EMOÇÕES, NARRATIVAS E MEDIAÇÃO: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A DINÂMICA DOS CONFLITOS NO IFRR

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102491433


Gilmara Jane Amorim de Moraes[1]
Jane de Silva Amorim[2]
Maria de Fátima Ferreira da Silva[3]


RESUMO

Este estudo aprofunda a compreensão da dinâmica dos conflitos no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR) – Campus Boa Vista, com foco na intersecção entre emoções, narrativas e processos de mediação. A pesquisa, de natureza qualitativa, utilizou grupos focais para investigar as experiências e percepções de estudantes e professores em relação aos conflitos e às práticas de resolução de disputas. Os resultados evidenciam a importância das emoções e das narrativas na construção e na resolução dos conflitos, bem como a necessidade de mecanismos de mediação mais eficazes para promover um ambiente escolar mais saudável e colaborativo. A ausência de uma cultura de diálogo e a falta de comunicação eficaz emergiram como desafios significativos. A partir dessa análise, a pesquisa propõe a implementação de programas de mediação que incorporem a dimensão emocional e narrativa dos conflitos, visando fortalecer as relações interpessoais e promover a construção de narrativas compartilhadas. Os achados deste estudo contribuem para o avanço do conhecimento sobre a mediação de conflitos em instituições de ensino e podem servir como base para o desenvolvimento de intervenções mais eficazes e humanizadas.

Palavraschave: Psicologia Social; mediação de conflitos; emoções; narrativas; Ensino Superior Tecnológico.

Abstract

This study deepens the understanding of conflict dynamics at the Federal Institute of Education, Science, and Technology of Roraima (IFRR), focusing on the intersection of emotions, narratives, and mediation processes. The research, qualitative in nature, employed focus groups to investigate the experiences and perceptions of students and teachers regarding conflicts and dispute resolution practices. The results highlight the importance of emotions and narratives in both the construction and resolution of conflicts, as well as the need for more effective mediation mechanisms to foster a healthier and more collaborative school environment. The absence of a culture of dialogue and the lack of effective communication emerged as significant challenges. Based on this analysis, the research proposes the implementation of mediation programs that incorporate the emotional and narrative dimensions of conflicts, aiming to strengthen interpersonal relationships and promote the construction of shared narratives. The findings of this study contribute to the advancement of knowledge on conflict mediation in educational institutions and may serve as a foundation for the development of more effective and humanized interventions.

Keywords: Social Psychology; conflict mediation; emotions; narratives; Technological Higher Education.

1 INTRODUÇÃO

A vida em comunidade, especialmente em ambientes acadêmicos como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR), é permeada por relações interpessoais que, em diversos momentos, podem gerar conflitos. A forma como esses conflitos são gerenciados exerce um papel fundamental na construção de um clima escolar saudável e colaborativo, impactando diretamente o bem-estar de todos os envolvidos e a qualidade do processo de ensino-aprendizagem.

Diante desse cenário, a presente pesquisa busca compreender a percepção de estudantes, professores e pedagogos sobre a mediação de conflitos no IFRR. Através de uma abordagem metodológica mista, combinando técnicas qualitativas e quantitativas, o estudo tem como objetivo principal identificar os principais tipos de conflitos vivenciados na comunidade escolar, as estratégias de resolução utilizadas e a percepção dos envolvidos sobre a importância da mediação como ferramenta para a resolução pacífica de divergências. Além disso, a pesquisa visa investigar a existência de uma cultura de mediação no IFRR e identificar as necessidades de formação para a implementação de práticas de mediação eficazes.

Para alcançar esses objetivos, foram realizados grupos focais e aplicados questionários a uma amostra intencional composta por estudantes, professores e pedagogos do IFRR. Os grupos focais permitiram aprofundar a compreensão das percepções e experiências dos participantes, enquanto os questionários possibilitaram a quantificação de dados sobre a frequência e a natureza dos conflitos.

A relevância desta pesquisa reside na necessidade de promover um ambiente escolar mais harmonioso e colaborativo, onde os conflitos sejam vistos como oportunidades de crescimento e aprendizado. Ao compreender as necessidades e expectativas dos membros da comunidade escolar, é possível desenvolver programas de mediação de conflitos mais eficazes e promover a resolução pacífica de divergências. Os resultados deste estudo poderão subsidiar a elaboração de políticas e programas de mediação no IFRR, contribuindo para o fortalecimento das relações interpessoais e para a construção de um clima escolar mais positivo.

2 A PSICOLOGIA SOCIAL COMO ALIADA NA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

A Psicologia Social desempenha um papel crucial na mediação de conflitos entre alunos e professores em sala de aula, oferecendo ferramentas teóricas e metodológicas que ajudam a compreender e gerenciar esses desentendimentos. Através da análise de processos como a comunicação e a percepção social, a Psicologia Social facilita a identificação das causas subjacentes dos conflitos e propõe intervenções assertivas. Segundo Paulo Freire (2006), “a educação é um ato de amor, e, por isso, um ato de coragem”, o que sugere que a mediação desses conflitos exige uma abordagem que promova o diálogo aberto e respeitoso entre educadores e alunos.

Além disso, a Psicologia Social contribui para a criação de ambientes educacionais mais colaborativos, onde as diferenças são vistas como oportunidades de crescimento mútuo. Arroyo (2006) afirma que “a educação é um direito de todos”, o que reforça a necessidade de práticas mediadoras que assegurem o respeito às diversas perspectivas presentes em sala de aula. Integrar esses princípios na mediação de conflitos entre alunos e professores pode transformar a dinâmica escolar, fortalecendo as relações interpessoais e promovendo um clima de respeito e cooperação.

3 A NATUREZA DOS CONFLITOS INTERPESSOAIS NO ENSINO SUPERIOR TECNOLÓGICO

No Ensino Superior Tecnológico, conflitos entre alunos e professores frequentemente surgem devido a diferenças de comunicação e a uma falta de entendimento mútuo sobre as expectativas do processo de ensino-aprendizagem. Como Paulo Freire (2006) ressalta, “não há docência sem discência”, sublinhando a necessidade de um diálogo contínuo para evitar desentendimentos. Quando esse diálogo não ocorre de forma eficaz, pode resultar em atritos que comprometem o ambiente educacional e a qualidade do aprendizado, criando um cenário onde a colaboração entre docentes e discentes se torna desafiadora.

Além disso, as divergências de valores e visões de mundo entre alunos e professores podem acirrar ainda mais os conflitos em sala de aula. Neste sentido, Arroyo (2006) destaca que “a educação é uma prática social que deve considerar as realidades culturais e sociais dos alunos”, evidenciando a importância de reconhecer e respeitar essas diferenças. Portanto, a mediação de conflitos deve focar em soluções que integrem as perspectivas de todos os envolvidos, promovendo um ambiente de respeito e compreensão mútua. Esse ambiente é crucial para o sucesso acadêmico e pessoal dos participantes, pois permite que cada voz seja ouvida e considerada.

Por fim, a gestão de um curso de educação superior vai além da simples coordenação de recursos; envolve a definição clara dos objetivos e a alocação eficiente dos recursos institucionais. Não há espaço para improvisação ou omissões nesta tarefa. Assim, o coordenador e a direção devem demonstrar autoridade moral e intelectual, possuir um conhecimento profundo do perfil profissional esperado dos graduados e estar atualizados sobre o mercado e suas tendências. Além disso, é essencial que exerçam competência pedagógica e conduzam o processo educacional com sensibilidade, lidando com situações complexas e muitas vezes delicadas com uma disposição contínua para o diálogo e uma habilidade sólida de convencimento (PCCC, 2017).

4 A PSICOLOGIA SOCIAL NA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO ENSINO SUPERIOR TECNOLÓGICO DO IFRR – CAMPUS BOA VISTA.

Este tópico tem como objetivo explorar a aplicação da Psicologia Social na mediação de conflitos no Ensino Superior Tecnológico, especialmente no contexto do IFRR. A mediação de conflitos no ambiente acadêmico é uma prática complexa, dada a pluralidade de opiniões e a necessidade de negociação para alcançar um consenso que beneficie todas as partes envolvidas. Segundo Laila (2004), “os resultados da pesquisa educativa no campo da psicologia social mostram que os espaços onde mais conflitos ocorrem entre as pessoas são os ambientes de convivência diária, entre eles a sala de aula. Ali, os conflitos são inerentes à própria natureza das atividades” (p. 53).

No contexto educacional, esses conflitos são frequentemente exacerbados pela falta de uma abordagem integrada e eficaz para a sua resolução. Conforme afirma Gadotti (1980), “a educação atual enfrenta um grande abandono histórico por parte dos governantes, além de muito pessimismo generalizado” (p. 47). Isso é particularmente relevante no cenário das instituições de ensino tecnológico, onde a diversidade cultural e social dos estudantes pode gerar tensões que, se não forem adequadamente mediadas, comprometem a qualidade do processo educacional.

A relevância da Psicologia Social, como aponta Maisonneuve (1979), está em “estabelecer como cada indivíduo se adapta às normas coletivas, como se integra em seu ambiente, qual papel desempenha nele, qual representação constrói desse ambiente e qual influência eventual exerce sobre ele” (p. 85). No ambiente acadêmico, essa adaptação é crucial para a promoção de relações interpessoais saudáveis e para o fortalecimento da coesão social, elementos essenciais para um ambiente de aprendizagem produtivo.

O IFRR – Campus Boa Vista, conforme estipula a Organização Didática do IFRR (Capítulo III, Art. 7), tem o compromisso de “permanecer em constante evolução como órgão de formação profissional e referência para as áreas de educação, pesquisa, extensão e inovação tecnológica” (p. 21). No entanto, para cumprir esta missão , é fundamental que a instituição implemente práticas eficazes de gestão interpessoal entre estas a de mediação de conflitos que considerem as particularidades das interações humanas no ambiente educacional, valorizando o potencial humano em sua totalidade e considerando as diversidades.

Arroyo (2006) afirma que, “a educação é um direito de todos, mas nem todos têm acesso a ela. No caso de populações socialmente desiguais e culturalmente diversas, cabe ao Estado materializar esse direito para todos” (p. 102). No contexto do IFRR, isso significa não apenas fornecer acesso à educação, mas também garantir que o ambiente acadêmico seja inclusivo e propício ao desenvolvimento pessoal e profissional de todos os estudantes.

O presente capítulo investiga as estratégias de mediação de conflitos como um recurso para a construção de ambientes educativos mais harmoniosos e colaborativos. A literatura sobre desenvolvimento humano e aprendizagem, desde autores como Vygotsky e Piaget, até educadores como Freire, enfatiza a importância das relações sociais no processo de ensino-aprendizagem. A mediação de conflitos, ao promover o diálogo e a resolução pacífica de divergências, contribui para a criação de um ambiente propício à construção do conhecimento e ao desenvolvimento integral dos estudantes.

4.1 PRINCIPAIS TÉCNICAS E MÉTODOS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

A mediação de conflitos se configura como um processo alternativo e eficaz para a resolução de disputas, oferecendo uma abordagem construtiva e colaborativa para lidar com divergências em diversos contextos, incluindo o ambiente educacional. Ao facilitar o diálogo entre as partes em conflito, a mediação busca soluções consensuais que atendam aos interesses de todos os envolvidos, promovendo a harmonia e o bem-estar nas relações interpessoais.

A Tabela 1 apresenta um conjunto de técnicas e métodos comumente utilizados em processos de mediação, destacando suas características, objetivos e benefícios. É importante ressaltar que a escolha das técnicas a serem utilizadas dependerá das especificidades de cada conflito, bem como das habilidades e experiência do mediador.

Tabela 1 ‒ Técnicas e Métodos de Mediação de Conflitos

Técnica/MétodoDescriçãoObjetivoBenefíciosLimitações
Escuta AtivaOuvir atentamente e com empatia o que a outra pessoa está dizendo, sem julgamentos ou interrupções.Demonstrar interesse genuíno pelas perspectivas e necessidades das partes, criando um ambiente seguro para a expressão livre de sentimentos e pontos de vista.Validação das emoções das partes. * Construção de confiança e respeito mútuo. * Melhor compreensão das perspectivas e necessidades das partes.* Exige tempo e paciência do mediador. * Pode ser desafiador em situações de alta emotividade.
ParafraseamentoRepetir as palavras das partes em conflito com suas próprias palavras, demonstrando que as compreendeu.Verificar se o mediador captou a mensagem das partes de forma precisa e completa, evitando malentendidos e promovendo a validação de suas emoções.* Maior clareza e precisão na comunicação. * Redução de mal-entendidos e conflitos. * Sensação de ser ouvido e compreendido pelas partes.Requer atenção e habilidades de comunicação do mediador. Pode ser difícil parafrasear emoções complexas.
RapportConstrução de uma relação de confiança e respeito entre o mediador e as partes em conflito.Facilitar a comunicação e a colaboração entre as partes, criando um ambiente seguro para o diálogo.* Aumento da confiança e do respeito mútuo. * Maior abertura das partes para o diálogo e a negociação. * Clima mais positivo e colaborativo* Requer tempo e investimento do mediador. * Pode ser desafiador em situações de conflito intenso.
CaucusReunião individual com cada parte em conflito, sem a presença da outra.Explorar com mais profundidade os interesses e necessidades de cada parte, identificar pontos em comum e divergências, propor soluções.Maior privacidade e segurança para as partes. Exploração mais profunda dos interesses e necessidades de cada parte. Abertura para soluções criativas e inovadoras.* Pode aumentar o tempo do processo de mediação. * Requer habilidades de comunicação e escuta ativa do mediador.
BrainstormingTécnica para gerar um conjunto de ideias para solucionar o conflito.Estimular a criatividade e o pensamento inovador, encontrar soluções que atendam às necessidades de ambas as partes.* Ampliação do leque de soluções possíveis. * Envolvimento das partes na busca por soluções. * Maior probabilidade de encontrar soluções satisfatórias para ambas as partes.Pode ser desafiador manter o foco e a organização. Requer um ambiente seguro e livre de julgamentos.
NegociaçãoProcesso de comunicação e troca de informações, no qual as partes buscam encontrar um terreno comum e chegar a um acordoAuxiliar as partes a negociarem seus interesses e necessidades, chegando a um acordo consensual.* Resolução do conflito de forma pacífica e construtiva. * Fortalecimento do relacionamento entre as partes. * Sensação de justiça e equidade para ambas as partes.* Pode ser um processo longo e complexo. * Requer habilidades de negociação e comunicação do mediador.
AcordoFormalização da solução que as partes encontraram, por escrito e assinado por ambas.Consolidar a resolução do conflito, garantindo o cumprimento da solução pelas partes.* Segurança jurídica para as partes. * Maior clareza e objetividade na solução. * Prevenção de novos conflitos no futuro.* Requer o compromisso das partes com o acordo. * Pode ser difícil alcançar um acordo em alguns casos.

Fonte: Tabela elaborada a partir dos dados disponíveis em: UNYLEYA. Conheça as 6 técnicas de mediação de conflitos mais eficazes. Acesso em: 08/07/2024.

A escolha dessas técnicas se fundamenta na sua ampla aplicação e eficácia na resolução de conflitos, além de sua alinhamento com os princípios da Psicologia Social, como a teoria da comunicação, a teoria da atribuição e a teoria da identidade social. A escuta ativa, por exemplo, permite que o mediador compreenda as perspectivas de cada parte, validando suas emoções e construindo um clima de confiança. Já a teoria da atribuição pode auxiliar o mediador a identificar os erros de atribuição que podem estar alimentando o conflito, promovendo uma reavaliação das intenções e comportamentos das partes.

O papel do mediador é fundamental para o sucesso do processo de mediação. Além das habilidades de comunicação e empatia, o mediador deve ser capaz de:

  • Manter a neutralidade: Demonstrar imparcialidade em relação às partes em conflito. – Gerenciar o processo: Organizar as sessões de mediação, definir a agenda e garantir que as discussões sejam produtivas.
  • Facilitar a comunicação: Auxiliar as partes a expressar seus sentimentos e necessidades de forma clara e objetiva.
  • Gerar opções: Propor soluções criativas e inovadoras para o conflito.
  • Promover o acordo: Auxiliar as partes a chegar a um acordo mutuamente satisfatório.

A mediação de conflitos apresenta diversos benefícios, tanto para os indivíduos envolvidos quanto para a comunidade como um todo. Ao promover a resolução pacífica de disputas, a mediação contribui para:

  • Melhora nas relações interpessoais: Fortalecimento dos vínculos e construção de um clima mais colaborativo.
  • Redução do estresse e da ansiedade: Diminuição do impacto emocional dos conflitos.
  • Aumento da satisfação com os resultados: As partes se sentem mais satisfeitas com as soluções encontradas, pois tiveram a oportunidade de participar ativamente do processo.
  • Prevenção de futuros conflitos: O desenvolvimento de habilidades de resolução de conflitos pode prevenir novos conflitos no futuro.

Em síntese, a mediação de conflitos é uma ferramenta poderosa para a construção de ambientes mais harmoniosos e colaborativos. Ao integrar os princípios da Psicologia Social, a mediação contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais, a resolução pacífica de conflitos e a construção de comunidades mais justas e equitativas.

5. MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: UMA ABORDAGEM PARA A CONSTRUÇÃO DE PAZ E COOPERAÇÃO.

A Mediação de Conflitos, quando aplicada no contexto de sala de aula, busca não apenas resolver os desentendimentos imediatos entre alunos e professores, mas também construir um ambiente de paz e cooperação. Paulo Freire (2006) destaca que “a educação deve ser um ato libertador”, o que implica em criar espaços onde todos se sintam valorizados e ouvidos.

A mediação facilita esse processo ao promover o diálogo e a negociação, permitindo que ambas as partes expressem suas preocupações e trabalhem juntas para encontrar soluções justas. Essas soluções, no contexto da mediação de conflitos e sob a lente da psicologia social, são aquelas que, além de resolverem o conflito em questão, atendem às necessidades e interesses de todas as partes envolvidas, promovendo a equidade e a justiça social.

Além disso, a mediação fortalece a relação entre alunos e professores, criando um clima de confiança que é essencial para o desenvolvimento acadêmico e pessoal. Arroyo (2006) aponta que “a educação deve ser inclusiva e democrática”, reforçando a ideia de que todos os envolvidos no processo educativo têm o direito de participar ativamente na construção de soluções para os conflitos. Ao implementar a mediação de conflitos em sala de aula, as instituições educacionais promovem um ambiente mais harmônico e colaborativo, onde o aprendizado e o crescimento são potencializados para todos.

6 EMOÇÕES, NARRATIVAS E MEDIAÇÃO: UMA TRILOGIA DA INTERAÇÃO HUMANA NOS CONFLITOS ESCOLARES.

A mediação de conflitos no ambiente escolar, sob a lente da psicologia social, transcende a mera resolução de disputas. Ao adentrar no universo das emoções e narrativas, a mediação se revela como um espaço de construção de significados e transformação de relações. Além disso, as emoções, presentes em todas as interações humanas, moldam a forma como percebemos e interpretamos os conflitos. A raiva, a tristeza, o medo e a frustração, por exemplo, podem intensificar as divergências e dificultar a busca por soluções consensuais.

Por sua vez, as narrativas são ferramentas poderosas para dar sentido às experiências e construir identidades. Ao compartilharem suas histórias, os envolvidos no conflito podem desenvolver uma compreensão mais profunda das perspectivas alheias e construir novas narrativas que permitam a superação das divergências. Dessa forma, a mediação, nesse contexto, atua como um espaço de escuta ativa e empática, no qual as emoções podem ser expressas de forma segura e as narrativas podem ser construídas de forma colaborativa.

Em suma, ao integrar as dimensões emocionais e narrativas à prática da mediação, é possível promover a construção de um ambiente escolar mais saudável e colaborativo. A mediação, ao valorizar a singularidade de cada indivíduo e promover o diálogo entre diferentes perspectivas, contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais essenciais para a vida em sociedade.

7  RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados da pesquisa revelaram uma diversidade de percepções e experiências entre os estudantes do ensino superior de tecnologia, professores e pedagogos do IFRR – Campus Boa Vista em relação à dinâmica dos conflitos interpessoais e ao papel da mediação na resolução desses conflitos. As entrevistas e os grupos focais forneceram uma compreensão aprofundada dos tipos de conflitos vivenciados no ambiente escolar, das estratégias de resolução utilizadas e das percepções dos envolvidos sobre a eficácia da mediação de conflitos.

Um dos principais pontos destacados pelos participantes foi a frequência de conflitos relacionados a questões de comunicação e divergências de expectativas entre alunos e professores. O professor P1 compartilhou: “Muitas vezes, os conflitos surgem porque não há uma comunicação clara sobre o que se espera dos alunos e o que eles podem esperar de nós como educadores.” Esse relato reflete a importância de uma comunicação eficaz para prevenir e resolver conflitos no ambiente escolar, destacando a necessidade de abordagens que promovam o diálogo aberto e a compreensão mútua.

De forma complementar, o aluno E5 enfatizou que “as divergências de opinião, especialmente em discussões de temas mais sensíveis, acabam gerando malentendidos que poderiam ser evitados com uma mediação adequada.” Sob a mesma perspectiva, o pedagogo PD3 destacou que “a falta de treinamento em técnicas de mediação para professores e alunos contribui para a escalada dos conflitos, tornando difícil alcançar uma resolução pacífica.”

Os relatos dos participantes evidenciam um cenário em que a comunicação falha e as divergências de expectativas se destacam como causas frequentes de conflitos no ambiente escolar. A falta de estratégias de mediação bem estruturadas e a ausência de treinamento adequado para lidar com esses desafios reforçam a necessidade de iniciativas que promovam a resolução pacífica de conflitos, com o apoio de práticas de mediação.

Além dos desafios de comunicação, os participantes também mencionaram a presença de conflitos relacionados a diferenças culturais e de valores, que muitas vezes exacerbam as tensões no ambiente escolar. O estudante E8 relatou: “Há momentos em que as diferenças culturais entre os alunos geram desentendimentos que poderiam ser resolvidos se houvesse um espaço seguro para dialogar sobre essas questões.” Esse relato evidencia a importância de reconhecer e respeitar as diversidades culturais e sociais presentes no ambiente escolar, promovendo um espaço de diálogo que favoreça a compreensão mútua.

O professor P4, ao abordar a questão da diversidade cultural, ressaltou que “a falta de sensibilidade para lidar com as diferentes realidades dos alunos pode intensificar os conflitos, especialmente quando as práticas pedagógicas não levam em consideração essas diferenças.” A análise dos relatos demonstra a necessidade de incorporar práticas pedagógicas mais inclusivas e sensíveis às diversas realidades dos estudantes, a fim de reduzir os conflitos e promover um ambiente escolar mais harmonioso.

A pesquisa realizada revelou que os participantes reconhecem a relevância da mediação como um instrumento eficaz para a resolução de conflitos no ambiente escolar. Conforme destacado por Moraes (2022), a institucionalização da prática da mediação pode promover um clima escolar mais colaborativo e seguro. Alinhado a essa perspectiva, o pedagogo PD2 afirmou: “A mediação é uma prática que tem muito a oferecer, mas precisa ser mais difundida e institucionalizada para que todos se sintam capacitados e seguros em utilizá-la.”

A partir dos dados coletados, torna-se evidente a necessidade de investir em programas de educação e formação contínua em mediação de conflitos para toda a comunidade escolar. Essa iniciativa não apenas contribui para a resolução pacífica de divergências, mas também fomenta a construção de um ambiente escolar mais saudável e propício ao aprendizado, onde os conflitos são vistos como oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal e social.

8  CONCLUSÕES

Os resultados desta pesquisa evidenciam claramente a complexidade dos conflitos interpessoais no ambiente acadêmico do IFRR – Campus Boa Vista , assim como a relevância da mediação como uma ferramenta essencial para promover um clima escolar mais saudável e colaborativo. Ademais, a capacidade de gerenciar eficazmente os conflitos, por meio da comunicação clara, da sensibilidade cultural e da implementação de práticas mediadoras, revela-se crucial para o bem-estar de todos os envolvidos e para a qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Consequentemente, esses insights fornecem uma base sólida para o desenvolvimento de políticas e programas que promovam a mediação de conflitos no IFRR, o que, por sua vez, contribui para o fortalecimento das relações interpessoais e a construção de um ambiente escolar mais positivo.

Nesse sentido, a partir desses resultados, destaca-se a importância de realizar futuras pesquisas que aprofundem o entendimento das dinâmicas de conflitos em contextos escolares diversos e, simultaneamente, investiguem o impacto de diferentes abordagens de mediação. Além disso, estudos longitudinais e comparativos podem fornecer dados mais robustos sobre a eficácia das intervenções mediadoras e, assim, contribuir para o desenvolvimento de práticas cada vez mais eficazes e adaptadas às necessidades específicas das comunidades escolares.

REFERÊNCIAS

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Schvarstein, L. (2010). Psicología Social de las organizaciones: nuevos aportes.Buenos Aires, Argentina: Paidós SAICF.


[1] Adminitradora e professora – Instituto Federal de Roraima (IFRR) – Dra. Psicologia Social. E-mail: gilmarajane@gmail.com

[2] Professora e pesquisadora na área de sociolinguística aplicada ao ensino de idiomas – Aposentada -Dra. Letras e lígua espanhola. E-mail: enaj59@hotmai.com

[3] Administradora – Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz – Dra. Psicologia Social. E-mail:fatimah.ferreira@gmail.com