ESTRUTURA SOCIAL E PEDAGÓGICA: SINGULARIDADE DA DISLEXIA E AMBIGUIDADE DA INCLUSÃO ASSERTIVA

SOCIAL AND PEDAGOGICAL STRUCTURE: SINGULARITY OF DYSLEXIA AND AMBIGUALITY OF ASSERTIVE INCLUSION.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7734073


Maria Solange Andrade1
Cleiton Wiliam Mutschall2
Mirian da Silva Sousa dos Santos3


Resumo: 

A dislexia é um jeito de ser e de aprender, a qual inserida nos ambientes corretos, com os veículos adaptados que potencializam seus portadores junto da escuta ativa de seus apelos podem assim visibiliza-los e não distanciá-los de seus direitos, seja pelo capacitismo ou pelo preconceito, fomentando inquietações, ações pedagógicas e sociais que agreguem a sociedade como um todo.  O presente artigo objetivou-se na reflexão sobre o preconceito invisibilizado, a construção de um arcabouço teórico educacional e social em relação aos indivíduos portadores da dislexia junto da discussão da educação especial, suas ações, profissionais e projetos que deem voz a real inclusão prática e assertiva. Com embasamento nas teorias de autores da literatura junto do abstrato mergulho introspectivo sobre o caráter humano em como lidar com a educação especial, deixa-se evidente a necessidade do debate, da formação, da capacitação, do empenho e acima de tudo da motivação profissional e pessoal humana para lidar com tantas barreiras do preconceito que vive ocultado e quando visualizado acaba se expondo apenas na teoria, a maior lacuna é quando ela seja por não saber lidar com ela, por isso a atualização sobre o assunto, o desenvolvimento de ações e apelo por discussões é o principal veículo rumo a uma inclusão cada vez mais assertiva.

Palavras chave: Inclusão escolar e social; Capacitismo; Dislexia.

Summary:

Dyslexia is a way of being and learning, which inserted in the right environments, with adapted vehicles that empower its carriers along with active listening to their appeals, can thus make them visible and not distance them from their rights, either through capacitism or by prejudice, fomenting concerns, pedagogical and social actions that bring together society as a whole. This article aimed to reflect on invisible prejudice, the construction of an educational and social theoretical framework in relation to individuals with dyslexia, together with the discussion of special education, its actions, professionals and projects that give voice to real practical inclusion and assertiveness. Based on the theories of authors of the literature together with the abstract introspective dive on the human character in how to deal with special education, the need for debate, training, training, commitment and, above all, professional and professional motivation is evident. human staff to deal with so many barriers of prejudice that lives hidden and when made visible ends up exposing itself only in theory, the biggest gap is when she sweats for not knowing how to deal with it, that’s why the update on the subject, the development of actions and appeal by discussions is the main vehicle towards an increasingly assertive inclusion.

Keywords: School and social inclusion; Capacitance; Dyslexia.

1 Introdução

Localizada entre a linha tênue entre saúde e educação, a dislexia ocupa espaços corporativos, cuja relação é marcada por conflitos e divergências, resultados de diversos discursos, teorias e ideologias em contextos sócio-históricos. As lacunas enfatizadas pelo preconceito, pela ignorância, pelo interesse distorcido encorpado por uma ótica pessoal individualizada e pouco humanizada são brechas para inquietações inclusivas sociais e educacionais, tão quanto impulsos para o amadurecimento de ideias dentro do contexto “mundo” que reflete em estruturas governamentais e não governamentais.

Utilizando como metodologia para construção deste atual trabalho uma investigação de cunho teórico, ancorada em pesquisa bibliográfica, na qual se insere na modalidade da pesquisa qualitativa, tendo a ótica sobre uma breve movimentação histórica, a qual demonstra alguns elementos políticos, sociais e econômicos que influenciaram de forma instigante a trajetória da Educação Especial.

Definida pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD, 2016) como “um transtorno específico de aprendizagem, de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração” surte como efeito a fundamentação da ideia de que “o aprendizado da leitura e da escrita constitui um importante mecanismo de controle da sociedade, e o seu êxito ou fracasso pode ser determinante das vantagens ou desvantagens que a criança irá dispor para a construção de cidadania e inserção social” (MORTATTI, 2010).

Haja vista, o apelo por debates que retomam cunhos políticos, sociais e econômicos dentro de um processo de “desnaturalização” do preconceito invisibilizado pelo capacitismo e a falta de conhecimento, a qual respinga sobre uma história inteira desde a infância, a vida adulta e a velhice por contornos de diagnósticos tardios, uma defasagem entre inclusão teórica e prática, seu falar e seu atuar e impotências pedagógicas; cogitando a necessidade do estreitamento de relações sejam dos profissionais da saúde ou da educação com o indivíduo disléxico. 

Dessa forma, cabe a sociedade se perguntar, estamos preparados? Será este um processo de alfabetização estendido? Ou ainda mais, um processo de humanização de valores distorcidos, ética, moral e educação estendida e embasada em óbvios que necessitam ser lembrados, reestruturados e acima de tudo enraizados. A ambiguidade remete o diálogo de que dentro de uma sociedade plural o indivíduo portador da dislexia tem suas individualidades que se visibilizadas, expostas e adaptadas podem ser ampliadas/potencializadas e não inferiorizadas ou deixadas a parte.

Com adaptações pedagógicas e profissionais empenhados na transformação da teoria inclusiva para a prática inclusiva a tornando palpável e construída através de debates, reuniões/ações pedagógicas e sociais com inserção dos pais e responsáveis que visem cada vez mais a visibilidade do indivíduo portador da dislexia na construção sólida de ensino inclusivo, humano e formal de cada um deles, a inclusão assertiva se torna assim cada vez mais presente.

2 A dislexia e a inclusão educacional e social

Tomando como base conceituações já pré-definidas, enfatizamos elas ao compasso da necessidade de uma ressignificação humano, foi criado um arcabouço teórico considerando a libertação do imaginário, dando um mergulho introspectivo no comportamento humano coletivo frente às dificuldades que os indivíduos portadores da dislexia enfrentam dentro do contexto educacional e social e do refinamento visionário da sociedade para com eles.

Todo ser humano tem os mesmos direitos sociais, políticos e de cidadania. O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n°13.146, Art.2, 2015) define pessoa com deficiência como: ―[…] “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.

Sendo assim, partindo da ideia que vivemos dentro de um sistema organizacional pautado por direitos e deveres que ditam nossa liberdade e posicionamento dentro dos âmbitos sociais, o dislexo inicia seu processo de obstrução do potencial em plenitude quando vivenciam e são taxados a partir de estereótipos de “crianças-problema”, “que não aprendem”, “que não evoluem”, “que não acompanham”. Inquietações educacionais sobressaem quando vemos a construção de um sistema educacional composto por uma meritocracia sabotadora e linear, pouco horizontalizada, sem uma explanação da gama de conhecimentos que incomodem nossos egoísmos e construam seres humanos mais filantrópicos e autônomos dentro de seus próprios potenciais. A educação especial carrega o sinônimo de uma educação adaptada que possa sempre expor os alunos a vários tipos de conhecimento e vários veículos que voltem o olhar principalmente aos alunos especiais que muitas vezes são distanciados da democracia escolar, uma democracia cada vez mais invisibilizada, por impotência pedagógica profissional que pode ser trabalhada e capacitada; ampliação visionária educacional e uma cultura social que afunila nossos conhecimentos e pouco os amplia com intenção de adaptabilidade social no contexto século XXI.

Validando tal imposição, segundo Sassaki (1997, p. 167) o conceito de inclusão social pode ser definido como:

Processo pelo qual a sociedade e o portador de deficiência procuram adaptar-se mutuamente, tendo em vista a equiparação de oportunidade e, consequentemente, uma sociedade para todos […]. A inclusão significa que a sociedade deve adaptar-se às necessidades da pessoa com deficiência para que esta possa desenvolver-se em todos os aspectos de sua vida (SASSAKI, 1997, p. 167).

Ademais, vivenciamos ainda um diagnóstico tardio como justificativa pretextos que dificultam ainda mais a visibilidade e a importância do diagnóstico e do tema em discurso tanto no sistema educacional como social. Como base temos que, o diagnóstico da “dislexia” é categorizado por:

Sujeitos com essa condição constituírem grupos localizados num intervalo da atenção, não sendo devidamente contemplados no escopo das políticas públicas.

Ser uma categoria diagnóstica que alcançou certo grau de problematização e mobilização na busca por reconhecimento e visibilidade, constatando-se a existência de associações (Associação Nacional de Dislexia e Associação Brasileira de Dislexia) e de projeto de lei (BRASIL, 2010).

Levando em consideração a veracidade de que o diagnóstico da dislexia cientificamente já é tardio, por volta dos 8 anos de idade conforme o processo de alfabetização e letramento vai se construindo e tornando as habilidades pedagógicas dos alunos total visibilizadas, há uma contradição quando colidimos com um diagnóstico do preconceito vivido ainda mais tardio, colocados à margem quando a relação saúde e educação constroem muros e não pontes que atenuem, deixam evidentes as diferenças para que possam ser enxergadas e trabalhadas visando um sistema educacional acolhedor e potencializador. 

Definida pela Associação Internacional de Dislexia da seguinte forma:

“A Dislexia do desenvolvimento é considerada um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração. Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas. Consequências secundárias podem incluir dificuldades na compreensão de texto e pouca experiência de leitura, podendo impedir o desenvolvimento do vocabulário e do conhecimento geral. (AID, 2002)”. 

Justificando a definição acima, é notório a necessidade de intervenções/práticas pedagógicas e sociais para ampliação do conhecimento de forma adaptada e considerável.

 A história do reconhecimento da dislexia é construída sobre o embasamento de ideias de vários profissionais, como psicólogos, educadores e oftalmologistas. Nos Estados Unidos médicos oftalmologistas desconstruir um grande equívoco que estava tomando forma quanto a dificuldade dos escolares com suspeitas do quadro de dislexia, comprovando que a dificuldade não estaria nos olhos, mas no funcionamento das áreas de linguagem no cérebro. Dessa forma, a definição instigada por Orton (1925), Herman (1959), Eisenberg, Money, Rabinovitch e Saunders (1962), Crichley, Cole e Walker (1964), Flover e Lawson (1965), Thompson (1966) e outros estudiosos durante a história da educação e da saúde é a de que a dislexia:

 “ É uma dificuldade acentuada que ocorre no processo da leitura, escrita e ortografia. Não é uma doença, mas um distúrbio com uma série de características. Ela torna-se evidente na época da alfabetização, embora alguns sintomas já estejam presentes em fases anteriores. Apesar da instrução convencional, adequada inteligência e oportunidade sociocultural e sem distúrbios cognitivos fundamentais, a criança falha no processo da aquisição da linguagem. Ela independe de causas intelectuais, emocionais ou culturais. Ela é hereditária e a incidência é maior em meninos, numa proporção de 3/1. A ocorrência é de cerca de 10% da população mundial. ” (NOGUEIRA NICO, M. A, 2010)

Ainda mais, a dislexia pode ser classificada em vários grupos, como: Dislexia Disfonética, Dislexia Diseidética, Dislexia Visual, Dislexia Auditiva, Dislexia Mista (1971 -Elena Boorder e Miklebust). Para um melhor embasamento entende-se que a Dislexia Disfonética é a dificuldade auditiva, dificuldade de análise e síntese, dificuldade de discriminação, dificuldades temporais, em perceber sucessão e duração; a Dislexia Diseidética são dificuldades visuais, na percepção guestáltica, na análise e síntese e dificuldades espaciais, percepção das direções, localizações, relações e distâncias e a Dislexia Visual é a deficiência na percepção visual e a Dislexia Auditiva é a deficiência na percepção auditiva.

2.1 O capacitismo e as insatisfações positivas contemporâneas

Formado um escopo das definições e justificações, convém ressaltar que a preparação se constrói conforme a necessidade do contexto e da época, a inclusão exige um olhar minimalista ao compasso que se amplia; o não estabelecer de uma base sólida quanto aos pequenos deslizes educacionais torna claro a dúvida: como construir uma sociedade alfabetizada tanto formalmente como socialmente e humanamente? As insatisfações são motivos de inquietações positivas para uma melhoria em comum e não de paralisação frente a demanda. O ex-secretário da educação sucessor de Paulo Freire, Mario Sérgio Cortella descreve sobre a necessidade das insatisfações positivas, há uma defasagem na realização concreta da democracia educacional, a qual atinge apenas uma parcela dos indivíduos, essas insatisfações são relevantes frente à negligência social tendo importunos evidentes como o capacitismo, a invisibilização, marcos de desenvolvimento escolar e social acumulados, impotência pedagógica, e olhar estratégico sobre os potenciais singulares de cada um.                                                

 Levando em consideração os efeitos do capacitismo sobre um disléxico, de acordo com Mello e Nuernberg, o capacitismo se conceitua como:

“um comportamento preconceituoso que hierarquiza as pessoas em função da adequação dos seus corpos a um ideal de perfeição e capacidade funcional. Com base no capacitismo discriminam-se as pessoas com deficiência. Trata-se de uma categoria que define a forma como pessoas com deficiência são tratadas como incapazes (incapazes de amar, de sentir desejo, de ter relações sexuais etc.), aproximando as demandas dos movimentos de pessoas com deficiência a outras discriminações sociais como o sexismo, o racismo e a homofobia. A opressão capacitista está intimamente ligada à noção de corponormatividade.” (MELLO E NUEMBERG, 2012; p. 636).            

   Nesta classificação sobre o capacitismo é notório o efeito asfixiante e limitador sobre as capacidades pedagógicas e sociais de grande parte de alunos, até porque assim como a educação especial não é uma preocupação a parte, não é um assunto apenas de interesse dos grupos sociais e educacionais que possuem contato com indivíduos com necessidades especiais, mas uma preocupação em comum a todos, haja vista o apelo por um nivelamento de oportunidades e a desconstrução de um olhar desigual quanto às potencialidades humanas, a ideia social e educacional de igualdade deveria circundar a seguinte inquietação: porque eu vitimizo, trato com indiferença, inferiorizar, trato com desproporcionalidade, se eu busco uma igualdade de oportunidades e reconhecimento? Por que não buscar veículos, ambientes e adaptações que assemelham e modelam uma sociedade de indivíduos com as mesmas oportunidades de potencialização de seus interesses?                                                       

2.3 O papel do educador e estratégias inclusivas educacionais e sociais

   Considerando todo o enredo histórico, social e educacional, o papel do educador é de extrema importância para desenvolvimento do disléxico, até mesmo para que ele não se sinta incapaz ou inferior aos demais em função das dificuldades apresentadas no sistema organizacional e educacional, faz-se necessário que o professor, munido de informações e capacitações elabore estratégias adaptativas que permitam e estimulem a participação do aluno. Parte-se da reeducação mental para com o educador dele mesmo refletir a conceituação de Patrícia Zamban (ZAMBAM, 2010, p.2 ): “a dislexia, que antes de qualquer definição é um jeito de ser e de aprender, que reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta (sutil, delicada) e até genial, mas que aprende de maneira diferente”. E que maneiras diferentes seriam estas então? Qual o teor e os imbróglios que caracterizam a dislexia? 

 No campo de estudo a dislexia ela é caracterizada por transtornos específicos de leitura e déficit linguístico que dificulta a aprendizagem de leitura, escrita, soletração e decodificação; troca de letras; dificuldade com sentido espacial; dificuldade de decodificação. Ademais, há muitas dificuldades visíveis no disléxico, tais dificuldades são mal interpretadas pelos educadores quando não possuem um olhar mais sensível e informativo em relação ao que realmente se caracteriza a dislexia, não as considerando como sintomas e taxando como falta de interesse do aluno. Dentre eles:

Atrasos na aquisição da linguagem falada; dificuldades sistemáticas para compreender a linguagem falada, tendência a requisitar repetições por parte do interlocutor; dificuldades para encontrar as palavras adequadas para se expressar, trocando nomes ao descrever algum objeto ou usando palavras substitutivas; vocabulário reduzido; dificuldades para organizar idéias e expor relatos; dificuldades para compreender números e horas; compreensão do texto prejudicada, principalmente pelas alterações ou confusões durante a leitura das palavras, traduzindo em erros ortográficos mais numerosos e mais diversificados do que o comumente esperado para a série/ano cursados (SANTOS, 2011, p. 28). 

      Há uma discrepância entre concepção e execução, e se faz necessário uma prática pedagógica condizente com a realidade da vida e os determinantes sociais. Uma reconstrução e (re)potencialização de teorias que fundamentam e modelam profissionais que saiam da esfera repetidora e asfixiante de ideias e circundam os reais apelos humanos e igualitários. Ambiguidade da teoria refletida na prática, avaliar as finalidades pedagógicas em sala de aula, adaptar avaliações que não encarceram ideias, mas que reconheçam e horizontaliza métodos de validar o conhecimento do aluno, um fazer didático que contribua com o progresso escolar do indivíduo são insights para início das estratégias escolares e sociais. E quais seriam estas estratégias? Adaptações? Práticas educativas? Realizadas de forma sensata e assertiva e cada vez menos ambígua e capacitista. 

O processo de aprendizagem atua entre as áreas de saúde e educação, profissionais de ambas as áreas com objetivos semelhantes dentro do processo de construção da educação que moldam o educando/paciente, considerando seu ritmo biológico e cognitivo junto do apoio da família, até porque segundo CHUSTER (2004, p. 193) “A dimensão social do processo de ensino-aprendizagem, refere-se principalmente à transmissão dos valores próprios e significados de uma determinada cultura”

É necessário que se faça um trabalho especializado que leve em consideração as individualidades do disléxico. De acordo com CHAMAT (2008, p. 63) o trabalho deve ser de forma biopsicossocial:

BIO: ∙ Exercícios de estimulação da discriminação visomotora, coordenação visomotora e espaço/temporal; ∙ Exercícios específicos e jogos para trabalhar os emergentes e os déficits psicopedagógicos; ∙ Trabalho com as dificuldades especifica de forma lúdica.

PSICO: Trabalhar o fracasso, autoestima, perseverança, frustração do não-aprender, o vínculo e uso da inter-relação e jogos (trabalho do psicólogo). 

SOCIAL: Trabalhar com a família; orientar e eliminar os 3 Ds: deposito, depositante e depositário (VISCA, 1987). ∙ Trabalhar a forma integrada, assim como a vincular e o cognitivo; além disso, pesquisar suas relações sociais, principalmente as pertinentes ao aspecto de cooperação e sociedade; ∙ Trabalhar o fracasso familiar. (CHAMAT, 2008, p.63)

Dessa forma, os profissionais junto da família analisam todos os quesitos apresentados e trabalham de forma colaborativa em relação a eles, com adaptações, atividades diversificadas, métodos lúdicos e senso de espera e construção, além de práticas de compreensão oral já que a maioria dos disléxicos traz consigo dificuldades fonológicas que os prejudicam na leitura e escrita.

Geralmente disléxicos acham mais fácil o aprendizado através de modalidades auditivas, a ideia pode ser trabalhada e não descartada, a partir do ponto que interligamos seu melhor veículo de aprendizagem com outros modos: visuais, táteis, cinestésicos. Com efeito, associamos inclusão social com a educativa ao buscar meios de inseri-lo nas esferas exigidas nestes sistemas, encontrando meios de capacitá-lo e não de o vitimar ou de não visualiza-lo; já que de acordo com os estudos realizados por FARRELL (2008, p. 46), “essa é uma boa prática para todos os aprendizes, e pode ser particularmente útil para os alunos com pontos fracos em um determinado, pois outros modos podem reforçar a aprendizagem no estilo menos eficiente. ”

3 Considerações finais

Diante de toda a explanação, conclui-se e inclui-se que fica evidente que ainda há uma necessidade da construção de inquietações ainda maiores, a qual o atual tema instiga para melhorias dentro da atual sociedade brasileira, carregando como um de seus grandes traços a pluralidade em todos os sentidos, dessa forma  a inclusão quanto a pessoas portadoras da dislexia vai além do contexto educacional e social, trazendo a tona reflexões humanas, éticas e morais que o ser humano carrega transparecendo o real caráter do indivíduo.

Autores expõem suas ideias e embasam toda a pesquisa, mas é cada indivíduo em sua individualidade que trabalha dentro de si suas culturas, seus preconceitos, suas influências, sua maneira humana de se modelar como ser humano; indivíduos portadores da dislexia são tão capazes quanto outros alunos que não a possuem, o ser humano não acorda em uma manhã e descobre que está na profissão errada, no curso errado, no lugar errado, ele vivencia, constrói, toma coragem e decide, e com os métodos certos, redes de apoio e motivação expandem dentro de suas identidades, o indivíduo portador da dislexia assim como qualquer outra portador de necessidades especiais do mesmo modo só necessita de métodos, adaptações, redes de apoio e incentivo para expandirem e construírem seu desenvolvimento escolar, social e humano.

Contudo, é notório a ambiguidade das soluções, mas também a ambiguidade das fórmulas que os aprisionam, nesse sentido a capacitação, as formações, atividades humanizadas e adaptadas trazem o início de uma sociedade de profissionais que se flexibilizam para a realidade peculiar de seus alunos e pacientes; jogos lúdicos, atividades conscientes e condizentes com a limitação fisiológica e neurológica de cada um são avanços para a construção de cidadãos conscientes, visibilizados e não em posição de capacitismo e anulação.

Cabe à sociedade como um todo observar a necessidade de ações pedagógicas e sociais que na prática carreguem realmente a sensação tátil da escuta do disléxico se desenvolvendo. Há muitos métodos já pré-estabelecidos e utilizados que na teoria se dizem inclusivos, mas qual o real apelo do indivíduo? Adaptá-lo à sociedade que asfixia suas potencialidades os padronizando, ou adaptá-los às suas reais necessidades dando voz ao seu jeito diferente de aprender, produzir e agregar dentro da escola, das esferas sociais e do mundo? Uma estrutura social e pedagógica que trabalha a singularidade da dislexia e a ambiguidade dessa inclusão assertiva e corporativa é o real apelo de todos inseridos nessa luta pela desconstrução desse preconceito.

Referências

ABD, 2016. Associação Brasileira de Dislexia. O que é dislexia? Disponível em: https://www.dislexia.org.br/o-que-e-dislexia/ Acessado em 15/02/2023

MORTATTI, R. L. Alfabetização no Brasil: conjecturas sobre as relações entre políticas públicas e seus sujeitos privados. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, v. 15, n. 44, 329-4, 2010.

ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, Lei N° 13.146/2015. Direitos das pessoas com deficiência: tudo o que você precisa saber. Disponível em: https://www.tst.jus.br/direitos-das-pessoas-com-deficiencia  Acessado em 15/02/2023

SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, WVA, 1997.

BRASIL. Projeto de Lei nº 7.081-C, de 7 de abril de 2010. Dispõe sobre o diagnóstico e o tratamento da Dislexia e do Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade na educação básica. Brasília: Senado Federal, 2010. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1373328.pdf>. Acessado em 15/02/2023

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NOGUEIRA NICO, M. A. Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde. Disponível em: <http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/06/historia-da-dislexia.pdf   Acessado em 17/02/2023

MELLO E NUERNBERG. (Revista Estudos Feministas, Florianópolis: UFSC, setembro/dezembro de 2012; p. 636). Disponível em: https: //inclusão.enap. gov.br/News/principais-conceitos/  Acessado em 18/02/2023

ZAMBAN, Patrícia. Como a psicopedagogia vê a leitura no processo Ensino aprendizagem e como contribui? Revista de Educação do IDEAU, v.5 – n.10. Rio Grande do Sul. Janeiro – Junho de 2010. 

SANTOS, Iara Soares. A dislexia em debate: discutindo o preparo dos alunos do curso de pedagogia da UNEB para atuar com esta dificuldade de aprendizagem. Salvador, 2011.

CHUSTER, Léa. A família na escola e a escola na família. In POLITY, Elizabeth. (org.). Psicopedagogia: um enfoque sistêmico: terapia familiar nas dificuldades de aprendizagem. 1. ed. São Paulo: Vetor, 2004.

CHAMAT, Leite Sara José. Técnica de intervenção psicopedagógica: para dificuldades e problemas de aprendizagem. São Paulo: Vetor, 2008.

FARREL, Michael. Dislexia e outras dificuldades de aprendizagem específica: guia do professor. Porto Alegre: Artemed, 2008.


1Graduada em licenciatura plena em Letras pela UNIFLOR (União das faculdades de Alta Floresta), com especialização em Língua Portuguesa. Professora efetiva da rede pública do estado de Mato Grosso, Mestranda em Ciências da Educação pela UNADES – Universidad Del Sol / Paraguay, E-mail: soylaandrade@hotmail.com

2Graduado em licenciatura plena em História pela UNIC (Universidade de Cuiabá). Graduado em licenciatura plena em Matemática pelo Instituto Prominas, com especialização em Metodologia do ensino de História e Cultura Afro Brasileira pela AJES. Professor efetivo da rede pública do estado de Mato Grosso, Mestrando em Ciências da Educação pela UNADES – Universidad Del Sol / Paraguay, E-mail: cleitonmutschall@gmail.com

3Graduada em licenciatura plena em História pela UNIC (Universidade de Cuiabá), com especialização em Educação Especial Inclusiva pela CENSUPEG. Professora efetiva da rede pública do estado de Mato Grosso, Mestranda em Ciências da Educação pela UNADES – Universidad Del Sol / Paraguay, E-mail: mirianlv2@gmail.com