NUCLEAR MEDICINE AND NURSING: CLINICAL PERSPECTIVES AND ADVANCES IN PATIENT CARE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202509171136
Dayane Matias Lopes
Cilianne Édila Leandro de Sousa
Maria Zuli Morais Farias de Souza
Marli Otília dos Santos
Marlene Menezes de Souza Teixeira
Micherllaynne Alves Ferreira Lins
RESUMO
A Medicina Nuclear (MN) é uma área em constante expansão, que utiliza substâncias radioativas não seladas para diagnóstico e tratamento de doenças, seguindo protocolos de radioproteção. O avanço tecnológico nesse campo tem contribuído para diagnósticos precoces e terapias mais eficazes. Nesse contexto, a enfermagem assume papel indispensável, assegurando segurança, qualidade do cuidado e adesão às normas de biossegurança. Este estudo teve como objetivo discutir a relevância da atuação da enfermagem na MN, com foco na formação contínua, na orientação de profissionais expostos à radiação ionizante e nos desafios enfrentados nesse cenário. Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, realizada entre 2015 e 2025, com abordagem qualitativa e descritiva. A busca foi conduzida nas bases Scielo, PubMed e Google Acadêmico, utilizando os descritores: Medicina nuclear, Enfermagem, Radiofármaco e Radioproteção. Foram inicialmente identificados 67 artigos, dos quais 23 atenderam aos critérios de inclusão (textos completos, em português, inglês ou espanhol, publicados entre 2015 e 2025). A análise dos estudos evidenciou que a atuação do enfermeiro em MN está associada à preparação técnica e científica, ao uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s) e à adoção de protocolos de segurança. Destacou-se, ainda, a importância da capacitação contínua, da humanização no cuidado e da integração multiprofissional. Contudo, desafios como a escassez de profissionais especializados, a sobrecarga de trabalho e o risco de adoecimento psíquico foram apontados como limitações à qualidade assistencial. Conclui-se que a enfermagem ocupa papel estratégico e indispensável na MN, havendo necessidade de mais pesquisas e políticas públicas voltadas à qualificação e valorização desses profissionais.
Palavras-chave: Enfermagem em Medicina Nuclear; Radiação Ionizante; Radioproteção; Cuidados de Enfermagem.
ABSTRACT
Nuclear Medicine (NM) is a constantly expanding field that uses unsealed radioactive substances for the diagnosis and treatment of diseases, following radiation protection protocols. Technological advances in this field have contributed to earlier diagnoses and more effective therapies. In this context, nursing plays an indispensable role, ensuring safety, quality of care, and adherence to biosafety standards. This study aimed to discuss the relevance of nursing in NM, focusing on continuing education, guidance for professionals exposed to ionizing radiation, and the challenges faced in this setting. This is a systematic literature review conducted between 2015 and 2025, with a qualitative and descriptive approach. The search was conducted in Scielo, PubMed, and Google Scholar databases, using the descriptors: nuclear medicine, nursing, radiopharmaceuticals, and radiation protection. Sixtyseven articles were initially identified, of which 23 met the inclusion criteria (full texts, in Portuguese, English, or Spanish, published between 2015 and 2025). The analysis of the studies showed that nursing practice in nuclear medicine is associated with technical and scientific preparation, the appropriate use of Personal Protective Equipment (PPE), and the adoption of safety protocols. The importance of ongoing training, humanized care, and multidisciplinary integration was also highlighted. However, challenges such as the shortage of specialized professionals, work overload, and the risk of mental illness were identified as limitations to the quality of care. It is concluded that nursing plays a strategic and indispensable role in nuclear medicine, and further research and public policies aimed at qualifying and valuing these professionals are needed.
Keywords: Nuclear Medicine Nursing; Ionizing Radiation; Radiation Protection; Nursing Care.
INTRODUÇÃO
A Medicina Nuclear (MN) é uma especialidade em constante expansão que utiliza substâncias radioativas (radiofármacos) na forma não selada, aplicadas tanto para fins diagnósticos quanto terapêuticos, configurando-se como um dos campos mais dinâmicos e inovadores da medicina moderna. O emprego da radiação ionizante, associado a protocolos de preparo, técnicas de posicionamento e métodos de aquisição de imagem, é fundamental para garantir resultados confiáveis e seguros. Nesse contexto, a Enfermagem desempenha papel essencial no cuidado integral, na humanização da assistência e na proteção do paciente durante todo o processo, integrando ciência, tecnologia e prática profissional para ampliar as perspectivas clínicas e promover avanços significativos na qualidade da assistência em saúde. (WILLEGAIGNON et al., 2023; BÉRGAMO et al., 2019).
No Brasil, a atuação do enfermeiro na MN está regulamentada pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). A Resolução nº 211/1998 estabelece normas para a prática, reforçada pela Resolução nº 347/2009, que torna obrigatória a presença desse profissional em unidades onde há procedimentos de enfermagem em MN. Além disso, o Código de Ética da Enfermagem (Resolução Cofen nº 564/2017) destaca a responsabilidade ética do enfermeiro em garantir segurança, dignidade e qualidade da assistência, princípios aplicáveis também ao ambiente da MN (VASCONCELOS et al., 2021; POZZO et al., 2023).
Apesar dos avanços tecnológicos, ainda existem barreiras estruturais e humanas que dificultam a consolidação da MN no país, incluindo altos custos com equipamentos, necessidade de investimentos externos, carência de profissionais capacitados e insuficiência de políticas públicas voltadas ao setor (PEREIRA, 2019; POZZO et al., 2023). Soma-se a isso o desafio do acolhimento e orientação de pacientes e familiares, que exigem do enfermeiro competências que vão além do domínio técnico-científico, envolvendo aspectos educativos, comunicacionais e de segurança radiológica (COSTA et al., 2020).
Diversos estudos apontam a falta de programas de treinamento contínuo, limitações no planejamento arquitetônico para unidades de MN, sistemas frágeis de encaminhamento de pacientes e falhas no descarte seguro de resíduos radioativos, fatores que impactam negativamente o acesso e a qualidade do atendimento no Brasil (PEREIRA, 2019; SANTOS & ALMEIDA, 2021).
Diante disso, a MN desempenha papel fundamental na detecção precoce de doenças graves, como o câncer, além de contribuir para o direcionamento terapêutico mais eficaz. Nesse contexto, a enfermagem é elemento indispensável, tanto pelo suporte técnico quanto pelo cuidado humanizado, assegurando a segurança de pacientes e profissionais. Assim, este estudo tem como objetivo investigar a importância da enfermagem na Medicina Nuclear, destacando a necessidade de formação continuada, práticas de radioproteção e fortalecimento de políticas públicas, garantindo não apenas a disponibilização de equipamentos, mas também o uso adequado de medidas de proteção que preservem a saúde e a qualidade do cuidado.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, de caráter qualitativo e descritivo, realizada no período compreendido entre os anos de 2015 e 2025. A pesquisa foi conduzida nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed e Google Acadêmico, selecionadas por sua relevância e abrangência na disponibilização de estudos científicos na área da saúde. Para a identificação dos artigos, foram utilizados os descritores “Medicina nuclear”, “Enfermagem”, “Radiofármaco” e “Radioproteção”, combinados por meio de operadores booleanos a fim de refinar a busca e contemplar publicações alinhadas ao objetivo do estudo. Inicialmente, foram identificados 67 artigos. Em seguida, procedeu-se à análise criteriosa dos títulos, resumos e textos completos, aplicando-se critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. Foram incluídos estudos disponíveis na íntegra, publicados em português, inglês ou espanhol, dentro do recorte temporal de 2015 a 2025, que abordassem direta ou indiretamente a atuação da enfermagem, a utilização de radiofármacos e as práticas de radioproteção no contexto da Medicina Nuclear. Excluíram-se produções duplicadas, editoriais, resumos de congressos, teses e dissertações que não apresentassem resultados empíricos ou análises relevantes ao tema.
Após a aplicação dos critérios, 23 artigos foram selecionados para compor a amostra final da revisão. Esses estudos foram organizados e avaliados de forma sistemática, considerando aspectos como objetivos, delineamento metodológico, principais resultados e implicações para a prática clínica e científica. O processo de análise seguiu uma abordagem qualitativa, priorizando a interpretação descritiva e crítica dos achados, a fim de identificar convergências, divergências e lacunas de conhecimento, além de destacar as contribuições para a prática da enfermagem e os avanços no campo da Medicina Nuclear.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Quadro 1 sintetiza os critérios de avaliação relacionados ao objetivo, título, autor e ano de publicação de cada artigo identificado nas plataformas mencionadas. Estas informações fornecem uma visão clara e concisa dos principais aspectos que caracterizam a produção acadêmica analisada, permitindo uma compreensão mais aprofundada do contexto desses estudos e de sua relevância no campo investigado.
A organização das informações nesse quadro facilita a comparação entre diferentes trabalhos, destacando os enfoques, abordagens e contribuições de cada autor ao longo dos anos. A análise criteriosa dessas publicações proporciona uma base sólida para as discussões subsequentes, permitindo identificar tendências, lacunas e oportunidades para futuras pesquisas.
Quadro 1 – Estudos incluídos na revisão sistemática (2015–2025)
Autor/Ano | Título do Estudo | Objetivo | Método | Principais Resultados | Relevância paraEnfermagem/Medicin a Nuclear |
SILVA et al., 2015 | Radioproteção em serviços de Medicina Nuclear | Analisar protocolos de proteção radiológica em clínicas de MN | Observacional | Identificou falhas em barreiras físicas e necessidade de treinamento | Destacou a importância da enfermagem na segurança |
GÓMEZ;MARTÍNEZ,2016 | Papel da Enfermagem no preparo de radiofármacos | Avaliar a participação da enfermagem na manipulação | Revisão narrativa | Enfermeiros atuam em protocolos de checagem | Reforça capacitação profissional |
OLIVEIRAet al., 2017 | Humanização no atendimento em Medicina Nuclear | Verificar percepções de pacientes submetidos a exames | Qualitativo | Pacientes relataram ansiedade e medo da radiação | Necessidade de acolhimento pela enfermagem |
WANG et al., 2018 | Avanços tecnológicos em PET-CT | Revisar novas aplicações clínicas | Revisão sistemática | Expansão em oncologia e cardiologia | Exige preparo técnico da enfermagem |
FERREIRAet al., 2019 | Enfermagem e segurança no uso de Iodo-131 | Avaliar protocolos de enfermagem em terapia de tireoide | Estudo de caso | Adesão parcial às normas da CNEN | Ressalta educação em saúde no pós-alta |
PEREIRA, 2019 | Atuação do profissional de enfermagem no campo de medicina nuclear | Enfatizar a função do enfermeiro no campo da medicina nuclear | Revisão narrativa | Destacou o papel essencial da enfermagem no suporte clínico | Reforça a valorização do enfermeiro em MN |
ZANZI, 2019 | Conhecimento dos profissionais de saúde em relação à proteção radiológica | Analisar o nível de conhecimento sobre práticas de proteção radiológica | Estudo descritivo | Identificou lacunas de conhecimento entre profissionais | Reforça necessidade de capacitação em radioproteção |
ALVES, 2019 | Processos de trabalho da enfermagem no uso das tecnologias radiológicas | Avaliar processos de trabalho da enfermagem e percepção sobre radioproteção | Observacional | Enfermeiros desempenham papel direto em práticas de segurança | Destacou importância do preparo técnico |
MENEZES,2019 | Sistematização da assistência de enfermagem SAE no serviço de MN para tratamento radiofármaco | Organizar o cuidado de enfermagem em terapia com produto radioativo | Relato de experiência | Implementou SAE em serviço de MN, padronizando condutas | Evidenciou impacto da SAE na segurança do paciente |
CZERNIN,2019 | The future of nuclear medicine as an independent specialty | Apresentar panorama da MN tradicional e avanços em biomarcadores de imagem | Revisão narrativa | Mostrou crescimento da MN e novas perspectivas terapêuticas | Evidenciou tendências futuras e necessidade de preparo profissional |
SANTOS; CRUZ, 2020 | Radiofármacos emergentes em oncologia | Descrever radioisótopos recentes | Revisão integrativa | Novos emissores alfa ampliam eficácia | Exige atualização constante da equipe |
PORTELA,2020 | Exposição ocupacional no processo de trabalho em procedimentos com radiofármacos 68Ga | Determinar graus de exposição ocupacional em procedimentos de MN | Estudo observacional | Constatou riscos ocupacionais e necessidade de medidas preventivas | Reforçou segurança ocupacional da enfermagem e técnicos |
LIMA et al., 2021 | Capacitação da enfermagem em MN | Avaliar impacto de treinamentos | Quase experimental | Aumento do conhecimento e uso correto de EPIs | Demonstra importância da educação permanente |
QUEIROZ,2021 | A importância da inserção do componente curricular “Noções de Radiologia” no currículo de técnico em enfermagem | Discutir inserção da radiologia no currículo técnico | Revisão narrativa | Destacou lacunas curriculares e necessidade de abordagem específica | Relevante para formação acadêmica e segurança do cuidado |
TAVARES,2021 | Assistência de enfermagem ao paciente submetido ao tratamento com radioterapia | Analisar cuidados prestados ao paciente em radioterapia | Relato de caso | Enfatizou cuidados de enfermagem durante todo o processo terapêutico | Destacou importância da equipe de enfermagem no suporte ao paciente |
PÉREZ et al., 2022 | Experiência do paciente em Medicina Nuclear | Explorar percepções dos usuários | Qualitativo | Relatos de medo e desinformação | Evidencia necessidade de comunicação clara |
ALMEIDA etal., 2023 | Interação multiprofissional em MN | Identificar integração da equipe | Transversal | Trabalho colaborativo reduz falhas | Enfatiza papel de elo da enfermagem |
COSTA etal., 2024 | Protocolos de enfermagem em MN | Sistematizar protocolos assistenciais | Revisão integrativa | Poucos protocolos padronizados no Brasil | Necessidade de diretrizes nacionais |
YAMAMOTO et al., 2024 | Inovação em radiofármacos cardiológicos | Avaliar novos agentes de imagem | Experimental | Melhor acurácia diagnóstica em cardiologia | Exige preparo técnico da enfermagem |
MOURA;LINS, 2024 | Humanização em terapias com radioisótopos | Analisar práticas de cuidado humanizado | Qualitativo | Pacientes valorizam empatia da equipe | Enfatiza protagonismo da enfermagem |
RIBEIRO etal., 2025 | Radioproteção ocupacional em enfermagem | Avaliar exposição ocupacional | Transversal | Falhas no uso de EPIs e barreiras | Necessidade de protocolos mais rígidos |
TORRES;GARCÍA,2025 | Enfermagem e acompanhamento em PET-CT | Analisar papel da enfermagem no suporte clínico | Estudo de caso | Redução de ansiedade e intercorrências | Valoriza atuação clínica e educativa |
MELO et al., 2025 | Educação permanente em Medicina Nuclear | Investigar eficácia de cursos de atualização | Quase experimental | Maior adesão às normas da CNEN após capacitação | Reforça necessidade de formação continuada |
Fonte: Elaborado pelo autor, com base em artigos selecionados, 2024.
A Medicina Nuclear (MN) se consolidou como uma especialidade capaz de realizar diagnósticos e terapias por meio da utilização de radiofármacos e radiações ionizantes, o que exige rigoroso controle de proteção radiológica e protocolos de segurança (PEREIRA, 2019; SILVA et al., 2015). Desde a descoberta da radioatividade por Becquerel em 1896 até a normatização atual, avanços significativos ocorreram na área, destacando a importância da atuação multiprofissional e, em especial, do papel da enfermagem.
Estudos como os de Pereira (2019), Zanzi (2019) e Queiroz (2021) enfatizam a necessidade de formação contínua e adequada dos profissionais de enfermagem, pois lacunas de conhecimento em radioproteção ainda persistem, conforme apontado também por Zanzi (2019) e Ribeiro et al. (2025), que identificaram falhas no uso de EPIs e barreiras de segurança. Essa carência reforça a relevância de políticas como a Educação Permanente em Saúde, implantada pelo SUS (Portaria nº 198/2004), que busca capacitar continuamente os profissionais da área.
No campo da assistência direta ao paciente, Menezes (2019) e Tavares (2021) destacam a importância da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), que contribui para padronizar condutas e garantir maior segurança durante tratamentos com radiofármacos. De forma complementar, estudos qualitativos (OLIVEIRA et al., 2017; PÉREZ et al., 2022; MOURA; LINS, 2024) apontam que pacientes frequentemente relatam medo e ansiedade diante da exposição à radiação, o que reforça a necessidade de humanização e acolhimento por parte da equipe de enfermagem.
A evolução tecnológica também influencia diretamente a prática da enfermagem. Wang et al. (2018) evidenciaram o impacto do PET-CT na oncologia e cardiologia, demandando maior preparo técnico dos profissionais. Da mesma forma, Czernin (2019) e Yamamoto et al. (2024) destacam os avanços em radiofármacos diagnósticos e terapêuticos, inserindo a enfermagem em um cenário que requer não apenas conhecimento técnico, mas também compreensão da teranóstica nuclear, que une diagnóstico e tratamento em uma mesma abordagem.
No que tange à segurança ocupacional, Portela (2020) demonstrou que a exposição ocupacional de profissionais em contato com radiofármacos como o 68Ga representa risco constante, sendo fundamental a adoção de medidas preventivas e protocolos mais rígidos, conforme reforçado por Ribeiro et al. (2025). Além disso, estudos como os de Costa et al. (2024) revelam a carência de protocolos assistenciais padronizados no Brasil, evidenciando um desafio estrutural que pode comprometer a segurança de pacientes e profissionais.
Outro ponto de relevância é a sobrecarga de trabalho e suas repercussões. Melo (2021) e Almeida et al. (2023) evidenciam que o excesso de atividades e a falta de integração multiprofissional impactam diretamente a saúde mental dos trabalhadores e a qualidade da assistência. Já Torres e García (2025) demonstraram que a atuação ativa da enfermagem em exames de PET-CT contribui para a redução da ansiedade dos pacientes e intercorrências durante os procedimentos, fortalecendo o papel clínico e educativo do enfermeiro.
Diante dessa análise, percebe-se que, embora a enfermagem seja essencial na medicina nuclear — desde o preparo técnico até o acolhimento humanizado —, há lacunas importantes na formação profissional, na padronização de protocolos e na valorização do trabalho desses profissionais. A literatura evidencia que, sem preparo adequado, o risco de exposição ocupacional aumenta e a qualidade da assistência prestada ao paciente pode ser comprometida. Portanto, a educação permanente, a humanização do cuidado e a padronização dos protocolos de enfermagem emergem como estratégias centrais para garantir segurança, eficácia terapêutica e qualidade assistencial.
CONCLUSÃO
A análise dos estudos evidenciou que a atuação da enfermagem na medicina nuclear enfrenta desafios significativos relacionados à formação profissional, à segurança ocupacional e à sobrecarga de trabalho. A ausência de conteúdos específicos sobre radiologia e radioproteção durante a graduação em enfermagem contribui para a manutenção do estigma e do desconhecimento sobre os riscos e as boas práticas no manejo da radiação ionizante.
Ficou evidente que os enfermeiros desempenham papel fundamental no preparo e administração de radiofármacos, no monitoramento dos pacientes e no suporte clínico e emocional ao longo dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. No entanto, tais responsabilidades exigem conhecimento técnico-científico atualizado e condições adequadas de trabalho, visto que a rotina na área é marcada por alta complexidade, risco de exposição e desgaste físico e emocional.
A implementação de protocolos rigorosos, o uso adequado de equipamentos de proteção individual, a fiscalização das normas de radioproteção e a capacitação continuada emergem como medidas indispensáveis para garantir a segurança tanto dos profissionais quanto dos pacientes. Além disso, torna-se necessário investir em tecnologia, infraestrutura e políticas institucionais que favoreçam um ambiente de trabalho mais seguro e eficiente. Por fim, destaca-se a necessidade de ampliar a produção científica voltada especificamente para a atuação da enfermagem em medicina nuclear, a fim de fortalecer a prática baseada em evidências, valorizar o papel desses profissionais e contribuir para a qualidade assistencial em um campo da saúde em constante expansão.
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