REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11322016
Adriano Rosa da Silva1
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo precípuo discutir o conceito de ideologia, à luz da construção teórica do Círculo de Bakhtin, tendo como recorte temporal o período da Primeira República. Foi utilizada como metodologia a pesquisa qualitativa descritiva acerca das publicações do Círculo no campo dos Estudos da Linguagem, por meio da investigação de dados documentais e bibliográficos, com enfoque analítico, sobretudo a partir de imagens nos jornais da época, levando-se em consideração o contexto sociocultural de sua produção e o de sua circulação, considerando a diversidade desses contextos. Para elucidar essas questões, buscou-se referencial teórico mediante material bibliográfico atinente a essa temática.
Palavras-chave: Ideologia. Círculo de Bakhtin. Imagens.
ABSTRACT
The main objective of this work is to discuss the concept of ideology, in light of the theoretical construction of the Bakhtin Circle, taking as a time frame the period of the First Republic. Descriptive qualitative research was used as a methodology regarding the Circle’s publications in the field of Language Studies, through the investigation of documentary and bibliographic data, with an analytical focus, especially from images in newspapers of the time, taking into account the sociocultural context of its production and circulation, considering the diversity of these contexts. To elucidate these questions, a theoretical reference was sought using bibliographic material related to this theme.
Keywords: Ideology. Bakhtin Circle. Images.
1. INTRODUÇÃO
Interessa observar que o objetivo deste trabalho, dentro dos seus limites, é esboçar uma breve reflexão acerca das possibilidades de análise das imagens2 publicadas no jornal ‘A Plebe’3, sobretudo com base no conceito de ideologia, mas também abarcando outros termos, como as ideias de dialética, linguagem, diálogo e dialogismo. Ideologia, conceito complexo e cheio de significados segundo Lowy (2008), é um termo fundamental no Círculo de Bakhtin, cuja base se assenta em diferentes matrizes teóricas destacando-se dentre elas o marxismo, de modo que o Círculo estava mais preocupado em analisar a materialidade das relações sociais classistas, do que em projetar uma sociedade sem classes. Assim, “ideologia é o nome que o Círculo costuma dar para o universo que engloba todas as manifestações superestruturais”4. Em vista disso, a partir das imagens desse periódico, busca-se investigar o processo de construção de uma cultura operária em meio às disputas políticas e ideológicas na dinâmica social no Brasil, no início do século XX, visto que o conceito de ideologia para o Círculo também é um termo que corresponde ao que é dialógico.
Cabe ressaltar que esta investigação abarca as imagens como fontes históricas, havendo uma interação entre quem produz a obra e quem a observa, sendo inseparável do seu contexto. Segundo Knauss (2006), as fontes visuais demonstram-se essenciais para analisar historicamente a sociedade de determinada época, ao abarcar uma diversidade de perspectivas concernentes à manifestação humana para além daquelas contempladas unicamente pela produção escrita. O embasamento teórico a respeito dos conceitos de imagem e ideologia, pode propiciar um conjunto de conhecimentos e de ferramentas que permitam uma análise mais alargada das imagens e de suas múltiplas características, explícitas e implícitas, endógenas e exógenas. “É, portanto, na ideologia e pela ideologia que uma classe pode exercer hegemonia sobre outras, isto é, pode assegurar a adesão e o consentimento das grandes massas”5. Nesta via, para Knauss (2006), trabalhar com imagens como fonte histórica não se resume a apenas lançar sobre elas um olhar contemplativo, mas também situá-las no tempo e no espaço, contextualizando essa ação, pois as imagens são ativas, vivas, influenciam e são influenciadas no meio social, ganhando vida pelo olhar do sujeito-observador, numa dimensão que não é unidirecional, mas repleta de mediações.
Nessa linha, o tema central deste estudo é proceder a uma investigação teórica centrada nas produções visuais do jornal ‘A Plebe’ que circulavam entre os trabalhadores e trabalhadoras, na Primeira República, onde se buscou fomentar uma construção identitária alinhada aos processos socioeconômicos e culturais dos quais eles participavam. Sobre isso, é interessante pontuar a reflexão de Mitchell (2015) sobre a ideia de que o objeto produzido permite a inserção de quem o produziu no meio de circulação, ou seja, inscreve o sujeito no circuito de interações e trocas culturais. Tomando, assim, como objeto o sujeito político coletivo, com o fito de abordar as falas e as lutas da classe trabalhadora, por meio das produções visuais, de modo que, na visão de Mitchell (2015), a imagem acaba sendo em certa medida um reflexo do sujeito que a produz. Assim, buscam-se analisar, fundamentalmente, os entrelaçamentos ideológicos entre a imagem e o contexto sociocultural de sua produção e o de sua circulação, considerando a diversidade desses contextos. Tendo como foco aqueles sujeitos que foram invisibilizados, mas que compõem plenamente o fazer histórico em seu determinado contexto. O que coaduna com a ideia de que as imagens são construídas circunstancialmente, resultando de práticas sociais.
Nessa direção, observou-se que a imagem em ‘A Plebe’ tinha um valor educativo, diretamente ligado à classe operária, com seus projetos políticos, formas de organização e mobilização, visando contribuir com a consciência política dos trabalhadores. Vale sublinhar que “as ideias, as ideologias, as concepções do mundo, são produto das circunstâncias sociais em que vivem os homens”6. Pensando a perspectiva de circulação de imagens posta em relevo por Mitchell (2015), o que tem relação também com a ideia de circulação de textos verbais e textos não verbais, de forma intertextual, como os cinco exemplos de imagens trazidos aqui, os quais guardam aderência com Organizações Operárias Internacionais. Assim, esse periódico acaba por possibilitar mais um meio de difusão de ideias, de debate teórico, de engajamento, bem como de agregação e organização, em que, para Larrain (2001), “a ideologia é mais do que um sistema de ideias, ela também está relacionada com a capacidade de inspirar atitudes concretas e proporcionar orientação para a ação”7.
Buscou-se relacionar as produções do Círculo com o pensamento marxista visando destacar o protagonismo desses homens e mulheres na história, indo além do ponto comum, para descobrir uma experiência mais diversificada sobre esses sujeitos. Concebendo as várias relações sociais e de vida desses trabalhadores do modo mais diverso possível, tendo por escopo desenvolver novas narrativas, a partir das concepções teóricas cunhadas pelo Círculo, ampliando o repertório conceitual de análise. Entendendo esse processo como uma história de constante transformação e readaptação intimamente ligado às transformações políticas e sociais no Brasil, bem como às relações econômico-sociais geradoras de desigualdades. O ponto positivo deste trabalho é a pertinência do estudo com a linha de pesquisa “Teorias do texto, do discurso e da tradução” deste Programa de Pós-Graduação, considerando a sua inatacável relação com os conceitos do Círculo, com base no estudo de aspectos da vida social e cultural num determinado contexto da sociedade brasileira, bem como nas diferentes formas, relações e práticas de linguagem verbal e outras linguagens, sempre na ótica do conceito de ideologia, que, segundo Faraco (2009), é uma criação social e histórica.
Diante disso, o eixo central que constitui o objeto deste estudo no âmbito dos Estudos de Linguagem refere-se às relações sociais na Primeira República, onde a classe trabalhadora é pensada sobre várias dimensões, ou seja, não só a partir do local de trabalho, mas também das diferentes formas de sociabilidade. O recorte espaço-temporal do estudo tem início no ano de 1917, na cidade de São Paulo, numa atmosfera de greves, paralisações e circulação de ideias, sobretudo, de cunho socialista, entre o operariado urbano, estendendo-se até uma publicação do ano de 1923. Nessa direção, o ponto de partida dessa investigação teórica tem como marco temporal o momento marcado pela agitação social global durante e após a Revolução Russa, com a ampliação do movimento operário no Brasil reivindicando melhores condições de vida e de trabalho. Em face disso, ganham centralidade no presente estudo, a consciência de classe pelo operariado brasileiro e a divulgação e fortalecimento das ideias socialistas, sobretudo por meio da imprensa operária, a qual se apresentou como uma ferramenta revolucionária, com vistas a denunciar o modelo capitalista de exploração, cimentado por relações hierarquizadas, de poder e de submissão.
Assim, este trabalho se baseia nas múltiplas relações sociais e dimensões da vida humana, pensando nessas imagens contidas no jornal sempre em contexto, isto é, sempre buscando entender como era o cotidiano do operariado fora da fábrica e sua relação com a sociedade e espaços sociais como um todo, pois, segundo Fiorin (2018), a singularidade de cada pessoa ocorre na “interação viva das vozes sociais”, onde cada ser humano é social e individual. Em consonância com Belting (2005), interessa a perspectiva dos sujeitos olhando as imagens, as quais vão aparecendo em corpos e suportes diferenciados, valorizando-se, assim, não apenas a dimensão do visual. Nesta via, busca-se identificar de que formas é possível compreender o conceito de ideologia e a importância dele dentro do contexto de uma cultura marcada pela formação gradativa de uma identidade de classe, enfatizando a intersubjetividade dessas imagens que circulam no jornal. Nesse horizonte de discussão sobre o conceito de ideologia, é pertinente a concepção de como as imagens visuais se movem para além das fronteiras, calcada na ideia de produção, distribuição, circulação e consumo dessas imagens. Ressaltando, assim, os fluxos, a publicização, o trânsito delas.
Importa considerar que este trabalho tem por base a revisão bibliográfica, conforme os textos indicados, com vistas a ampliar o foco de análise para entender as múltiplas relações dialógicas da imagem com o seu contexto, valendo-se das imagens produzidas e veiculadas na imprensa operária, no sentido de buscar ampliar os conhecimentos referentes ao tema, destacando-se a importância de se analisar os discursos produzidos. Pondo em relevo os discursos do proletariado urbano numa órbita de superexploração da força de trabalho. Terreno onde a análise das imagens na imprensa operária possa denunciar expressões das desigualdades, opressões e injustiças concernentes às fraturadas relações econômico-sociais. Remetendo-nos ao conceito de ideologia, como uma possibilidade de construção de subjetividades. Vale ressaltar que essa investigação acerca do cotidiano social da classe trabalhadora por meio das imagens, contribui para desconstruir a ideia de que os operários tinham apenas a utilidade funcional e laboral, de trabalhador nas fábricas. De modo que alguns pontos foram destacados, elegidas algumas referências mais apropriadas e levantados aspectos considerados relevantes acerca do conceito concernente à ideologia no Círculo de Bakhtin8, com base na relação das imagens em contexto.
É facilmente observável que a recepção brasileira dos trabalhos de Bakthin e de seu Círculo identificou-os fortemente com a palavra ideologia. Ou seja, a menção dos nomes de Bakhtin e de seus pares ativa, quase inevitavelmente, os arquivos ideologia, linguagem e ideologia, signo e ideologia9.
2. BREVE REFLEXÃO TEÓRICA SOBRE O CÍRCULO DE BAKHTIN E IDEOLOGIA
No sentido de proceder aos conceitos do Círculo, em especial, a ideologia, buscando aproximações com o marxismo10, a partir de imagens publicadas no jornal ‘A Plebe’, ao observarmos a importância que a produção de elementos ideológicos tem ao longo da história das sociedades, podemos entender que o movimento operário em São Paulo na Primeira República com suas associações e sindicatos, também foi um espaço de trânsito de determinadas imagens, como parte de uma estratégia política de atuação social, sendo o jornal um dos principais veículos de comunicação dessas imagens. Sobre isso, Belting (2005) defende a perspectiva de pensar a imagem como conceito, em suas múltiplas relações, procurando pensar o que a imagem quer de nós, sujeitos-observadores, ou seja, tendo em vista que as imagens, ainda que veiculadas a um discurso, não eram o próprio discurso, mas portavam ideias e ideologias. Para Marx, “aplicando o método dialético, todos os fenômenos econômicos ou sociais, todas as chamadas leis da economia e da sociedade, são produto da ação humana e, portanto, podem ser transformados por essa ação”11.
A mais importante causa da evolução do conceito de ideologia está nas lutas políticas. O marxismo centraliza sua atenção na necessidade de criar uma teoria da prática política e, portanto, sua evolução passa a relacionar-se cada vez mais com as lutas de classe e as organizações partidárias12.
Assim, a título de compreensão conceitual, conforme Mattos (2019), o termo “classes trabalhadoras” (“working classes”), no plural, era muito utilizado na Inglaterra no início do século XIX, ao designar o conjunto de trabalhadores pobres independente de sua categoria profissional. Apenas por volta dos anos de 1840 ampliou-se a expressão no singular “classe trabalhadora” (“working class”), reforçando um sentido de solidariedade dentro de determinado grupo social, opondo-se a outros. Assim, para o autor, o termo classe13 se somou a um repertório de parâmetros de identificações coletivas, como gênero e raça-etnia, para expressar uma desigualdade fundamental14. Nesse prisma, como as questões dos trabalhadores são centrais em todos os momentos da história, é fundamental o entendimento sobre como os trabalhadores reagem e resistem a esse sistema de dominação e controle social15, por meio de novas narrativas que não apaguem esses sujeitos como protagonistas da história. À vista disso, é importante considerarmos que a situação de repressão, trabalho exaustivo e espoliação, por que passa a classe operária constitui-se num ponto importante para analisarmos os movimentos sociais. Desse modo, busca-se reconhecer o caráter dialético materialista das propostas conceituais do Círculo para definir a ideologia.
Uma análise dialética das ideologias ou das visões de mundo mostra necessariamente que elas são contraditórias, que existe um enfrentamento permanente entre as ideologias e as utopias na sociedade, correspondendo, em última análise, aos enfrentamentos das várias classes sociais que a compõem16.
Sob esse ótica, Ciavatta (2019), destaca que a História deixa de ser “uma coleção de fatos mortos, consumados, como nos empiristas, ou o relato dos grandes feitos de reis, príncipes, imperadores, para ser o processo real da vida humana”17. Nesse particular, para Michel de Certeau apud Ferreras e Secreto (2013)18, configura-se como objeto de estudo o trabalhador em diferentes dimensões da sua vida social, isto é, como vizinho, morador, mãe, habitante de determinada cidade, onde o diálogo por eles estabelecido, com suas múltiplas possibilidades de realização, na perspectiva bakhtiniana, é entendido não como um meio, mas como um fim, “o diálogo não é o limiar da ação mas a própria ação”19. Para Bakhtin os enunciados cotidianos se materializam na interação sociocultural (FARACO, 2009, p. 31-32), enfatiza-se, portanto, as falas, os enunciados, o modus vivendi desses trabalhadores em seu cotidiano, fora das organizações de classe. Para Stafuzza (2019), não há enunciado que possa ser considerado fora das relações dialógicas e sociais. Isso considerando que a língua é neutra e passa a ganhar significado a partir do enunciado, de modo que quando se enuncia se lança a palavra para o mundo, dentro de um contexto que não é neutro, mas dialógico e ideológico.
A natureza da palavra é sempre dialógica: um discurso é sempre composto de uma amálgama de outros tantos discursos, já enunciados. Dessa forma, cada palavra que se usa está dotada de vínculos consigo mesma e com o(s) outro(s), pois se trata de um produto de interação entre interlocutores, sendo a interação discursiva totalmente determinada pelas relações sociais20.
Assim, ao analisarmos as imagens do jornal ‘A Plebe’, a partir da construção teórica a respeito do conceito de ideologia, à luz da produção do Círculo, podemos observar como as imagens se configuraram num importante fator para compreensão do processo de contestação e denúncia da realidade desigual e dicotômica, desenvolvendo-se histórica e culturalmente num contexto específico, no seio da comunidade de trabalhadores urbanos, visto que o sentido é único e cada um dá o sentido a partir de suas experiências e contexto. Sobre isso, “a fala dos homens comuns, no dia-a-dia, é a matriz da linguagem” 21, tendo a palavra como signo dialético e ideológico. Desse modo, para o Círculo, a palavra como língua, enunciado e linguagem é um fenômeno ideológico por natureza.
De um lado, a ideologia oficial como estrutura ou conteúdo relativamente estável; de outro, a ideologia do cotidiano, como acontecimento, relativamente instável; e ambas formando o contexto ideológico completo e único, em relação recíproca, sem perder de vista o processo global de produção e reprodução social22.
Figura 1:
Para Bakhtin (2009), o sentido só pode ser alcançado com base na compreensão do signo, o qual é ideológico por definição, abordado sob o aspecto de suas relações sociais, determinado pela organização da vida cotidiana, manifestado em uma dada situação social. Nessa direção, a referida imagem contida na primeira edição comemorativa do jornal ‘A Plebe’, por ocasião do Dia do Trabalhador, em 1º de maio de 1919, guarda aderência com a militância e a revolução, ligando o movimento operário, as imagens e a imprensa. Nessa linha, problematizam-se as críticas que o jornal ‘A Plebe’ fazia, no início do século XX, contra as condições de vida e de moradia dos operários e como eles se opunham e resistiam às precárias condições materiais impostas. O que representaria informações importantes para a prática da liberdade, para a emancipação, diferente do autoritarismo capitalista, em que um segmento social é forjado para dominar e outro para obedecer, considerando que “o esforço de conhecer enfrenta, inevitavelmente, pressões deformadoras provenientes de elementos constitutivos da cultura e da sociedade onde o sujeito vive”23.
Nessa ótica de busca pelo conhecimento, vale mencionar que “a transformação da sociedade se faria através da transformação da mentalidade ou da consciência do indivíduo, ou do sujeito da ação social”24. Esse pensamento crítico é importante porque Belting (2005) defende a importância da mediação e da inter-relação, o que significa de certa maneira trabalhar entre os meios, havendo a possibilidade de ressignificar as imagens com a nossa experiência. Ligando-se à ideia de que para compreender é necessário comparar experiências, dadas as múltiplas relações entre sujeitos numa mesma experiência social. Nessa direção, observa-se na figura 1 uma mulher representando uma trabalhadora ou a própria liberdade caminhando com passos firmes e os olhos mirando o futuro, em meio a um cenário de guerra, com soldados e canhões atirando. Há uma localização definida, ela sai da Rússia, deixando a guerra para trás. Destaca-se a ênfase dada ao tamanho da mulher em comparação ao tamanho dos outros elementos da figura, o que nos leva a pensar sobre a relação da imagem com o que existe para além daquilo que se dá a ver. À vista disso, Chartier (1991), em seus estudos, defende uma internalização simbólica das representações, pondo em relevo as disputas de poder entre diferentes atores sociais em seus variados grupos e contextos.
Figura 2:
É preciso, pois, olhar a imagem por vários ângulos e dimensões, buscando desvelar seus aspectos dialéticos, sobre isso, Cury (1986) aponta a importância da contradição para a investigação científica, uma vez que possibilita a busca da essência e sua manifestação no fenômeno enquanto realidade concreta. Sobre isso, consoante com Larrain (2001), citando Marx, “os verdadeiros problemas da humanidade não são as ideias errôneas, mas as contradições sociais reais e que aquelas são consequência destas”25. Nessa ótica, nessa imagem da figura 2 que é a representação da “Anarquia”, chamam a atenção, as ruínas sob os pés desta figura, constituindo-se num amontoado de escombros, onde podemos notar a presença de canhões, a título de exemplo, bem como de outros objetos destroçados e pouco identificáveis. Todo esse conjunto que configura a produção visual e imagética representa de certa forma a superação do autoritarismo e da opressão no que tange à “sociedade velha” capitalista. Nesse prisma, é possível tentar perceber na imagem as significações dos traços físicos do tempo e da passagem do tempo, remetendo à superação de um modelo societário.
Nessa linha de entendimento, a partir de Belting (2005), temos que as imagens não são só visuais, são intermediais, implicam uma relação física porque existem na medida em que se agregam a um estoque de memórias, individuais ou coletivas. Cabe ressaltar que, sendo a “Anarquia” uma imagem alegórica tão presente nas ilustrações do jornal ‘A Plebe’, essa ideia de anarquia veiculada por meio de elementos simbólicos provavelmente não é a mesma que tinha o observador antes de contemplá-la, destacando-se o potencial criador dessas ilustrações e charges. Nesta via, qualquer signo ideológico tem sempre duas abordagens que só podem ser percebidas na luta de classes, de modo que, o significado que se dava, ao que se via, era múltiplo e se relacionava com aquilo que cada indivíduo trazia das suas vivências, abrindo espaço para diferentes reflexões e possibilidades interpretativas. Sinalizando, assim, os usos e funções da imagem, da materialidade ao longo dos tempos, formando e conformando uma experiência social e cultural, o como se vai olhar para elas, em seus aspectos físico e visual. Com isso, o signo reflete a realidade, mas ele próprio é elemento da realidade, isto é, está na realidade, está na materialidade.
Nessa direção, a “Anarquia” é representada num corpo de uma mulher, com o dorso nu empunhando uma tocha que ilumina o caminho no qual a sociedade deverá passar, ou seja, indica o caminho da liberdade e dos tempos futuros, onde seu olhar se volta para o horizonte e seus pés arrastam correntes rompidas num salto por entre os escombros da “velha ordem”, não sendo figurada a “nova ordem”, suscitando uma reflexão sobre presenças e ausências de signos, onde o que falta só pode ser completado no olhar e no pensamento do espectador. Em face disso, Belting (2010) ao abordar a relação entre ideologia e imagem opera com certa dialética, de presença e ausência, reconhecimento e inscrição, memória e imaginação. Assim, tecer a análise sobre essa questão do signo ideológico e das oscilações de importância e sentido que as imagens adquirem ao longo do tempo e do trânsito entre elas é importante, como se observa nessa imagem que circulou na sociedade por meio do jornal ‘A Plebe’, em 1919. Analisando-se, a partir dessa representação do real, como ela reflete e refrata o mundo social, envolvido no valor que é ideológico.
A realidade dos fenômenos ideológicos é a realidade objetiva dos signos sociais. As leis dessa realidade são as leis da comunicação semiótica e são diretamente determinadas pelo conjunto das leis sociais e econômicas. A realidade ideológica é uma superestrutura situada imediatamente acima da base econômica. A consciência individual não é o arquiteto dessa superestrutura ideológica, mas apenas um inquilino do edifício social dos signos ideológicos26.
Figura 3:
Considerando a ideologia como elemento superestrutural da sociedade, na figura 3 intitulada “Gênese das Fortunas”, observam-se alguns elementos simbólicos ganhando centralidade, como o tamanho do burguês em comparação com o indivíduo que expele moedas à sua frente, representando o trabalhador que é explorado, sendo uma representação visual que visa contestar essa situação, fomentando uma reflexão coletiva e a troca de reflexões particulares, numa relação de enunciado concreto, em diálogo com a sociedade, por meio, por exemplo, da confrontação, fricção, concordância ou aderência. Haja vista que os leitores do jornal ‘A Plebe’ compartilhavam entre si alguns valores e significados comuns, ainda que não se configurasse numa homogeneidade, pois cada sujeito possuía o seu arcabouço de memórias e com base nele estabelecia suas próprias associações, tendo em vista, como aponta Fiorin (2018), que a linguagem é ação sobre o mundo, o enunciador se constitui a partir de outros, em relação com outros, que o antecedem e sucedem.
Nessa ótica, visando desenvolver uma reflexão acerca do contexto histórico dessa imagem da figura 3, relacionando-a ao cotidiano opressivo do operariado nas mãos de seus algozes, representados nessa imagem pelo burguês sentado e extraindo tudo o que pode do trabalhador. Nessa medida, a imagem ora problematizada expressa uma relação estreita com algumas demandas do capital, como acúmulo de bens, expropriação e exploração. A partir das análises das narrativas da classe trabalhadora, conforme Vandressen (2014) observam-se as relações de poder estabelecidas, os fatores políticos e sociais que tornam possíveis a produção dos discursos, as práticas discursivas, desses sujeitos. Em termos foucaultianos, essa é a formação discursiva27, ou seja, a relação entre as condições não-discursivas e o acontecimento do discurso emergente, seja ele científico ou não. Destaca-se que esse entendimento é importante, pois há uma tendência em compreender as imagens que são veiculadas em jornais operários como se encerrassem em si um discurso pronto.
Nesse sentido, a relação entre o observador e a imagem é bem mais complexa, pois ainda que o discurso estivesse embasado em sólidas bases ideológicas, esse discurso só se legitima contextualmente, nos diferentes locus que perfazem o trânsito dessas imagens. Concebendo esse contexto como lugar de disputa discursiva, onde há saberes silenciados, desqualificados, ou seja, saberes nomeados por Foucault de “saberes das pessoas”. Vale sublinhar que o horizonte de análise deste trabalho final de disciplina coaduna com o âmbito dos estudos sobre o Círculo na contemporaneidade, particularmente, o conceito de ideologia, o qual aponta os múltiplos aspectos das relações sociais, compreendendo a sua pluralidade e envolvendo os indivíduos em suas moradias, seu lazer, seus movimentos, relações e em seus engajamentos sociais. Interessa observar que a forte presença do trabalho escravo em nossa sociedade teve impactos importantes no momento de transição ao trabalho livre28, e, de certa maneira, influiu na consciência e ação políticas do movimento operário no Brasil.
É, portanto, sobre o antagonismo trabalho assalariado x capital que se erguerá o regime republicano fundado em 1889, regime este que tinha como seu projeto político mais urgente e importante a transformação do homem livre, fosse ele o imigrante pobre ou o ex-escravo, em trabalhador assalariado29.
Figura 4:
Conforme o pensamento de Mitchell (2015) se torna necessário pensar numa série de interrogações sobre a imagem, o que se pode suscitar ao verificarmos a simbologia dessa imagem da figura 4 intitulada “Derradeiras Machadadas”. Diante disso, segundo esse autor, a relação das imagens com os textos apresenta uma incontornável interseção entre imagem e ideologia. Para Arán (2006), tudo o que dizemos, pensamos, produzimos, lemos está em relação com outras manifestações da linguagem, seja do passado, do presente ou do futuro, sempre remete a outros enunciados. Nesse caso não há síntese, há tese e antítese constantemente. Consoante com o conceito de imagem de Belting (2010) importa considerar que essas palavras inseridas no tronco e nos galhos de uma árvore e que são abatidas pelo machado não respondem mais apenas pela sua denotação formal, mas agregam todas as possibilidades de significação vinculadas à composição visual. Nesse sentido, como a análise de texto, seja escrito, falado, visual ou audiovisual, constitui-se por diálogos, é interessante a construção teórica de Mitchell (2015), ao analisar imagens visuais usadas como símbolos, sem perder de vista que as relações dialógicas são de valores, de experiências, de acontecimentos, os quais por sua vez se situam sempre em um dado tempo e espaço.
Diante do exposto, podemos observar que as machadadas, por um indivíduo liberto de correntes que se destaca no centro da imagem com um machado contendo a expressão “Anarquismo”, configuram a contestação sobre aspectos sociopolíticos como “autoridade”, “hipocrisia”, “iniquidade moral”, “iniquidade econômica”, “ensino viciado”, dentre outros, que reforçavam a exploração no trabalho, bem como as relações sociais opressoras e desiguais. Assim, o “Anarquismo”, nessa imagem, aparece através de um machado que ceifa os valores da ordem capitalista imbricados na árvore. Nessa perspectiva, relacionando o campo de produção teórica do Círculo, incluindo o conceito de ideologia, e a imagem ora problematizada, observa-se um esforço por representar iconicamente a prevalência quanto à identidade da classe trabalhadora em sintonia com denúncias produzidas em práticas discursivas sobre a precariedade das suas condições materiais de existência. Nessa perspectiva, conforme Bakhtin (1981) comunicar-se pelo diálogo ganha centralidade, considerando-se o papel fundamental do “outro” na comunicação30.
Com isso, à luz do pensamento marxista, vale sublinhar que todo o conhecimento e interpretação da realidade social relacionam-se a uma perspectiva socialmente determinada. Assim, nas relações sociais trabalhistas há uma tendência a um processo de precarização do trabalho e só a luta dos trabalhadores em interação, por meio de diferentes vozes que se constituem em determinados momentos históricos permitiu que esse processo fosse mitigado devido a conquistas coletivas de direitos pelo operariado31. É importante salientar que, segundo Arán (2006), a realidade produz enunciados que podem vir a refletir ou mesmo a refratar, pois quando falamos alguma coisa retomamos a partir de algo já dito, querendo ou não querendo, de maneira que na hora de falar cada um dá um novo sentido. Nesta via, para Foucault (2019), os esforços da classe operária em disseminar seus valores e denunciar suas condições pauperizadas, já são em si o saber histórico e a memória da luta, a qual até então tinha sido subordinada. Isso se relaciona também à ideia de Belting (2015), de que, a partir da imagem, podemos entender, acessar, imaginar a sociedade onde estamos inseridos.
Figura 5:
Ao analisarmos a figura 5, tratando-se de uma representação icônica com a inscrição “1º de Maio”, podemos observar por essa alegoria e sua intersubjetividade como a abordagem teórica de Mitchell (2015) é muito enriquecedora, permitindo-nos aprofundar o olhar para outros aspectos, observando, a título de exemplo, o que a imagem deseja e o que falta na imagem. Isso, tendo em vista que as imagens podem abrigar dentro de si aspectos estéticos e políticos, em maior ou menor grau, explícitos ou que não se dão a ver. Busca-se analisar, assim, elementos que permitam compreender como aquelas imagens foram produzidas, tal como os aspectos estéticos e políticos da figura 5, representando a marca de uma construção social da classe operária pautada na luta pela valorização e reconhecimento do trabalhador. De modo que, à luz de Belting (2010) sobre a relação da palavra escrita, como a inscrição “1º de Maio”, com a imagem do busto de um homem de braços cruzados e com o olhar fitando o horizonte, representando o futuro, esse autor afirma que
é imagem em sentido literal de linguagem e em sentido transposto, uma vez que é sabido que a escrita é uma imagem da linguagem: o que vemos nunca são palavras, mas sinais de escritura. […] Vemos uma só palavra que, contudo, significa um número indefinido de palavras. […] Se revela a coisificação do que se vê ou do que se fala: das imagens vistas e das palavras faladas emergiram objetos32.
Em face ao exposto, Kosik (1985) pautando-se no método dialético afirma que o gênero discursivo é uma das formas pelas quais as ideias, pensamentos e valores do indivíduo se articulam com a ideologia da sociedade. Nessa direção, é importante a compreensão de que “os diálogos são estabelecidos entre vários discursos, uma vez que a palavra carrega relações de sentidos construídas histórica, social e culturalmente”33. Nesse ângulo, um fato que merece destaque é a vitória do movimento socialista em 1917 na Rússia, que teve como efeito o fortalecimento do movimento operário no Brasil e em diferentes países, configurando, como desdobramento, mudanças significativas nos processos de produção34. Uma dessas mudanças é que propiciou maior poder coletivo aos trabalhadores, que passaram a requisitar acordos coletivos de trabalho. Cabe ressaltar que a classe trabalhadora sempre esteve em luta, em busca de melhorias para a sua vida e de sua família. Segundo Ciavatta (2019), “o fato histórico fundamental é a existência humana ao prover todas as suas necessidades”35. Nessa ótica, a vida social operária demonstra ser complexa e não linear, modificando e sendo modificada ao longo do tempo36, enfatizando-se a importância do papel da comunicação discursiva e do diálogo responsivo, ativo, vivo37.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
À guisa de conclusão, urge salientar que o procedimento metodológico utilizado foi o da seleção e análise qualitativa de cinco imagens contidas no jornal ‘A Plebe’, compreendidas também elas como discursos, à luz das referências bibliográficas selecionadas, tendo como marco temporal a Primeira República. De modo que os resultados poderão ser usados para complementar e enriquecer linhas de interpretação e discussão e, assim, desenvolver uma teoria. Assim, analisou-se cinco imagens produzidas no contexto do movimento operário, as quais foram publicadas num veículo de comunicação anarquista em determinado período (1917-1923), de modo que as informações e dados contidos nessas fontes de investigação foram identificados, selecionados e organizados durante a pesquisa, com vistas a analisar quantitativa e qualitativamente a perspectiva analisada, possibilitando, assim, tanto o tratamento serial das fontes de pesquisa, periódicos da Primeira República, abrindo a possibilidade de quantificação para identificar regularidades38, quanto revelar as experiências vicárias que permitem generalizações naturalísticas39.
Em face ao exposto, como este trabalho abordou como fonte a imprensa operária, envolveu generalizações, análises, sínteses e interpretações das imagens veiculadas, sob a ótica de diferentes atores sociais. Nessa direção, os resultados alcançados no transcurso da pesquisa foram compreendidos enquanto discursos e pesquisados pelo método de “análise de texto”40, abarcando sujeitos coletivos e a sociedade como um todo, isto é, não apenas as “figuras individuais”. Por fim, neste estudo, procedeu-se à análise semântica da própria linguagem dos recursos discursivos imanentes às imagens do jornal investigado, levando em consideração o contexto social em que esses recursos foram produzidos41, tratando-se, o movimento operário, de um movimento organizatório de caráter internacional, assumindo características comuns e, ao mesmo tempo, singulares, em cada locus. Nesta perspectiva, considerando que diálogo e enunciado são interdependentes, conforme Marchezan (2010), o presente estudo buscou fornecer uma base para desenvolver explicações de como se deu a relação entre determinados sujeitos sociais e as imagens num jornal anarquista, de viés libertário e antiautoritário, na Primeira República, que representavam, em certa medida, alegorias, lidando com as questões econômicas, políticas e sociais relacionadas aos proletariados, no contexto específico ora abordado, onde se buscava a emancipação do trabalhador e a transformação da sociedade.
2 Basicamente ilustrações e charges, como os cinco exemplos abordados neste trabalho, colocadas para criar vínculo entre o público leitor, não como um discurso pronto, mas tendo a possibilidade de serem ‘reconstruídas’, sendo possível agregar a elas novos elementos. Em ‘A Plebe’, as ilustrações partem do texto para desenvolver novas possibilidades interpretativas sobre os eventos e as charges partem de uma criação sem necessariamente estabelecer uma relação direta com os textos.
3 Surgiu em São Paulo, em 1917, como um veículo de propaganda anarquista. Sendo possível perceber que se destacam as lutas e conquistas do movimento operário no Brasil e em diferentes países, fundamentando discursos em torno da resistência política. Apesar desse público ser heterogêneo, compartilha entre si valores e significados comuns.
4 FARACO, C. A. Linguagem & Diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. p. 47.
5 LARRAIN, J. Ideologia. In: BOTTOMORE, T. (dir.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 186.
6 LOWY, M. Ideologia. In: _________. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 2008. p. 19.
7 LARRAIN, J. Ideologia. In: BOTTOMORE, T. (dir.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 186.
8 Nos textos do Círculo, a palavra ideologia é usada, em geral, para designar o universo dos produtos do “espírito” humano, aquilo que algumas vezes é chamado por outros autores de cultura imaterial ou produção espiritual e, igualmente, de formas da consciência social. FARACO, C. A. Linguagem & Diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. p. 47.
9 FARACO, C. A. Ideologia no/do Círculo de Bakthin. In: PAULA, L.; STAFUZZA, G. (org.). Círculo de Bakhtin: teoria inclassificável. Campinas: Mercado de Letras, 2013, p. 168.
10 O método marxista pode ser resumido na seguinte fórmula: a dialética marxista é aquela teoria científica que explica o comportamento dos indivíduos por seus interesses materiais, sobretudo os econômicos. LOWY, M. Ideologia. In: _________. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 2008. p. 18.
11 LOWY, M.Op. cit. p. 15.
12 LARRAIN, J. Ideologia. In: BOTTOMORE, T. (dir.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 185.
13 Como categoria analítica, empregaram o termo classe social para se referir a diferentes conformações conflitantes das sociedades no tempo, nas quais os que trabalhavam diretamente e os que viviam, sobretudo, do excedente produzido pelos primeiros não se reconheciam como classes e não empregavam essa definição. MATTOS, Marcelo Badaró. A classe trabalhadora: de Marx ao nosso tempo. Rio de Janeiro: Editora Boitempo, 2019.
14 MATTOS, Marcelo Badaró. Op. Cit.
15 O controle social da classe trabalhadora compreende todas as esferas da vida, todas as situações possíveis do cotidiano, pois este controle se exerce desde a tentativa de disciplinarização rígida do tempo e do espaço na situação de trabalho até o problema da normatização das relações pessoais ou familiares dos trabalhadores. CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque. 3ª ed. São Paulo: Editora UNICAMP, 2012. p. 31.
16 LOWY, M. Ideologia. In: _________. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 2008. p. 17.
17 CIAVATTA, Maria (org.). A historiografia em trabalho-educação: como se escreve a história da educação profissional. 1ª ed. eletrônica. Uberlândia/ Minas Gerais: Navegando Publicações, 2019.
18 FERRERAS, Norberto O., SECRETO, María Verónica. Os Pobres e a Política: História e Movimentos Sociais na América Latina. Rio de Janeiro: MAUAD Editora LTDA, 2013.
19 BAKHTIN, M. Problemas da Poética de Dostoiévski. 1. ed. brasileira, trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense-Universitaria, 1981. p. 222.
20 STAFUZZA, Grenissa B. O Círculo de Bakhtin (Volóchinov e Medviédev) no Brasil: episteme, autoria e tradução em perspectiva dialógica. Heterotópica, v. 1, n. 1, jan-jun, 2019. p. 15.
21 KONDER, L. A questão da ideologia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 116.
22 MIOTELLO, V. Ideologia. In: BRAIT, B. (Org.) Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2012. p. 169.
23 KONDER, L. A questão da ideologia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 18.
24 LOWY, M. Ideologia. In: _________. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 2008. p. 23.
25 LARRAIN, J. Ideologia. In: BOTTOMORE, T. (dir.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 184.
26 BAKHTIN, M. M./VOLOCHÍNOV, V. N. (1929). Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 13 ed., São Paulo: Hucitec, 2009. p. 36.
27 Para Foucault, o discurso não é somente lugar de expressão de um saber, mas que através dele o poder se exerce. Há em todo discurso uma “vontade de verdade” que ao trazer em si a oposição entre o verdadeiro e o falso classifica algo como verdadeiro. Vontade, que para o autor, precisa ser questionada, possibilitando compreender as condições de formação de um discurso, percebendo por quais desejos e poderes o sujeito luta e quer se apoderar. VANDRESEN, Daniel Salésio. O discurso na arqueologia e genealogia de Michel Foucault. [2008?], p. 7.
28 Este primeiro movimento no sentido de transformar o agente social expropriado em trabalhador assalariado tem como alvo a “mente” e o “espírito” dos homens livres em questão. Desejava-se que os homens livres internalizassem a noção de que o trabalho era um bem, o valor supremo regulador do pacto social. CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque. 3ª ed. São Paulo: Editora UNICAMP, 2012. p. 30.
29 CHALHOUB, Sidney. Op. cit. p. 27.
30 O raciocínio de Bakhtin é coerente: ‘eu’ existe só na medida em que está correlacionado ao ‘tu’, que está antecipado no discurso interior e é co-participante do discurso exteriorizado, falado ou escrito, pois é ele que o determina em parte, ao mesmo tempo na forma e no conteúdo. DAHLET, V. A entonação no dialogismo bakhtiniano. In: BRAIT, B. (org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. 2. ed. rev. 2. reimp. Campinas: UNICAMP, 2008. p. 253.
31 As condições da vida operária parecem ter sido objeto de maior atenção na década de vinte, o operariado que se insurgia, aberta ou veladamente em São Paulo, também refletiu acerca de sua situação e condição. DECCA, Maria Auxiliadora G. de. A vida fora das fábricas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 87.
32 BELTING, Hans. Antropología de La Imagem, Traducido por GonzaloMaría Vélez Espinosa, Buenos Aires: Katz Editores, 2010. p 294-295.
33 STAFUZZA, Grenissa B. O Círculo de Bakhtin (Volóchinov e Medviédev) no Brasil: episteme, autoria e tradução em perspectiva dialógica. Heterotópica, v. 1, n. 1, jan-jun, 2019. p. 8.
34 Durante toda a primeira República é inquestionável que a classe trabalhadora lutou arduamente pela conquista da regulamentação do mercado de trabalho no Brasil. Todos os projetos políticos que postularam a maior presença e participação dos trabalhadores no cenário social e político do país passaram pela formulação de demandas que significavam a intervenção do Estado sobre o mercado de trabalho. GOMES, Ângela Maria de Castro. A invenção do Trabalhismo. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. p. 179.
35 CIAVATTA, Maria.A historiografia em trabalho-educação: como se escreve a história da educação profissional. 1ª ed. eletrônica. Uberlândia/ Minas Gerais: Navegando Publicações, 2019.p.13.
36 A maneira como o operário e/ou pobre foram vistos na sociedade capitalista foi responsável, de certa forma, pela maneira como foram tratados pelos tipos de legislação, modos de administração e formas de políticas públicas e privadas que tão concretamente afetaram sua vida e condição. DECCA, Maria Auxiliadora G. de. A vida fora das fábricas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 50.
37 O diálogo do Círculo de Bakhtin com Jakobson sobre a concepção de comunicação é fundamental para a elaboração da comunicação discursiva e da noção de sujeito dialógico: ao abordar as forças que recaem no processo de comunicação dinâmica entre sujeitos com suas forças centrípetas e centrífugas e o processo de reflexo e refração do diálogo, a perspectiva dialógica da linguagem do Círculo de Bakhtin apoia-se no diálogo com a física para se pensar o funcionamento da linguagem. Isso ilustra que o diálogo na concepção do Círculo é ativo, responsivo, vivo. STAFUZZA, Grenissa B. O Círculo de Bakhtin (Volóchinov e Medviédev) no Brasil: episteme, autoria e tradução em perspectiva dialógica. Heterotópica, v. 1, n. 1, jan-jun, 2019. p. 8.
38 BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especificidades e abordagens. 9ed. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 147-150.
39 MARTINS, Heloisa Helena T. de Souza. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 289-300, maio/ago. 2004.
40 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Historia e analise de texto. In: ____. Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de janeiro: Campus, 1997, p. 99-113.
41 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Op.cit., p. 377-383.
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Fontes
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A Plebe, São Paulo, 12/04/1919
A Plebe, São Paulo, 01/05/1919
A Plebe, Ano VI, São Paulo, 01/05/1923
1Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense. Licenciado em História e em Pedagogia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense.