mesma linha, os desenlaces das respostas dos entrevistados sugerem que os laços afetivos entre professor-aluno transmitem confiança, segurança, respeito, e principalmente aprendizagem, o que é visto também no estudo de Almeida17, quando este afirma que a interação entre pessoas, envolvendo o afeto, é essencial para que haja uma transmissão de conhecimento satisfatória. Partindo deste princípio, a aprendizagem efetiva tem seu potencial aumentado quando a promoção de afetividade é priorizada neste processo.

Quando se trata de afetividade no ensino superior, Becker e Marques18 afirmam que o sucesso acadêmico é essencial para que o estudante se sinta seguro. Ou seja, o baixo desempenho dentro do mundo acadêmico, aumenta a possibilidade de maior insatisfação por parte dos acadêmicos consigo mesmos, o que acarreta em complicações para um melhor desempenho destes na academia. Sendo assim, para o ensino superior, a afetividade ainda se faz primordial, tendo em vista que o mundo acadêmico acarreta em responsabilizações e pressões que se não forem bem elaboradas, podem dificultar este processo.

 Além disso, pode ser comentado sobre quais atitudes tomadas pelos professores auxiliam no processo de ensino-aprendizagem, como o que foi apresentado no primeiro artigo (Afetividade e ensino: Marca de dois professores inesquecíveis da área de matemática) em que apresentou como a forma que os professores ensinam, interfere na relação deles com os alunos, e consequentemente, no processo de aprendizagem. Atitudes como humildade, democratização e a sensibilidade, estas tomadas por alguns professores, foram constatadas como importantíssimas para que a aprendizagem acontecesse. Em contrapartida, foi exposto que, atitudes mais autoritárias e ríspidas tomadas por outros professores dificultam o ensino-aprendizagem.

Considerações Finais

O presente artigo teve como objetivo identificar e analisar estudos científicos que buscaram investigar o impacto da afetividade no contexto do ensino superior. Verificou-se como a relação entre professores e alunos influencia o processo de aprendizagem, bem como a empatia e comunicação assertiva têm impacto no desempenho acadêmico e motivação dos estudantes. 

Além disso, o presente trabalho demonstrou que o papel da afetividade para o processo de ensino-aprendizagem se faz fundamental. Haja vista, como pôde ser observado nas pesquisas, os benefícios envolvidos em relação aos elementos afetivos para tal relação. O processo de ensino-aprendizagem é, então, influenciado fortemente pelas relações da afetividade.

Como mencionado, a forma que os professores ensinam também acomete, de maneira significativa, o processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista que, se o ensino for ofertado de forma afetuosa e democrática, a probabilidade de o estudante alcançar a aprendizagem, aumenta. Sendo assim, neste processo, os professores podem utilizar tais elementos afetivos a favor do processo de ensino-aprendizagem. Já que com esta ferramenta, o desenvolvimento cognitivo, intelectual, emocional e social do estudante, estará sendo fomentado.

Outro ponto importante a ser comentado, é que os artigos encontrados, em sua maioria, relataram sobre a afetividade no ensino básico, sendo poucos os que de fato comentaram sobre o assunto no ensino superior. Isso se dá, principalmente, pela grande ausência de debates sobre a afetividade quando se é adulto e está inserido no meio acadêmico, onde tudo é mais tecnicista e diligente. 

Por outro lado, a questão da afetividade para a aprendizagem e o ensino vem ganhando espaço. Instituições e profissionais, na contemporaneidade, parecem considerar em maior grau tal questão como fator favorecedor tanto para a relação professor-aluno, quanto para o desempenho acadêmico, oferecendo assim mínimos dificultadores para o sistema da academia em geral. Portanto, a afetividade é um dos diversos fatores que potencializa o processo de ensino-aprendizagem, não apenas ao meio acadêmico, mas em várias áreas da vida, assim se mostra a sua importância.  


5SOLIGO, Ângela. Prefácio In: LEITE, Sérgio Antônio da Silva (org). Afetividade: as marcas do professor inesquecível. Campinas: Mercado das Letras, 2018. p. 9-17.

6BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 16.ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2023.

7ALMEIDA, Ana Rita Silva. Quem é Henri Wallon. In: ALMEIDA, Ana Rita da Silva (org.). Emoção na Sala de Aula. São Paulo: Papirus, 1999. p. 29. 

8TAILLE, Yves de La; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 24.ed. São Paulo: Summus Editorial, 1992. 

9BLANDO, Alessandra et. al. Afetividade na educação superior: um estudo de caso. Revista Brasileira de Educação, Porto Alegre, v. 28, e280039, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-24782023280039. Acesso em 19 nov. 2023.

10BLANDO, Alessandra et. al. Afetividade na educação superior: um estudo de caso. Revista Brasileira de Educação, Porto Alegre, v. 28, e280039, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-24782023280039. Acesso em 19 nov. 2023.

11BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 16.ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2023.

12BARROS, Flávia Regina. Impactos afetivos nas práticas pedagógicas no ensino superior: o olhar dos alunos. In: LEITE, Sérgio Antônio da Silva (org). Afetividade: as marcas do professor inesquecível. Campinas: Mercado das Letras, 2018. p. 175-209.

13BARROS, Flávia Regina. Impactos afetivos nas práticas pedagógicas no ensino superior: o olhar dos alunos. In: LEITE, Sérgio Antônio da Silva (org). Afetividade: as marcas do professor inesquecível. Campinas: Mercado das Letras, 2018. p. 175-209.

14LEITE, Sérgio Antônio da Silva. Afetividade nas práticas pedagógicas. Revista Temas em Psicologia, Campinas, v. 20, n. 2, p. 355 – 368, 2018. Disponível em: DOI:10.9788/TP2012.2-06. Acesso em: 29 nov. 2023. 

15LEITE, Sérgio Antônio da Silva. Afetividade nas práticas pedagógicas. Revista Temas em Psicologia, Campinas, v. 20, n. 2, p. 355 – 368, 2018. Disponível em: DOI:10.9788/TP2012.2-06. Acesso em: 29 nov. 2023. 

16ROTHER, Edna Terezinha. Revisão sistemática x Revisão narrativa. São Paulo: ACTA, 2007.

17ALMEIDA, Ana Rita Silva. Quem é Henri Wallon. In: ALMEIDA, Ana Rita da Silva (org.). Emoção na Sala de Aula. São Paulo: Papirus, 1999. p. 29. 

18BECKER, Fernando.; MARQUES, Tânia Beatriz Iwaszko. Aprendizagem humana: processo de construção. Pátio: Revista Pedagógica, Porto Alegre, v. 4, n. 15, p. 58- 61, 2001.

Referências das fontes citadas

ALMEIDA, Ana Rita Silva. Quem é Henri Wallon. In: ALMEIDA, Ana Rita da Silva (org.). Emoção na Sala de Aula. São Paulo: Papirus, 1999. p. 29. 

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BECKER, Fernando.; MARQUES, Tânia Beatriz Iwaszko. Aprendizagem humana: processo de construção. Pátio: Revista Pedagógica, Porto Alegre, v. 4, n. 15, p. 58- 61, 2001.

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VELOSO, Laura Helena Osório; SOARES, Renata Godinho; COPETTI, Jaqueline. A relação da afetividade professor/aluno no processo de ensino-aprendizagem. Revista Insignare Scientia, Rio Grande do Sul, v.3, n. 5, set/dez, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.36661/2595-4520.2020v3i5.11284.  Acesso em 20 nov. 2023. 


1Acadêmica de psicologia do Centro Universitário São Lucas Porto Velho.
ORCID: https://orcid.org/0009-0004-8520-2628  
E-mail:annearaujo230@gmail.com  
Lattes: https://lattes.cnpq.br/7257289128602678.

2Acadêmica de psicologia do Centro Universitário São Lucas Porto Velho.
ORCID: https://orcid.org/0009-0007-3111-9767
E-mail: barbaraolipinheiro@gmail.com 
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6170354631579627.

3Acadêmica de psicologia do Centro Universitário São Lucas Porto Velho.
ORCID: https://orcid.org/0009-0008-4010-7183
E-mail: rebecasales500@gmail.com
Lattes: https://lattes.cnpq.br/1352302577614749.

4Mestra em psicologia pela Universidade Federal de Rondônia e docente de psicologia no Centro Universitário São Lucas Porto Velho.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2093-7186
E-mail: gabrielle.bezerra@saolucas.edu.br.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3611725954296033.