GESTÃO CLÍNICA: IMPORTÂNCIA DAS COMPETÊNCIAS COMPORTAMENTAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11153397


Sandrieli Letícia Zambrano Marcondes1
Rosa Maria Braga Lopes de Moura2


RESUMO

O presente estudo objetivou investigar a importância das competências comportamentais bem como  identificar as  mais relevantes com o propósito de contribuir para o desenvolvimento de estratégias metodológicas para gestão clínica de qualidade. Para tanto, foi realizada uma revisão de literatura nas bases de dados PubMed, Scielo, Bireme e Medline.

Palavras-chave: Competências, Comportamentais, Gestão, Liderança.

INTRODUÇÃO

As competências comportamentais referem-se aos fatores comportamentais que levam aos traços de personalidade de um profissional. Nesse sentido, a comunicação é uma competência comportamental.

As competências técnicas são aquelas que emergem do aprendizado formal ou casual. Dessa forma, as competências técnicas são fundamentais para o desempenho de uma atividade de competência específica denominada “hard skills”.  Em contrapartida, as “soft skills” são competências comportamentais que têm impacto direto nas relações interpessoais relacionadas às experiências emocionais e psicossociais. É relevante considerar que o gestor necessita de “soft skills” para se adaptar ao ambiente de trabalho, sejam elas de comunicação, persuasão, proatividade bem como a capacidade de resolução de situações urgentes.

Tendo em vista as considerações elencadas acima, reinventar-se na construção de uma sociedade mais justa e equânime, tem sido um dos desafios impostos em especial no campo da gestão clínica, ao que se somam as competências comportamentais  como um dos caminhos possíveis para esta transformação.

COMPETÊNCIAS COMPORTAMENTAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

O Conselho Nacional de Pesquisas (CNP) tem se preocupado em identificar as competências fundamentais no mundo contemporâneo e as agrupou em três conjuntos: a) Competências cognitivas: pensamento crítico e sistêmico, capacidade de analisar e interpretar, criatividade, resolução de problemas não rotineiros; b) Competências intrapessoais: autocontrole e autodesenvolvimento, iniciativa, abertura intelectual, flexibilidade comportamental; c) Competências interpessoais: habilidades sociais e de comunicação, trabalho em equipe, tolerância à diversidade, responsabilidade e capacidade de liderança (PELLEGRINO, 2012).

Competências são atributos necessários para executar uma atividade ou cargo, onde cargo é o conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências adquiridas, o qual o colaborador deverá ter para exercer esta atividade de cargo. (MAGALHÃES, 1997).

Segundo Arrègle (1995) as competências podem ser classificadas como humanas que são relacionadas ao indivíduo ou a sua equipe e organizacionais que são os processos e recursos originando a sustentação à competência organizacional.

Para Zarifian (1996), competência é assumir a responsabilidade diante de situações complexas ou de risco de uma atividade a ser realizada, permitindo que o colaborador possa sobressair de situações inéditas, surpreendentes e desafiadoras.

Conforme Sparrow (1994), competência representa atitudes e habilidades identificadas como fundamentais para o alcance de um bom desempenho e um determinado trabalho, seja durante a carreira profissional ou no contexto de uma estratégia corporativa.

Rabaglio (2001)  aponta que competência é quando se realiza uma tarefa com um bom desempenho, mas nem sempre trará o resultado esperado e quando o resultado for alcançado é que foram utilizados conhecimento, habilidades e atitudes para execução da tarefa. Assim, o autor define competência como a junção de conhecimento, habilidade e atitude.

Para Fleury (2001), competência é tomar ações com responsabilidade permitindo mobilizar, integrar, compartilhar conhecimento, recursos, e habilidades que agregam economicamente a organização.

Na percepção de Mcclelland, 1990), competência é a capacidade que uma pessoa possui em executar uma atividade tendo um desempenho superior ao esperado.

Adolphs (2009) afirma que somente na interação com outras pessoas podemos atingir nossos objetivos individuais: desde os mais elementares, como a alimentação e a reprodução até aqueles que são determinados pela cultura e pelo convívio no grupo social mais amplo. No contexto dessas habilidades, o controle cognitivo possibilitado pela atenção é também importante, sendo que agora o foco dirige-se para as pessoas que nos rodeiam. A linguagem não verbal é fundamental para a interação social adequada. Particularmente importante é a capacidade de identificação da expressão emocional das faces humanas, pois as emoções básicas são expressas de forma invariável pela nossa espécie. Indivíduos de todas as culturas manifestam da mesma forma as emoções como o medo ou o prazer. A capacidade de identificar as faces humanas já é manifesta nos bebês e continua a aperfeiçoar-se até o final da adolescência, fruto da interação social e do amadurecimento dos circuitos neuronais no cérebro, que a sustentam.

Há muitos receptores que são sensíveis ao cortisol, por isso várias redes neurais são afetadas, o que se revela em nossas possíveis oscilações de humor frequentes, sentimentos de medo ou incapacidade de concentração, de realizar várias tarefas ao mesmo tempo ou tomar decisões sem hesitação. partir do exposto, é fácil deduzir que a emoção rege nossa cognição, além de estar a serviço de uma comunicação universal que, sobretudo, é inconsciente (GOLEMAN, 2012; GOLEMAN, 2014; DAMÁSIO, 2000).

Os seres humanos são muito suscetíveis ao contexto social, às regras, aos padrões e aos valores de outras pessoas que afetam diretamente o jeito de pensar, sentir e agir. Indubitavelmente, o conhecimento sobre o comportamento humano favorece a cognição social, sendo que aprofunda os processos mentais pelos quais a pessoa compreende a si mesma, aos outros e às situações sociais (GAZZANIGA, 2007).

Segundo o Instituto Brasileiro de Treinamento (IBC), as competências mais valiosas são a capacidade de liderar, monitorar e apoiar equipes. Além disso, é importante que os gestores pensem estrategicamente para que os recursos e pessoas possam ser alocados de forma eficiente para atender às demandas. Para tanto, a automotivação é uma habilidade comportamental relacionada à produtividade e ao alcance de resultados. Assim, a capacidade de trabalhar em equipe possibilita a troca de conhecimentos e experiências para que a demanda seja solucionada de forma multidisciplinar. Outra habilidade é a criatividade. Essa expertise favorece a busca de alternativas para problemas e criação  de projetos propiciando oportunidades para o crescimento e desenvolvimento da clínica. Como resultado, a organização ganha uma vantagem competitiva significativa. Por outro lado, as falhas de comunicação podem causar grandes problemas para as empresas.

Damásio e colaboradores (2000) observaram que disfunções envolvendo o córtex orbitofrontal (COF), configuram uma resposta autonômica significativamente embotada para estímulos com significado social. A hiperatividade das regiões orbitofrontais bilaterais, do núcleo caudado e do giro do cíngulo. Além disto, em função das interações com o sistema límbico, em especial a amígdala, uma hiperatividade do COF poderia facilitar o processo de condicionamento de medo e ansiedade. Alguns estudos apontam que as alterações no córtex pré frontal ventromedial (CPFVM) causam prejuízo na capacidade de tomar decisões e de inibir comportamentos inadequados e impulsivos. O CPFVM e o COF mantém importante relação com a amígdala e ambos contribuem para a tomada de decisões promovendo uma avaliação do comportamento que será adotado. Estudos usando abordagens volumétricas encontraram reduções no sistema orbitofronto-estriatal, incluindo volumes menores no córtex orbitofrontal bilateral (OFC), córtex cingulado anterior bilateral (ACC), amígdala esquerda, tálamo bilateral e hipocampo esquerdo em comparação com controles saudáveis.

Através de exames de neuroimagem,  comprovou-se o envolvimento da estrutura anatômica fronto-estriatal durante tarefas cognitivas e de teor emocional, sendo essa região do córtex uma espécie de detector de conflito. Essas representações sociais são sobrepostas no córtex cingulado anterior por detectar prováveis riscos à sobrevivência, bem como recrutar a atenção e promover a aquisição de recursos para minimizar o perigo (EISENBERGER, 2004).

Nesse viés, as habilidades de negociação está intimamente relacionada com a capacidade de comunicar de forma eficaz, o que reduz o número de problemas e erros, afinal, manter boas relações interpessoais torna-se um assunto atual referenciada como uma das principais competências comportamentais. Neste sentido, as clínicas procuram cada vez mais especialistas que demonstrem que conseguem se comunicar de forma eficaz com os cidadãos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As competências comportamentais são importantes requisitos sob o viés cultural, produtividade e bom ambiente organizacional. Por esse motivo é tão importante atentar para esse assunto e levá-lo em consideração na gestão clínica. Assim,  o presente estudo estabeleceu algumas conexões que marcam o limiar entre as discussões que a pesquisa suscitou e a formulação de entrelaçamentos que darão origem a novas reflexões e pesquisas.

REFERÊNCIAS

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