FEIRA DE CONHECIMENTOS COM SABERES AFRICANOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA ESCOLA PÚBLICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11185952


Cássio Silva Castanheira1


Resumo: A escola tem um papel próprio na produção do conhecimento e busca desenvolver nos estudantes o gosto pela pesquisa. Por isso, os professores e alunos da Escola Estadual Benjamim Guimarães realizaram uma Feira de Conhecimentos, no âmbito da Escola, envolvendo uma diversidade de saberes. O evento aconteceu no final do ano letivo de 2023, utilizando estratégias científicas diferentes para apresentar novos conhecimentos, os estudantes introduziram a comunidade escolar no universo das artes, cultura e da investigação científica.  A equipe pedagógica avaliou os trabalhos a partir de critérios estabelecidos no projeto político pedagógico (PPP) da escola que prevê um ensino inovador, o combate à estereótipos, a valorização das diferenças e o cumprimento da lei 10.639/03. É importante destacar que a escola tem como objetivo uma maior integração com a comunidade escolar utilizando para isso as atividades previstas em seu calendário. O presente artigo tem como finalidade apresentar essa experiência pedagógica, em especial, no tocante à necessidade da valorização de múltiplos saberes e o respeito à cultura e tradições afrobrasileiras.

Palavraschave: Feira de Conhecimentos: Educação; Lei-10.639/03

Summary: The school has its own role in the production of knowledge and seeks to develop a taste for research in students. Therefore, the teachers and students at Escola Estadual Benjamin Guimarães decided to hold a Knowledge Fair involving a diversity of knowledge. The event took place in the school’s sports hall and court, being evaluated by the pedagogical team, on December 2, 2023. Using different scientific strategies to present new knowledge, the students introduced the school community to the universe of arts, culture and scientific research. The pedagogical team evaluated the work based on the criteria established in the school’s political pedagogical project (PPP), which provides innovative teaching, combating stereotypes, valuing differences and complying with law 10.639/03. It is important to highlight that the school aims to achieve greater integration with the school community using the activities planned in its calendar. The purpose of this article is to presente this pedagogical experience, in particular, regarding the need to value multiple Knowledge and respect for Afro-Brasilian culture and traditions. Keywords: Knowlwdger Fair: Education: Law- 10.639/03

INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo apontar novos caminhos para a educação em ciências na escola pública. Para tal, discutiremos a realização da Feira de Conhecimentos como uma estratégia motivadora para o estudo da cultura africana e afro-brasileira, bem como ampliar a qualidade educacional por meio de um ensino inovador.

Executar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular, resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas (BRASIL, 2018, p.9).

É preciso compreender que novos saberes precisam ser incluídos no âmbito escolar, e que o discurso racional lógico precisa deixar de ser o eixo central das pesquisas. Um equilíbrio entre as formas de pensar pode abrir um espaço para o conhecimento que hoje denominamos de sobrenatural. O fato dos saberes dos povos africanos que dera acesso a recurso naturais e garantiram a sua subsistência nos seus territórios serem associados ao que chamamos de religião ignora seus feitos e vivências. Estes saberes devem ser ensinados de forma simultânea com os saberes europeus, uma vez que um carrega características do outro. Para muitos povos africanos, a existência se traduz no seu bem-estar no mundo, através do cotidiano sempre conectado ao universo social, cósmico, natural e sobrenatural ao mesmo tempo, sendo impossível separar o que que é concreto e espiritual, ou determinar o que é sagrado ou profano (MUNANGA, 1988).

A escola precisa de ousadia, é necessário a desconstrução de uma maneira única de ver a ciência. A Escola precisa admitir que os saberes da cultura africana são tão sofisticados quanto da ciência moderna ocidental. Estes saberes têm em suas estruturas características diferentes, porém dotados de igual importância e beleza.

A ESCOLA E A LEI 10.639/03

A escola tem um papel próprio na produção do conhecimento e precisa ir além do conhecimento estabelecido. As Feiras de Ciências ou Feiras do Conhecimento buscam ampliar o espaço para a curiosidade científica em sua dimensão histórica, social e cultural. Cabe à escola definir estratégias para a elaboração de estudo em contexto nos quais se apresenta estes conhecimentos. Os professores devem atuar como orientadores dos trabalhos desenvolvidos pelos estudantes no processo de (re)-construção dos saberes. A ampliação dos saberes acontece simultaneamente com a ampliação da capacidade comunicativa e o desenvolvimento da criticidade.

 A cultura africana se apresenta em quase todas as práticas cotidianas do território brasileiro, mas ainda é discriminada e desconhecida no currículo escolar. Esta diversidade se faz presente nas manifestações artísticas, na culinária, na linguagem, mas nem sempre foi entendida como saberes históricos.

Portanto, a Feira de Conhecimentos pode oportunizar o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento, valorizar as diferenças, combater estereótipos e libertar de preconceitos. 

PERCURSO METODOLÓGICO

A Feira de Conhecimentos aconteceu na manhã do dois de dezembro de 2023 na quadra e Galpão de esporte da Escola Estadual Benjamin Guimarães foi realizada pelos estudantes e professores das turmas 801,802, 803, 901,902 e 903, que confeccionaram 12 trabalhos, dentre eles: maquetes, banners, cartazes e experimentos. Os estudantes pesquisaram e elaboraram maquetes sobre o Sistema Solar, Via Láctea, planeta Terra, experimento sobre ciclo evolutivo de animais. Banners sobre a mitologia dos orixás combinado com os signos do zodíaco, cartazes do congado da cidade dos anos 1920 até a atualidade, vida em outros planetas, Fases da Lua, constelações do zodíaco e buraco negro. A proposta foi envolver temáticas como vida, luz, Energia, Essência e arte, permitindo o desenvolvimento de conteúdos de forma interdisciplinar.

Formou-se uma comissão de avaliação pela equipe pedagógica da escola que através de uma ficha de anotações atribuiu notas de 0 a 10 pontos seguindo os seguintes critérios: o domínio dos saberes de cada trabalho apresentado pelos estudantes; a relevância dos saberes para a sociedade; saberes apresentados no trabalho que combatem estereótipos e valorize as diferenças. É importante destacar que todos os trabalhos estavam alinhados ao Projeto Político Pedagógico (P.P.P) da escola.

RESULTADO E CONCLUSÃO

A Feira de Conhecimentos propiciou a oportunidade de parcerias multidisciplinares entre alunos e professores.

Em relação aos trabalhos que abordaram a cultura e as tradições afrobrasileiras, destaca saberes da ciência moderna e dos povos africanos, algumas representações buscaram combinar estes saberes.

Entre as discussões suscitadas foi demonstrado que determinados saberes dos povos africanos são controlados por forças sobrenaturais, e que estas forças têm um papel equivalente às forças da ciência moderna. Neste equilíbrio de saberes, professores e estudantes perceberam que a morte para os povos africanos não é uma ruptura, é uma passagem para outro ciclo de vida.

 Destacamos, ainda, as discussões sobre os problemas ambientais, os alunos citaram a pesquisadora Catherine Walsh que afirma sobre os povos africanos possuírem uma relação indissociável com a natureza, sentindo-se parte integrante desta; de modo que negligenciar a natureza significa abandonar-se a si mesmo (Walsh, 2008). 

Na cosmovisão africana, o material também é sagrado, o que o torna apto para receber a presença dos deuses. O mundo visível e o invisível habitam um mesmo plano e os deuses são tão imperfeitos como os homens, mas se destacam por suas virtudes e servem como inspiração para os seres humanos. O papel dos orixás (deuses) é trabalhar com os vivos, fazendo todo o possível para que a humanidade não desapareça. 

Considerando-se a importância das Feiras de ciência e conhecimento como estratégia de uma alfabetização científica dos estudantes, este trabalho propõe uma reconstrução de saberes com a proposta de diálogo entre os saberes africanos e os saberes da ciência moderna. 

É importante destacar que esta é uma temática muito rica e pouco abordada no cotidiano escolar. A desconstrução de uma maneira única de ver o mundo contribui para novas interpretações no campo do conhecimento científico e histórico, bem como para a resolução de preconceitos que persistem em nossa sociedade.

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1Escola Estadual Benjamim Guimarães-EEBG
Pça Maria Ambrosina Mourão Guimarães,0212 – Bom Sucesso-MG cassio.castanheira@educacao.mg.gov.br