ESTUDO DE VIABILIDADE DE INVESTIMENTO: CONSÓRCIO CAFÉ COM BANANA VERSUS MONOCULTURA DO CAFÉ NA REGIÃO DO VALE DO CARANGOLA/MG

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10076866


Erick Laviola de Souza¹
Thalita Amorim Grossi Sousa²
Denis dos Santos Santiago Pereira³


RESUMO

Este artigo analisa a viabilidade de investimento no consórcio de café (Coffea arabica) e banana (Musa spp.) como uma alternativa mais viável quando comparado à monocultura do café, na região do vale do Carangola/MG. Por meio do consórcio, é possível reduzir os riscos associados à monocultura, uma vez que os produtores não dependem exclusivamente de única safra do café, tornando-se mais seguros às flutuações de preços. Por isso, existe a necessidade de estudos econômicos em cultivos consorciados. O artigo, por meio da análise de Valor Presente Líquido (VPL), revelou que o consórcio é mais viável do que a monocultura e demonstra um potencial financeiro considerável. A metodologia de análise financeira levou em consideração o investimento inicial dos dois cultivos, como aquisição de mudas, insumos e ferramentas para os 48 meses. O VPL considerou tanto os fluxos de caixa positivo (receitas reais de vendas de café e banana) quanto os fluxos de caixa negativo (custos com mão de obra para a manutenção e colheita). Portanto, este estudo destaca o potencial do consórcio, que possibilita a abertura de uma maior margem de investimento para os produtores, e incentiva pesquisas futuras para aprimorar ainda mais a análise financeira e expandir seu alcance para diferentes contextos agrícolas.

Palavras-chave: Consorcio Café/Banana. VPL. Viabilidade Econômica.

ABSTRACT

This article analyzes the feasibility of investing in a consortium of coffee (Coffea arabica) and banana (Musa spp.) as a more viable alternative when compared to coffee monoculture, in the Carangola valley region/MG. Through the consortium, it is possible to reduce the risks associated with monoculture, since producers do not depend exclusively on a single coffee crop, making them safer from price fluctuations. Therefore, there is a need for economic studies on intercropped crops. The article, through the analysis of Net Present Value (NPV), revealed that the consortium is more viable than monoculture and demonstrates considerable financial potential. The financial analysis methodology took into account the initial investment of the two crops, such as the acquisition of seedlings, inputs and tools for 48 months. The NPV considered both positive cash flows (real revenues from coffee and banana sales) and negative cash flows (labor costs for maintenance and harvesting). Therefore, this study highlights the potential of the consortium, which allows the opening of a greater investment margin for producers, and encourages future research to further improve financial analysis and expand its reach to different agricultural contexts.

Keyword: Café com Banana Consortium. NPV. Economic viability.

1. INTRODUÇÃO

O Brasil é o maior produtor e exportador de café no mundo, sendo a segunda bebida mais consumida globalmente (GOV, 2023). Presente na história brasileira desde o século XIX, o café movimenta a economia brasileira e representa uma das principais fontes de receita de vários municípios. Além disso, de acordo com os dados do Valor Bruto da Produção – VBP – setembro 2020 (EMBRAPA, 2021), a região sudeste lidera o ranking com maior faturamento bruto do país. Cabe ressaltar que na região sudeste, o estado de Minas Gerais é o maior produtor.

Ainda que a produção cafeeira represente uma grande fonte de receita para os produtores, a volatilidade nos preços do café gera incertezas (ALVES et al, 2015). Dessa forma, o cultivo de café em Sistemas Agroflorestais (SAFs) tem se tornado uma solução para o aumento da renda dos produtores, além da diversidade vegetal dos cultivos (RICCI e OLIVEIRA, 2007). Muitos agricultores estão adaptando os sistemas às suas necessidades, inserindo espécies frutíferas, como a bananeira, na cultura do café. Porém, ainda existem muitas incertezas por parte dos agricultores. Acredita-se que o sombreamento causado pelo consórcio, pode diminuir a produtividade, gerar maior necessidade de mão de obra, entre outros (RICCI e OLIVEIRA, 2007). Esses fatores impedem grande parte dos produtores de implementarem os consórcios, inclusive o consórcio café-banana.

Segundo a Embrapa (2022), a região da Zona da Mata Mineira pode alcançar alta qualidade nos cafés, devido ao relevo montanhoso e temperaturas amenas, principais características da região e que são de extrema relevância para o ciclo cafeeiro. O estado também se destaca na produção de banana, sendo o terceiro maior do país (EMBRAPA, 2022). Por essa razão, a região possui grande capacidade para adotar a prática do consórcio de cafeeiro com bananeira.

Em outros países produtores de café, o consórcio da banana com o café tem sido implementado, representando uma importante fonte de renda para os agricultores. Contudo, faz-se necessário outros estudos no Brasil, principalmente na Zona da Mata Mineira (onde está a maior concentração de produção das culturas), visando obter dados sobre a receita obtida, custos de implantação e manutenção, viabilidade do investimento, atribuições do solo etc. Essas análises contribuem para a avaliação de quais benefícios serão obtidos na região, com o estabelecimento do consórcio banana-café, e ajudam a verificar quais as sugestões mais vantajosas e produtivas, buscando evidenciar que a consorciação possui renda superior à monocultura do café (ALVES et al, 2015). A pesquisa é relevante, uma vez que somente pelas análises de custo-benefício, será possível verificar se o consórcio pode ser implementado e em quais condições, e busca incentivar os agricultores a adotarem o cultivo consorciado visando o aumento na renda familiar e benefícios ambientais. Cabe ressaltar que a Zona da Mata Mineira tem elevado potencial para expandir a produção por meio do consórcio, devido ao clima e solo propícios para o cultivo, entre outros fatores.

A agricultura familiar é uma importante atividade econômica que desempenha um papel fundamental na produção de alimentos e na geração de renda em várias regiões do Brasil, incluindo a Zona da Mata Mineira. Nessa região, pequenos produtores rurais adotam diferentes sistemas agrícolas para garantir a geração de renda, sustentabilidade de suas propriedades e o bem-estar de suas famílias (SATO BALLESTERO, 1992).

A implementação da diversificação de culturas é reconhecida como uma estratégia viável para aumentar a capacidade dos agricultores familiares de enfrentar as adversidades impostas pelas oscilações climáticas e de mercado. A combinação de cafeeiros e bananeiras pode gerar vantagens econômicas substanciais, incluindo receitas ampliadas e anular riscos decorrentes da dependência de uma única cultura. No entanto, há uma escassez de investigações que examinem a viabilidade econômica desse sistema agrícola específico na região da Zona da Mata (RICCI; ROUWS; OLIVEIRA, 2011).

É fundamental que o agricultor familiar tenha um amplo conhecimento da viabilidade econômica desse sistema agrícola, o que implica avaliar os gastos com a produção, as taxas de mercado e a rentabilidade projetada. Essa percepção servirá como um guia valioso para a tomada de decisões estratégicas visando uma maior estabilidade financeira para os produtores. Infelizmente, a ausência de informações transparentes sobre a rentabilidade desse sistema dificulta a capacidade dos agricultores familiares de aproveitarem plenamente o potencial de suas propriedades (MOREIRA, 2003).

Em suma, o estudo tem como objetivo de verificar em termos práticos a viabilidade econômica desse sistema agrícola específico, contribuindo para aprimorar a gestão econômica das propriedades rurais e contribuir para o aumento da diversificação de fontes de renda para os produtores. A pesquisa se justifica pela relevância do assunto e a necessidade de fornecer informações precisas aos agricultores e demais atores envolvidos no desenvolvimento rural da região, visto que o consórcio de café com banana pode ter um impacto positivo impulsionando a economia local.

A análise econômica do consórcio de cafeeiros e bananeiras permitirá compreender melhor os custos envolvidos na produção, as receitas obtidas, a viabilidade de mercado e os potenciais ganhos econômicos e sociais que podem ser alcançados com a adoção desse sistema.

2. METODOLOGIA

Para uma melhor compreensão dos métodos empregados neste estudo que visa avaliar a viabilidade econômica do consórcio de café e banana, será utilizada a técnica do Valor Presente Líquido (VPL), que considera o valor do dinheiro no tempo. De acordo com Samanez (2010), o VPL tem por finalidade calcular o impacto dos eventos futuros relacionados a uma opção de investimento, em termos de valor presente. Isto significa que a medida do Valor Presente Líquido é obtida pela diferença entre o valor presente dos benefícios líquidos de caixa, previstos para cada período do horizonte de duração do projeto, e o valor presente do investimento (desembolso de caixa), expressada por:

Onde, FCt representa o fluxo (benefício) de cada período, K é a taxa de desconto do projeto representada pela rentabilidade mínima requerida, I0 é o investimento processado no momento zero (inicial), e It é o valor do investimento previsto em cada período subsequente. Como critério de decisão, se VPL>0, o projeto será economicamente viável.

Ainda, de acordo com Samanez (2010), a análise de viabilidade econômica de um projeto possibilitará analisar se o projeto é capaz de gerar receita suficiente para remunerar o capital investido, e avaliar se o projeto gera renda para suprir os compromissos assumidos no financiamento.

Nesse contexto, a pesquisa foi conduzida na região de Carangola, na Zona da Mata Mineira, por meio da coleta de dados referentes aos quatro anos iniciais (48 meses), sobre os custos e receitas obtidas no consórcio de café e banana e na monocultura do café. Foram analisados os custos da implantação e manutenção das lavouras, como investimento inicial, incluindo a aquisição de mudas, insumos, ferramentas, entre outros. Da mesma forma,

analisou-se os custos operacionais mensais, como adubação, tratos culturais e colheita. O custo de aquisição do terreno não foi considerado no estudo. O terreno utilizado para análise possui topografia montanhosa, característica típica da região da Zona da Mata Mineira. O cafeeiro analisado nas duas amostragens é da qualidade arábica, predominante em Minas Gerais (Embrapa, 2020), e as bananeiras do consórcio são, principalmente, da qualidade prata. Objetivando a coleta de dados adequados para a análise, o estudo orientou-se pela recomendação da Coordenação de Agroecologia (Ministério da Agricultura) para o consórcio das espécies, em que o espaçamento médio das bananeiras para sombrear o café é de 10 metros entre linhas x 2,5 metros entre plantas, e para o café é de 2,5 metros entre linhas x 0,80 metros entre as plantas. A cada três carreiras de café conta-se uma carreira de bananeiras. Na monocultura do café, utilizou-se o mesmo espaçamento, de 2,5 metros entre linhas x 0,80 metros entre plantas. Sendo assim, o número de plantas de café na monocultura é 5.000 unidades, e no consórcio são de 3.600 unidades de plantas de café e 448 unidades das bananeiras.

Os cafeeiros e bananeiras foram adubados com o mesmo tipo de fertilizante mineral (NPK 20-05-20), desenvolvido para atender às necessidades das duas culturas em estudo. Utilizou-se a dosagem de 200 gramas de fertilizante por pé, e foram aplicadas duas adubações por ano. Ademais, o calcário foi usado uma vez por ano, na medida de 800 gramas por pé, para corrigir os níveis de acidez do solo. O manejo de vegetação indesejada, por meio de métodos físicos manuais compreendidos pela capina e roçagem, foram distribuídas ao longo dos meses, com uma média de intervalo entre elas de 2 à 3 meses. Da mesma forma, a limpeza e desbaste das bananeiras foram distribuídas ao longo dos meses, de acordo com a necessidade observada pelo produtor.

Para obter os valores de receita obtida nas duas amostragens, utilizou-se a média de 0,5kg de produção de café verde por pé (TORRES, 2000), e 25kg de banana por caixo/pé (BROGGIO, 2009). Os preços efetivamente pagos ao produtor rural foram cotados na região (Carangola-MG), no mês de agosto de 2023, sendo R$ 820,00 a saca de 60kg de café bebida dura e R$ 20,00 a caixa de 22kg de banana prata.

Para os custos operacionais mensais, levou-se em consideração que o produtor rural executa boa parte do trabalho humano, diminuindo assim, a contratação de mão de obra externa. Para a análise, foi usada como referência os valores de uma jornada de trabalho de oito horas na zona rural da região, R$ 80,00 para trabalho manual, e R$ 150,00 para trabalho com roçadeira e/ou derriçadeira. Além disso, utilizou-se para os cálculos a taxa de juros base da economia brasileira (Banco Central do Brasil), a taxa Selic de 13,25%, vigente no início de agosto de 2023.

3. RESULTADOS

Todos os custos analisados são necessários para o cultivo da monocultura e do consórcio na região de Carangola/MG. Na fase de implementação das lavouras, os custos iniciais do consórcio de café com banana, em média, são menores em comparação com os custos iniciais da monocultura do café. Como investimento inicial, os principais componentes de custos envolvidos, em ambas as práticas agrícolas, são a aquisição de mudas, ferramentas para manutenção e colheita das lavouras e insumos para os quatro anos (48 meses) em estudo. Apesar das mudas de bananeiras serem mais caras, os gastos com fertilizantes e calcário, por exemplo, são menores, devido à diminuição da quantidade de pés de café no cultivo consorciado.

Os custos mensais incluem a mão de obra para a preparação do solo, o plantio e replantio das mudas, o controle de pragas e doenças, a utilização de defensivos agrícolas, a limpeza e desbrota das lavouras, o manejo e controle de ervas daninhas, a colheita e a pós- colheita. No primeiro mês, em ambos os cultivos, realizou-se a preparação do terreno com a aração do solo por meio do uso de trator e realização das covas com perfurador de solo, adubação e plantio das mudas. No terceiro mês, os custos com compra e replantio das mudas foram os mesmos no consórcio e na monocultura, devido à necessidade de replantio apenas nos cafeeiros.

Ao longo dos meses, o que distingue o custeio do consórcio, em comparação com a monocultura, são as manutenções contínuas de desbrota/desbaste das bananeiras, e colheita dos cachos, que demandam mais mão de obra e, consequentemente, aumentam os custos mensais do consórcio. Nas duas amostragens, o acréscimo no valor dos custos mensais está associado à necessidade de mão de obra para o manejo e controle de ervas daninhas, por meio da roçagem e capina manual. Igualmente, nos meses de safra do café, observa-se uma elevação nos custos com mão de obra para a colheita, assim como nas atividades de pós- colheita, como a secagem mecânica e o beneficiamento do fruto. Um estudo revela que em uma mesma região, a mão de obra, seja em sistemas consorciados de café (Souza; Graaff; Puleman, 2012) ou convencionais (Siqueira; Souza; Ponciano, 2011), é a maior parte dos custos, como também em outras regiões produtoras de café que utilizam principalmente a mão de obra familiar.

Todos os custos do consórcio de café com banana e da monocultura do café podem ser verificados na tabela 1 e na tabela 2, que seguem:

Tabela 1: Custos em reais (R$) para a aquisição de materiais para a implantação e manutenção do consórcio do café com banana e contratação de mão de obra, durante os 48 meses iniciais, em Carangola/MG.

TABELA DE CUSTOS CONSÓRCIO CAFÉ COM BANANA
ANÁLISE DE SOLOR$ 55,00
ALUGUEL PERFURADOR DE SOLOR$ 85,00
MÃO DE OBRA ADUBAÇÃO E PLANTIOR$ 240,00
TRATOR PARA ARAR A TERRAR$ 750,00
CAPINA/TRIAGEMR$ 240,00
COMPRA DE 400 UNID. DE MUDAS PARA REPLANTIOR$ 272,00
REPLANTIO DAS MUDASR$ 80,00
CONTROLE E MANUTENÇÃO DE ERVAS DANINHAS –ROÇAGEMR$ 2.700,00
FUNGICIDA/INCETICIDAR$ 320,00
HERBICIDAR$ 320,00
ADUBAÇÃOR$ 560,00
DESBROTA E LIMPEZA DO CAFÉR$ 160,00
DESBROTA E DESBASTE DAS BANANEIRASR$ 1.080,00
CORTE DOS CACHOS DE BANANAR$ 1.140,00
2 COLHEITAS DO CAFÉ EM 20 DIAS CADAR$ 3.200,00
TRANSPORTE DO CAFÉ PARA O TERREIROR$ 200,00
SECAGEM DO CAFÉR$ 500,00
BENEFICIAMENTO DO CAFÉR$ 1.350,00
ESPARRAMAÇÃO DO CISCO DA LAVOURA DE CAFÉR$ 160,00
ARRUAÇÃO E LIMPEZA DO CAFEEIROR$ 160,00
3.600 UNID. DE MUDAS DE CAFÉR$ 2.450,00
448 UNID. DE MUDAS DE BANANAR$ 2.016,00
1 UNID. DE ENXADÃOR$ 50,00
1 UNID. DE ENXADAR$ 60,00
1 UNID. DE FOICER$ 60,00
1 UNID. DERASTELOR$ 40,00
1 UNID. HERBICIDA 20 LITROSR$ 1.120,00
13,2 TONELADAS DE CALCÁRIOR$ 4.092,00
1 UNID. DE PANO 15X4M PARA COLHEITA DO CAFÉR$ 240,00
150UNID. DE SACARIAR$ 300,00
130 SACOS DE 50KG DE ADUBO CAFÉ E BANANAR$ 16.848,00
4 UNID. DE 1KG CADA, DEVERDADERO 800WG FUNGICIDA/INCETICIDAR$ 1.520,00
15KG DE ISCA FORMIGAR$ 330,00
TOTALR$42.698,00
1 UNID. DE PANO 15X4M PARA COLHEITA DO CAFÉR$ 240,00

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelos autores.

Tabela 2: Custos em reais (R$) para a aquisição de materiais para a implantação e manutenção da monocultura do café e contratação de mão de obra, durante os 48 meses iniciais, em Carangola/MG.

TABELA DE CUSTOS
ANÁLISE DE SOLOR$ 55,00
ALUGUEL PERFURADOR DE SOLOR$ 85,00
ADUBAÇÃO E PLANTIOR$ 240,00
TRATOR PARA ARAR A TERRAR$ 750,00
CAPINA/TRIAGEMR$ 160,00
COMPRA DE 400 UNID. DE MUDAS PARA REPLANTIOR$ 272,00
REPLANTIO DAS MUDASR$ 80,00
CORTANDO OMATO(ROÇANDO)R$ 2.700,00
FUNGICIDA/INCETICIDAR$ 320,00
HERBICIDAR$ 320,00
ADUBAÇÃOR$ 560,00
DESBROTA E LIMPEZA DO CAFÉR$ 220,00
2 COLHEITAS DO CAFÉ EM 20 DIAS CADAR$ 3.200,00
TRANSPORTE DO CAFÉ PARA O TERREIROR$ 200,00
SECAGEM DO CAFÉR$ 500,00
BENEFICIAMENTO DO CAFÉR$ 1.350,00
ARRUAÇÃO E LIMPEZA DO CAFEEIROR$ 160,00
ESPARRAMAÇÃO DO CISCO DA LAVOURA DE CAFÉR$ 160,00
5.000 UNID. DE MUDAS DE CAFÉR$ 3.400,00
1 UNID. DE ENXADAR$ 60,00
1 UNID. DE RASTELOR$ 40,00
1 UNID. DE HERBICIDA 20 LITROSR$ 1.120,00
16 TONELADAS DE CALCÁRIOR$ 4.960,00
1 UNID. DE PANO 15X4M PARA COLHEITA DO CAFÉR$ 240,00
200 UNID. DE SACARIAR$ 400,00
160 SACOS DE 50KG DE ADUBOR$ 20.800,00
4 UNID. DE 1KG CADA, DE VERDADERO 800WG FUNGICIDA/INCETICIDAR$ 1.520,00
15KG DE ISCA FORMIGAR$ 330,00
TOTALR$44.202,00
160 SACOS DE 50 KG DE ADUBOR$ 20.800,00

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelos autores.

A tabela 3 demonstra os fluxos de caixa positivos (receita) no consórcio de café com banana. Como detalhado anteriormente, o espaçamento utilizado no consórcio foi em média de 10 metros entre linhas x 2,5 metros entre plantas, sendo que a cada três carreiras de café tem-se uma carreira de bananeiras. Utilizou-se no estudo, 448 unidades de bananeiras e 3600 unidades de café. Após o plantio, os cafeeiros começam a produzir no terceiro ano (36 meses), e em média produzem 0,5 kg de café verde (Torres; Neto, 2000). Dessa forma, no período de 48 meses, obteve-se duas colheitas de café. Já as bananeiras, em média, começam a produzir a partir dos onze meses (Lima; Alves, 2021), com variação de produção distribuída em torno de seis meses. Cada bananeira produz apenas um cacho de bananas, que pesam em torno de 25 kg (Gesba, 2015). Depois da primeira colheita, as bananeiras são eliminadas e outras mudas começam a se desenvolver, para, depois de onze meses, produzirem novamente. No início de agosto de 2023, o valor da saca de 60 kg de café arábica bebida dura foi comercializada por R$ 820,00 na região, e o kg da banana prata por R$ 0,90. Com base nesse estudo, conclui-se que foi possível obter três colheitas de bananas e duas colheitas de café no decorrer dos 48 meses, com receita bruta de R$ 31.920,00 e R$ 49.200,00, respectivamente.

Na monocultura do café, o espaçamento foi de 2,5 metros entre linhas x 0,80 metros entre as plantas, sendo analisadas 5000 unidades de plantas de café. Igualmente, manteve-se a média de produção de 0,5 kg de café verde por pé a partir do terceiro ano, totalizando duas colheitas dentro do período de 48 meses. Sendo assim, obteve-se uma receita de R$ 68.880,00, como pode ser observado na tabela 4.

Tabela 3: Receitas em reais (R$) consórcio de café com banana durante 48 meses, em Carangola/MG.

RECEITAS
COLHEITA DA BANANAR$ 31.920,00
COLHEITA DO CAFÉR$ 24.600,00
COLHEITA DO CAFÉR$ 24.600,00
TOTALR$81.120,00

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelos autores.

Tabela 4: Receitas em reais (R$) monocultura de café durante 48 meses, em Carangola/MG.

RECEITAS
COLHEITA DO CAFÉR$ 34.440,00
COLHEITA DO CAFÉR$ 34.440,00
TOTALR$68.880,00

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelos autores.

Como apresentado na metodologia, utilizou-se a taxa selic de 13,25%, vigente no início de agosto de 2023. Os fluxos de caixa negativos do consórcio foram de R$zz 10.224,04 e da monocultura foram de R$ 8.577,18. Já os fluxos de positivos do consórcio e da monocultura foram de R$ 56.009,45 e R$ 44.647,73, respectivamente. Os custos para o investimento inicial do consórcio totalizaram o valor de R$ 29.126,00, e da monocultura somaram o valor de R$ 32.870,00. A análise de viabilidade de investimento do consórcio e da monocultura, por meio do valor presente líquido (VPL), foram positivos. No cultivo consorciado obteve-se o valor de R$ 16.659,42, e na monocultura o valor de R$ 3.200,55 (tabela 5). Portanto, baseado nos dados alcançados, os dois cultivos são economicamente viáveis. Porém, é mais vantajoso investir no cultivo de café consorciado com bananas, uma vez que possibilita a abertura de uma maior margem de investimento para os produtores. Constituindo ótima alternativa para aumentar a produção e qualidade das lavouras, além de promover melhor qualidade de vida para os agricultores.

Apesar do consórcio ser um cultivo com duas culturas diferentes que geram maiores custos mensais, o investimento inicial da monocultura do café é maior, visto que é uma cultura que possui custo mais alto. Por outro lado, a monocultura gera custos mensais menores.

Tabela 5: Valor Presente Líquido

VALOR PRESENTE LÍQUIDO

TIPO
FLUXO DE CAIXA POSITIVOFLUXO DE CAIXA NEGATIVOINVESTIMENTO INICIAL
VPL
CONSÓRCIOR$ 56.009,45-R$ 10.224,04R$ 29.126,00R$ 16.659,42
MONO CULTURAR$ 44.647,73-R$ 8.577,18R$ 32.870,00R$ 3.200,55

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pelos autores.

4. CONCLUSÃO

Embora os custos de manutenção dos 48 meses da lavoura de café consociada com bananas tenham sido mais elevados que os custos da monocultura do café, o valor presente líquido apresentou maiores resultados, demonstrando a viabilidade econômica do consórcio.

Os principais custos do consórcio são a mão de obra, e compra de mudas, fertilizantes e defensivos agrícolas. Os gastos na manutenção e colheita das bananeiras são inferiores quando comparados com os custos de colheita e pós-colheita do café, o que permite o equilíbrio dos custos, gerando um fluxo de caixa positivo no período analisado.

Existe uma ampla divulgação do cultivo consorciado por meio de estudos realizados pela Embrapa, por exemplo, que demonstra as vantagens da implantação dessa cultura, tanto no aspecto ecológico quanto no econômico. Inclusive, o presente estudo constatou a viabilidade desse investimento, que é uma alternativa para reduzir a vulnerabilidade dos produtores e traz crescimento econômico para a região. Mesmo possibilitando uma margem maior de investimento, os produtores precisam estar cientes de que esse tipo de cultivo gera mais trabalho e resulta em maiores gastos.

A Zona da Mata Mineira é conhecida pela grande produção de café e de banana, o que a torna uma candidata ideal para uma maior implementação de práticas de cultivo consorciado. Apesar dos potenciais benefícios econômicos e ecológicos deste sistema, ele não é aplicado na região, devido a uma série de incertezas e desafios percebidos pelos agricultores locais. Um dos obstáculos que impedem os produtores de aderirem o consórcio vem de uma questão cultural da região, onde a monocultura do café é predominante.

A análise da economia revelou que o consórcio de café com banana tem capacidade de compensar os custos da produção cafeeira, principalmente em comparação ao método de monocultura. Este é um desenvolvimento significativo, uma vez que os pequenos produtores enfrentam, frequentemente, obstáculos monetários causados pelas flutuações nos preços do café, e o consórcio tem o potencial de aliviar essas incertezas financeiras. Os dados indicaram que o consórcio proporciona um ambiente financeiro mais estável durante um determinado período.

Após a realização da análise de viabilidade econômica, pode-se concluir que o consórcio de café com banana é uma opção extremamente viável para os agricultores da região de Carangola, na Zona da Mata Mineira. Embora a monocultura do café continue a ser uma escolha viável, o consórcio amplia a margem de investimento e oferece o benefício adicional de diversificar as culturas, o que pode melhorar a condição financeira dos produtores. É importante ressaltar que cada propriedade agrícola é única, e a decisão de adoção do consórcio deve ser baseada em uma análise detalhada dos custos e receitas, bem como a viabilidade do investimento.

5. REFERÊNCIAS

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BRASIL É O MAIOR PRODUTOR MUNDIAL E O SEGUNDO MAIOR CONSUMIDOR DE CAFÉ. Gov, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt- br/assuntos/noticias/brasil-e-o-maior-produtor-mundial-e-o-segundo-maior-consumidor-de- cafe . Acesso em: 16 de junho de 2023.

CAVATON, Thiago. Produção mundial de café robusta deve atingir 77,1 milhões de sacas de 60kg na safra 2021-2022 e quebrar recorde histórico. Embrapa, 2021. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/65533440/producao-mundial-de-cafe- robusta-deve-atingir-771-milhoes-de-sacas-de-60kg-na-safra-2021-2022-e-quebrar-recorde historico#:~:text=esp%C3%A9cie%20no%20mundo.-,Essa%20performance%20posiciona%20o%20Brasil%20em%20primeiro%20lugar%20na%2 0produ%C3%A7%C3%A3o,caf%C3%A9%20robusta%2C%20em%20n%C3%ADvel%20glo bal. Acesso em: 16 de julho de 2023.

BOAS PRÁTICAS AGRICOLAS APLICADAS À LAVOURA CAFEEIRA PARA O ESTADO DE MINAS GERAIS. Embrapa, 2022. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1148365/1/Boas-praticas- agricolas-aplicadas-a-lavoura-cafeeira-para-o-estado-de-Minas-Gerais-corrigido.pdf . Acesso em: 16 de julho de 2023.

PRODUÇÃO BRASILEIRA DE BANANA EM 2021. Embrapa, 2021. Disponível em: https://www.cnpmf.embrapa.br/Base_de_Dados/index_pdf/dados/brasil/banana/b1_banana.pd. Acesso em: 16 de junho de 2023.

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