HIGIENE ÍNTIMA SEM TABU, MITOS E VERDADES SOBRE OS CUIDADOS ÍNTIMOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

INTIMATE HYGIENE WITHOUT TABOOS, MYTHS AND TRUTHS ABOUT INTIMATE CARE: AN EXPERIENCE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202508151816


Livia Maria Ferreira Alencar1
Joice Cruz Barbosa2
Mikaelle de Melo Sousa3
Míria Thercia França Fernandes4
Joyce da Silva Costa5
Amanda Alves Pinheiro6
Aila Gomes Lima7
Antonio Thiago Beserra8
Jade Oliveira Brito Peixoto9
Isabelita Rodrigues de Alencar10


Resumo

INTRODUÇÃO: este relato descreve a aplicação de um projeto de intervenção em educação em saúde, com o tema “Higiene íntima: mitos e verdades sobre os cuidados íntimos”. A escolha dessa temática visa esclarecer mitos e práticas inadequadas relacionadas ao cuidado íntimo feminino, que frequentemente afetam a saúde e bem-estar das mulheres. O projeto foi fundamentado em orientações de órgãos como a FEBRASGO e a Política Nacional de Promoção da Saúde, destacando a importância da higiene íntima para a saúde integral da mulher. OBJETIVO: relatar uma atividade de educação em saúde sobre higiene íntima feminina, desmistificando práticas errôneas e incentivando o autocuidado de forma acolhedora e sem tabus, especialmente entre mulheres em situação de vulnerabilidade social. METODOLOGIA: a intervenção ocorreu em 17 de junho de 2025, na Unidade de Saúde da Família Enoque Sebastião de Figueredo, em Juazeiro do Norte (CE). A atividade consistiu em um jogo de perguntas e respostas sobre mitos e verdades relacionadas à higiene íntima, seguido de esclarecimentos e discussões, com a entrega de um kit educativo às participantes. RESULTADOS E DISCUSSÃO: a atividade foi bem recebida, com alta participação das seis mulheres envolvidas. A dinâmica revelou a persistência de crenças errôneas, como o uso de duchas vaginais internas, mas também proporcionou um espaço de aprendizado e troca de saberes, incluindo relatos sobre práticas culturais como o uso de sabonetes de aroeira. O ambiente acolhedor e participativo facilitou a mudança de perspectivas, promovendo a desconstrução de mitos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: o projeto mostrou-se eficaz na promoção da educação em saúde, destacando a importância de práticas educativas dialogadas e respeitosas. A experiência demonstrou que a atenção primária à saúde pode ser um espaço transformador, que, ao integrar saberes populares com conhecimentos científicos, contribui para o fortalecimento do autocuidado e da dignidade das mulheres. A ampliação da ação para outros espaços sociais é recomendada.

Palavras-chave: Higiene íntima. Educação em saúde. Promoção da saúde

1 INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO 

O presente relato de experiência tem como objetivo descrever a aplicação de um projeto de intervenção em educação em saúde com o tema “Higiene íntima: mitos e verdades sobre os cuidados íntimos”. A escolha da temática se justifica pela sua relevância na vida cotidiana e pela persistência de paradigmas e desinformações que cercam o cuidado com a região íntima feminina. Trata-se de um assunto frequentemente permeado por mitos que, muitas vezes, contribuem para a manutenção de práticas inadequadas e impactam negativamente a saúde integral da mulher. Ademais, o cuidado íntimo não se restringe a aspectos fisiológicos, estando fortemente relacionado a fatores sociais, culturais e econômicos, o que demanda abordagens interdisciplinares e contextualizadas (Brasil, 2017; Mattos, 2019). 

Segundo orientações da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, a higiene íntima adequada é fundamental para preservar a saúde da mulher, sendo necessário adotar práticas específicas ao longo das fases da vida. Cuidados como o uso de sabonetes apropriados, escolha de roupas íntimas adequadas, boa ventilação da região íntima, hidratação da pele vulvar e higiene correta após urinar e evacuar são medidas importantes para a manutenção do equilíbrio do microbioma vaginal e prevenção de infecções (Febrasgo, 2023; BP, 2022). Esses aspectos também estão alinhados com os princípios da Promoção da Saúde e da atenção integral, conforme preconizado na Política Nacional de Promoção da Saúde (Brasil, 2014). 

Durante a intervenção, foi aplicada uma estratégia lúdica baseada em um jogo de perguntas, no qual as participantes deveriam classificar afirmações como “mito” ou “verdade”. Na sequência, realizou-se o esclarecimento fundamentado de cada questão abordada, favorecendo um espaço de diálogo, escuta e construção coletiva do conhecimento, com base nas dúvidas, saberes prévios e experiências das participantes (Freire, 1987; Brasil, 2017). 

Essa experiência encontra respaldo nos princípios da educação em saúde, particularmente sob a ótica da educação popular em saúde, conforme proposto por Paulo Freire e institucionalizado na Política Nacional de Educação Popular em Saúde no Sistema Único de Saúde (PNEPS-SUS). Essa perspectiva defende uma prática educativa dialógica e emancipadora, que reconhece os sujeitos como protagonistas do processo de cuidado e valoriza seus saberes e contextos. Assim, a atividade transcendeu o caráter meramente informativo, configurando-se como um momento formativo participativo, alinhado à integralidade e à equidade preconizadas na atenção primária à saúde (Brasil, 2017; Freire, 1987).

2 OBJETIVOS 

2.1. OBJETIVO GERAL 

Relatar uma atividade de educação em saúde sobre higiene íntima feminina de forma acolhedora e livre de tabus, visando contribuir para o autocuidado, a prevenção de infecções e a valorização da saúde integral da mulher. 

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

• Identificar os conhecimentos prévios e os hábitos de higiene íntima adotados pelas participantes; 

• Desmistificar crenças equivocadas e esclarecer dúvidas frequentes sobre a higiene íntima feminina, utilizando uma atividade lúdica com mitos e verdades; 

• Orientar sobre práticas corretas de higiene íntima com base em evidências e recomendações de saúde, respeitando as particularidades e a autonomia de cada mulher; 

• Estimular o diálogo aberto sobre o corpo feminino, contribuindo para a quebra de tabus e o fortalecimento do autocuidado consciente.

2 REVISÃO DA LITERATURA

Segundo Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp, 2025), a parte externa da vagina, que compreende a vulva, é uma região que acumula suor, gordura, umidade, células mortos e urina, muito propensas ao mal cheiro e complicações como fungos e bactérias, que causam coceiras e corrimentos. Assim, a falta ou o excesso de higiene íntima podem ser prejudiciais à saúde da vagina, desequilibrando o grau de acidez (PH) que controla a ação de bactérias, e consequentemente, resultando em inúmeras doenças. 

Práticas inadequadas de higiene, como o uso indiscriminado de duchas vaginais ou produtos abrasivos, também estão associadas a alterações do pH vaginal e ao aumento da incidência de infecções do trato urinário (Menezes, 2020). Nesse sentido, o fortalecimento da educação em saúde íntima, por meio de projetos educativos, tem demonstrado impacto positivo na redução de sintomas ginecológicos e na mudança de hábitos entre mulheres e adolescentes (Ferreira et al., 2022). 

Ademais, a carência de informações adequadas sobre higiene íntima ainda afeta milhares de mulheres no Brasil, especialmente entre adolescentes e aquelas em situação de vulnerabilidade social. O tema é frequentemente cercado por tabus, desinformação e estigmas culturais, o que dificulta o acesso a práticas seguras de autocuidado e contribui para o surgimento de hábitos inadequados. A ausência de espaços de escuta e diálogo contribui para a persistência de crenças equivocadas e o silêncio diante de sintomas ginecológicos, comprometendo a saúde física e emocional dessas mulheres (PAHO, 2019). 

Além dos fatores individuais e culturais, a desinformação sobre saúde íntima também representa um desafio para o sistema público de saúde, pois favorece o aumento da demanda por atendimentos relacionados a infecções preveníveis e agravos ginecológicos. Segundo Santos et al. (2021), a ausência de ações educativas contínuas gera um ciclo de recorrência de doenças, aumentando os custos para o sistema e prejudicando a qualidade de vida das mulheres. Nesse cenário, os profissionais de saúde desempenham um papel fundamental como educadores, ao promoverem práticas de autocuidado com linguagem acessível, sensibilidade cultural e embasamento técnico, contribuindo para a construção de um cuidado integral e humanizado. 

A saúde íntima e reprodutiva da mulher depende de uma série de fatores, que vão desde os cuidados com a higiene até os aspectos emocionais. Seja por conta de relações sexuais desprotegidas, utilização de produtos de higiene que afetam a microbiota ou mesmo uma alimentação desregrada, a falta de cuidado e atenção com a saúde íntima pode abrir caminho para doenças e, até mesmo, comprometer a fertilidade (BRASIL, [s.d.]). Além da higiene, a preocupação com a saúde íntima feminina como um todo também interfere no bem-estar geral da mulher. As ações do tempo como o envelhecimento da vulva, a elasticidade da pele, a textura dos grandes lábios entre outros fatores mexe com a autoestima e a satisfação sexual (ANGIOLIFE CLÍNICA INTELIGENTE, 2020). 

Dessa forma, lavar a região genital com o uso de sabonete íntimo é o recomendado, mas só deve ser feito uma vez ao dia. Caso haja necessidade de mais banhos, o indicado é utilizar somente água corrente. Isso porque a vagina produz uma secreção natural que protege a área, e seu odor próprio deve ser mantido. Por conta da falta de informação, muitas mulheres fazem de tudo para manter a região ‘perfumada’ e evitar as secreções. Ou seja, nada de duchas internas, nem mesmo depois da relação sexual. O ideal é utilizar produtos de higiene que neutralizam os odores e preservam o pH da região íntima (BRASIL, [s.d.]).

3 METODOLOGIA 

A metodologia adotada para a realização do projeto de intervenção consistiu na aplicação de uma atividade educativa, com a finalidade de promover conhecimentos sobre higiene íntima feminina entre mulheres em situação de vulnerabilidade social. A intervenção foi realizada por quatro estudantes do primeiro semestre do curso de Medicina: Joice Cruz Barbosa, Lívia Maria Ferreira, Mikaelle de Melo Sousa e Míria Thércia França Fernandes. A atividade ocorreu no dia 17 de junho de 2025, na Unidade de Saúde da Família Enoque Sebastião de Figueredo (USF-Betolândia II), localizada no bairro Betolândia, no município de Juazeiro do Norte, estado do Ceará. O público-alvo foi composto por seis mulheres assistidas pela unidade, que participaram de uma dinâmica em formato de jogo intitulada “Mito e Verdade”. 

Para a realização do trabalho de campo, houve uma etapa prévia de preparação, na qual foram elaboradas perguntas relacionadas ao conteúdo programático, com foco nos cuidados íntimos e no sistema reprodutor feminino. O conteúdo programático contemplou temas essenciais para a saúde íntima da mulher, incluindo a correta higienização da região genital, práticas seguras para a prevenção de infecções urinárias e vaginais como candidíase e vaginose bacteriana, além da discussão de mitos comuns relacionados ao cuidado íntimo, como uso inadequado de produtos, frequência e forma correta de higienização, escolha de roupas íntimas e ventilação da região genital. Também foram abordados, de forma introdutória, o sistema reprodutor feminino e o ciclo menstrual, contextualizando sua importância para a saúde íntima. 

Durante a atividade, as participantes respondiam às afirmações classificando-as como mito ou verdade, enquanto as estudantes anotavam as respostas. Ao final do jogo, foi realizado um momento de esclarecimento e discussão das dúvidas levantadas, proporcionando um espaço de diálogo e aprendizado coletivo. 

Encerrando a intervenção, foi entregue a cada participante um kit contendo instruções básicas para a higiene íntima, sabonete líquido apropriado e absorventes, como forma de reforçar as orientações oferecidas e incentivar a prática do autocuidado. 

A articulação entre os cuidados íntimos e o conhecimento básico sobre o sistema reprodutor feminino reforça a integralidade da atenção à saúde da mulher, destacando a importância de práticas educativas que ultrapassam o aspecto físico e valorizam a dimensão emocional e social envolvidas no autocuidado.

4 RESULTADOS

A dinâmica aplicada foi estruturada no formato de um jogo interativo de “Mitos e Verdades”. As seis participantes — mulheres usuárias da UBS, entre elas uma adolescente, todas aparentemente em situação de vulnerabilidade socioeconômica — recebiam cartolinas coloridas com as palavras “Mito” (vermelha) e “Verdade” (verde), que eram levantadas conforme julgavam cada afirmação apresentada. 

A adesão à atividade foi surpreendentemente positiva: todas as participantes se mostraram interessadas, atentas e envolvidas, trazendo relatos pessoais e expressando curiosidade diante de temas que, muitas vezes, são silenciados ou cercados por preconceitos. A média de acertos revelou que algumas crenças equivocadas ainda são muito presentes, como a ideia de que lavar internamente a vagina é necessário ou que a depilação total evita infecções. Um dos momentos mais marcantes foi o relato de uma participante sobre o uso do sabonete de aroeira, prática repassada de geração em geração, que evidencia o valor dos saberes populares e a importância de abordagens educativas respeitosas e dialógicas. A troca entre conhecimento científico e saberes tradicionais enriqueceu o processo, evidenciando a potência de uma educação em saúde comprometida com a escuta e com a valorização das experiências das mulheres. 

No início da atividade, percebia-se um certo constrangimento entre algumas participantes. Houve sorrisos tímidos e olhares discretos. No entanto, à medida que a dinâmica avançava, o clima se transformou: as mulheres começaram a rir, compartilhar vivências, fazer perguntas espontâneas e até corrigir umas às outras com carinho. Esse momento de descontração e confiança foi especialmente gratificante, pois revelou que o espaço criado era seguro e acolhedor. 

Ao final da atividade, foi distribuído um mini kit contendo absorvente, sabonete íntimo e um folheto educativo, reforçando os pontos centrais discutidos. As participantes demonstraram gratidão e saíram visivelmente satisfeitas, relatando que aprenderam informações novas e que se sentiram acolhidas e respeitadas. 

Abaixo estão os dados consolidados das respostas fornecidas pelas participantes na dinâmica de ‘Mito ou Verdade’. A tabela apresenta o número de acertos e erros para cada pergunta aplicada: 

Nº da PerguntaTemaAcertosErros
1Tipo de sabonete42
2Frequência de higiene60
3Higiene na menstruação51
4Lavagem interna da vagina24
5Odor natural60
6Cosméticos na região íntima33
7Calcinha de algodão60
8Dormir sem calcinha60
9Higiene após evacuação33
10Troca do absorvente51
11Depilação total24
12Secagem da região íntima42

Fonte: dados da atividade

5 DISCUSSÃO

A experiência de realizar uma atividade educativa sobre higiene íntima permitiu vivenciar, na prática, o que muitas vezes é debatido apenas em sala de aula. No projeto, ao tratar um tema sensível com escuta e sensibilidade, ficou evidente que o conhecimento técnico só se torna significativo quando conectado à realidade das pessoas. Durante a dinâmica, foi perceptível a presença de muitas dúvidas e um certo constrangimento acerca do tema, fazendo se necessário estabelecer um ambiente acolhedor e seguro para as participantes, mostrando como o diálogo aberto é fundamental para que a transmissão do conhecimento ocorra de forma respeitosa, promovendo um aprendizado mais efetivo e humanizado. 

Um dos principais aprendizados foi compreender que, no contexto da educação em saúde, mais importante do que corrigir erros é oferecer um espaço seguro e acolhedor, onde as pessoas se sintam à vontade para falar, perguntar e refletir. O envolvimento das participantes — especialmente ao compartilharem experiências pessoais — mostrou que, quando há respeito e escuta, as mulheres se abrem não apenas para aprender, mas também para contribuir com seus próprios saberes. Assim, o momento se tornou valioso não apenas pelo conteúdo transmitido, mas pelas trocas significativas que ele possibilitou. 

A proposta de realizar um jogo interativo com as participantes foi essencial para estimular a participação, concluindo que estratégias bem pensadas podem transformar um tema sensível em uma experiência acolhedora e participativa. Ficou claro que ações educativas verdadeiramente eficazes são aquelas que consideram o contexto de vida das participantes, valorizam seus saberes e criam conexões reais. Essa experiência reforçou a importância de conduzir práticas educativas que respeitem as individualidades e gerem vínculos, pois é nesse cenário que o aprendizado se torna significativo e duradouro. 

A aplicação do projeto concretizou, na prática, conhecimentos anteriormente adquiridos na teoria, especialmente no que diz respeito ao papel central da atenção primária à saúde como campo de cuidado pautado no diálogo, na escuta qualificada e na humanização. Considerando que a atividade foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde — porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS) e principal espaço de atuação da Atenção Primária — foi possível vivenciar diretamente os princípios que norteiam essa esfera de cuidado, conforme estabelecido na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB, 2017). A experiência demonstrou, de forma concreta, como a Atenção Primária se estrutura a partir da aproximação com os sujeitos e do reconhecimento dos contextos socioculturais nos quais estão inseridos. Esse contato direto possibilita uma atuação mais resolutiva e sensível às reais necessidades da população, fortalecendo o vínculo entre os profissionais e a comunidade. 

Entre os pilares da Atenção Primária, destaca-se a educação em saúde como estratégia fundamental de promoção da saúde e prevenção de agravos, conforme previsto tanto na PNAB (2017) quanto na Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS, 2014). Essas diretrizes orientam que a transmissão de informações em saúde deve ocorrer de forma participativa, crítica e culturalmente adequada, respeitando os saberes populares e estimulando o protagonismo dos usuários no cuidado de si e do outro. 

Nesse sentido, a realização do projeto de forma acolhedora e dialógica evidenciou que promover educação em saúde não se resume à entrega de conteúdos, mas exige escuta, empatia e linguagem acessível. Essa vivência reforçou a importância de uma abordagem que reconheça e valorize a pessoa como sujeito ativo no processo educativo. Assim, o impacto positivo da ação não se limitou ao aprendizado técnico, mas se estendeu à compreensão de que o cuidado em saúde só se torna efetivo quando construído com as pessoas, e não apenas para elas.

6 CONCLUSÃO

A experiência vivenciada na UBS Betolândia II revelou-se uma prática transformadora, tanto para as mulheres participantes quanto para as estudantes envolvidas. A ação educativa demonstrou que, mesmo temas ainda permeados por tabus e constrangimentos — como a higiene íntima feminina — podem ser abordados com leveza, respeito e sensibilidade, desde que se crie um espaço seguro de escuta e troca. 

O uso de uma metodologia lúdica, aliada à linguagem acessível e à escuta ativa, facilitou o engajamento das participantes e possibilitou a desconstrução de mitos, promovendo o empoderamento feminino por meio da informação. O relato sobre o sabonete de aroeira demonstrou que os saberes populares não devem ser invalidados, mas sim compreendidos e discutidos com base em evidências científicas, valorizando a interseção entre cultura, ciência e cuidado. 

A metodologia adotada também dialoga com os princípios da educação popular em saúde, ao reconhecer as mulheres como sujeitos ativos na construção do conhecimento, e não como meras receptoras de informações. 

Além disso, a ação foi fundamentada nas orientações da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e do Ministério da Saúde, que reforçam a importância do cuidado íntimo adequado para a prevenção de vulvovaginites e outras condições ginecológicas comuns. Segundo a FEBRASGO (2023), práticas como o uso excessivo de duchas vaginais e a higiene interna com produtos agressivos devem ser evitadas, pois alteram o pH natural da região genital e favorecem infecções. 

A atividade contribuiu significativamente para o fortalecimento dos princípios da promoção da saúde na Atenção Primária, ao mesmo tempo que evidenciou o papel do estudante como agente multiplicador de conhecimento e transformação social, mesmo nos primeiros semestres da formação. Diante do impacto positivo da intervenção, considera-se viável a ampliação desta ação educativa para outros espaços sociais, como escolas, creches, CRAS e CREAS, de modo a democratizar o acesso à informação em saúde e promover o cuidado íntimo com mais autonomia, respeito e dignidade.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde: PNPS: Anexo I da Portaria de Consolidação nº 2, de 28 de setembro de 2017. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude.pdf. Acesso em: 28 jun. 2025.

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FEBRASGO – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. Recomendações para a higiene íntima feminina. São Paulo: FEBRASGO, 2023. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br. Acesso em: 28 jun. 2025.

FERREIRA, L. A. et al. Impacto de ações educativas sobre higiene íntima em adolescentes: um estudo de intervenção escolar. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 75, n. 1, p. e20210089, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br. Acesso em: 01 maio 2025.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

MATTOS, V. A. A influência de fatores culturais na higiene íntima feminina: revisão integrativa. Revista Saúde e Desenvolvimento Humano, v. 7, n. 2, p. 53–60, 2019. Disponível em: https://www.unilestemg.br/revista-saude-e-desenvolvimento-humano. Acesso em: 28 jun. 2025.

MENEZES, J. L.; BATISTA, F. M.; COSTA, R. S. Fatores associados à higiene íntima e infecções geniturinárias em mulheres adultas. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 54, p. 19, 2020.

PAHO – ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Saúde sexual e reprodutiva no contexto das desigualdades de gênero. Washington, D.C.: OPAS, 2019.

SANTOS, L. M. et al. Educação em saúde como estratégia para prevenção de doenças ginecológicas: revisão integrativa. Revista Ciência & Saúde, v. 14, n. 1, p. 25-32, 2021.

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1 Discente do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Unidade Madre Feitosa, Crato-CE, Brasil. E-mail: liviafralencar@gmail.com;
2 Discente do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Unidade Madre Feitosa, Crato-CE, Brasil. E-mail: joicecruzbarbosa321@gmail.com;
3 Discente do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Unidade Madre Feitosa, Crato-CE, Brasil. E-mail: mikaelle.melo@urca.br;
4 Discente do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Unidade Madre Feitosa, Crato-CE, Brasil. E-mail: miriathercya@gmail.com;
5 Discente do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Unidade Madre Feitosa, Crato-CE, Brasil. E-mail: joyce.costa@urca.br;
6 Discente do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Unidade Madre Feitosa, Crato-CE, Brasil. E-mail: amanda.pinheiro@urca.br;
7 Discente do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Unidade Madre Feitosa, Crato-CE, Brasil. E-mail: aila.lima@urca.br;
8 Discente do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Unidade Madre Feitosa, Crato-CE, Brasil. E-mail: antoniothiago.beserra@urca.br;
9 Orientadora. Farmacêutica. Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Crato-CE, Brasil. E-mail: jadeoliveirabp@gmail.com;
10 Co-orientadora. Docente do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus do Pimenta, Unidade Madre Feitosa, Crato-CE, Brasil. E-mail: isabelita.alencar@urca.br.