ERA ISSO O QUE EU QUERIA SER QUANDO CRESCESSE?

WAS THIS WHAT I WANTED TO BE WHEN I GREW UP?
¿ERA ESTO LO QUE QUERÍA SER DE MAYOR?

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7641664


Joice Natalia Diniz Bonel
Alan Baio Bonel Diniz


Resumo

Sociedade, família, escola e escolha profissional. Do funcionário exemplar ao realizador de obrigações. O presente trabalho versa sobre a pressão familiar e social a respeito da escolha profissional, assim como o papel das instituições de ensino neste momento. Aborda aspectos como o stress que os vestibulandos sofrem; como tais fatores influenciam na satisfação com a carreira, e o peso da escolha na pouca idade que têm para fazê-la. Soma-se isso às falsas ideias de perfeição, profissões “em alta”, valorização da riqueza, desabono dos talentos e o sistema de ensino engessado. Esse estudo é motivado pela crescente incidência de doenças psicossomáticas e outros transtornos de origem psicológica do trabalho na idade adulta, e pela falta de adequação do sistema de ensino às demandas modernas. Assim, conclui-se, por exemplo, que há a necessidade de melhor orientação profissional, que o entendimento de escolha da profissão entre 16 e 19 anos é um padrão ultrapassado bem como que a mudança de profissão é uma opção vista pela maioria.

Palavras chaves: Profissão, escolha, influências, ensino, maturidade. 

Abstract

Society, family, school and professional choice. From gold worker until an obligation maker. The paper intends to discuss about social and family pressure against professional choice. Then, it will cover many aspects as: the amount of stress which afflicts high school students; how these factors lead to career satisfaction; and the weight of youth on decision. Besides, there are wrong ideas about “better professions”, “fancy and trending careers”, appreciation of wealth,  displeasure of talents and a strict system of education. This study is moved by increasingly incidence of psychosomatics diseases and other psycho-disorders that adults face on their careers, as well as lack of education system’s structure to the modern demands. Therefore, it was concluded that there is a requirement of better vocational orientation, that the age between 16-19 years old is unsuitable standard for choose a career and also that people see   changing profession as a good option.

Key words: Professional, choose, education, influences, maturity.

Resumen

El artículo describe  la participación de la familia e de la sociedad acerca de elección profesional, así que el papel de las instituciones de encino en este momento. También aborda aspectos como: el stress que los estudiantes sufren; como ese stress influencian la satisfacción con la carrera; y el peso de esa elección ser hecha cuándo todavía jóvenes. Además, hay una ilusión acerca de profesionales que son más reconocidos; de profesionales que son más importantes; profesiones de moda; valoración de la riqueza; disgusto de talentos y un sistema educacional estricto. Ese estudio está motivado por la creciente incidencia de enfermedades psicosomáticas y otros trastornos psicológicos. Así, concluye, por ejemplo, que hay la necesidad de mejores  orientaciones  profesional y que el entendimiento de cómo elegirla entre los 16 y 19 años está ultrapasado y el cambio de profesión es una opción válida para mayoría.

Palabras clave: Profesional, elección, educación, influencias, madurez

1. Introdução

O que você quer ser quando crescer? Essa pergunta começa a surgir assim que começam os primeiros passos nos estudos. Muitas vezes antes de aprender a ler e a escrever as crianças se deparam com uma pergunta que parece inocente, e respondem de forma mais inocente ainda: “O que você quer ser quando crescer?”, as respostas vêm da forma mais variada. Contudo, quase que enraizado no inconsciente, elas, as crianças, respondem algo referente a uma profissão futura, de adulto. Poucas são aquelas que aprenderam a responder de outra forma que não representasse o profissional que acreditam querer ser.  Parece que a preocupação constante dos adultos em se ter uma profissão para sobreviver, se aloja no pequeno mundo infantil. Após isso, aprendem-se ciências humanas, exatas, biológicas… Fórmulas, regras, constância, rotina… E, tudo isso pra quê? Para ser “alguém” no futuro. Esse “alguém do futuro” tem uma profissão de sucesso, ganha muito dinheiro e vive contente na sociedade capitalista formada por trabalhadores de todas as horas. Ocorre que com o avanço da sociedade, a mudança da nossa pirâmide demográfica é cada vez mais rápida, e os adultos são adultos produtivos por mais tempo. Demonstrando que escolher a profissão de uma vida toda aos 16,17 ou 18 anos parece cada vez mais precipitado.

Quais são as bases atuais para um adolescente descobrir o que realmente quer fazer da sua vida? Ele está preparado para esta nova fase? Os profissionais de hoje são plenamente satisfeitos com a carreira que escolheram? Se tivessem oportunidade mudariam de atividade? Quantos já na fase da terceira idade se veem frustrados porque não fizeram o que realmente gostariam? Fazer o que gosta ou gostar do que faz muda a qualidade do trabalho? Nosso sistema de ensino é adequado para transformar a nossa sociedade? Quantos se formaram sabendo das intempéries das profissões que escolheram? Quantos se consideram profissionais felizes? São muitas as questões para analisar a forma como os trabalhadores das mais distintas áreas se veem. Se organizar direitinho todos trabalham e vivem felizes?

Escolher a profissão exige o conhecimento de área de atuação, mercado de trabalho, rotina, salário e tudo o que acompanha a vida profissional (RORDIGUES & PELISOLI, 2008). Neste momento, o adolescente deve optar não só por um curso ou por uma atividade de trabalho, mas também por um estilo de vida, uma rotina, o ambiente do qual fará parte, definindo não só o que quer fazer, mas também o que quer ser futuramente (ALMEIDA & PINHO, 2008). E há a necessidade também de se considerar que a escolha profissional é multifatorial: é influenciada por aspectos políticos, econômicos, sociais, educacionais, familiares e psicológicos (SILVA, MIRANDA, & ESTEVES, 2005). Voltando tal prática para a questão da escolha profissional, podemos observar que, antigamente, era natural que os pais escolhessem a profissão para os filhos, o desejo paterno era entendido como caminho natural e seguro para a escolha profissional: eram os pais quem diziam quem seria padre, quem estudaria, e se estudaria direito ou medicina. Hoje é fundamental acompanharmos o avanço da liberdade individual. Se, antigamente, tínhamos algumas dezenas de profissões possíveis entre aquelas que exigiam cursos de nível médio e superior, hoje temos mais de uma centena de cursos de graduação, além das especializações possíveis que demandam novas escolhas e oferecem novas possibilidades (BARRETO & VAISBERG, Escolha profissional e dramática do viver adolescente., 2007).

Outro aspecto considerado e que desempenha papel fundamental é a abordagem também da extensão da adolescência. A adolescência, figura do Século XIX e do início do Século XX, teve na escola e no exército seus elementos concretos de formação. De maneira mais precisa, foi através da observação das experiências dessas duas instituições que a sociedade moderna pôde compor uma nova realidade psicológica, a adolescência (REIS & ZIONI, 1993). Além disso, inicialmente a adolescência é um período marcado por mudanças de ordem corporal, comumente conhecidos por caracteres secundários. Com o desenrolar do tempo, de acordo com o autor, as mudanças deixam de ser simplesmente biológicas, passando a refletir no âmbito cognitivo e psíquico. Assim há o que ele denominou por transformações de ordem ideológicas, que podem facilmente ser percebidas pela presença de constantes mudanças de pensamentos (MATTESON, 1972). De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unidos, a idade média para o primeiro casamento de um homem era 32,5 anos em 2013 e de 30,6 para as mulheres na Inglaterra e no País de Gales. Isso significa um aumento de 8 anos desde 1973. No artigo que explica os motivos para o aumento da duração da adolescência, Susan Sawyer, diretora do Centro para a Saúde do Adolescente do Hospital Royal Children’s em Melbourne, na Austrália, escreve: “Apesar de muitos privilégios legais da vida adulta começarem aos 18 anos, a adoção das responsabilidades e do papel de adulto geralmente acontece mais tarde”. Ela diz que postergar o casamento, o momento de ter filhos e a independência financeira significa “semidependência”, o que caracteriza que a adolescência foi estendida (MATTESON, 1972).

No Brasil, a permanência por cada vez mais tempo dos jovens na casa dos pais é uma marca da chamada “geração canguru”, nome dado pelo IBGE em 2013 ao fenômeno que engloba pessoas de 25 a 34 anos e que vem crescendo no país. Os dados foram divulgados na Síntese de Indicadores Sociais – Uma análise das condições de vida da população brasileira, com dados referentes ao intervalo entre 2002 e 2012 (SILVER, 2018). Sob uma outra ótica, há inclusive expresso na nossa carta magna em seu artigo 204 que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Congresso Nacional, 1988). Democratizar a educação seria a condição necessária para a democratização social. Depois da Segunda Guerra Mundial, a expansão educativa foi considerada como uma necessidade para o crescimento econômico. Gastar em educação seria investir, tanto ao nível individual quanto social. Dessa forma, a democratização e o desenvolvimento econômico apareceram com os objetivos básicos da política educacional, e foi a partir dessa perspectiva que o funcionamento real dos sistemas educacionais existentes foi avaliado (TEDESCO, 1995).

Rubem Alves, psicanalista e educador, ao publicar o texto “A arte de educar” discorre sobre o fenômeno de maneira bastante abrangente, ainda que com toques de poesia. “Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “Veja!” e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente… E ficando mais rico interiormente ele pode sentir mais alegria – que é a razão pela qual vivemos. Já li muitos livros sobre Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação… Mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à Educação do Olhar. Ou à importância do olhar na educação, em qualquer um deles. A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver… É através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo… Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente. A educação se divide em duas partes: Educação das Habilidades e Educação das Sensibilidades. Sem a Educação das Sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver. Quero ensinar às crianças. Elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do banal. Para as crianças tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o voo dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eruditos não veem. Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos – mas esqueci. E nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore… Ou para o curioso das simetrias das folhas. Parece que naquele tempo as escolas estavam mais preocupadas em fazer com que os alunos decorassem palavras que com a realidade para a qual elas apontam. As palavras só tem sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem… O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo e o mundo aparece refletido dentro da gente. São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança, jamais será sábio.” (ALVES, Psicologia Acessível, 2015)

Os pais, muitas vezes, são os piores inimigos da educação. A maioria não está interessada no aprendizado dos filhos. Só querem que eles passem no vestibular. Eu até compreendo, porque eles são movidos pela ilusão de que entrando na universidade seus filhos terão um diploma e isso vai garantir uma sobrevivência econômica digna – o que, aliás, não é verdade. O Ministério da Educação registra o aumento de matrículas nas universidades. Por quê? Porque educação é um negócio muito bom, todo mundo quer ter educação, ganhar dinheiro. Só que não há emprego para todo esse pessoal que está se formando. Veja o caso dos médicos aqui na região de Campinas, onde existem cursos na PUC Campinas, Unicamp, Universidade de Bragança e Jundiaí. Por ano, elas devem colocar no mercado uns 400 médicos – e eles não encontrarão trabalho (PRADO, 2002). Os principais estressores aos quais os adolescentes estão expostos são as cobranças familiares em relação ao sucesso profissional. Cobrança que provavelmente virá acompanhada de exposição em excesso a atividades intelectuais, ênfase no desenvolvimento de habilidades técnicas, exigências excessivas por parte dos pais e dos protagonistas da educação (BIGNOTTO, 2003).

Rubem Alves ainda problematiza o tema abordando alguns aspectos negativos e explorando reações conflituosas que decorrem desse período de escolha profissional, provas e vestibulares: Conhecimento idiota que a memória, sábia, se encarregará de vomitar o mais depressa possível. Dentro em breve nada mais restará. Apenas as cicatrizes. A ansiedade. Os olhares tristes e acusatórios dos pais. O dinheiro perdido. As recriminações. E o terrível sentimento de derrota. Como se a vida deixasse de fazer sentido, pois todos os rituais preparatórios diziam que entrar na Universidade era a única coisa que importava. É, eles contam as cabeças que ficaram. Nada dizem daquelas que rolaram pelo chão. […] Os vestibulares instauram o ódio entre pais e filhos (ALVES, Conversas com quem gosta de ensinar., 1980).

Em uma sociedade na qual predominam as aparências, o culto ao consumismo e o anseio pelo sucesso através do menor esforço e com maior rapidez, algumas profissões como modelos e jogadores de futebol permeiam o imaginário dos mais jovens. Ao perceberem que essas áreas não são para todos, deparam-se com a dura realidade do mercado de trabalho, o qual se torna cada vez mais exigente e cada vez menos remunerativo. O encanto com determinadas áreas que, historicamente, estão ligadas a certo status e reconhecimento social, como engenharia, medicina e direito, também atrai milhares de adolescentes, tornando o vestibular para essas áreas cada vez mais concorrido e o mercado de trabalho cada vez mais inchado. Como se sabe, atualmente, o diploma e a formação universitária não garantem sucesso profissional (RIBEIRO, s.d.). É verdade que a realidade se nos apresenta preocupante: altas taxas de desemprego, presença do desemprego estrutural, intensificação do ritmo de trabalho, crescimento do trabalho temporário e de tempo parcial, polarização em termos de qualificação e para os que permanecem no emprego a chamada “síndrome dos sobreviventes”, angústia e medo, sentimentos que acompanham os não demitidos (LARANJEIRAS, 2000).

Ao longo dos séculos, entre outras concepções, o trabalho vem sendo considerado desde uma atividade natural, que promove o desenvolvimento e a manutenção da saúde do homem, até uma mercadoria, uma atividade imposta pela sociedade, significando exclusivamente um gasto de energia física e mental e acarretando, dentre outras consequências, as diversas doenças de que hoje temos notícias, como as lesões por esforço repetitivo – L.E.R. a Síndrome de Burnoit, o stress ocupacional, a depressão, dentre algumas das doenças decorrentes de condições outras do trabalh. Entre uma posição e outra, entre a saúde e a doença, encontramos inúmeras possibilidades de consideração do significado do trabalho na sociedade atual, como um produto social que sofre as alterações correspondentes na comunidade em que está inserido (BARRETO & VAISBERG, Escolha profissional e dramática do viver adolescente., 2007). A forma de dependência das pessoas foi alterada nas atividades, porém continua sendo tão fundamental quanto no início a era industrial. Além disso, o trabalho, nas condições do presente momento histórico, produz novos problemas, como a solidão do teletrabalho, a não-legitimação do trabalho autônomo como forma digna de emprego, e as patologias promovidas pelo forte envolvimento com a lógica binária do contexto criado pelo computado (MALVEZZI, 2004).

Como identificou um mapeamento feito pela Pesquiseria, a pedido da Giacometti Comunicação, 52% dos jovens adultos entre 25 e 35 anos trabalham apenas para sobreviver, não realizando uma atividade profissional da qual se orgulhem (…) Há motivos para tanta frustração. Parte deles, segundo Giacometti, se deve à falta de um projeto de educação no Brasil que estimule o autoconhecimento entre os jovens aliada à pressão que eles sofrem na hora de escolher uma profissão. — Com 18 anos, essas pessoas ainda estão com a cabeça em formação, mas precisam decidir qual carreira seguir, sob uma forte influência da família e dos amigos — observa ele (VANINI, 2017).

 O índice de insatisfação e infelicidade no ambiente corporativo está alto. De acordo com a pesquisa realizada em 21 estados, no ano passado, pelo consultor de carreiras Fredy Machado, para seu livro “é possível se reinventar e integrar a vida pessoal e profissional”, cerca de 90% das pessoas estão infelizes em seus trabalhos. Desse percentual, 36,52% dos profissionais estão infelizes com o trabalho que realizam e, 64,24% gostariam de fazer algo diferente do que fazem hoje para serem mais felizes. Para o autor da pesquisa, o descontentamento é provocado por uma série de motivos. O principal deles é a definição da profissão muito cedo ou através de imposição dos pais. (…) Um estudo da London School of Economics, realizado em 2016, concluiu que os afastamentos por doenças psicológicas causaram perdas de US$ 246 bilhões (cerca de R$ 800 bilhões) por ano em todo mundo e de US$ 63,3 bilhões (R$ 206 bilhões) no Brasil. Segundo Machado, pessoas mais felizes produzem 33% a mais que as infelizes. Para ele, a solução é definir um propósito de vida e trabalhar em uma empresa com os mesmos valores (CARDOSO, 2018).

Uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva revela que 56% dos trabalhadores com carteira assinada estão insatisfeitos com seu emprego. Isto significa que 18,7 milhões de pessoas trocariam de lugar na busca de mais alegria no trabalho. Apenas um terço dos entrevistados pela entidade se declarou satisfeito de modo geral. (…)Parece que está faltando também psicologia e noção de relações humanas dentro das empresas brasileiras. Numa escala de graus de satisfação dos trabalhadores, é como se salário fosse essencial, premiação fosse sensacional e o reconhecimento “imaterial”, fosse extraordinário. (…) A pesquisa mostra que 96% das pessoas consideram importante que as empresas reconheçam seus funcionários por meio de recompensas materiais como dinheiro, viagens, vale-presente, etc. E 90% consideram que este reconhecimento pode vir sob outras formas, como elogios, homenagens até mesmo uma estrela no peito, desde que seja uma atitude que valorize a entrega do trabalhador (HEREDIA, 2017).

Pesquisas recentes apontam que na Europa, 60% dos profissionais escolheriam uma carreira diferente se isso fosse possível e, nos Estados Unidos, o nível de satisfação com a ocupação é dos mais baixos que se tem registro. (…) No Brasil, a pesquisa feita para o Guia VOCÊ S/A – As Melhores Empresas para Você Trabalhar – aponta que os funcionários estão menos satisfeitos a cada ano, embora as companhias tenham melhorado suas práticas de RH. Mas você nem precisaria desses dados para se dar conta de que tem muita gente infeliz com o que faz.(…) Basta puxar o assunto numa mesa de bar, que alguém vai reclamar de não ver propósito no trabalho. Para alguns, um salário generoso é o bastante. Segundo Roman, a partir do momento que a renda é suficiente para cobrir as necessidades básicas, aumentos acrescentam pouco ao nível de satisfação do funcionário (NEVES, 2014).

Algumas das características do trabalho podem dar lugar a desajustes, a sofrimento, a esgotamento e a doenças psiquiátricas; entre elas, podem ser citadas: sobrecarga quantitativa (pressão no tempo e fluxo de trabalho repetitivo) e qualitativa (falta de variação de estímulo e de oportunidade para o exercício da criatividade, solução de problemas e de interação social), conflitos de papéis no contexto do trabalho e entre papéis familiares e laborais, falta de controle sobre a situação de trabalho (o trabalhador não tem autonomia sobre seu ritmo e método de trabalho), falta de apoio social (envolvendo amigos e família), presença de estressores físicos (ex. ruídos, odores, luzes, temperatura, produtos químicos), uso de tecnologia de produção em série, processos de trabalho automatizados, riscos físicos e psicológicos e trabalho em turnos. Incluem-se ainda como estressores os conflitos interpessoais (FIGUEROA, SCHUFER, MARRO, & CORIA, 2001), além dos conflitos entre demandas familiares e do trabalho (MICHIE & WILLIAMS, 2003).

As estimativas da Organização Mundial da Saúde – OMS – ressaltam que os transtornos mentais menores acometem aproximadamente 30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos mentais graves, entre 5 e 10%. No Brasil, dados do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS – referentes à concessão de benefícios previdenciários de auxílio-doença, por incapacidade para o trabalho superiores a 15 dias e de aposentadoria por invalidez ou incapacidade definitiva para o trabalho, demonstram que os transtornos mentais ocupam o terceiro lugar entre as causas dessas ocorrências (Ministério da Saúde, 2002).

O NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health) define estresse no trabalho como as nocivas reações físicas e emocionais que ocorrem quando as exigências não se igualam à capacidade, aos recursos ou às necessidades do trabalhador, como resultado da sua interação com as condições de trabalho, o que pode levá-lo a doenças. Apoia a ideia de que as condições laborais têm papel principal nas causas do estresse, ainda que não se possa ignorar a importância das diferenças individuais e de outras situações que podem intervir para fortalecer ou debilitar a influência desses fatores (National Institute for Occupational Safety and Health, 2004).

2. O ambiente corporativo cotidiano

O mundo corporativo está repleto de profissionais formados em cursos superiores das mais diversas áreas, podendo-se dizer que a maioria dos empregados em tarefas administrativas, escritórios e setores mais tradicionais que exijam formação específica (bancário, jurídico, técnico etc.) possuam diploma de graduação. Aliás, observa-se crescente proliferação de diplomas de pós-graduações, principalmente das modalidades Lato Sensu, devido a facilidade de acesso ultimamente promovida pela internet. Mesmo com esse cenário, há uma inércia de formação continuada entre os profissionais que parecem buscar diplomas e mais diplomas apenas para cumprir as obrigações burocráticas exigidas pelas empresa se departamentos pessoais. Curiosamente, há ainda ao que parece a tradicional predominância de cursos como Administração, Direito e Engenharia entre os profissionais.

Seria uma tendência natural, um efeito da coletividade de realmente preferir essas profissões ou na verdade ainda não existem condições de aconselhamento suficientemente boas para que os jovens sejam aconselhados de maneira eficiente para escolher suas profissões. Nesse ponto é que se faz necessário questionar a função e a maneira pela qual a sociedade, incluindo a família, e as escolas vêm desempenhando esse papel de guia vocacional. Haverá, certamente, oportunidades de melhoria para uma atuação mais profícua. Uma vez que é necessária a escolha profissional tão cedo – entre 16 e 19 anos, normalmente – seria, então, necessário buscar formas de amadurecer o assunto cada vez mais precocemente para tentar mitigar traumas e frustrações profissionais e pessoais nas vidas das pessoas. Pode haver a insuficiência de condições necessárias para a escolha da profissão em jovens abaixo de 20 anos – tanto pela orientação familiar como pela orientação escolar e ainda pela orientação psicológica. Pode haver, por outro lado, uma supervalorização de profissões ainda vistas como tradicionais e com alto retorno financeiro (como mostrado na predominância das profissões de Direito, Engenharia e Administração). Além disso, sob a ótica do desenvolvimento intelectual e da maturidade da vida adulta, podemos citar que o ser humano não está preparado para o peso da escolha ainda durante a adolescência. Questionando a familiares e a amigos se a idade abaixo dos 20 anos seria a ideal para se decidir sobre a carreira, obteríamos uma resposta, provavelmente, negativa.

O sistema educacional, por um lado, não está apto a exercer o papel de orientador vocacional. Por outro lado, os profissionais não sabem de onde vem a inspiração, orientação e motivação para seguir uma profissão, realizar um curso superior e seguir uma determinada carreira específica. Além disso, o país considera necessitar somente de profissionais diplomados independentemente da satisfação que têm. Como as pessoas não veem no sistema de ensino uma fonte confiável e adequada para informa-se sobre a futura profissão, elas fazem uso da mídia, opinião de familiares e amigos, o que, geralmente, não se trata de opinião especializada e embasada, portanto contribuindo para a insatisfação.

Atrelado ao fato de que a maioria não obtém orientação adequada, observa-se que há um percentual expressivo de profissionais que não se consideram feliz e outros que sequer souberam opinar sobre a própria felicidade. Como possível causa raiz: uma situação ineficiente do sistema escolar conforme já citado. Como resultado direto, haverá grande parte dos profissionais abandonando suas profissões por motivos que poderiam ser previstos e orientados previamente. Um conhecimento do mercado de trabalho poderia fazer com que a maioria dos profissionais não mudasse da área.

Como resultado global conclui-se que, definitivamente, as pessoas não estão satisfeitas com o que fazem. É comum relatos de pessoas que conhecem, tanto no meio no qual se formaram como no meio em que atuam, mais profissionais insatisfeitos profissionalmente, ainda que possam, paradoxalmente, gostar do que fazem. Certo é que:  fazer o que gosta é fator fundamental para a qualidade do trabalho.

Vemos diante disso tudo que além de faltar idade e maturidade, falta orientação adequada. A Educação está longe de mudar seu cronograma, no entanto, melhorá-lo seria um grande avanço na formação dos novos profissionais.

3. Considerações finais

Conforme já citado por Simmel, a especialização do trabalho reclama do indivíduo um aperfeiçoamento cada vez mais unilateral. E um avanço grande no sentido de uma busca unilateral com muita frequência significa a morte para a personalidade individual. O indivíduo se tornou um mero elo em uma enorme organização de coisas e poderes que arrancam de suas mãos todo o progresso, espiritualidade e valores, para transformá-los de sua forma subjetiva na forma de uma vida puramente objetiva. Não é preciso mais do que apontar que a metrópole é o genuíno cenário dessa cultura que extravasa de toda a vida pessoal (SIMMEL, 1976).

Neste diapasão conclui-se que há a necessidade de os jovens serem melhor instruídos com relação às carreiras que pretendem seguir, e que profissionais felizes com suas escolhas são mais produtivos em todos os setores e, que o entendimento de escolha da profissão entre 16 e 19 é um padrão ultrapassado. Demonstra que a família é a principal influência para a escolha e que muitos profissionais estão insatisfeitos com suas carreiras. Conclui-se também que a mudança de profissão é uma realidade vista pela maioria e que o sistema de ensino não é claro o suficiente para o entendimento da população. Resta claro que profissionais melhor informados e mais satisfeitos contribuem para o crescimento da sociedade como um todo, e que toda a caminhada deve iniciar-se com a colaboração família e desenvolvimento escolar.

Referências

ALMEIDA, M. E., & PINHO, L. V. (2008). Adolescência, família e escolhas: implicações na orientação profissional. Psicologia Clínica.

ALVES, R. (1980). Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez.

ALVES, R. (15 de 07 de 2015). Psicologia Acessível. Acesso em 15 de 02 de 2020, disponível em https://psicologiaacessivel.net/2015/07/15/a-arte-de-educar-um-lindo-texto-de-rubem-alves/

BARRETO, M. A., & VAISBERG, T. A. (2007). Escolha profissional e dramática do viver adolescente. Psicologia & Sociedade, pp. 107-114.

BARRETO, M. A., & VAISBERG, T. A. (01 de 2007). Escolha profissional e dramática do viver adolescente. Psicologia & Sociedade, pp. 107-114.

BIGNOTTO, M. M. (2003). O papel dos pais na prevenção do stress. Papirus, pp. 101-122.

CARDOSO, L. (17 de 06 de 2018). Extra. (Globo) Acesso em 25 de 02 de 2020, disponível em https://extra.globo.com/emprego/no-brasil-cerca-de-90-estao-infelizes-no-trabalho-22780430.html

Congresso Nacional. (1988). Constituição Federal. Brasília: Senado federal, coordenação de edições técnicas.

FIGUEROA, N. L., SCHUFER, M. M., MARRO, C., & CORIA, E. A. (2001). Um instrumento para a avaliação de estressores psicossociais no contexto de emprego. Psicologia: Reflexão e Crítica, pp. 653-659.

HEREDIA, T. (11 de 12 de 2017). G1. (Globo) Acesso em 25 de 02 de 2020, disponível em . http://g1.globo.com/economia/blog/thais-heredia/post/56-dos-trabalhadores-formais-estao-insatisfeitos-com-o-trabalho-revela-pesquisa.html

LARANJEIRAS, S. M. (07 de 2000). As transofmrações do trabalho num mundo globralizado. Sociologias, pp. 14-19.

MALVEZZI, S. (2004). Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed.

MATTESON, D. R. (1972). Exploration and commitment: sex differences and methodological problems in the use of identity status categories. Journal of Youth and Adolescence, 6, 353-374.

MICHIE, S., & WILLIAMS, S. (2003). Reducing work related psychological il healt and sickness absence: A systematic literature review. Occupational Environment Medicine, pp. 3-9.

Ministério da Saúde. (2002). Doenças relacionadas com o trabalho: diagnóstico e condutas. Manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília.

National Institute for Occupational Safety and Health. (2004). Stress at work.

NEVES, N. (28 de 04 de 2014). Exame. (Editora Abril) Acesso em 25 de 02 de 2020, disponível em https://exame.abril.com.br/carreira/como-encontrar-satisfacao-no-trabalho/

PRADO, R. (01 de 05 de 2002). Nova Escola. Acesso em 27 de 01 de 2020, disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/913/rubem-alves-so-aprende-quem-tem-fome

REIS, A. O., & ZIONI, F. (1993). O lugar do feminino na construção do conceito de adolescência. Revista Saúde Pública, pp. 472-477.

RIBEIRO, P. S. (s.d.). Brasil Escola. (Brasil Escola) Acesso em 25 de 02 de 2020, disponível em https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/o-que-voce-vai-ser-quando-crescer-questao-escolha-profissional.htm

RORDIGUES, D. G., & PELISOLI, C. (2008). Ansiedade em vestibulandos: um estudo exploratório. Revista de Psiquiatria Clínica, pp. 171-177.

SILVA, M. B., MIRANDA, V. R., & ESTEVES, C. (2005). Um estudo sobre a maturidade para a escolha profissional de aluos de ensino médio. Revista Brasileira de Orientação Profissional, pp. 1-14.

SILVER, K. (19 de 01 de 2018). BBC News Brasil. (BBC) Acesso em 25 de 02 de 2020, disponível em https://www.bbc.com/portuguese/geral-42747453

SIMMEL, G. (1976). A metrópole e a vida mental. O fênomeno urbano, pp. 90-113.

TEDESCO, J. C. (1995). Sociologia da Educação. Campinas: Apontamentos.

VANINI, E. (23 de 07 de 2017). O Globo. (Globo) Acesso em 02 de 25 de 2020, disponível em https://oglobo.globo.com/economia/emprego/insatisfacao-leva-jovens-trabalhadores-mudancas-radicais-na-carreira-21619783