INTEGRANDO O LETRAMENTO CIENTÍFICO E DIGITAL NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS NA AMAZÔNIA

INTEGRATING SCIENTIFIC AND DIGITAL LITERACY INTO THE TEACHING AND LEARNING PROCESS OF SCIENCE IN THE AMAZON

INTEGRANDO LA ALFABETIZACIÓN CIENTÍFICA Y DIGITAL EN EL PROCESO DE ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE DE CIENCIAS EN LA AMAZONÍA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202508061504


Sandra de Oliveira Botelho1
Isis da Silva Sousa2
Francisca Martins dos Santos3
Francenilce Lopes da Silva4
Sandra Barbosa de Sousa5
Átila de Souza6


RESUMO

A Amazônia, com sua vasta biodiversidade e riqueza sociocultural, apresenta desafios únicos para o ensino de ciências, sobretudo no que diz respeito à superação de métodos tradicionais e à incorporação das tecnologias digitais. Este artigo tem como objetivo analisar como a integração do letramento científico e digital pode potencializar o ensino de ciências na região amazônica, contribuindo para a formação de estudantes críticos, autônomos e conscientes de seu papel na sociedade e na preservação do meio ambiente. A pesquisa, de caráter qualitativo e exploratório, foi baseada em revisão de literatura de publicações entre 2020 e 2025, considerando estudos sobre práticas pedagógicas inovadoras, uso de tecnologias na educação e políticas educacionais na Amazônia. Os resultados revelam que, embora existam barreiras significativas como a precariedade da infraestrutura tecnológica e a carência de formação continuada para os docentes, iniciativas bem-sucedidas demonstram que a utilização de ferramentas digitais aliada a uma abordagem contextualizada pode aumentar o engajamento e a compreensão dos alunos sobre temas científicos. Verificou-se que, quando apoiados por políticas públicas adequadas, professores conseguem integrar saberes científicos ao cotidiano amazônico, utilizando a biodiversidade, os problemas socioambientais locais e os recursos digitais como base para um ensino mais significativo. A criação de redes colaborativas e o uso de plataformas digitais para produção de conteúdo também foram apontados como estratégias eficazes. Conclui-se que a articulação entre letramento científico e digital no ensino de ciências na Amazônia representa não apenas uma inovação pedagógica, mas uma necessidade urgente. Ao promover uma educação que dialogue com o território e com os desafios contemporâneos, é possível formar sujeitos capazes de atuar de forma crítica, ética e sustentável em defesa de seu bioma.

Palavras-chave: Amazônia; Ensino de Ciências; Letramento científico e digital.

ABSTRACT

The Amazon, with its vast biodiversity and sociocultural richness, presents unique challenges for science education, especially regarding the need to overcome traditional methods and incorporate digital technologies. This article aims to analyze how the integration of scientific and digital literacy can enhance science teaching in the Amazon region, contributing to the formation of critical, autonomous students who are aware of their role in society and environmental preservation. This qualitative and exploratory research was based on a literature review of publications from 2020 to 2025, considering studies on innovative pedagogical practices, the use of technologies in education, and educational policies in the Amazon. The results reveal that, although there are significant barriers such as poor technological infrastructure and a lack of continuing teacher education, successful initiatives show that using digital tools combined with a contextualized approach can increase student engagement and understanding of scientific topics. It was found that, when supported by adequate public policies, teachers are able to integrate scientific knowledge into Amazonian daily life, using biodiversity, local socio-environmental issues, and digital resources as a foundation for more meaningful teaching. The creation of collaborative networks and the use of digital platforms for content production were also identified as effective strategies. It is concluded that the articulation between scientific and digital literacy in science teaching in the Amazon represents not only a pedagogical innovation but an urgent necessity. By promoting an education that engages with the territory and contemporary challenges, it is possible to form individuals capable of acting critically, ethically, and sustainably in defense of their biome.

Keywords: Amazon; Science Education; Scientific and Digital Literacy.

RESUMEN

La Amazonía, con su vasta biodiversidad y riqueza sociocultural, presenta desafíos únicos para la enseñanza de las ciencias, especialmente en lo que respecta a superar métodos tradicionales e incorporar tecnologías digitales. Este artículo tiene como objetivo analizar cómo la integración de la alfabetización científica y digital puede potenciar la enseñanza de las ciencias en la región amazónica, contribuyendo a la formación de estudiantes críticos, autónomos y conscientes de su papel en la sociedad y en la preservación del medio ambiente. La investigación, de carácter cualitativo y exploratorio, se basó en una revisión bibliográfica de publicaciones entre 2020 y 2025, considerando estudios sobre prácticas pedagógicas innovadoras, uso de tecnologías en la educación y políticas educativas en la Amazonía. Los resultados revelan que, aunque existen barreras significativas como la precariedad de la infraestructura tecnológica y la falta de formación continua para los docentes, las iniciativas exitosas demuestran que el uso de herramientas digitales junto con un enfoque contextualizado puede aumentar el compromiso y la comprensión de los alumnos sobre los temas científicos. Se comprobó que, cuando cuentan con el apoyo de políticas públicas adecuadas, los docentes pueden integrar los saberes científicos al cotidiano amazónico, utilizando la biodiversidad, los problemas socioambientales locales y los recursos digitales como base para una enseñanza más significativa. La creación de redes colaborativas y el uso de plataformas digitales para la producción de contenido también fueron señaladas como estrategias eficaces. Se concluye que la articulación entre la alfabetización científica y digital en la enseñanza de las ciencias en la Amazonía representa no solo una innovación pedagógica, sino una necesidad urgente. Al promover una educación que dialogue con el territorio y con los desafíos contemporáneos, es posible formar sujetos capaces de actuar de manera crítica, ética y sostenible en defensa de su bioma.

Palabras-clave: Amazonía; Enseñanza de las Ciencias; Alfabetización científica y digital.

1. INTRODUÇÃO

A Amazônia, com sua vasta biodiversidade, complexidade ecológica e diversidade sociocultural, é um território de relevância global, especialmente nos debates contemporâneos sobre sustentabilidade, conservação ambiental e desenvolvimento socioeconômico. Sua imensidão geográfica abriga comunidades tradicionais, indígenas, ribeirinhas e urbanas que convivem com desafios e oportunidades singulares (Silva et al., 2018).

O ensino de ciências, em particular, tem um papel estratégico na formação de sujeitos conscientes e comprometidos com a preservação de seu território. Entretanto, esse ensino ainda é, em muitos casos, baseado em metodologias tradicionais, desconectadas da realidade local e pouco atrativas para os estudantes (Matos; Matos, 2024).

A ausência de práticas que valorizem o contexto amazônico, somada à escassez de recursos e à carência de formação continuada para os docentes, contribui para a reprodução de um currículo pouco significativo. Isso compromete o desenvolvimento de competências científicas essenciais para a compreensão e enfrentamento dos problemas ambientais e sociais que afetam a região (Silva et al., 2018).

O letramento científico se apresenta como um instrumento fundamental para a formação de cidadãos críticos, capazes de interpretar fenômenos naturais, analisar dados, compreender processos ecológicos e tomar decisões informadas. Mais do que dominar conteúdos científicos, trata-se de promover uma compreensão ampla da ciência como prática humana, social e ética (Martins; Gonçalves, 2017).

A habilidade de acessar, selecionar, avaliar e produzir informações em ambientes digitais é hoje uma competência básica para a participação cidadã. No contexto amazônico, no entanto, esse letramento encontra entraves como a escassez de infraestrutura tecnológica, o acesso desigual à internet e a ausência de políticas públicas eficazes para a inclusão digital nas escolas (Barnabé, 2020).

A integração entre letramento científico e digital pode, portanto, representar uma alternativa pedagógica inovadora e estratégica para o ensino de ciências na Amazônia. Essa articulação permite o uso de recursos tecnológicos como ferramentas para investigar o meio ambiente, simular experimentos, produzir materiais audiovisuais, compartilhar dados em redes colaborativas e desenvolver projetos interdisciplinares com foco na realidade local (Leonel, 2024).

Além disso, a proposta de um ensino de ciências integrado ao letramento digital favorece o protagonismo juvenil e a construção de uma educação comprometida com a transformação social. Ao explorar fenômenos da própria região, os estudantes se veem como parte ativa da produção de conhecimento e da defesa do território (Barnabé, 2020).

É necessário compreender as condições reais das escolas amazônicas, identificar boas práticas já existentes e propor estratégias que respeitem as especificidades culturais, geográficas e sociais da região. Também demanda políticas públicas que valorizem a formação docente, incentivem o uso ético e criativo das tecnologias e assegurem investimentos estruturais para a inclusão digital.

Sendo assim, a pergunta de pesquisa desse estudo foi: “Como a integração do letramento científico e digital pode contribuir para o ensino de ciências contextualizado às realidades socioambientais da região amazônica?”.

Como objetivo geral deste estudo, considerou-se explorar a integração do letramento científico e digital como estratégia para o ensino de ciências na região amazônica. Os objetivos específicos foram: Investigar os principais desafios enfrentados pelas escolas da Amazônia para implementar práticas pedagógicas; analisar experiências e estratégias exitosas que utilizam recursos digitais para promover a compreensão de fenômenos científicos; e propor caminhos pedagógicos inovadores que fortaleçam o protagonismo estudantil, o pensamento crítico e a cidadania digital.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Letramento Científico no Ensino de Ciências

O conceito de letramento científico vai além da mera memorização de conceitos, envolvendo a capacidade de compreender o mundo natural e social por meio de uma perspectiva científica, bem como de participar de discussões públicas sobre temas relacionados à ciência e tecnologia (Bybee, 1997). Na Amazônia, o letramento científico ganha uma dimensão crucial ao permitir que os estudantes compreendam os complexos sistemas ecológicos, os impactos das atividades humanas e as possíveis soluções para os desafios ambientais da região.

Segundo Sasseron e Carvalho (2008), o letramento científico deve ser compreendido como uma competência essencial para a formação de cidadãos autônomos e críticos, capazes de utilizar o conhecimento científico para tomar decisões conscientes em seu cotidiano. Esse tipo de letramento não se restringe à escolarização formal, mas perpassa a vivência social e a capacidade de compreender, interpretar e aplicar a ciência em diferentes contextos. Na realidade amazônica, onde há um contato direto com questões ambientais urgentes, essa competência se torna ainda mais necessária.

O ensino de Ciências, nesse sentido, deve assumir uma postura mais dialógica e contextualizada, que valorize a experiência do aluno e relacione os conteúdos escolares com os problemas reais vivenciados em seu território. Para Freire (1996), a educação libertadora é aquela que parte da realidade concreta do educando, promovendo uma leitura crítica do mundo. Aplicado ao ensino de Ciências, isso significa abordar temas como desmatamento, uso da água, queimadas, biodiversidade e saúde pública de forma integrada e significativa.

De acordo com Chassot (2003), a ciência precisa deixar de ser apresentada como um conjunto de verdades absolutas e passar a ser compreendida como uma construção humana, sujeita a revisões e influências culturais, sociais e econômicas. Esse entendimento é essencial para desenvolver o letramento científico, pois permite aos estudantes reconhecerem o papel da ciência na sociedade e se posicionarem criticamente diante de informações e discursos científicos, sobretudo em tempos de desinformação e negacionismo.

O letramento científico também envolve a habilidade de interpretar gráficos, tabelas, textos científicos, notícias e dados estatísticos, bem como a capacidade de argumentar com base em evidências (Lorenzetti; Delizoicov, 2001). Tais habilidades são fundamentais para que os estudantes possam participar ativamente de debates públicos sobre temas como mudanças climáticas, vacinação, transgênicos, energia limpa, entre outros. No contexto amazônico, esses temas ganham contornos locais e exigem uma abordagem pedagógica que valorize a cultura e os saberes tradicionais.

Além disso, a promoção do letramento científico deve estar articulada ao desenvolvimento de competências socioemocionais e cognitivas, como curiosidade, criatividade, colaboração e responsabilidade (Brasil, 2018). Tais competências estão previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que orienta o ensino de Ciências a partir de práticas investigativas, resolução de problemas e projetos interdisciplinares. Essa abordagem favorece a formação integral dos estudantes e amplia as possibilidades de inserção social e profissional no século XXI.

Na prática escolar, no entanto, a construção do letramento científico ainda enfrenta obstáculos. Entre eles, destacam-se a carência de formação continuada dos professores, a escassez de materiais didáticos adequados à realidade local e o currículo muitas vezes engessado, que desconsidera as especificidades regionais (Santos; Mortimer, 2002). Tais limitações dificultam a construção de uma prática pedagógica significativa e crítica, comprometendo o desenvolvimento pleno dessa competência.

A articulação entre o saber científico e o saber popular pode enriquecer o processo educativo, promovendo um letramento científico intercultural, sensível às diferentes formas de compreender e interagir com a natureza. Como destacam Oliveira e Silva (2010), o diálogo entre esses saberes é fundamental para uma educação contextualizada e transformadora.

Em regiões como a Amazônia, onde as comunidades enfrentam desigualdades históricas e ameaças constantes ao seu território, o ensino de Ciências deve empoderar os estudantes a atuarem como defensores de seus direitos e do meio ambiente. Essa perspectiva exige uma educação crítica, engajada e voltada para a transformação da realidade.

2.2 Letramento digital no ensino e aprendizagem de Ciências

O letramento digital, como competência essencial no século XXI, assume papel central na formação dos estudantes para atuarem de forma crítica e consciente em um mundo cada vez mais interconectado. No ensino de Ciências, ele vai além do uso técnico de dispositivos eletrônicos, abrangendo também a capacidade de interpretar dados, avaliar a veracidade das informações e produzir conteúdos digitais que dialoguem com a realidade local. Na Amazônia, esse letramento é particularmente importante diante das dificuldades de acesso a tecnologias e da necessidade de democratizar a informação para promover inclusão social.

Segundo Kenski (2007), o uso das tecnologias digitais no ambiente educacional pode contribuir significativamente para a construção do conhecimento, desde que esteja associado a metodologias ativas e à mediação crítica do professor. No contexto amazônico, onde as escolas enfrentam limitações estruturais e distâncias geográficas, as ferramentas digitais podem ser recursos estratégicos para superar o isolamento e fomentar práticas pedagógicas colaborativas e contextualizadas.

A combinação entre letramento científico e digital potencializa a aprendizagem significativa, uma vez que possibilita que os estudantes utilizem a tecnologia não apenas como consumidores, mas como produtores de conhecimento. Isso se torna evidente em atividades como a criação de vídeos, podcasts, infográficos e blogs que abordam temas científicos relacionados ao território amazônico, promovendo o protagonismo juvenil e a valorização da cultura local.

Além disso, a internet proporciona acesso a uma imensa variedade de fontes de informação científica, incluindo revistas acadêmicas, plataformas de divulgação científica e bancos de dados. No entanto, como alerta Ribeiro (2016), é necessário desenvolver a capacidade de avaliar criticamente essas fontes, uma vez que o ambiente digital também abriga conteúdos duvidosos e fake news que podem comprometer a aprendizagem e a formação ética dos estudantes.

No ensino de Ciências, o letramento digital se concretiza por meio da utilização de softwares de simulação, ambientes virtuais de aprendizagem, vídeos educativos, laboratórios virtuais e aplicativos de coleta e análise de dados. Como afirmam Valente e Almeida (2009), essas tecnologias devem ser integradas de forma reflexiva, com foco na resolução de problemas e no desenvolvimento de competências cognitivas e investigativas.

A Amazônia, com sua diversidade ambiental e cultural, oferece oportunidades únicas para o uso pedagógico das tecnologias. Projetos de pesquisa escolar que utilizam geolocalização, fotografia digital, entrevistas em áudio e plataformas colaborativas para mapear a biodiversidade local ou investigar problemas ambientais das comunidades são exemplos de como o letramento digital pode estar a serviço do ensino contextualizado e da cidadania.

Entretanto, como observam Castells (2003) e Lévy (1993), o acesso desigual às tecnologias gera uma nova forma de exclusão social: a exclusão digital. Essa realidade é visível em muitas escolas da Amazônia, especialmente nas zonas rurais e ribeirinhas, onde a conectividade é instável e os equipamentos são escassos ou obsoletos. Isso evidencia a necessidade de políticas públicas que garantam infraestrutura adequada e formação continuada dos docentes para o uso pedagógico das tecnologias.

A formação de professores é, de fato, um ponto central na promoção do letramento digital. Como destacam Moran, Masetto e Behrens (2000), os docentes precisam desenvolver não apenas habilidades técnicas, mas também uma nova postura pedagógica que valorize a colaboração, a autonomia dos estudantes e a aprendizagem significativa. Isso implica repensar o currículo, os métodos de ensino e as formas de avaliação, colocando a tecnologia a serviço de uma educação crítica e transformadora.

O letramento digital também contribui para a construção da chamada inteligência coletiva, conceito apresentado por Pierre Lévy (1993), que defende o uso das redes digitais como ambientes de compartilhamento e construção coletiva do saber. Nas escolas da Amazônia, esse conceito pode ser materializado em projetos interdisciplinares que envolvam diferentes áreas do conhecimento e promovam o diálogo entre os saberes tradicionais e científicos, valorizando as vozes das comunidades e estimulando o pensamento crítico.

3. METODOLOGIA

Este estudo adotou uma abordagem qualitativa de natureza exploratória, com o propósito de compreender em profundidade os desafios, as estratégias e as oportunidades relacionados à integração do letramento científico e digital no ensino de Ciências na região amazônica. De acordo com Gil (2022), a pesquisa exploratória é especialmente útil quando se busca maior familiaridade com um problema ainda pouco investigado, permitindo torná-lo mais explícito e propor hipóteses ou interpretações relevantes. Dada a complexidade do contexto amazônico e a contemporaneidade do tema, essa abordagem se mostrou adequada para os objetivos propostos.

A técnica de coleta de dados utilizada foi a pesquisa bibliográfica, conforme proposta por Marconi e Lakatos (2021), a qual se baseia na análise de materiais já elaborados, como artigos científicos, teses, dissertações, livros e documentos institucionais. Essa estratégia permitiu o levantamento de diferentes realidades educacionais e práticas pedagógicas voltadas para o tema, considerando as especificidades do território amazônico.

As fontes de pesquisa foram selecionadas a partir das bases de dados SciELO, CAPES Periódicos, Web of Science e Google Scholar. A busca abrangeu o período de 2020 a 2025, com o intuito de garantir a atualidade e a relevância dos estudos considerados. Foram adotados como critérios de inclusão os textos que abordassem de forma direta o ensino de Ciências na Amazônia, o letramento científico, o letramento digital e o uso pedagógico de tecnologias digitais em contextos educacionais similares.

Foram utilizados descritores combinados: “letramento científico”, “letramento digital”, “ensino de Ciências na Amazônia”, “tecnologias educacionais” e “formação docente”. Essa estratégia permitiu ampliar o escopo da pesquisa e garantir a diversidade de abordagens sobre o tema, respeitando o rigor metodológico. Publicações que não apresentavam relação direta com o ensino de Ciências no contexto amazônico ou que careciam de fundamentação teórica sólida foram excluídas da análise.

Além da revisão bibliográfica, também foi realizada uma análise documental de materiais institucionais, como currículos escolares, diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), projetos pedagógicos e documentos educacionais de secretarias estaduais e municipais da Amazônia Legal. Essa etapa possibilitou compreender como as políticas públicas têm direcionado ou limitado a integração entre ciência e tecnologia nas práticas educativas da região.

A metodologia adotada buscou, assim, construir uma visão crítica e abrangente do fenômeno investigado, respeitando a complexidade do território amazônico e valorizando as práticas educativas que dialogam com a realidade local. Ao priorizar fontes diversas e atualizadas, o estudo procurou reunir evidências consistentes que subsidiassem a análise dos desafios e das potencialidades da integração dos letramentos no ensino de Ciências.

As obras analisadas foram devidamente referenciadas, respeitando os direitos autorais e a integridade intelectual de seus autores. A transparência na seleção e no tratamento das fontes foi assegurada, garantindo a fidedignidade e a validade dos dados apresentados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A infraestrutura tecnológica nas escolas da região amazônica continua sendo um obstáculo significativo. Estudos indicam que poucas unidades escolares aderiram ao Programa de Inovação Educação Conectada (PIEC), com apenas 4 % das escolas no Amazonas e 8 % na Região Norte efetivamente beneficiadas, refletindo a distância entre a proposta política e o contexto local (Melo Neto; Oliveira, 2022). Essa adesão mínima, aliada às baixas velocidades de internet, inviabiliza o uso simultâneo de recursos digitais por turmas, limitando o acesso a conteúdo multimídia em sala de aula

A indisponibilidade de serviço, custo elevado ou falta de familiaridade com o uso da internet constituem barreiras significativas, especialmente em domicílios localizados em áreas remotas (Kruger, 2021). Tal cenário perpetua desigualdades no acesso à informação e ao uso pedagógico das tecnologias nas escolas.

A fragilidade na formação de professores para integrar tecnologias digitais ao ensino de Ciências também se destaca como desafio. Análise recente enfatiza a urgência de fortalecer o letramento digital entre docentes por meio de formação inicial e continuada, e alerta que muitos docentes ainda carecem de preparo técnico e pedagógico adequado (Freitas et al., 2025).

Também foi identificada a limitada efetividade das políticas de inclusão digital. A implementação do PIEC, embora bem-intencionada, mostrou-se insuficiente do ponto de vista regional, sobretudo por exigir adesão eletrônica complexa e não considerar as especificidades territoriais, o que agravou a desigualdade educacional (Melo Neto; Oliveira, 2022).

No entanto, quando os recursos tecnológicos estão disponíveis, mesmo de forma parcial, observa-se um aumento no envolvimento dos estudantes por meio de atividades como simulações científicas, produção de vídeos e registro de observações locais em aplicativos. Essas iniciativas promovem maior motivação e participação (Freitas et al., 2025). Recursos digitais têm facilitado a contextualização do ensino de Ciências com a realidade amazônica, integrando temas como biodiversidade, ciclos hídricos e desmatamento. 

Propostas que dialogam com o conhecimento tradicional das comunidades oriundas da Amazônia têm se mostrado eficazes em promover um letramento científico intercultural. Ao incluir saberes indígenas ou ribeirinhos em projetos envolvendo tecnologia, é possível fortalecer a identidade cultural e assegurar participação socioambiental.

A integração dos letramentos científico e digital contribui à formação de sujeitos críticos, capazes de analisar dados, discernir fontes confiáveis e atuar responsavelmente no ambiente digital. Estudos destacam a importância da educação voltada para a cidadania digital consciente, equilibrando o uso da tecnologia e a moderação das práticas online (Coelho; Marely, 2024). 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A articulação entre letramento científico e digital no ensino de ciências na Amazônia constitui não apenas uma proposta pedagógica inovadora, mas uma exigência urgente diante das transformações sociais, ambientais e tecnológicas que marcam o século XXI. Os resultados da pesquisa evidenciaram que, apesar dos entraves estruturais e formativos ainda presentes, há um caminho promissor na consolidação de práticas educativas que integrem ciência e tecnologia de forma contextualizada e significativa.

A precariedade da infraestrutura tecnológica e a limitação no acesso à internet permanecem como obstáculos recorrentes, especialmente em áreas rurais e ribeirinhas. Paralelamente, a formação dos professores continua sendo um ponto nevrálgico, exigindo políticas públicas que promovam uma capacitação contínua, voltada não apenas ao domínio técnico das ferramentas digitais, mas à sua aplicação pedagógica crítica e contextualizada.

Nesse sentido, torna-se essencial a elaboração de políticas públicas específicas que priorizem investimentos em conectividade, equipamentos e formação docente voltada à realidade amazônica. 

6. REFERÊNCIAS

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1Mestra em Educação em Ciências na Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas (UEA). E-mail: botsandra123@gmail.com
2Especialista em Metodologia do Ensino de Biologia e Química, Centro Universitário Internacional -UNINTER, Curitiba-PR. E-mail: isissilva89@gmail.com
3Doutoranda em Ciências da Educação, Faculdad interamericana de Ciências Sociales (FICS). E-mail:martinsfrancisca64@gmail.com
4Mestranda em Ciências da Educação, Universidad de la Integración de Las Américas (UNIDA), Asunción, Paraguay. E-mail: francenilce.silva@prof.am.gov.br
5Doutora em Biotecnologia, Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus-AM.  E-mail: sanbsousa@gmail.com
6Doutorando em Ciências da Educação, Universidad de la Integración de Las Américas (UNIDA), Asunción, Paraguay.  E-mail: atilabio@hotmail.com