PSYCHOLOGICAL FACTORS TRIGGERED BY ACNE
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7937029
Beatriz Barros Ribeiro1
Hemely Ádria de Oliveira Santos2
Kênia Nogueira Ayres Argeo3
Francícero Rocha Lopes4
Polyana Martins Neiva Porfírio5
Florence Germaine Tible Lainscek6
RESUMO
Introdução: Acne é uma doença de pele que ocorre quando as glândulas secretoras de óleo (glândulas sebáceas) se tornam inflamadas ou infectadas, provocando cravos, espinhas, cistos, caroços e cicatrizes. Nos últimos anos, muito tem-se debatido sobre o seu impacto no desenvolvimento psicológico dos pacientes acometidos com a acne. Objetivo: Analisar os impactos que a acne gera no âmbito psicológico dos indivíduos. Material e Método: Trata-se de estudo explicativo e descritivo, por meio de uma revisão bibliográfica, ao qual se fundamentou em trabalhos científicos já publicados entre os anos de 2018 a 2022 em língua portuguesa e inglesa. A coleta de dados se deu em base de banco de dados, tais como PubMed, Lilacs, Scielo e Google Acadêmico. A busca resultou em 30 artigos após utilização dos critérios de inclusão e exclusão; restaram 17 artigos para análise, interpretação e discussão. Resultados: Os principais resultados mostraram que de fato a acne traz danos ao aspecto psicológico dos pacientes. Dentre os que mais se destacam estão a disfunção emocional, afetando o funcionamento social do indivíduo – a extensão negativa das autopercepções e limitações na apresentação. Conclusão: Ansiedade, raiva, baixa autoestima, solidão e até mesmo desenvolvimento de tendência suicida, são alguns danos desencadeados pelo surgimento da acne. Os profissionais da área da Estética e Cosmética possuem papel fundamental no tratamento da acne, uma vez que, estes são responsáveis pela recomendação e execução de terapêuticas adequadas de acordo com cada caso, ocasionando a diminuição de transtornos psicológicos e proporcionando a melhoria da autoestima desses indivíduos.
Descritores: Acne. Efeitos. Psicologia. Imagem.
ABSTRACT
Introduction: Acne is a skin disease that occurs when the oil secretory glands (sebaceous glands) become inflamed or infected, causing blackheads, pimples, cysts, lumps and scars. In recent years, much has been debated on its impact on the psychological development of patients committed with acne. Objective: To analyze the impacts that acne generates on the psychological scope of individuals. Material and Method: This is an explanatory and descriptive study, through a bibliographic review, which was based on scientific papers already published between 2018 and 2022 in Portuguese and English. Data collection took place on databases, such as PubMed, Lilacs, Scielo and Google Academic. The search resulted in 30 articles after using the inclusion and exclusion criteria; There were 17 articles for analysis, interpretation and discussion. Results: The main results showed that actually acne brings damage to the psychological aspect of patients. Among those that stand out are the most emotional dysfunction, affecting the social functioning of the individual – the negative extension of self -perceptions and limitations in the presentation. Conclusion: Anxiety, anger, low self-esteem, loneliness and even the development of suicidal tendencies are some of the damages caused by acne. Professionals in the Aesthetics and Cosmetics area play a fundamental role in the treatment of acne, since they are responsible for recommending and carrying out the appropriate treatment in accordance with each case, reducing psychological disorders and improving the self-esteem of these individuals.
Keywords: Acne. Effects. Psychology. Image.
INTRODUÇÃO
A acne é descrita como um processo inflamatório da pele, que acontece quando algumas glândulas sebáceas ficam obstruídas com oleosidade e pele morta. Quando essas células ficam obstruídas, não conseguem eliminar impurezas e acabam servindo como um foco para bactérias e ainda mais oleosidade, resultando em cravos e espinhas, que são característicos da acne, além de nódulos e pústulas.¹
O local onde mais se encontra a acne é no rosto. Mas também pode ser encontrada em outros pontos, tais como as costas, pescoço, ombro e o peito. Em relação à faixa etária, é sabido que ela se manifesta mais comumente na adolescência, onde sua prevalência varie entre 35% e 90%, já que os hormônios sexuais costumam fomentar uma maior produção de oleosidade na pele, o que acaba por aumentar o quadro inflamatório.2
A duração da doença é variável, podendo persistir na idade adulta. Atinge ambos os sexos, sendo mais grave e prevalente no sexo masculino.²
Importante mencionar que a acne possui diversos níveis de gravidade. Por exemplo, no grau I há a presença principalmente de comedões, podendo apresentar algumas pápulas e raras pústulas. No grau II tem-se a presença de comedões, pápulas eritematosas (avermelhadas) e pústulas. Já no grau III existe reação inflamatória que atinge a profundidade do folículo até o pêlo, formando nódulos e cistos. O grau IV constitui uma forma grave de acne, também chamada de conglobata, onde além dos cistos e pústulas, existe a presença de abscessos (cistos e canais de pus). E por fim, encontra-se o grau V que é uma forma extremamente rara e potencialmente fatal, por isto também chamada de fulminante. Apresenta-se na forma de febre, dores articulares e comprometimento do estado geral.3
Assim, esse estudo teve o objetivo de analisar, por meio de coleta de dados, a influência que a acne possui para aqueles indivíduos que são acometidos por essa inflamação. Buscou-se nessa análise detectar os principais distúrbios ou mudanças psicológicas surgidas desde o aparecimento da acne e como isso pode afetar o tratamento da mesma. Do mesmo modo, também se buscou compreender o papel do profissional de estética frente a esse cenário.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de uma revisão sistemática de literatura, cujo método permite a síntese de vários estudos já publicados, pautados nos achados apresentados pelas pesquisas, resultando em uma análise ampliada e visualização de lacunas existentes.
Na primeira etapa, delimitou-se a questão para a revisão: o que os estudos científicos indicam sobre os efeitos da acne no desenvolvimento psicológico dos indivíduos?
Na segunda etapa, foram utilizados como filtros os idiomas, português, inglês ou espanhol, no recorte temporal de 2018 a 2022. Foram incluídos artigos originais disponíveis na íntegra no formato on-line. Foram excluídos relatos de experiência, estudos de reflexão, relatórios de gestão editoriais, cartas, artigos de opinião, comentários, resumos de anais, ensaios, publicações duplicadas, dossiês, documentos oficiais e artigos que não atendessem o escopo desta revisão.
Para o levantamento da literatura, foram consultadas as bases bibliográficas eletrônicas entre os dias 01 a 28 de março de 2023, sendo elas: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), PubMed e Google Acadêmico.
Para composição da estratégia de busca, selecionou-se palavras-chave e descritores combinados, elaborou-se as seguintes chaves de busca de acordo com a base de dados:
Fluxograma 1 – Desenvolvimento da coleta de dados para essa pesquisa:
Fonte: Elaborado pelas autoras (2023)
LILACS – 07 SCIELO – 06
GOOGLE AC.– 9 PUBMED – 08
RESUMOS – 30
EXCLUÍDOS – 02
ARTIGOS EM TEXTOS COMPLETOS – 28
ARTIGOS COMPLETOS EXCLUÍDOS – 11
NÚMERO DE ARTIGOS INCLUÍDOS – 17
A partir da estratégia de busca foram identificados 30 estudos nas quatro bases bibliográficas eletrônicas pesquisadas. Na terceira etapa, os estudos identificados foram pré-selecionados por meio da leitura de título, resumo, palavras-chave ou descritores, excluindo-se aqueles que não atenderam aos critérios de inclusão, totalizando 28 artigos. Estes foram lidos na íntegra, excluindo-se os repetidos e os que não atenderam ao escopo desta revisão, totalizando 17 estudos utilizados neste estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados coletados por esse estudo se referem a analisar o impacto da acne no âmbito psicológico dos indivíduos. Para melhor entendimento sobre os resultados encontrados, apresenta-se o Quadro 1; a saber:
QUADRO 1 – Artigos analisados na revisão integrativa sobre a temática
TÍTULO | AUTORES (ANO) | TIPO DE ESTUDO | OBJETIVO |
Acne da mulher adulta: aspectos epidemiológicos, diagnósticos e terapêuticos | ADDOR FAS, SCHALKA S. (2019) | Relato de Caso | Analisar o impacto epidemiológico, diagnóstico e terapêutico da acne em mulheres. |
Avaliação da qualidade de vida e perfil epidemiológico de mulheres adultas com acne facial | ANDREOLA SL, CAMARGO J, GODOY AU, VIOLA F, MADEIRA K, SIMON RDT (2021) | Relato de Caso | Avaliar o impacto da acne na qualidade de vida de mulheres adultas com acne facial. |
Acne na mulher adulta: fatores associados, histórico terapêutico e impacto psicológico | ATIHE, F. M. V., MENDES, C. (2021) | Estudo Clínico | Determinar a prevalência de acne feminina adulta em acadêmicas de medicina de uma instituição de ensino privada do Estado de Santa Catarina, assim como hábitos, fatores ambientais envolvidos na patologia e o impacto psicológico. |
Acne feminina adulta: um guia para a prática clínica | Bagatin E, Freitas THP, Rivitti-Machado MC, Ribeiro BM, Nunes S, Rocha MAD. (2019) | Estudo Clínico | Analisar a acne feminina adulta na prática clínica. |
Um estudo prospectivo examinando fatores de gatilho e anormalidades hormonais na acne feminina adulta | Bansal P, Sardana K, Vats G, Sharma L, Garga UC, Khurana A. (2020) | Estudo prospectivo | Avaliar os fatores de gatilho e anormalidade hormonais desencadeados pela acne em mulheres adultas. |
Stressful life events and psychiatric comorbidity in acne–a case control study. | Bondade, S.; Hosthota, A.; Basavaraju, V. (2018) | Estudo de Caso | Analisar eventos estressantes da vida e comorbidade psiquiátrica no estudo de controle de casos de acne. |
Acne: um tratamento para cada paciente | Brenner, F. M. et al. (2019) | Revisão sistemática da literatura | Observar o desenvolvimento da acne em pacientes diferentes e evidenciar o trabalho do profissional de Estética e Cosmética nesse cenário. |
Efeitos da acne vulgar: transtornos na adolescência | Carvalho, R. I. R., Andrade, K. L., Roewer, S. P. (2022) | Revisão Sistemática da Literatura | Identificar os efeitos causados pela acne na fase da adolescência e os seus transtornos psicossociais. |
A ideação suicida, problemas de saúde mental e comprometimento social são aumentados adolescentes com acne: um estudo de base populacional | Halvorsen, J. A. et al. (2018) | Estudo de base populacional | Analisar problemas relacionados com a presença de acne em adolescentes. |
Investigação de depressão e qualidade de vida em pacientes em tratamento para acne | Langer, L. I. V., Prim, L. R. (2020) | Dissertação | Avaliar se há ou não aparecimento de sinais depressivos em pacientes com acne. |
Sintomas depressivos antes e durante o tratamento de acne com isotretinoína e suas correlações: estudo prospectivo | Luvizotto PP, Schmitt JV. (2020) | Estudo prospectivo | Avaliar pacientes em tratamento com isotretinoína oral para acne moderada a grave quanto à evolução de sintomas depressivos e suas correlações. |
Maquiagem corretiva | Melcher, B. U.; Oliveira, S. P. (2018) | Revisão Sistemática da Literatura | Compreender a relevância que a maquiagem corretiva possui para a autoestima de mulheres com acne. |
A vivência da Acne e as suas consequências psicológicas | Neves, C. R., Dias, C. A. A., Garcia, J. T., & Simões Dias, S. A. da F. M. (2021) | Revisão Sistemática da Literatura | Identificar as características e o impacto psicológico associado à vivência subjetiva de ter acne. |
O uso da técnica da camuflagem na cobertura de vitiligo e manchas de acne para elevar a autoestima das mulheres | Rodrigues, D. A., Andrade, K. L., Melo, R. L. (2022) | Estudo de Caso | Verificar, através da técnica de camuflagem na cobertura de vitiligo e manchas de acne, relatos de melhoria da autoestima. |
Acne de início de adultos: Desafios de prevalência, impacto e gerenciamento | Rocha MA, Bagatin, E. (2018) | Estudo de Caso | Avaliar o impacto da acne no desenvolvimento psicológico de pacientes dermatológicos. |
A melhora da autoestima de adolescentes com acne com o uso da maquiagem | Silva, J. M. da C.; Santis, S. A. C. de. (2018) | Dissertação | Dimensionar o uso da maquiagem no aumento da autoestima com adolescentes com acne. |
Risk of depression among patients with acne in the U.K: a population-based cohort study. | Vallerand, I. A. et al. (2018) | Estudo de base populacional | Avaliar o risco de depressão entre pacientes com acne no Reino Unido. |
Fonte: Criado pelas autoras (2023)
No presente estudo foram analisados 17 artigos científicos que discorrem a respeito do tema central proposto por esse trabalho. Considerando a amostra analisada, os resultados obtidos por esse estudo, foram apresentados separadamente no intuito de facilitar o entendimento dos mesmos.
Nos resultados encontrados por esse estudo, mostrou que a acne, tal como outras doenças de pele, influencia o dia a dia dos pacientes e daqueles que com eles privam. Langer e Prim (2020)4 em seu estudo apontaram que o vestuário, férias, encontros, festas, fotografias, relacionamentos, vida sexual, vida social, escola, trabalho acabam ficando afetados pelo surgimento da acne, podendo originar estigma, de estresse social e psicológico, depressão, absentismo no trabalho e menor produtividade.
Na pesquisa de Addor e Schalka (2019)5 os autores afirmam que a presença de distúrbios psicológicos em pacientes com acne é comparável em pacientes com diabetes mellitus, asma, artrite e epilepsia, principalmente em mulheres com acne grave, que apresentam imagem negativa corporal e baixa autoestima, com traços compulsivos de ansiedade, depressão e algumas vezes, tendências suicidas. Os autores relatam que doenças dermatológicas acometem um elevado número de pacientes com comorbidades psiquiátricas, incluindo também pacientes com acne.
Andreola et al. (2021)6 acentuam que uma forma de medir o quanto a acne poderá influenciar a qualidade de vida de um paciente com acne, poderá passar pela percepção dos seus efeitos nas rotinas diárias e no impacto psicológico, pela comparação entre as expectativas do paciente e a realidade no que concerne ao seu dia a dia, ou ainda pela possibilidade do paciente poder desempenhar as suas atividades diárias.
De todo modo, os estudos coletados são enfáticos ao afirmarem que os pacientes com acne têm, em regra, níveis mais elevados de ansiedade, depressão, evitamento de danos, preocupação, pessimismo, dependência e consciência integrada, do que outro grupo.
Bondade, Hosthota e Basavaraju (2018)7 afirmam inclusive que de fato, a ansiedade originada pela acne poderá ser, inclusive, superior à registrada pelos pacientes com cancro de pele. Esta situação pode ser explicada pela importância que a imagem tem – principalmente para os adolescentes – e pelo impacto da pele na qualidade de vida dos jovens e nos problemas ocorridos relacionados com a pele, que podem levar à baixa estima, revolta, ansiedade e depressão.
O grupo que mais sente os efeitos da acne no âmbito psicológico são os adolescentes e as mulheres. Diversas pesquisas apontaram que são esse grupo que mais sofrem com a presença da acne, seja no rosto ou em regiões facilmente expostas.
No grupo de adolescentes, juntamente com o de jovens adultos, são os que têm maior dificuldade em ajustar-se ao fato da imagem causada pela doença da pele. Carvalho, Andrade e Roewer (2022)8 sublinham a maior incidência da depressão em pacientes com acne, nomeadamente por parte de pacientes mais velhos. Silva e Santis (2018)9 salientam mesmo o risco da ideação de suicídio – principalmente entre as mulheres.
Vallerand et al. (2018)10 explicam que a acne é uma doença caracterizada não apenas pelas marcas no rosto, mas também pelas implicações que podem causar. Muitas vezes as lesões decorrentes da acne não podem ser ocultadas sob as roupas, o que pode vir a prejudicar significativamente o aspecto pessoal e a autoestima do adolescente. Segundo os autores, um fato considerável se dá por conta da possível ridicularização por parte dos colegas, causando desmoralização, embaraço e frustração. Neste caso, a acne quando tratada torna-se então mais aceitável pelos colegas, fazendo com que a frustração diminua e que os jovens sintam-se menos excluídos socialmente.
No estudo de Rocha e Bagatin (2018)11, por exemplo, foi relatado que 87% dos entrevistados já sofreram bullying por causa da acne, enquanto apenas 13% dos respondentes não sofreram nenhum tipo de bullying. Esse resultado mostra novamente o quanto a acne interfere na concepção que o indivíduo possui sobre a própria imagem e sobre como os outros olham para isso.
Em estudo semelhante, Halvorsen et al. (2018)12, ao desenvolverem uma pesquisa com alunos de uma escola em Oslo (Noruega) quanto à problemas relacionados com a presença de acne, constataram relatos que dentre os entrevistados, 90% tinham depressão e já tinham sofrido algum tipo de bullying por parte de pessoas próximas.
No estudo de Neves et al. (2021)13 tinha o objetivo de identificar as características e o impacto psicológico associado à vivência subjetiva de ter acne. Para isso foi feito uma amostra composta por 1.666 sujeitos, com idade compreendida entre os 17 e os 49 anos, tendo-se dividido a amostra em três grupos: sujeitos sem Acne, sujeitos que tiveram Acne, e sujeitos com Acne. Aplicou-se um protocolo constituído por instrumentos para medir a qualidade de vida, a ansiedade, depressão e o estresse, as estratégias de coping, a alexitimia, e as crenças e comportamentos à volta da Acne. Com base nos resultados deste estudo, deduziu-se que os sujeitos sofreram alguns impactos com a acne, principalmente quando ela está na fase moderada ou grave. Encontrou-se entre os sujeitos, indicadores de depressão e ansiedade, além de quadro de estresse.
Luvizotto e Schmitt (2020)14 acreditam que a acne atua, portanto, como uma situação estressora para o paciente, não propriamente pela doença em si, mas sobretudo pela afetação da sua imagem perante terceiros, com interferência significativa nas relações interpessoais.
No caso das mulheres, os efeitos psicológicos também são sentidos. Na pesquisa de Atihe e Mendes (2021)15 tinha-se o propósito de determinar a prevalência de acne feminina adulta. No caso em questão, foi pesquisado mulheres acadêmicas de Medicina em uma instituição de ensino privada no Estado de Santa Catarina. Nos resultados desse estudo, apontou que do total de acadêmicas, 65,4% referiram satisfação com a própria aparência, porém 22,2% referiram ansiedade e/ou introversão em relacionamentos, 17,3% ansiedade e/ou introversão na vida profissional e 66,7% manipulam lesões acneicas.
Bansal et al. (2020)16 em sua pesquisa detectou que nos casos das mulheres com acne, no quadro inflamatório as lesões são dolorosas e o aspecto pouco estético reforça quadros de baixa autoestima, perda de confiança em si mesmo, percepção de menor atratividade sexual, julgamentos de outras pessoas, estigmatização, estresse, perda de oportunidades de emprego, depressão e ideação suicida.
A possibilidade de medir a qualidade de vida dos pacientes com Acne pode levar à escolha da melhor terapia. Vários são os procedimentos que podem ser úteis na hora de tratar a acne. É por meio do tratamento que se pode diminuir o aparecimento da acne e consequentemente os seus efeitos no indivíduo.
Nos dizeres de Bagatin et al. (2019)17 a utilização de cosméticos com a função antiacne contém fármacos específicos que atuam no combate das bactérias causadoras da acne. Além disso, auxiliam na diminuição do pH da pele, fazendo a remoção da camada superficial de gordura da epiderme e dos poros, impedindo assim, a proliferação das bactérias.
No estudo de Rodrigues, Andrade e Melo (2022)18 tinha-se o objetivo de verificar, através da técnica de camuflagem na cobertura de vitiligo e manchas de acne, relatos de melhoria da autoestima. Após tal procedimento, observou-se nítida sensação de contentamento por parte de ambas modelos testadas. Nesse sentido, os autores afirmam que o esteticista ao realizar tais procedimentos, pode trazer novamente a esses indivíduos a sua aceitação, autoconfiança, possibilidade de maior convivência social e alegria de viver.
Numa mesma linha de pesquisa, Melcher e Oliveira (2018)19 evidenciaram em seu estudo a importância da camuflagem cosmética em pacientes com acne. Nos resultados trazidos neste estudo, a modelo estudada relatou que adorou a maquiagem, sua autoestima elevou-se devido a camuflagem sobre a pele, mas que mesmo assim, a presença da acne não lhe causava danos psicológicos e nem isolamento social. Na conclusão, os autores afirmam que a principal finalidade da camuflagem cosmética é que, além de corrigir e exaltar as qualidades já existentes, ela é capaz de promover o aumento da autoestima e da autoconfiança.
Diante disso, esse estudo caminha para o entendimento de que apenas o tratamento efetivo da acne é que pode diminuir os danos psicológicos nos pacientes. Uma vez eliminado o problema gerador do dano psicológico, que no caso é a acne, também se previne maiores problemas de ordem psicológica ao paciente.
Cabe salientar por fim, que nesses casos, o papel do profissional responsável pelo tratamento e familiares são essenciais para o processo de superação da acne. No trabalho de Brenner et al. (2019)20, mostrou que os profissionais da área da Estética e Cosmética possuem papel fundamental no tratamento da acne, uma vez que, estes são responsáveis pela recomendação e execução de terapêuticas adequadas de acordo com cada caso, ocasionando a diminuição de transtornos psicológicos e proporcionado a melhoria da autoestima desses indivíduos.
É preciso ter uma rede de apoio, contando com família, profissionais de todas as áreas como um dermatologista ou esteticista, além de um acompanhamento com psicólogo, para que o paciente entenda que a acne pode ser facilmente tratada e eliminada. O tratamento desta inflamação pode trazer de volta o prazer de gostar de si mesmo.
CONCLUSÃO
A pele expressa para o mundo externo o que acontece no interno. Assim, estar acometido por uma doença de pele influencia na relação com o mundo, pela exposição ao outro, especialmente no que tange à autoestima e aparência.
Neste estudo, teve-se a finalidade de analisar o impacto que acne possui para o indivíduo, refletindo principalmente no seu âmbito psicológico. No decorrer desta pesquisa ficou evidente constatar que a acne atinge diversos aspectos psicológicos naqueles que a possuem.
Ansiedade, raiva, baixa autoestima, solidão e até mesmo desenvolvimento de tendência suicida, são alguns danos encontrados nos estudos coletados para esse estudo, que são desencadeados pelo surgimento da acne.
Restou estabelecido pelo que foi discutido aqui, que a acne pode se tornar grave dependendo do caso e ter efeito psicológico dentro de curto prazo, ocasionado assim isolamento do indivíduo do convívio social, causando diminuição da autoestima, podendo ainda causar depressão devido às marcas e cicatrizes nas regiões mais afetadas.
Nesse cenário, o papel do profissional de Estética e Cosmética, por exemplo, é fundamental. Esse profissional pode ser útil além do que ele é capacitado a fazer, indo na direção de prestar informações necessárias ao paciente, tranquilizando-o, fazendo entender-lo que a acne pode ser removida e a pele voltar a ser saudável e com aparência aceitável. Ao dispor de informações e prestar um acompanhamento humanizado, os danos psicológicos podem ser reduzidos e até mesmo evitados.
Ao fim, esse estudo sugere que novas investigações sejam realizadas, a fim de recolher informações sobre a evolução da representação social da acne, determinando até que ponto a acne já não é vista como algo estigmatizante, e se tornará mais banal e insignificante. Propõe-se, também, que a percepção da acne pelos clínicos seja avaliada e comparada com os indicadores disponibilizados pela atual investigação, com vista à construção de um programa de saúde pública no Brasil com foco na prevenção das consequências psicológicas da Acne.
REFERÊNCIAS
1 Costa A, Alchorne MMA, Michalany NS, Lima HC. Acne vulgar: estudo piloto de avaliação do uso oral de ácidos graxos essenciais por meio de análises clínica, digital e histopatológica. An Bras Dermatol. 2017 Mar;82(2):129–34.
2 Silva PRS e, Sena NV, Pontes LM, de Souza MLP, Alves AFV, Amarante MS de LD, Brandão BJF. Perfil epidemiológico dos pacientes com acne vulgar atendidos na BWS, São Paulo – SP. BWSJ. 14º de julho de 2020;3(1)1-7.
3 Araújo AR, Silva FS, Moreira NV, Araújo BHA, Armanelli AP, Silva ACR. A luz como forma de tratamento da acne vulgar: uma revisão sistemática. Fisioter. Bras. 2018;19(2):202-209.
4 Langer, L. I. V., Prim, L. R. Investigação de depressão e qualidade de vida em pacientes em tratamento para acne. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como Requisito parcial à obtenção o grau acadêmico de Médico à Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná. Curitiba, 2020.
5 Addor FAS, Schalka S. Acne da mulher adulta: aspectos epidemiológicos, diagnósticos e terapêuticos. An Bras Dermatol 2019; 85:789-795.
6 Andreola SL, Camargo J, Godoy AU, Viola F, Madeira K, Simon RDT. Avaliação da qualidade de vida e perfil epidemiológico de mulheres adultas com acne facial. Clin Biomed Res 2021; 41:148-153.
7 Bondade, S.; Hosthota, A.; Basavaraju, V. Stressful life events and psychiatric comorbidity in acne–a case control study. Asia-Pacific Psychiatry, v. 11, n. 1, e12340, 2018.
8 Carvalho, R. I. R., Andrade, K. L., Roewer, S. P. Efeitos da acne vulgar: transtornos na adolescência. Revista Eletrônica Interdisciplinar Barra do Garças-MT, Brasil. vol. 14, n. 12, 2022.
9 Silva, J. M. da C.; Santis, S. A. C. de. A melhora da autoestima de adolescentes com acne com o uso da maquiagem. 2018. 14f. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnologia em Estética e Cosmética) – Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2018.
10 Vallerand, I. A. et al. Risk of depression among patients with acne in the U.K: a population-based cohort study. British Journal of Dermatology, v. 178, n. 3, p. 194–195, 2018.
11 Rocha MA, Bagatin, E. Acne de início de adultos: Desafios de prevalência, impacto e gerenciamento. Clin Cosmet Investig Dermatol 2018; 11:59-69.
12 Halvorsen, J. A. et al. A ideação suicida, problemas de saúde mental e comprometimento social são aumentados adolescentes com acne: um estudo de base populacional. Journal of Investigative Dermatology, [s. l.], v. 131, n. 2, p. 363-370, jan. 2018.
13 Neves, C. R., Dias, C. A. A., Garcia, J. T., & Simões Dias, S. A. da F. M. (2021). A vivência da Acne e as suas consequências psicológicas. Brazilian Journal of Health Review, 4(1), 1266–1294.
14 Luvizotto PP, Schmitt JV. Sintomas depressivos antes e durante o tratamento de acne com isotretinoína e suas correlações: estudo prospectivo. An Bras Dermatol. 2020; 95:760–3.
15 Atihe, F. M. V., Mendes, C. Acne na mulher adulta: fatores associados, histórico terapêutico e impacto psicológico. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Medicina como requisito parcial ao grau de Médico. Tubarão, 2021.
16 Bansal P, Sardana K, Vats G, Sharma L, Garga UC, Khurana A. Um estudo prospectivo examinando fatores de gatilho e anormalidades hormonais na acne feminina adulta. Indian Dermatol Online J 2020; 11:544-550.
17 Bagatin E, Freitas THP, Rivitti-Machado MC, Ribeiro BM, Nunes S, Rocha MAD. Acne feminina adulta: um guia para a prática clínica. An Bras Dermatol 2019; 94: 62-75.
18 Rodrigues, D. A., Andrade, K. L., Melo, R. L. O uso da técnica da camuflagem na cobertura de vitiligo e manchas de acne para elevar a autoestima das mulheres. Revista Eletrônica Interdisciplinar Barra do Garças – MT, Brasil. vol. 14, n.1, 2022.
19 Melcher, B. U.; Oliveira, S. P. Maquiagem corretiva. 2018. 10f. Trabalho de conclusão de curso (Curso de Tecnologia em Estética e Imagem Pessoal) – Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2018.
20 Brenner, F. M. et al. Acne: um tratamento para cada paciente. Revista de Ciências Médicas, Campinas, v. 15, n. 3, p. 257-266, maio/jun. 2019.
1Graduanda do Curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética da Universidade de Gurupi – UnirG. E- mail: beatriz.b.ribeiro@unirg.edu.br
2Graduanda do Curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética da Universidade de Gurupi – UnirG. E-mail: hemely.a.o.santos@unirg.edu.br
3Especialista em Fisioterapia na Saúde da Mulher. Docente do curso de Fisioterapia da Universidade de Gurupi – UnirG. E-mail: keniaayres@unirg.edu.br
4Docente do curso de Tecnologia em Estética e Cosmética da Universidade de Gurupi – UnirG. E-mail: Francicero@unirg.edu.br
5Docente do curso de Tecnologia em Estética e Cosmética da Universidade de Gurupi – UnirG.
6Docente do curso de Tecnologia em Estética e Cosmética da Universidade de Gurupi – UnirG.