ESPIRITUALIDADE E SAÚDE: O PAPEL DA FÉ NA RECUPERAÇÃO DE PACIENTES UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202510192048


Aline Costa Siqueira Sales1; Ariadinna Sousa Duarte2; Diana Santiago Miranda3; Raissa Brito Da Silva4; Taciara Lima Martins5; Valquíria Da Silva Morais6; Esp. Pedro Henrique Rodrigues Alencar7


Resumo:

O presente trabalho tem como propõem analisar a influência da espiritualidade e da fé no processo de recuperação de pacientes, investigando seus impactos físicos, emocionais e psicológicos, bem como explorar o papel da fé no enfrentamento de doenças crônicas e terminais e compreender a percepção dos profissionais de saúde em relação à incorporação da espiritualidade no cuidado. A pesquisa foi conduzida por meio de revisão integrativa da literatura, envolvendo estudos nacionais recentes que abordam a relação entre espiritualidade, religiosidade e saúde, com foco em diferentes contextos clínicos, incluindo doenças crônicas, oncológicas e situações de crise. A análise dos dados permitiu identificar os efeitos da espiritualidade na experiência do paciente, observando que a fé atua como recurso de enfrentamento, promovendo resiliência, sentido de vida, adesão ao tratamento e melhoria do bem-estar emocional e psicológico. Também foi possível verificar que os profissionais de saúde reconhecem a importância da dimensão espiritual, mas enfrentam desafios relacionados à formação, à compreensão conceitual e à aplicação prática no atendimento clínico, evidenciando lacunas que dificultam a integração efetiva da espiritualidade nas práticas de cuidado. Os resultados indicam que a espiritualidade contribui de maneira significativa para a promoção de um cuidado integral, humanizado e centrado no paciente, fortalecendo a relação profissional-paciente e oferecendo suporte emocional tanto para pacientes quanto para profissionais em contextos de alta demanda. A partir dos achados, pode-se concluir que a espiritualidade e a fé desempenham papel essencial na recuperação e no enfrentamento de doenças, influenciando positivamente a qualidade de vida e o bem-estar dos indivíduos, sendo necessária a continuidade de estudos que aprofundem estratégias de integração da espiritualidade na prática clínica, com vistas a consolidar práticas de saúde mais abrangentes, éticas e humanizadas, capazes de atender de forma integral às necessidades físicas, emocionais e psicológicas dos pacientes.

Palavras-chave:  Espiritualidade. Saúde. Tratamento.

Abstract:

This study aims to analyze the influence of spirituality and faith on the patient recovery process, investigating their physical, emotional, and psychological impacts, as well as exploring the role of faith in coping with chronic and terminal illnesses and understanding healthcare professionals’ perceptions regarding the incorporation of spirituality into patient care. The research was conducted through an integrative literature review, including recent national studies that address the relationship between spirituality, religiosity, and health, focusing on different clinical contexts, including chronic diseases, oncology, and crisis situations. Data analysis allowed the identification of the effects of spirituality on the patient experience, showing that faith serves as a coping resource, promoting resilience, meaning in life, treatment adherence, and improvement in emotional and psychological well-being. It was also observed that healthcare professionals recognize the importance of the spiritual dimension but face challenges related to training, conceptual understanding, and practical application in clinical care, highlighting gaps that hinder the effective integration of spirituality into healthcare practices. The results indicate that spirituality significantly contributes to the promotion of comprehensive, humanized, and patient-centered care, strengthening the professional-patient relationship and providing emotional support for both patients and professionals in high-demand contexts. Based on these findings, it can be concluded that spirituality and faith play an essential role in recovery and coping with illnesses, positively influencing individuals’ quality of life and well-being. Furthermore, there is a need for continued research to deepen strategies for integrating spirituality into clinical practice, aiming to consolidate broader, ethical, and humanized healthcare practices capable of addressing the physical, emotional, and psychological needs of patients comprehensively.

Keywords: Spirituality. Health. Treatment.

1 INTRODUÇÃO

A espiritualidade e a fé desempenham um papel fundamental na recuperação de pacientes, influenciando tanto aspectos físicos quanto emocionais durante o processo de tratamento. Em virtude disto, a relação entre espiritualidade e saúde tem sido objeto de crescente interesse na literatura científica, uma vez que diversos estudos apontam para a correlação entre práticas espirituais e melhora no prognóstico de doenças (MORAIS; CASTRO, 2020)

Pacientes que possuem uma forte base espiritual tendem a demonstrar maior comprometimento com os cuidados médicos, uma vez que suas crenças frequentemente reforçam a importância da perseverança e da busca pela cura. Além disso, muitas tradições religiosas promovem hábitos saudáveis, como a moderação no consumo de substâncias prejudiciais, práticas de autocuidado e uma alimentação equilibrada, o que pode ter um impacto positivo na recuperação de doenças crônicas (BANIN et al., 2021).

Pesquisas indicam que pacientes que possuem uma crença espiritual bem desenvolvida tendem a enfrentar doenças com maior resiliência, apresentando menor nível de estresse, ansiedade e depressão. Ou seja, a espiritualidade pode atuar como um suporte psicológico, proporcionando um senso de propósito, esperança e fortalecimento emocional, aspectos essenciais para a recuperação de doenças graves ou crônicas (MORAIS; CASTRO, 2020). 

Compreender a influência da fé e da espiritualidade na recuperação pode contribuir para a implementação de práticas mais humanizadas na área da saúde, favorecendo um ambiente de acolhimento e bem-estar. Por esse motivo,  a relevância do presente estudo reside na necessidade de reconhecer a espiritualidade como um fator complementar na assistência à saúde, ampliando a visão tradicionalmente e incentivando uma abordagem mais holística no cuidado ao paciente.

Diante disto, a importância deste estudo é a necessidade de integrar a espiritualidade na formação dos profissionais da saúde. Muitos médicos, enfermeiros e terapeutas ainda têm dificuldades em abordar essa dimensão no atendimento, seja por falta de preparo acadêmico ou por receio de invadir aspectos pessoais do paciente. Acredita-se que compreender o papel da espiritualidade na recuperação pode contribuir para a formulação de diretrizes que auxiliem os profissionais a lidar com essa questão de maneira ética e respeitosa, promovendo um atendimento mais sensível às necessidades subjetivas dos pacientes.

Além disso, a pesquisa almeja por meio de seus resultados despertar uma visão crítica e analítica nos profissionais da saúde, acerca da importância da escuta qualificada, o diálogo sensível e o respeito às crenças do paciente, na qual exigem tempo e atenção. Afinal, a inclusão desse elemento exige mudanças estruturais, capacitação profissional, políticas públicas específicas e uma cultura institucional que valorize o ser humano em sua totalidade: corpo, mente e espírito.

Sendo assim, o estudo busca por meio de investigação de pesquisa bibliográfica, fundamenta-se na análise de obras científicas, artigos acadêmicos. Esse método possibilita a identificação de abordagens teóricas, estudos empíricos e discussões contemporâneas sobre o impacto da fé na recuperação de pacientes, garantindo um embasamento sólido para a análise proposta. Ademais, a resiliência emocional proporcionada pela fé pode ajudar os indivíduos a lidarem melhor com a dor, com o medo da morte e com as incertezas inerentes ao processo de tratamento. 

Com base nessa perspectiva, o presente trabalho tem como proposta: analisar a influência da espiritualidade e da fé no processo de recuperação de pacientes, investigando seus impactos físicos, emocionais e psicológicos, explorar o papel da fé no enfrentamento de doenças crônicas e terminais, considerando aspectos emocionais e psicológicos, investigar como profissionais da saúde percebem e incorporam a espiritualidade no cuidado com os pacientes e apontar desafios e possibilidades para a integração da espiritualidade no atendimento médico e terapêutico.

2 CARACTERIZAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE E A FÉ

A espiritualidade e a fé são conceitos profundamente enraizados na experiência humana, abrangendo dimensões emocionais, psicológicas e existenciais, na perceptiva de Rodrigues et al., (2020) embora muitas vezes usados de forma intercambiável, esses termos carregam significados distintos que merecem ser explorados para uma compreensão mais ampla do impacto que têm sobre o indivíduo, especialmente em contextos de saúde e recuperação.

A espiritualidade, de maneira geral, é um conceito o que se refere a uma busca pessoal por significado, conexão e transcendência. Para Oliveira et al., (2021) a fé não está ligada a uma religião formal ou organizada, embora muitas vezes se sobreponha à religiosidade, a mesma pode ser entendida como a maneira pela qual um indivíduo procura compreender sua existência, seu propósito de vida, e sua relação com algo maior do que ele próprio, seja isso uma força divina, o universo, ou uma rede de conexões com os outros seres humanos.

No que se refere a espiritualidade Jordan et al., (2021) profere que trata-se de uma experiência subjetiva e individual que abrange não apenas as crenças, mas também as práticas que ajudam o indivíduo a enfrentar a adversidade, encontrar paz interior e promover o bem-estar. Em outras palavras significa dizer que, a espiritualidade pode se manifestar em ações de compaixão, altruísmo, e busca de harmonia com o meio ambiente, refletindo uma visão convicta sobre algo.

Por certo, muitos encaram a espiritualidade como uma experiência de momentos de transcendência, meditação, oração ou outras práticas que facilitam o contato com um sentido maior. Este sentido transcendente é muitas vezes referido como uma busca por “algo maior”, que vai além da explicação científica ou materialista da realidade, oferecendo conforto e apoio psicológico, principalmente durante momentos de sofrimento ou doença (MORAIS; CASTRO, 2020).

Por outro lado, a fé é comumente entendida como uma crença forte em algo ou alguém, muitas vezes sem a necessidade de evidências, especialmente no contexto religioso, é uma crença que transcende a razão ou a lógica convencional, sendo frequentemente associada a uma confiança inabalável em um poder superior ou divino (TROFA et al., 2021).

Aguiar et al., (2018) garante que dentro das tradições religiosas, a fé é central, pois implica uma relação de confiança com uma divindade, com a promessa de cura, salvação ou ajuda divina, dependendo da crença religiosa específica. A fé religiosa, portanto, não se limita a uma confiança genérica, mas está intimamente ligada à experiência religiosa, à adoção de princípios éticos e morais, e à participação em rituais que reforçam a conexão com o divino. No entanto, a fé pode também ser um fenômeno não religioso. A fé em si mesmo, a fé em outras pessoas ou em processos terapêuticos, ou até mesmo a fé em um futuro melhor, são expressões da confiança que alguém deposita em algo que vai além da sua realidade imediata.

Embora espiritualidade e fé possam ser discutidas separadamente, em muitos contextos, elas estão interligadas e se reforçam mutuamente, uma vez que, a fé pode ser uma expressão importante da espiritualidade, especialmente para aqueles que praticam uma religião organizada (GOMES et al., 2021).

Outro fator importante que deve-se destacar é que a fé tem uma relação ativa com a religião, tais: Cristianismo, o Espiritismo, o Islamismo, o Judaísmo, as religiões de matriz africana (como o Candomblé e a Umbanda), o Budismo, entre outras. As mesmas possuem doutrinas específicas sobre saúde, dor, morte, cura e sofrimento (OLIVEIRA et al., 2021).

Além das crenças individuais, o papel da comunidade religiosa é igualmente fundamental no apoio aos enfermos. A vivência comunitária proporciona acolhimento, solidariedade, orações coletivas, visitas, rituais de cura e presença afetiva, aspectos que contribuem diretamente para o fortalecimento emocional e espiritual dos pacientes. A comunidade funciona, nesse sentido, como uma rede de apoio social, emocional e até material, capaz de amenizar o sofrimento, diminuir a solidão e reforçar o sentimento de pertencimento e cuidado (TROFA et al., 2021).

Jordan et al., (2021) ainda reforça dizendo que a espiritualidade pode existir de maneira independente de uma crença religiosa formal, sendo uma busca pessoal e única por significado e propósito. A fé, por sua vez, pode servir como um meio para uma experiência espiritual mais profunda, fornecendo a confiança necessária para explorar o desconhecido ou para enfrentar desafios existenciais.

2.1 O papel da fé no enfrentamento de doenças crônicas e terminais

Existem evidencias que provam que a espiritualidade pode melhorar o bem-estar psicológico, reduzir os níveis de estresse e ansiedade, e ajudar os pacientes a lidar melhor com o sofrimento. Pacientes com forte apoio espiritual tendem a mostrar uma maior capacidade de adaptação, uma melhor qualidade de vida e, em alguns casos, uma maior adesão aos tratamentos médicos (DIEGO et al., 2022).

A fé, por sua vez, tem um efeito terapêutico substancial ao proporcionar aos indivíduos uma sensação de segurança e esperança, em virtude disto, a mesma pode servir como um mecanismo de enfrentamento, especialmente em situações de doenças crônicas ou terminais, onde a esperança, embora desafiada pela realidade clínica, ainda é um pilar de resistência e superação. A confiança na possibilidade de cura, ou em um propósito maior que transcende a dor física, pode ser fundamental para o processo de recuperação, especialmente quando associada a estratégias terapêuticas e psicológicas adequadas (BANIN et al., 2021).

Os profissionais da saúde, ao lidarem diariamente com o sofrimento humano, muitas vezes se deparam com manifestações de fé, espiritualidade e busca de sentido por parte dos pacientes. Estudos indicam que muitos desses profissionais reconhecem o valor da espiritualidade como um recurso terapêutico que pode contribuir significativamente para a qualidade de vida, o bem-estar emocional, a adesão ao tratamento e até mesmo para a resiliência diante de diagnósticos graves. A espiritualidade é percebida, nesse contexto, como uma ferramenta de apoio que fortalece o paciente em sua jornada de recuperação ou em seu processo de aceitação da doença (DIEGO et al.,  2022).

Apesar desse reconhecimento, a incorporação prática da espiritualidade no cuidado ainda enfrenta desafios. Muitos profissionais relatam falta de preparo e formação adequada para abordar o tema de forma ética, respeitosa e competente. Há também receio de invadir a privacidade do paciente ou de ultrapassar os limites entre assistência clínica e crenças pessoais. Assim, mesmo percebendo a espiritualidade como importante, muitos deixam de incluí-la em suas práticas por insegurança, desconhecimento ou por não saberem como fazê-lo de forma apropriada (GOMES et al., 2021).

 Portanto, um dos principais desafios é a falta de formação adequada dos profissionais de saúde sobre como abordar a espiritualidade no contexto clínico. Muitos médicos, enfermeiros e outros profissionais relatam não se sentirem preparados para discutir questões espirituais com os pacientes, seja por desconhecimento, por medo de ultrapassar limites éticos ou por receio de interferir nas crenças pessoais dos indivíduos.  Segundo Aguiar et al., (2018) a ausência de disciplinas sobre espiritualidade em cursos de graduação na área da saúde contribui para essa lacuna, deixando os profissionais sem base teórica ou técnica para conduzir tais abordagens de forma sensível e respeitosa.

Por isso, lidar com a espiritualidade exige neutralidade, empatia e respeito à diversidade cultural e religiosa dos pacientes, sobretudo, superar essas limitações exige mudanças estruturais, capacitação profissional, políticas públicas específicas e uma cultura institucional que valorize o ser humano em sua totalidade — corpo, mente e espíritoParte inferior do formulário

3 METODOLOGIA

Este estudo foi elaborado por meio da pesquisa bibliográfica e descritiva, com abordagem qualitativa, fundamentada em materiais disponíveis em bases de dados científicas, como SciELO e Google Acadêmico.

A escolha dessa metodologia justifica-se pela necessidade de reunir e interpretar dados teóricos sobre a relação entre espiritualidade e saúde, permitindo uma análise aprofundada das evidências já documentadas na literatura. Para Gil (2020) a revisão bibliográfica possibilita a identificação de diferentes perspectivas e contribuições científicas sobre o tema, além de evidenciar lacunas que podem nortear futuras investigações.

Para garantir a relevância dos dados coletados foi adotado como critérios de inclusão: (1) artigos publicados entre 2018 e 2024, garantindo atualidade às informações; (2) estudos que abordam a relação entre espiritualidade, fé e saúde, com foco na recuperação de pacientes; (3) pesquisas disponíveis em língua portuguesa e inglesa.

Foram excluídos da análise: (1) artigos que não apresentavam relação direta com o tema; (2) estudos duplicados em diferentes bases de dados; (3) publicações sem acesso ao texto completo; e (4) materiais opinativos ou sem rigor científico, como dissertações não publicadas, notícias e textos de caráter exclusivamente religioso.

A coleta de dados foi realizada no período de abril a julho de 2025 e   as buscas foram conduzidas em bases de dados eletrônicas, combinando-se os descritores por meio de operadores booleanos (AND e OR) a fim de ampliar e refinar os resultados, garantindo maior abrangência na seleção dos estudos. Inicialmente, foram obtidos 98 artigos, publicados entre os anos de 2018 e 2024.

Em seguida, procedeu-se à leitura dos títulos e resumos para identificar a pertinência temática e a adequação aos critérios de inclusão, que consideraram: estudos disponíveis na íntegra, publicados em português, inglês ou espanhol, com foco na relação entre espiritualidade, fé e saúde emocional. Os critérios de exclusão englobaram duplicatas, resumos de eventos, teses, dissertações e artigos que não abordavam diretamente o tema proposto.

Após essa triagem inicial, os artigos elegíveis foram submetidos à leitura completa e análise de conteúdo, resultando em um total de 8 obras selecionadas para compor o corpus final da pesquisa. Esses estudos foram analisados de forma qualitativa, buscando identificar as principais abordagens, resultados e contribuições referentes à temática da espiritualidade e seu impacto na saúde e no bem-estar emocional.

As obras selecionadas foram lidas na íntegra e categorizados conforme os principais temas abordados, permitindo uma reflexão aprofundada sobre o papel da espiritualidade na recuperação de pacientes. Os resultados foram organizados em categorias temáticas, como benefícios emocionais e fisiológicos da fé, impacto na adesão ao tratamento e percepção dos profissionais de saúde sobre a espiritualidade no cuidado ao paciente.

A partir dessa abordagem foi possível obter um panorama sobre a relevância da espiritualidade no contexto da saúde, identificando seus efeitos na recuperação de pacientes e apontando desafios para a inclusão desse aspecto nos tratamentos médicos.

4 RESULTADOS

Conforme citado, inicialmente analisados 98 estudos publicados entre os anos de 2018 e 2024. Dentre esses, apenas 8 estudos atenderam plenamente aos critérios de inclusão previamente estabelecidos, tais como: relevância para o tema espiritualidade e saúde, metodologia claramente descrita, e abordagem dos impactos físicos, emocionais, psicológicos e/ou sociais da espiritualidade na recuperação de pacientes.

Segue abaixo a imagem da seleção conforme ilustra o fluxograma:

Os artigos selecionados foram revisados de forma criteriosa, buscando evidências científicas que respondessem aos objetivos desta pesquisa. Para facilitar a compreensão dos resultados, os dados foram organizados de acordo com os principais eixos temáticos definidos no estudo.

Segue abaixo o quadro 1 apresentando as obras selecionadas, com identificação do autor (a) o ano de publicação, assim como o objetivo dos estudos e os principais achados.

Quadro 2. Quadro sinóptico com a distribuição e organização dos artigos selecionados

Fonte: Autoria própria, 2025.

5 DISCUSSÃO

Ao reunir os achados dos oito estudos analisados, o estudo de Dantas et al. (2022) destacou que a espiritualidade promoveu conforto emocional e funcionou como estratégia de resiliência diante do isolamento e da incerteza. Esse achado converge com os resultados de Barros et al. (2024), que analisaram pacientes oncológicos e identificaram que a fé e as práticas espirituais favorecem a ressignificação da doença, auxiliando no enfrentamento da dor, do estresse e da finitude da vida, o que reforça a importância da dimensão espiritual como suporte psicológico em momentos críticos.

Pensamento semelhante apresentou o Oliveira et al. (2024), pois o mesmo direcionou o seu olhar para a percepção da equipe multiprofissional em cuidados paliativos, apesar das diferenças na compreensão do conceito de espiritualidade, os profissionais reconheciam a relevância da fé no cuidado humanizado e abrangente. Nesse sentido, percebe-se uma sintonia com os achados de Faria (2024), que defende a inserção da espiritualidade na formação dos profissionais de saúde, uma vez que este preparo poderia reduzir a lacuna entre a percepção da importância desse cuidado e a real implementação de práticas que contemplem a dimensão espiritual no cotidiano assistencial. Nesse sentido, Santos et al. (2023) reforçam a urgência da inserção da espiritualidade nos currículos da saúde, indicando que o reconhecimento prático relatado por Oliveira et al. só se consolidará se houver uma base formativa sólida.

No campo das doenças crônicas, Santos et al. (2024) e Gil Lopes (2024) convergem ao indicar que a integração da Espiritualidade e a Saúde melhora a qualidade de vida e o enfrentamento das condições clínicas, funcionando como recurso complementar que ultrapassa a dimensão biológica. Essa perspectiva vai ao encontro de Barros et al. (2024), que, ao investigar pacientes oncológicos, identificam no coping religioso um recurso de ressignificação da finitude e de enfrentamento do sofrimento. No entanto, cabe aqui analisar a percepção de Santos et al. (2024) e Gil Lopes (2024) com veemência, pois falam de um impacto positivo quase generalizado, enquanto Barros et al. (2024), reconhecem um recorte mais sensível, ao lidar com o câncer e a proximidade da morte, o que exige maior cautela para não romantizar a espiritualidade como “solução universal”, mas compreendê-la como um recurso subjetivo que varia de indivíduo para indivíduo.

Já Santana et al. (2021), ao analisar o contexto da pandemia da COVID-19, trazem uma contribuição singular: além de reforçar a espiritualidade como suporte de sentido para pacientes e profissionais, defendem que as “habilidades espirituais” devem ser vistas como essenciais no manejo de desastres e crises. Esse ponto dialoga criticamente com Oliveira et al. (2024), mostra profissionais que reconhecem a importância da espiritualidade, Santana et al. revelam que tal reconhecimento precisa se transformar em competência prática, capaz de aliviar sofrimento em cenários extremos.

Contudo, os estudos indicam que a espiritualidade não deve ser reduzida a um “adicional subjetivo”, mas integrada de maneira crítica e ética ao cuidado, respeitando a pluralidade de significados atribuídos pelos indivíduos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A espiritualidade e a fé desempenham um papel fundamental no processo de recuperação dos pacientes, influenciando não apenas a dimensão física da saúde, mas também os aspectos emocionais e psicológicos.

Com base nas pesquisas realizadas pode-se constatar que diante de situações de doença crônica ou terminal, a espiritualidade funciona como um recurso interno que proporciona conforto, esperança e resiliência, auxiliando na construção de sentido para experiências marcadas pelo sofrimento e pelas limitações impostas pela condição de saúde. Esse entendimento reforça a necessidade de considerar o paciente de forma integral, reconhecendo que o cuidado não se restringe apenas à intervenção clínica, mas envolve também atenção às dimensões subjetivas que impactam diretamente sua qualidade de vida.

A investigação também evidenciou que os profissionais de saúde reconhecem a importância da espiritualidade, mas enfrentam desafios na sua aplicação prática. Há uma lacuna entre o reconhecimento do valor da dimensão espiritual e a forma como ela é incorporada efetivamente no atendimento. Essa discrepância revela a necessidade de maior preparação e capacitação dos profissionais, de forma que a espiritualidade deixe de ser apenas uma percepção ou intenção e se torne uma prática integrada e estruturada dentro do cuidado cotidiano.

Além disso, foi possível perceber que a espiritualidade atua como um mecanismo de enfrentamento diante de crises, angústias e incertezas, ajudando o paciente a lidar com o estresse e a ansiedade provocados pela doença ou pelo contexto de sofrimento. A mesma torna uma ferramenta de ressignificação, permitindo que o indivíduo encontre propósito e sentido mesmo em situações adversas, o que impacta diretamente na motivação para aderir aos tratamentos, na capacidade de enfrentar limitações físicas e na manutenção do equilíbrio emocional. Essa dimensão não se restringe apenas ao paciente, os profissionais de saúde também podem se beneficiar do reconhecimento da espiritualidade como recurso para lidar com a pressão e os desafios inerentes à prática clínica, tornando o ambiente de cuidado mais acolhedor e menos sobrecarregado emocionalmente.

Portanto, pode-se concluir que a espiritualidade e a fé exercem influência positiva na experiência de cuidado, contribuindo para a recuperação, o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes, ao mesmo tempo em que oferecem suporte emocional para os profissionais que atuam nesse contexto.

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1 Acadêmico(s) do 8º período do curso de Enfermagem endereço eletrônico: alinesales864@gmail.com
2 Acadêmico(s) do 8º período do curso de Enfermagem endereço eletrônico:ariadinnaduarte@gmail.com
3 Acadêmico(s) do 8º período do curso de Enfermagem endereço eletrônico: Diana.santigo18.amo@gmail.com
4 Acadêmico(s) do 8º período do curso de Enfermagem endereço eletrônico:britoraissabrito6@gmail.com
5 Acadêmico(s) do 8º período do curso de Enfermagem endereço eletrônico:taciaramartins5@gmail.com
6 Acadêmico(s) do 8º período do curso de Enfermagem endereço eletrônico:valquíria. 2239@gmail.com
7 Orientador, Titulação, Professor do curso de enfermagem, endereço eletrônico: enfpedro.alencar@gmail.com