FAMILY HEALTH STRATEGY AND PHYSIOTHERAPIST IN FRONT OF HEALTH ACTIONS TO DEPENDENT ELDERLY AND CAREGIVER
Autores:
Ozair Furtado de Oliveira1; Vitória Coutinho Barcelos1; Camila de Paula Duarte1; Larissa Gonçalves do Couto1; Lara da Costa Fagundes1; Aline de França dos Santos1; Renan Carvalho Ferreira1; Danielle de Paula Aprígio Alves2
1Discentes de Graduação do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Serra dos Órgãos – UNIFESO;
2Docente de Graduação do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Serra dos Órgãos – UNIFESO;
Endereço para correspondência:
Estrada Wenceslau José de Medeiros, número 1045 – Prata. Campus Quinta do Paraiso, CEP: 25.976.345, Teresópolis- RJ. Email: daniellealves@unifeso.edu.br –https://orcid.org/0000-0001-5970-3497
RESUMO
Introdução: O envelhecimento humano é um processo dinâmico. O aumento da população idosa impacta diretamente à saúde pública, trazendo desafios especiais para a atenção à saúde. Desse modo, requerendo uma atenção especializada e um melhor suporte dos profissionais na orientação aos cuidadores. Objetivo: Analisar as ações da Estratégia Saúde da Família (ESF) e do fisioterapeuta frente à saúde do idoso dependente e do cuidador familiar. Métodos: Trata-se de uma revisão da literatura do tipo narrativa, utilizando como fonte as bases de dados: Scielo, Lilacs, Pubmed e Google Acadêmico, publicados entre 1946 a 2021. Resultados: Evidências de situações adversas enfrentadas pelos fisioterapeutas e cuidadores foram relacionadas frente às necessidades do ser cuidado e do ser cuidador. Também foi observado melhores práticas à saúde quando se há vínculo da ESF, indivíduo e família no cuidado ao idoso. E quanto mais o idoso se torna independente, menor a sobrecarga ao cuidador. Conclusão: Recomenda-se que os profissionais da equipe de saúde da família, e em especial o fisioterapeuta quando atuante, tenham um olhar mais respeitoso e cooperativo diante ao idoso dependente e do cuidador familiar.
Palavras-chave: Atenção Básica; Fisioterapia; Saúde do Idoso; Cuidador.
ABSTRACT
Introduction: Human aging is a dynamic process. The increase in the elderly population has a direct impact on public health, bringing special challenges to Health Care. Thus, it requires specialized attention and better support from professionals in guiding caregivers. Objective: Analyze the actions of the Family Health Strategy and the Physiotherapist regarding the health of the dependent elderly and the family caregiver. Methods: This is a review of the literature of the narrative type, using as databases the databases: Scielo, Lilacs, Pubmed and Google Scholar published between 2004 and 2021. Results: Evidence of adverse situations faced by physiotherapists and caregivers was related to the needs of being cared for and being caregivers. There was also a best practice in caring for the elderly. And the more the elderly person becomes independent, the less the caregiver\’s burden. Conclusion: It is recommended that the professionals of the family health team have a more respectful and more cooperative look before the elderly family caregiver.
Keywords: Basic Attention; Physiotherapy; Elderly Health; Caregiver.
INTRODUÇÃO:
Estatísticas brasileiras indicam que nos próximos 20 anos a população idosa será cerca de 30 milhões de pessoas, chegando a quase 13 % da população total (1,2). O envelhecimento humano é um processo dinâmico, ativo e inexorável. Esta pauta é um dos maiores desafios da saúde pública (3). A atuação profissional do fisioterapeuta na Estratégia Saúde da Família (ESF) tem favorecido diversas reflexões essenciais para melhores intervenções no nível da Atenção Básica (AB) à saúde do idoso (4). Sabe-se que uma das atividades intrínsecas da AB é a Educação em Saúde, esta pode ocorrer de forma individualizada e proporcionar melhor qualidade no atendimento e no cuidado com o idoso, disponibilizando instrumentos que promovam discussões atualizadas no sentido de auxiliar a adoção de condutas mais apropriadas às demandas dessa população (5). Além de ser um meio para se alcançar o cuidador familiar e promover direção ao autocuidado. Assim, maior capacitação no manejo e cuidado ao idoso dependente. A família é o lócus da ESF, esta busca a integralidade das práticas assistenciais transferindo o cuidado do indivíduo para a família. Conhecer sua composição, estrutura, ciclo de vida, padrões comportamentais, auxiliam a equipe de Saúde da Família (eSF) a identificar as demandas, vulnerabilidades e potencialidades desse núcleo. Sendo assim, a intervenção da ESF precisa alcançar a família em sua multidimensionalidade (6).
Existem interferências importantes no processo de cuidar do idoso, principalmente idosos com baixo nível cognitivo e dependentes de cuidados especiais (3). Mendes, Miranda e Borges (7), apontam que a família exerce uma totalidade onde cada integrante desempenha uma função que influencia no todo. Então, quando um desse grupo adoece e deixa de cumprir com sua função, a organização dessa família sofre mudanças que desencadeiam conturbações, obrigando à redistribuição de papéis. Dentre esses surge o idoso, que perde seu papel na família e aquele que ganha a função de cuidador. Ao cuidador são atribuídas tarefas que, na maioria das vezes, não são acompanhadas de orientações adequadas. Mendes, Miranda e Borges (7) e Xie et al., (8) consideram que a qualidade de vida do cuidador é impactada, e observa-se grande sobrecarga. Cuidar é um nobre trabalho de difícil execução devido à complexidade e diversidade das tarefas. Por isso, os cuidadores familiares necessitam de orientação e suporte de profissionais. Esse apoio é necessário para haver promoção da qualidade de vida do sujeito cuidador (7,9). Diante desse cenário, um dos profissionais que adquire relevância na equipe é o fisioterapeuta. Sua prática pode envolver o conhecimento e contato direto com a dinâmica da família, propondo intervenções que influenciem no processo saúde/doença dos membros da família e da comunidade e, assim, auxiliar os cuidadores a lidarem com a sobrecarga emocional e ocupacional gerada pelo cuidado oferecido (9,10). Cabe aos fisioterapeutas uma releitura dos fundamentos e análises das práticas do cuidador familiar no processo do cuidado do idoso dependente como uma melhor forma de cuidar e ser cuidado. A relevância da temática destaca-se ainda, por não haver políticas oficiais direcionadas ao cuidador. Dessa forma, o estudo tem por objetivo analisar as ações da Estratégia Saúde da Família e do fisioterapeuta frente à saúde do idoso dependente e do cuidador familiar. De forma específica: (I) Contextualizar o envelhecimento e a saúde da pessoa idosa; (II) Descrever a atenção e suporte da ESF direcionados ao idoso e cuidador familiar; e, (III) Compreender a atuação do fisioterapeuta nas relações familiares no apoio ao idoso dependente.
METODOLOGIA:
Para a realização deste estudo foi conduzida uma revisão da literatura do tipo narrativa, utilizando como fonte as bases de dados: Scielo, Lilacs, Pubmed e Google Acadêmico (publicados entre 1946 e 2021). Os seguintes descritores foram utilizados: Atenção Básica; Fisioterapia; Saúde do Idoso; Cuidador, bem como suas versões em inglês: Basic Attention; Physiotherapy; Elderly Health; Caregiver. Estes foram utilizados para localizar os seguintes temas: atendimento domiciliar como ferramenta da ESF no cuidado ao idoso e ao cuidador familiar; o fisioterapeuta e a família; perfil dos cuidadores familiares; saúde do idoso; saúde do cuidador; capacitação do cuidador familiar; cuidado ao idoso dependente; relações familiares no contexto da fragilização do idoso.
A seleção dos artigos ocorreu inicialmente pela leitura dos títulos e resumos de 45 artigos, seguida pela leitura na integra apenas dos 35 artigos selecionados. Adotou-se, como critério de inclusão a leitura crítica do material encontrado e os artigos mais relevantes sobre o tema proposto, publicados nos idiomas português e inglês no período de 1946 a 2021. Foram excluídos os estudos que não descreveram e/ou não analisaram a população idosa e atenção básica; participação do fisioterapeuta na ESF; a ESF frente ao manejo do idoso dependente e do cuidador familiar. Somente foram utilizados os artigos cujos textos completos puderam ser acessados.
A partir dessa busca estruturamos a revisão da seguinte forma: 1- Envelhecimento e saúde da pessoa idosa; 2- Atenção e suporte da ESF direcionados ao idoso e cuidador; e, 3- O Fisioterapeuta nas relações familiares no apoio ao idoso dependente.
RESULTADOS:
Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa
O envelhecimento populacional é considerado um fenômeno mundial decorrente da queda da fecundidade e mortalidade, controle das doenças infecciosas, avanço científico e crescimento das tecnologias na assistência à saúde (11). Segundo Conceição (12), a população idosa no Brasil evolui para atingir 32 milhões de habitantes em 2025, onde o Brasil tornar-se-á o sexto pais com a maior população idosa do mundo com seus consequentes desafios para o sistema de saúde. Já Ceccon et al. (13), afirmam que o Brasil já ultrapassou a marca dos 30 milhões de idosos, totalizando 14 % da população. Brêtas (14) entende que o envelhecimento é um fenômeno natural e processual, compreendido como o processo de vida, ou seja, envelhecemos porque vivemos, muitas vezes sem nos darmos conta disto. Segundo Nunes e Portella (15) espera-se que as famílias e a comunidade em geral assumam responsabilidades pelos seus membros mais velhos. O processo de envelhecer coloca à tona uma quantidade relevante de problemas multissensoriais e funcionais no idoso, acarretando novas demandas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) formulou o conceito de que saúde seria o mais completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença. Este conceito prevalece ainda hoje nos estudos sobre o processo saúde e doença (16). Assim, a manutenção da autonomia e da independência dos idosos tornou-se um desafio ao sistema de saúde, pois estes são suscetíveis a doenças e incapacidades (13).
Desse modo, a Política Nacional de Saúde do Idoso apresenta como propósitos basilares: a promoção do envelhecimento saudável, a manutenção e a melhoria da capacidade funcional dos idosos, a prevenção e a recuperação da saúde dos que adoecem e a reabilitação dos sujeitos que possuem sua capacidade funcional restringida, de modo a garantir-lhes autonomia e independência (1,17). Para tal, alcançar o propósito da política implica em manter o idoso inserido na comunidade junto a sua família de forma digna (17,18).
O aumento da longevidade da população brasileira traz alguns desafios para a atenção à saúde, uma vez que os idosos necessitam de vigilância da equipe multiprofissional de saúde e, em alguns casos, de cuidadores domiciliares (12).
Atenção e Suporte da ESF Direcionados ao Idoso e Cuidador
Segundo Wendt et al., (19) e Barbosa et al., (20) a ESF é considerada inovadora nos serviços de saúde, pois prioriza as ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e assistência a reabilitação das pessoas. Cabe ao profissional de saúde que assiste o idoso dependente ter uma visão mais ampla do processo de envelhecer e da importância da rede de suporte familiar que o idoso possui, com atenção aos idosos sem rede também (21). As ações de promoção da saúde no contexto domiciliar, atividade intrínseca da ESF, se destacam por serem capazes de avaliar a situação da saúde, demandas e carências do indivíduo e família.
No domicílio, o cuidado ao idoso geralmente é realizado pelo cuidador familiar. Este pode ser definido como uma pessoa da família ou afim, sem formação na área da saúde, que está cuidando do ente familiar (11). Segundo Felício (22), são quatro os fatores para designar pessoas que preferencialmente assume os cuidados ao idoso, parentesco (cônjuges), gênero (principalmente mulher); proximidade física (vive junto) e proximidade afetiva (conjugal, pais e filhos).
A atenção à pessoa idosa implica na construção de um novo paradigma das práticas de saúde. O idoso apresenta características peculiares quanto à apresentação, instalação e desfecho dos agravos em saúde, traduzidas pela maior vulnerabilidade a eventos adversos, necessitando de intervenções multidimensionais e multissetoriais com foco no cuidado integral. Para tal, o SUS adota a organização em Redes de Atenção à Saúde (RAS), a AB se constitui como a porta de entrada do sistema, possibilita ampliada cobertura populacional e equipe multidisciplinar, cumprindo o papel de ordenadora da atenção, integrando e coordenando o cuidado e atendendo às necessidades de saúde do idoso e cuidador (18).
O Fisioterapeuta nas Relações Familiares no Apoio ao Idoso Dependente.
Segundo Neves e Acioli (23) a atuação da fisioterapia está baseada no contexto social do local voltada para a promoção da saúde e prevenção de doenças, nunca apenas focada na forma reabilitadora. A formação do fisioterapeuta então deve estar voltada para a saúde do indivíduo, família e comunidade considerando a realidade relacional e social (24). Para isso, o fisioterapeuta precisa ir além das boas técnicas de abordagem, é preciso estar sensível às necessidades e às circunstâncias de vida do idoso fragilizado e sua família (6).
Para Delai e Wisniewski (25), a fisioterapia possui competências e habilidades suficientes para a atuação em todos os níveis de assistência à saúde. Para Fiedler et al., (26) (27) e Aveiro et al., o papel do fisioterapeuta se faz indispensável no ESF, à medida que se estabeleçam condutas fisioterapêuticas não só de reabilitação mais também preventivas. Nesse sentido, algumas são as possibilidades de atuação do fisioterapeuta na AB e no ambiente comunitário. No que se refere a pessoa idosa dependente e restrita ao lar, a atuação desse profissional possibilita melhora do estado físico-funcional, além de estimular o bem-estar. Orientação postural, exercícios de relaxamento, alongamento, de auxílio ao retorno venoso, orientação quanto ao posicionamento adequado do mobiliário no lar, recomendação de dispositivos auxiliares, prescrição de atividades físicas moderadas, entre outras, são algumas das ações da fisioterapia para esta população. O fisioterapeuta então atuará preventivamente, principalmente quanto ao estímulo de hábitos de vida saudáveis, como à prática da atividade física regular, adoção de dietas alimentares saudáveis, combate ao tabaco, ao álcool e às drogas ilícitas. Dessa forma, esse profissional contribuiria no desenvolvimento da promoção da saúde, tanto das habilidades individuais quanto nas questões estruturais que dizem respeito às condições de vida.
O fisioterapeuta tem um considerável efeito psicológico na vida e no cotidiano dos pacientes, porque, além da reabilitação física estes pacientes desenvolvem uma sensação de segurança (22). Segundo Delai e Wisniewski (25), o trabalho do fisioterapeuta deveria também priorizar a atenção básica, as ações de prevenção e a promoção da saúde, além de estabelecer uma relação permanente entre os profissionais de saúde e a população. Aveiro et al., (27) complementa que o fisioterapeuta deveria intervir não só no indivíduo, mas também no coletivo, programando as ações e as visitas domiciliares que deveriam ter uma abordagem familiar, e não apenas centrada no indivíduo acometido por alguma incapacidade. Portes et al., (28) Santiago e Luz (29), realçam que o acolhimento é considerado uma das estratégias do processo de trabalho para modificar as relações entre os próprios trabalhadores, possibilitando o estabelecimento de vínculo e a humanização do atendimento, acarretando uma maior responsabilidade com os cuidados em saúde.
DISCUSSÃO:
Este trabalho teve como objetivo analisar as ações da Estratégia Saúde da Família e do fisioterapeuta frente à saúde do idoso dependente e do cuidador familiar. De forma específica: contextualizar o envelhecimento e a saúde da pessoa idosa; descrever a atenção e suporte da ESF direcionados ao idoso e cuidador familiar; e, compreender a atuação do fisioterapeuta nas relações familiares no apoio ao idoso dependente. Acreditase que a ESF e eSF, e em especial o profissional de fisioterapia quando inserido de forma atuante na equipe possa minimizar os impactos físico e emocionais que envolvem o processo do cuidado de um idoso dependente. Diante disso, discutir a prática de cuidado da atenção básica com enfoque na preparação e na atenção a inclusão da família para o cuidado do idoso no domicílio, é necessário.
As rotinas diárias junto ao idoso são muitas e das mais diversas dimensões, geralmente contínuas e relacionadas as necessidades de saúde dele. Sendo estes cuidados diários oferecidos de acordo com o grau de dependência, limitações funcionais e cognitivas do idoso. Vieira et al., (30), Silvestre (17), Flores e Seguel (31) pontuam que o cotidiano do cuidado traz dificuldades de ordem emocional, física, econômica e social, para o cuidador e eSF, como: dificuldades estruturais; barreiras territoriais e de acesso; escassez de insumos; dificuldades para acolher e acompanhar o cuidado da pessoa idosa dependente; dessa forma, fazendo-se necessária a assistência e apoio de profissionais de saúde. Destacam-se como atividades realizadas pelos cuidadores: a alimentação, integridade da pele, higiene, eliminações, terapêutica, locomoção e movimentação do paciente, além das atividades instrumentais como, preparar refeições, lavar e passar roupas, limpar a casa e realizar tarefas extradomiciliares. Ainda segundo Vieira (30), a higiene corporal, alimentação, cuidado com a integridade física, medicação e vestuário, denominadas de cuidados fundamentais estão tanto no campo do técnico, quanto no campo do sensível.
No estudo de Mendes, Miranda e Borges (7), Amendola, Oliveira e Alvarenga (32) sobre o perfil dos cuidadores familiares / domiciliares, em sua maioria foram encontradas mulheres, com baixo grau de escolaridade e que exercem o papel de cuidadora, mãe e dona de casa, cumulativamente. Evidenciando o fato de que isto é o resultado da divisão do trabalho entre homem e mulher, mantido muito tempo por convencionalismo da sociedade. O autor enfatiza ainda que mais de 50% dos cuidadores são casados, 37,3% solteiros ou separados e 3,4% viúvos. Apontando também que a maioria dos cuidadores não tem tempo para trabalhar fora de casa, além de que os cuidadores acabam por abandonarem seus empregos em prol do idoso que, geralmente, exige uma continuidade constante no cuidar. Nos estudos de Floriano et al. (11) e Mott, Schmidt e Macwillians (33) o cuidador familiar tem sido apontado como sujeito que mesmo sem formação na área de saúde, está cuidando do ente familiar e geralmente é uma pessoa da própria família ou uma pessoa da comunidade que foi adquirindo experiência ao cuidar de pessoas doentes e acabou fazendo desse cuidado uma ocupação informal. Nos estudos de Braz e Ciosak (34) e Mendes, Miranda e Borges (7), estes descrevem os motivos que levam um cuidador familiar assumir o cuidado. São documentados no primeiro estudo como motivação para o cuidar: o conformismo / resignação, o medo da perda, o compromisso, a compaixão, a imposição familiar e do ser cuidado, além da questão de gênero. Para Mendes, Miranda e Borges (7), os motivos que levam um familiar a assumir o cuidado domiciliar são as questões de obrigação moral, religiosa e cultural.
Também foi evidenciada nos estudos de Rafacho e Oliver (9), Felício et al., (22) a predominância de mulheres na tarefa de cuidar. Geralmente são de meia idade, casadas e com apenas o ensino fundamental. Evidenciou-se também que esses cuidadores quando senescentes, sofrem alterações em seu processo de envelhecimento e de saúde tornandose tão ou mais vulneráveis do que aqueles que eles cuidam. Constataram que há uma deficiência na Educação em Saúde para o cuidador para que consiga fazer uma prestação efetiva do cuidado ao idoso.
No estudo de Ceccon et al. (13), a maioria dos cuidadores familiares também eram mulheres e tinham ente 40 e 59 anos. Dentre os profissionais de saúde a maioria era do sexo feminino, enfermeiras, com idade entre 30 e 50 anos. Para Braz e Ciosak (34) o papel da mulher pelo cuidado é visto como natural. Esse cuidar é visto como mais um dos papéis assumidos dentro da esfera doméstica passados de geração a geração como um ritual. Não se constatou entre as mulheres, em seu estudo, revolta ou algum sentimento negativo em relação ao fato de ter sido escolhida cuidadora. Talvez porque a imagem do cuidador é ligada a imagem de uma mulher, em geral a mais velha da família, viúva ou solteira.
Quanto a atuação da eSF observou-se de um modo geral que um dos profissionais que mais adquire relevância é o fisioterapeuta. Porque, pelo conhecimento e pelo contato direto com a família, ele propõe intervenções que influenciam nos processos de saúde/doença dos familiares e da comunidade e, desse modo, ajuda os cuidadores a lidarem com a sobrecarga emocional gerada pelo trabalho oferecido. Cuidar de quem cuida seria então um problema real e uma atribuição dos profissionais de saúde, especialmente aqueles envolvidos na Atenção Primária à Saúde. Rafacho e Oliver (9), também realça que ainda há poucas pesquisas que abordam os cuidadores. Na maioria dos estudos a população alvo são os pacientes. Constatou-se também, que a assistência prestada pelas eSF mostrou-se focada no paciente, com carência de suporte e de recursos para acompanhamento e apoio aos cuidadores.
Observa-se que a literatura relacionada a prevenção e promoção de estratégias para a qualidade de vida do idoso dependente é extensa, mas poucos são os trabalhos que enfocam sobre o cuidador, sendo que estes também se encontram diariamente expostos a estresse, atividades instrumentais, sobrecarga emocional e sobrecarga de trabalho manual (transferências, banhos, higiene pessoal do idoso etc.). Visto que somos seres biopsicossociais o ambiente social que um indivíduo está inserido influencia diretamente no bem-estar físico e mental do mesmo. Ao pontuarmos a exaustão vivida por esses cuidadores no ambiente domiciliar cabe ao fisioterapeuta intervir de modo a orientar e treinar o cuidador evitando o aumento da sua vulnerabilidade.
A integralidade se apresenta como eixo prioritário na política de saúde, buscando transcender a prática curativa, assistindo o indivíduo em todas as esferas de atenção e considerando o sujeito inserido em um contexto social, familiar e cultural (35). Efetivamente a inserção do fisioterapeuta na ESF e na eSF com suas atribuições interligadas as ações da saúde coletiva, vem sendo mitigada quando se constata que esses profissionais não estão inseridos nessas unidades de AB, mesmo sendo observado que a Educação em Saúde, temática essa pouco difundida entre os cuidadores e idosos dependentes, tem a capacidade de modificar uma realidade e de promover qualidade de vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Quando se analisa esse aumento do número de idosos que vivenciam um processo de doença crônica e incapacitante, tornando-se dependentes, isso se transforma sim em uma problemática de saúde pública com impactos negativos e sobrecarga no âmbito físico, psicológico, social e financeiro para ambos os envolvidos. Haja visto a necessidade de reestruturação familiar onde muitas das vezes o cuidador abre mão da laboração extradomiciliar e absorve toda a sobrecarga e responsabilidade de cuidar do lar e também do ente incapacitado, dessa forma pode-se afirmar que o prejuízo mútuo é uma realidade já que de um modo geral esses cuidadores não estão capacitados e bem orientados para o processo de cuidar sintetizando problemas de cunho físico e emocional para ambas as partes.
A partir desta revisão aponta-se a necessidade de políticas sociais e programas funcionantes direcionadas ao cuidador, prevenindo assim efeitos deletérios a saúde de quem cuida, e não só de quem é cuidado. Mais estudos dentro desta temática precisam ser realizados, para que se crie e aprimore as práticas fisioterapêuticas e da eSF frente às necessidades do sujeito cuidado e do sujeito cuidador. Dessa forma, acredita-se que promover maior instrução e bem-estar ao cuidador é proporcionar uma melhor qualidade de vida ao idoso dependente também.
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