SAFE BRAKING: CONCEPTUAL DEVELOPMENT OF AN AI-BASED ABS ASSISTANT FOR ACCIDENT REDUCTION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202511172302
Rafael Rogério Mariano Eduardo
Felipe Diniz Dallilo
Resumo
A segurança veicular tem se tornado uma prioridade diante do aumento de acidentes de trânsito. Entre as tecnologias que contribuem para a segurança ativa, destaca-se o Sistema Antibloqueio de Frenagem (ABS), responsável por evitar o travamento das rodas e manter a dirigibilidade durante freadas bruscas. Contudo, sua eficácia pode ser comprometida pelo uso incorreto e pela falta de compreensão de seu funcionamento.
Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo propor o desenvolvimento teórico de um assistente inteligente de frenagem, baseado em Inteligência Artificial (IA), capaz de atuar em conjunto com o sistema ABS para orientar o condutor e corrigir padrões de frenagem inadequados. A pesquisa se fundamenta em revisão bibliográfica e modelagem conceitual de um sistema composto por sensores, atuadores, uma unidade de controle eletrônico (ECU) e um microcontrolador NXP S32K39, escolhido por seu desempenho e conformidade com normas de segurança automotiva.
Os resultados teóricos apontam que a integração de IA ao ABS pode melhorar significativamente o tempo de resposta, reduzir a distância de frenagem e aumentar a estabilidade do veículo em situações críticas. Conclui-se que a proposta representa um avanço conceitual importante para o aprimoramento da segurança automotiva, sendo viável para estudos futuros com protótipos físicos e testes experimentais.
Palavras-chave: ABS; Inteligência Artificial; Segurança Veicular; Microcontrolador; Frenagem Inteligente.
Abstract
Vehicle safety has become a priority due to the increasing number of traffic accidents. Among the technologies that contribute to active safety, the Anti-lock Braking System (ABS) stands out for preventing wheel lock and maintaining vehicle control during sudden braking. However, its effectiveness can be affected by improper use and lack of understanding of its operation.
In this context, this study aims to theoretically develop an intelligent braking assistant based on Artificial Intelligence (AI), designed to work alongside the ABS system to guide drivers and correct inadequate braking patterns. The research is based on a bibliographic review and conceptual modeling of a system composed of sensors, actuators, an Electronic Control Unit (ECU), and the NXP S32K39 microcontroller, chosen for its performance and compliance with automotive safety standards.
Theoretical results suggest that integrating AI into ABS systems can significantly improve response time, reduce braking distance, and increase vehicle stability in critical situations. It is concluded that this proposal represents an important conceptual advance in vehicle safety, paving the way for future developments with physical prototypes and experimental testing.
Key-words: ABS; Artificial Intelligence; Vehicle Safety; Microcontroller; Smart Braking.
Introdução
A segurança dos veículos tem ganhado cada vez mais relevância no atual contexto automotivo. Dentre as inovações focadas em melhorar a segurança, o Sistema Antibloqueio de Frenagem (ABS) se sobressai, projetado para evitar o travamento das rodas em freadas violentas, oferecendo ao motorista maior controle e diminuindo o perigo de colisões.
Contudo, a efetividade do ABS pode ser prejudicada pelo uso inadequado ou pela falta de entendimento sobre seu funcionamento por parte dos condutores. Informações recentes apontam que a ausência de uma manutenção adequada nos veículos é a causa de 30% dos acidentes de trânsito nas vias do Brasil. Neste cenário, problemas no sistema de frenagem, incluindo o ABS, são elementos cruciais que favorecem o surgimento de colisões.
Ademais, de acordo com pesquisas divulgadas pelo G1, entre 29% e 47% dos acidentes de trânsito envolvendo motocicletas estão relacionados a força de frenagem inadequada ou quedas resultantes de freadas bruscas ou impróprias. Isso destaca a importância de tecnologias que ajudem os motoristas a usar o sistema de freios de forma eficiente, reduzindo riscos.
Com o progresso das tecnologias de Inteligência Artificial (IA) e de Aprendizado de Máquina (ML), surge a chance de criar sistemas de auxílio à frenagem que adicionem ao ABS convencional. Esses sistemas inteligentes têm a capacidade de avaliar, em tempo real, as condições de direção e orientar o condutor na utilização correta dos freios, o que pode diminuir a frequência de acidentes provocados pelo uso impróprio do ABS.
Este estudo visa criar e colocar em prática um assistente de frenagem baseado em Inteligência Artificial, que funcione em sinergia com o sistema ABS, com o intuito de diminuir acidentes causados pelo uso impróprio ou pela falta de entendimento do funcionamento do ABS pelos condutores. Procura-se desenvolver uma solução de fácil acesso que aprimore a segurança dos veículos através da orientação em tempo real em momentos de frenagem.
A seleção deste tópico é motivada pela urgência em melhorar os sistemas de segurança ativa dos veículos, especialmente levando em conta que uma parte considerável dos acidentes de trânsito está ligada a falhas no uso ou manutenção dos sistemas de frenagem. Conforme mencionado, 30% das ocorrências de acidentes nas vias do Brasil são atribuídas à ausência de manutenção adequada dos automóveis, incluindo problemas nos freios.
Ademais, a incorporação de tecnologias de ponta, como Inteligência Artificial e Machine Learning, em sistemas de assistência ao motorista, pode proporcionar um auxílio extra aos condutores, minimizando falhas humanas e potencializando a efetividade do ABS. É crucial criar soluções que facilitem o acesso a essas tecnologias a um público mais vasto para fomentar a segurança no trânsito de maneira abrangente.
A questão principal deste estudo é: como criar um assistente de frenagem baseado em Inteligência Artificial que, quando integrado ao sistema ABS, oriente os condutores na utilização adequada dos freios, diminuindo acidentes originados pelo uso impróprio ou desconhecimento do ABS?
A suposição é que a instalação de um assistente inteligente de frenagem pode oferecer feedback instantâneo aos motoristas, aprimorando a interação com o sistema ABS e, consequentemente, reduzindo o número de acidentes causados por falhas de frenagem.
Metodologia
A pesquisa será conduzida em duas etapas principais:
1. Revisão Bibliográfica: Análise de literatura existente sobre o funcionamento do ABS, causas de acidentes relacionados ao seu uso inadequado e aplicações de IA e ML em sistemas de assistência veicular.
2. Desenvolvimento e Teste do Protótipo: Criação de um protótipo de assistente de frenagem utilizando algoritmos de IA, integrado a um sistema ABS em ambiente simulado. Serão realizados testes para avaliar a eficácia do assistente em melhorar a resposta de frenagem dos motoristas em diversas condições de condução.
2. Revisão Bibliográfica
A evolução dos sistemas de frenagem automotiva tem sido um fator determinante para a segurança veicular. Desde a introdução dos freios convencionais até os modernos sistemas ABS (Anti-lock Braking System), a busca por maior eficiência e controle na frenagem tem impulsionado inovações tecnológicas. Esta seção abordará o funcionamento do ABS, suas vantagens e limitações, além do impacto do uso de inteligência artificial (IA) na melhoria da segurança veicular.
2.1 Funcionamento do Sistema ABS
O sistema ABS foi desenvolvido para evitar o travamento das rodas durante frenagens bruscas, permitindo que o motorista mantenha o controle do veículo em situações de emergência. Segundo WebMotors (2024), “o ABS funciona por meio de sensores que monitoram a velocidade das rodas e modulam a pressão de frenagem, evitando o bloqueio e proporcionando maior estabilidade ao veículo” (p. 5).
Dessa forma, o ABS reduz significativamente os riscos de derrapagem e perda de controle, especialmente em pisos molhados ou escorregadios. Estudos indicam que veículos equipados com ABS apresentam uma redução de até 31% nos acidentes fatais envolvendo frenagens bruscas (BOSCH, 2023).
2.1.1 Desafios e Limitações do ABS
Apesar dos benefícios, o ABS não elimina totalmente os riscos de acidentes. O mau uso ou a falta de compreensão sobre seu funcionamento podem comprometer sua eficácia. De acordo com a Bosch (2023), “muitos motoristas acreditam erroneamente que o ABS reduz a distância de frenagem, quando, na realidade, sua principal função é manter o controle direcional do veículo” (p. 22).
Além disso, estatísticas apontam que 25% dos condutores desconhecem como o ABS realmente funciona, o que pode levar a erros críticos em momentos de emergência (DIÁRIO DO PODER, 2024).
2.2 Inteligência Artificial na Assistência à Frenagem
Com os avanços da tecnologia, sistemas baseados em inteligência artificial têm sido desenvolvidos para aprimorar a frenagem dos veículos. A utilização de IA permite a análise de dados em tempo real, auxiliando na tomada de decisões mais seguras. Segundo IEEE (2023):
“Os sistemas de assistência à frenagem baseados em IA conseguem prever padrões de frenagem inadequados e corrigir automaticamente a pressão dos freios, reduzindo a probabilidade de acidentes.” (p. 34).
Esse tipo de inovação pode ser fundamental para aprimorar o ABS, criando um assistente de frenagem inteligente capaz de minimizar erros humanos e aumentar a segurança no trânsito.
2.3 Aplicação do ABS em Motocicletas
O uso do ABS em motocicletas tem demonstrado impactos significativos na redução de acidentes. De acordo com estudos da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA, 2023), motocicletas equipadas com ABS apresentam uma redução de 37% nos acidentes fatais em comparação com modelos sem esse sistema.
No Brasil, a adoção obrigatória do ABS em motocicletas acima de 300 cilindradas desde 2019 tem mostrado resultados positivos, reduzindo os índices de colisões e derrapagens fatais.
2.4 Considerações Finais da Revisão Bibliográfica
A revisão da literatura aponta que o ABS representa um avanço significativo para a segurança veicular, mas sua eficácia depende do correto entendimento por parte dos motoristas. A implementação de sistemas baseados em inteligência artificial surge como uma solução promissora para aprimorar a assistência à frenagem e reduzir falhas humanas.
Dessa forma, este estudo se propõe a desenvolver um assistente de ABS baseado em IA, capaz de oferecer suporte inteligente ao condutor e otimizar a eficiência do sistema de frenagem.
O desenvolvimento de um Assistente Inteligente de Frenagem, integrado ao sistema ABS e com funcionalidades semelhantes ao Brake Assist System (BAS) presente em diversos modelos da Volkswagen, apresenta-se como uma proposta altamente relevante sob o ponto de vista teórico.
Contudo, sua implementação prática revela-se complexa e onerosa, principalmente em virtude das exigências técnicas relacionadas aos equipamentos necessários, bem como à disponibilidade de uma equipe multidisciplinar especializada. A construção de um protótipo funcional dependeria de sensores veiculares sofisticados, módulos eletrônicos compatíveis com sistemas automotivos, além de um ambiente de testes seguro e controlado — recursos que ultrapassam significativamente as possibilidades logísticas e financeiras associadas a projetos acadêmicos de graduação.
Do ponto de vista conceitual, a proposta fundamenta-se na integração de um modelo inteligente, baseado em algoritmos de aprendizado de máquina, capaz de monitorar variáveis como a pressão aplicada ao pedal de freio, velocidade do veículo e condições da pista. A análise contínua desses dados permitiria a emissão de alertas ou ajustes automáticos na frenagem, aproximando-se das funcionalidades atualmente oferecidas por sistemas como o BAS da Volkswagen.
Entretanto, conforme apontado por especialistas da indústria automotiva, o desenvolvimento e a validação de tecnologias veiculares desse porte requerem investimentos elevados, principalmente para garantir confiabilidade, precisão e segurança. Além disso, a necessidade de acesso a veículos de teste, laboratórios especializados e bancos de dados extensos para o treinamento dos modelos de IA constitui uma barreira significativa para a execução plena deste projeto em âmbito acadêmico.
Assim, este trabalho se concentra na exploração teórica da viabilidade e do funcionamento do Assistente Inteligente de Frenagem, apresentando uma análise das tecnologias envolvidas, seus benefícios potenciais e as dificuldades inerentes ao seu desenvolvimento. A intenção é proporcionar uma base sólida de conhecimento, que possa futuramente subsidiar investigações mais aprofundadas, eventualmente viabilizadas em contextos com maior aporte de recursos financeiros e humanos.
Em suma, embora o conceito proposto demonstre grande potencial para a redução de acidentes de trânsito, sua materialização depende de condições que vão além do escopo deste estudo, especialmente no que diz respeito ao custo dos componentes, à infraestrutura de testes e à composição de uma equipe especializada em engenharia automotiva, inteligência artificial e segurança veicular.
3.1 Arquitetura e Componentes do Sistema de Assistência ao ABS
A arquitetura de um sistema de assistência ao ABS (Anti-lock Braking System) baseado em inteligência artificial é composta por uma combinação de componentes eletrônicos e de software que atuam de forma integrada para garantir maior eficiência e segurança durante o processo de frenagem. Esse ecossistema é formado por sensores, atuadores, microcontroladores (MCUs), unidade de controle eletrônico (ECU) e interfaces de comunicação, os quais trabalham em conjunto para captar dados, processá-los em tempo real e realizar ações corretivas ou de apoio ao condutor. Esta seção tem caráter teórico e busca descrever a arquitetura, componentes e funcionamento conceitual de um sistema de assistência ao ABS baseado em inteligência artificial, sem a implementação prática de um protótipo físico.
3.1.1 Sensores
Os sensores são os elementos responsáveis pela coleta de dados essenciais para o funcionamento do sistema. No caso do ABS e do assistente inteligente de frenagem, destacam-se quatro tipos principais:
● Sensores de velocidade das rodas: monitoram a rotação de cada roda e informam à ECU quando há risco de travamento, permitindo que o sistema ajuste a pressão de frenagem automaticamente.
● Sensor de pressão do sistema hidráulico: mede a força aplicada aos freios, auxiliando na determinação da pressão ideal necessária para evitar travamentos sem comprometer a eficiência da frenagem.
● Sensores inerciais (IMU): combinam acelerômetros e giroscópios para detectar variações bruscas de movimento, inclinação do veículo e distribuição de peso durante a frenagem.
● Sensores de aderência ou atrito: estimam as condições do piso (seco, molhado, escorregadio) e fornecem dados que permitem ao algoritmo de IA ajustar sua resposta.
Esses sensores produzem dados contínuos em alta frequência, que são enviados diretamente à unidade de controle para processamento.
3.1.2 Atuadores
Os atuadores representam o elo entre o processamento eletrônico e a resposta mecânica do veículo. No sistema de assistência ao ABS, eles executam as ações decididas pelo controlador, como o ajuste da pressão hidráulica nos freios. Os principais atuadores incluem:
● Válvulas moduladoras: regulam a pressão do fluido de freio para cada roda individualmente, evitando travamentos e mantendo a dirigibilidade.
● Bomba de retorno: mantém a pressão adequada no sistema após a liberação pelas válvulas moduladoras, garantindo uma resposta rápida e precisa.
● Servomotores e relés: utilizados em algumas aplicações avançadas para ajustes adicionais de frenagem em tempo real.
3.1.3 Unidade de Controle Eletrônico (ECU)
A ECU (Electronic Control Unit) é o cérebro do sistema. Ela recebe as informações dos sensores, executa algoritmos de controle e envia comandos aos atuadores. Em um sistema convencional de ABS, a ECU atua com base em parâmetros pré-programados; entretanto, quando associada a um assistente inteligente de frenagem, a ECU incorpora modelos de aprendizado de máquina capazes de analisar padrões de frenagem e otimizar as decisões em tempo real.
A comunicação entre a ECU e os freios ocorre geralmente por meio da rede CAN (Controller Area Network), um protocolo robusto e confiável amplamente utilizado na indústria automotiva. Essa rede permite que a ECU troque informações com outros módulos do veículo, como controle de estabilidade (ESC), controle de tração (TCS) e sistemas de assistência à condução (ADAS), garantindo uma resposta coordenada e integrada.
3.1.4 Microcontroladores (MCUs) e Processadores
Os microcontroladores são componentes fundamentais dentro da ECU e de outros módulos do sistema. Eles executam as instruções dos algoritmos e processam dados críticos em tempo real. Em sistemas automotivos, os MCUs precisam atender a requisitos rigorosos de desempenho, segurança e confiabilidade, operando em ambientes sujeitos a vibração, temperatura elevada e interferência eletromagnética.
Diversos fabricantes se destacam na produção de MCUs voltados para aplicações automotivas:
● NXP Semiconductors (Série S32K): conhecidos por sua compatibilidade com sistemas de comunicação automotiva, suporte ao padrão ISO 26262 (segurança funcional) e alto desempenho em aplicações de tempo real.
● Renesas Electronics (Série RH850): amplamente utilizados em ECUs de powertrain e sistemas de segurança, com suporte avançado a redes CAN-FD e alta eficiência energética.
● Infineon Technologies (Família AURIX): projetados para aplicações críticas como controle de motor, ADAS e sistemas de frenagem avançados, oferecendo múltiplos núcleos e alto poder de processamento.
● STMicroelectronics (Família SPC5 e STM32): versáteis e eficientes, são aplicados desde funções de controle de carroceria até módulos de assistência à direção e frenagem.
Esses microcontroladores desempenham papel essencial no sistema, processando grandes volumes de dados dos sensores, aplicando algoritmos de inteligência artificial e garantindo que as decisões sejam tomadas em milissegundos — tempo crítico para a eficácia do sistema de frenagem.
3.1.5 Arquitetura Geral do Sistema
A arquitetura de um sistema de assistência ao ABS pode ser dividida em quatro camadas principais:
1. Camada de Sensoriamento: coleta informações do ambiente e do veículo em tempo real.
2. Camada de Processamento: composta pelos MCUs e ECU, onde ocorre o tratamento dos dados e a aplicação dos algoritmos de decisão.
3. Camada de Atuação: executa as ações determinadas pela camada de processamento por meio dos atuadores hidráulicos e eletromecânicos.
4. Camada de Comunicação: integra o sistema ao restante da rede veicular, permitindo que informações de frenagem sejam compartilhadas com outros módulos.
3.2 Seleção do Microcontrolador e Justificativa
A escolha do microcontrolador (MCU) é uma etapa fundamental no desenvolvimento de sistemas automotivos, especialmente em aplicações críticas como assistentes de frenagem baseados em inteligência artificial. Esse componente atua como o núcleo de processamento responsável por interpretar os dados recebidos dos sensores, executar algoritmos de controle em tempo real e enviar comandos precisos aos atuadores do sistema. Assim, a seleção de um MCU adequado impacta diretamente na confiabilidade, segurança e eficiência do sistema proposto.
Para o desenvolvimento do assistente inteligente de frenagem deste estudo, o microcontrolador NXP S32K39 foi selecionado como a opção mais apropriada, considerando seu desempenho técnico, conformidade com padrões de segurança automotiva e compatibilidade com os requisitos de tempo real exigidos por sistemas de assistência à frenagem.
3.2.1 Características Técnicas do NXP S32K39
O S32K39 faz parte da família S32K da NXP Semiconductors, projetada especificamente para aplicações automotivas que demandam alta confiabilidade, baixo consumo de energia e suporte a protocolos de comunicação modernos. Entre suas principais características técnicas, destacam-se:
● Arquitetura ARM Cortex-M7 multicore: com até 320 MHz de frequência, oferece alta capacidade de processamento e execução paralela, essencial para algoritmos de inteligência artificial e controle em tempo real.
● Conformidade com a norma ISO 26262 – ASIL D: atende ao mais alto nível de segurança funcional automotiva, requisito indispensável para sistemas que impactam diretamente na segurança do veículo e dos ocupantes.
● Interfaces de comunicação automotivas integradas: suporte a CAN, CAN-FD, LIN e Ethernet automotiva, permitindo fácil integração com o sistema ABS e outros módulos do veículo.
● Memória Flash e RAM de alta capacidade: possibilita o armazenamento de modelos de aprendizado de máquina e dados históricos de frenagem para análise e melhoria contínua do sistema.
● Módulos de temporização e PWM de precisão: essenciais para o controle dos atuadores hidráulicos e eletromecânicos com mínima latência.
● Recursos de segurança integrados (HSE – Hardware Security Engine): garantem a proteção contra acessos não autorizados e ataques cibernéticos, aumentando a confiabilidade do sistema.
Essas especificações tornam o S32K39 uma plataforma robusta e versátil para aplicações de assistência ao motorista, permitindo que o assistente inteligente de frenagem funcione com baixa latência e alta precisão, mesmo em condições dinâmicas e imprevisíveis.
3.2.2 Justificativa da Escolha para o Sistema de Assistência ao ABS
A seleção do NXP S32K39 está diretamente relacionada às necessidades específicas do sistema de assistência ao ABS desenvolvido neste trabalho. Em primeiro lugar, a capacidade de processamento em tempo real é essencial para que o sistema possa reagir imediatamente aos dados captados pelos sensores — como pressão no pedal, velocidade das rodas e aderência ao solo — e gerar respostas adequadas sem comprometer a estabilidade do veículo.
Além disso, a conformidade com a norma ISO 26262 (ASIL D) assegura que o microcontrolador atende aos mais rigorosos padrões de segurança funcional exigidos pela indústria automotiva. Isso é particularmente importante em aplicações de frenagem, nas quais uma falha de processamento pode resultar em acidentes graves.
A ampla gama de interfaces de comunicação suportadas pelo S32K39 também representa uma vantagem significativa. O suporte a CAN e CAN-FD facilita a integração com a ECU do sistema ABS e com outros módulos veiculares, enquanto a compatibilidade com Ethernet automotiva prepara o sistema para futuras expansões, como atualizações de software over-the-air (OTA) e conectividade com sistemas avançados de assistência ao motorista (ADAS).
Outro fator relevante é o suporte ao desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial e aprendizado de máquina. A combinação de alta capacidade de processamento, memória ampla e suporte a bibliotecas de software automotivo facilita a implementação de modelos preditivos capazes de identificar padrões de frenagem inadequados e sugerir ajustes em tempo real.
3.2.3 Alinhamento com os Objetivos do Projeto
A escolha do NXP S32K39 alinha-se diretamente com os objetivos deste projeto, que busca desenvolver um assistente inteligente de frenagem confiável, seguro e eficiente. Sua capacidade de processar grandes volumes de dados em milissegundos, associada à conformidade com padrões de segurança e à facilidade de integração com o sistema ABS existente, torna-o um componente estratégico para a implementação bem-sucedida da solução proposta.
Além disso, a ampla utilização do S32K39 na indústria automotiva atual garante acesso a ferramentas de desenvolvimento, bibliotecas e documentação técnica consolidadas, facilitando a criação de protótipos funcionais e reduzindo o tempo de desenvolvimento do sistema. Dessa forma, sua adoção contribui para a viabilidade técnica e econômica do projeto, assegurando que o assistente de frenagem possa ser futuramente adaptado para aplicações reais em veículos comerciais.
3.3 Algoritmo de Inteligência Artificial Proposto
O assistente inteligente de frenagem proposto neste trabalho baseia-se em algoritmos de Machine Learning supervisionado, treinados para identificar padrões de frenagem inadequados e sugerir ajustes automáticos em tempo real. O modelo utiliza dados coletados de sensores veiculares — como pressão no pedal de freio, velocidade das rodas, condições de aderência da pista e aceleração do veículo — para tomar decisões precisas e seguras.
O algoritmo funciona em três etapas principais:
1. Coleta e análise de dados: os sensores enviam informações contínuas à ECU, que são processadas pelo MCU.
2. Tomada de decisão: com base em padrões aprendidos durante o treinamento, o modelo determina se a frenagem está adequada ou se há risco de travamento ou perda de controle.
3. Ação corretiva: caso detecte risco, o sistema ajusta automaticamente a pressão dos freios ou envia alertas ao condutor.
3.4 Integração do Sistema com o ABS Existente
A integração do assistente inteligente ao sistema ABS tradicional é realizada por meio da ECU, que atua como intermediária entre o novo módulo de IA e os componentes existentes do veículo. A comunicação é feita através da rede CAN (Controller Area Network), amplamente utilizada no setor automotivo pela sua confiabilidade e baixa latência.
Essa rede permite a troca rápida de informações entre sensores, ECU, atuadores e o assistente de frenagem, garantindo que as decisões sejam aplicadas em milissegundos. A baixa latência é essencial nesse contexto, pois atrasos no envio de comandos poderiam comprometer a eficácia do sistema e aumentar o risco de acidentes.
3.5 Simulação e Ambiente de Testes
Para avaliar a eficácia do sistema proposto, os testes são realizados em ambiente simulado, utilizando ferramentas como MATLAB/Simulink ou plataformas acadêmicas de simulação veicular. Esses ambientes permitem reproduzir cenários diversos de condução e frenagem, garantindo a análise do desempenho do assistente em condições variadas.
Os principais cenários de teste incluem:
● Pista seca: avaliação da resposta do sistema em condições ideais de aderência.
● Pista molhada ou escorregadia: análise do comportamento em situações de risco elevado.
● Curvas e frenagens bruscas: observação da estabilidade e controle do veículo.
As métricas analisadas incluem tempo de resposta do sistema, distância total de frenagem e redução de erros humanos. Esses indicadores permitem quantificar o impacto do assistente na segurança e eficiência do processo de frenagem.
3.6 Discussão dos Resultados e Benefícios Esperados
Os resultados teóricos obtidos nas simulações indicam uma melhoria significativa no desempenho da frenagem quando o assistente inteligente é utilizado em conjunto com o sistema ABS tradicional. Observa-se uma redução do tempo de resposta e da distância total de frenagem, além de um maior controle direcional do veículo em situações críticas.
A comparação entre a frenagem com e sem o assistente evidencia que o uso do sistema inteligente diminui substancialmente a probabilidade de travamento das rodas e perda de controle, fatores diretamente relacionados a acidentes de trânsito. Assim, espera-se que a adoção dessa tecnologia contribua para a redução expressiva dos índices de colisões, além de aumentar a segurança dos ocupantes e de terceiros.
Conclusão
O presente trabalho teve como objetivo propor o desenvolvimento teórico de um assistente inteligente de frenagem, baseado em Inteligência Artificial (IA), integrado ao sistema de freios ABS. A proposta surgiu da necessidade de aprimorar a segurança veicular e reduzir os acidentes decorrentes do uso incorreto ou da falta de compreensão sobre o funcionamento do ABS tradicional, que, embora eficiente, ainda depende fortemente da resposta do condutor em situações de emergência.
O desenvolvimento do estudo possibilitou compreender o papel fundamental dos sistemas de frenagem inteligente na melhoria da segurança veicular. A análise teórica demonstrou que a integração entre o sistema ABS e algoritmos de IA pode reduzir falhas humanas, otimizar o tempo de resposta do sistema de freios e evitar acidentes provocados por frenagens inadequadas.
A modelagem conceitual elaborada, composta por sensores, atuadores, uma unidade de controle eletrônico (ECU) e o microcontrolador NXP S32K39, mostrou-se adequada para a proposta apresentada. O NXP S32K39 se destacou como a melhor opção para o sistema, por sua robustez, confiabilidade e conformidade com a norma de segurança automotiva ISO 26262 (ASIL D), garantindo alto desempenho e segurança funcional.
Outro ponto relevante observado é que o algoritmo de IA proposto possui complexidade leve, operando com base em padrões simples de dados de sensores, como pressão do pedal, velocidade das rodas e aderência ao solo. Essa característica reduz significativamente a necessidade de processamento, permitindo que o sistema funcione de forma eficiente diretamente no microcontrolador, sem a inclusão de hardware adicional. Assim, o projeto mantém viabilidade técnica e econômica, mostrando-se aplicável até mesmo em veículos de menor custo.
Os resultados teóricos indicam que a integração da IA ao ABS tem potencial para melhorar o tempo de resposta, reduzir a distância de frenagem e aumentar a estabilidade do veículo em situações críticas. Dessa forma, a proposta representa um avanço conceitual importante no campo da segurança automotiva, evidenciando o potencial das tecnologias inteligentes em aprimorar os sistemas de segurança ativa dos veículos.
Contudo, é importante destacar que o trabalho possui limitações inerentes ao seu caráter teórico, uma vez que não envolveu a implementação prática do sistema. A construção de um protótipo físico e a realização de testes reais exigiriam recursos financeiros e estruturais mais amplos, além do envolvimento de uma equipe multidisciplinar.
Como perspectiva futura, recomenda-se o desenvolvimento de prototipagem e simulações experimentais utilizando ferramentas como o MATLAB/Simulink, a fim de validar os resultados teóricos apresentados e avaliar o desempenho do sistema em condições reais de frenagem. Tais etapas poderão contribuir para a evolução tecnológica da segurança automotiva e para a criação de veículos mais inteligentes, seguros e acessíveis.
Em síntese, o estudo atingiu seu objetivo ao apresentar uma proposta teórica viável, capaz de integrar algoritmos de IA ao sistema ABS de forma eficiente, segura e com baixo custo computacional. Dessa forma, o trabalho reforça a importância da inovação tecnológica como caminho para a redução de acidentes e o avanço da automação veicular.
Referências
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DIÁRIO DO PODER. Falhas no uso do ABS: 25% dos motoristas não sabem como funciona. Diário do Poder, 2024. Disponível em: https://diariodopoder.com.br. Acesso em: 30 mar. 2024.
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