ESCOLHA PROFISSIONAL: ESTRESSE E ANSIEDADE EM ADOLESCENTES MATRICULADOS NO TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10076651


Emanuela Carla Maziero1
Scheila Beatriz Sehnem2


RESUMO

A adolescência é um período da transição de criança para adulto e de amadurecimento emocional; a escolha da profissão é uma decisão que causa grande estresse e ansiedade nessa fase. O objetivo desta pesquisa é avaliar a saúde mental e a maturidade emocional para a escolha da profissão em adolescentes matriculados no terceiro ano do ensino médio. É caracterizada como uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa. Foram utilizados quatro instrumentos, sendo eles um questionário semiestruturado; o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp – revisado; o Inventário de Ansiedade Beck e a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional. Os resultados encontrados sugerem que os adolescentes possuem baixa maturidade emocional, principalmente em relação à responsabilidade e ao autoconhecimento, o que pode estar relacionado com os altos níveis de estresse. Apesar disso, a maioria dos sujeitos apresentou sintomas leves de ansiedade, indicando possuírem recursos emocionais para lidar com essa emoção. Conclui-se que as adversidades vivenciadas durante a adolescência contribuem para a baixa maturidade emocional e os altos níveis de estresse, apesar disso, possuem boa capacidade de lidar com ansiedade. Destaca-se a importância do acompanhamento psicológico e da orientação profissional, fornecidos por psicólogos nas escolas.

Palavras-chave: Adolescência; estresse; ansiedade; escolha profissional.

1. INTRODUÇÃO

A adolescência é um período do desenvolvimento do ser humano, onde ocorrem diversas alterações cognitivas, físicas, psicológicas e sociais (CARVALHO, E., et al., 2021).

Essa transição de criança para adulto é acompanhada por dúvidas, incertezas, medo e insegurança, pois todas essas mudanças, junto com a responsabilidade de tomar decisões, podem causar ansiedade e altos níveis de estresse (SILVEIRA et al., 2020).

A escolha profissional é uma dessas decisões importantes, uma vez que define carreiras e futuros. A pressão imposta pela sociedade, pela família e pela escola, para que o jovem escolha uma carreira promissora, entre no mercado de trabalho, preste vestibular e curse uma faculdade, é comum na maioria das pessoas. Por ser considerada uma decisão importante, o estresse e a ansiedade são condições inerentes nesta fase da vida, principalmente no último ano do ensino médio, tendo em vista que é quando os jovens precisam tomar a decisão do que fazer após a escola, pressão do vestibular e iniciar no mercado de trabalho (LEÃO; VARGAS, 2022).

Em uma pesquisa realizada por Matte (2019), na qual foi verificada a predominância de estresse, ansiedade e depressão em alunos do primeiro e terceiro ano do ensino médio, 81% dos alunos do terceiro ano apresentaram estresse e ansiedade suave e extremamente grave, se comparado com 48,6% dos alunos do primeiro ano. Já em pesquisa desenvolvida por Martins et al. (2021), em que o objetivo era buscar evidências de estresse em alunos de um curso preparatório para vestibular, foi indicado que 80% dos estudantes que participaram da pesquisa apresentaram sintomas de estresse, sendo manifestado na maior parte pelo sexo feminino.

Segundo Maia e Dias (2020), após a pandemia da Covid-19, os níveis de estresse e ansiedade aumentaram, principalmente em adolescentes, em virtude da mudança na rotina social e escolar durante o período de isolamento. Hoje, mesmo após o fim da pandemia, ainda é possível perceber as sequelas deixadas por este período.

Essas adversidades, acompanhadas da escolha profissional, são gatilhos para o desenvolvimento de estresse e ansiedade (SILVEIRA et al., 2020). Por isso, analisar a maturidade emocional dos adolescentes frente à escolha da profissão se faz extremamente necessária para que sua decisão seja alinhada com suas habilidades e interesses, seja independente, para não serem influenciados pela opinião de terceiros, responsáveis pela sua própria decisão, confiantes e conheçam a realidade social da profissão (NEIVA, 2014).

Dessa forma, percebe-se a necessidade de mensurar o nível de estresse e ansiedade em adolescentes, bem como se estes possuem maturidade para a escolha profissional. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo avaliar a saúde mental e a maturidade emocional para a escolha da profissão em adolescentes matriculados no terceiro ano do ensino médio, para que, a partir dos resultados, seja possível aprimorar políticas públicas e o suporte psicológico para que essa tomada de decisão seja aprimorada.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa. A pesquisa descritiva tem como objetivo apresentar os aspectos característicos de diferentes populações, estudando suas características e particularidades, além de associações entre variáveis (GIL, 2022). Já a pesquisa quantitativa apresenta os resultados por meio da análise de dados numéricos e de estatística, sendo objetiva, conclusiva e precisa (CRESWELL; CRESWELL, 2021).

Os sujeitos participantes da pesquisa foram todos os alunos matriculados no terceiro ano do ensino médio, com idades entre 17 e 18 anos, do turno matutino, de uma escola estadual, em uma cidade do oeste de Santa Catarina, totalizando 31 alunos; destes, 14 participaram da pesquisa.

Os instrumentos utilizados foram um questionário semiestruturado com nove questões abertas e seis fechadas, para identificação da população estudada; o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp – Revisado (LIPP, 2022), a fim de classificar o nível de estresse; o Inventário de Ansiedade Beck (CUNHA, 2001), para rastrear o nível de ansiedade apresentado pelos alunos; e a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional (NEIVA, 2014), para avaliar a maturidade emocional para escolha da profissão desses adolescentes.

Inicialmente foi feito contato com a coordenação escolar, no qual foi agendado uma data no mês de maio para a entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e do Termo de Assentimento aos alunos. Foi feito o convite para os alunos participarem da pesquisa, explicando os objetivos, os benefícios e a necessidade de trazer os Termos assinados pelos responsáveis e pelos próprios alunos no dia da aplicação; por esse motivo, 14 dos 31 alunos participaram, pois alguns não haviam comparecido na data da entrega dos termos, não podendo trazer assinado. Na data subsequente, a pesquisa foi realizada, por meio da aplicação coletiva dos instrumentos, dentro de uma sala de aula, nas dependências da instituição participante. A aplicação teve duração de 50 minutos.

A análise dos dados coletados ocorreu por meio da tabulação dos resultados quantitativos e os resultados comparados e fundamentados com a literatura científica sobre o assunto disponível. Os testes psicológicos possuem uma rigorosidade de correção e seguem uma tabulação já estabelecida pelos manuais, dessa forma, foram corrigidos conforme é indicado nos manuais, para que a fidedignidade das informações seja mantida.

Destaca-se que essa pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) e aprovada sob o parecer número 6.021.513.

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS

3.1. NÍVEL DE ESTRESSE

O estresse é inerente à condição humana e é experimentado por todos os indivíduos. Ele surge em decorrência de mudanças na rotina, desconfortos, situações intensas e que causam dificuldade para o indivíduo se adaptar. Alguns sintomas são consequência do estresse, como a taquicardia, tensão muscular, perda de interesse em atividades rotineiras ou empolgação súbita para novas ideias, angústia, fadiga, insônia, mudanças de apetite, hipertensão, explosões de raiva, problemas gástricos e dermatológicos, ansiedade, dificuldade de concentração, entre outros. Caso ocorram de forma persistente, podem ser responsáveis pela diminuição da qualidade de vida e do bem-estar do sujeito (LIPP, 2022).

O estresse pode ocorrer de forma frequente durante a adolescência, pois nesta fase enfrentam diversas mudanças físicas, sociais e psicológicas. Algumas situações podem ser como gatilhos para o desenvolvimento de sofrimento mental, podendo incluir dificuldades nas relações com os pais, bullying, baixo rendimento escolar, pressões sociais, preocupação com o futuro e com a futura profissão, entre outros (ALVES et al., 2023).

Os resultados dos níveis de estresse do teste dos adolescentes que participaram deste estudo de investigação, podem ser vistos na Tabela 1:

Tabela 1 – Níveis de estresse com adolescentes

ClassificaçãoFemininoMasculinoTotal
Não qualificável7,1%21,4%28,5%
Leve7,1 %0,07,1 %
Moderado28,5%7,135,6
Grave28,5%0,028,5%

Fonte: as autoras.

A pesquisa foi realizada com quatorze estudantes do terceiro ano do ensino médio; 71,4% eram indivíduos do sexo feminino e 28,5% eram do sexo masculino. Dos participantes, 28,5% não apresentaram sintomas que podem ser qualificáveis para estresse, enquanto 7,1% apresentaram sintomas leves de estresse. Já nos sintomas moderados, foi apresentado por 35,6% dos sujeitos e em relação aos sintomas graves, foi apresentado por 28,5% dos participantes, sugerindo, assim, que a maior parte dos alunos apresenta nível de estresse moderado e grave, se comparado com a faixa etária.

O estresse é um conjunto de respostas biológicas e psicológicas do organismo humano a um estímulo externo ou interno percebido como ameaçador, desconfortável, desafiador ou perigoso. É uma das emoções básicas dos seres humanos, mas pode se tornar prejudicial à saúde quando acontece de forma prolongada, frequente e intensa, passando a ser considerado patológico a partir do momento que prejudica o cotidiano do indivíduo. O estresse é vivenciado de modo diferente por cada pessoa, além de possuir diferentes impactos para cada um (LIPP, 2022).

Sendo assim, 28,5% dos sujeitos apresentaram sintomas de estresse não qualificáveis, ou normais, sendo que 7,1% do sexo feminino e 21,4% do sexo masculino. Martins et al. (2021), identificaram um resultado parecido em pesquisa que buscou evidências de estresse em alunos de um curso preparatório para vestibular, sendo que 19,4% dos participantes não apresentaram estresse neste estudo.

Nessa variável, a maior parte dos sujeitos que não apresentou sintomas de estresse diz respeito a indivíduos do sexo masculino. Martins et al. (2021) identificaram que as mulheres são mais propensas a apresentar estresse, justamente por serem mais vulneráveis. As alterações hormonais ocorridas durante o ciclo menstrual, por exemplo, podem ser um dos responsáveis pelo aumento de estresse em indivíduos do sexo feminino, aumentando, desse modo, a resposta negativa a situações estressantes (ALBERT; PRUESSNER; NEWHOUSE, 2015).

Os sintomas leves de estresse são definidos como sintomas que não causam prejuízos no cotidiano do indivíduo. Neste estudo, 7,1% dos sujeitos (todos do sexo feminino) apresentaram sintomas leves de estresse, ou seja, sintomas não prejudiciais. Em estudo de Castro, Junqueira e Cicuto (2020), no qual o objetivo era avaliar os níveis de Ansiedade, Depressão e Estresse de estudantes da terceira série do Ensino Médio durante a pandemia da Covid-19, identificou-se que 9,5% dos adolescentes participantes da pesquisa apresentaram sintomas leves, relacionando-se com os dados apresentados.

O estresse moderado, diferente do leve, é a apresentação dos sintomas de estresse de forma mais frequente e prejudicial. No estresse considerado moderado, os sintomas de raiva, tensões musculares, taquicardia, angústia, ansiedade, entre outros, ocorrem de forma menos intensa que a grave. Apesar disso, deve ser considerado que se o estresse ocorrer de forma frequente e que cause grandes prejuízos no cotidiano do indivíduo, pode levar a um estresse patológico, acarretando diminuição considerável na qualidade de vida (LIPP, 2022).

É interessante observar que um número expressivo apresentou sintomas moderados e graves, onde apresentou os maiores percentis. O estresse moderado é considerado como uma fase de alerta (LIPP, 2022). Sendo assim, nesta pesquisa, 28,5% dos sujeitos do sexo feminino e 7,1% dos sujeitos do sexo masculino apresentaram sintomas moderados. Esse resultado pode ser comparado com pesquisa de Castro, Junqueira e Cicuto (2020), já citada anteriormente, onde foi possível perceber que 28,6% dos alunos apresentaram estresse moderado.

O estresse grave ocorre em situações que exigem maior esforço para se adaptar ou enfrentar, ocorrendo de forma prolongada, frequente e intensa. Isso pode ser definido pela forma como o estresse é vivenciado pelo indivíduo, suas experiências pessoais, sua relação consigo e com o mundo. Já o estresse moderado ocorre de maneira menos intensa, apesar de ser percebido os sintomas e causar um prejuízo no bem-estar. Pode ocorrer em situações comuns do cotidiano (LIPP, 2022).

Em relação ao estresse grave, dos quatorze alunos avaliados, 28,5% se encontram em níveis de estresse grave. Em pesquisa realizada por Martins et al. (2021), que buscou evidências de estresse em alunos de um curso preparatório para vestibular, foi indicado que 80% dos estudantes que participaram da pesquisa apresentaram sintomas de estresse, sendo manifestado na maior parte pelo sexo feminino

O estresse grave é o nível mais alto de sintomas indicados pelo instrumento utilizado nesta pesquisa, onde o indivíduo experimenta vários sintomas relacionados ao estresse e diminuindo a qualidade de vida de forma significativa (LIPP, 2022). Se essa condição ocorrer de forma crônica e persistente, pode acarretar no surgimento ou agravamento de diversas doenças físicas ou mentais (ANTUNES, 2019).

A presente pesquisa demonstrou um nível de estresse maior em mulheres, esse fato pode estar relacionado aos diferentes papéis que a mulher representa socialmente, pressão às exigências impostas na mulher e desigualdades de gênero, tudo isso, acarretando em grande estresse e sobrecarga mental (COSTA, 2018).

Algumas causas desse alto nível de estresse podem ser a pressão da escolha profissional, principalmente da família, que ocorre durante a adolescência, especialmente no último ano do ensino médio, onde ocorre a preparação para a entrada da vida adulta e vestibular. Essa decisão é marcada por dúvidas, incertezas, inseguranças e medos, o que pode acarretar o surgimento de sintomas de estresse e a diminuição do bem-estar nos adolescentes (MARTINS et al., 2021).

Outro ponto importante que deve ser considerado é que, após a pandemia da Covid-19, houve um aumento considerável do estresse, ansiedade e depressão em adolescentes (MAIA; DIAS, 2020). Isso pode estar relacionado ao isolamento social forçado, por conta da quarentena, ao medo de contrair a doença, a incerteza, o uso elevado de redes sociais, celulares, computadores e televisão, entre outros fatores (SILVA et al., 2021).

De modo geral, observa-se que a maior parte dos sujeitos participantes da pesquisa apresentou sintomas moderados e graves de estresse, o que pode indicar que as diversas situações precipitadoras que ocorrem durante esse período de ensino médio, afetam de forma considerável a qualidade de vida desses jovens.

3.2. NÍVEIS DE ANSIEDADE

A ansiedade é definida como o medo excessivo, acompanhado por perturbações comportamentais desproporcionais à situação, superestimando o perigo e com pensamentos catastróficos produzidos pelo indivíduo. O medo é o resultado emocional de uma ameaça e a ansiedade é a antecipação de uma ameaça que pode ou não ocorrer. As perturbações comportamentais geralmente ocorrem mediante ações de esquiva, onde possuem o objetivo de evitar ao máximo a situação que causa medo no indivíduo (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2022).

A ansiedade desencadeia um conjunto de sintomas, sendo eles taquicardia, medo, dificuldade de concentração, sudorese, tremores, dificuldade para respirar, cefaleia, dores abdominais, tensão muscular, etc., que surgem por meio de gatilhos e situações desconfortáveis vivenciadas pelo indivíduo, que podem causar sofrimento clinicamente significativo. Ela pode influenciar diretamente no surgimento de Transtornos de Ansiedade crônicos e comórbidos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2022).

Os níveis de ansiedade apresentados pelos participantes desta pesquisa podem ser vistos na Tabela 2, a seguir:

Tabela 2 – Níveis de ansiedade dos participantes da pesquisa

ClassificaçãoBAIFemininoMasculinoTotal
Mínimo0,021,42 %21,4 %
Leve42,9%7,1 %50%
Moderado14,2 %0,014,2%
Grave14,2 %0,014,2%

Fonte: as autoras.

Por intermédio da Tabela 2 foi possível perceber que 21,4% dos sujeitos participantes apresentaram classificação de ansiedade mínima, sendo todos do sexo masculino. Na classificação leve, 42,9% eram do sexo feminino e 7,1% do sexo masculino, sendo assim, 50% dos examinados possuem ansiedade leve. Já na classificação de ansiedade moderada, 14,2% apresentaram esse escore, sendo todos indivíduos do sexo feminino. Na classificação de ansiedade grave, 14,2% dos sujeitos apresentaram essa classificação. Dessa forma, é perceptível que metade dos sujeitos participantes possui ansiedade nível classificado como leve.

Quanto aos sintomas mínimos, 21,4% dos sujeitos apresentaram essa classificação, sendo do sexo masculino, significando que apresentam alguns sintomas de forma esporádica, o que não causa prejuízo significativo em seu cotidiano. Em pesquisa de Campos (2021), na qual se avaliou a ansiedade, burnoute autoeficácia para a escolha profissional em estudantes do final do ensino médio, 35% dos alunos apresentaram sintomas mínimos de ansiedade.

É importante destacar e observar novamente a diferença de sexos e os níveis de ansiedade relacionados ao papel desempenhado pelas mulheres na sociedade, sendo marcado por grandes cobranças, dificuldades e preconceitos (COSTA, 2018). Além disso, o aumento da ansiedade, assim como outras alterações do humor, também é vinculada a este período, em virtude do desenvolvimento de questões hormonais durante a adolescência. Silva, Silva e Enumo (2017) citam que “alterações hormonais na adolescência desencadeiam diversas alterações emocionais e comportamentais que precisam ser observadas na clínica psicológica.” Em relação aos sintomas qualificados como leves, 50% dos participantes, ou seja, metade da população estudada, obteve essa classificação. A ansiedade com sintomas leves pode ser classificada como sentimentos que não causam tanto incômodo ou que interfiram nas atividades cotidianas, dessa forma, pode ocorrer a remissão desses sintomas de forma fácil, pelos próprios indivíduos.

Em relação ao nível moderado de ansiedade, 14,2% dos sujeitos apresentaram essa classificação. Dados parecidos foram encontrados em pesquisa de Soares e Almeida (2020), onde foi realizado um estudo da ansiedade em alunos do primeiro ano do ensino médio de um Instituto Federal de Ensino, sendo possível encontrar nível moderado de ansiedade em 17% dos participantes. Na referida pesquisa, por meio dos resultados obtidos, identificou-se que 83% dos estudantes do primeiro ano do ensino médio integrado apresentaram nível de ansiedade grave, enquanto 17% apresentaram nível de ansiedade moderado, porém, após realizarem intervenções com protocolos da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), foi possível perceber que os sujeitos tiveram uma redução dos sintomas de ansiedade.

A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) tem se mostrado bastante eficaz para o tratamento de sintomas ansiosos. Essa abordagem terapêutica considera que o pensamento influencia no comportamento e nas emoções. Assim, o objetivo da TCC é ajudar o indivíduo para que ocorra uma reformulação das crenças desadaptativas e disfuncionais, que desencadeiam a ansiedade, fazendo com que o indivíduo tenha pensamentos mais realistas e funcionais. Isso é alcançado mediante a reestruturação cognitiva, técnicas e protocolos específicos (BECK, 2021).

A ansiedade faz parte da condição de todos, sendo considerada saudável até níveis moderados, pois faz parte da natureza adaptativa dos seres humanos e nos ajuda a nos prepararmos e protegermos de diferentes ameaças ou situações. Ela passa ser considerada patológica e grave quando as preocupações são exageradas e desproporcionais à situação e à faixa etária do indivíduo, podendo interferir significativamente na qualidade de vida e bem- estar, ocasionando comprometimento funcional no desempenho de atividades do cotidiano, em diversas áreas, podendo ser profissional, acadêmica e nos relacionamentos interpessoais e também no aumento das taxas de diversas outras comorbidades (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2022).

No que se refere aos sintomas graves de ansiedade, que são definidos como níveis intensos, frequentes e persistentes e que causam grandes prejuízos na saúde mental do indivíduo, 14,2% dos sujeitos apresentaram esse percentil, sendo todas do sexo feminino. Esse fato se relaciona novamente com o que foi citado anteriormente sobre os níveis de estresse serem mais significativos em indivíduos do sexo feminino, por conta das diversas variáveis hormonais e exigências sociais, também sendo possível perceber em relação aos níveis de ansiedade (COSTA, 2018). Esses dados encontrados são parecidos com uma pesquisa feita por Lamônica (2019), em que seu objetivo era avaliar a prevalência de indicadores de ansiedade, estresse e depressão em estudantes vestibulandos; foi identificado que 17,7% apresentaram ansiedade considerada grave. A pesquisa também mostrou essa diferença entre sexos, nesse caso, as meninas apresentando mais sintomas de estresse do que meninos.

Dos 14,2% dos sujeitos que apresentaram ansiedade grave, também apresentaram sintomas graves de estresse, dados apresentados na Tabela 1. O estresse e a ansiedade estão relacionados, principalmente, por essas duas condições terem diversos sintomas parecidos, como irritabilidade, tensão muscular, cefaleia, dificuldade de concentração, problemas gástricos ou alergias na pele, entre outros (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2022).

A pressão familiar para a escolha dessa profissão é um fator que pode promover um desequilíbrio emocional e aumento da ansiedade. A profissão é geralmente influenciada pelos pais e familiares, uma vez que depositam grandes expectativas para que o filho se forme em alguma profissão em que eles acreditam ser a melhor, e o jovem, muitas vezes, para não os decepcionar, acaba escolhendo fazer uma faculdade no qual não se identifica, não gosta ou não tem aptidão para tal, causando frustração, ansiedade e tristeza para o adolescente (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2022).

Durante o último ano do ensino médio, os adolescentes se veem, ainda, diante da expectativa de prestar vestibular para poder entrar em uma universidade. A dificuldade para estudar diversos assuntos cobrados nas provas, o medo de desapontar familiares, de não conseguir um bom desempenho, o fato de seu sucesso depender também do fracasso de outros concorrentes aumenta de forma considerável a ansiedade nesses adolescentes (CARVALHO, O., et al., 2021).

O tempo do uso de telas é outro fator que deve ser considerado em relação ao aumento de ansiedade nesses jovens. Por estarem imersos em um mundo em que as informações são passadas rapidamente, além da facilidade de acesso a telas, como computadores, televisão, celular, a saúde mental e física pode ser prejudicada de forma considerável, diminuindo a qualidade de vida e, consequentemente, trazendo um aumento dos sintomas de ansiedade durante esse período da adolescência (MACÊDO, 2023). Referente à ansiedade, também é possível perceber que existe uma predisposição genética para tal transtorno, passando entre gerações a propensão a desenvolver essa condição ou apresentar sintomas graves (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2022).

De forma geral, a maior parte dos sujeitos apresentou sintomas leves, o que indica que, em sua maioria, os sintomas ocorrem de forma menos intensa. Os sintomas graves e moderados apresentam, na maioria, em participantes do sexo feminino. Assim como o estresse, a ansiedade aparece em sua maioria em mulheres em outras pesquisas, como apontado por Chyczij et al. (2020). Esses níveis diferentes de sintomas ansiosos surgem em virtude das exigências e pressões impostas na mulher pela sociedade.

3.3. MATURIDADE EMOCIONAL PARA A ESCOLHA PROFISSIONAL

A escolha da profissão ocorre, na maioria das vezes, na adolescência, por isso, a preocupação, o estresse e a ansiedade estão diretamente relacionados com essa decisão, tendo em vista que é uma escolha carregada de pressão familiar e social, expectativas para o futuro e incertezas. Essa sobrecarga de indecisão é uma escolha preocupante para muitos jovens, pois a necessidade de trabalhar para poder se sustentar é comum na maioria das pessoas (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2022).

Essa decisão também envolve outras questões, como o autoconhecimento e maturidade vocacional, pois é necessário que o jovem saiba quais são suas habilidades, objetivos, competências e interesses para escolher uma profissão alinhada com suas características. A maturidade vocacional é definida pela maneira como a pessoa domina tarefas evolutivas e como lida com elas, dentro de sua fase de desenvolvimento, comparada com o que é esperado (NEIVA, 2014).

A maturidade vocacional pode ser compreendida em cinco aspectos, sendo eles, as atitudes para a escolha profissional, marcada pela determinação, que aponta a confiança do indivíduo em sua escolha; responsabilidade, indicando a preocupação do jovem em relação à sua escolha; independência, ou seja, fazer sua escolha profissional sem a influência dos pais, familiares, amigos, colegas, entre outros; e pelo conhecimento necessário para a escolha profissional, dentro disso está o autoconhecimento, se sua escolha de profissão está coerente com suas habilidades e interesses; e, por fim, conhecimento da realidade, que indica o quanto o indivíduo conhece do mercado de trabalho, salário, faculdades, campo de ensino, etc. (NEIVA, 2014).

Os níveis de maturidade emocional para cada escala avaliada pelos instrumentos foram apresentados a seguir, na Tabela 3:

Tabela 3 – Níveis de maturidade emocional

EscalasSexoSuperiorMédioInferior
DeterminaçãoF21,3%35,5%14,2%

M7,1%14,2%7,1%
ResponsabilidadeF7,1%35,7%28,5%

M0,0%0,0%28,5%
IndependênciaF28,5%28,5%14,2%

M0,0%14,2%14,2%
AutoconhecimentoF21,4%14,2%35,6%

M0,0%14,2%14,2%
Conhecimento da realidadeF14,2%35,7%21,3%

M0,0%21,4%7,1%
MaturidadetotalF21,4%28,5%21,3%

M0,0%14,2%14,2%

Fonte: as autoras.

A puberdade é vivenciada de forma diferente por cada adolescente. As dificuldades, dúvidas, incertezas, questionamentos e habilidades podem variar de pessoa para pessoa, pois são influenciadas pelo ambiente em que estão inseridos, suas experiências pessoais passadas, sua relação consigo e com o mundo, a presença de algum transtorno psicopatológico ou alguma doença em nível físico (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2022). Assim, os adolescentes podem apresentar diferentes níveis de maturidade emocional, mesmo com idades próximas.

A Determinação se refere ao nível de definição e segurança para a escolha da profissão. A classificação Superior indica se os participantes possuem uma postura de determinação satisfatória e acima da média da idade dos sujeitos (NEIVA, 2014). Nessa escala foi apresentada por 21,3% dos sujeitos do sexo feminino e 7,1% pelos sujeitos do sexo masculino. No nível Médio, ou seja, os sujeitos apresentaram uma determinação na média para idade, 35,7% foi do sexo feminino e 14,2% do sexo masculino. Já na classificação Inferior, 14,2% e 7,1% dos sujeitos apresentaram, sendo do sexo feminino e masculino, respectivamente. O nível considerado Inferior é definido como uma baixa postura de segurança e de definição para a escolha profissional.

Foi possível perceber que a maior parte dos sujeitos se encontra dentro da média esperada para a idade e para o nível escolar. A determinação dentro da média mostra que os adolescentes estão comprometidos e determinados a escolher a faculdade ou profissão que será exercida, mas, apesar disso, não de forma completamente satisfatória (NEIVA, 2014). O nível médio de determinação dos adolescentes do 3° ano do ensino médio foi apresentado por 48,5% em pesquisa de Cericatto, Alves e Patias (2017), os quais analisaram a maturidade para escolha profissional entre adolescentes do ensino médio, relacionando-se assim, com a presente pesquisa, que identificou que 49,9% dos sujeitos apresentaram o mesmo percentil.

Em relação à avaliação de Responsabilidade, que avalia se o indivíduo está preocupado para tomar a decisão da profissão futura e se responsabiliza por esta escolha (NEIVA, 2014), foi possível observar que 7,1% dos sujeitos do sexo feminino apresentaram Responsabilidade considerada Superior, já o nível Médio de responsabilidade foi indicado por 35,7% dos sujeitos, sendo todos do sexo feminino. O número mais alarmante foi na classificação Inferior da responsabilidade, sendo que foi apresentada por 57% dos participantes, sendo 28,5% do sexo feminino e 28,5% do sexo masculino.

Em pesquisa realizada por Couto (2019), que avalizou a importância da orientação profissional, 71,4% dos alunos participantes do grupo controle, os quais não foram submetidos à intervenção de orientação profissional, apresentaram-se abaixo da média para responsabilidade. Os jovens se veem diante de diversas dúvidas e desafios referentes à vida adulta, por ser um período em que ocorre essa transição de criança para adultos e, por esse motivo, apresentam dificuldades na tomada de decisões. Diante da perspectiva de decidir a profissão sozinho, os adolescentes podem apresentar a dificuldade de se responsabilizar e serem independentes por essa decisão (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2022).

Esse número considerável de adolescentes com responsabilidade baixa está relacionado com o fato que, durante a adolescência, ainda estão em desenvolvimento algumas regiões cerebrais, como o córtex pré-frontal, sendo responsável pelas funções executivas do cérebro, desenvolvimento das habilidades cognitivas, controle dos impulsos, tomada de decisões, fazendo com que o adolescente passe por diversas mudanças. Essa maturação ocorre até o início da idade adulta, quando, então, a formação cerebral se completa (BIAJONI; UEHARA, 2021). A Independência verifica se o indivíduo está escolhendo sua profissão sem se influenciar pela opinião de outras pessoas, agindo de forma independente (NEIVA, 2014). No que se refere à avaliação da Independência, 28,5% dos sujeitos do sexo feminino apresentaram classificação Superior de independência. No nível Médio, 28,5% do sexo feminino e 14,2% do sexo masculino obtiveram esse percentil; já na classificação Inferior, 14,2% do sexo feminino e 14,2% do sexo masculino apresentam baixa independência.

A adolescência é marcada por diversas alterações físicas, cognitivas, comportamentais e psicológicas. Os jovens se veem diante de diversas dúvidas e desafios referentes à vida adulta e novas experiências a serem exploradas (CARVALHO, E., et al., 2021). É o período onde é desenvolvida a personalidade, a autoestima, a independência e suas características próprias, além de novas descobertas (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2022). Assim como a responsabilidade, já discutida anteriormente, a independência também está em formação.

Nesta pesquisa, foi possível perceber que a maior parte dos adolescentes é independente para a decisão da sua profissão. Essa informação pode ter relação com o acesso à informação cada vez mais facilitada pela internet e redes sociais. Os jovens estão cada vez mais nas mídias e tendo acesso a diversas informações, o que os tornam independentes, podendo influenciar de forma significativa e positiva (MACÊDO, 2023).

Na escala de Autoconhecimento, que indica se o indivíduo conhece suas habilidades, preferências, dificuldades, sendo que é fundamental para a decisão profissional (NEIVA, 2014), 21,4% dos participantes do sexo feminino indicaram classificação considerada Superior para Autoconhecimento; já em relação ao nível considerado Médio, foi apresentado por 14,2% dos sujeitos do sexo feminino e 14,2% do sexo masculino; apresentaram percentil Inferior 35,6% dos participantes do sexo feminino e 14,2% do sexo masculino.

Notavelmente, percebe-se que a maior parte dos sujeitos apresenta autoconhecimento inferior. Em pesquisa que investigou a maturidade para a escolha da profissão em adolescentes do ensino médio, de Cericatto, Alves e Patias (2017), 30,9% dos adolescentes apresentaram classificação abaixo da média para autoconhecimento. Durante a adolescência, ocorrem as alterações físicas, psicológicas e sociais, entre elas mudanças na voz, no corpo, desenvolvimentos dos órgãos e dos hormônios sexuais, o amadurecimento e mudanças de preferências, desenvolvimento da personalidade e a procura por grupos sociais nos quais os interesses são parecidos. Todas essas modificações alteram a percepção de si mesmo e o conhecimento de suas particularidades como adolescente, pois, por ser uma fase de transição, o que antes ele gostava pode não se sentir mais à vontade (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2022).

Outro ponto importante que pode estar relacionado à falta de autoconhecimento por parte dos adolescentes diz respeito ao Gerenciamento emocional. O autoconhecimento é fundamental para que o adolescente saiba fazer escolhas, desenvolva disciplina, autocontrole e organização O autoconhecimento, ao ser desenvolvido e estimulado, torna a escolha da profissão uma decisão tomada com mais segurança (SOUSA; THEODORO, 2021).

A orientação profissional é fundamental para os adolescentes durante o período de tomada de decisão da profissão. Ela ajuda a desenvolver a maturidade e o autoconhecimento, além de cuidar da saúde mental desse jovem, pois a orientação realizada por um psicólogo é também um espaço de escuta e acolhimento das angústias, medos e inseguranças desse jovem, promovendo a saúde mental e auxiliando para que ocorra uma escolha mais consciente (GONÇALVES, 2019).

O Conhecimento da Realidade Educativa e Socioprofissional demonstra se o adolescente possui noção da dimensão da profissão e conhece os aspectos do mercado de trabalho, salário, universidades (NEIVA, 2014). Nesta pesquisa, 14,2% apresentam nível considerado Superior, apresentando esse índice em sujeitos do sexo feminino; 35,7% e 21,4% obtiveram classificação dentro da Média, sendo do sexo feminino e masculino, respectivamente; e 28,4% em relação ao nível Inferior, sendo 21,3% do sexo feminino e 7,1% do sexo masculino.

Lorga (2017) indicou em sua pesquisa sobre o nível de maturidade emocional, que 42% dos adolescentes do terceiro ano do ensino médio possuem um conhecimento médio para a idade em relação aos Conhecimentos da Realidade, que são essenciais para a formação da maturidade vocacional.

A falta de Conhecimentos da Realidade sobre a escolha da profissão pode estar relacionada com a falta de orientação adequada para essa decisão. A orientação profissional fornece informações a respeito das áreas de atuação de interesse, as habilidades que são necessárias, o mercado de trabalho e oportunidades. Apesar disso, ainda não é um assunto que é abordado nas escolas do Brasil de forma frequente. Rosseto et al. (2022), por meio de seus estudos sobre os principais fatores que interferem na escolha profissional do adolescente, apontou que a Orientação profissional é de extrema importância para o desenvolvimento da maturidade emocional, o que contribui para que a escolha da profissão ocorra de forma assertiva e satisfatória.

Já na Maturidade Total, que considera todos as avaliações citadas anteriormente, 21,4% apresentaram nível Superior de maturidade, sendo do sexo feminino; no nível Médio de maturidade, 28,5% do sexo feminino e 14,2% do sexo masculino obtiveram esse percentil; 21,3% do sexo feminino e 14,2% do sexo masculino em relação ao nível Inferior.

Os 21,4% dos participantes que apresentaram escore superior são do sexo feminino. Lorga (2017) representou em sua pesquisa que 21% dos alunos de escola pública apresentam a mesma classificação. Os alunos que apresentaram classificação média foram 42,7%, sendo 28,5% do sexo feminino e 14,2% do sexo masculino. Em pesquisa de Couto (2019), que avaliou a influência da orientação profissional em grupo sobre a maturidade vocacional, 50% dos participantes em grupo controle que não participaram de orientação profissional apresentaram essa mesma classificação, o que se relaciona com a presente pesquisa. A diferença maior percebida entre sexos pode ser considerada pelo fato de que as cobranças sociais para mulheres são diferentes em relação aos homens, por isso a maturidade se desenvolve antes (COSTA, 2018).

Foi possível perceber que os sujeitos participantes da pesquisa possuem baixa maturidade emocional para a escolha da profissão, principalmente nos quesitos relacionados à responsabilidade e autoconhecimento. A falta de maturidade emocional está relacionada ao aumento da ansiedade e do estresse, já que esses fatores estão interligados. A dúvida, a falta de autoconhecimento e incerteza para a escolha da profissão contribuem para que a ansiedade e o estresse aumentem. Isso implica decisões que podem se tornar insatisfatórias, baixa autoestima, baixa qualidade de vida, o que, consequentemente, traz grandes prejuízos na vida desse jovem.

4. CONCLUSÃO

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a saúde mental e a maturidade emocional para a escolha da profissão em adolescentes matriculados no terceiro ano do ensino médio. A adolescência é um período do desenvolvimento humano que causa diversas mudanças físicas, cognitivas, sociais e psicológicas. Durante essa fase, o cérebro ainda se encontra em desenvolvimento, assim, a tomada de decisão, capacidade de gerenciamento emocional e controle dos impulsos ainda não ocorre de forma satisfatória

A escolha profissional, decisão que ocorre principalmente durante a adolescência, é uma escolha importante, pois pode influenciar diretamente na vida adulta do indivíduo. Além disso, as cobranças sociais e familiares para a tomada dessa decisão causam estresse e ansiedade, tendo em vista que é uma decisão complexa e que precisa possuir determinação, independência, responsabilidade, autoconhecimento e conhecimento da realidade de forma satisfatória.

Nesta pesquisa, foi possível perceber que os adolescentes do terceiro ano do ensino médio apresentaram baixa maturidade emocional, o que indica ser um reflexo dos altos níveis de estresse que em sua maioria apresentaram. Esse elevado nível de estresse pode ser consequência da grande responsabilidade imposta nesses jovens, para que a decisão da profissão seja tomada, além disso, a perspectiva de se inserir no mundo adulto, com novas responsabilidades e desafios, também pode ser uma das causas para esse resultado.

A baixa maturidade emocional, principalmente da responsabilidade e do autoconhecimento, indica que os adolescentes estão se responsabilizando cada vez menos sobre suas decisões, além de não saberem quais são suas habilidades, interesses e qualidades, podendo apresentar reflexos não somente na escolha da profissão, mas também em diversos âmbitos da vida do adolescente.

No entanto, foi possível perceber que em relação à ansiedade, os sintomas foram apresentados de forma leve pela maior parte dos sujeitos, o que pode indicar que, apesar do alto nível de estresse, eles ainda possuem recursos emocionais para gerenciar a ansiedade de forma satisfatória.

Dessa forma, percebe-se a necessidade do acompanhamento psicológico durante esse período tão importante para o adolescente. A psicologia escolar se mostra como uma área cada vez mais em expansão e sua necessidade se torna evidente diante das dificuldades apresentadas pelos alunos nas escolas. O psicólogo, dentro de instituições educacionais, tem papel fundamental para realizar intervenções frente a indícios de sofrimento mental por conta da ansiedade, estresse, depressão, bullying, além disso, pode auxiliar os adolescentes por intermédio de orientação profissional.

A orientação profissional é uma prática que se faz cada vez mais eficaz, que mostra excelentes resultados no desenvolvimento da maturidade emocional, além de ajudar no gerenciamento do estresse e da ansiedade. Assim, um profissional adequado e capacitado dentro das escolas pode ser de grande eficácia para que os adolescentes tenham uma boa relação para a tomada dessa decisão, além de ser fundamental para o bom desenvolvimento da qualidade de vida.

Apesar dos resultados, a pesquisa possui limites e sugere-se que os estudos nesta área sejam aplicados com uma amostra maior, além de investigar outros fatores que podem influenciar na baixa maturidade emocional em adolescentes e outras condições, como a variação do humor e a depressão.

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1 Graduanda em Psicologia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus Joaçaba; manumaziero7@gmail.com

2 Mestre em Educação pela Universidade do Oeste de Santa Catarina; professora orientadora e psicóloga da Universidade do Oeste de Santa Catarina; scheila.sehnem@unoesc.edu.br