BECK ANXIETY AND DEPRESSION SCALES: AN ANALYSIS AIMED AT HIGHER EDUCATION FACULTY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202507071409
Ariane da Silva Alves1
Ayssa de Sousa Carvalho1
Cailana Maria Rodrigues Galvão1
Eloane Sabrina Sousa de Oliveira1
Francijairo Lima da Costa1
João Victor dos Santos1
Livia Duarte Alves1
Pauliane Moura dos Santos Neres2
Saul de Melo Ibiapina Neres3
Este artigo tem como propósito analisar a aplicabilidade das Escalas de Ansiedade (BAI) e Depressão de Beck (BDI) no contexto da saúde mental de docentes do ensino superior, categoria profissional que enfrenta elevados níveis de estresse ocupacional, pressões institucionais e sobrecarga emocional. A investigação se baseia em revisão bibliográfica sistemática, contemplando produções nacionais e internacionais que discutem as propriedades psicométricas, a validade, a confiabilidade e os limites de aplicação desses instrumentos, especialmente em populações acadêmicas. As escalas de Beck, fundamentadas na teoria cognitiva, têm se mostrado eficazes para a detecção precoce de sintomas ansiosos e depressivos, contribuindo significativamente para o planejamento de estratégias de intervenção voltadas à prevenção do adoecimento mental docente. Embora apresentem limitações, como a natureza autoavaliativa e o risco de viés de resposta, esses instrumentos mantêm-se relevantes como ferramentas de triagem e monitoramento, desde que utilizados de forma ética e em associação com outras metodologias. Conclui-se que o BDI e o BAI constituem alternativas úteis, confiáveis e acessíveis para avaliação da saúde mental no meio acadêmico, e recomenda-se a ampliação de estudos empíricos com aplicação direta das escalas entre professores universitários.
Palavras-chave: Saúde mental; Ansiedade; Depressão; Docência superior; Escalas psicométricas; Beck.
1. INTRODUÇÃO
Criada por Aaron T. Beck em 1961, as Escalas de Depressão (BDI) e de Ansiedade (BAI) figuram entre os instrumentos psicométricos mais utilizados na avaliação da saúde mental, sendo amplamente reconhecidas pela precisão e sensibilidade na detecção de sintomas depressivos e ansiosos em diferentes contextos sociais e profissionais. Criado em 1961, o Inventário de Depressão de Beck (BDI) reúne 21 itens que avaliam, por meio de autorrelato, a intensidade dos sintomas emocionais, cognitivos e somáticos associados à depressão. Trata-se de uma ferramenta clínica de triagem que fornece não apenas dados quantitativos sobre o estado psíquico do sujeito, mas também subsídios diagnósticos e prognósticos importantes, tanto para profissionais de saúde quanto para pesquisadores (HUBACK, 2021).
De forma semelhante, o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) foi concebido com o intuito de mensurar, por meio de 21 itens em formato de múltipla escolha, a severidade dos sintomas de ansiedade. Ambas as escalas são padronizadas, validadas para diferentes contextos culturais e clínicos, e apresentam altos índices de consistência interna e validade de construto, sendo indicadas para uso tanto em populações clínicas quanto não clínicas (ALVARENGA et al., 2020; SANTOS et al., 2019).
Essas ferramentas estão ancoradas na teoria cognitiva desenvolvida por Beck, segundo a qual os transtornos emocionais, como a depressão e a ansiedade, são desencadeados e mantidos por distorções cognitivas persistentes e por esquemas mentais disfuncionais. No caso da depressão, destaca-se a chamada tríade cognitiva de Beck, que compreende três padrões de pensamento negativos: a visão depreciativa de si mesmo, a percepção pessimista do mundo e a expectativa desanimadora em relação ao futuro. Por outro lado, a ansiedade está relacionada à superestimação de ameaças, antecipações catastróficas e sensação de vulnerabilidade frente a situações incertas (BECK, EMERY & GREENBERG, 1985).
No cenário acadêmico, especialmente no ensino superior, essas escalas apresentam uma aplicabilidade prática relevante. O corpo docente das instituições universitárias é constantemente submetido a elevados níveis de pressão, que incluem o cumprimento de metas institucionais, produção científica intensa, participação em comissões e, não raro, vínculos empregatícios precarizados. Tais condições, somadas às exigências pedagógicas e emocionais inerentes ao trabalho docente, contribuem para o agravamento do estresse crônico e para o surgimento de sintomas ansiosos e depressivos, muitas vezes não identificados nem acompanhados adequadamente.
Diante disso, o uso das escalas de Beck no meio universitário desponta como uma alternativa confiável, prática e cientificamente respaldada para rastrear sinais de sofrimento psíquico entre os docentes, promovendo intervenções precoces e efetivas. A padronização dos escores permite uma comunicação mais clara entre os profissionais de saúde, facilita o monitoramento da resposta terapêutica e contribui para o planejamento de estratégias institucionais voltadas à saúde mental coletiva (GOMES-OLIVEIRA et al., 2012).
Não obstante os avanços nas discussões sobre saúde mental no contexto acadêmico, ainda é notório o déficit de ações sistemáticas e contínuas de avaliação psicológica entre professores universitários. Muitos casos de adoecimento emocional permanecem invisibilizados, em parte devido ao estigma ainda associado ao sofrimento psíquico nas instituições de ensino. Por isso, iniciativas como esta, que buscam sistematizar a utilização de instrumentos psicométricos validados e acessíveis, ganham relevância não apenas no campo da psicologia, mas também no planejamento educacional.
Este artigo, portanto, tem como finalidade analisar criticamente a aplicabilidade das Escalas de Ansiedade e Depressão de Beck no contexto do corpo docente do ensino superior, demonstrando sua utilidade como recurso diagnóstico e preventivo. Ao enfatizar os aspectos teóricos, técnicos e práticos dessas ferramentas, pretende-se contribuir com o desenvolvimento de intervenções mais eficazes e sensíveis à realidade dos professores universitários, promovendo o bem-estar psíquico e a valorização da saúde mental no espaço acadêmico.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As escalas de Beck são fundamentadas na teoria cognitiva, que postula que os transtornos emocionais, como a ansiedade e a depressão, são resultantes de padrões de pensamento disfuncionais. Beck propôs que os indivíduos com depressão tendem a ter uma visão negativa de si mesmos, do mundo e do futuro, conhecida como a tríade cognitiva (BECK, 1967). Já a ansiedade está associada a pensamentos catastróficos e à superestimação de ameaças (BECK, EMERY, & GREENBERG, 1985). Esses princípios teóricos são refletidos nos itens das escalas, que avaliam a frequência e a intensidade dos sintomas relacionados a esses padrões de pensamento.
A aplicação do BAI consiste na presença de um formulário de 21 questões com uma variedade de sintomas relacionados à ansiedade. A avaliação ocorrerá por meio de auto-relato, onde o cliente indicará o grau de cada sintoma. Para isso, utiliza-se uma escala de classificação que varia de 0 (indicando que o sintoma não foi experimentado) a 3 (indicando que o sintoma foi experimentado em intensidade severa) (BECK., et al. s.d). Na escala de depressão de Beck, será utilizado um formulário com 21 itens, buscando avaliar sintomas emocionais, cognitivos e físicos da depressão. Em cada item constam quatro respostas, variando de 0 a 3. (SILVA, WENDT, ARGIMON, 2018)
A padronização do Inventário de Depressão de Beck e do Inventário de Ansiedade de Beck envolve sua adaptação para diferentes populações, garantindo precisão e relevância na avaliação dos sintomas. No Brasil, esses instrumentos passaram por rigorosos processos de tradução e validação cultural, assegurando que seus itens fossem compreendidos de forma adequada. Estudos indicam que o BDI-II apresenta um coeficiente alfa de Cronbach de 0,86, demonstrando alta consistência interna e estabilidade temporal significativa (PARANHOS, 2009).
A validade dos testes refere-se à sua capacidade de medir com precisão os sintomas de depressão e ansiedade. O BDI-II demonstrou validade de construto ao apresentar correlação significativa com outras escalas que avaliam sofrimento psíquico, como a Escala de Desesperança de Beck (r=0,60; p=0,000). O BAI também mostrou bons índices de validade, sendo eficaz na identificação de sintomas ansiosos em diferentes contextos clínicos e populacionais. Ambos os instrumentos são amplamente utilizados em pesquisas e práticas psicológicas, oferecendo um método confiável para avaliação da saúde mental.
A fidedignidade em testes de avaliação psicológica diz respeito à consistência dos escores obtidos em um determinado teste. Ou seja, se o resultado obtido de um mesmo teste em aplicações de tempos diferentes forem os mesmos, significa que houve confiabilidade no resultado. A fidedignidade é de suma importância pois garantirá a qualidade e a ética dos instrumentos de avaliação psicológica. (DAMÁSIO, 2023)
As escalas de Beck são instrumentos padronizados, cuja aplicação deve seguir rigorosamente as diretrizes estabelecidas nos manuais técnicos. Essas normas, embora não sejam absolutas ou permanentes, podem variar de acordo com o contexto cultural e temporal, adaptando-se às particularidades de diferentes populações (MACHADO et al., 2021). Sua relevância está em atribuir significado aos escores brutos, possibilitando comparações confiáveis e decisões embasadas em evidências, como o diagnóstico preciso e o monitoramento eficaz dos sintomas de ansiedade e depressão. Sem a padronização proporcionada por essas normas, a interpretação dos resultados tenderia à subjetividade, o que comprometeria a confiabilidade e a validade das escalas, elementos fundamentais para sua aplicação tanto na prática clínica quanto na pesquisa científica (SILVA et al., 2021).
As escalas BAI e a BDI são amplamente aplicáveis em diversos contextos, incluindo avaliações clínicas, pesquisas epidemiológicas e estudos de intervenção, sendo especificamente úteis para identificar sintomas de ansiedade e depressão em populações variadas, como estudantes, profissionais de saúde e, no caso deste estudo, o corpo docente do ensino superior, grupo frequentemente exposto a estresse e sobrecarga emocional (SILVA et al., 2021).
Sua utilidade reside na capacidade de fornecer uma medida quantitativa e padronizada dos sintomas, permitindo o monitoramento de mudanças ao longo do tempo e a avaliação da eficácia de tratamentos psicológicos e farmacológicos. Além disso, essas escalas são específicas por focarem em sintomas cognitivos, afetivos e comportamentais, refletindo a teoria cognitiva de Beck, o que as torna ferramentas precisas para identificar padrões de pensamento disfuncionais associados à ansiedade e depressão (CARLOTTO; CAMARA, 2020). Sua aplicação transcultural e adaptabilidade a diferentes contextos também reforçam sua relevância, embora devam ser complementadas com outras avaliações para uma compreensão mais abrangente do estado mental do indivíduo (GOMES-OLIVEIRA et al., 2012).
Apesar de sua ampla utilização, as escalas de Beck apresentam algumas limitações. Uma delas é a possibilidade de viés de resposta, onde os indivíduos podem subestimar ou superestimar seus sintomas devido a fatores como desejabilidade social ou dificuldade de autorreflexão. Além disso, as escalas podem não capturar completamente a complexidade dos transtornos de ansiedade e depressão, especialmente em casos de comorbidades ou sintomas atípicos (CUNHA, 2001). Outra limitação é a dependência do autorrelato, que pode ser influenciada pelo estado emocional momentâneo do respondente. Portanto, é recomendável que as escalas sejam usadas em conjunto com outras medidas de avaliação, como entrevistas clínicas e observação comportamental, para obter uma compreensão mais abrangente do estado mental do indivíduo (SEGAL et al., 2008).
3. METODOLOGIA
O presente artigo trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, cujo objetivo foi analisar, por meio de revisão bibliográfica, a aplicabilidade das Escalas de Beck — BAI (Beck Anxiety Inventory) e BDI (Beck Depression Inventory) — no contexto da saúde mental de professores do ensino superior. A investigação buscou identificar evidências sobre a prevalência de sintomas de ansiedade e depressão nesse público, os instrumentos psicométricos mais empregados para avaliação desses quadros e, especialmente, as características, vantagens e limitações das escalas citadas.
As fontes bibliográficas foram selecionadas na SciELO, PePSIC e Google Acadêmico, considerando, preferencialmente, publicações entre os anos de 2015 e 2025, em português, inglês e espanhol. Foram incluídos artigos, livros e dissertações que abordassem a utilização do BAI e do BDI ou apresentassem discussões relevantes sobre saúde mental. Foram excluídos materiais sem dados empíricos ou análises pertinentes à temática. Os dados foram organizados a partir da leitura exploratória, seguida de leitura analítica, a fim de sistematizar informações sobre a prevalência de sintomas, os instrumentos mais utilizados e as contribuições das escalas na promoção da saúde mental docente.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A revisão da literatura evidenciou de forma recorrente a elevada incidência de sintomas de ansiedade e depressão entre docentes do ensino superior, situação que ultrapassa os índices observados na população geral. Conforme demonstrado por Freitas et al. (2021), esse grupo profissional apresenta significativa vulnerabilidade psíquica, em virtude de múltiplos fatores estressores inerentes à carreira acadêmica. A intensificação do volume de trabalho, o acúmulo de responsabilidades pedagógicas e administrativas, o isolamento decorrente de longas jornadas e a precarização das relações laborais têm sido apontados como elementos que contribuem diretamente para o sofrimento mental dos professores (MONTEIRO & SOUZA, 2020).
Neste cenário, é possível perceber um agravamento progressivo das condições emocionais dos docentes, potencializado por exigências institucionais que não são acompanhadas de suporte psicológico institucionalizado. Grigorio et al. (2025) corroboram esse panorama ao identificar que a cobrança por alta produtividade científica, associada à escassez de políticas voltadas à saúde mental docente, tem impactado diretamente a qualidade de vida dos professores, além de comprometer o desempenho acadêmico a longo prazo.
Diante desse contexto preocupante, destacam-se os Inventários de Depressão (BDI) e Ansiedade (BAI), desenvolvidos por Aaron T. Beck e colaboradores, como instrumentos relevantes e confiáveis para a triagem de sintomas emocionais no meio acadêmico. Ambos compostos por 21 itens de autorrelato, as escalas avaliam, respectivamente, a intensidade dos sintomas depressivos e ansiosos. Suas versões brasileiras, traduzidas e validadas, apresentam índices psicométricos sólidos, com coeficiente alfa de Cronbach de 0,81 a 0,88 para o BDI, e 0,92 para o BAI, demonstrando fidedignidade e precisão na aplicação com professores universitários (CUNHA, 2001; CARLOTTO & CAMARA, 2020).
Além das evidências estatísticas, a validade das escalas para esse público específico é sustentada por estudos empíricos. A pesquisa de Carlotto e Câmara (2020) apontou a presença expressiva de sintomas depressivos em docentes do ensino superior, indicando que o BDI é sensível ao contexto psíquico desses profissionais. Do mesmo modo, Ferreira e Marturano (2012) investigaram estressores no ambiente acadêmico e confirmaram sua relação com manifestações de ansiedade, o que reforça a utilidade do BAI na detecção de tais quadros. Tais instrumentos, quando aplicados de maneira ética e contextualizada, oferecem uma base segura para a identificação precoce de sintomas e direcionamento de intervenções.
Contudo, o uso de escalas de autorrelato como o BDI e o BAI exige certa cautela interpretativa. Por se basearem na autoavaliação, os resultados podem ser influenciados por fatores subjetivos, como a desejabilidade social e o estigma institucional em torno de questões emocionais, especialmente em ambientes em que a saúde mental ainda é um tema marginalizado. Assim, é essencial que essas ferramentas sejam aplicadas em ambientes seguros, com garantias de anonimato e sigilo, e, preferencialmente, acompanhadas por entrevistas clínicas ou métodos complementares de avaliação.
Outro aspecto importante refere-se ao papel do sofrimento emocional na prática docente. Segundo Barreto e Hissa (2020), o envolvimento afetivo e emocional do professor no processo educativo é inevitável e profundo. Quando exposto a situações prolongadas de estresse e frustração, esse investimento emocional pode se converter em fator de vulnerabilidade, comprometendo a qualidade do ensino e a saúde mental do profissional. Ainda há, segundo os autores, forte resistência institucional à escuta e acolhimento das demandas emocionais docentes, o que reforça a necessidade de intervenções estruturadas.
Nesse sentido, destaca-se a relevância da triagem precoce. Trindade et al. (2025) ressaltam que a detecção antecipada de sintomas depressivos e ansiosos permite ações terapêuticas mais eficazes, melhorando o prognóstico e prevenindo o agravamento dos quadros. O uso das escalas de Beck, neste contexto, apresenta-se como uma estratégia válida e eficaz, especialmente quando integrada a programas institucionais de promoção da saúde mental e bem-estar docente.
Portanto, os resultados da presente revisão confirmam que os instrumentos psicométricos BDI e BAI, além de validados e confiáveis, são adequados para mensuração dos sintomas de ansiedade e depressão em docentes do ensino superior, sendo ferramentas úteis tanto para pesquisas quanto para políticas institucionais voltadas ao cuidado com a saúde emocional do corpo docente.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise realizada, com base na análise dos dados extraídos da literatura científica, constata-se que o contexto do ensino superior brasileiro impõe aos docentes uma sobrecarga multifatorial que repercute negativamente sobre sua saúde mental. Fatores como pressão por produtividade acadêmica, jornadas extensas, responsabilidades administrativas e instabilidade institucional constituem um terreno fértil para o surgimento ou agravamento de sintomas de ansiedade e depressão. Nesse sentido, o uso de instrumentos padronizados e validados, como o Inventário de Depressão de Beck (BDI) e o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), apresenta-se como uma estratégia metodológica eficaz e pertinente para identificação precoce desses quadros.
Tais instrumentos oferecem parâmetros confiáveis e padronizados que auxiliam não apenas no rastreamento de sintomas emocionais, mas também no delineamento de estratégias terapêuticas e institucionais mais assertivas. Com sólida base teórica — alicerçada na teoria cognitiva de Aaron Beck — e propriedades psicométricas robustas, as escalas BDI e BAI demonstram elevada consistência interna, validade de construto e aplicabilidade transversal, o que as torna ferramentas valiosas em contextos clínicos, educacionais e de pesquisa.
Contudo, é fundamental considerar as limitações inerentes à natureza desta investigação. A principal limitação refere-se ao delineamento metodológico baseado em revisão bibliográfica, o que, embora permita uma ampla exploração teórica, não contempla diretamente a vivência empírica dos docentes. Além disso, por se tratarem de instrumentos de autorrelato, tanto o BDI quanto o BAI estão sujeitos a viés de resposta, como desejabilidade social, minimização ou exacerbação dos sintomas, além de variações contextuais e emocionais momentâneas dos respondentes. Tais limitações indicam que o uso dessas escalas deve ser complementado por entrevistas clínicas, observações qualitativas e outras medidas multidimensionais que ampliem a compreensão sobre o sofrimento psíquico docente.
Diante dos achados e limitações, recomenda-se que pesquisas futuras adotem metodologias empíricas de abordagem mista, envolvendo tanto a aplicação quantitativa dos instrumentos psicométricos quanto entrevistas ou grupos focais com os professores universitários. Estudos de campo poderão elucidar nuances subjetivas que não são captadas por meio das escalas padronizadas, contribuindo para um entendimento mais amplo e contextualizado da saúde mental na docência. Além disso, sugerem-se investigações longitudinais que avaliem o impacto de políticas institucionais de promoção do bem-estar sobre os níveis de ansiedade e depressão ao longo do tempo.
Em termos práticos, destaca-se a necessidade urgente de se instituírem políticas de saúde mental nas instituições de ensino superior, com enfoque preventivo, educativo e terapêutico. A implementação de programas sistemáticos de escuta, apoio psicológico e promoção da qualidade de vida docente deve ser compreendida não apenas como um direito trabalhista, mas como uma estratégia de sustentabilidade educacional e humana. O cuidado com a saúde mental dos professores é, portanto, uma dimensão essencial para a construção de ambientes acadêmicos mais saudáveis, inclusivos e eficazes, promovendo o bem-estar coletivo e a excelência na produção de conhecimento.
REFERÊNCIAS
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1Discente do Curso Superior de Psicologia da Christus Faculdade do Piauí – CHRISFAPI. e-mail: arianedasilva1206@gmail.com, ayssacarvalho00@gmail.com, cailanagalvao1@gmail.com, sabrinaeloane2@gmail.com, francijairolimadacosta@gmail.com, jvds.santo@gmail.com, liviaduarte92939@gmail.com
2Enfermeira, Especialista em Docência do Ensino Superior – e-mail: pauliane.ms@gmail.com
3Docente do Curso Superior de Psicologia da Christus Faculdade do Piauí Campus Piripiri. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Políticas Públicas (UNISANTOS). e-mail: saulneres@gmail.com