FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: NECESSIDADES E PERSPECTIVAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410161045


Anaina Gabriela dos Santos; Edimara Cristiane Ferreira Pinto; Joceline Ferreira do Nascimento Rosada; Elissandro Neves dos Santos; Simone Lopes de Oliveira; Luziane Lima da Costa; Armando Lima Barbosa; Ueudison Alves Guimarães.


RESUMO

Este artigo aborda uma inquietante questão referente à formação dos profissionais destinados à educação infantil, explorando profundamente a constituição do ser professor, sua prática reflexiva e identidade docente. Seu propósito é destacar a relevância da formação de professores, enfatizando, através de uma análise detalhada de diversos autores, a importância da construção identitária do profissional da educação e da reflexão crítica na formação e prática docente. Trata-se de uma revisão de literatura que busca respaldo em estudiosos renomados para ilustrar a importância da formação contínua e aprofundada desses profissionais. Desse modo, o foco recai sobre a necessidade de preparar adequadamente aqueles que serão responsáveis pela construção da aprendizagem de crianças de zero a cinco anos, um período importante e formativo na vida dos indivíduos. A revisão pretende sublinhar como a formação e a identidade do professor são essenciais não apenas para o desenvolvimento pessoal, mas também para a eficácia pedagógica e para a qualidade da educação infantil.

Palavras-Chave: Aprendizagem. Educação Infantil. Formação de Professores.

ABSTRACT

This article addresses a disturbing issue regarding the training of professionals working in early childhood education, exploring in depth the constitution of the teacher, his/her reflective practice and teaching identity. Its purpose is to highlight the relevance of teacher training, emphasizing, through a detailed analysis of several authors, the importance of the identity construction of the education professional and of critical reflection in teaching training and practice. This is a literature review that seeks support from renowned scholars to illustrate the importance of continuous and in-depth training for these professionals. Thus, the focus is on the need to adequately prepare those who will be responsible for constructing the learning of children from zero to five years of age, an important and formative period in the lives of individuals. The review aims to emphasize how the training and identity of the teacher are essential not only for personal development, but also for pedagogical effectiveness and the quality of early childhood education.

Keywords: Learning. Early Childhood Education. Teacher Training.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo é uma peça fundamental da pesquisa conduzida para a construção de um trabalho alicerçado em um constructo teórico inovador que se debruça sobre a formação de professores de educação infantil. Para tanto, a investigação procurou explorar as dimensões da formação docente, com especial ênfase nas questões de identidade profissional e na necessidade imperiosa de cultivar um professor reflexivo.

O objetivo primordial foi evidenciar a profundidade da importância da formação de professores, utilizando uma abordagem que se apoia em uma variedade de autores renomados, visto que a pesquisa foca na construção da identidade do profissional da educação e na integração da reflexão crítica na formação e prática docente.

Cabe destacar que a análise não se limita a uma avaliação superficial; ao contrário, busca desentranhar as camadas complexas e interdependentes que moldam a prática pedagógica e a identidade docente, sublinhando a necessidade de uma formação que transcenda o mero treinamento técnico e que se comprometa com uma reflexão contínua e aprofundada sobre o papel do professor na educação infantil.

Metodologicamente, este artigo se configura como um levantamento bibliográfico de abordagem qualitativa, orientado a aprofundar e diversificar o debate sobre a formação de professores. Portanto, a investigação bibliográfica aqui desenvolvida não pretende se prender a uma simples revisão, já que busca se envolver de maneira crítica e multidimensional com a literatura existente com o intuito de trazer à tona as complexidades e paradoxos associados à formação docente.

A formação de professores é um tema de relevância aguda e crescente, refletindo a demanda por uma base de conhecimento sólida e uma transposição paradigmática que desafia a simples dicotomia entre o que é aprendido e o que é ensinado. Nesse contexto, entende-se que à medida que os paradigmas educacionais evoluem, o questionamento sobre a congruência entre teoria e prática vai se tornando cada vez mais incisivo, desafiando a rigidez dos modelos tradicionais e exigindo uma reflexão profunda sobre como os professores são formados e como esses processos formativos impactam a prática pedagógica.

Na visão de Day (2001), a formação do professor deve ser resgatada em sua essência mais profunda, como um processo dinâmico de ação-reflexão-ação, onde o verdadeiro papel do docente vai além da mera execução de práticas estabelecidas. A concepção de Day destaca que a formação do professor enquanto investigador é indispensável para a expansão do conhecimento sobre sua própria prática e para a implementação de mudanças estratégicas na sua ação docente.

Este desenvolvimento do professor investigador não se limita à mera revisão das rotinas existentes, mas busca uma reinvenção radical, abrindo espaço para a criatividade e a inovação. Não obstante, revela-se que ao se envolver em um processo contínuo de reflexão e investigação, o professor rompe com as limitações das práticas habituais e promove uma autonomia crítica, refinando seu pensamento e suas abordagens pedagógicas.

Day (2001) argumenta que o professor investigador possui a capacidade única de engendrar um pensamento crítico que transcende a superficialidade da prática cotidiana, permitindo uma análise mais profunda e uma adaptação mais eficaz às complexidades do ambiente educacional.

De acordo com Marcelo Garcia (1999), a formação docente não se resume ao conhecimento de técnicas e metodologias, visto que ela está intrinsecamente ligada à competência profissional, criando uma justaposição entre o que fazer e como fazer. Em suas concepções, entende-se que esse enfoque sobre a ação pedagógica proporciona um ponto crucial para a reflexão e aprimoramento das práticas docentes, promovendo mudanças substanciais na prática pedagógica.

Behrens (2007) argumenta que a modificação na visão dos paradigmas educacionais trouxe um novo e urgente significado para a formação dos professores. Com isso, percebe-se que essa transformação desponta para a necessidade de uma formação que não só se adapte às mudanças rápidas e complexas do contexto educacional, mas que também desafie e reconfigure as concepções tradicionais, enriquecendo a prática docente com uma perspectiva mais dinâmica e inovadora.  

É importante sublinhar que os paradigmas educacionais manifestam uma multiplicidade de organizações e pressupostos, moldados pela visão e pela determinação de diversos contextos e concepções. Esses paradigmas, longe de serem entidades fixas, representam releituras e ressignificações de modelos antigos de ensino e aprendizagem, adaptando-se às mudanças sociais emergentes e às demandas contemporâneas.

Nesse panorama, Zeichner (1983) argumenta que paradigmas devem ser compreendidos como conjuntos dinâmicos de princípios que provocam uma série de dimensões a serem investigadas, já que eles inúmeros aspectos a serem observados e redefinem as práticas e teorias educacionais, estimulando uma reavaliação contínua e crítica das abordagens pedagógicas.

Essa visão ampla e múltipla dos paradigmas destaca a necessidade de uma abordagem mais reflexiva e adaptativa, que permita ao professor navegar e interpretar a complexidade e a fluidez dos contextos educacionais modernos.

A profissão docente está surgindo em um cenário de alteridade radical, onde suas atribuições e funções são vistas como contribuições relevantes para a edificação de uma sociedade que demanda uma preparação sólida e um engajamento participativo igualitário e significativo. Assim, esse contexto exige dos professores uma postura firme e responsável, mas também uma consciência profunda e crítica de seu papel transformador.

Podemos afirmar que essa preocupação se tornou uma questão global, no entanto, no contexto da formação inicial de professores no ensino superior no Brasil, ainda não houve uma iniciativa nacional robusta o suficiente para adequar o currículo às demandas contemporâneas do ensino. Até o presente momento, faltou uma intervenção significativa que promovesse uma revisão abrangente da estrutura das licenciaturas e da dinâmica envolvida.

Desse modo, sublinha-se que A verdadeira transformação só poderá ser alcançada quando os formadores conseguirem estabelecer uma conexão profunda entre ensino e aprendizagem, equilibrando de maneira eficaz os aspectos teóricos e práticos e considerando a individualidade do aprendiz.

Entretanto, para que tal avanço seja viável, torna-se fundamental compreender com precisão quem é o profissional em formação. Esse entendimento vai além da simples identificação, pois requer um mergulho introspectivo na essência do futuro professor e em sua visão pessoal sobre o papel docente. Ressalta-se ainda que essa compreensão profunda é muito importante, pois influencia diretamente a capacidade de moldar um processo formativo que responda às necessidades e desafios atuais, mas também prepare o docente para enfrentar as complexidades e expectativas de seu papel na educação.

2 METODOLOGIA

Com o propósito de abordar a formação de professores para a Educação Infantil com ênfase nas necessidades e perspectivas, adotou-se uma metodologia de caráter bibliográfico. A abordagem consiste em uma revisão sistemática da literatura existente sobre o tema, englobando livros, artigos acadêmicos, teses e dissertações que discutem a formação inicial e continuada de professores para a Educação Infantil.

A revisão se preocupa em identificar e analisar as principais lacunas na formação desses profissionais, os desafios enfrentados e as melhores práticas recomendadas. Nesse sentido, o levantamento e análise das fontes visam construir um panorama abrangente das necessidades formativas, bem como das perspectivas teóricas e práticas que podem orientar e melhorar a formação docente.

Além disso, a metodologia contempla a análise crítica das contribuições de autores renomados na área, como Marcelo Garcia, Tardif, Sacristán e outros especialistas que discutem a importância da integração entre teoria e prática, a necessidade de formação holística e interdisciplinar, e as implicações para o desenvolvimento profissional dos educadores.

A partir dessa análise, busca-se mapear o estado atual da formação para a Educação Infantil e propor direções para aprimorar as práticas formativas, considerando as especificidades e os contextos variados em que os profissionais atuam. Assim, a abordagem metodológica garante uma compreensão profunda e fundamentada das questões em jogo, fornecendo subsídios para futuras pesquisas e intervenções na área.

3 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

A formação de professores revela-se um campo de vastidão e complexidade muito além do que comumente se percebe. Ela transcende os limites da educação básica e suas peculiaridades, abrangendo até os níveis superiores e a pós-graduação. Em cada um desses contextos, encontramos profissionais dedicados à formação de novos educadores, um tema que permanece inexplorado e em constante evolução, pois não existem docentes plenamente prontos e nem saberes exclusivos que se apliquem universalmente a todos os professores.

Tardif (2002) explica que a verdadeira essência da formação docente reside na capacidade de conectar práticas pedagógicas com as teorias que as fundamentam, uma conexão que confere ao professor uma visão e uma abordagem únicas. Desse modo, o educador envolvido no processo educativo deve cultivar uma perspectiva que vá além da mera acumulação de conhecimento científico.

Figura 1 –  Formação de Professores para a Educação Infantil

Fonte: Instituto Educacional Catarinense (2023).

Nesse contexto, aponta-se que é imprescindível que este profissional adote uma visão global, que aborde as nuances e as complexidades da prática educativa, indo além do técnico e do acadêmico para integrar dimensões sociais, culturais e humanas em sua prática.

Moraes et al (2004) afirma que o profissional da educação deve dominar profundamente as metodologias de ensino, não apenas para transferir conhecimento, mas para incitar no aluno um desejo intrínseco de aprender, pois esse dinamismo é especialmente relevante na formação profissional, onde o estudante deve ser galvanizado a explorar todas as facetas necessárias para se destacar na carreira escolhida.

Dessa forma, compreende-se que tanto o conhecimento prático quanto o teórico são considerados de grande importância, uma vez que essa dualidade distingue o profissional que meramente replica do que verdadeiramente constrói e inova.

A formação de qualquer profissão, independentemente de sua complexidade, exige uma base sólida e responsável. A profissão docente não é exceção, pois está intimamente ligada ao desenvolvimento de indivíduos que dependem das metodologias e estratégias empregadas para alcançar o sucesso ou enfrentar dificuldades acadêmicas. Entretanto, a formação do professor deve transcender o convencional, englobando o domínio técnico e a capacidade de refletir criticamente sobre suas práticas e integrar continuamente novos conhecimentos e abordagens.

Giareta e Pereira (2013, p. 132) destacam que a concepção crítica fundamenta a formação docente e a prática pedagógica, ao considerar a participação ativa dos sujeitos como um princípio educativo fundamental. Essa abordagem atribui centralidade às vozes dos alunos, reconhecendo sua capacidade de influenciar e enriquecer o processo educativo. Dessa forma, a prática docente se torna um espaço onde a produção cultural e a construção de conhecimento são não apenas transmitidas, mas também cocriadas, conferindo aos alunos um papel ativo na produção e significado da cultura.

Todavia, o labor docente, e, consequentemente, a sua formação, não é um campo isento de influências e interpretações socioculturais. As diversas etapas da prática pedagógica são moldadas por uma miríade de perspectivas e contextos sociais, refletindo a complexidade e a dinâmica da profissionalização docente, pois essa formação está intrinsecamente entrelaçada com a educação básica, que serve como o alicerce da trajetória educacional.

Ferreira (2013) sublinha que a formação do professor vai muito além da graduação, uma vez que exige uma constituição profissional que transcenda os conhecimentos técnicos necessários para o ensino, evidenciando-se como a superação do senso prático em direção a uma prática reflexiva e intencional.

Essa visão ressalta a necessidade de um aprofundamento crítico na formação docente, que vai além das habilidades técnicas e abrange uma abordagem reflexiva e fundamentada na prática pedagógica. A formação do professor, desse modo, deve ser entendida como um processo contínuo e evolutivo, imbuído de uma consciência crítica que permita a adaptação e a inovação diante das complexidades da educação.

Dentro dessa perspectiva, o imenso desafio na formação dos profissionais da educação reside não apenas na aquisição de habilidades e conhecimentos técnicos, mas na verdadeira paixão e vocação pela profissão. Esse obstáculo se torna evidente considerando o baixo prestígio associado à carreira docente, um fato que, conforme mencionado pela autora citada, contribui para a desinteresse de uma parcela significativa da população brasileira.

Apesar disso, Ferreira (2013) esclarece que aqueles que optam por seguir essa trajetória precisam cultivar uma visão que expanda o horizonte dos conhecimentos técnicos, que vá além do academicismo rígido e que enriqueça a prática docente com significados profundos e interações genuínas, mesmo enquanto ainda estão em processo de formação.

Para os profissionais atuantes na Educação Infantil, tanto em instituições públicas quanto privadas, frequentemente observam-se lacunas significativas na formação, que refletem não apenas uma compreensão limitada sobre o desenvolvimento infantil e temas correlatos, mas também uma subvalorização da própria profissão.

Marcelo Garcia (1999) elucida que essa deficiência formativa resulta em um impacto direto na qualidade da educação oferecida e na eficácia do papel do educador na primeira infância, evidenciando a necessidade urgente de uma reavaliação e reestruturação nos currículos e práticas formativas que sustentam o desenvolvimento desses profissionais.

Sublinha-se, com isso, a necessidade garantir que os profissionais que atuam na Educação Infantil recebam uma formação robusta e verdadeiramente efetiva, que não apenas se manifeste em termos acadêmicos, mas também se traduz em um aprofundamento real e prático, possibilitando que ela tenha um impacto direto e positivo no trabalho que é realizado na escola com os alunos.

Observa-se, portanto, a necessidade de que o profissional da Educação Infantil possua uma experiência e vivência que fundamentem sua prática de maneira substancial. Assim, ele se forma dentro de uma dinâmica complexa de relações, interações e mediações, e sua identidade profissional é intrinsecamente ligada a esses contextos socializadores e às diversas formas de se engajar na profissão. Como assinalado por Gomes (2009, p. 41), “[…] forma-se nessa dinâmica de relações, interações, mediações e proposições, e a identidade que ele construirá está vinculada a esses contextos socializadores, a esses modos de ser e estar na profissão”.

Nesse contexto, defende-se a urgência de uma formação profissional que seja amplamente abrangente e sensível às particularidades da Educação Infantil, já que esse nível de ensino, historicamente desconsiderado como um espaço educativo legítimo, concentra uma vasta gama de especificidades que exigem um entendimento profundo e multifacetado.

A formação do profissional da Educação Infantil deve romper a simples aquisição de conhecimento técnico, englobando um aprofundamento nas múltiplas áreas do saber que são essenciais para uma atuação efetiva, o que inclui muito mais do que um domínio sólido de conteúdos curriculares e estratégias metodológicas, mas também um entendimento detalhado da legislação pertinente, das diretrizes curriculares e dos processos avaliativos.

Figura 2 – Formação Docente

Fonte: Diário do Aço (2024).

A complexidade e a riqueza do campo da Educação Infantil demandam uma preparação que vá além da superficialidade, permitindo que o educador se torne um agente capaz de caminhar e transformar um cenário educacional marcado por suas próprias nuances e desafios. A formação deve, por sua vez, englobar um espectro de conhecimentos e habilidades que permita ao profissional não apenas atuar, mas também refletir e inovar dentro deste contexto educativo tão vital.

Para pensadores como Marcelo Garcia (1999) e Tardif (2002), o profissional em formação emerge inicialmente com base no conhecimento assimilado durante sua trajetória acadêmica. No entanto, à medida que esse indivíduo adentra o campo da prática educacional, a sua identidade profissional se transforma de maneira substancial, pois o processo de inserção no ambiente escolar proporciona uma autonomia crescente, que permite ao educador transcender as visões teóricas iniciais e desenvolver uma prática mais sofisticada e contextualizada.

Destaca-se que esse desenvolvimento não é linear; ele se caracteriza por uma dinâmica de contínua evolução e reflexão crítica. O profissional da educação, ao interagir com a realidade escolar, confronta e reconfigura suas concepções previamente estabelecidas. Assim, o que antes parecia um conhecimento fixo e delimitado, agora se expande e se adapta, influenciado pela experiência prática e pelas complexas realidades do ensino.

Nesse contexto, a formação acadêmica inicial serve como um ponto de partida, mas é o engajamento com a prática que possibilita uma reinterpretação e ampliação desse conhecimento, permitindo ao educador construir uma prática mais rica e reflexiva. Dessa forma, a evolução da prática docente representa um processo de constante negociação entre a teoria e a realidade educacional, demandando uma capacidade crítica e adaptativa que vai além do que foi aprendido nos bancos da academia.

4 DISCUSSÕES

A formação de professores é um campo vasto e intricado, cujas complexidades muitas vezes transcendem a compreensão comum. Essa trajetória se estende por toda a educação básica, absorvendo todas as suas nuances e singularidades, e continua até os níveis de ensino superior e pós-graduação.

A formação de professores para a Educação Infantil é um tema que, apesar de sua importância crítica para o desenvolvimento inicial das crianças, frequentemente é subestimado e mal compreendido. A complexidade dessa formação transcende a simples aquisição de técnicas pedagógicas e metodológicas; ela demanda uma profunda compreensão das dinâmicas de desenvolvimento infantil e das particularidades do ensino para essa faixa etária.

Todavia, em vez de se restringir à aplicação de métodos genéricos, a formação deve contemplar uma integração universal que considere as dimensões emocionais, sociais e cognitivas das crianças, esse cenário diversificado revela a urgência de uma revisão crítica e abrangente das práticas formativas atuais.

De acordo com Giareta e Pereira (2013), um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais da educação infantil é a lacuna existente entre a teoria acadêmica e a prática em sala de aula. Desse modo, a formação inicial muitas vezes carece de uma conexão efetiva com as realidades do cotidiano escolar, resultando em uma preparação que não aborda adequadamente as complexidades e os desafios específicos do trabalho com crianças pequenas.

Segundo os autores acima, essa desconexão pode levar a uma prática pedagógica que se limita a abordagens superficiais, incapazes de responder às necessidades individuais e contextuais dos alunos. Com isso, a necessidade de uma formação que una teoria e prática é, portanto, uma das questões mais prementes na discussão sobre a qualificação dos professores da Educação Infantil.

Ademais, a formação docente para a Educação Infantil frequentemente negligencia a importância do desenvolvimento profissional contínuo, pois a formação inicial é apenas o ponto de partida; o aprimoramento constante das competências docentes deve ser um aspecto integrado ao longo da carreira profissional, incluindo de maneira imediata e assertiva a necessidade de programas de formação continuada que ofereçam atualizações regulares e oportunidades para reflexão crítica sobre a prática pedagógica.

A ausência desse suporte contínuo pode resultar em estagnação profissional e na manutenção de práticas pedagógicas desatualizadas, que não atendem mais às demandas contemporâneas da educação infantil.

Pimenta e Lima (2012) afirma que outro ponto decisivo é a necessidade de uma formação que inclua uma compreensão aprofundada das questões culturais e sociais que impactam o desenvolvimento infantil, visto que o contexto sociocultural das crianças deve ser uma parte central da formação, para que os professores possam adaptar suas práticas às realidades diversas dos alunos.

Por essa ótica, torna-se evidente que a formação deve preparar os educadores para reconhecer e valorizar a diversidade cultural, promovendo uma educação inclusiva que respeite e celebre as diferenças. Diante dessa realidade, acredita-se que ignorar esse aspecto pode levar a práticas pedagógicas que não consideram adequadamente as múltiplas identidades e experiências das crianças, limitando sua capacidade de se conectar com os alunos e de promover um ambiente de aprendizagem enriquecedor.

Segundo Zeichner (1993), a carência de uma valorização adequada da profissão docente na Educação Infantil também é um fator que impacta a qualidade da formação. Com isso, a percepção de que o trabalho com crianças pequenas é menos significativo ou menos exigente do que o ensino em níveis mais avançados pode desmotivar a busca por uma formação mais robusta e especializada.

Diante o exposto, descobre-se que essa desvalorização contribui para uma menor atração de profissionais qualificados para a área, perpetuando um ciclo de inadequação na formação e na prática pedagógica, já que a valorização do trabalho do professor da Educação Infantil é uma questão primordial que precisa ser abordada para melhorar a qualidade da formação e, consequentemente, a qualidade da educação oferecida.

A interseção entre teoria e prática na formação de professores para a Educação Infantil deve ser um campo fértil para a inovação pedagógica. As perspectivas contemporâneas apontam para a necessidade de uma formação que não apenas transmita conhecimentos teóricos, mas também capacite os educadores a experimentarem e adaptarem esses conhecimentos em contextos práticos, mediante a aplicação de um currículo de formação que inclua práticas de campo significativas, onde os futuros professores possam aplicar teorias pedagógicas em situações reais e receber feedback construtivo.

Schön (2000) esclarece que a compreensão dos processos de desenvolvimento infantil é outra área vital que deve ser profundamente abordada na formação de professores, pois o desenvolvimento das crianças pequenas é complexo e amplo, envolvendo aspectos cognitivos, emocionais, sociais e físicos que interagem de maneira dinâmica.

Nesse contexto, ressalta-se que a formação dos professores deve muni-los com um conhecimento profundo sobre esses processos, para que possam identificar e responder às necessidades individuais de cada criança, considerando que a ausência de um conhecimento sólido sobre o desenvolvimento infantil pode levar a abordagens pedagógicas inadequadas, que não consideram as etapas de crescimento e as necessidades específicas de cada fase do desenvolvimento.

É igualmente importante considerar a formação em aspectos relacionados com a legislação educacional e a gestão escolar. Os professores da Educação Infantil devem estar cientes das políticas e regulamentos que afetam sua prática, bem como das melhores práticas de gestão em sala de aula.

Nesse sentido, revela-se que uma compreensão sólida dessas questões auxilia na criação de ambientes de aprendizagem organizados e em conformidade com as normas educacionais, garantindo que os direitos das crianças sejam respeitados e que a prática pedagógica esteja alinhada com os objetivos educacionais estabelecidos.

Essa discussão revela a complexidade e a importância da formação de professores para a Educação Infantil, destacando a necessidade de uma abordagem que integre teoria e prática, valorize a diversidade e a experiência profissional contínua, e prepare os educadores para enfrentar os desafios e as oportunidades do ensino infantil com competência e sensibilidade.

5 CONCLUSÃO

Essa visão configura-se para a educação infantil como um paradigma de conhecimento que integra e transcende as concepções teóricas, bem como se articula com a prática, abrangendo tanto o individual quanto o coletivo.

Os conhecimentos acumulados ao longo da formação docente são imperativos para a formação de um profissional responsável, cuja atuação vai além da mera transmissão de conteúdos e projetos. Esse profissional é desafiado a reconhecer e valorizar a parte humana e dinâmica das crianças sob sua responsabilidade, uma vez que cada criança é um ser único, com sua própria individualidade, cultura e perspectiva, moldadas por suas experiências familiares e contextos culturais.

Embora a formação e a prática exerçam papéis fundamentais, o olhar e a perspectiva do futuro profissional têm o potencial de se tornar o verdadeiro divisor de águas na formação docente. Assim, diferentemente do ensino fundamental, que se concentra no acúmulo de conteúdos e áreas de conhecimento, acompanhados por avaliações processuais, a educação infantil adota uma abordagem formativa que visa a construção de fundamentos para o conhecimento, valores, vivências e cidadania.

O cerne da educação infantil reside na observação e compreensão do ser humano em constante desenvolvimento. Aqui, a avaliação não se restringe a medidas tradicionais como notas e promoções, mas se concentra na observação do amadurecimento e da aprendizagem real e efetiva, que em vez de se preocupar com indicadores quantitativos, enfatiza no crescimento qualitativo e na formação integral da criança. Desa forma, torna claro que esse modelo permite que a prática pedagógica se ajuste às necessidades individuais e ao ritmo de desenvolvimento de cada aluno, refletindo uma concepção mais ampla e profunda da educação.

Este aspecto distingue a educação infantil de todas as outras etapas da educação básica, representando o cerne do diferencial para o profissional em formação. Assim, o futuro educador infantil deve transcender a mera compreensão de conteúdos pedagógicos e se tornar um profundo conhecedor da complexidade humana e dos processos de interação.

Todavia, o docente precisa dominar a dinâmica dos relacionamentos, entender e mediar conflitos, e promover estímulos essenciais ao desenvolvimento motor tanto amplo quanto fino. Além disso, deve integrar um conhecimento abrangente e sofisticado sobre diversos aspectos críticos e necessários à educação infantil.

Nesse contexto, Pimenta (2012, p. 45) esclarece com clareza: […] os programas de formação profissional atualmente em vigor revelam a urgência de delinear um perfil profissional que se ajuste às especificidades das funções desempenhadas em creches e pré-escolas, destacando a falta histórica de tradição no atendimento a crianças pequenas […] Práticas de antecipação da escolaridade, comuns no ensino fundamental, frequentemente ignoram a maneira singular com que as crianças compreendem o mundo.

No entanto, essa realidade é muitas vezes desconsiderada pelos profissionais da educação infantil, que continuam a operar sob paradigmas que não refletem adequadamente a complexidade do desenvolvimento infantil e as necessidades educativas dessa faixa etária.

A valorização atribuída aos profissionais da educação infantil frequentemente não reflete a importância e a complexidade de sua função, resultando na desvalorização deste nível educativo e, consequentemente, na baixa atratividade para a carreira. Esse desinteresse se traduz em um preocupante índice de indivíduos sem a formação inicial adequada assumindo papéis críticos na formação das crianças.

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