REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7704794
Jonas Morais dos Santos1
RESUMO
O projeto de homem, de sociedade, de educação foi se moldando e transformado a depender da outras ideias e correntes postuladas. Por isso, hoje o educar e a educação tem sido cada vez mais evidenciado, pela sua importância e complexidade. Essa educação tem se desenvolvido cada vez mais em contextos diversos, possibilitados, sobretudo, pelo processo de globalização e surgimento da Educação à Distância. Diante dessa constatação, a Educação a Distância (EAD) ganhou e vem ganhando cada vez mais destaque. Assim sendo, buscou-se investigar: qual o papel da formação docente e sua interferência no contexto da Educação à Distância da Educação Profissional e Tecnológica? Desse modo, o presente trabalho possui como objetivo geral de identificar o papel da formação docente e sua interferência no contexto da Educação à Distância da Educação Profissional e Tecnológica. Para tanto, este estudo foi desenvolvimento através da metodologia de revisão bibliográfica qualitativa e descritiva.
Palavras-chave: Formação Docente. Educação Profissional e Tecnológica. Educação à Distância.
ABSTRACT
The project of man, of society, of education was shaped and transformed depending on other postulated ideas and currents. Therefore, today education and education has been increasingly highlighted, due to its importance and complexity. This education has been increasingly developed in different contexts, made possible, above all, by the process of globalization and the emergence of Distance Education. In view of this finding, Distance Education (EaD) has gained and is gaining more and more prominence. Therefore, we sought to investigate: what is the role of teacher training and its interference in the context of Distance Education of Professional and Technological Education? Thus, the present work has the general objective of identifying the role of teacher training and its interference in the context of Distance Education of Professional and Technological Education. Therefore, this study was developed through the methodology of qualitative and descriptive literature review.
Keywords: Teacher Training. Professional and Technological Education. Distance Education.
1. INTRODUÇÃO
A prática escolar pode ser definida como aquela que busca assegurar as condições para a concretização de sua atividade fim: aprendizagem dos alunos. Desse modo, ela também busca viabilizar a realização da prática docente para a concretização deste processo de aprendizagem. Ao decorrer da história da humanidade e do processo de socialização, verifica-se o quanto o ensinar e o aprender foram sendo modificados, evoluindo gradativamente através da contribuição de vários teóricos, dentre eles: Comenius, Rousseau, Pestalozzi, Dewey, Montessori, Freinet, Piaget, Vygotsky, Ferrero, Freire, dentre outros.
Assim, o projeto de homem, de sociedade, de educação foi se moldando e transformado a depender da outras ideias e correntes postuladas. Por isso, hoje o educar e a educação tem sido cada vez mais evidenciado, pela sua importância e complexidade, dando-se num jogo de forças e de ideias perpassadas socialmente. Essa educação tem se desenvolvido cada vez mais em contextos diversos, possibilitados, sobretudo, pelo processo de globalização e surgimento da Educação à Distância.
Diante dessa constatação, a Educação a Distância (EAD) ganhou e vem ganhando cada vez mais destaque. Segundo dados do Censo EAD, realizado em 2016, o número de alunos matriculados nessa modalidade de ensino cresceu 7,2%, gerando uma expectativa de que o Brasil ganhasse mais de 600 mil novos alunos apenas em 2018. Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) de 2019 confirma e amplia as perspectivas positivas, destacando que, houve um aumento de 17% em números de alunos matriculados de 2017 para 2018, chegando a um total de cerca de 9 milhões de estudantes dessa modalidade.
Para a sua concretização, entretanto, a EAD necessita de figuras para intermediar esse processo, e assim destaca-se uma: o docente, uma figura indispensável no processo metodológico da EAD, se embasando em um atendimento personalizado, individualizado e cooperativo por intermédio de uma abordagem pedagógica que centra-se no ato de amparar, facilitar e dirigir o processo de ensino-aprendizagem para que os alunos alcancem seus objetivos acadêmicos da maneira mais eficaz e autônoma.
Diante dessa realidade, o presente trabalho possui relevância por suscitar reflexões acerca da formação docente e atuação desta profissão no contexto escolar, amplamente conhecida recentemente, mas que ao longo do tempo desempenhou papel substancial, possibilitando, assim, maior conhecimento acerca de seu histórico, conceito, competências e atribuições. Seu surgimento se deu da seguinte problemática: qual o papel da formação docente e sua interferência no contexto da Educação à Distância da Educação Profissional e Tecnológica?
Desse modo, o presente trabalho possui como objetivo geral de identificar o papel da formação docente e sua interferência no contexto da Educação à Distância da Educação Profissional e Tecnológica. Os objetivos específicos, por sua vez, buscam: descrever o percurso da Educação à Distância; relacionar a teoria e a prática na formação, atuação docente e processo de ensino-aprendizagem; refletir a prática docente na Educação Profissional e Tecnológica.
O presente estudo foi desenvolvimento através da metodologia de revisão bibliográfica qualitativa e descritiva. A escolha por uma pesquisa qualitativa se dará por trazer consigo o objetivo de proporcionar maior familiaridade com o problema em questão, com vistas a torná-lo mais explícito e compreensivo (GIL, 2008). Para tanto, a revisão bibliográfica foi realizada através de coleta de dados em artigos científicos, livros e monografias publicadas em bancos de dados, como no Google Acadêmico e Scientific Electronic Library Online (SCIELO) com um recorte temporal dos últimos 10 anos.
2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
A educação é um direito subjetivo garantido pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, devendo ser acessível a todos mediante os pressupostos estabelecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 2016. A sua importância e necessidade de abrangência a todos os sujeitos está expressa em documentos e tratados firmados em convenções internacionais, como: na Carta das Nações Unidas (1945), na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966), dentre outros, o que denota a sua prerrogativa de necessária à civilidade em qualquer sociedade.
Entretanto, o ato educativo é desenvolvimento há bastante tempo, e sua importância já vem sendo demonstrada desde a Grécia Antiga, onde inclusive, surgiram os primeiros pressupostos para a evolução escolar dos alunos. Platão foi o primeiro teórico a instituir pressupostos pedagógicos para a prática educativa, instituindo as “etapas” educativas pelas quais os sujeitos precisariam passar até atingir o ensino superior.
Ao longo do tempo, diversas outras instituições foram surgindo na Europa e que tiveram papel substancial para o progresso e desenvolvimento social e intelectual do continente. Posteriormente, se espalharam para outros continentes, como a América em meados de 1.500 onde surgiu a primeira universidade: a Universidade Nacional de San Marcos, no Peru. Em âmbito brasileiro, o modelo de ensino superior foi pautado por princípios do ensino tradicional e de natureza profissionalizante, porém teve origem em 1.808 por meio da Escola de Cirurgia da Bahia (RASHDALL, 1895).
Com o passar do tempo, novos pressupostos para o ensino superior foram surgindo, principalmente mediante as necessidades da sociedade em constantes transformações. O desenvolvimento das tecnologias digitais, mais precisamente o computador, no século XX, desencadeou um processo sem precedentes que possibilitou a abrangência da Educação à Distância (EAD) como possibilidade educativa para àqueles que não poderiam – por algum motivo específico – fazê-lo em formato presencial (KENSKI, 2003).
Porém, a EAD não é recente. Como destaca Barros (2003), há indícios de que as primeiras utilizações da EAD se deram ainda no século XVIII, por meio da oferta de um curso por correspondência que foi por uma instituição de Boston (EUA). No caso específico do Brasil, a EAD possui origem mais recente, no século XX, em decorrência do processo de industrialização que demandou a necessidade de mão de obra qualificada para os trabalhos que estavam surgindo, e assim, a EAD possibilitaria uma maior abrangência de formação de mão de obra.
Quanto à conceituação, há várias definições para a EAD. Entretanto, ela possui uma definição oficial instituída pelo Decreto nº 5.622 de 19 de dezembro de 2005 que institui em seu art. 1 que:
Caracteriza-se a Educação a Distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos (BRASIL, 2005).
Portanto, trata-se de uma modalidade regular de ensino, onde mesmo professores e alunos separados geograficamente e, assim, fisicamente, a prática de ensino-aprendizagem é desenvolvida e a educação possui sua finalidade correspondida por meio da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) (MORAN, 2009).
Como salienta Alves (2011), a EAD foi possibilitada uma educação mais democrática e sua demanda só tem crescido mediante as inúmeras possibilidades oferecidas pelas TICs, visto que essas estabelecem novas possibilidades para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem à distância. É por meio da implementação das mídias digitais e da democratização do acesso à internet que se tem um grande número de informações, o que culmina na interação e na colaboração entre pessoas distantes que mesmo inseridas em contextos diferenciados conseguem desenvolver uma aprendizagem significativa.
2.1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Conforme Moura (2007), no Parecer nº 16/99-CEB/CNE, as primeiras evidências da educação profissional surgem a partir do século XIX, mais precisamente em 1809, com a publicação do Decreto do Príncipe Regente, futuro D. João VI, criando o Colégio das Fábricas. Ainda no século XIX, foram desenvolvidas possibilidades no âmbito da sociedade civil, destinadas a conceder amparo a crianças órfãs e abandonadas, possibilitando uma base de instrução teórica e prática para iniciação no ensino industrial. Os contextos de ensino mais importantes nessa conjuntura são os Liceus de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro (1858), de Salvador (1872), do Recife (1880), de São Paulo (1882), de Maceió (1884) e de Ouro Preto (1886).
Ao adentrar no século XX, a educação profissional traz uma novidade instaurada através do esforço público de sua organização, modificando a perspectiva vigente e superar a perspectiva assistencialista de atendimento a menores abandonados e órfãos com o intuito de, a partir de então, preparação de operários para o exercício profissional. Trata-se de um período no qual a formação dos trabalhadores é o grande foco, ou seja, passa a ser tratada como uma necessidade da expansão industrial, em um contexto em que se contrapõe à política educacional (RAMOS, 2014).
Cunha (2002) destaca que, se em 1959 a rede de Escolas Técnicas Federais se consolidou enquanto um lugar estratégico com vistas à força de trabalho industrial, esse processo foi ainda mais acentuado em 1971, momento no qual reforçou-se como um projeto ainda mais ousado, transformá-las em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET) através de apoio internacional com um Contrato de Empréstimo Internacional (nº. 755/BR) e pela forma do PRODEM I (Programa de Desenvolvimento do Ensino Médio).
Com o processo de redemocratização a todo vapor no final da década de 1980 que trouxe também inúmeras mudanças no mundo do trabalho, ampliou-se a discussão no interior das instituições sobre a formação de um novo tipo de educação que incorporasse dimensões políticas comprometidas com a cidadania. Nesse contexto, os profissionais que compõem esses ambientes, como os docentes e servidores técnico-administrativos das escolas federais unificaram-se através de corporações nacionais como a Associação Nacional de Docentes das Escolas Federais (ANDEF) e o Sindicato Nacional dos Servidores das Escolas Federais (SNSEF) (RAMOS, 2014).
Em 29 de dezembro de 2008 o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no uso de seus poderes tornou pública a Lei nº 11.892 no qual Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, criando os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Nesse contexto, a EPT é uma modalidade educacional prevista pela LDB, tendo como propósito preparar o indivíduo “para o exercício de profissões”, favorecendo a sua inserção e atuação no mundo do trabalho e sociedade. A EPT integra cursos de qualificação, habilitação técnica e tecnológica e de pós-graduação, dispostos a proporcionar aproveitamento contínuo e articulado dos estudos (MEC, 2022).
2.2 FORMAÇÃO DOCENTE PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO CONTEXTO DA EAD
Para Cunha (2013) a formação dos docentes ocorre em dois espaços: formação inicial e formação continuada. Os cursos de licenciatura, conforme legislação brasileira, são os responsáveis pela formação inicial dos professores para atuar em nível fundamental e médio. A formação continuada ocorre durante a trajetória profissional do professor, podendo ter diversos métodos e períodos de duração, assumindo a visão como necessidade de capacitação das instituições organizacionais ou de iniciativa dos interessados (CUNHA, 2013).
Como salienta Libâneo (2015) a formação dos professores e professoras deve vir complementada por uma tríade importante: teoria, técnica e metodologia, pois é preciso primeiro prover o domínio dos saberes disciplinares a serem ensinados, para depois estar seguro com a apropriação de metodologias, procedimentos e modos de ação, em função do trabalho na escola.
Nessa perspectiva insere-se, também, a importância da formação continuada, pois os professores que já concluíram sua graduação também precisam de aprofundamento na perspectiva da alfabetização ou, no mínimo, ampliar suas competências e técnicas. Como ressalta Libâneo (2015, p. 188): “a formação continuada pode possibilitar a reflexividade e a mudança nas práticas docentes, ajudando os professores a tomarem consciência das suas dificuldades, compreendendo-as e elaborando formas de enfrentá-las […]”.
Além do mais, os docentes precisam possuir um aprofundamento teórico sólido, devendo dominar não apenas os conteúdos/disciplinas que lhes cabem, mas também possuir o domínio das bases científicas, tecnológicas e das exigências concretas do ensino contemporâneo, e é justamente este domínio que irá lhe ajudar na sua contínua busca de aprimoramento de sua prática (LIBÂNEO, 2015).
Como corrobora Vasconcellos (2006), a práxis do docente se fundamenta nas seguintes dimensões: reflexiva (por buscar auxiliar na ampliação da compreensão dos processos de aprendizagem); organizativa (por articular o trabalho da sala de aula); conectiva (por possibilitar inter-relação entre os alunos e os conteúdos e aprendizagens); interventiva (por modificar a realidade do aluno e do seu desenvolvimento); e, por fim, avaliativa (por estabelecer a necessidade de repensar o processo educativo em busca de melhorias).
Para tanto, os respaldos necessários a tais conhecimentos devem ser provenientes das ciências da educação e abranger a todos os seus aspectos, sejam eles: os aspectos didáticos, psicológicos, filosóficos, sociológicos, epistemológicos, históricos da educação, da estrutura e funcionamento do ensino superior e do ensino básico, da gestão escolar etc.
Todos esses aspectos possuem extrema importância porque – mesmo não havendo a necessidade obrigatória de apresentarem uma relação direta com a matéria de ensino – eles ajudam a uma melhor compreensão do docente não apenas sua função social e política, mas também as inerências e possibilidades de seu trabalho, o qual não se limita à transmissão de informações (conhecimentos), mas compreende também princípios, valores e modos de ler e ver o mundo (PIMENTA, 1997).
Nesse prisma, insere-se a formação e atuação dos docentes da EPT que devem ter uma atenção ainda mais apurada. De acordo com Moura (2008), há dois eixos na formação dos docentes da EPT, o primeiro relacionado com conhecimento específico, adquirido na graduação e em programas de pós-graduação, o segundo se refere à formação didático-político-pedagógica e as particularidades das áreas de formação profissional que integra a EPT. Formação pedagógica de docentes da educação profissional não é novidade, embora nenhuma tentativa tenha resultado em sistemas duradouros.
É necessário ressaltar que a educação profissional, como em cursos superiores, forma especialistas que são formados por pessoas que atuam como docentes, embora a maioria não possua formação específica para esta finalidade. Isso é um problema estrutural do sistema educacional e da sociedade brasileira. Enquanto para exercer uma profissão liberal é necessário formação equivalente, para desempenhar função no magistério, curso superior e educação profissional, não há obrigatoriedade na formação coincidente de professor (MOURA, 2008).
A escassez de docentes qualificados tem sido primordial para refrear a expansão da educação profissional no país. Percebe que a solução para este gargalo é a estruturação e coordenação nacional para superação da estrutura fragmentada, criação de política ampla e contínua da formação de docentes para EPT, superando o histórico de improviso e insuficiência pedagógica (MACHADO, 2008).
Levando em conta as considerações acima, pode-se afirmar:
Nesse âmbito, temos que considerar, no mínimo, três situações distintas quanto aos grupos aos quais se destina essa formação. Em primeiro lugar, os profissionais não graduados que já atuam na EPT. Em segundo, os graduados que já atuam como docentes da EPT, mas não têm formação específica nessa esfera educacional; e os futuros profissionais que já estão em formação superior inicial. Finalmente, os futuros profissionais que ainda começarão a formação superior inicial. (MOURA, 2008, p. 32).
No primeiro grupo, Moura (2008) aponta que os profissionais não graduados atuantes na EPT são em maior número em organizações privadas. Assim, é de extrema necessidade a busca por uma formação profissional dos docentes tanto no panorama de aprendizado específico da área em que atuam como na formação didático-político-pedagógica.
No caso do segundo grupo, na visão de Moura (2008), estão os graduados que já exercem a função de docentes na EPT, mas não possuem a formação específica na área, e futuros profissionais que estão em formação superior inicial. Assim, há a necessidade de criação de planejamento para a formação desses professores para a EPT, com estratégias duradouras e não provisórias, como vem se estabelecendo ao longo da história.
Outra parcela dos professores possui licenciatura, que é direcionada para disciplinas da educação básica, sendo capacitados para ministrar disciplinas do ensino fundamental e médio, diferente de atuar nos cursos de EPT, cuja finalidade é formação profissional. Sendo assim, é necessária uma habilitação específica, proporcionando maior aproximação com as relações entre educação e trabalho e do amplo campo da educação profissional, principalmente do curso no qual está lecionando, estabelecendo conexões entre a disciplina e a formação profissional específica. Diante do exposto, traçam-se duas possibilidades para essa formação: cursos de licenciaturas específicos para a educação profissional e pós-graduação lato e stricto sensu com objetivo de atender essa demanda.
Nesse mesmo propósito, Machado (2008, p. 16) afirma “uma política definida para a formação de professores que atenda a tais necessidades será certamente um grande estímulo para a superação da atual debilidade teórica e prática deste campo educacional com relação aos aspectos pedagógicos e didáticos”.
Do ponto de vista legal, a EPT, no que determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) é uma modalidade de ensino que transcorre todas as modalidades, cujos objetivos estão estabelecidos nas dimensões do trabalho, ciência, cultura e tecnologia (BRASIL, 2021). Nesse sentido, seu papel é de extrema importância por possibilitar aproximação ao pensamento crítico, científico e tecnológico, para além das demandas do mercado.
De acordo com o que preconiza a Resolução CNE/CP nº 1, de 5 de janeiro de 2021, sobre a formação continuada, tem-se no Art. 35 que esta “deve prever aperfeiçoamentos referentes às ocupações ofertadas em cursos e programas de Educação Profissional e Tecnológica em todos os níveis de desenvolvimento” (BRASIL, 2021).
Diante das modificações no contexto escolar, assim como nas necessidades de docentes e discentes, o professor precisa acompanhar as modificações das didáticas, das metodologias de ensino e das práticas laborais (LOPES; VEIGA; LUTERMAN, 2019). Por esse motivo, é necessário que as formas de interação emergentes possibilitadas pelas tecnologias, assim como o hibridismo cultural presente nos diversos contextos sociais, incorporem novos padrões de formação docente, especificamente, padrões voltados para o uso de tecnologias digitais na educação. Desse modo, é crucial que as práticas pedagógicas se tornem sensíveis à diversidade de linguagens e de visões de mundo que a permeiam.
Nessa perspectiva, muitas das iniciativas públicas de formação continuada no setor educacional adquiriram a feição de programas compensatórios, e não propriamente de atualização e aprofundamento no que diz respeito ao avanço do conhecimento, sendo realizados com a finalidade de suprir aspectos da má formação anterior, alterando o propósito inicial dessa educação posto nas discussões internacionais: o aprimoramento de profissionais nos avanços, renovações e inovação de suas áreas, dando sustentação à sua criatividade pessoal e a de grupos profissionais, em função dos rearranjos nas produções científicos, técnicas e culturais (GATTI, 2008).
Machado (2011) pontua que um dos maiores desafios concentra-se na falta de políticas de formação docente para os professores da EPT, sem esquecer-se de citar a falta na continuidade para aquelas políticas que são implantadas e deixadas de lado, questões essas que não são novas e fazem parte do histórico da rede.
Cabe ressaltar que desde a publicação da Resolução CNE/CP nº 2, de 26 de junho de 1997 no qual dispõe sobre os programas especiais de formação pedagógica de docentes bacharéis para lecionar as disciplinas do currículo do ensino fundamental, do ensino médio e da educação profissional em nível médio, tem crescido a oferta dos cursos de formação para a docência em EPT em forma de especialização e, também, complementação pedagógica (PROFEPT, 2017).
Por isso, a formação docente em EPT deve desenvolver junto de seus estudantes uma “práxis social transformadora”, por meio da qual seja um sujeito (educador) que está em constante interação em harmonia com outro sujeito (aprendiz), para que haja a construção de saberes, técnicas, atitudes, valores e de significados na consolidação dos conteúdos de aprendizagem que se “caracteriza e direciona a comunicação, a dialogicidade e o entendimento entre ambos na direção de uma emancipação fundada no ser social” (THERRIEN, 2006, p. 08).
No cenário da contemporaneidade, marcado por transformações e desafios, a contribuição do docente em EPT torna-se cada vez mais essencial e importante para a atuação desse profissional. No século XXI não cabe somente ter conhecimento teórico, ou seja, é também desenvolver os conteúdos de modo contextualizado, globalizado e diversificado, pois o conhecimento não pode se reduzir apenas ao saber fazer, aprender a usar, acredita-se que o profissional tem que ir além disso, requer um envolvimento maior, mas que tenha significado tanto para os alunos como para os próprios professores. O grande desafio para a formação do ser professor neste novo tempo está caracterizado pelas incertezas (SANTOS; BRANCHER, 2017).
2.3 A DOCÊNCIA/TUTORIA NA EAD DA EPT
A função da tutoria é uma figura cada vez mais indispensável na EAD. Entretanto, para a realização de uma breve discussão faz-se necessário, primeiro, a conceituação do que seja o tutor. De acordo com o dicionário Aurélio:
Tu.tor – Dir: Aquele que, por disposição testamentária ou por decisão do juiz, está encarregado de uma tutela ou tutoria. 2 O que protege, ampara ou dirige; defensor. 3 Agr Estaca ou vara cravada no solo, para amparar e segurar uma planta cujo caule é flexível ou demasiado débil. T. dativo: o que exerce a tutela dativa. T. legítimo: o que exerce a tutela legítima. T. testamentário: o que exerce a tutela testamentária (FERREIRA, 2010, p. 763).
Diante dessa percepção, verifica-se que o tutor é aquele que possui um papel de amparar e dirigir o caminhar acadêmico dos alunos, visto que estes possuem inúmeras dúvidas e precisam desenvolver as competências necessárias para o curso escolhido. Portanto, é ele quem exerce a tutela, ou seja, o responsável legítimo e legal pelos alunos.
Segundo definição do Ministério da Educação (MEC) acerca das atribuições do tutor:
A tutoria a distância atua a partir da instituição, mediando o processo pedagógico junto a estudantes geograficamente distantes, e referenciado aos polos descentralizados de apoio presencial. Sua principal atribuição deste profissional é o esclarecimento de dúvidas através fóruns de discussão pela Internet, pelo telefone, participação em videoconferências, entre outros, de acordo com o projeto pedagógico (BRASIL, 2007, p. 21).
Nessa perspectiva, o tutor possui um importante papel para a efetivação da aprendizagem dos alunos, visto que ele atua como facilitador e articulador desse processo. Por meio dos instrumentos tecnológicos onde a EaD é desenvolvida, ele utiliza de ferramentas como chats, mensagens, e-mail, Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) para a realização das orientações e instruções para os alunos, neste caso, para os alunos da EPT.
Mediante essa concepção, corrobora Costa (2013) ao enfatizar que o termo tutor se interliga a conceitos essenciais para a EaD, como: guiar, proteger, dirigir, fiscalizar e orientar, destacando-se que não se limita aí já que há outras funções que irão sofrer variações mediante as perspectivas pedagógicas adotadas pela instituição EAD, principalmente mediante modalidades como semipresencial ou 100% EAD em que a EPT também se desenvolve.
Nesse viés, Prado (2012) pontua a importância fundamental do tutor para a EAD destacando que é por meio de sua efetiva atuação que se concretizam as inter-relações no ambiente de aprendizagem de maneira mais personalizada e contínua para que haja a articulação entre aluno e sistema de ensino fazendo com que os elementos do processo obedeçam e atinjam os objetivos propostos.
Segundo Costa (2013) mediante as disposições presentes nos Referenciais de qualidade para educação superior a distância de 2007, dentre as atribuições do tutor estão: realizar a mediação com os alunos acerca dos conteúdos; acompanhar o desenvolvimento das atividades inerentes aos discentes; auxiliar no desenvolvimento das atividades referentes ao trabalho pedagógico; verificar frequentemente a regularidade de acesso ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) para conseguir responder às demandas e solicitações dos alunos dentro de um prazo máximo de 24 horas; estabelecer contato contínuo e permanente com os alunos para implementar uma mediação efetiva das atividades discentes, dentre outros.
Nesse aspecto:
A tutoria de um ambiente virtual exige do tutor o desenvolvimento de algumas competências, como a capacidade de gerenciar equipes, habilidades de criar interesse do grupo, habilidade gerencial para coordenar discussões e trabalhos em grupo e promover um ambiente colaborativo. Deste modo, o tutor é um articulador nos processos de EAD, enfatizando os elementos necessários para o desenvolvimento dos participantes (PRADO et al., 2012, p. 249).
Portanto, o tutor é elemento indispensável para o pleno funcionamento e andamento dos cursos profissionalizantes da EPT, pois ele possibilita a viabilização da articulação entre a prática de ensino e aprendizagem, interligando mais concisamente os alunos aos conteúdos expostos pelas disciplinas e cursos, buscando estimular uma participação contínua e ativa, suprindo as necessidades individuais de cada um para atender às diferentes demandas dos alunos.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho é possível destacar ser essencial o desenvolvimento de um projeto fundante da formação de professores na práxis. Essa perspectiva não é nova já que na EPT encontramos elementos que concordam com uma formação de professores alicerçada na epistemologia da práxis e como forma de resistência ao modelo técnico, restrito que ainda preconiza um currículo padronizado e controlado por avaliações externas da escola e do trabalho docente, numa perspectiva em que se qualifique as pessoas de forma meritocrática e para estarem no mundo de maneira competitiva e afinada com o mercado.
No caso do docente de EPT em EAD, este deverá desenvolver estratégias pedagógicas adequadas às diferentes necessidades recorrentes em cada ambiente/instituição de ensino, por meio do embasamento nas tecnologias utilizadas com a implementação de métodos adequados, além de meios instrucionais estruturados onde a produção do conhecimento seja permanente.
Dessa forma, a revisão dos estudos em análise confirma as hipóteses previamente estabelecidas e reiteram o papel do professor enquanto mediador do conhecimento, suscitando que o seu papel de facilitador e articulador do processe de ensino-aprendizagem para desenvolver ações interativas de democratização do saber e ampliação das competências e habilidades, culminando na diminuição de lacunas entre os indivíduos.
Por fim, conclui-se que a formação docente deve ser desenvolvida mediante um amplo trabalho entre teórica e técnica, pelo qual o docente só tende a ampliar a qualidade da EAD e potencializar suas possibilidades, cabendo rever e ressignificar as relações entre teoria e prática em prol de uma perspectiva integral.
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1https://orcid.org/0000-0003-0409-4289