OS EFEITOS DE CAMPOS MAGNÉTICOS ESTÁTICOS EM SISTEMAS BIOLÓGICOS E SUA RELAÇÃO COM O BIOMAGNETISMO MEDICINAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

THE EFFECTS OF STATIC MAGNETIC FIELDS ON BIOLOGICAL SYSTEMS AND THEIR RELATION TO MEDICAL BIOMAGNETISM: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7921788


Sérgio Lima Marino1
Zulmira Alves Araujo1
Angela Maria Rambo Martini2
Adriane Viapiana Bossa2
Ísis Paes d’Assunção Perez3


RESUMO

Os Campos Magnéticos Estáticos (CMEs) podem ser gerados a partir de ímãs. De acordo com a direção, intensidade, distribuição espacial e tempo de aplicação dos ímãs os CMEs podem gerar efeitos biológicos distintos, variando de benéficos a deletérios. Esta Revisão Bibliográfica Integrativa buscou investigar os efeitos dos CMEs em sistemas biológicos e sua relação com o Biomagnetismo Medicinal (BM). Para tanto, foi realizado o levantamento nas plataformas Pubmed e Scielo, usando os descritores “Campos magnéticos estáticos e sistemas biológicos”, “Terapias Magnéticas” e “Biomagnetismo Medicinal”. Para discussão dos resultados, além dos artigos que abordam a literatura do tema de interesse, utilizamos os livros de Isaac Goiz Durán, que apresentam as bases do BM até este momento. Na análise do conteúdo obtido, em sua quase totalidade, os estudos apresentados nos artigos tratava-se de ensaios pré-clínicos em modelos in vitro e in vivo, que apresentavam os efeitos dos campos magnéticos estáticos sobre os sistemas biológicos. Entre as terapias emergentes (Terapias Magnéticas) que utilizam CEM, está o BM, que faz uso de ímãs específicos para a técnica, com o objetivo de corrigir desequilíbrios energéticos do organismo, conhecidos como Pares Biomagnéticos (PBMs), que são as modificações bioelétricas e biomagnéticas, que estão relacionadas com alterações pH. A aplicação dos CME no BM mostrou benefícios terapêuticos na literatura encontrada, e pode ser uma ferramenta terapêutica coadjuvante às terapias convencionais, segundo seus princípios e indicações terapêuticas. Mais estudos são necessários para avaliar os mecanismos de ação envolvidos e avaliação de efeitos da técnica BM no organismo.

Palavras-chave: Campos Magnéticos Estáticos; Ímãs, sistemas biológicos; Terapias Magnéticas; Biomagnetismo Medicinal.

ABSTRACT

Static Magnetic Fields (CMEs) can be generated from magnets. According to the direction, intensity, spatial distribution and time of application of magnets, MECs can generate different biological effects, ranging from beneficial to deleterious. This Integrative Bibliographic Review sought to investigate the effects of MECs on biological systems and their relationship with Medicinal Biomagnetism (BM). To this end, a survey was carried out on the Pubmed and Scielo platforms, using the descriptors “Static magnetic fields and biological systems”, “Magnetic Therapies” and “Medicinal Biomagnetism”. In order to discuss the results, in addition to the articles that address the literature on the topic of interest, we used the books by Isaac Goiz Durán, which present the foundations of the BM up to this point. In the analysis of the obtained content, almost all of the studies presented in the articles were pre-clinical tests in in vitro and in vivo models, which presented the effects of static magnetic fields on biological systems. Among the emerging therapies (Magnetic Therapies) that use EMF, there is the BM, which makes use of specific magnets for the technique, with the objective of correcting energy imbalances in the body, known as Biomagnetic Pairs (PBMs), which are the bioelectrical modifications and biomagnetic, which are related to pH changes. The application of MECs in BM showed therapeutic benefits in the literature found, and can be a therapeutic tool supporting conventional therapies, according to their principles and therapeutic indications. More studies are needed to evaluate the mechanisms of action involved and to evaluate the effects of the BM technique in the body.

Keywords: Static Magnetic Fields; Magnets; Biological Systems; Magnetic Therapies; Medicinal Biomagnetism.

1 INTRODUÇÃO

O magnetismo é a propriedade que alguns materiais apresentam de produzir um campo capaz de atrair objetos de ferro (TONIDANDEL et al., 2018). Quando um objeto constituído de ferro é aproximado a qualquer uma das duas extremidades de um ímã natural em forma de barra, ele é atraído. Já é bem estabelecido que cargas elétricas iguais se repelem e que cargas elétricas opostas se atraem. No magnetismo os imãs possuem dois pólos denominados de polo Norte (N) e pólo Sul (S), que são opostos, com propriedades de atração e repulsão semelhantes às do conceito das cargas elétricas opostas (BASSALO, 1994).  

Registros históricos apontam que na China no ano de 2637 a.C. já se fazia o uso de substâncias que apresentavam propriedades magnéticas. No século VI a.C. na Grécia, Tales um filósofo e cientista da época, descreveu fenômenos elétricos associados ao âmbar (resina fóssil de origem vegetal) que apresentava a capacidade de atrair materiais ao ser atritado com lã ou pele de animal, além da propriedade de minerais constituídos do minério magnetita (Fe3O4) capaz de atrair objetos de ferro, considerado como um ímã natural, encontrados na região conhecida como Magnésia, localizada na atual Turquia (TONIDANDEL et al., 2018).

Um poeta, filósofo e físico experimental que viveu em Roma até 55 a.C., Lucretius realizou observações sobre fenômenos naturais e com o auxílio de experimentos rudimentares propôs os primeiros conceitos sobre o magnetismo. Ele estabeleceu o fenômeno da atração e repulsão magnética, desenvolvendo um modelo não matemático da ação das forças magnéticas. No século IV, o poeta latino Claudius Claudianus descreve em seus poemas conteúdos sobre fenômenos magnéticos, assim como, Santo Agostinho (TONIDANDEL et al., 2018).

Na época das Cruzadas em sua volta para a Europa, os ocidentais tiveram contato com um objeto de origem chinesa, a bússola, primeiro artefato tecnológico que utilizava propriedades magnéticas. Em 1269, Petrus Peregrinus, fez a primeira descrição europeia de uma bússola (TONIDANDEL et al., 2018). Por volta de 1618, o médico inglês, William Gilbert revolucionou a ciência do magnetismo, com a publicação da obra “De Magnete, Magneticisque Corporibus et de Magno Magnete Tellure”, na qual postulou a afirmação de que a Terra apresentava propriedades magnéticas e funcionava como um ímã. Afirmou também, que vários materiais quando atritados apresentavam a propriedade de atrair objetos de ferro, denominando esses materiais de elétricos, pois segundo ele ocorria a passagem de fluídos elétricos, tornando-os eletrizados. Posteriormente, Galileu introduziu medidas matemáticas para a descrição de fenômenos magnéticos, além da experimentação controlada (BASSALO, 1994; PEREZ, 2022).  

Em 1750 John Michell demonstrou que a atração e a repulsão dos polos tinham a mesma intensidade e variavam inversamente proporcional ao quadrado da distância entre os polos. Em 1820, André Marie Ampère mostrou que a corrente elétrica atrai objetos de ferro e que correntes paralelas se atraem mutuamente. A teoria de Ampère constitui a base da teoria do magnetismo moderno (BASSALO, 1994).  

Em 1819, Hans Christian Oersted demonstrou que uma corrente elétrica produzida próxima a uma bússola era capaz de gerar deflexão da agulha. Anos mais tarde, Michael Faraday verificou o aparecimento de uma corrente momentânea em um circuito, quando em um circuito vizinho se iniciava ou se interrompia uma corrente. Experimentos posteriores mostraram que o mesmo efeito ocorre quando um imã se aproximava ou se afastava de um circuito. Faraday investigou a influência dos campos magnéticos sobre substâncias, propondo uma classificação em substâncias diamagnéticas, que são repelidas pelo campo magnético, e substâncias paramagnéticas, que são atraídas pelo campo magnético (HESSEL et al., 2015; PEREZ, 2022).

Posteriormente, Faraday juntamente com outros pesquisadores propuseram que existia uma correlação entre os campos magnéticos e os campos elétricos. Experimentos comprovaram que cargas elétricas em movimento eram capazes de gerar um campo magnético perpendicular e que campos magnéticos produzem campos elétricos. Essas ações recíprocas foram denominadas de eletromagnetismo (HESSEL et al., 2015).

Campo magnético é a região do espaço onde um pólo magnético fica submetido a uma força de origem magnética. Quando o polo for norte, teremos a intensidade magnética maior que zero, logo a força magnética e o vetor campo magnético apresentam mesma direção e mesmo sentido; já quando o polo for sul, temos a intensidade magnética menor que zero, logo a força magnética e o vetor campo magnético apresentam mesma direção, mas sentidos opostos (ISOLA, 2003).

Campos magnéticos podem ser criados por corrente elétrica contínua ou variável, ou mesmo por substâncias com propriedades capazes de transformar determinado material em um magneto. As unidades de medida da intensidade do campo magnético são o Gauss (G) e o Tesla (T), bem como, suas subunidades correspondentes (ZHANG et al., 2017).  

Os campos magnéticos podem ser classificados quanto a sua direção em relação ao tempo em campos magnéticos estáticos (CME) e campos magnéticos alternados (CMA) (ZHANG et al., 2017). Também recebem uma classificação de acordo com sua intensidade, em campos magnéticos fracos menores que 1 mT, campos magnéticos moderados que correspondem a 1 mT-1 T, campos magnéticos fortes 1-20 T e campos magnéticos ultra fortes com intensidade superior a 20 T (PEREZ, 2022; ZHANG et al., 2017).  

Os campos magnéticos estáticos podem ser divididos em homogêneos e não homogêneos, dependendo da distribuição espacial da linha de indução magnética. Campos magnéticos estáticos que diferem em direção, intensidade, distribuição espacial e tempo podem gerar efeitos biológicos distintos, variando de benéficos a deletérios para o organismo (ZHANG et al., 2017).

Diversos estudos vêm sendo realizados ao longo do último século buscando desvendar os efeitos de campos magnéticos estáticos em sistemas biológicos. Um estudo pioneiro submeteu camundongos adultos machos e fêmeas a um campo magnético estático moderado de aproximadamente 5.900 mT gerado a partir de eletroímãs. Por um período de 13 dias, foram listados os efeitos observados nesses animais, dentre os quais alterações hematológicas, retardo na regeneração de tecidos, alteração na temperatura corpórea e efeitos sobre o sistema nervoso (BARNOTHY & SUMEGI, 1969).

Humanos expostos a campos magnéticos estáticos de até 2 T, por um curto período, não apresentaram efeitos adversos (SAUNDERS, 1989). No entanto, a exposição por tempo prolongado e acima de 5 T pode produzir efeitos prejudiciais significativos. Inovações tecnológicas utilizam campos magnéticos fortes de até cerca de 10 T. O efeito agudo a tal exposição está associado à piloereção e sensação de pequenas descargas elétricas, já os efeitos crônicos ainda não estão bem elucidados (NOBLE et al., 2005; WHO, 2006).  

Apesar dos riscos associados à exposição a campos magnéticos estáticos fortes e ultra fortes (NOBLE et al., 2005; WHO, 2006), o uso de campos magnéticos estáticos fracos e moderados, vêm sendo empregados, como ferramenta terapêutica, tanto na pesquisa básica, em ensaios in vitro e in vivo (MIYAKOSHI, 2005). Além disso, os campos magnéticos estáticos fracos e moderados têm sido utilizados, na clínica, no tratamento de pessoas que sofrem com dores crônicas (ALFANO et al., 2002), nas desordens neurodegenerativas (BOBKOVA et al., 2018) e em doenças gastrointestinais (DURAK et al., 2016). 

Considerando os aspectos aqui apresentados, e que o sistema terapêutico desenvolvido por Durán é uma terapia integrativa utilizada amplamente como ferramenta complementar nas diversas áreas da saúde (DURÁN, 2008a; DURÁN, 2008b), este estudo objetiva realizar uma revisão de literatura integrativa sobre os efeitos dos Campos Magnéticos Estáticos em sistemas biológicos e sua relação com o Biomagnetismo medicinal.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Este artigo é uma Revisão Bibliográfica Integrativa. É um método que busca sintetizar o estudo sobre um tema ou uma problemática permitindo a inclusão de estudos não experimentais e experimentais, possibilitando abordar informações sobre o tema teórico e empírico a fim de ampliar um conhecimento (ERCOLE et al., 2014).

Foi realizado um levantamento de artigos sobre o tema nas plataformas Pubmed (idioma inglês) e Scielo (idiomas português e inglês), usando os descritores: “Campos magnéticos estáticos”, “Efeitos de campos magnéticos estáticos em sistemas biológicos”, “Terapias Magnéticas” e “Biomagnetismo Medicinal”. A busca pelos artigos foi realizada no mês de setembro/outubro, no período de 2022. Tendo como critério para inclusão, foram utilizados artigos científicos originais e publicados nos últimos 20 anos (2002/2022). Os dados acima são apresentados no Quadro 1.

Os critérios para exclusão foram artigos de revisão, fora do escopo do estudo, fora do prazo estabelecido e que não estavam redigidos idiomas português e inglês.Para discussão de nossos resultados, além dos artigos que abordam a literatura do tema de interesse, utilizamos os livros de Isaac Goiz Durán (2008a e 2008b), que apresentam as bases do Biomagnetismo medicinal. 

Quadro 1:  Plataformas, descritores e Periódicos

PlataformadescritoresPeriódico
Pubmed (Idioma Inglês)“Static Magnetic Fields”.“Magnetic Therapies and biological systems”.“Magnetic Therapies”.“Medical Biomagnetism”.2002-2022
Scielo (Idiomas Português e Inglês) “Static Magnetic Fields” / “Campos magnéticos estáticos”.“Magnetic Therapies and biological systems” / “Terapias Magnéticas e Sistemas Biológicos”.“Magnetic Therapies” / “Terapias Magnéticas”.“Medical Biomagnetism” / “Biomagnetismo Médico”.2002-2022

Fonte: os autores 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Como resultado obtivemos 46 artigos, sobre efeitos dos campos magnéticos estáticos e sistemas biológicos. |Excluindo os artigos que se repetiam e estavam dentro dos critérios de exclusão, restaram 27 artigos. Ao analisarmos o conteúdo do material obtido, que contivesse informações relacionadas ao uso de imãs ou magnetos, restaram 16 artigos para análise mais profunda. 

Grande parte dos estudos tratava-se de ensaios pré-clínicos em modelos in vitro e in vivo, que apresentavam os efeitos dos campos magnéticos estáticos sobre os sistemas biológicos. Demonstrando ser uma área promissora como ferramenta terapêutica em humanos, para tratar diversas desordens, atualmente apresenta alguns estudos que investigam o efeito de CME em ensaios clínicos. Entre essas terapias emergentes que utilizam campos magnéticos estáticos, está o Biomagnetismo utilizando ímãs que geram campos magnéticos com diferentes intensidades. 

Um estudo que avaliou a influência do CME na cicatrização de feridas, utilizou como modelo ratos diabéticos expostos a campos magnéticos moderados de 0,6T, formados a partir de ímãs de neodímio. Nesse estudo foram utilizadas gaiolas magnéticas e não magnéticas. Como resultado, a exposição a CME moderado melhorou a cicatrização de feridas associada a redução do estresse oxidativo, sem, contudo, reduzir o nível de glicose no sangue. O desequilíbrio oxidativo promovido pelo diabetes, interfere no processo de cicatrização devido a resposta inflamatória exacerbada e morte de fibroblastos teciduais (FRENG et al., 2022).

Diversas hipóteses que explicam os efeitos dos campos magnéticos estáticos sobre os sistemas biológicos vêm sendo estudadas. Evidências crescentes demonstraram que os radicais livres podem estar envolvidos, pois os campos magnéticos são capazes de modular a distribuição de pares de spins nos radicais livres (SKOWRONSKI et al., 2019). 

Espécies reativas de oxigênio (EROs) são derivadas do oxigênio molecular produzido a partir de reações químicas da célula, por meio de reações mediadas por enzimas, bem como, por reações de transporte de elétrons, como na cadeia de transporte de elétrons mitocondrial (ROCA et al., 2022).

As EROs podem ser categorizadas em dois tipos: radicais livres e espécies não radicalares; a primeira é composta pelo radical ânion superóxido (O2•−), radical hidroxila (•OH), peroxila radical (ROO•) e radical alcoxila (RO•); a segunda é constituída pelo peróxido de hidrogênio (H2O2), hidroperóxidos orgânicos (ROOH), oxigênio molecular singlete (1O2), ozônio (O3), ácido hipocloroso (HOCl) e ácido hipobromoso (HOBr) (ROCA et al., 2022).

Espécies reativas de oxigênio participam do controle específico sobre as funções celulares, como sinalização celular e manutenção do estado redox. Os produtos da interação dos EROs com os sistemas biológicos são facilmente mensurados e bem conhecidos, entretanto os mecanismos subjacentes à esta interação ainda não estão totalmente elucidados (ROCA et al., 2022).

O mecanismo pelo qual a recombinação de pares de radicais é modulada por campos magnéticos foi estabelecido. No qual o estado de excitação e um elétron em uma molécula é alterado, podendo ser singleto (S) quando a direção do spin do elétron é preservada, e tripleto (T) quando o spin do elétron é invertido (SKOWRONSKI et al., 2019).

A mudança no estado de energia modifica a possibilidade de recombinação. Fragmentos com elétrons desemparelhados irão recombinar mais rapidamente se os estados de energia relativa dos fragmentos forem iguais. Além disso, as taxas de recombinação são modificadas quando a frequência do campo magnético aplicado tem energia do fóton igual às diferenças de energia entre dois níveis de energia em qualquer fragmento (SKOWRONSKI et al., 2019). 

Os estados de spin nuclear têm um impacto significativo nos estados de spin de transição de pares de radicais e, subsequentemente, nas taxas de recombinação. As concentrações de radicais podem ser altamente susceptíveis a alterações na direção ou intensidade de campos magnéticos fracos e o ângulo entre os campos estáticos. Desta forma, é possível que campos magnéticos fracos apresentem impacto nas concentrações de pares de radicais na célula (SKOWRONSKI et al., 2019). 

O efeito do aumento da proliferação celular após exposição a campos magnéticos, foi inibido após a utilização de antioxidantes, sugerindo que os radicais livres funcionam como mediadores intermediários do crescimento celular (BAUER et al., 2017). Os mecanismos pelos quais o superóxido e o peróxido de hidrogênio modulam a proliferação celular, estão associados a oxidação de proteínas de transdução de sinal e transcrição de fatores de crescimento (CHENG et al., 2017).

Mudanças na polarização da membrana celular, alteram o ciclo celular. A hiperpolarização inibe o crescimento induzindo parada mitótica, enquanto a redução no potencial de membrana promove aumento da proliferação (JIANG et al., 2010). A modulação do potencial de membrana ocorre pela concentração dos íons nos meios intra e extracelular, através das correntes iônicas através da membrana, reguladas pelo transporte passivo e pelas bombas (JIANG et al., 2010). Uma pesquisa que investigou alterações na corrente de K+ em miofibroblastos de ratos, constatou que efluxo de K+ resultou em maior proliferação celular e inibição do efluxo de K+ reduziu a proliferação e a sobrevida celular (KAUR et al., 2013).

A conexão entre o potencial de membrana e as concentrações de radicais é conhecida, todavia, os mecanismos subjacentes dessa interação ainda não estão totalmente compreendidos (JIANG et al., 2010; KAUR et al., 2013). Desta forma, existe uma relação direta entre os radicais livres, o potencial de membrana e a proliferação celular associada à exposição a campos magnéticos externos. Todavia a forma como ela ocorre necessita de investigações mais aprofundadas.

EROs são bem conhecidas pelos efeitos prejudiciais no funcionamento da célula, devido sua natureza altamente reativa. Contudo, as EROs atuam também na transdução de sinais, na modulação de fatores de crescimento e de transporte de íons (CHENG et al., 2017).

As EROs interagem com as vias MAPK, proteínas-quinas específicas serina/treonina, que regulam várias funções da célula, como expressão gênica, mitose, diferenciação, sobrevivência e apoptose (HOCSAK et al., 2017). A via da fosfoinositídeo 3-quinase (PI3K) também sofre influência das EROs. A expressão gênica e a transcrição podem ser reguladas pelas espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. O fator de transcrição OxyR pode sofrer oxidação pelas espécies reativas de oxigênio ou pode ser nitrosilação pelas espécies reativas de nitrogênio, iniciando a transcrição de genes associados a proliferação e sobrevivência celular (SU et al., 2021).

Espécies reativas são capazes de modificar covalentemente alvos específicos. Foi demonstrado que a membrana de miócitos de cães pode ser despolarizada pelas EROs, assim como, o miocárdio ventricular de cobaia. A despolarização foi atribuída a alteração na corrente de Na+ e no influxo de K+ (IRIBE et al., 2008).

As EROs também alteram os mecanismos reguladores do pH, causando alterações funcionais em proteínas de canais como as ATPase. Culturas de miócitos cardíacos foram tratadas com peróxido de hidrogênio, resultando em acidificação intracelular associada à inibição da glicólise e hidrólise de ATP pela hidroxila gerada (HU et al., 2010). Peróxido de hidrogênio promove inibição da enzima (GAPDH), resultando em acúmulo de fosfatos de açúcar, que podem contribuir para a acidose. Além disso, a hidrólise do ATP gera prótons, que modulam diretamente o pH intracelular (HU et al., 2010).

A acidose intracelular e o acúmulo de bicarbonato podem desempenhar papéis importantes na regulação do metabolismo mitocondrial (FAN et al., 2021). As mitocôndrias são atores chaves na geração e regulação da bioenergética celular, produzindo a maioria das moléculas de trifosfato de adenosina (ATP) pelo sistema de fosforilação oxidativa (OXPHOS), associado a numerosas vias de sinalização e funções celulares (ALIPOUR et al., 2022).

Estudos anteriores com linhagens celulares de camundongos e humanos, demonstraram que a acidose intracelular leve pode regular positivamente a atividade do sistema de transporte de elétrons e preservar a síntese de ATP, mesmo em condições de estresse oxidativo e em baixos níveis de O2 (BUCHACHENKO et al., 2018).

Um estudo recente investigou os efeitos de campo magnético estático (CME 20 mT) e campos eletromagnéticos (CEM 20 mT-50 Hz), na produção de espécies reativas de oxigênio (EROS) e as condições de pH ácido como estímulos para alterar a progressão do ciclo celular e morte celular em células-tronco mesenquimais. Concluíram que as flutuações na geração de EROs e aumento do pH ácido durante a exposição aos CME e CEM desencadeiam eventos benéficos e adversos envolvendo os mecanismos moleculares e celulares envolvidos no crescimento, morte e diferenciação de células-tronco (ALIPOUR et al., 2022).

A aplicação de ímãs para gerar campos magnéticos com finalidade terapêutica vem sendo utilizado em várias partes do globo, todavia as intensidades de campo gerada e o período de exposição ainda não estão bem estabelecidos. Os mecanismos subjacentes envolvidos nas respostas obtidas ainda estão sendo desvendados pela comunidade científica (COLBERT et al., 2009).

O Biomagnetismo vem sendo empregado no tratamento de diversas desordens neurodegenerativas, dores crônicas e no tratamento de neoplasias. O Biomagnetismo Medicinal faz uso de ímãs naturais que são capazes de gerar campos magnéticos estáticos com diferentes intensidades. Esses campos também podem ser gerados a partir de correntes elétricas de média intensidade, com o objetivo de corrigir desequilíbrios orgânicos (DURÁN, 2008a; DURÁ, 2008b).

Segundo a teoria do Biomagnetismo Medicinal, este detecta as disfunções por meio da indução das cargas que se encontram presentes no organismo, com vibrações e energias geradas pelos ímãs terapêuticos. Estes são aplicados em pequenos intervalos de tempo, podem variar entre 5 a 20 minutos e de forma contínua, promovendo assim a despolarização de cargas excessivas (polarizadas para acidez ou para alcalinidade supra fisiológicas), dando condições para a recuperação do organismo (DURÁN  2008a; DURÁN, 2008b).

CONCLUSÃO

Terapias Magnéticas podem ser realizadas através da aplicação de Campos Magnéticos Estáticos (CME) de ímãs sobre o corpo. A literatura científica conta com diversos estudos através dos anos que abordam sobre os efeitos biológicos destes CME in vitro e in vivo. O Biomagnetismo Medicinal (BM) pode ser classificado como uma terapia magnética é uma ferramenta terapêutica adjuvante às terapias convencionais, sendo utilizada segundo seus princípios terapêuticos em vários tipos de doenças. O uso do BM utilizando os Pares Biomagnéticos (PBM) baseia-se no fenômeno energético do encurtamento do hemicorpo direito ou também chamado de Reflexo Magneto Simpático Podal, mostrando benefícios terapêuticos. Estudos que abordam os efeitos de CMEs sobre células, tecidos e organismos vivos podem contribuir na compreensão de mecanismos de ação e sobre os efeitos da prática do BM, ainda que mais estudos específicos sobre o BM sejam necessários para a melhor compreensão dos mecanismos de ação envolvidos, para a validação da técnica e para o aprimoramento de conhecimento sobre as aplicações terapêuticas possíveis.

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1Alunos da Pós-graduação em Biomagnetismo e Bioenergética Aplicados à Saúde, Instituto Par Magnético – IPM, Faculdade de Governança Engenharia e Educação de São Paulo – FGE, Brasil.
2Professora Orientadora da Pós-graduação em Biomagnetismo e Bioenergética Aplicados à Saúde, Instituto Par Magnético – IPM, Faculdade de Governança Engenharia e Educação de São Paulo – FGE, Brasil.
3Professora Orientadora da Pós-graduação em Biomagnetismo e Bioenergética Aplicados à Saúde, Instituto Par Magnético – IPM, Faculdade de Governança Engenharia e Educação de São Paulo – FGE, Brasil.